Mídia, subjetividade e resistência: a escritura do adolescente

June 5, 2017 | Autor: Marcelo Moreira | Categoria: Social Psychology, Communication, Mass Communication, Psicologia Social, Psicología Social
Share Embed


Descrição do Produto

Mídia, subjetividade e resistência: a escritura do adolescente Media, subjectivity and resistence: the charter in an adolescencent Medios de comunicación, subjetividad y resistencia: la escritura del adolescente

Marcelo Moreira Cezar Universitat Autònoma de Barcelona (UAB), Barcelona, España. Roberta Fin Motta Centro Universitário Franciscano, Santa Maria, RS, Brasil.

Resumo Este artigo analisa alguns discursos que operam na subjetividade de adolescentes que moram em uma comunidade em situação de vulnerabilidade social. Por meio das narrativas, foi analisada a influência da mídia na subjetividade em adolescentes que ouvem e se apropriam de mensagem emitida pelo rádio. Para isto, formou-se um grupo focal com nove adolescentes entre 12 a 15 anos. Baseia-se na análise de discurso e aspectos culturais inspirados nas obras de Jesús Martín-Barbero, Félix Guattari e Gilles Deleuze, a fim de possibilitar diálogos interdisciplinares em relação à influência da mídia. Os discursos analisados apontam para práticas de individualização e de resistência, relacionadas ao: consumo de programações e de músicas, como formadores da subjetividade do adolescente. A pesquisa sinalizou para os efeitos da influência do rádio no cotidiano do adolescente e a forma de seus usos. Destacando-se para novas modalidades de compreensão dos sujeitos através da interdisciplinaridade entre psicologia e a comunicação. Palavras-chave: Mídia; Rádio; Adolescente; Psicologia.

Abstract This article analyze some discourses operating in the subjectivity of adolescents that live in an area of social vulnerability. Trough the narratives, the media influence in subjectivity was analysed in adolescents that listen messages about radioand appropriate. Thereunto, was formesa focal group with nine adolescents between twelve and fifteen years. Based in discourse analysis and cultural aspects inspired in the works of: Jesús Martín-Barbero, Félix Guattari and Gilles Deleuzein order to provide interdisciplinary dialogues around media influence. The analysed discourses point to practices of individualization and resistance, associated to: programs consumption and music, like a subjectivity constructor. This research pointRev. Polis e Psique, 2014; 4(2): 126 – 140

| 126

Cezar, M.; Motta, R. ___________________________________________________________________________ ed to daily influence of radio and effects on the adolescents, based in a form of uses. Highlighting, new compression modalities of subject trough interdisciplinary context between the areas of communication and psychology. Keywords: Media; Radio, Adolescent; Psychology.

Resumen Este artículo analiza algunos discursos que operan en la subjetividad adolescente que viven en una comunidad en situación de vulnerabilidad social. Por medio de narraciones, se analizó la influencia de los medios de comunicación en la subjetividad en adolescentes que oyen y se apropian de mensajes emitidos por la radio. Para eso, se formó un grupo focal con nueve adolescentes de 12 a 15 años. Con base en el análisis de discurso y en los aspectos culturales inspirados en las obras de Jesús -Babero, Félix Guattari y Gilles Deleuze con el fin de proponer diálogos interdisciplinares relacionados con la influencia de los medios de comunicación. Los discursos apuntan para prácticas individuales y de resistencia relacionadas al consumo de programas y de músicas como formadores de la subjetividad. La investigación señaló efectos de la influencia del radio en el cotidiano del adolescente y las formas de usos de estas comunicaciones. Se destacan nuevas modalidades de comprensión de sujetos a través de interdisciplinariedad entre psicología y la comunicación. Palabras Clave: Medios de Comunicación; Radio; Adolescente; Psicología.

Introdução

conduta e o meio de comunicação de massa no cotidiano daquela comunidade. Com

Este artigo aborda os atravessamen-

isso, trabalha-se com o pressuposto de pro-

tos ocasionados pelas invenções tecnológi-

dução de sentidos atribuído pelos adoles-

cas refletidas na subjetividade de adoles-

centes para os meios de comunicação. Esta

centes, e decorre de uma pesquisa com um

discussão da questão da “vulnerabilidade

grupo de adolescentes que vive em uma

social” está entrelaçada ao papel da cultura

comunidade em situação de vulnerabilida-

de massa, que visa ao contato de morado-

de social, na cidade de Santa Maria/RS,

res de regiões mais longínquas para captá-

Brasil. Esta pesquisa discute a dimensão e

los.

a influência do rádio na formação de subje-

Assim, o aforismo “adolescente”

tividade, da mesma forma que envolve a

está voltado ao Estatuto da Criança e do

Rev. Polis e Psique, 2014; 4(2): 126 – 140

|127

Cezar, M.; Motta, R. ___________________________________________________________________________ Adolescente (ECA) em uma faixa etária

dida como um processo que ocorre durante

que abrange dos 12 aos 18 anos de idade

o desenvolvimento evolutivo do indivíduo,

(Brasil, 1990). Porém, leva-se em conta

também pode ser considerada um como um

que a fase da adolescência pode ser com-

período de transição do estado infantil para

preendida como uma construção social

o estado adulto. Para o mesmo autor, é

moderna, representando uma possibilidade

necessário uma compreensão que envolva

de emergência com novas referências e

aspectos biológicos e psicológicos neste

padrões identitários (Levisky, 2005). A

processo, sobretudo os modos de vida e os

discussão para o desenvolvimento destas

costumes do adolescente. Na perspectiva

prerrogativas tem embasamento referencial

de Donzelot (1986), esta compreensão apa-

com ênfase na área de investigação inter-

rece na transitoriedade entre infância e a

disciplinar, na qual o objetivo é compreen-

preparação para a idade adulta. Em meio à

der a influência presente na mídia, em es-

adolescência e à formação de subjetivida-

pecial no rádio, e como ela é apropriada

de, que neste escrito é utilizada como um

pelos adolescentes.

conceito que não é constante tampouco

Para isso transita-se através de in-

imutável, é produzida na relação constituí-

terlocutores teóricos como Jesús Martín-

da e modelada no âmbito social em que diz

Martín-Barbero (2009), Gilles Deleuze e

de um reconhecimento de pertinência em

Félix Guattari (1997), Félix Guattari

um corpo coletivo e social, e que faz parte

(2004), David Léo Levisky (2005), Nilda

das relações plurais entre os adolescentes

Jacks (1999), Ana Carolina Escosteguy

(Rolnik & Guattari, 1989).

(2005), Suely Rolnik (1989, 1996), dentre

Com isso, a relação do uso do rádio

outros. Essas discussões possibilitam diá-

como mass media1 proporciona uma matriz

logos centrados na influência da mídia no

de contradições e reapropriações dos estí-

público adolescente, proporcionam concei-

mulos, a partir do adolescente, que realça

tos acerca de si, além de contribuir para a

os poderes de afetar e ser afetado, além de

discussão da temática dentro de uma esfera

provocar apropriações pelos. Desta forma,

social.

as apropriações emergem de conteúdos Em função disso, as intensas trans-

midiáticos em que o sujeito se articula com

formações tecnológicas que envolvem a

os processos de mudança na ordem social,

sociedade e ressonam especificamente so-

relativos à produção de subjetividade

bre o público adolescente, que, para Le-

(Martín-Barbero, 2009).

visky (2005), adolescência pode ser entenRev. Polis e Psique, 2014; 4(2): 126 – 140

|128

Cezar, M.; Motta, R. ___________________________________________________________________________ Esta pesquisa entra em xeque, so-

Método

bretudo, na condição egotista, do universo tecnológico e da experiência sensorial ter-

Percurso para a formação lógica da

ritorializada2 referente ao que o adolescen-

produção

te identifica-se e (re)apropria-se de si. Assim, não há uma premissa que guia a pre-

Este artigo fundamenta-se em fer-

sente pesquisa, mas estabelece a sua emer-

ramentas metodológicas apoiadas na análi-

gência acerca do objetivo deste trabalho,

se dos discursos sociais (Jacks, 1999) e nos

que não é formular um conceito, mas apro-

estudos de recepção latino-americanos

priar os sujeitos a certas condições em que

(Escosteguy, & Jacks, 2005) sobre o sujei-

foram transformando em objeto-alvo de

to ativo no processo comunicacional. Par-

perspectivas modelizadoras (Pal Pelbart,

te-se do pressuposto que os objetos adqui-

2000).

rem sentido através do processo de formaInicialmente, neste artigo é realçada

ção e transmissão de crenças, conhecimen-

a perspectiva de resistência à influência da

tos, comportamentos e outros valores soci-

mensagem emitida pelo viés do rádio, em

almente validados, agenciados pela mídia

estratégia de significação por quem escuta

dentro de um determinado contexto dia-

e o sentido produzido sobre as lógicas de

crônico. Além disso, tem-se como ponto de

valores. Ou seja, esta produção de sentido

partida a hipótese, de heterogeneidade e-

que está centrada em máquinas3 de produ-

nunciativa que se manifesta, por Bakhtin

ção em massa, isto é, na interação entre o

(2000), em dois níveis: o da heterogenei-

contexto social e a mensagem veiculada.

dade quando apresentada em um texto se

Na sequência, analisa-se como a constitui-

reporta ao que há em cada fala e na enun-

ção da subjetividade do adolescente está

ciação de cada voz, neste artigo destacado

ligada à oralidade, na inscrição de afetos

por aspas; e o da heterogeneidade constitu-

em meio à massificação às avessas aos

tiva, pela ideia de discursos preexistentes

usos dos conteúdos pré-fabricados. Por

sem que, propriamente, sejam citados. As-

fim, analisa-se como o adolescente resiste

sim sendo, para a análise de discurso, cada

a um ideal de consumo e cultural, embasa-

texto deriva de um gênero de discurso e,

do por alguns discursos sobre a as gratifi-

para cada gênero, produz-se o que se de-

cações musicais a serviço da cultura (Es-

nomina dispositivo de enunciação, para

costeguy, & Jacks, 2005).

esclarecimento dos diferentes “posicionamentos ideológicos”, “posições enunciati-

Rev. Polis e Psique, 2014; 4(2): 126 – 140

|129

Cezar, M.; Motta, R. ___________________________________________________________________________ vas”, ou, ainda, “lugares de fala” (Bakhtin,

reciprocamente, experimenta os apelos do

2000).

mundo moderno e reorienta os meios de No cenário da comunicação de

comunicação (Levisky, 2005).

massa, ressurge a necessidade de resgatar a

A partir dessas ponderações, neste

complexidade da vida cotidiana, onde se

estudo tomou-se a técnica de grupo focal,

dão as mediações como espaço de produ-

conforme Romero e Scarparo (2008), con-

ção de sentido, conforme apontado por

sistindo na participação de uma sessão

Martín-Barbero (1995). Resgate no sentido

grupal de nove participantes, demonstran-

de pensar os meios de comunicação em

do quanto os meios de massa interferem na

termos de conhecimento, desconhecimento

vida dos adolescentes, os quais foram esco-

e reconhecimento no uso e na relação com

lhidos por conveniência, e vivem na região

o social, a fim de estabelecer relações entre

leste e periférica da cidade de Santa Mari-

o concreto e o abstrato, entre o geral e o

a/RS, Brasil, de ambos os sexos e com

particular acerca dos dados analisados co-

idades entre 12 e 15 anos.

mo realidade, ou seja, em sua materialida-

Para a condução da entrevista, con-

de pura e simples de coisas ditas em de-

forme Bauer e Gaskell (2007), foram utili-

terminado tempo e lugar, sendo constituti-

zados perguntas convidativas de situações

vos de sujeitos e modo de existência (Mar-

cotidianas relacionadas ao tema do rádio,

tín-Barbero, 2009; Fischer, 1997).

como também questões que provocassem

Buscando compreender os proces-

informações contextuais para entendimento

sos que os adolescentes estabelecem com a

das posições discursivas dos entrevistados.

sociedade, recorre-se à compreensão sobre

O início da pesquisa se deu mediante a

como o consumo midiático, em especial no

aprovação pelo Comitê de Ética em Pes-

rádio, é apropriado pelos adolescentes.

quisa do Centro Universitário Franciscano

Considera-se, neste sentido, que a cultura

- CEP/UNIFRA e a assinatura do Termo de

de massa tende a integrar os temas disso-

Consentimento Livre e Esclarecido, pelos

nantes da adolescência, fornecendo-lhes

pais ou responsável legal pelos participan-

modelos ao mesmo tempo em que tende a

tes, sobretudo esta pesquisa respeita as

minimizar seu próprio dinamismo adoles-

normativas

cente. A ação prática dos grandes temas

196/1996 (Brasil, 1996).

propostas

na

Resolução

identificatórios da cultura ocidental (amor,

Ao mapear os enunciados e as pos-

felicidade, valores privados, individualis-

síveis relações, além dos modos como tais

mo) é mais intensa na adolescência que,

discursos operam no cotidiano dos adoles-

Rev. Polis e Psique, 2014; 4(2): 126 – 140

|130

Cezar, M.; Motta, R. ___________________________________________________________________________ centes, emergiram questões como: “A rá-

participantes que estão registradas nos pa-

dio da alegria”: os fluxos incandescentes

rágrafos seguintes.

da formação de massa, desdobrando-se em

Ao discutir sobre as emissoras de

uma subcategoria chamada de “A rádio de

rádio que eram usualmente sintonizadas

louco”: a resistência na adolescência, e

pelos adolescentes, o Participante 5 excla-

uma categoria denominada de “Todo mun-

ma: “Medianeira FM, a rádio da alegria!”,

do gosta”: archi-escritura de um povo. As

em que pode ser comparado com o signifi-

duas categorias gerais aludindo aspectos e

cado de uma propaganda de uma mass me-

características comuns que se relacionam

dia, ou um emissor. Ou seja, em vias de

entre si.

estratégia de significação, embora alternativa e defensora das condições particulares

“A Rádio da Alegria”: os fluxos

de quem escuta e o sentido universal do

incandescentes da formação de massa

aparelho que emite suas lógicas de valores e sentimentos. Conforme discutido por

A com(unica)ção4 pode ser pensada

Rolnik (1989), há distribuição de papéis

como um efeito a ser causado sobre o re-

entre os modelos de aspectos tanto do tra-

ceptor, sendo o alvo da influência os pro-

balho e da vida econômica quanto da cultu-

cessos resultantes de interações dos mo-

ra. E como geradores de relações sociais as

dismos mediados. E, ainda, pensada como

leis, os costumes e as práticas passam por

tentativa de individualização pela via de

procedimentos de escritura econômica que

chegada de mensagens, tratando, assim,

podem variar no prisma da conservação e

cada indivíduo como exclusivo consumi-

da ordem social.

dor de determinado produto, consistindo

A fala expressa pelo Participante 1:

em práticas sociais e apropriações de efei-

“Filha, onde você está? Aonde você vai?”

tos, conforme a recepção da narrativa pela

refere-se à possibilidade de a mãe controlá-

audiência. Dessa forma, o conteúdo pode

la através da programação do rádio. Na

moldar e interferir no modo de ser dos seus

forma de que a escuta gera um território de

ouvintes na construção de identidade e

existência que poderia servir como o con-

ajustamento social, a partir de propostas

trole entre os ouvintes dentro da programa-

expostas pelos meios de massa; tratando-

ção de uma emissora, servindo como um

se, pois, de questões que serão discutidas

dispositivo mediador de comunicação.

na relação com as falas expressas pelos

Com isso, Guattari (2004) propõe que as relações entre as pessoas podem ser carac-

Rev. Polis e Psique, 2014; 4(2): 126 – 140

|131

Cezar, M.; Motta, R. ___________________________________________________________________________ terizadas pelo seu enredo geracional, pois

apropriam segundo um processo de singu-

seus modos de vida refletem a realidade do

larização com determinada proposição por

capitalismo. E este reflexo torna a plata-

parte da mídia, que circula entre opressor e

forma do rádio um objeto de pura contem-

oprimido (Deleuze, 1997a).

plação do ouvinte, que se torna um instru-

Com isso percebem-se no decorrer

mento de unificação quase que invisível

da pesquisa algumas formas de resistência

pelos adolescentes (Guattari, 2004).

e unidimensionalidade referente ao estado

Nessa perspectiva de controle, ajus-

social8. De certo modo alienante, assim

tamento e significação, a produção de sen-

que semióticas9 de modelização referente a

tido está centrada em agentes individuais,

produção de subjetividade que permutam

no caso os clientes que são produtores de

pelo cortejo e pela valorização de aconte-

audiências. Como no caso evidenciado

cimentos. Conforme a fala do Participante

pelo Participante 2, quando se refere às

1 que se refere ao desejo e à realidade de

emissoras: “Às vezes na 97.7 FM 5 quando

suas escolhas: “Depende do humor da gen-

eu escuto dá sempre as mesmas músicas”,

te!”, e Participante 2: “Às vezes a gente

ainda para o Participante 2: “eu escuto

pode

6

acordar

triste,

acordar

mal-

100.9 ” [...] “É a medianeira FM”, e o

humorada” [...] “Quando eu tô triste não

Participante 1: “Eu escuto lá aquele pampa

escuto!”. Para tanto, Deleuze (1997a) afir-

tchê7”, citando três disposições de emisso-

ma que o espetáculo centra-se na separação

ras de comunicação. Infere-se, segundo

medida de mensagens, que vastamente

Guattari (2004), que o lucro no sentido

contemplam a visão de uma só produção:

capitalístico é produtor de poder subjetivo,

“o consumo” – Participante 1: “Ah! eu

na posição de consumidor de uma progra-

escuto e, daí, me alegro bem rapidinho”.

mação, de um estilo musical ou de uma

O que chega através da mídia, se-

emissora. Em contraponto, Rolnik e Guat-

gundo Rolnik (1996), não são apenas idei-

tari (1989) propõem que o modo de vida

as, mas de um lado “máquina” produtora

do adolescente, que esta constantemente

de controle social e, de outro, uma instân-

em busca pela individualização, faz com

cia psíquica e a maneira de perceber o

que se transite entre os extremos: alienante

mundo, conforme a fala de Participante 1

e opressor. Nesta perspectiva os compo-

ao se referir ao uma música é reconhecida

nentes para subjetivação que são apropria-

dentro do território de uma programação:

dos podem ser sugeridos pelo rádio. Com

“Como um toque de mágica!”. Guattari

isso, os componentes de subjetivação se

(2004) prediz que o pensamento de massi-

Rev. Polis e Psique, 2014; 4(2): 126 – 140

|132

Cezar, M.; Motta, R. ___________________________________________________________________________ ficação como algo que “parasita” cada ou-

gramação de rádio. E a (re)descoberta de

vinte, cuja missão é preservar o autêntico

si na transição que compreende a fase do

de cada audiência, a inclinar-se para a do-

adolescente imbricado no viés da “mass

minação social às induções de uma classe

media”. Pode ser visível através de falas

favorecida. Deleuze e Guattari (1997b) e

expressas, nos parágrafos seguintes, pelos

Martín-Barbero (2009) associam e articu-

participantes do grupo, referente a esta

lam elementos para a adaptação, ressaltan-

pesquisa.

do valores e concepções em virtude de uma

O modelo para a identificação dos

legitimidade cultural, que permite que o

adolescentes de hoje parte de um identitá-

ouvinte exista e seja manipulado.

rio atravessado pela fala. Da mesma forma

Decorrente das ideias de influência

em que o Participante 1, quando ele se re-

e de resistência na formação de massa e

fere a determinada programação e a identi-

dos aspectos das formas emitidas pelo rá-

fica como a “rádio de louco”, segundo ele,

dio discute-se nos parágrafos seguintes a

a emissora tem uma programação que não

enunciação da forma adolescente e as des-

o convence. Então, pode-se inferir que,

cobertas de si, referentes a uma subcatego-

nesta perspectiva, inclina-se ao discurso

ria com ênfase ao que se refere à produção

como produtor de subjetividade. Neste

de subjetividade.

caso, pelo individualismo o sujeito provará a autonomia dos modos de vida, referindo

“A rádio de louco”: a resistência na

as mensagens lançadas aos receptores ati-

adolescência

vos de conteúdos, estes que são resultantes da massificação e do produtor de desejo,

Frente ao transitório e aos posicio-

conforme Guattari e Rolnik (2006).

namentos aos objetos da comunicação,

Dessa forma, o indivíduo capturado

discute-se a constituição da subjetividade

pelo peso das incorporações massivas dos

na via da singularidade do adolescente, em

equipamentos, irrompem as formas políti-

que a subjetividade está a serviço da expe-

cas de posicionamento frente ao novo obje-

rienciação de autonomia e de construção

to que implica em sustentação de subjeti-

de identidade própria, sobretudo a serviço

vidades. Objetos que estão carregados de

da resistência e produção de modos vida.

desejos pelas invenções tecnológicas, co-

Ao passo que esta resistência do adoles-

mo exposto por Participante 1 sobre a e-

cente instaura a oralidade na inscrição de

missora: “Atlântida10 [...] e o locutor João

afeto territorializados dentro de uma pro-

Carlos Maciel11”, referindo aos usos dos

Rev. Polis e Psique, 2014; 4(2): 126 – 140

|133

Cezar, M.; Motta, R. ___________________________________________________________________________ conteúdos emitidos pelo rádio, compondo

forma particular de resistência, pois o es-

agentes de produção de sentidos aos dis-

paço econômico imposto está possibilitan-

cursos das diferentes audiências (Escoste-

do a fabricação de um espaço literário,

guy, & Jacks, 2005).

privando o sujeito de seu “personológi-

Com isso, a produção de sentido

co12”.

pode ser traduzida pela via da escrita e está

Assim, a mídia não só influencia

relacionada com a tentativa de resistência à

nos modos de subjetividade, mas também

captura pelo produto midiático. Ensaiando

cria e contribui para a criação de subjetivi-

sobre a criatividade nas formas de trans-

dades. E a “formação de si” está direta-

gressão e a busca de singularização em

mente relacionada às experiências que o

meio à massa, como expresso nas falas dos

sujeito faz em um jogo de verdade em que

adolescentes apresentados nos próximos

é fundamental a relação “consigo” e com o

parágrafos.

“meio” (Moreira, 2009). Assim sendo, é a

A escrita converte-se em uma práti-

mídia que se configura como a experiência

ca de descrição de identidades e de “ins-

de constituir “novos” agenciamentos –

trumento” de resistência à incorporação

componentes da ordem e maquínica 13 - na

massiva, levando ao mundo adolescente a

produção de discurso e padrões de vida que

arte de transcrever a fala. Também a di-

é modelada ao consumo da máquina capi-

mensão e a forma de um meio de comuni-

talística14 (Guattari, & Rolnik 2006).

cação transformando-o em agente de

A escrita se propõe a um ato de re-

transmissão de informação, pois envolvem

sistência a massificação dentro desta lógica

em si as interfaces entre o meio e o subje-

de padronização. Assim, esta escrita de si

tivo adolescente. Desse modo, para Guatta-

resiste, também, a generalização das audi-

ri (2004), o escritural é trabalhado pela

ências que são impostas pelas programa-

oralidade na inscrição de afeto desterritori-

ções do rádio. E problematiza a e incansá-

alizado a partir de percepções, a fim de dar

vel busca do ter para ser e, principalmente,

“voz” ao discurso interior e com a presença

o uso dos produtos de si no mundo do ado-

de si no que se pode ser mais padronizado.

lescente.

Ou seja, uma redescoberta de “si” no meio da “multidão”. O Participante 2, ao ser impulsionado pelo âmbito musical e ao escutar a programação de rádio diz: “Escrevi uma música!”, frase que ensaia uma Rev. Polis e Psique, 2014; 4(2): 126 – 140

|134

Cezar, M.; Motta, R. ___________________________________________________________________________ “Todo mundo gosta”: a archi-escritura15

como no caso da fala do Participante 1 no

de um povo

momento em que as preferências por estilos musicais dentro das programações sur-

A escrita possibilita ao imaginário

gem: “rock”, no discurso do Participante 2:

do autor singularizar-se em meio ao molde

“sertanejo”, do Participante 3: “pop”, Par-

padrão do “ser”, considerando que as pala-

ticipante 4: “funk” e na fala do Participante

vras são antecipadas, ou seja, já foram es-

5: “pagode”. Jacks (1999) observa que as

critas ou ditas. Discute-se, nos parágrafos

músicas manejam com enunciados que

subsequentes, a perspectiva proposta pelo

trazem consigo potencialidades, como

rádio, na padronização do consumo e do

forma de aconselhamento e apoio, na for-

uso das programações feitas pela audiên-

ma de modelagem de estilos musicais com

cia.

o papel e expressão de emoções no cotidiJunto ao modelo de consumo, a pa-

ano de cada singularidade, por intermédio

dronização das escolhas inviabiliza realizar

da identificação do adolescente com o con-

escolhas legítimas, sobretudo ao propor-

teúdo da música.

cionar uma música que, ao ser ouvida, sem

Contudo, a afirmação da aparência

estranhamento, ressone a totalidade, che-

de toda vida social, sendo o consumo e a

gando a tornar-se de uso popular e permi-

influência derivadas da modelização, e, de

tindo o reconhecimento cultural pelos su-

acordo com Rolnik e Guattari (1989),

jeitos. Realçada pela música a forma de se

constituintes da dimensão do capital e da

relacionar com o consumo e o conteúdo

realização pessoal. A busca do “ter” e do

transmitido, ao inferir: capital, consumo e

“parecer” para realização singular na vida

produção de desejo; a ressonância que

social e ter-se prestígio, especificamente,

concerne ao discurso expresso pelos ado-

naquilo que não se é (Debord, 2003), onde

lescentes pela via do consumo.

o mundo converte-se em imagens forman-

Neste contexto, o uso do rádio con-

do os “seres reais”. Conforme proposto por

diz com a consumação dos meios, forman-

Deleuze e Guattari (1997b), que, por meio

do subjetividades moldadas, agregadas no

de dispositivos produtores de discursos

plano de consistência16 apontadas do con-

como: Participante 5 ao se referir e justifi-

sumo das programações. Esses meios, que

car a preferência pelo estilo musical serta-

surgiram como temática trazida pelo grupo

nejo: “Todo mundo gosta”, Participante 1:

e baseada nos modelos de produção dese-

“Quem não gosta de sertanejo?”, Partici-

jante, tendo como fundamento a música,

pante 2 quando se refere a uma emissora:

Rev. Polis e Psique, 2014; 4(2): 126 – 140

|135

Cezar, M.; Motta, R. ___________________________________________________________________________ “Ei, só música boa lá”, consolida-se a a-

motivada por fatores de reprodução intrín-

propriação dos produtos baseados nos gos-

seca, que está envolvida com agregações e

tos pessoais, que prevalece sobre o valor

experiências para a formação de Si. Para

do uso e da troca de mensagens. Neste ca-

Escosteguy & Jacks (2005), possibilita a

so, o Participante 1 quando afirma que a

confrontação de realidades em busca de

emissora não é de sua preferência, porém

soluções e explicações para as interações

traz questões que permitem a identificação

com a sociedade.

dentro da programação: “Eu boto um CD enquanto dá propaganda!”, afirma que as

Considerações finais

mensagens emitidas são tomadas de discursos estruturados, ou seja, situações rele-

Ao pensar adolescência adentrava-

vantes para o ouvinte que está emanado no

se em um terreno de reflexão em relação

deturpo da invisibilidade.

ao poder e ao efeito a ser causado sobre o

Cabe ao ouvinte a negociação e re-

receptor, sendo o alvo da influência, como

futação das mensagens em prol de novas

processos resultantes de interações dos

produções de sentidos, tornando-se ainda

modismos mediados. Entretanto, podem-se

mais invisível acerca da apropriação de

perceber algumas estratégias de resistên-

outro tipo de situação: “A música que vai

cias estigmatizadas pelos meandros de um

tocar!”, exposta na fala do Participante 1

interdito acerca do discurso, apontando

quando diz sobre si e a forma como esco-

para outras possibilidades de significação

lhe emissora, que significa outra forma de

através do choque entre as diferentes rela-

consumo ao da propaganda, instaurando ao

ções e entre os enredos geracionais que

sujeito o indiscernível da transmissão, o-

englobam o universo adolescente.

portunizando a “indissociação” do indivi-

Tecendo considerações acerca do

dual ao massivo, tornando-o invisível, po-

processo de formação de subjetividade,

rém consumista do produto que vai tocar,

principalmente, em relação ao público ado-

conforme Martín-Barbero (2009).

lescente, elenca-se a necessidade e a im-

Ao viés do consumo, a programa-

portância de se continuar estudando o as-

ção, como fluxo de conteúdos, é escolhida

sunto. A interdisciplinaridade e o avanço

por correspondência a objetivos relaciona-

em outras áreas alheias à psicologia como:

dos às circunstâncias sociais na visão de

a comunicação social, que enriquece o co-

Jacks (1999). A opção por determinada

nhecimento sobre os processos de comuni-

forma (estilo musical) de comunicação é

cação que emanam do sujeito, destacando

Rev. Polis e Psique, 2014; 4(2): 126 – 140

|136

Cezar, M.; Motta, R. ___________________________________________________________________________ para novas modalidades de compreensão

res são o modo de construção de sujeitos e

da subjetividade e suas apropriações com

os sentidos que adquirem em sua subjetivi-

as plataformas midiáticas, em especial,

dade.

sobre o rádio. Este estudo encontrou limitações na

Notas

lacuna da interlocução interdisciplinar, apropriando os processos sociais da comu-

1

nição e os processos de subjetivação no

concepção que não vê nessas formas da

lugar da “silenciosa” e “simplória” singula-

indústria da cultura e da informação outra

rização das áreas. A fim de refletir sobre o

coisa a não ser dispositivos de emissão e

espaço de consumo e de práticas de usos

capacidade

em relação ao comportamento e ao tempo,

mensagens para audiências massivas (Go-

do alcançável e do inatingível. Inscrevendo

mes, 2004, p. 5).

demandas e dispositivos provenientes de

2

diversas esferas culturais, constitutivos a

quanto a um sistema no seio ao qual o su-

partir de um enunciado, uma programação,

jeito se reconhece, apropriando-se da sub-

contudo, os objetivos do estudo de refletir

jetivação sobre si (Rolnik, 1989).

sobre a influência da mídia na subjetivida-

3

de do adolescente foram alcançados.

tras. Selecionam-se umas as outras e dão

A expressão se constrói a partir de uma

de

difundir

conteúdos

e

Relaciona-se tanto ao espaço vivido

Máquinas não se engendram umas as ou-

Para isto, a perspectiva de estudo

lugar a novas linhas de potencialidades,

em relação a outros entendimentos, em

que funcionam por agenciamentos (Rolnik,

relação à afinidade nas diferentes diacroni-

1989).

as das fases do desenvolvimento humano,

4

pode, cada vez mais, enriquecer o debate

nomenclatura.

acerca da influência dos meios, dos usos e

5

Emissora de rádio de caráter regional.

dos sentidos, na busca de expandir e enri-

6

Emissora de rádio de caráter municipal.

quecer as discussões interdisciplinares en-

7

Programa de rádio de caráter municipal.

tre a psicologia e a comunicação.

8

O terreno da vulnerabilidade passou a ser

Grifo dos autores para a formação desta

Por fim, trata-se de um processo re-

na atualidade a capacidade de sobreviver e

sultante da interação entre receptor, media-

criar. Implicando os sistemas de garantias

ção e rádio, provocando reações emocio-

radicalmente alienante e subvertido (Rol-

nais nos receptores. As audiências, a re-

nik, 1989).

cepção e as resistências dos setores populaRev. Polis e Psique, 2014; 4(2): 126 – 140

|137

Cezar, M.; Motta, R. ___________________________________________________________________________ 9

“Interações semióticas podem ser enten-

Referências

didas como: sistemas de signos que trabalham diretamente com as realidades, ope-

Bauer, M., & Gaskell, G. (2007). Qualita-

rando a uma proporção de equivalência de

tive researching with text, image,

realidades” (Guattari, 2006, p. 320).

and sound. London: Sage.

10 11

Emissora de Rádio de caráter regional. Comunicador de uma rádio de caráter

municipal. 12

Bakhtin, M. (2000). Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes. Benevides, R. (1994). Grupo: afirmação

Referente ao papel, identidades e identi-

de um simulacro. Tese de doutora-

ficações de ordem subjetiva (Rolnik, 1989,

do, Programa de Pós-Graduação em

p. 321).

Psicologia Clínica, PUCSP, São

13

Paulo, SP.

De ordem mecânica fechada sobre si

mesma, mantendo com o exterior das rela-

Brasil. Conselho Nacional de Saúde.

ções perfeitamente codificadas. Constitu-

(1996). Resolução nº 196, de 10 de

indo diferentes estéticas em relação ao

outubro de 1996. Diretrizes e nor-

espaço e tempo, faz aparecer novas linhas

mas regulamentadoras de pesquisa

de potencialidades (Rolnik, 1989).

envolvendo seres humanos. Brasí-

14

lia.

O modo de produção capitalista investe

na produção de determinadas formas de subjetividade a fim de garantir sua continuidade e expansão, chamado de: “Modo-

Brasil. (1990). Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo, Cortez. Deleuze, G., & Guattari, F. (1997a). Mil

Indivíduo” (Benevides, 1994).

Platôs (Vol. 1). São Paulo: Editora

15

34.

Arque-escrita sempre precede qualquer

ato de comunicação, quaisquer marcas gráficas presentes em uma página: eles terão sempre sido já escritos em nossos cérebros, em nossa memória inconsciente (Derrida, 1967). 16

Processo de transformação real (Rolnik,

1989).

___________. (1997b). Mil Platôs (Vol. 4). São Paulo: Editora 34. Debord, G. (2003). A sociedade do espetáculo. E-book. Projeto Periferia. Derrida, J. (1967). Writing and difference. London: Routledge. Donzelot, J. (1986). A polícia das famílias. Rio de Janeiro: Graal.

Rev. Polis e Psique, 2014; 4(2): 126 – 140

|138

Cezar, M.; Motta, R. ___________________________________________________________________________ Escosteguy, A. C., & Jacks, N. (2005).

Moreira, J. O. Mídia, espetáculo e socieda-

Comunicação e recepção. São Pau-

de de consumo. In: CRP-04 (org.),

lo: Hacker Editores.

Subjetividade(s) e sociedade: con-

Fischer, R. M. B. (1997). A mídia como espaço formativo do sujeito adolescente. Porto Alegre: Veritas.

tribuições da Psicologia. Belo Horizonte: Casa do Psicólogo. Pal Pelbart, P. (2000). A vertigem por um

Gomes, W. (2004). A Transformação da

fio: políticas da subjetividade con-

política na era da comunicação de

temporânea. São Paulo: Iluminuras.

massa. São Paulo: Paulus. Guattari, F. (2004). Plan sobre el planeta. Capitalismo mundial integrado y revoluciones moleculares. Madrid: Traficantes de Sueños. Guattari, F., & Rolnik, S. (2006). Micropolítica. Cartografías del deseo. Madrid: Traficantes de Sueños.

Rolnik, S., & Guattari, F. (1989) Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis, RJ: Vozes. Rolnik, S. (1996). Cartografia Sentimental: transformações contemporâneas do desejo. São Paulo: Estação Liberdade. Romero, S. M., & Scarparo, H. (2008). A

Jacks, N. (1999). Querência: cultura regi-

utilização da metodologia dos gru-

onal como mediação simbólica –

pos. In: H. Scarparo. Psicologia e

um estudo de recepção. Porto Ale-

pesquisa: perspectivas metodológi-

gre: UFRGS.

cas. Porto Alegre: Sulina.

Levisky, D. L. (2005). Adolescência: reflexões psicanalíticas. Porto Alegre:

Marcelo Moreira Cezar: Psicólogo, mes-

Artes Médicas.

tre em Psicologia Social e doutorando em

Martín-Barbero, J. (1995). América Latina

Persona i Societat en el Món Contempo-

e os anos recentes: O estudo de re-

rani na Universitat Autònoma de Barcelona

cepção em comunicação social. In:

(UAB), Barcelona, España.

M. W. Sousa, Sujeito: o lado oculto

E-mail:[email protected]

do receptor. São Paulo: Brasiliense. Martín-Barbero, J. (2009). Dos meios às

Roberta Fin Motta: Psicóloga, doutoran-

mediações: comunicação, cultura e

da em Psicologia pela Pontifícia Universi-

hegemonia. Rio de Janeiro: Editora

dade Católica do Rio Grande do Sul (PU-

UFRJ.

CRS) e com período de estágio sanduíche na Faculdade de Psicologia e de Ciências

Rev. Polis e Psique, 2014; 4(2): 126 – 140

|139

Cezar, M.; Motta, R. ___________________________________________________________________________ da Educação da Universidade do Porto (UP), Portugal. Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano, Santa Maria, RS, Brasil. Email: [email protected]

Enviado em: 26/06/2014 - Aceito em: 06/10/2014

Rev. Polis e Psique, 2014; 4(2): 126 – 140

|140

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.