Midia do Alto Jacuí: O curso de Jornalismo da UNICRUZ e a inserção de egressos no mercado de trabalho da região da AMAJA

May 30, 2017 | Autor: Janaíne Santos | Categoria: Jornalismo, Mercado De Trabalho, Graduação em Jornalismo
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I ENCONTRO GAÚCHO DE ENSINO DE JORNALISMO (EGEJ) I FÓRUM SUL-BRASILEIRO DE PROFESSORES DE JORNALISMO (FSPJ) SANTA CRUZ DO SUL (RS), 8 e 9 DE ABRIL DE 2011 MODALIDADE DO TRABALHO: Comunicação Científica GRUPO DE PESQUISA: Pesquisa na Graduação

Midia do Alto Jacuí: O curso de Jornalismo da UNICRUZ e a inserção de egressos no mercado de trabalho da região da AMAJA Janaíne dos Santos1 [email protected] Resumo: O trabalho versa sobre o nível de inserção dos egressos de Jornalismo da Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ) na região da Associação dos Municípios do Alto Jacuí (AMAJA). Neste território, conhecido como Alto Jacuí, estão em atividade 56 veículos de comunicação, sendo 25 emissoras de rádio, 23 jornais, quatro revistas, duas sucursais de telejornalismo e duas emissoras de televisão. O estudo buscou identificar: 1) qual a inserção profissional dos egressos de Jornalismo da UNICRUZ nestes veículos; 2) o posicionamento dos próprios veículos quanto ao perfil profissional do graduado nesta instituição de ensino; e, 3) a preocupação dos veículos quanto à exigência do diploma superior para a atuação, no mercado — considerando que a formação superior em jornalismo significa a priori o cumprimento mínimo das habilidades de um profissional deste campo, comprometido com a ética e a deontologia da profissão para o desempenho de suas atividades. Como instrumento de pesquisa foi aplicado um questionário com perguntas abertas e fechadas, as quais foram analisadas a partir de análise de conteúdo. Os resultados identificados e os conteúdos analisados revelaram uma série de apontamentos relevantes para o entendimento das questões socioculturais e econômicas que cortam o contexto da mídia na região Alto Jacuí. Palavras-chave: Graduação em Jornalismo da UNICRUZ. Mercado de Trabalho. Associação dos Municípios do Alto Jacuí – AMAJA.

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Jornalista, Mestre em Comunicação e Informação pela UFRGS e Docente do Curso de Comunicação Social da UNICRUZ.

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MODALIDADE DO TRABALHO: Comunicação Científica GRUPO DE PESQUISA: Pesquisa na Graduação 1 Introdução

Refletir e diagnosticar alguns traços da realidade da comunicação social e, consequentemente, do jornalismo no interior do estado do Rio Grande do Sul é um dos propósitos do estudo cujos resultados são apresentados a seguir. Partimos da compreensão de que as peculiaridades do contexto socioeconômico e cultural das diferentes regiões causam efeitos significativos no desenvolvimento, ou não, de determinado campo do conhecimento. Daí, como veremos a seguir, a necessidade premente do fomento ao exercício crítico do jornalismo na prática profissional do dia-a-dia, de maneira a não comprometer o intuito primeiro da profissão, que é levar informação de caráter verídico às diferentes comunidades constituídas. Nossa pretensão é identificar de que maneira os recortes socioculturais e econômicos da região interferem no desenvolvimento da prática de um jornalismo minimamente instrumentalizado, a partir da atuação de jornalistas com formação acadêmica para tal.

2 Perfil da mídia no Alto Jacuí

Antes de avançar na discussão em torno da prática, é necessário contextualizar o lugar de onde partimos e os recortes pontuais aos quais ele é submetido. Partindo do contexto geográfico da região do Alto Jacuí, no planalto do Rio Grande do Sul, tem-se uma área territorial composta por 19 municípios2, os quais fazem parte da AMAJA – Associação dos Municípios do Alto Jacuí. Esta região tem em suas extremidades dois centros urbanos de destaque: de um lado Cruz Alta e, de outro, Carazinho. Neste território estão em atividade 56 veículos de comunicação, sendo 23 jornais, 25 rádios, quatro revistas, duas sucursais de telejornalismo e duas emissoras de televisão. A representação midiática destes veículos tem, em sua maioria, rádios de amplitude modulada (AM) e jornais de periodicidade semanal. A região possui órgãos de comunicação com uma longa trajetória de atuação (com mais de 30, 40 ou, até, 50 anos de atividade), onde gerações de autodidatas e colaboradores

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Almirante Tamandaré do Sul, Boa Vista Do Cadeado, Boa Vista do Incra, Carazinho, Colorado, Coqueiros do Sul, Cruz Alta, Fortaleza dos Valos, Ibirubá, Lagoa dos Três Cantos, Não-Me-Toque, Quinze de Novembro, Saldanha Marinho, Salto do Jacuí, Santa Bárbara do Sul, Santo Antônio do Planalto, Selbach, Tapera e Victor Graeff.

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MODALIDADE DO TRABALHO: Comunicação Científica GRUPO DE PESQUISA: Pesquisa na Graduação fizeram a mediação jornalística3 usando linguagens editoriais. Os principais aspectos eram dar opinião e fazer relatos em torno dos acontecimentos, muitas vezes, desconsiderando o princípio da pluralidade que norteia a prática jornalística. Tudo foi feito historicamente de uma forma empírica. A partir da formatação de cursos superiores na área de comunicação e a inserção profissional de egressos deste campo na região do Alto Jacuí, surge o questionamento: qual tem sido o posicionamento da mídia regional diante deste cenário? Especificamente, tem sido aberto espaço para a prática profissional de egressos de Cursos de Jornalismo e, em especial, formados no Curso de Jornalismo da Unicruz? Que relação estará existindo entre eles, profissionais em potencial, com os veículos de comunicação? E, por fim, em que nível vem se dando a inserção efetiva dos egressos do Curso de Jornalismo numa região em que a densidade de veículos é significativa e a área de ação da Unicruz tem maior influência? Na busca de respostas a estes questionamentos realizamos o estudo que se apresenta a seguir, como forma de tentar responder o comportamento que coloca de um lado a formação acadêmica e, de outro, as opções de aproveitamento oferecidas pelas empresas de comunicação. Neste trabalho se procura revelar o quadro de composição da mídia regional e, particularmente, conduzir uma ação prospectiva que ofereça alguma resposta sobre onde estão atuando os egressos do Curso de Jornalismo da Unicruz. Buscou-se junto ao diretores ou editores dos veículos de comunicação a impressão que os egressos do Curso de Jornalismo têm dado tão logo deixam a universidade. Entre as respostas solicitadas se sobressaem três questões: a) busca dos fatores que mais interferem na contratação de jornalistas habilitados, b) avaliação sobre a qualificação teórica e prática dos egressos; e c) a opinião sobre a exigibilidade ou, não, do diploma de jornalista para o exercício da profissão.

3 Formação e Prática Jornalística

No Brasil, a partir da década de 1930, quando se começou a emitir registro profissional para jornalistas, mais de 60 mil pessoas foram habilitadas. A Federação Nacional 3

Aqui nos referimos à prática profissional apreendida a partir da experiência na área, sem a necessidade precípua da formação superior. É preciso pontuar que, dentro do contexto regional, a graduação em jornalismo é ainda recente e enfrenta resistência por parte de grande parte dos proprietários de veículos de comunicação.

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MODALIDADE DO TRABALHO: Comunicação Científica GRUPO DE PESQUISA: Pesquisa na Graduação de Jornalistas (FENAJ) estima em cerca de 80 mil o número de jornalistas em atividade hoje no país e, em torno de oito mil, os estudantes que concluem a cada ano a graduação na área. Segundo o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul4, a categoria dos jornalistas sindicalizados atualmente é formada por 7.194 associados. O Sindicato dos Jornalistas do RS tem conhecimento de que em termos totais existem 12.500 profissionais em atuação no estado. Isso nos leva a concluir que além dos 7.194 sindicalizados, há um contingente de outros 5.300 profissionais em atividade — mesmo que não se enquadrem nos critérios de admissão do Sindicato, por não terem registro ou, simplesmente por não buscarem o vínculo com a entidade. Neste total de 12.500 envolvidos em todo o tipo de mídia, estão agrupados os jornalistas formados (com registro no Ministério do Trabalho) mais os que atuam com respaldo do registro provisionado judicial — baseado na sentença da juíza Carla Rister, da 16ª Vara Cível da Justiça Federal de São Paulo, que suspendeu provisoriamente a obrigatoriedade da exigência do diploma de jornalismo para obtenção do registro profissional5. Temos em nosso estado 15 cursos de jornalismo que formam em média 600 novos jornalistas por ano. Neste processo de graduação anual de formandos em jornalismo a Universidade de Cruz Alta começou a ter participação a partir do ano de 1996, quando o curso de Comunicação Social teve início, contando com as três habilitações: Relações Públicas, Publicidade e Propaganda e Jornalismo. Entre o ano de 1999 — quando se formou a primeira turma — até o ano de 2009, quando se completaram 11 turmas, cerca de 370 acadêmicos da área de Comunicação Social saíram da Universidade para o mercado. Destes, segundo levantamento da Coordenadoria do Curso de Comunicação Social da Unicruz, 50% dos formandos ou, 189 acadêmicos, se formaram em Jornalismo. Diante dos dados que se apresentam desde o cenário nacional, passando pelo estadual e interagindo com os cenários regional e municipal, se sobressaem alguns questionamentos acerca do ingresso destes formandos no mercado de trabalho. Como pontua BOHÈRE (1994, p.42), o deslocamento da universidade para o mercado de trabalho é incerto:

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Dados de 2010, fornecidos via contato telefônico. Lembramos que a discussão sobre a exigência de diploma para o exercício do jornalismo vem sendo promovida pela categoria em vários espaços e hoje, tem-se constituído em um movimento que busca a retomada da exigência do diploma. Informações complementares podem ser obtidas, para além das entidades de classe, junto ao site da FENAJ: http://www.fenaj.org.br. 5

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MODALIDADE DO TRABALHO: Comunicação Científica GRUPO DE PESQUISA: Pesquisa na Graduação O ensino do jornalismo na universidade ou em escolas especializadas abrange um considerável número de pessoas. No entanto, nem todos os que recebem essa instrução passam a ser jornalistas; a proporção das pessoas que ingressam na profissão seria outro lado difícil de determinar. Ao contrário, muitos jornalistas – cuja proporção seria igualmente difícil de fixar – não passaram por esses estabelecimentos: sua formação seguiu outras vias que podem ter sido um ensino universitário de outra natureza, ou simplesmente um ensino de nível secundário, porém em todos os casos, um aprendizado mais ou menos longo, mais ou menos sistemático, do ofício num órgão de imprensa.

Na segmentação das regiões do Alto Jacuí, Planalto Médio e Missões, até onde se faz sentir a área de influência das universidades de Cruz Alta, Ijuí e Passo Fundo, estaria ocorrendo a dicotomia entre o “querer ser” jornalista e a oportunidade de conseguir um espaço no mercado de trabalho. O certo é que, na Unicruz, com metade dos acadêmicos cursando Jornalismo entre os dicentes das três habilitações da Comunicação Social (ficando os outros 50% divididos em Publicidade e Propaganda e a Relações Públicas) passou a existir, nos últimos anos, um considerável número de candidatos a jornalistas.

4 O Curso de Jornalismo na Unicruz

Na Universidade de Cruz Alta, o curso de Comunicação Social iniciou em 1996. Na época, o curso formou a sua primeira turma através de um grupo de 17 acadêmicos, com destaque para a representação feminina expressiva de 15 estudantes e apenas dois alunos do sexo masculino. Muitos dos vestibulandos da primeira turma não vinham das redações de veículos de comunicação de Cruz Alta e região — diferentemente do que houve quando da implantação dos dois primeiros Cursos de Jornalismo no RS. Na Unicruz esta lógica começou a tomar forma somente com as turmas dos anos seguintes. A hipótese mais provável sobre o ingresso do pessoal das redações e rádios da região na Universidade, talvez tenha sido uma sensível quebra de resistência nas empresas de comunicação, considerando que mesmo depois de formados os egressos não representariam maior custo na folha de pagamento do que significavam antes da graduação. Entende-se que dos 189 jornalistas formados nos últimos 11 anos pela Unicruz, os que vieram e retornaram para as redações dos jornais e rádios da região estejam dando aos seus veículos um diferencial de qualidade no trato da informação. Campos (2004)6 reflete em torno da questão ao inferir:

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Disponível em: publicado em 20 ago. 2004.

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Antes de mais nada é preciso conhecer de perto este mercado ainda dominado por muito aventureirismo empresarial, o que leva alguns meios acadêmicos a se distanciarem dele ao confundirem tal atividade com pura e simples picaretagem, isto é, um jornalismo voltado apenas para o faturamento, sem distinção entre notícia e matéria paga, resultando em baixa credibilidade diante do público, principalmente por causa das influências políticas, partidárias, econômicas, religiosas, etc.

Um dos grandes diferenciais do Curso de Comunicação Social da Unicruz, desde a sua implantação, foi uma visão voltada para as novas tecnologias da informação através do investimento na instalação de laboratórios de rádio, televisão, fotografia e multimídia. O estúdio de TV tem, de forma especial, uma participação relevante na formação prática de profissionais para o mercado do interior, devido à instalação de emissoras e sucursais de redes de TV — como a RBS TV, Pampa Norte e Rede TV — na região.

4.1 Perfil prevalecente dos egressos de jornalismo Os municípios de origem dos acadêmicos do Curso de Jornalismo da Unicruz têm uma relação direta com a região centro-noroeste do Estado. Nos últimos 11 anos, os 12 municípios que mais enviaram estudantes para o curso estão localizados numa distância em torno de 100 a 120 quilômetros de distância de Cruz Alta. O maior contingente de alunos advém desta mesma cidade, sede da universidade, com 61 acadêmicos. A seguir temos Santa Maria com 13, Ibirubá com 11, Espumoso com nove, Júlio de Castilhos com sete, Palmeira das Missões com seis, Ijuí com cinco, Salto do Jacuí e Tupanciretã com quatro, Tapera e Boa Vista do Incra com três. O curso também contou com a participação de acadêmicos vindos de lugares distantes como Porto Alegre (três), Vacaria, Horizontina, São Pedro do Sul e São Borja (ambos com um acadêmico), entre outros municípios de regiões mais afastadas. De fora do Rio Grande do Sul, quatro acadêmicos se formaram em jornalismo pela Unicruz: dois de Lages, em Santa Catarina, um de Mogi das Cruzes, interior de São Paulo e um de Jataí, em Goiás. A presença de mulheres nas mais diferentes funções jornalísticas 7 tem ganhado dimensões surpreendentes. Esta nova realidade das redações começou a mudar nas décadas de 1950 e 1960, alterando um reduto que até então era dominado por homens. No Curso de Jornalismo da Unicruz a supremacia do número de mulheres é um fato também marcante 7

Redatoras, repórteres, fotógrafas, apresentadores, editoras, etc.

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MODALIDADE DO TRABALHO: Comunicação Científica GRUPO DE PESQUISA: Pesquisa na Graduação nestes 11 anos. Dos 189 acadêmicos que conquistaram o diploma, 128 eram mulheres e 61 eram homens. Uma relação de grande diferença entre os gêneros, com 68% para as mulheres e de 32% para os homens. Em uma proporção matemática, isso significa a formatura de duas jornalistas do sexo feminino para um do sexo masculino no período.

5 Jornalismo na região da AMAJA

A pesquisa quantitativa envolvendo a totalidade dos 19 municípios que compõem a região da AMAJA, revelou que no ano de 2010 estavam em atividade um total de 56 veículos de comunicação. Neste mapa da mídia regional, 14 municípios possuíam algum tipo de órgão de imprensa, principalmente rádios e jornais. Os cinco municípios da região que não possuem veículos de comunicação8 utilizam-se das rádios e jornais de municípios vizinhos, cuja proximidade já estabeleceu ao longo dos anos uma relação histórica de cobertura. Entre os 14 municípios que possuem algum veículo de comunicação, 11 têm jornais, 10 possuem emissoras de rádio, quatro contam com uma revista e dois têm instaladas emissoras e sucursais de televisão. Cruz Alta é o município com a maior representatividade midiática na região da AMAJA, com seis jornais, cinco rádios, uma revista, uma emissora de TV e uma sucursal de TV. Carazinho vem em segundo lugar nesta escala, com três jornais, três rádios, uma revista, uma emissora de TV e uma sucursal de TV. Com uma expressão bastante significativa, outros dois municípios ainda se destacam pelo número de veículos de comunicação que possuem. Ibirubá é um deles com dois jornais e cinco emissoras de rádios, seguido de Não-Me-Toque com três jornais, três emissoras de rádio e uma revista. A partir destes quatros pólos de comunicação, representados por Cruz Alta, Carazinho, Ibirubá e Não-Me-Toque, passa a existir uma densidade menor, mas igualmente importante para as comunidades de Santa Bárbara do Sul (com um jornal, duas rádios e uma revista) e Salto do Jacuí (com dois jornais e duas rádios), ambas totalizando a atividade de quatro empresas de comunicação em cada município. Seguem, pela ordem, Tapera com três veículos de comunicação (um jornal e duas rádios) e Colorado (dois jornais). Completando a relação com apenas um meio de comunicação estão: Almirante Tamandaré (jornal), Saldanha

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Boa Vista do Incra, Victor Graeff, Boa Vista do Cadeado, Coqueiros do Sul e Santo Antônio do Planalto.

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MODALIDADE DO TRABALHO: Comunicação Científica GRUPO DE PESQUISA: Pesquisa na Graduação Marinho (jornal), Selbach (rádio comunitária), Fortaleza dos Valos (jornal), Lagoa dos Três Cantos (rádio) e Quinze de Novembro (rádio comunitária).

6 O contato com os meios de comunicação Na fase primeira da pesquisa, foi estabelecido contato telefônico com os veículos no intuito de explicar as motivações da pesquisa. Organizou-se um mailing com o endereço eletrônico de todos os meios e as pessoas contatadas foram avisadas de que receberiam um questionário a ser respondido no prazo de uma semana. Este questionário foi proposto a partir de um grupo de questões que solicitaram a identificação do veículo e a que tipo de mídia o mesmo pertencia. Depois, seguia-se uma lista de sete perguntas tratando especificamente dos objetivos do trabalho. No aspecto geral, o objetivo maior foi investigar e analisar em que nível de inserção os egressos do Curso de Jornalismo da Unicruz estão atuando no mercado de trabalho da região da AMAJA. No campo dos objetivos específicos do questionário, um campo com perguntas fechadas buscou resposta sobre qual percentual da totalidade de 189 acadêmicos já graduados nos últimos 11 anos, foi absorvido pelas empresas e qual o tipo de veículo de comunicação tem sido mais receptivo à contratação destes profissionais. Duas questões, ao final do questionário, procuraram aferir, através da opinião dos entrevistados, em que nível de preparação teórica e prática os egressos estão deixando a universidade. Os dados foram tabulados conforme as informações fornecidas pelos veículos de comunicação através de seus representantes. Considerando tais respostas, os dados aqui trazidos, refletem os resultados identificados a partir da análise de conteúdo feita sobre os questionários. Ainda que os dados a seguir analisados sejam fruto de uma pesquisa pontual — e, portanto, com indicativos incipientes em relação aos veículos de comunicação que responderam ao questionário enviado —, pode-se dizer que ao final do estudo os apontamentos revelados são importantes para o entendimento do contexto da mídia regional.

7 Análise de dados

A seguir, apresentamos os dados obtidos a partir da análise de conteúdo realizada sobre os questionários recebidos dos veículos de comunicação contatados. Apenas para

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MODALIDADE DO TRABALHO: Comunicação Científica GRUPO DE PESQUISA: Pesquisa na Graduação rememorar o significado deste método de estudo, recorremos à TRIVINOS (1987) que reitera as características do mesmo a partir da decomposição do discurso e da identificação de unidades de análise ou grupos de representações para uma categorização dos fenômenos. A partir deste percurso se torna possível a reconstrução de significados que apresentam uma compreensão mais aprofundada da interpretação de realidade para cada grupo envolvido neste contexto. Interessa atentar para o fato de que as informações a partir deste ponto evidenciadas foram apontadas a partir do retorno por nós obtido, do questionário padrão encaminhado para todos os veículos que fazem parte da região da AMAJA. De um total de 23 questionários enviados, 17 foram respondidos. Destes, nove opiniões qualificaram a formação oferecida aos acadêmicos da Unicruz como “boa”, quatro como “muito boa”, uma como “excelente” e uma como “péssima”. Quatro entrevistados se abstiveram de opinar. A partir deste ponto começamos a descrição dos veículos a partir de seu perfil: jornais impressos (diários e semanais), rádios, revistas e emissoras de televisão. Jornais - Dos 17 jornais em análise, dez possuem jornalistas formados pela Universidade de Cruz Alta – num total de 12 profissionais. O jornal Diário Serrano, de Cruz Alta, é o que mais contratou: tem três profissionais. Os demais têm apenas um. Ainda restam sete jornais pesquisados, que não possuem profissionais com curso universitário. Outros cinco jornais que não deram retorno à pesquisa provavelmente se enquadrem nesta mesma situação. Quanto à contratação de pessoas jurídicas (PJs) como alternativa de mão-de-obra para preencher as diversas funções da empresa, 14 delas responderam que não contratam e apenas três admitiram tal possibilidade. A respeito disso, podemos indagar: como é impossível que equipes tão enxutas respondam por toda a produção jornalística destes veículos? Em relação à formação teórica e prática oferecida pelo Curso de Jornalismo da Unicruz, questionou-se se elas foram/são suficientes para dar aos acadêmicos as percepções necessárias ao exercício da atividade profissional. Em relação a este ponto, em uma escala de 1 a 5 (correspondendo de forma crescente o valor 1 a “não qualificado” e o valor 5 a “bem qualificado”), as respostas foram bastante positivas e favoráveis à formação universitária. Os quesitos mais votados foram os de número 3, 4 e 5, num total de quatro indicações para cada um. A baixa qualificação recebeu apenas duas indicações e quatro entidades não opinaram.

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MODALIDADE DO TRABALHO: Comunicação Científica GRUPO DE PESQUISA: Pesquisa na Graduação O mundo do trabalho foi colocado nesta pesquisa como tentativa de interpretar e dar visibilidade às situações que mais interferem na contratação de jornalistas profissionais pelos dirigentes jornalísticos. Questionados sobre os fatores impeditivos mais comuns para a não contratação, as alegações apontadas variaram de conceito com apontamentos sobre: a inaptidão para o trabalho, a mão-de-obra barata dos práticos no jornalismo, o acúmulo de funções nos jornais interioranos, a acomodação nas redações, a falta de iniciativa para o trabalho de campo, dificuldades de diagramação, falta de experiência e habilidades, pouca valorização comercial das empresas, empresas com dificuldade em manter a folha de pagamento de profissionais formados (piso salarial), carga horária reduzida, além da falta de um bom texto jornalístico e criatividade. Rádios - Entre os veículos de comunicação da AMAJA, foi feito contato com as 25 emissoras de rádio instaladas na região, algumas com mais de 50 anos de atividade no mercado e outras de vida mais recente, como as comunitárias. Apesar da insistência pela participação na pesquisa, as rádios não deram o retorno esperado. Neste momento, vamos reproduzir alguns apontamentos identificados a partir das respostas de dez emissoras que contribuíram com o estudo. As questões foram as mesmas dirigidas aos jornais, com um olhar investigativo voltado sobre o impacto da evolução tecnológica que a mídia eletrônica vem experimentando, principalmente com a sua inserção no mundo digital. As rádios estão migrando do campo da transmissão de notícias para o da publicação e distribuição da informação via internet, sendo um campo em expansão para os comunicadores. Entre as dez emissoras pesquisadas, oito informaram que possuem site e fazem transmissão on-line, enquanto outras duas alegaram que seus sites estão em fase de construção. Metade das rádios (cinco), tem jornalistas egressos da Unicruz contratados média de um por veículo. As que não têm, se utilizam da contratação de PJs — que acabam fazendo as vezes de jornalistas, publicitários e apresentadores. Nas duas perguntas sobre o conteúdo do Curso de Jornalismo e a qualificação dos alunos, a opinião dos dirigentes das emissoras de rádio foi bastante positiva, seguindo a avaliação emitida pelos representantes de jornais impressos consultados. Das dez rádios, seis manifestaram ser “boa” a formação oferecida pela universidade, um disse que é “muito boa” e outro que é “ruim”. Dois não opinaram. Com relação à qualificação dos acadêmicos a média

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MODALIDADE DO TRABALHO: Comunicação Científica GRUPO DE PESQUISA: Pesquisa na Graduação mais alta foi a de índice três com cinco indicações, ou seja, metade das entrevistas; duas apontaram o índice quatro e três não opinaram. Revistas - Na região do Alto Jacuí são quatro as revistas editadas, com diferentes periodicidades. A revista Vértice, de Cruz Alta, é impressa em policromia total e tem circulação mensal com 2.000 exemplares. A revista Open, editada em Santa Bárbara do Sul, circula em períodos de 45 dias, em policromia e tiragem de 1.200 exemplares. A revista Momento, de Não-Me-Toque, não enviou maiores informações sobre o seu perfil, e a revista Contato, de Carazinho, não deu retorno à solicitação do questionário. Das quatro publicações apenas a revista Vértice, de Cruz Alta, tem a participação de egressos do Curso de Jornalismo, num total de quatro profissionais. Esta revista aponta como ótima preparação acadêmica dos profissionais e também reconhece em todos os seus integrantes uma boa qualificação para exercer a atividade. As revistas Open e Momento, discordaram em relação a contratação de jornalistas formados. Para seus dirigentes os cursos precisam se aperfeiçoar mais e reverter a falta de conhecimento sobre o mercado de trabalho. Segundo uma das revistas, se tentou contratar pessoas formadas, mas estas perdiam em qualificação para quem possuía experiência prática no ramo. As diferenças de entendimento sobre a importância do referencial teórico e da capacitação acadêmica para o exercício da atividade profissional, entre os grupos editoriais em análise, fica mais evidente quando se observa opiniões divergentes quanto a questão da exigibilidade do Diploma de jornalista para o exercício da profissão. As revistas Open e Momento concordam com a não exigência do diploma e defendem que o trabalho jornalístico pode ser exercido por qualquer pessoa que tenha conhecimento prático. A revista Vértice, integrada por egressos, discorda e entende que a atividade exercida sem a formação acadêmica é um retrocesso que deve ser corrigido com a aprovação da PEC – Proposta de Emenda Constitucional nº 33/09, que tramita no Senado Federal. Televisão - Neste segmento a avaliação a ser feita vai ter como foco as emissoras de televisão instaladas em nossa região, de um lado a RBS TV Cruz Alta, com sede na cidade homônima e, no outro lado da região, a TV Pampa Norte, com sede em Carazinho. Estes veículos possuem mais de 30 funcionários para atender uma grande estrutura operacional. A área de telejornalismo é uma das mais importantes pela responsabilidade em dar cobertura noticiosa do município sede e das comunidades de abrangência do seu sinal.

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MODALIDADE DO TRABALHO: Comunicação Científica GRUPO DE PESQUISA: Pesquisa na Graduação A mediação da notícia feita pelo telejornalismo exige uma qualificação que está no conteúdo e na prática laboratorial obtida dentro da universidade. Dificilmente alguém sem este embasamento técnico e conceitual terá como se colocar dentro de um meio de comunicação tão complexo como a mídia eletrônica. Se em veículos como as emissoras de rádio e jornais ainda existem pessoas que acreditam na experiência prática como atributo para exercer a profissão, no telejornalismo essa condição não tem qualquer possibilidade. A RBS TV Cruz Alta tem duas jornalistas contratadas egressas da Unicruz e a TV Pampa Norte conta com uma – embora outros dois já tenham passado por lá. Em ambos os casos, não há contratação sem habilitação, sem passar pelos bancos universitários. A editoria cruz-altense avaliou como ‘ruim” a formação teórica e prática do Curso, atribuindo tal condição à falta de atividades experimentais envolvendo os alunos e a professores pouco capacitados na função prática. A editoria de Carazinho considera “boa” a carga de conteúdos e conhecimentos oferecida aos acadêmicos e sua impressão ao trabalhar com jornalistas formados na Unicruz foi igualmente positiva. No quesito de qualificação, numa escala de 1 a 5, a editoria da TV Pampa colocou os egressos da universidade no nível 4. Descritos os pontos de destaque obtidos a partir do questionário remetido aos veículos de comunicação da região da AMAJA, a seguir passamos à análise sobre a inserção profissional dos egressos do Curso de Jornalismo da Unicruz no contexto da região do Alto Jacuí. Uma vez mais, reiteramos que em função de o questionário não ter sido respondido por todos os veículos contatados, entendemos que alguns desvios possam ser indicados na análise dos dados. Ainda assim, as informações aqui contidas e analisadas já são um passo concreto no sentido da conformação de uma ação prospectiva do próprio curso diante da realidade regional para otimizar a inserção dos egressos e também buscar novos acadêmicos para o curso de Jornalismo da Unicruz. A partir do retorno recebido para esta pesquisa, é possível afirmar que os veículos de comunicação existentes na região da AMAJA ainda apresentam resistência à contratação de egressos formados em jornalismo. Como referimos anteriormente, na região Alto Jacuí, a presença de veículos é bastante importante, mas ainda arraigada a uma postura fechada e historicamente construída, a qual desconsidera a necessidade da contratação de profissionais com formação específica para atuação neste campo. Mesmo que em alguns casos ocorra a contratação de profissionais (em princípio), minimamente habilitados, em boa parte dos casos

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MODALIDADE DO TRABALHO: Comunicação Científica GRUPO DE PESQUISA: Pesquisa na Graduação ainda se verifica a resistência a esta prática — entendida como ideal a partir da perspectiva acadêmica. As informações apontadas a partir da pesquisa revelam que a contratação de profissionais habilitados dentro da área do jornalismo é incipiente na região, especialmente em rádios, revistas e jornais impressos. Sobre estes meios, pode-se afirmar que ainda carecem de um esclarecimento maior sobre aquele que teoricamente é o formato de jornalismo mais apropriado para ser realizado. A partir de percepções pessoais, também é possível afirmar que ocorre em grandes proporções uma confusão entre o que vem a ser o jornalismo e a mercantilização da informação, com a prática do jornalismo sendo vinculada à comercialização de espaços dentro dos veículos. Quanto às emissoras de rádio, especificamente, pode-se indicar que as mais antigas mantêm ainda no quadro funcional pessoas que aprenderam as mais variadas funções de maneira autodidata. Estes profissionais, que continuam no mercado se consideram indispensáveis pela experiência prática que possuem, mas ainda estão distantes da nova geração. Os mais experientes, segundo os empresários, têm mais comprometimento com o veículo e dificilmente trocam de emissora. Se isso é bom por um lado, por outro revela que alguns são resistentes ao uso das novas tecnologias de comunicação que caracterizam hoje as mídias. No caso da prática jornalismo no meio eletrônico televisão, o retorno obtido pelo estudo indica, de certa forma, uma insatisfação com o perfil profissional dos egressos de jornalismo da Unicruz. No caso específico do meio que qualificou como “ruim” a formação dos egressos da instituição, é preciso também indicar que ao mesmo tempo em que a coordenação de telejornalismo da rede televisiva apontou esta qualificação, tem-se, de maneira recorrente o contato da própria emissora para com a Universidade na busca de egressos que possam assumir funções junto à entidade.

Considerações Finais

A imprensa do interior é um nicho de mercado carente da inserção de profissionais habilitados. Esta percepção é compartilhada especialmente pelos profissionais já graduados e pelos que ainda buscam a formação acadêmica. O contexto cultural da região acaba por

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MODALIDADE DO TRABALHO: Comunicação Científica GRUPO DE PESQUISA: Pesquisa na Graduação interferir em todos os demais campos e conforma uma aridez acentuada para a prática jornalística profissional. Vinculado a esta característica está o referencial histórico — não somente do Alto Jacuí, mas igualmente de outras regiões —, que de maneira recorrente é ávido pela obtenção de lucro desconsiderando a necessidade da formação ética do profissional do campo da comunicação. Entende-se que os egressos dos cursos de Jornalismo são capazes de imprimir a profissionalização aos veículos por tudo que aprenderam e praticaram no período de formação acadêmica. No entanto, esta mesma imprensa interiorana possui grande potencial para explorar a prática do jornalismo, no que pese o preconceito de ser conduzida em alguns aspectos de forma artesanal — em termos de produção e, em outros casos, de forma amadora — no modelo empresarial. Considerando os dados apresentados em torno da pesquisa aqui referida, conseguimos visualizar dois cenários distintos. No primeiro identifica-se um campo profissional que prescinde de um referencial teórico e conceitural mínimo para se constituir posteriormente enquanto prática efetiva; de outro, um área geográfica com papel relevante dentro do cenário estadual, mas que se vincula a uma trajetória histórica de mais valia, onde a obtenção do lucro é condição primeira para o sucesso. Nesta mesma região é possível identificar a falta de diálogo e de interação entre aqueles atores sociais que deveriam mediar e protagonizar uma intervenção social mais ativa para o próprio desenvolvimento socioeconômico, cultural e ambiental para seus integrantes. Para muitos, o jornalismo é uma profissão que se aprende nas redações, na prática. Para PENA (2006, p.14) a dicotomia entre a teoria, representada pelo desenvolvimento do pensamento crítico e a prática, onde o aluno descobre as ferramentas que irá utilizar na profissão, não deve nem ser abordada, é uma pergunta totalmente superada. No Brasil, desde 1979, exigia-se o diploma de graduação específica para obtenção do registro e pleno exercício da profissão de jornalista. Na contemporaneidade, encontrar espaço para “ser jornalista” no mercado de trabalho implica numa conjunção de fatores como competência, iniciativa e até mesmo estabelecimento de relações interpessoais — considerando-se que a grande maioria das empresas de comunicação é formada por empresas privadas (com fins lucrativos), onde o

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MODALIDADE DO TRABALHO: Comunicação Científica GRUPO DE PESQUISA: Pesquisa na Graduação network9 é essencial para a inserção profissional do comunicador. Usualmente não há uma regra predeterminada neste campo; o que existe são situações distintas em que as influências vão variar de grau, como foi constatado por TRAVANCAS (1993, p.87):

Entre os iniciados na profissão, quase todos arranjaram o primeiro emprego graças, principalmente, a algum professor, amigo ou parente que lhe abriu as portas de um veículo. Também são comuns os casos em que o bom desempenho na faculdade levou à obtenção de um estágio ou emprego, ainda que temporário.

O trabalho específico e qualificado do jornalista na mediação da informação é, para PENA (2006, p.12), estratégico e precisa de um profissional com formação sólida e específica:

Na verdade, arrisco-me a dizer que, na sociedade atual, o jornalista deve ser ainda mais especializado que um médico ou um advogado. Da mesma forma, acredito que os defensores da desregulamentação da profissão são os mesmos que lutam pelo controle do fluxo de informação nos conglomerados de mídia e, por isso, não têm interesse que o espaço público seja mediado por profissionais coerentes e bem formados.Diante deste cenário, vale questionar até que ponto a argumentação de que “não é o diploma que faz o jornalista” é verdadeira? Não seria este apenas um subterfúgio para mascarar a tentativa de persuasão sobre os não diplomados, para que exerçam a atividade despreocupadamente e certos de que ninguém vai impedir e/ou restringir a tão decantada liberdade de expressão?

Considerando todos os pontos indicados ao longo deste estudo, tomamos como essencial a proposição de um intercâmbio de informações maior entre Universidade e mercado de trabalho. Estes são os agentes principais para a constituição de um cenário positivo para os acadêmicos em formação e já graduados dentro dos bancos de ensino. A Universidade enquanto instituição social prescinde dos veículos de comunicação para poder dar sequência às atividades que desenvolve; os meios, por sua vez, necessitam da atuação de profissionais plenamente habilitados para seu campo de trabalho. Constitui-se em desafio a ação integrada entre estas duas esferas sociais para que ocorra a sinergia de propósitos, cada uma, obviamente, com suas peculiaridades. Temos claro que a mudança de posturas é um processo vagaroso, que depende da boa vontade dos sujeitos envolvidos em determinada situação, no entanto, um primeiro passo

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Rede de relacionamentos com contatos pessoais, profissionais. É o conjunto de pessoas que o sujeito conhece e que lhe fazer indicações e/ou recomendações.

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MODALIDADE DO TRABALHO: Comunicação Científica GRUPO DE PESQUISA: Pesquisa na Graduação precisa ser tomado neste sentido. Se é intuito da Universidade promover o desenvolvimento dos sujeitos, propomos que este passo inicial também seja por ela descrito.

Referências BOHÉRE, G. Profissão: Jornalista – Um Estudo dos Jornalistas como Trabalhadores. Tradução de Lauro Luis Borelli. Prefácio Américo Antunes. São Paulo. LTr: Brasília, OIT, 1994. CAMPOS, Pedro Celso. O papel do Jornal no Interior. Disponível http//www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos (acessado em 20 set. 2010).

em

PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. São Paulo. Contexto, 2006. POLISTCHUCK, Ilana; TRINTA, Aluízio Ramos. Teorias da comunicação: o pensamento e a prática do jornalismo. Rio de Janeiro. Elsevier, 2003. TRAVANCAS, Isabel Siqueira. O mundo dos jornalistas. São Paulo. Summus, 1993. TRIVINOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo:Atlas, 1987. Associação Nacional de Jornais – ANJ. Disponível em: . Acesso em 18 nov.2010. Jornalistas Sem Diploma. Disponível em: . Acesso em 17 nov. 2010. Federação das Associações do Municípios do Rio Grande do Sul. Disponível em: . Acesso em 10 ago.2010. Federação Nacional de Jornalistas. Disponível em: . Acesso em 15 set. 2010. Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP. Disponível em . Acesso em 18 nov. 2010 Observatório da Imprensa. Disponível . Acesso em 20 ago. 2004.

em:

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