\"Modernidade e Holocausto – aproximações teóricas (2012/2

Share Embed


Descrição do Produto

"Modernidade e Holocausto – aproximações teóricas (2012/2) Professor: Fernando Gomes Garcia Ementa: A intenção do curso é "familiarizar" os alunos com o Nazismo e o Holocausto como um fenômeno da/na Modernidade, ao mesmo tempo em que se realiza uma crítica da mesma, e abordar os desafios que estes impõem à Teoria da História, naquilo que chamamos seus limites de representação. Para tanto o curso será dividido em quatro módulos: (1) Uma compreensão do que é a modernidade e de como o Nazismo e o Holocausto se inserem (ou não) na mesma; (2) apresentação da bibliografia atual sobre o genocídio judeu e leituras de relatos de sobreviventes; (3) apresentação da controvérsia historiográfica que se deu em 1986 e a partir dela fazer uma discussão sobre os limites da representação em História, tendo-se em vista àquilo que considero ser o dever da História – fase do curso no qual daremos mais ênfase, lendo principalmente Hayden White e Carlo Ginzburg -; (4) um debate a respeito da construção de uma memória Alemã, ambígua, pós Segunda Guerra e pós Guerra Fria, partindo desde um cinismo incômodo próprio de 1945 até dias mais modernos, levando em conta como o problema do Holocausto vem sendo trabalhado pela memória social alemã. Módulos: Cada módulo tentará responder uma pergunta diferente, e à medida que os encontros levem à transição de um para o outro, cada resposta construída deverá servir de sustentação para as questões seguintes Didática e avaliação do curso: O curso de 30 horas/aulas será integralizado em 15 encontros semanais, sendo o primeiro deles uma discussão com os alunos sobre o programa e buscando, de acordo com seus interesses, formatar a duração e discussão dos módulos. O último encontro também será uma discussão com os alunos, desta vez a respeito da correção dos trabalhos finais. Restando, portanto 13 encontros para a discussão dos módulos e avaliações, estão reservados quatro desses encontros, que serão subdivididos em duas partes. No início do curso os alunos poderão escolher um módulo para apresentá-lo em formato de Seminário na primeira parte da aula. A segunda parte das aulas em que houver Seminários será uma discussão geral do grupo com o restante da classe a respeito da temática apresentada. A avaliação, portanto, se dará da seguinte forma: (1) apresentação de Seminário, no qual será avaliado o grupo; (2) discussões e debates sobre os temas, no qual a sala inteira será avaliada, sendo a avaliação incidida sobre os debates realizados nas quatro apresentações; (3) um trabalho final a ser entregue, com no máximo 20 mil caracteres (ou 5 mil palavras), o que significa 10 páginas no formato ABNT (sem capa, bibliografia ao final e citação no corpo; espaçamento, fonte e margem à escolha do aluno), e no mínimo 3 mil palavras (cerca de 6 páginas formato ABNT). Restam, portanto, 9 encontros de duas horas cada um, onde os módulos serão apresentados de maneira expositiva. As datas da avaliações serão definidas na primeira aula. Ao longo do curso, recomenda-se a leitura dos textos indicados para uma participação mais efetiva dos estudantes durante as aulas e os Seminários, porém, bibliografia obrigatória será somente a indicada para os Seminários. Primeiro) Modernidade e Holocausto A primeira questão do curso será perguntar pela Modernidade. O que a caracteriza como um momento histórico diferenciado dos demais, e o que a caracteriza como "um momento histórico" e não um "acontecimento na História". À medida em que tentarmos responder a essa pergunta, colocaremos a problemática do surgimento do Nazismo como fenômeno na Modernidade, complexificando a pergunta por esse momento histórico específico, e buscando construir novas respostas mais adequadas, que permitam esboçar uma conclusão sobre se o Nazismo foi um fenômeno moderno ou não. Com a construção de uma resposta, partiremos para uma leitura do Holocausto, ainda sob a perspectiva da modernidade em questão. A resposta a ser construída pretende dar conta das várias facetas da Modernidade e de como o Nazismo e o Holocausto pressupõem uma relação dicotômica com a mesma. Segundo) Genocídio Judeu e relatos de sobreviventes Alcançado o objetivo do primeiro módulo, partiremos para questões mais específicas do Holocausto. Aqui há uma maior variedade de questões a serem tratadas. A primeira delas trata-se de uma conceituação do termo Genocídio. A segunda, perguntar-se sobre o

Holocausto enquanto um gênero especial ou não de Genocídio. A terceira questão será entender como, no decorrer da Guerra, a "Questão Judáica" na Alemanha se tornou encaminhou para a "Solução Final", visando o extermínio de todos os judeus na Europa. Para ilustrar essas questões, serão lidos neste módulo alguns relatos de sobreviventes, especialmente judeus, sobre as condições de vida nos campos de concentração, guetos e campos de extermínio. Terceiro) Os limites da representação histórica em frente a situações históricas limites A conclusão do segundo módulo visa reforçar a questão central da disciplina, a ser discutida neste terceiro módulo. Com uma visão panorâmica do fenômeno Nazista e de seus desdobramentos, pretendemos chegar a este estágio do curso com uma visão sedimentada do Holocausto como um evento-limite da história e os desafios que ele impõem, teoricamente, a quem deseja trabalhar sobre ele. Nesta secção serão colocadas questões sobre a possibilidade de historicização do Holocausto, as (im)possibilidades de narrativiza-lo em uma História científica, e levantar questões relevantes no âmbito da teoria da História, tais como qual é a sua função. Discutindo a função social da História e distinguindo-a da função da memória, entraremos em debates tais como o de Hayden White e Carlo Ginzburg sobre essa questão, a discussão pública ocorrida em 1986 na Alemanha sobre a necessidade de narrar o Holocausto e a função do silêncio (disputa entre intelectuais, especialmente historiadores, conhecida commo Historikerstreit, e as famosas cartas trocadas entre os dois maiores estudiosos do assunto, Saul Friedländer e Martin Broszat. O cerne deste módulo são as problemáticas tratadas com maior especificidade em minha pesquisa, portanto, será o mais longo de todos e no qual confluirão todas as demais discussões feitas durante o curso. Quarto) Construção da memória e identidade alemã pós-Holocausto A última parte do curso será dedicada à formação da identidade alemã desde o pós-guerra e sua desnazificação até os dias atuais, vista de maneira rápida e assistemática, devido à longa duração desde processo, que vai de 1945 até os dias de hoje, em que pretendemos enfocar a discussão de como isto vem sido feito na televisão. A construção de uma memória alemã sobre o Holocausto é um momento fundamental da pesquisa, pois deslumbra aquilo que achamos essencial para a realização da terceira parte do curso. O Holocausto, para ser narrado, precisa passar por um processo de decantação geracional, tanto de judeus quanto de alemães descendentes dos perpetradores, e o perdão seja um horizonte histórico possível. Do contrário, a resposta elaborada na terceira parte do curso, a negativa da possibilidade do tratamento historiográfico do Holocausto, permanecerá. Bibliografia adotada:

ARENDT, Hannah. Compreender: formação, exílio e totalitarismo. Belo Horizonte, São Paulo: UFMG, Companhia das Letras, 2008. —. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Cia das Letras, 1999. BARTOV, Omer. The Holocaust: origins, implementation, aftermath. New York: Routledge, 2008. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1998. BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Vol. (Obras Escolhidas; v.1). 3 vols. São Paulo: Brasiliense, 1994.

CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. O anti-semitismo na Era Vargas: fantasmas de uma geração (1930-1945). São Paulo: Perspectiva, 2001. Crowell, Steven. “Mixed Messages: The Heterogeneity of Historical Discourse.” History and Theory, May de 1998: 220-244. FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (19751976). São Paulo: Martins Fontes, 1999. FRIEDLANDER, Saul (org.). Probing the limits of representation: Nazism and the "Final Solution". Cambridge, London: Havard University Press, 1992. GARCIA, Fernando. Narrar o Inenarrável, Lembrar o Inesquecível: sobre as possibilidades de se narrar o Holocausto em Hayden White e Carlo Ginzburg. Belo Horizonte, 7 de Dezembro de 2011. GARCIA, Fernando. “Hayden White: limites da representação histórica e o Holocausto.” Anais do Seminário Brasileiro de História da Historiografia, 2012. GARCIA, Fernando. “O mal entre conceitos e personagens.” Anais do Seminário Nacional de História da Historiografia (EdUFOP), 2011. GARCIA, Fernando. “Ubiquidade do mal na Solução Final.” Anais da ANPUH/MG, 2012. GEARY, Dick. Hitler e o Nazismo. São Paulo: Paz e Terra, 2010. GIGLIOTTI, Simone, LANG, Berel. The Holocaust: a reader. Pondicherry, India: Blackwell Publishing, 2005. GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas, Sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. —. Relações de Força: história, retórica, prova. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. H. W. Koch (org.). Aspects of Third Reich. New York: St. Martin's Press, 1985. HEIDEGGER, Martin. Ensaios e Conferências. Petrópolis, Bragança Paulista: Vozes, Editora Universitária São Francisco, 2006. Historikerstreit. Forever in the shadow of Hitler?: The dispute about the German's understanding of history, original documents of the Historikerstreit, the controversy concerning the singularity of the Holocaust. New Jersey: Humanities Press Internacional Inc., 1993. KANSTEINER, Wulf. In Persuit of German Memory: History, Television, and Politics after Auschwitz. Athens: Ohio University Press, 2006.

KERSHAW, Ian. Hitler: um perfil do poder. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. KERSHW, Ian. Hitler, the Germans and the Final Solution. Jerusalém: Yad Vashem, 2008. KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado: Contrinuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto, Editora PUC-Rio, 2006. LEVI, Primo. É Isto um homem? Rio de Janeiro: Rocco, 2000. LEVY, Sofia Débora (org.). Oito relatos SOBRE VIVER antes, durante e depois do Holocausto por homens e mulheres acolhidos no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2006. Lukács, John. O Hitler da História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. MAIER, Charles. The Unmasterable past: History, Holocaust, and German national identity. London, Cambridge: Harvard University Press, 1988. NOBRE, Renarde. “Weber e o desencantamento do mundo - uma interlocução com o pensamento de Nietzsche.” DADOS - Revista de Ciências Sociais, 2006: 511536. —. “Racionalidade e tragédia cultural no pensamento de Max Weber.” Tempo Social Revista de Sociologia da USP, Novembro de 2000: 85-108. Rüsen, Jörn. “Pode-se melhorar o ontem? Sobre a transformação do passado em história.” In: História, verdade e tempo, por Marlon Salomon (org.), 374. Chapecó: Argos, 2011. RÜSEN, Jörn. Razão Histórica: teoria da história: os fundamentos da ciência históricaa. Brasília: UnB, 2001. STACKELBERG, Roderick. A Alemanha de Hitler: origens, interpretações, legados. Rio de Janeiro: IMAGO, 2002. WHITE, Hayden. Meta-História: A Imaginação Histórica do Século XIX. São Paulo: EDUSP, 2008. —. The Content of the Form. Baltimore: John Hopkins University, 1990. ZAGNI, Roodrigo. “Relações entre o anti-semitismo religioso e o anti-semitismo "científico" na justificativa nazista da Shoah.” As Profundezas do Intangível. São Paulo, 2000. 1-17.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.