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May 27, 2017 | Autor: M. Lambert | Categoria: Visual Arts, Artes, Artes plásticas, Arte contemporáneo, Artes Visuais
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Rodrigo Oliveira “Excertos para 1 texto completo…”

A arquitectura tem invadido, de modo pacífico, imagens e produções tridimensionais mais directamente adstritas às designadas Artes Plásticas. Privilegiando, enquanto fundamentação conceptual, a obra de Le Corbusier, Rodrigo Oliveira explorou argumentações estéticas e artísticas decorrentes, cujo impacto se verifica notável. As grandes mutações – em termos paradigmáticos – a que a arquitectura, quanto as demais artes nos habituaram ao longo da história ocidental, ao longo do séc. XX e entrando já na 2ª década do séc. XXI, nomeadamente em Portugal, assinalam como da maior pertinência a afirmação de Rodrigo Oliveira: “Se respeitássemos a arquitectura ainda vivíamos nas cavernas.” Dada a função social e humana, que a Arte pretende realizar, quer como cada uma das artes (disciplinares), quer como Unidade da Arte, Almada reconheceu que "não pode deixar de ser a própria cabeça da colectividade. E é o que é: Arte é a cabeça da colectividade."1 Correspondia à necessidade de ser Todo, por ser substantivamente um Todo, visto sob aspecto específico e, pela liberdade do artista, configurava a complexidade dos campos adjacentes — das diferentes artes —, constituindo o todo da vida. A Arte começaria onde acabava a definição convencional das Belas-Artes — que não eram sistemas infalíveis —, nomeadamente, na formação dos artistas. A Arte não se esgotava, tampouco se perdia como especialidade organizada. Para Almada Negreiros, o significado da Arquitectura encontra a origem da própria palavra Arte, arguindo por uma prova filológica que justifica a afirmação: "Não será Arte uma palavra feita com a primeira sílaba de cada uma das duas palavras que foram a palavra architekton? Ar de archos e te de tekton ? (...) Ligadas ficam estas duas palavras Arte e architekton salta aos olhos da cara uma única conclusão: architekton significa o operário-chefe da colectividade."2 Atendendo às 5 peças de cortiça de Unité d`habitacion (remetendo para as bases conceptuais de Le Corbusier) da série 27092/3/4/5, constata-se que, atrás de algumas obras significativas, subjaz uma certa geometria secreta (quase sagrada), à semelhança do que investigou Mathila Ghyka, Madeleine Hours ou Charles Bouleau… E, no caso português a que, de forma quase compulsiva, Almada Negreiros e, na sequência, Lima de Freitas, acederam. Os quadros de cortiça, com vidros de correr devidamente 1 2

Almada Negreiros - "Arte e Artistas", Textos de Intervenção, p.84 Almada Negreiros - "Arte e Artistas", Textos de Intervenção, p.84

fechados, subvertem a sua funcionalidade, apropriando-se de numerações directas procedendo da Fundação Le Corbusier, onde pontos de marcação coloridos desenham formulações rigorosas – em termos morfológicos. Nesses quadros guardam-se significados sobreposicionais, de referencialidades históricas na história da cultura europeia para expansividade intercultural. Carta de Atenas é uma referência directa ao código de princípios gerais, redigido pelo arquitecto suiço em 1933, onde previa “a supressão do traçado das cidades baseado em ruas e quadras e propõe a implantação do zoneamento seletivo, uma divisão de áreas segundo quatro funções (habitar, trabalhar, circular e recrear).” Esta série constitui-se por um número ainda “sem fim” que, muito consequentemente, administrará essas funcionalidades em moldes estéticos – fundados em pressupostos teóricos exponencializados pela radicação utopista. Poder-se-á, talvez, retroceder até às designadas “doutrinas sociológicas da estética”, onde se destacam autores como Proudhon, Taine e mesmo John Ruskin e Tolstoi (em certa acepção). Por outro lado, referem-se a vertentes utopistas que, desde a Antiguidade, propugnaram pela subversão quanto adomínio e imediaticidade da acomodação, inoperância e aceitação “atávicas”… A peça Gato, que teve antecedente numa intervenção realizada no Carpe Diem Arte e Pesquisa (Lisboa), o artista: “…criou uma instalação que consiste numa série de gambiarras de luz entrelaçadas seguindo a técnica de macramé - uma técnica antiga que vem dos árabes e que os marinheiros adoptaram para tecer as cordas dos barcos. O macramé, que também é usado para pendurar vasos com plantas nos tectos das varadas e marquises, serviu de inspiração ao artista, que apropriou e domesticou essa técnica para pendurar dezenas de luzes a iluminar o Palácio. Luzes em forma de gambiarra, a mais elementar fonte de iluminação de um espaço e que tem um carácter de improviso para uma função específica. Gato surge aqui como uma puxada de corrente eléctrica de um poste de electricidade, por meio de uma acção ilegal. A peça remete-nos para uma cidade dentro da cidade que cresce de um modo vernáculo e parasitário.” (Paulo Reis)

Intervenções Localizadas (pontos de beira de estrada) remetem para lugares que se convertem transitoriamente em detalhes personalizados pela permanência – mais ou menos protelada – de quem a eles se dirige, com expectativa. Expectativa de que chegue o meio de locomoção que os conduza a seus supostos destinos. As “intervenções”, da responsabilidade do artistas, simulam o simulacro, (passo o pleonasmo) significando o pregnância de decisão artística fundada sobre bases de valência societária e ideológica. Um e o “mesmo” objeto imagético, advidndo de suposição tridimensional; a sua efetividade objetual constatável na localização fotografa, converte-se em modelo – quiçá idealizado – que demonstra a capacidade transformadora através da ação e intervenção do humano. Em derradeira instância estamos sob desígnios de (uma suposta/imediata, tanto quanto somente aparente em moldes de reconhecimento percpetivo) “mesmeidade” versus “alteridade” que, essa sim, é condição de diálogo e mediação (através do artista como “operador estético”, seguindo a terminologia de José Ernesto de Sousa). Ou seja, olha-se cada uma das unidades fotográficas que se poderiam camuflar sobre sobreposicionalidade, mas a diferença, garante a vontade de agir, decidir e afirmar: o artista olha em redor, decide atuar sobre a acomodação e ganha destinos de alteração (e dissemetria). É ato ideológico, fundamentado em teorizações estéticas, associadas às teorias arquiteturais, anteriormente referidas e que lastram com lucidez para o futuro.

Em concomitância, quase parece uma narrativa mitológica e se aguarda um Hermes nas redondezas. Esses pontos de beira de estrada podem assumir uma propriedade simbólica que glosa metáforas e transposições plausíveis para uma poética em devir. (Continua) Mª de Fátima Lambert

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