Minha pátria é a língua portuguesa: A construção de um romance a partir da ideia de uma língua comum entre Brasil e Portugal.

May 22, 2017 | Autor: Alexandra da Cunha | Categoria: Creative Writing, Fiction Writing, Portuguese and Brazilian Literature
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Mestre em Marketing pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutoranda em Escrita Criativa pelos Programa de Pós –Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Bolsista CAPES.
Os ensaios reunidos neste volume citado foram escritos entre 1915 e 1921.
A Carta do Descobrimento foi sendo escrita durante a viagem entre Portugal e as terras que viriam a ser brasileiras. A primeira data no documento é a de nove de março de 1500.
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Minha pátria é a língua portuguesa: A construção de um romance a partir da ideia de uma língua comum entre Brasil e Portugal.

Alexandra Lopes Da Cunha

« Minha pátria é a língua portuguesa »
Bernardo Soares, O Livro do Desassossego.
Introdução
Um dos aspectos que definem a identidade de um povo, de uma nação, é o uso de uma língua em comum. O português nos coube como herança e, durante séculos, foi o Brasil parte do Reino Português assim como outras colônias espalhadas pela África e Ásia.
Entretanto, entre o Reino e a colônia brasileira havia um oceano. E ao português emigrado e luso-parlante, mesclaram-se o tupi-guarani e dialetos africanos. Aos poucos, foi nascendo o português brasileiro, bem como a identidade de um homem que não era europeu ou africano, mas sim americano. E nascia com ele, outra forma de falar, um desejo de falar um português brasileiro.
Tal desejo ganhou corpo e força durante a chamada Semana de Arte Moderna de 1922. Os escritores brasileiros procuravam uma forma "brasileira" de escrever, de narrar a sua realidade sem arcaísmos e erudições pedantes. Uma escrita que permitisse transmitir, nas palavras de Oswald de Andrade, como somos.
Assim, a pátria como a língua portuguesa, expressada por Bernardo Soares, heterônimo de Fernando Pessoa, capaz de abarcar e esfumar uma série de diferenças profundas entre estes dois países falantes do idioma, Portugal, o colonizador, Brasil, a antiga colônia, é certamente bonita, mas ainda, e talvez para sempre, utópica. O diálogo será sempre possível e desejado, mas as arestas, várias e agudas.
Como projeto do doutorado em Escrita Criativa, é objetivo da autora abordar as questões relacionadas às ideias de identidade e alteridade, através da escrita ficcional.
A literatura pode servir como forma de estudar e compreender aspectos relacionados aos estudos culturais. Na história dos estudos culturais, os primeiros estudos foram em crítica literária, ou seja, deram-se a partir do debruçar sobre obras literárias (Johnson et al., 1999).
A ideia do romance a ser desenvolvido é de, a partir das histórias individuais de dois personagens centrais, uma brasileira e um português, explorar tais questões, tendo, como ponto de partida, a língua comum.
Será pela percepção da língua que os personagens se aproximarão, e através dela, se relacionarão. Ao se relacionarem, trarão à tona semelhanças e dessemelhanças. Em seus diálogos, em suas tentativas de se conhecerem, deixarão patentes suas percepções acerca do outro. Serão também levados a pensar a respeito de si próprios, sobre suas identidades, seus preconceitos, seus princípios e objetivos de vida.

Referencial teórico

O estrangeiro no outro, o estrangeiro em mim: a visão portuguesa do Brasil e o surgimento do brasileiro a partir do sujeito português.

"Estranhamente, o estrangeiro habita em nós. Ele é a face oculta de nossa identidade, o espaço que arruína a nossa morada, o tempo em que se afundam o entendimento e a simpatia. Por reconhecê-lo em nós, poupamo-nos de ter de detestá-lo em si mesmo". (Kristeva, 1988, p. 9).

Assim inicia Julia Kristeva a obra: O Estrangeiro para Nós Mesmos. O outro sempre nos é estranho por ser externo a nós, desligado dos nossos limites físicos. Entretanto, vemos nele o que compartilhamos, percebemos também semelhanças.
Há também neste trecho outra questão subentendida: o pensar em si tendo o outro como espelho, o pensar a questão da identidade. O que constitui o que se é? O que nos individualiza?
Para refletir sobre tais questões, faz-se necessário pensar no conceito de identidade. A ideia de indivíduo nasce com o Iluminismo. Então, pensava-se na individualidade como algo permanente e inato. Com a evolução do pensamento humano – Stuart Hall, em A Identidade Cultural na Pós-Modernidade (2015), destaca, em especial: a Teoria Marxista, a Teoria do Subconsciente de Freud, bem como as contribuições de Lacan, os trabalhos de Saussure na linguística estrutural, a genealogia do sujeito moderno, desenvolvida por Foucault e o surgimento do movimento feminista nos anos de 1960 -, não apenas o conceito, mas a própria percepção do indivíduo se fragmenta; Não há uma identidade, mas sim várias. Zygmunt Bauman (2005), em entrevista dada a Bedetto Vechi e depois publicada no livro: Identidade, partilha da mesma opinião. Para ele, a identidade é: "eternamente inconclusa" (Bauman, 2005, p.22).
Da mesma forma que o conceito de identidade individual é fragmentado, o mesmo pode-se dizer da identidade cultural, ou, melhor dizendo, identidade nacional. O conceito de pertencimento, de Estado-nação, algo relativamente novo na história humana. Mais uma vez, conforme Bauman: "... pertencer a uma nação foi uma convenção arduamente construída – a aparência de 'naturalidade' era tudo, menos 'natural' '' (Bauman, 2015, p.29). Com a aceleração da globalização, principalmente a partir da década de 70 do século passado, os contornos ainda claros de tais identidades, tão duramente estabelecidos, foram perdendo sua definição precisa.
Ainda assim, parece haver um "sonho de pertencimento", mesmo que antinatural: "A ideia de um homem [sic] sem uma nação parece impor uma (grande) tensão à imaginação moderna. Um homem deve ter uma nacionalidade, assim como deve ter um nariz e duas orelhas". (Gellner, apud Hall, 2005, p.29). E o uso de uma língua comum é um dos fatores indicadores de uma identidade cultural/nacional.
Para Walter Benjamin (1916), "a linguagem nunca é somente comunicação do comunicável, mas é, ao mesmo tempo, símbolo do não-comunicável". (Benjamim, 2011, p. 72). Há aspectos no discurso que transcendem o significado vernacular e que ficam, por vezes, obscuras ao usuário da língua como ferramenta de comunicação diária. Ainda assim, o uso do idioma, de metáforas, de figuras de linguagem, bem como das construções sintáticas guardam significações maiores que podem deixar transparecer aspectos culturais, ideológicos, filosóficos para aqueles que se interessem em lê-los. Como nos lembra Roland Barthes (2014), a linguagem nunca é inocente. Nesta língua portuguesa pretensamente comum, habitam, de cada lado do Atlântico, memórias partilhadas e não partilhadas, universos de sombras e signos culturais e históricos a serem explorados. Há a semelhança e a diferença, o conhecimento e o desconhecimento mútuo, o reflexivo e o refratário. Poderá haver o desejo em conhecer, em esclarecer, em desfazer ou construir conceitos a partir de preconceitos e estereótipos, as questões sempre complementares, e ao mesmo tempo, repletas de significados distintos: Como nos veem os portugueses? Como são os portugueses para os brasileiros?

O Brasil para Portugal e a cisão que deu origem ao sujeito brasileiro

Em entrevista para a revista Ípsilon (2015), o escritor português Francisco José Viegas diz o seguinte a respeito do Brasil: "O Brasil foi sempre um paraíso perdido para nós. O que podíamos ter sido, o que podíamos ter feito, como poderíamos ter sido de outra maneira. Nunca nos recompusemos dessa perda".
Portugal foi uma potência colonial, contribuindo para a expansão do Ocidente, ou de uma ideia de Ocidente. Como canta Camões, no poema épico Os Lusíadas, Canto I, oitava Seis, movia a nação lusitana também o desejo de expandir os domínios da cristandade. Com a Cruz seguia a palavra e, tendo numa mão a espada e outra a pena, foi o Reino de Portugal se expandindo, ganhando o português, outras terras e, por isso, a epígrafe de Bernardo Soares. A pátria da língua portuguesa estendeu-se para o outro lado do Atlântico.
Com efeito, a ideia de paraíso já se faz sentir na primeira narrativa a respeito do País, a Carta do Descobrimento, em que Pero Vaz de Caminha descreve uma natureza luxuriante, um povo inocente, sem vergonhas ou deuses que "se nós entendêssemos sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos" (Caminha, 2015, p. 72).
A América nasce como colônia já sob o signo do estereótipo: os habitantes da terra, descritos na Carta do Descobrimento de Pero Vaz de Caminha, passariam a ser conhecidos como índios sem o serem e, já a partir desta primeira narrativa, começa a surgir a ideia do bom selvagem, homem dócil, dúctil, disposto por sua natureza a abraçar uma fé estrangeira, fala que guarda a ambivalência do discurso colonial defendida por Bhabha no ensaio: A Outra Questão: O Estereótipo, a Discriminação e o Discurso do Colonialismo (1998) . Este homem pardo que aqui vivia, andava nu porque vergonha não tinha, de natureza afável, seguiria de bom grado a religião do dominador, necessitava ser civilizado para o seu próprio bem, assim pensavam os navegantes que aqui chegaram. A ideia da Carta do Descobrimento era justamente dar a conhecer ao Rei o achamento de terras que passariam a ser de propriedade da Coroa Portuguesa, desconsiderando por completo o fato de que aqui já havia habitantes. Mas eram eles selvagens e aí surge a justificativa. Como nos esclarece o teórico: "O objetivo do discurso colonial é apresentar o colonizado com base na origem racial de modo a justificar a conquista e estabelecer um sistema de administração e instrução (Bhabha, 1998, p. 111). Homens racialmente distintos, incapazes de entender a simbologia de superioridade do homem branco, como bem está descrito nesta missiva: em determinado momento, o capitão da esquadra recebe dois dos nativos em sua embarcação. Escolhe recebê-los sentado numa cadeira posicionada sobre um tablado. Os indígenas não percebem o sinal de superioridade, não compreendem que devem prestar homenagens àquele homem. São inocentes, ignorantes, precisando ser, portanto, educados conforme os preceitos do invasor.
Ainda que esta primeira impressão favorável da docilidade indígena sofresse reveses, pois fatos que se seguiram ao Descobrimento, tais como as primeiras reações hostis, a descoberta horrorizada do homem branco do hábito do canibalismo praticado entre algumas tribos indígenas, como descrito, em O Caramuru, de Santa Rita Durão, Mantém-se a percepção benigna, pois, como expõe Antonio Cândido em A Formação da Literatura Brasileira (2000), escritores como o próprio Santa Rita e, antes dele Basílio da Gama, tinham pelo indígena simpatia, indulgência. Viam-no como um homem natural. É por isso que, na epopeia em estilo camoniano, o religioso Santa Rita apresenta Diogo Álvares, o Caramuru, como o homem branco que civiliza, que casa com a moça indígena, leva-a para a Europa e, uma vez lá, ela se converte ao catolicismo, adota o nome da sua protetora, a Rainha de França. É a dominação total: a indígena abandona suas origens e volta-se por completo: assimilada por completo, pode ser aceita nesta Europa (Landowski, 2012). É a ideia da superioridade do europeu sobre o indígena, em todo semelhante à visão adotada para outros colonizados: africanos, indianos, povos do extremo oriente.
No entanto, há o momento em que este português deixa de sê-lo e passa a brasileiro. Começa a nascer, do lado de cá do Atlântico, povo distinto, resultado de misturas múltiplas.
Conforme Alfredo Bosi, em História Concisa da Literatura Brasileira (1994), o processo de aculturação, neste primeiro momento, do português e do negro à terra e às raças nativas foi lenta. A colônia só deixou de sê-lo – e o povo brasileiro de ser colonizado -, quando passa o Brasil a ser o sujeito de sua própria história.
Um exemplo literário interessante, mais ainda por haver sido gerado por um poeta inglês, sem relações culturais diretas nem com Portugal, nem com o Brasil, é uma coletânea de poemas escritos por John Wain (1993) acerca de Fernando Pessoa. No primeiro trecho do poema, o eu lírico assim descreve tal transformação:
homens com rostos de teca, içando cabos esbranquiçados de sal;
homens que levavam a Europa Ocidental, foram levando,
levaram, até que por fim pousaram
tornando-a essa rainha exilada chamada Brasil,
rainha errante entre flores e bichos de mistério
numa terra a que seria impróprio alguém acostumar-se
e que vive satisfeita por já não ter memória.
EXILADA lhe chamei. Porém os exilados acham novos lares.
As sementes aladas sabem lançar raízes em solo distante.
Aqueles desígnios ibéricos, esses modos ibéricos, esses modos portugueses de pensar fizeram-se brasileiros. Os mesmos, sem ser os mesmos.
(Wain, 1993, p. 15)

Assim, ao menos no que diz respeito a uma literatura brasileira, foram necessários séculos para que esta se independizasse também (Bosi,1994). Produzia-se uma literatura que refletia bem a miscigenação dos povos: uma literatura igualmente híbrida.
E, aparentemente, os portugueses do lado de lá do Atlântico, seguiram com a ideia do paraíso perdido, dos sonhos de haverem sido que se perderam quando aqui se estabeleceu uma nação independente, com um povo independente.
A distância, o passar dos anos, as atrações da nova terra, com seus aromas e cores, paisagens deslumbrantes, as praias "que ficavam mais nítidas e se estendiam, hospitaleiras, protectoras sim, mas provocantes". (Wain, 1993, p. 17), foram fazendo nascer o brasileiro. Num processo natural, "... a própria terra portuguesa /, rainha resguardada da memória, essa bruma banhada de luz, foi-se afogando nas águas fundas, salgadas do adeus" (Wain, 1993, p. 17). O português colonizador vai transformando-se em outra coisa: "A terra falava novo idioma, o sol, a chuva:/ a visão europeia, agora desfocada, não serviria mais" (Wain, 1993, p. 19).
A distância entre a colônia e a metrópole, todo um oceano, é uma fratura. A formação deste brasileiro, deste país que nasce aos poucos, foi, durante séculos dependente, submisso, deu-se. Não de um momento para outro, mas ocorreu, inexorável e inapelavelmente.
Seríamos então duas nações. Irmanados pela língua, separados pelo oceano.

A construção Ficcional: Elementos estruturais da construção narrativa

"Eu o represento como um tecido (= Texto), uma vasta e longa tela pintada de ilusões, de logros, de coisas inventadas, de 'falsidades': tela brilhante, colorida véu de Maia" (Barthes, 2005 p. 223-224).

A fim de construir uma narrativa ficcional, faz-se necessário tomar decisões acerca da forma de estruturá-la. Aspectos como a escolha do foco narrativo, a construção dos personagens dependerão fundamentalmente da história que se deseja contar.
A ideia do presente projeto é trabalhar com dois focos narrativos para os dois personagens que se alternariam em capítulos sucessivos – narrados em primeira pessoa, bem como capítulos em que os dois personagens estariam presentes, dialogando. Nestes, em específico, a narração seria em terceira pessoa.
Ou seja, propõe-se a construção de um romance dialógico-polifônico (Bahktin, 2008), em que os personagens possam apresentar suas totalidades psíquicas e dialogar em iguais condições, sem que haja a preponderância de um personagem sobre o outro. Está na gênese da ideia inicial do projeto o encontro, o diálogo, a estranheza, a concordância, por vezes e, por outras, o embate. Assim, poderá o leitor, ao se deparar com a representação destes dois personagens plenivalentes, querendo com isto dizer, donos de uma psicologia complexa, capazes de ter e defender suas crenças, seus preconceitos. Será com o diálogo, a partir do encontro destes personagens que a história se contará e o leitor poderá compreender, da forma que melhor lhe parecer, no que se assemelham e no que se diferenciam tais personagens, além de pensar, também, em si próprio, ou seja, no que é, no que não é, o que lhe é estrangeiro e que lhe pertence.
Os personagens principais são o grande desafio, pois, segundo Wood, "O mais difícil da criação" (Wood, 2011, p. 87), além do elemento principal/primordial da ficção (Cândido, 2005). A dificuldade está em construí-lo, um exercício de imitação, como nos ensinou Aristóteles, em um ser crível, verossímil. À questão da verossimilhança, Foster (2008) acrescenta a discussão acerca da complexidade dos personagens, dividindo-os em rasos (ou planos) e os complexos (ou redondos). Os primeiros são figuras pouco expressivas e delineadas a partir de pinceladas, podendo ser caricatas, enquanto que os últimos seriam figuras humanas complexas, às quais o leitor consegue conhecer completamente.
A ideia é apresentá-los ao leitor num processo gradativo de conhecimento e complexidade. Será nos capítulos em que cada um deles narra em primeira pessoa que o leitor tomará conhecimento de suas histórias individuais, permitindo assim que ganhem inteireza e integridade.
A narração, ou seja, a definição dos cenários narrativos nas quais se desenvolverá a história, ainda está em fase de definição, mas serão os personagens móveis, viajantes, transitando de uma parte do globo a outra, exercendo eles mesmos as suas condições de estrangeiros.


Justificativa
Na Era Líquido-Moderna em que vivemos, em que as certezas e os limites do que compreendemos como identidade, quer seja ela individual, nacional, cultural se desfazem e mudam, os questionamentos sobre o que somos nunca foram tão atuais e tão recorrentes. Como pontua Bauman (2011): "Afinal de contas, perguntar 'quem você é' só faz sentido se você acredita que possa ser outra coisa além de si mesmo". (Bauman, 2011, p. 25). No mesmo momento em que se fala em sociedade multicultural, há o ressurgimento de movimentos separatistas que propõem a regionalização, além dos nacionalismos e fundamentalismos, o pensar a respeito de identidades surge como questão relevante e necessária para refletir a respeito do viver em sociedade, do pertencer ou não pertencer, do aceitar e rejeitar.
Assim que, questionar-se sobre o que somos, ou sobre o processo de construção do que somos e no que podemos vir a ser, é um exercício necessário ainda que, novamente recorrendo a Bauman, não possa nos levar a uma resposta única e definitiva. Somos e pertencemos inevitavelmente à era das multiplicidades de múltiplos pertencimentos.
Em um mundo polarizado, nações buscam entendimentos, formas de funcionar em blocos: No caso europeu, a formação de uma comunidade europeia, nas Américas, o NAFTA e o Mercosul, há, ligando Brasil e Portugal, o elo de ligação da língua, que poderia formar, justamente, a tal pátria cantada por Fernando Pessoa.
Embora, há alguns anos, tenha sido criada a Comunidade da Língua Portuguesa (CPLP), que se dedica as questões relativas ao uso da língua portuguesa em diversos países, obteve-se, frente à iniciativa, resultados pouco significativos. Miguel Real (2012) acredita que esse aparente desinteresse se deva a desconfianças e ressentimentos entre os países integrantes.
O referido autor defende que, em um futuro próximo, os países lusófonos terão por bem de superar tais empecilhos a fim de atuar em conjunto para o benefício mútuo. E a forma de superar tais entraves passa por um maior conhecimento de diferenças e semelhanças, da aceitação de nossas identidades distintas pelas circunstâncias geográficas e históricas.
Contribuir para a compreensão, a partir da discussão de aspectos relacionados a tais, principalmente a brasileira, bem como a posição do país no seio dessa comunidade seria uma contribuição relevante neste sentido.
No que diz respeito à importância acadêmica, ainda que os arquivos de dissertações e teses da CAPES apresentem diversos trabalhos sobre identidade: questões de regionalidade, de sexualidade, de gênero, não foi possível encontrar trabalhos que tratassem de identidade linguística e questões relacionadas a aspectos interculturais Brasil e Portugal. Assim, o presente trabalho contribuiria de maneira importante e até inédita para a área de pesquisa relacionada ao estudo de identidades.


Referências

BAKTIN, Mikhail. Problemas da Poética de Dostoiévski. 4ª. Ed. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária, 2008.
BARTHES, Roland. O Grau da Escrita. Lisboa, Portugal: Edições 70 Ltda., 2014.
_____________. A preparação do Romance II. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
BAUMAN, Zygmunt. Identidade: Entrevista a Benedetto Vechi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda, 2005.
BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.
BENJAMIN, Walter. Escritos Sobre a Linguagem (1915 1921). São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2013 (12 a. edição), 2011.
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Editora Pensamento-Cultrix. 1994.
CAMINHA, Pero Vaz. Carta ao Rei D. Manuel: versão moderna de Rubem Braga. Rio de Janeiro: Editora Best Seller, LTDA, 2015.
CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. 1º. Volume. Rio de Janeiro: Editora Itatiaia, 2000.
DURÃO, Santa Rita. Caramuru: Introdução, organização e fixação de texto Ronald Polito. 2ª. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 12 a.. Ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2015.
JOHNSON, Richard, ESCOSTEGUY, Ana Carolina e SCHULMAN, Norman O que é, afinal, Estudos Culturais? Belo Horizonte: Autêntica Editora, 1999.
KRISTEVA, Julia. Estrangeiros para Nós Mesmos. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
LANDOWKSI, Eric. Presença do Outro: ensaios de sociossemiótica. São Paulo: Perspectiva, 2012.
LUCAS, Isabel. Portugal e Brasil, orgulho e preconceito entre duas literaturas. Revista Ípsilon. Versão mensal do suplemento cultural do jornal português Público. Abril, 2015.
REAL, Miguel. A Vocação Histórica de Portugal. Lisboa, Portugal: Esfera do Caos Editores, 1ª. Edição, 2012.
WAIN, John. Reflexões Sobre o Sr. Pessoa. Edição Bilíngue. 3ª. Edição. Lisboa, Portugal: Editores Cotovia, 1993.
WOOD, James. Como Funciona a Ficção. São Paulo: Cosac Naify, 2011.

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