Modelos e práticas de formação

August 28, 2017 | Autor: Dora Caetano | Categoria: Formação profissional
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Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Mestrado em Gestão da Formação e Administração Educacional

On-the-Job training Que filosofia de educação? Que modelo de formação?

Unidade Curricular: Modelos e Práticas de Formação Coimbra, Janeiro de 2011

Trabalho realizado por: Dora Catarina Garrucho Caetano

Índice

Introdução __________________________________________________________ 2 On-The-Job training ___________________________________________________ 3 Os Cursos On-the-Job das escolas do Turismo de Portugal ___________________ 7 Filosofias de educação _________________________________________________ 8 A educação liberal __________________________________________________ 8 A educação comportamental _________________________________________ 8 A educação progressista _____________________________________________ 9 A educação humanista ______________________________________________ 11 A educação radical __________________________________________________ 13 Modelos de formação __________________________________________________ 15 O pragmatismo_____________________________________________________ 15 O humanismo ______________________________________________________17 On-the-Job training __________________________________________________ 19 Que filosofia de educação? Que modelo de formação? ___________________ 19

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Introdução

O presente trabalho surge no âmbito da unidade curricular de Políticas Modelos e Práticas de Formação, do Mestrado em Gestão da Formação e Administração Educacional, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação. O desenvolvimento das sociedades e a necessidade de formar pessoas cada vez mais capazes de desempenharem determinada função fazem com que a formação on-the-job assuma um papel de destaque em qualquer sistema formativo. Pretende-se com este trabalho perceber qual a filosofia de educação e qual o modelo de formação em que se pode encaixar o on-the-job training. De forma a conseguirmos responder às nossas questões, tentamos, inicialmente perceber o que é o “on-the-job training”. De seguida, apresentamos o exemplo dos cursos on-the-job do Turismo de Portugal. Depois de percebermos o conceito, vamos conhecer as filosofias de educação e os modelos de formação existentes, sem para isso nos debruçarmos de uma forma exaustiva sobre ambos e, finalmente, escolheremos a filosofia de educação e o modelo de formação que melhor servem os princípios desta metodologia.

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On-The-Job training Ou formação em alternância

A formação profissional surgiu, em Portugal, nos anos 30, “significando então, essencialmente, ensino técnico formal para profissões se base da cadeia operativa e tendo como público-alvo jovens” (Cardim, 2005), tendo o conceito de formação, na década seguinte, sido mais utilizado “na teoria económica e, na década de cinquenta, as actividades formativas estenderam-se a actividades dirigidas a novos públicos alvo” (Cardim, 2005). Nas décadas que se seguiram, Portugal viveu um período de grande instabilidade e reorganização económica e social, onde o desemprego se devia, essencialmente, às baixas qualificações da população que se encontrava num período de transição do espaço rural para os centros urbanos. Com estas alterações surgiu a necessidade emergente de qualificar profissionalmente a população, para que esta pudesse integrar as novas indústrias. Entre 1964 e 1985, foram criadas e extintas diversas entidades e/ou serviços1, que tinham como principal atribuição a formação/requalificação de pessoas, estivessem elas desempregadas ou não, sendo hoje ao Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) que cabem essas atribuições. Depois da criação do IEFP a formação passou a ser vista numa perspectiva de apoio às políticas de emprego e “com a participação dos parceiros sociais, são atribuídas as funções de definição de políticas e de coordenação e apoio, promoção, e até, a realização de actividades através de estruturas específicas. As empresas, e as entidades empregadoras em geral, são consagradas como realidade polarizada e

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Instituto de Formação Profissional Acelerada; Centro de Formação Profissional Acelerada; Centro Nacional de Formação de Monitores; Serviço Nacional de Emprego; Serviços de Colocação e de Orientação Profissional; Serviço de Reabilitação Profissional; Serviço de Formação Profissional; Direcção Geral do Emprego; Direcção Geral de Promoção de Emprego.

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espaço de formação, enquanto as outras entidades formadoras surgem como subsidiárias ou complementares.” (Cardim, 2005) O sistema de aprendizagem português tem um interesse estratégico para as políticas de educação, formação e trabalho. As acções de formação desenvolvida dentro deste sistema constituem uma alternativa ao sistema de ensino tradicional e têm como principal objectivo aumentar as qualificações profissionais dos jovens, além de irem ao encontro das necessidades das empresas, principalmente na formação de mão-de-obra que possa integrar os seus quadros técnicos. Os cursos on-th-job têm como principal característica a forma como a formação decorre, ou seja, intercalando períodos de formação na escola, com períodos de formação no local de trabalho. Assim, na escola, os formandos assistem a aulas teóricas e de prática simulada e, nas empresas, colocam em prática e consolidam os conhecimentos adquiridos em ambiente escolar. On-the-Job training é uma metodologia de formação utilizada, principalmente no seio das empresas. No entanto, esta metodologia aplica-se, igualmente, na formação profissional de jovens. Trata-se de uma metodologia instintiva, segura e económica, que parte de alguns princípios orientadores:  É

realizada

no

local

de

trabalho,

devendo

ser

orientada/supervisionada por “tutores” que estejam habilitados para assumirem esse papel;  A escola vai ao encontro do formando;  O formando é treinado no local onde se sente mais seguro, mais confortável e mais disposto a aprender, ou seja, no local de trabalho;  A aprendizagem é absolutamente vivencial;  É mais simples para o formando interligar a teoria com a prática;  Os formandos aprendem fazendo;  É possível aplicar esta metodologia a pessoas com baixa escolaridade.

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Podemos considerar esta metodologia de formação como sendo rentável, uma vez que se centra nas tarefas realizadas pelo formando, e não implica elevados investimentos em materiais e equipamentos, já que os necessários são aqueles já existentes nas empresas. Considerando que se trata de uma metodologia em que a aprendizagem é absolutamente vivencial, a formação é realizada pelo tutor, que acompanha o formando, dando-lhe um feedback quase imediato, acerca do seu desempenho. Esta metodologia é igualmente benéfica ao nível das relações humanas, uma vez que o formando é treinado no seio de uma equipa de trabalho, com a qual aprende e interage, o que o pode levar a libertar os seus “medos”. Por norma o on-the-job training emprega diferentes técnicas, das quais destacamos: Coaching: É uma relação de parceria que se estabelece entre o formando e o seu tutor. O tutor ajuda o formando a perseguir os seus objectivos, numa perspectiva de futuro, devendo contribuir para a consciencialização do formando em relação aos seus pontos fortes, as suas fragilidades e as áreas onde deve melhorar o seu desempenho. Mentoring: O princípio do mentoring é já muito antigo, remontando às profissões da época medieval, em que os artesãos recebiam jovens aprendizes nas suas oficinas. Os aprendizes aprendiam a “arte” de forma a um dia serem capazes de assumir o seu próprio negócio. Hoje, trata-se de uma relação de desenvolvimento pessoal, que se desenvolve entre o formando e alguém hierarquicamente superior ao tutor. O mentor promove a evolução e desenvolvimento do formando e deve servir de motivação/inspiração para que o formando desenvolva técnicas de actuação sobre os seus pontos fortes, as suas fragilidades e as áreas onde deve melhorar o seu desempenho. Em função da posição que ocupa, o mentor deve transmitir ao formando algum saber - fazer.

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Job rotation: Esta técnica é aplicada mais na formação dos trabalhadores de uma determinada empresa. A técnica consiste na rotatividade dos trabalhadores pelas diversas áreas da empresa, transmitindo-lhe permitindo-lhes novas experiências em diferentes funções. Ao utilizar esta técnica, também a empresa beneficia, uma vez que diversifica as habilidades dos trabalhadores.

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Os Cursos On-the-Job das escolas do Turismo de Portugal

Os cursos de formação on-the-job, das Escolas do Turismo de Portugal, foram concebidos para qualificar jovens, para que estes obtenham as competências necessárias ao desempenho das funções da carreira que vão abraçar. Uma vez que a formação também é desenvolvida dentro das empresas parceiras do projecto, a integração destes jovens no mercado de trabalho torna-se mais fácil. Estes cursos encontram-se estruturados da seguinte forma:  Um primeiro trimestre, cuja formação é realizada na escola;  Um segundo e um terceiros trimestre, cuja formação é realizada três dias na escola e dois na empresa;  Um quarto trimestre, que equivale a um ano lectivo e a um estágio curricular, cuja formação é desenvolvida unicamente na empresa. Podem frequentar estes cursos jovens que tenham o 11º ou 12º ano de escolaridade, sendo que aos alunos com o 11º ano, ao terminarem o curso, é-lhes conferida equivalência ao 12º ano, e ainda uma qualificação profissional de nível IV.

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Filosofias de educação A educação liberal

Na Idade Média, a formação começava com a assimilação das artes liberais. Tratava-se de um conjunto de matérias que tratavam essencialmente da linguagem, do pensamento e dos números. Esta educação básica transmitia ao indivíduo o sentido das proporções, da forma do mundo, da compreensão e da participação na cultura humana. Desenvolve as capacidades intelectuais do indivíduo, transformando-o numa “pessoa letrada no seu aspecto mais abrangente: intelectualmente, moralmente, esteticamente e espiritualmente” (Alcoforado). A educação liberal é direccionada para a cultura, e tem como produto final um ser humano culto e preparado para assumir o seu papel na sociedade, cujo professor assume um papel autoritário, dirigindo ele próprio todo o processo de ensino/aprendizagem e exigindo uma atitude receptiva por parte do aluno. Ao aluno são transmitidos conhecimentos e valores sociais, acumulados ao longo dos tempos e ensinados como sendo verdades absolutas. A aprendizagem é mecânica, sem se terem em conta as características de cada aluno ou de cada idade.

A educação comportamental

A teoria comportamental tem origem na oposição à teoria das relações humanas e à teoria clássica, apresentando uma aceitação das principais ideias da primeira e uma crítica à segunda. A teoria de Skinner tem origem nos estudos de Ivan Pavlov. Skinner reformulou a teoria do fisiologista russo, lançando o suporte para uma teoria do

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condicionamento. Para este autor existem dois tipos de comportamento: o comportamento respondente, caracterizado por respostas inatas ao ser humano e, o comportamento operante, caracterizado por uma capacidade de resposta resultante de um condicionamento. A inteligência é vista como uma capacidade de resposta aos estímulos do ambiente. Assim, podemos dizer que a teoria da educação comportamental tem como base o saberfazer, “baseado em parâmetros, objectivos comportamentais, tentativa–erro, feedback e reforço; promove o desenvolvimento de capacidades e alterações comportamentais (…); o educando tem um papel activo na aprendizagem ao treinar novos comportamentos (…)” (Alcoforado).

A educação progressista

O indivíduo é visto como estando ao serviço da sociedade, devendo contribuir para o desenvolvimento da mesma. A industrialização leva ao nascimento da necessidade de mão-de-obra, e a formação é o melhor caminho para satisfazer estas necessidades. O progresso deve ter como base a ligação entre a educação e a democracia. Desta corrente de pensamento destacam-se os autores John Dewey e Eduard Lindeman. John Dewey foi talvez o filósofo mais importante do pragmatismo. Dewey defendia que todas as ideias, valores e instituições sociais têm origem na vida humana. Para ele, a mudança, o crescimento, o desenvolvimento eram a própria natureza das coisas. Criticou as escolas públicas por ignorarem os interesses e experiências dos alunos, “utilizando uma linguagem artificial (provavelmente sobre um vago futuro) que serve apenas para alienar os (as) estudantes, interdependente dos testes para avaliar a aprendizagem dos (as) estudantes, diferenciando-os (as) de acordo com a sua presumível destreza em participar de uma aprendizagem manual ou mental, ao invés de oferecer ambas a todos (as)] e

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isolando as matérias umas das outras ao invés de as unir em torno das experiências vividas dos (as) estudantes com o conhecimento. Em vez de culpar os estudantes pela sua passividade, Dewey centralizou a sua atenção directamente na pedagogia das escolas” (Teitelbaum & Apple, 2001) “In 1926, the first book explaining the unique characteristics of adult learners was published, The Meaning of Adult Education. Lindeman suggests that education evolves from situations and not subjects and that this is the essence of adult education. Lindeman wrote: the teacher finds a new function. He is no longer the oracle who speaks from the platform of authority, but rather the guide, the pointer-outer who also participates in learning in proportion to the vitality and relevancy of his facts and experiences.” 2 A educação deve contribuir para incrementar o papel activo do indivíduo no seu próprio processo de aprendizagem; deve contribuir para um crescimento e desenvolvimento contínuos e ao longo da vida, permitindo a construção de uma comunidade democrática. A aprendizagem deve basear-se na experiência da pessoa e estar intimamente ligada com o “aprender fazendo”. A reflexão está igualmente ligada à experiência individual, já que é a partir dela que o indivíduo identifica o contexto social que o envolve. Lindeman considera que a educação de adultos deve basear-se na reflexão sobre as experiências individuais e do grupo, e promover a participação democrática, contribuindo para a transformação social. A reflexão levará os adultos a serem mais activos e participativos sobre a sociedade que os envolve. Para Herbert Spencer, “a educação deve formar seres aptos para governar a si mesmos e não para ser governados pelos outros”. As suas conclusões levaramno a defender a supremacia do ser humano em relação à sociedade e ao Estado. Spencer fez campanha pelo ensino da ciência e combateu a interferência do

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http://www.nwlink.com/~donclark/hrd/history/lindeman.html

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Estado na educação, tendo afirmado que o objectivo da escola era a construção de carácter. Em suma, a teoria progressista parte de uma análise crítica das realidades sociais, sustentando as finalidades sociopolíticas da educação. Deve adequar as necessidades individuais ao meio social onde os indivíduos se inserem. Deve dar maior ênfase às experiências de autogestão e à autonomia. Os conteúdos da aprendizagem são estabelecidos a partir das experiências vividas pelos alunos perante as situações e os problemas. O professor é um facilitador no desenvolvimento livre do aluno e a aprendizagem baseia-se na motivação e na estimulação de problemas.

A educação humanista

Os princípios básicos da teoria humanista são os de liberdade, autonomia e dignidade dos indivíduos. O aluno deve ser o centro do processo de ensino/aprendizagem, sendo também responsável pela sua aprendizagem e desenvolvimento. Insere-se no período pós-guerra e teve grande influência em diversos investigadores do campo de educação de adultos, sobretudo sobre o conceito de andragogia de Malcom Knowles. Tem, ainda como base o trabalho de Carl Rogers e Maslow. Trata-se de uma corrente que tem uma visão positiva sobre o ser humano, para a qual o indivíduo tem uma necessidade inata de auto-actualização, auto desenvolvimento e auto direcção, com vista ao seu desenvolvimento. Este desenvolvimento é entendido como um processo de contínuo crescimento, em que a pessoa assume a responsabilidade pela sua aprendizagem. A aprendizagem é adquirida pela acção. O formador é um facilitador da aprendizagem, que leva o aluno a transformar-se num ser independente e funcional.

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Maslow apresenta uma teoria segundo a qual as necessidades humanas estão organizadas e dispostas por níveis, respeitando uma hierarquia de importância:

Necessidades de auto realização/actualização Necessidades de estima Necessidades de pertença e amor Necessidades de segurança Necessidades fisiológicas e biológicas

Quando o primeiro nível é satisfeito, então o nível seguinte surge nas necessidades do indivíduo, ou seja, quando uma necessidade é satisfeita, ela deixa de ser motivadora de comportamento. Maslow considera que a motivação humana é caracterizada pela gratificação de necessidades, sendo o nível mais alto da hierarquia, a maturidade. Rogers considera que o desenvolvimento da pessoa é um processo com vista a torná-la totalmente funcional. A pessoa humana tem uma tendência natural para crescer e para se auto-actualizar. Este processo de se tornar pessoa está orientado para a direcção positiva da totalidade, integração, integridade e autonomia. O caminho para a autonomia implica em primeiro lugar a liberdade. Ser pessoa totalmente funcional implica ser capaz de ter liberdade de escolha.

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A educação radical

A educação radical é influenciada pela educação progressista e vem acentuar a importância do contexto sócio-cultural que envolve o indivíduo. Dentro desta corrente destacam-se os autores Jürgen Habermas, Paulo Freire e Ivan Illich. A educação tem o papel de esclarecer os indivíduos sobre a forma como têm sido “domesticados”, e mostrar-lhes a forma de mudarem e se libertarem. A corrente radical centra a sua atenção na mudança da ordem social, política e económica, pelo questionamento das hipóteses tomadas pelos aprendentes acerca do mundo no qual vivem e trabalham. O indivíduo é marcado pelo contexto sociocultural, e a sua acção não pode ser dissociada desse contexto social. Em contraposição à educação humanista, a educação radical tem muita dificuldade em aceitar uma abordagem da aprendizagem centrada no indivíduo, sendo também muito crítica para conceitos como reflexão crítica e aprendizagem auto dirigida. A educação deve promover a reflexão sobre os problemas que afectam a comunidade, conduzindo a uma maior participação dos cidadãos. Para Habermas, o conhecimento resulta de diferentes tipos de interesses:  Técnico, que se centra na resolução das relações causa - efeito, sendo uma forma de conhecimento em que o indivíduo se relaciona com o ambiente / contexto que o envolve.  Prático, caracterizado pela acção subjectiva, onde indivíduo se relaciona com os outros.  Emancipatório, que permite às pessoas libertarem-se das forças contextuais, institucionais e egocêntricas: este conhecimento identifica-se com o auto conhecimento ou a auto-reflexão.

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O método de Paulo Freire assenta numa proposta de alfabetização de adultos, que critica o sistema tradicional que utilizava a cartilha como ferramenta para o ensino da leitura e da escrita. Freire observa que as pessoas, em processo de alfabetização, aprendem melhor se as palavras estiverem carregadas de significado político e estiverem em íntima relação com a situação de opressão em que essas mesmas pessoas vivem. O objectivo da reflexão crítica é o de levar as pessoas a " darem-se conta da realidade sociocultural que molda as suas vidas, bem como da capacidade de transformar essa mesma realidade agindo nela" (Freire, 1970) O processo de tomada de consciência das estruturas de opressão, que envolvem o indivíduo, é denominado de conscientização e nunca é um processo solitário Illich é um critic das instituições existentes. A sulução proposta por este autor passa pela alteração das instituições, ou seja, as existentes deveriam desaparecer e deveriam ser criados órgãos que estivessem ao serviço de cada indivíduo. Illich preconiza uma transformação total, ou uma extinção, daquilo que é a escola, ao propor a criação de novas instituições que permitam adquirir os conhecimentos desejados, ao seu próprio ritmo e ao considerar que qualquer pessoa pode aprender e ensinar, e que a aprendizagem ode ser realizada em qualquer local e inclui todos os tipos de competências profissionais. A educação radical não actua nas escolas, mas pretende levar professores e alunos a atingir um nível de consciência da realidade em que vivem na busca da transformação social. A relação entre aluno e professor é de igual para igual e a aprendizagem faz-se a partir da resolução de problemas.

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Modelos de formação O pragmatismo

A necessidade de humanização e democratização, o desenvolvimento das ciências humanas e as influências pragmáticas de John Dewey e Kurt Lewin, deram origem à teoria das relações humanas. Kurt Lewin desenvolve a teoria que estuda os processos mentais subjacentes ao comportamento. Lewin trouxe uma contribuição para a sistematização do estudo sobre a motivação. Dos estudos de Lewin resultaram quatro pressupostos básicos: “1. O grupo deve ser considerado como o terreno ao qual o indivíduo se mantém; 2. O indivíduo utiliza o grupo como seu instrumento para a satisfação de necessidades próprias; 3. Os valores, necessidades e expectativas pessoais podem ser gratificados ou frustrados pelo grupo; 4. O grupo é considerado como um dos elementos do espaço vital do indivíduo.” (Bergamini, 2006)

Para John Dewey, a educação deve permitir que todos os indivíduos passem por diversas experiências que os conduzam à aprendizagem. Cada indivíduo, sozinho e em grupo, deve garantir a sua transformação, pelo princípio do “aprender fazendo”. Para este autor, qualquer acção de formação deve ter na sua base as actividades reais, para que faça sentido para os formandos, e devem privilegiar a experiência e a experimentação. A teoria de aprendizagem de Kolb realça quatro estilos de aprendizagem, baseados num círculo de aprendizagem de quatros níveis. O modelo de Kolb

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oferece um caminho para compreender os diferentes estilos individuais de aprendizagem, mas também uma explicação de um círculo de aprendizagem experiencial que se aplica a todos os indivíduos. Este círculo de aprendizagem é visto, por Kolb como um princípio central da sua teoria de aprendizagem experiencial Assim, “a aprendizagem é vista como processo, uma vez que o

conhecimento é permanentemente formulado e reformulado” (Alcoforado) Para Peter Jarvis, a aprendizagem tem origem na própria vida e tem o seu início numa determinada experiência, inserida num determinado contexto. A aprendizagem é vista como o factor essencial ao desenvolvimento humano, sendo que o ser humano, através dela, se transforma em pessoa. O ser humano realiza as suas aprendizagens recorrendo às suas experiências (que são simbólicas), sentimentos e emoções. “A aprendizagem experiencial não conduz simplesmente a novos conhecimentos, novas capacidades ou novas atitudes. (…) Na idade adulta significa auto desenvolvimento da identidade. (…) A função da Educação de Adultos deve centrar-se em ajudar as pessoas a adaptarem-se à sociedade, reforçando, ao mesmo tempo, a sua individualidade” (Alcoforado)

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O humanismo

Maslow desenha o perfil do indivíduo motivado e do não motivado, destacando que indivíduos motivados transmitem bom humor, amizade e dinamismo, e que indivíduos desmotivados normalmente são agressivos, desinteressados e mal humorados. O autor destaca, ainda, uma pirâmide de necessidades com o intuito de elencar os níveis para se chegar à motivação. Herzberg refere dois factores que influenciam a motivação: o intrínseco ( ou motivacional) e o extrínseco (ou higiénico). Factores intrínsecos, estão relacionados com o conteúdo do cargo e com a natureza das tarefas que o indivíduo executa. Factores extrínsecos, localizam-se no ambiente que envolve o indivíduo, abarcando as condições dentro das quais elas desempenham seu trabalho. Para Rogers o ser humano é essencialmente bom; em cada indivíduo há um centro positivo que descreve o valor pessoal e que tende a expressar-se como uma motivação interna para a aprendizagem e para a mudança. A pessoa é mais que um corpo biológico; é um ser humano que pensa, sente, escolhe, decide, é um ser com capacidade de mudança. Por isso, a educação deve ver tais características e centrar seu processo nas necessidades do aluno. “A activação de todo este potencial depende do ambiente. (…) A aprendizagem é centrada nos problemas concretos dos formandos. (…) Os seres humanos têm potencialidade natural para aprender. A aprendizagem significativa apenas ocorre quando os formandos percebem a relevância dos conteúdos. (…) A finalidade principal da aprendizagem é a de aprender a aprender e reforçar a abertura à experiência, de forma a que o processo de mudança seja incorporado pelo self.” (Alcoforado) Knowles talvez tenha sido um dos autores que mais utilizou o termo “andragogia” para se referir à educação de adultos, em oposição à “pedagogia”,

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utilizada para crianças. Knowles constrói as suas teorias tendo como base as contribuições dadas pelo pragmatismo e pelo humanismo, realçando o papel do ambiente como facilitador da aprendizagem do adulto. Para Knowles, “Os adultos têm necessidade de saber a razão por que devem envolver-se em actividades de aprendizagem; Os adultos têm um conceito de si, que os impele a sentir necessidade de serem tratados como indivíduos autodirigidos e que convive muito mal com imposições externas; Os adultos possuem um capital acumulado de experiência, a qual deve ser a principal base de novas aquisições e, por isso mesmo, deverá optar-se por uma individualização das actividades de aprendizagem; Os adultos estão disponíveis para aprender, quando isso permite a resolução de problemas concretos das suas vidas, associando sempre as aprendizagens a tarefas de desenvolvimento; Os adultos orientam a sua aprendizagem, não pela aquisição de conteúdos disciplinares, mas no sentido da resolução dos seus problemas e a partir das suas experiências de vida; Os adultos são motivados a aprender, por factores preferencialmente intrínsecos.” (Alcoforado)

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On-the-Job training Que filosofia de educação? Que modelo de formação?

Após o breve estudo feito sobre as filosofias de educação e os modelos de formação, podemos concluir que a filosofia de educação onde melhor se encaixam os cursos on-the-job é na Educação Progressista, já que é esta que pretende formar o homem para o trabalho. A educação progressista parte do pressuposto de que não existe educação neutra. O objectivo principal da educação não é formar, nem orientar, nem ensinar a criança, o jovem ou o adulto, mas sim dar -lhes condições para que resolvam os seus próprios problemas. Assim, a educação progressiva consiste no crescimento ao longo da vida, à medida que o indivíduo aumenta os seus conhecimentos e o poder que exerce sobre eles. A ideia básica do pensamento de John Dewey sobre a educação centra-se no desenvolvimento das capacidades de raciocínio e espírito crítico do aluno. A educação progressiva está no crescimento, uma vez que o conteúdo da experiência vai aumentando gradualmente. Os conteúdos devem ser apresentados aos alunos em forma de problemas e o professor ajuda o aluno a raciocinar para os resolver. Os pressupostos da educação progressista vão no sentido de incentivar o aluno a questionar os conceitos que lhe são transmitidos, o que é fundamental para uma real transformação do indivíduo. Estes pressupostos consideram o indivíduo como um ser que constrói a sua própria história. Resume-se a desenvolver actividades de ensino, nas quais, o centro do processo não é o professor, mas o aluno que se torna sujeito da sua aprendizagem.

Relativamente aos modelos de formação, consideramos que aquele onde os cursos on-the-job se encaixam é no Pragmatismo de John Dewey, uma vez que não são os alunos que se adaptam à formação, mas é a acção de formação que se adapta às necessidades dos formandos, de forma a proporcionar-lhe experiências. A aprendizagem realiza-se através da pesquisa individual e é o produto da

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interacção entre o homem e o mundo. O papel do formador é de auxiliar as experiências do formando e de o ajudar, através delas, a chegar à aprendizagem. O formando aprende executando e procura desenvolver a sua inteligência inserido numa situação real de trabalho. Ao contrário da educação tradicional, que valoriza a obediência, John Dewey estimula o espírito de iniciativa e independência que leva à autonomia de uma sociedade democrática. No pragmatismo as ideias são instrumentos da acção, que apenas têm valor se produzirem efeitos práticos. Para Dewey, o pragmatismo pode ser entendido como uma forma prática de resolver problemas, passando por cima de muitos princípios muitas vezes

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Bibliografia

Alcoforado, J. L. (s.d.). Filosofias de educação de adultos. Coimbra, FPCEUC: PPT, não publicado. Alcoforado, J. L. (2000). Educação de adultos e trabalho. Dissertação de mestrado. Coimbra: Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade. (documento não publicado) Alcoforado, J. L. (2008). Competências, Cidadania e Profissionalidade: limites e desafios para a construção de um modelo português de educação e formação de adultos. Tese de doutoramento. Coimbra (?) Bergamini, C. W. (2006). Psicologia aplicada à administração de empresas. São Paulo: Atlas. Cardim, J. E. (2005). Formação profissional: problemas e políticas. Lisboa: Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Freire, P. (1970). Pedagogía del oprimido. Monteviedo: Siglo XXI. Méda, D. (1999). O trabalho, um valor em vias de extinção. Lisboa: Fim de Século Edições. Osorio, A. (2003). Educação permanente e educação de adultos. Lisboa: Instituto Piaget. Silvestre, C. A. S. (2003). Educação/formação de adultos, como dinamizadora do sistema educativo/formativo. Lisboa: Instituto Piaget. Teitelbaum, K., & Apple, M. (Jul/Dez de 2001). John Dewey. Curriculo sem fronteiras, Vol. 1, n.º 2.

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