Mobilidade e estratégias de promoção turística no município de Boticas – contributos para a construção de novos destinos turísticos

July 1, 2017 | Autor: Hélder Lopes | Categoria: Tourism Studies, Tourism Management, Mobility/Mobilities, Stakeholders, Rural Tourism, Mobilidade
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Atas X Congresso da Geografia Portuguesa OS VALORES DA GEOGRAFIA

Maria José Roxo Rui Pedro Julião Margarida Pereira Daniel Gil

Ficha Técnica Titulo: Valores da Geografia. Atas do X Congresso da Geografia Portuguesa Coordenador: Maria José Roxo Co-coordenadores: Rui Pedro Julião, Margarida Pereira e Daniel Gil Editores: Associação Portuguesa de Geógrafos ISBN: 978-989-99244-1-3 Ano de Edição: 2015

X CONGRESSO DA GEOGRAFIA PORTUGUESA Os Valores da Geografia Lisboa, 9 a 12 de setembro de 2015 Mobilidade e estratégias de promoção turística no município de Boticas – contributos para a construção de novos destinos turísticos H. Lopes (a), V. Ribeiro (b), P. Remoaldo (c) (a)

Departamento de Geografia, Universidade do Minho, [email protected] Departamento de Geografia, Universidade do Minho, [email protected] (c) Departamento de Geografia, Universidade do Minho, [email protected] (b)

Resumo As estratégias de desenvolvimento dos territórios têm assentado nas oportunidades do turismo, essencialmente na valorização dos recursos endógenos. Para o desenvolvimento sustentável de um destino turístico devem ser articuladas várias representações sobre o mesmo, nomeadamente a acessibilidade a estes destinos, assim como as diferentes visões dos atores intervenientes nestes territórios. Na presente comunicação pretende-se debater a importância da atividade turística para o desenvolvimento do município de Boticas. Com recurso à análise da acessibilidade ao destino e à perceção dos atores locais em matéria de turismo, em resultado da aplicação, em 2014, de entrevistas semiestruturadas aos principais atores regionais e locais, é proposta uma estratégia de promoção turística, assente nas especificidades do município de Boticas. Da análise estratégica do território, considera-se que as políticas de turismo à escala local não vertem as estratégias definidas em matéria de turismo à escala regional e nacional, designadamente as consignadas no Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT). Palavras-chave: Acessibilidade; Desenvolvimento do Turismo; Recursos; Promoção turística.

1. Introdução O turismo, enquanto setor de atividade económica, tem vindo a registar nos últimos anos uma evolução positiva, embora a economia mundial continue a abrandar, com uma evolução de menos 0,2 p.p. do Produto Interno Bruto (PIB), de 2013 em relação a 2012 (INE, 2014). O número de turistas internacionais aumentou significativamente nos últimos anos, sendo que, em 2013, registaram-se 1087 milhões de turistas a nível mundial, correspondendo a um crescimento de 5% face ao período análogo do ano anterior (UNWTO, 2014). Em Portugal, o número de turistas internacionais ascendeu aos 8,3 milhões em 2013 (UNWTO, 2014), sendo que o setor do turismo registou receitas na ordem dos 6% do PIB (Banco de Portugal, 2014). Assente nas fragilidades que apresentam alguns territórios, afigura-se como necessário o estabelecimento de alternativas estratégicas ajustadas aos recursos turísticos, sejam eles tangíveis ou intangíveis, com os objetivos de, por um lado, os potenciar através da sua conservação e preservação e, por outro lado, gerar riqueza e emprego. Caso estes sejam atingidos, podem garantir melhores níveis de qualidade de vida para a população local (Vareiro et al., 2009) e estimular o crescimento de práticas de turismo sustentável (Butler, 1991).

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Vários autores têm sustentado a importância dos transportes para aumentar a competitividade dos destinos (Albalate & Bel, 2010; Kastenholz et al., 1999; Khadaroo & Seetanah, 2007), embora os estudos que se debruçam sobre esta temática em turismo sejam ainda em reduzido número (Currie & Falconer, 2013; Page, 2009). Além da importância dos transportes e de outras infraestruturas e equipamentos subjacentes a um determinado destino turístico, a implementação de práticas de turismo inclusivo e participativo através da colaboração dos diversos stakeholders assume-se como fundamental para a construção da imagem dos destinos turísticos (Wang, 2008). No caso de Boticas, os resultados da interligação destas duas componentes são ainda mais importantes quando retratamos um território periférico, onde as fragilidades são notáveis, mas existem inúmeros desafios para valorizar o potencial turístico, embora seja necessário atendê-los com ponderação para não diminuir a qualidade de vida da população. Como referido, o artigo aborda a acessibilidade aos destinos turísticos e insere-se num projeto mais lato que pressupõe contribuir para a sustentabilidade turística do município de Boticas e que está a ser desenvolvido pelo Lab2pt (Laboratório de Paisagens, Património e Território) da Universidade do Minho, desde os últimos meses de 2014. A comunicação encontra-se estruturada em três secções. Na primeira secção, faz-se referência aos dados e métodos utilizados, subdividindo-se em duas subsecções, onde se efetua a localização geográfica do município e de alguns elementos caraterizadores e, num segundo momento, faz-se referência às fontes utilizadas. Na segunda secção, discute-se a acessibilidade aos recursos turísticos no município de Boticas. Finalmente, na secção 3 realiza-se a análise das potencialidades e fragilidades do município, que antecedem a definição de uma estratégia de marketing para Boticas, a curto prazo, não excedendo os 2 anos.

2. Dados e métodos 2.1. Localização geográfica e alguns elementos caracterizadores de Boticas O território onde se aplicou a metodologia proposta para esta investigação foi o município de Boticas, que está localizado no distrito de Vila Real, na NUT III do Alto Tâmega, na NUT II do Norte e no nordeste de Portugal Continental. O município abrange uma área de 321,96 km2 e encontra-se subdividido em 10 freguesias, das quais, segundo a Tipologia das Áreas Urbanas (T.I.P.A.U.) referente a 2014, 7 freguesias são consideradas Áreas Medianamente Urbanas (AMU) e 3 freguesias consideradas Áreas Predominantemente Rurais (APR). Em 2011, a população residente no município de Boticas cifrava-se nos 5750 indivíduos, dos quais 26,3% residiam na União de Freguesias de Boticas e Granja. O município de Boticas não possui uma atividade turística com significativa, apesar de apresentar um conjunto de recursos endógenos fundamentais para disponibilizar um produto turístico. Sensível a estas oportunidades, a autarquia está a desenvolver uma estratégia para potenciar a atividade turística no seu território, e.g., a construção do Centro de Artes Nadir Afonso, o Parque Arqueológico do Vale do Terva 592

e o Parque Natureza e Biodiversidade de Boticas, que vieram colmatar algumas fraquezas identificadas nas linhas gerais de atuação do Plano Estratégico Nacional do Turismo (Horizonte 2013-2015). A oferta de alojamentos turísticos no município é ainda parca, embora a construção do Boticas Hotel Art & Spa veio, em maio de 2014, contribuir para mitigar esta lacuna. No que concerne ao número de hóspedes, segundo o Inquérito à Permanência de Hóspedes, o município de Boticas registou, em 2013, 1329 hóspedes nos estabelecimentos hoteleiros, tendo pernoitado, em média, 1,4 noites (INE, 2014). Ressalve-se, contudo, que os inquéritos realizados em Portugal não conseguem cobrir todo o universo. Neste contexto, apenas 1/3 das dormidas totais são contempladas nas estatísticas, atendendo ao consumo de alojamentos privados e de segundas residências (Cunha, 2013). Com base em dados disponibilizados pela Loja Interativa do Turismo do Porto e Norte de Boticas, o município apresenta-se como um destino turístico pouco ou nada consolidado, com forte sazonalidade. Embora os meses de julho e agosto correspondam aos meses de maior pico de visitantes para o período de 2011 a 2014, os anos de 2012 e 2014 apresentaram um maior número de visitantes, respetivamente, em junho e setembro. Para os valores registados em junho de 2012, a justificação verosímil prende-se com as elevadas temperaturas médias, máximas e mínimas que se fizeram sentir, acima do valor normal de 1970-2000 (Instituto de Meteorologia, 2012). Ainda assim, entre 2011 e 2014, o município de Boticas registou em média de 469 visitantes por mês. No último ano, o município foi visitado por 5300 indivíduos, com especial incidência nos meses de agosto e setembro, com uma média de 1200 visitantes/mês. De referir que a maioria dos visitantes é de nacionalidade portuguesa (96,7%), sendo que os visitantes de origem estrangeira perfazem 3,3%, dos quais 55,6% são franceses e 23,3% de nacionalidade espanhola. 2.2. Fontes utilizadas Na investigação desenvolvida utilizaram-se fontes primárias e secundárias. No que concerne às fontes primárias, foram utilizadas técnicas de cariz quantitativo e qualitativo. Este estudo procura avaliar a acessibilidade dos turistas por forma a atingir os recursos turísticos a partir do centro do município de Boticas, local onde se encontra a estação de autocarros, bem como a Loja Interativa do Turismo. Para tal, o modo de deslocação utilizado foi o “andar a pé”, onde as velocidades de deslocação utilizadas foram as sugeridas por Finnis & Walton (2008), na aplicação aos cuidados de saúde primários, de 80 m/min para os adultos e de 50 m/min para os idosos. Por outro lado, recorreu-se à utilização de inquérito por entrevista semiestruturada, que foi realizada aos principais dirigentes associativos e institucionais de Boticas, durante o mês de dezembro de 2014, que permitiram sintetizar as principais potencialidades, fragilidades, oportunidades e ameaças à definição de uma estratégia de turismo neste território. Com base nestes pressupostos, utilizou-se uma matriz SWOT para o entendimento do ambiente interno e externo do território, que antecede a definição de uma estratégia consolidada para o turismo de Boticas, considerando a perspetiva da criação de um novo destino turístico.

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3. Acessibilidade aos recursos turísticos do município de Boticas Com base numa matriz de origem-destinos de fluxos, tendo para o efeito a utilização de modos de transporte distintos para a realização da viagem, permite-nos avaliar a distância-tempo que um visitante necessita de fazer para conseguir obter o destino. Deve salientar-se que uma parte significativa dos destinos na região Norte pode ser alcançada em menos de duas horas de distância desde o Aeroporto Francisco Sá Carneiro (81,3% do território e 73 municípios à distância-tempo de 2 horas), em resultado da melhoria significativa das ligações rodoviárias no norte do país. A autoestrada A24 assume-se como um elo de ligação importante para o município de Boticas, atendendo a que um dos troços tem ligação a Chaves. De uma forma global, os municípios ao longo da faixa litoral da região norte apresentam níveis de acessibilidade muito elevados, com distâncias raramente superiores a 45 minutos por autoestrada, ao contrário dos municípios do interior norte que apresentam níveis de acessibilidade mais reduzidos, em função da distância ao Aeroporto e da tipologia e densidade da rede viária. Avaliou-se a acessibilidade da população, a “andar a pé”, aos recursos turísticos localizados no núcleo central da Vila de Boticas, em função do grupo etário e tomando como referência a distância à Câmara Municipal de Boticas. Considerando que na metodologia incorporámos velocidades diferenciadas a “andar a pé”, por grupo funcional, permite-nos constatar que alguns destinos apresentam níveis de acessibilidade mais baixos para a população idosa, se consideramos um limite de distância-tempo de 30 minutos (Figura 1).

Figura 10 - Acessibilidade a pé de turistas adultos e idosos aos recursos turísticos na área central de Boticas Fonte: Elaboração própria, com base em informação da Loja interativa do Turismo.

Neste município a utilização do automóvel, para alcançar destinos mais afastados do centro, tem, na maioria dos casos, que ser complementado com o modo de transporte “andar a pé” para alcançar esses destinos. A título de exemplo, na união de freguesias de Ardãos e Bobadela, apesar de possuírem um número elevado de pontos turísticos, cerca de 43,5% destes não são possíveis de aceder diretamente através do automóvel.

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4. Análise estratégia do setor turístico para Boticas Na região do Alto Tâmega são inexistentes as práticas de estratégia de turismo, salvo o caso de Montalegre onde as estratégias de promoção turística se encontram bastante intrincadas. De facto, Vila Pouca de Aguiar tem também vindo a estabelecer uma estratégia em turismo que pretende consolidar e rentabilizar o trabalho realizado nesta matéria. Ainda assim, no seio da região do Alto Tâmega e do Barroso é necessário que surjam políticas de turismo que integrem os vários municípios, até porque é imprescindível que ao invés de promover a atividade turística de forma individualizada, que os territórios realizem ações que se coadunem com políticas setoriais mais alargadas, integradas na região. Por forma a potenciar as forças e oportunidades e diminuir as fraquezas e ameaças que estão inerentes à atividade turística do município de Boticas, através do uso da análise SWOT, avaliamos a estrutura interna e externa do território, que se sintetiza na Tabela I. Tabela I - Análise SWOT do município de Boticas Análise SWOT Forças

Fraquezas

Diversidade patrimonial paisagístico-natural. Preservação das tradições e costumes culturais. Existência de diversas Infraestruturas em Boticas (Parque Arqueológico do Vale do Terva; Parque da Natureza e Biodiversidade; Centro de Estudos de Documentação e Interpretação da Escultura Castreja). Proximidade geográfica a Chaves e Espanha.

Déficit no nível de qualificação dos recursos humanos. Baixo poder de compra. Envelhecimento populacional e despovoamento. Inexistência da capacidade de atração de turistas. Base económica pouco diversificada. Inexistência de atividades complementares. Falta de identidade territorial. Inexistência de promoção turística institucional.

Oportunidades

Ameaças

Aproveitamento da estratégia de turismo em curso definida pela Comunidade Intermunicipal do Alto Tâmega (CIMAT). Inexistência de uma cultura de complementaridade e atuação conjunta. Modificação das motivações de procura em turismo, com Lacunas institucionais de atuação em turismo. favorecimento a territórios e segmentos turísticos emergentes. Reduzida capacidade de atuação dos intervenientes regionais e nacionais. Importância do Ecomuseu do barroso para apoio a eventos e na Fixação de uma entidade de turismo de nível regional (Turismo do Porto e dinamização da natureza e cultura barrosã. Norte). Programação do V Quadro Comunitário de Apoio (QCA) assente na Manutenção de valores elevados das portagens nas vias de acesso ao qualificação dos recursos humanos. Interior (e.g., A24 – Guimarães-Ribeira de Pena: 6,00 €; Pedras Salgadas Macrotendência da Europa 2020, onde se privilegia o crescimento – Vidago: 1,70 €). inclusivo.

Em síntese, destacam-se entre as principais forças, a diversidade do património existente em Boticas, bem como a preservação de certas tradições e costumes culturais, muitos deles ancestrais (e.g. ‘chegas de bois’). Entre as fraquezas, sobressaem os baixos níveis de formação dos recursos humanos, a base económica pouco diversificada e o despovoamento que, segundo o Técnico Superior de Turismo do Porto e Norte, entrevistado em Dezembro de 2014, consiste ‘[n]um desafio geracional que não tem solução imediata e carece de uma estratégia nacional para todo o interior’. Em relação às oportunidades, realçam-se as ações que se estabelecem a nível local, designadamente o aproveitamento das estratégias que, segundo os atores locais, venham a ser definidas no futuro pela Comunidade Intermunicipal do Alto Tâmega, bem como a tendência de consumo de turistas e visitantes de novos nichos turísticos, favorecendo territórios, cujas práticas turísticas ainda não tenham grande relevo. Por sua vez, a principal ameaça decorre da fixação de uma entidade do turismo a nível regional (Turismo do Porto e Norte), cuja atuação tende a privilegiar determinados territórios.

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5. Notas conclusivas De acordo com os resultados da investigação empírica, verificamos que as melhorias realizadas na rede viária favorecem o acesso ao município de Boticas desde a área mais urbanizada do noroeste português. Porém, a acessibilidade intraconcelhia é penalizada pela fraca cobertura e características da rede viária. Por seu turno, é necessário que se desenvolvam estratégias orientadas para a promoção do turismo assente nas potencialidades inerentes aos valores patrimoniais, naturais e culturais e, por outro lado, que potenciem a articulação dos diferentes stakeholders para minorar as fragilidades identificadas. Do exposto, considera-se o turismo como uma atividade essencial para que este município ‘resiliente’ consiga desenvolver políticas de intervenção, sem que se rompa com a história, a cultura e os costumes, mas que permitam valorizar a sua singularidade.

6. Bibliografia Albalate, D., & Bel, G. (2010). Tourism and urban public transport: Holding demand pressure under supply constraints. Tourism Management, 31(3), 425-433. Banco de Portugal (2014). Análise do setor do turismo. Estudos da Central de Balanços, 17. Lisboa. Butler, R. W. (1991). Tourism, environment, and sustainable development.Environmental conservation, 18(03), 201-209. Cunha, L. (2013). Economia e Política do Turismo, 3ª Ed. Lisboa: Lidel. Currie, C., & Falconer, P. (2013). Maintaining sustainable island destinations in Scotland: The role of the transport–tourism relationship. Journal of Destination Marketing & Management, 3(3), 162-172. Finnis, K. K., & Walton, D. (2008). Field observations to determine the influence of population size, location and individual factors on pedestrian walking speeds. Ergonomics, 51(6), 827-842. INE, I.P. (2014). Anuário Estatístico da Região Norte - 2013. Lisboa. Instituto da Meteorologia, I.P. (2012). Boletim climatológico mensal – Junho 2012. Lisboa. Kastenholz, E., Davis, D., & Paul, G. (1999). Segmenting tourism in rural areas: the case of North and Central Portugal. Journal of Travel Research, 37(4), 353-363. Khadaroo, J., & Seetanah, B. (2007). Transport infrastructure and tourism development. Annals of Tourism Research, 34(4), 1021-1032. Page, S. (2009). Transport and tourism: Global perspectives, 3ª Ed. Essex: Pearson Education. UNWTO (2014). UNWTO tourism highlights, Madrid. Vareiro, L. C., Ribeiro, J. C., & de Blas, X. X. P. (2009). As Preferências dos Turistas que Visitam o Minho-Lima: uma Análise com Base nas Preferências Declaradas. Revista Portuguesa de Estudos Regionais, 22, 35-45. Wang, Y. (2008). Collaborative Destination Marketing Understanding the Dynamic Process. Journal of travel Research, 47(2), 151-166.

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