Modulação do perfil lipídico e da glicemia de ratos diabéticos submetidos a treinamento anaeróbio de alta intensidade

May 18, 2017 | Autor: D. Oliveira | Categoria: Investigação
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Modulação do perfil lipídico e da glicemia de ratos diabéticos submetidos a treinamento anaeróbio de alta intensidade Modulation of glucemia and lipid profile in diabetic rats submeted high intensity training

David Michel de Oliveira1 Daniel dos Santos2 Luciano Aurélio Garcia Lopes Silva3 Cassiano Merussi Neiva4

Professor, Doutor do curso de Educação Física da Universidade de Franca (Unifran). Docente dos cursos de Educação Física e Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências da Saúde (Facisa)/Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam). 2 Professor mestre do curso de Educação Física da Universidade de Franca (Unifran). Docente dos cursos de Educação Física, Nutrição e Fisioterapia da Faculdade de Ciências da Saúde (Facisa)/Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam). 3 Professor Especialista do Curso de Educação Física da Universidade de Franca (Unifran). 4 Professor Pós-Doutor do Curso Mestrado em Promoção de Saúde da Universidade de Franca (Unifran). Docente do curso de Educação Física da Universidade Estadual Paulista (Unesp-Bauru) e da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp). 1

Recepção: 05/2/2007 Aprovação: 23/2/2007

RESUMO: O objetivo deste estudo foi verificar a resposta de variáveis bioquímicas, como: glicemia colesterol total, LDL colesterol e triglicérides em ratos diabéticos. Iniciaram o protocolo de treinamento 60 ratos Wistar machos diabéticos, que foram subdivididos em quatro grupos: diabético sedentário (DS) n= 15, diabético treinado (DT) n= 15, sadio treinado (ST) n= 15 e sadio sedentário (SS) n= 15. Durante cinco semanas os animais dos grupos DT e ST foram submetidos a um protocolo de treinamento de natação de intensidade anaeróbia (lactato acima 7mM), que consistiu em tiros intervalados de 60 a 120 segundos, com intervalos passivos de dois minutos, totalizando 50 minutos para cada sessão de treino, suportando sobrecarga progressiva equivalente a 30% de sua massa corpórea. O coeficiente mínimo para constatação de diferença significativa usada foi (p < 0,05). As concentrações de glicemia entre os grupos diabéticos experimentais e não-experimentais apresentaram diferenças significativas e entre os grupos DS e DT na fase pós-treinamento (237 ± 9 mg dl-1 e 178,5 ± 31 mg dl-1). Para triglicérides, nota-se a diferença significantemente mais baixa para DT, chegando próximo da normalidade (236 ± 45 mg dl-1), comparado ao grupo DS (386 ± 28 mg dl-1). Não foram encontradas diferenças para Col -T e LDL, variáveis estas que se mantiveram em valores normais (101 ± 21 mg dl-1* ; 68,6 ± 15 mg dl-1 e 57 ± 3,5 mg dl-1; 42,1 ± 2 mg dl-1). Conclui-se que o modelo empregado foi eficiente em promover alterações em algumas variáveis do perfil lipídico e na glicemia, em curto período de tempo, demonstrando-se mais eficaz que modelos de treinamento aeróbio anteriormente apontados pela literatura.

Palavras-chave: Diabetes melito; glicemia; perfil lipídico; exercício anaeróbio. ABSTRACT: The study objective was to check the answer of biochemistry variables in diabetic rats: glucemia, total cholesterol , LDL cholestrol and triglicerids. 60 animals Wistar males begun the training protocol (120 mg/kg of corporal weight), subdivided in four groups: sedentary diabetic (SD; n = 15), trained diabetic (TD; n = 15), trained healthy (TH; n = 15) and sedentary healthy (SH: n = 15). Five weeks anaerobic order swimming training protocol (lactate upper 7 mM) was administered to TD and TH animal groups, in 60 to 120 seconds intervallic shots, with 2 minutes passive intervals, in a total of 50 minutes to each training session, supporting progressive overcharge equivalent to 30% of their corporal mass. The significant difference threshold was p < 0,05. Glucemia concentrations between experimental diabetc and non-experimental diabetic groups have presented significant differences, when comparing SD and TD groups in post-training phase (237 ± 9 mg dl-1 and 178.5 ± 31 mg dl-1). The lower significant difference was observed for the triglycerides, reaching closer normality (236 ± 45 mg dl-1), when compared to SD group (386 ± 28 mg dl-1). Significant differences were not found for Col –T and LDL, maintaining normal values (101 + 21 mg dl-1; 68.6 ± 15 mg dl-1 and 57 ± 3.5 mg dl-1; 42.1 ± 2 mg dl-1). We conclude that model was efficient in promoting alteration in some lipidic profile variables and glucemia during short time period. In order of results replication, we suggest the forward application in short duration and high intensity training studies.

Key words: Diabetes mellitus; lipidic profile; training anaerobic. Investigação – Revista Científica da Universidade de Franca

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Introdução O diabete melito é uma patologia metabólica crônico-degenerativa que atinge cerca de 150 milhões de pessoas no mundo, com prevalência nos Estados Unidos, chegando a dez milhões de pessoas, constituindo 5% da população americana. Dados no Brasil apontam-na em populações adultas, totalizando 7,6% (MALERBI; FRANCO, 1992), (SILVA; LIMA, 2002). De acordo com Jimenez (2003), fatores como dislipidemias com predominância da hipertriglicidemia, descontrole glicêmico e a hipertensão arterial parecem ser os pré-requisitos para o surgimento da disfunção endotelial e, conseqüentemente, da gênese de patologias cardiovasculares. Baseada em informações clássicas, a literatura vem demonstrando que a prática regular de exercício físico parece exercer uma atividade moduladora da glicemia e das concentrações de lipídios, trazendo

obedecendo a uma intensidade de leve a moderada e dez minutos de exercício intervalado de resistência muscular localizada. O tempo restante foi dividido entre aquecimento e resfriamento. Foram analisadas as seguintes variáveis: glicemia, hemoglobina glicosilada (HbAl), lipídios plasmáticos, colesterol total; LDL, HDL e TG. A diminuição crônica de glicemia foi significativa. Foram verificadas também alterações drásticas significantes nos lipídios plasmáticos e um plausivo aumento do HDL. Neiva e Mello (1995) verificaram essas alterações em um protocolo de treinamento aeróbio, que consistia em 135 minutos de exercícios semanais, divididos em sessões de 45 minutos a cada dois dias. Par ticiparam do estudo 32 mulheres, com idade média de 47,2 anos de idade, todas menopausadas e portadoras do DM Tipo II, divididas em grupos de exercitadas e não-exercitadas. Foram analisados gli-

esses valores mais próximos da normalidade (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 1997). Kraengen et al. (1989) analisaram a resposta de um programa de treinamento concomitante à dieta hiperlipídica e hiperglicêmica, com ratos Wistar machos, no qual foi verificado que o exercício físico crônico aumentou o fluxo glicolítico aumentando o transporte de glicose. Khawali et al. (2003) avaliaram a resposta do perfil lipídico em 91 jovens diabéticos Tipo I de ambos os sexos submetidos a um programa de treinamento e dieta adequada de curto prazo por um período de oito dias, três vezes por semana com duração de 50 minutos para cada sessão. O programa a curto prazo promoveu um controle agudo na glicemia e resultou em uma redução significante nos níveis de colesterol e LDL-colesterol, mas não nos níveis de triglicérides. Além disso, o HDL-colesterol aumentou significativamente, por conseguinte, as razões colesterol total/ HDL-colesterol e LDL/HDL sofreram reduções significantes ao final do estudo. Silva e Lima (2002) demonstraram os efeitos de dez semanas de exercícios físicos, em sujeitos sedentários e acometidos pelo DM tipo II tratados e nãotratados com insulina. O protocolo foi constituído de quatro sessões semanais, com duração de 60 minutos

cemia, peso e percentual de gordura. Essa pesquisa apontou diferenças em todas as variáveis correlacionadas, proporcionando melhora favorável dos quadros séricos de glicose. Outro estudo evidenciando o comportamento glicêmico em pacientes diabéticos foi realizado por Martins (1997), que avaliou a glicemia e os efeitos de um programa aeróbio de nove meses, com duração de três vezes por semana, 50 minutos por dia, a uma intensidade correspondente a 50% FCmáx . A amostra foi composta por 18 indivíduos de ambos os sexos e com os dois tipos de DM, sedentários, com diversos problemas crônicos relacionado ao DM. A média de idade foi de 55 anos. Os resultados obtidos não foram convincentes quanto à variável glicemia, no qual não se verificou queda significativa que permitisse observar a resposta crônica deste protocolo. Várias pesquisas vêm comparando o DM com algum tipo de protocolo de exercício físico e suas reações frente a variáveis do perfil bioquímico. Entretanto, Neiva (2000) comparou os efeitos dos modelos de protocolo de treinamento aeróbio e anaeróbio em dois modelos experimentais distintos: ratos diabéticos e ratos submetidos a dietas hiperlipídicas. O modelo aeróbio consistiu em cinco sessões semanais contínuas de 40 minutos cada, durante seis semanas.

subdivididos em 30 minutos de exercício contínuo

O trabalho intervalado consistiu em número igual

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de sessões de 40 minutos, com tiros inter valados variando de 50 a 90 segundos, com pausas de dois a três minutos de descanso passivo (repouso absoluto), entretanto, com a utilização de cargas. As variáveis analisadas foram: insulina, glicemia e trigliceridemia, no qual os resultados obtidos notaram uma melhora significante nos dois protocolos frente às variáveis metabólicas avaliadas. Contudo o modelo anaeróbio parece ter promovido alterações mais positivas no modelo metabólico em tempo considerado menor que o modelo aeróbio. Em um estudo de revisão de literatura, vários achados foram reunidos para verificar o efeito do exercício físico aeróbio e resistência na modulação glicêmica em humanos diabéticos, sendo que em alguns casos foi utilizada também a intervenção dietética. Neste último modelo, os efeitos do exercício sobre DM Tipo II foram mais significativas, entretanto não

coletivas a uma temperatura de 25 graus Celsius, com fotoperíodo de 12 horas claro e 12 horas escuro. Foram subdivididos em quatro grupos: diabético sedentário (DS) n= 15, diabético treinado (DT) n= 15, sadio treinado (ST) n= 15 e sadio sedentário (SS) n= 15. As normas de manipulação para modelos experimentais foram seguidas do Canadian Council on Animal Care (1993). A condução da pesquisa somente foi iniciada após a aprovação do Comitê de Pesquisas da Universidade de Franca.

deixaram de existir nos grupos que receberam influência apenas em um dos protocolos de treinamento. Contudo, Kelley e Goodpaster (2001) afirmam que não foi possível até o presente momento encontrar, na literatura disponível, o controle dose-resposta de volume e intensidade de diferentes tipos de protocolos para o controle glicêmico em sujeitos diabéticos porque as evidências são incertas e pouco elucidativas. Frente a tais referências, parece interessante a idéia de que o exercício possa vir a contribuir para a melhora da condição clínica de pacientes diabéticos, bem como para a sua prevenção e a diminuição na incidência de fatores de risco etiogênicos do diabetes. Tendo como base científica estes estudos, o objetivo do estudo foi analisar a resposta das variáveis bioquímicas glicemia, colesterol total e LDL colesterol, e triglicérides em ratos diabéticos aloxana-induzidos submetidos a um protocolo de exercício físico aquático intervalado de alta intensidade. Material e Métodos Foram utilizados no protocolo de treinamento 60 ratos Wistar machos com média de idade de 12 semanas, pesando entre 250 a 350 gramas. Durante a fase experimental, os animais foram alimentados com ração balanceada para roedores marca PURINA® e água

treinamento foi um tanque de 1,2 m de comprimento, 0,6 m de largura por 0,6 m de altura, contendo uma coluna de água de 0,4 m, para evitar o apoio da cauda dos animais no solo do tanque. A temperatura média foi 27 graus, mantida por uma resistência elétrica acoplada a um termostato. Os animais dos grupos ST e DT foram submetidos a um treinamento intervalado suportando cargas variando de 8% a 30% do peso corporal, sendo ajustadas de acordo com o progresso do treinamento. Para controle de carga, foram utilizados coletes artesanais constituídos de chumbo, elásticos e fita isolante, conjunto que foi previamente pesado em balança analítica. A intensidade do exercício foi calculada tendo como parâmetro as concentrações de lactato plasmático, uma vez que entendemos ser esse o melhor parâmetro para estudos com animais. Para isso, amostras de sangue na quantidade de 50 µl foram coletadas das caldas dos animais (escolhidos sempre aleatoriamente), em capilares de vidro calibrados com fluoreto de sódio 1%. Essas amostras foram coletadas ao segundo minuto das fases de repouso entre os períodos de exercícios de cada sessão de treinamento para os animais dos grupos exercitados. A análise do lactato sanguíneo foi procedida imediatamente após as coletas, em aparelho bioeletroquímico YSI 2700 (Yellow Spring

ad libitum. Os animais foram mantidos em gaiolas

Instruments – USA) (adaptado de NEIVA, 2000). A

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Protocolo de treinamento Adaptado por Neiva e Mello (1995), o programa de exercícios físicos de caráter anaeróbio intenso foi elaborado com atividade de natação com animais em tanques. As sessões de natação tiveram início no período vespertino e seu término foi de acordo com o andamento do protocolo. O recipiente usado para o

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manutenção das concentrações sanguíneas de lactato foi mantida acima de 7 mM (Tabela 1) e a periodicidade do treinamento foi realizada da seguinte forma:

St. Louis MO – USA ), 120 mg\kg dissolvida em tam-

Tabela 1 – Valores plasmáticos de lactato em repouso e em exercício, para controle da intensidade do protocolo

de sete dias. O resultado foi analisado, por meio de

Lactato Plasmático Repouso (mMolar) Lactato Plasmático Exercício (mMolar)

pão citrato 0,01 mol/L, pH 7,4, por injeção intraperitonial, sendo verificado o resultado após intervalo coleta sanguínea, in vivo, e com a aplicação do teste de

DS

DT

SS

ST

glicemia. Foram considerados diabéticos experimen-

2,5 ± 0,3

1,9 ± 0,3

1,9 ± 0,3

2,0 ± 0,1

tais os animais que apresentaram valores glicêmicos

2,2 ± 0,2

7,6 ± 0,3

2,0 ± 0,4

8,0 ± 0,3

superiores a 200 mg /dL (Tabela 2). Tabela 2 – Valores de glicemia (mg.dL-1) antes da indução do diabetes (A) e após a indução do diabetes (B)

• ADAPTAÇÃO: reconhecimento do meio líquido, execução de treinamento contínuo com carga variada entre 0% a 8%, totalizando 50 minutos. • 1.ª SEMANA: 10% de carga, totalizando 50 minutos, com tiros de 60 a 120 segundos e intervalo de 1 minuto. • 2.ª SEM A NA: 15% de carga, totalizando 50 minutos, com tiros 60 a 120 segundos e intervalo de 1 minuto. • 3.ª SEMANA: 20% de carga, totalizando 50 minutos, com tiros de 60 a 120 segundos e intervalo de 1 minuto. • 4.ª SEMANA: 30% de carga, totalizando 50 minutos, com tiros de 60 a 120 segundos e intervalo de 1 minuto. Após o treinamento os ratos eram enxutos e recolocados nas mesmas gaiolas e aclimatizados em temperatura ambiente no biotério.

GRUPOS

DS

DT

Glicemia (A)

1,32 ± 2,9

13,9 ± 1,3

Glicemia (B)

2,25 ± 0,7

2,15± 2,12

Delineamento e análise estatística Os valores para peso e concentrações bioquímicas (obtidos nas amostras coletadas dos animais em repouso) foram empregados para comparação entre as fases pré e pós-treinamento referente à indução do diabetes em diferentes grupos, visando a avaliar a existência ou não de efeitos do programa de treinamento entre as variáveis estudadas. Análise estatística: os resultados numéricos iniciais foram obtidos para tratamento estatístico descritivo e expressos em médias e desvios padrão (+ DP). Determinada a parametria da amostra, os resultados foram então submetidos à comparação específica entre os grupos por meio de teste de análise de variância de dois caminhos (Anova Two-Way), seguido de teste complementar pós-hoc (Bonferroni), onde foi apropriado (SNEDECOR; COCHRAN, 1980), utilizando o pacote estatístico SAS para PC, versão 6.08 (SAS Institute, Cary NC – USA). O nível de significância mínima foi preestabelecido em 5% para todos os casos.

Diabetes experimental Dentro do protocolo de indução ao diabete melito experimental, os grupos DS e DT permaneceram 24 horas em jejum e depois foram anestesiados por éter etílico em cuba. Logo após, foi realizada a indução com aloxana monoidratada (Sigma – Chemical Co.

Tabela 3 – Comparação dos valores da glicemia (mg·dL-1) entre os quatro grupos experimentais. SS (sadio sedentário), ST (controle treinado), DS (diabético sedentário) e DT (diabético treinado), antes da indução do diabetes e treinamento (pré) e ao final de quatro semanas de treinamento (pós) Grupos

SS

DS

Glicose (Pré)

140 ± 32 mg dl

Glicose (Pós)

131 ± 18mg dl-1

-1

ST

132 ± 29 mg dl

133 ± 21 mg dl

-1

237 ± 9mg dl-1 *

DT -1

127,5 ± 22 mg dl-1

139 ± 13 mg dl-1 178,5 ± 31mg dl-1 *†

Resultados expressos em médias e (±) desvio padrão. *Diferença significativa em relação aos valores pareados pré-treinamento e pré-indução ao diabetes e diferença significativa em relação aos grupos ST e DT nas fases póstreinamento. † Diferença significativa em relação ao grupo DS. (p ≤ 0,05 Anova Two Way, complementada por Bonferroni) # Valores normais de glicemia para ratos Wistar variam entre 120 e 150 mg•dL-1.

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Resultados e Discussão

to, os animais do grupo DT ainda não apresentavam

Na Tabela 3 são apresentados os resultados re-

normalização dos valores da glicemia e seus resulta-

ferentes à glicemia entre os diferentes grupos, nas

dos eram ainda significativamente maiores que a dos

diferentes fases do e xperimento. Nela é possível

animais não diabéticos.

observar que foram encontradas diferenças significa-

Esses resultados, embora não permitam apontar

tivas entre os grupos diabéticos experimentais e os

para uma eficiência total do treinamento físico anaeró-

não diabéticos. É possível ainda observar diferenças

bio em promover a correção plena da glicemia, podem

entre os grupos DS e DT, onde DT apresenta menores

ter sido influenciados de forma limitante pelo curto

concentrações de glicose na fase pós-treinamento.

período de submissão ao treinamento físico (apenas

Esses resultados indicam que o protocolo de trei-

cinco semanas). Mesmo assim, são capazes ainda de

namento físico anaeróbio foi capaz de promover di-

evidenciar um efetivo potencial redutor da glicemia

minuição das concentrações de glicose nos animais

por parte do modelo de treinamento anaeróbio aqui

diabéticos a ponto de diferenciá-las dos valores DS.

empregado. Na Tabela 4 são apresentados os resultados

Contudo, ao final de quatro semanas de treinamen-

referentes à trigliceridemia entre os diferentes grupos.

Tabela 4 – Comparação dos valores da trigliceridemia (mgdL-1) entre os quatro grupos experimentais. SS (sadio sedentário), ST (controle treinado), DS (diabético sedentário) e DT (diabético treinado), antes da indução do diabetes e treinamento (pré) e ao final de quatro semanas de treinamento (pós) Grupos

SS

DS

Trigliceridemia (Pré)

170 + 16 mg dl

Trigliceridemia (Pós)

184 + 28 mg dl-1

-1

191 + 21 mg dl

ST 194 + 9 mg dl

-1

386 + 28 mg dl-1 *

DT -1

154 + 22 mg dl-1

168 + 15 mg dl-1 236 + 45 mg dl-1 †

Resultados expressos em médias e (±) desvio padrão. *Diferença significativa em relação aos valores pareados pré-treinamento e pré-indução ao diabetes e diferença significativa em relação aos grupos SS, ST e DT nas fases pós-treinamento. † Diferença significativa em relação aos valores pareados pré-treinamento e pré-indução ao diabetes e diferença significativa em relação aos grupos SS, ST nas fases pós-treinamento. (p ≤ 0,05 - Anova Two Way, complementada por Bonferroni) #Valores normais de triglicedemia em ratos Wistar variam entre 150 a 220 mg•dL- 1.

Para esta variável podemos notar que foram

seis semanas e simultaneamente tratados com dieta

encontradas diferenças significativas entre os gru-

hipocalórica, elemento esse não empregado em nos-

pos diabéticos experimentais e os não diabéticos.

so estudo. De forma muito semelhante, a Tabela 5 apresenta as diferenças encontradas para colesterol total e LDL-Col. Novamente nossos resultados concordam com os achados de Lampman e Schteingart (1991) e também com os de Khawali et al. (2003). Neste estudo, os autores encontraram diminuição do colesterol total e LDL colesterol em uma investigação envolvendo crianças diabéticas submetidas a três sessões semanais de atividade física aeróbia de uma hora de duração cada. No protocolo, porém, os autores relatam o uso paralelo de modelo dietoterápico e medicamentoso e atribuem o sucesso das alterações bioquímicas ao conjunto desses três fatores.

Este fato era esperado, uma vez que o protocolo de indução ao diabetes caracteriza-se como promotor da hipertrigliceridemia. Contudo, foi demonstrado também que o grupo DT apresentou valores significativamente mais baixos que o grupo DS e, após o período de quatro semanas de treinamento, as concentrações de TG plasmáticos para este grupo estavam muito próximas da normalidade. Esses resultados concordam com os achados de Lampman e Schteingart (1991), porém os autores apontaram diminuição significativa de valores de TG e colesterol em ratos treinando aerobicamente por período de

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Tabela 5 – Comparação dos valores de A: Colesterol total; e B: LDL-Col (mg·dL-1) entre os quatro grupos experimentais. SS (sadio sedentário), ST (controle treinado), DS (diabético sedentário) e DT (diabético treinado), antes da indução do diabetes e treinamento (pré) e ao final de quatro semanas de treinamento (pós) Grupos

SS

DS

ST

DT

Col Tot (pré)

81 + 12 mg dl-1

66,3+ 19 mg dl-1

71 + 11 mg dl-1

73,2+ 22 mg dl-1

Col Tot (pós)

79 + 15 mg dl-1

101 + 21 mg dl-1*

74 + 8 mg dl-1

68,6 + 15 mg dl-1

LDL Col (Pós)

42 + 3,5 mg dl-1

39 + 1,7 mg dl-1

44 + 6 mg dl-1

44,2 + 2,4 mg dl-1

LDL Col (Pós)

44 + 4,2 mg dl-1

57 + 3,5 mg dl-1*

41 + 6,5 mg dl-1

42,1 + 2 mg dl-1

A

B

Resultados expressos em médias e (±) desvio padrão A: *Diferença significativa em relação aos valores pareados pré-treinamento e pré-indução ao diabetes e diferença significativa em relação aos grupos SS, ST e DT nas fases póstreinamento. (p ≤ 0,05 Anova Two Way, complementada por Bonferroni). #Valores normais de Col-Tot variam entre 60 a 85 mg •dL-1 #Valores normais de LDL – Col variam entre 35 a 45 mg •dL-1.

Por outro lado, os autores não conseguiram encontrar reduções nas concentrações de triglicérides plasmáticos entre as crianças diabéticas, como os encontrados em nosso experimento junto aos animais diabéticos submetidos ao treinamento anaeróbio sem qualquer outro tipo de intervenção. Nesse caso podemos ainda considerar que os mecanismos fisiológicos e metabólicos induzidos pelo treinamento de alta intensidade empregado no protocolo experimental de nosso estudo pode ter exercido fator diferenciador nas respostas por nós encontradas, especialmente se considerarmos que nenhum tipo de intervenção dietética foi realizado durante todo o experimento. Embora por limitações técnicas ocorridas durante o desenvolvimento do estudo não tenhamos disponíveis os valores das concentrações de HDLcolesterol, nossos resultados também se assemelham aos de Silva e Lima (2002), onde em estudo envolvendo homens sedentários e portadores do DM Tipo II, apontaram reduções em todas as variáveis analisadas em nosso modelo (glicemia, trigliceridemia, Col - Tot e LDL-Col) e ainda elevações significativas de HDL colesterol quando o grupo foi submetido a modelo de treinamento misto com componente anaeróbio moderado, porém por dez semanas, conjugado a tratamento farmacológico concomitante.

zados em nenhum momento quadros de hipercoles-

Além das diferenças entre os grupos DT e DS en-

mano. Essa sugestão é ainda fortalecida pelo número

contradas em nosso experimento em relação às variá-

insuficiente de estudos envolvendo exercício anaeró-

veis Col-Tot e LDL-Col, as concentrações das mesmas

bio em modelos de disfunções e patologias metabó-

para o grupo DT mantiveram-se dentro dos valores

licas, tais como obesidade, síndrome metabólica e o

normais de variação esperados, não sendo caracteri-

próprio diabete melito.

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terolemia para esse grupo, enquanto DS apresentou valores extremamente elevados para essas variáveis. Dessa maneira, podemos ainda sugerir que estudos envolvendo modelos de treinamento anaeróbio intenso sejam encorajados no sentido de investigar seus efeitos sobre essa fração importante do colesterol. Conclusão O modelo de treinamento físico aqui empregado apresentou-se superior aos modelos de treinamento aeróbio apresentados na literatura em tempo menor. Além disso, foi eficiente ao promover uma melhora generalizada sobre o perfil bioquímico (glicemia, colesterolemia e trigliceridemia). Embora não tenhamos avaliado outras importantes variáveis bioquímicas, a maior parte dos estudos revisados envolvendo modelos aeróbios, mesmo com a união de outras variáveis ao treinamento aeróbio, apresentou alterações parciais do perfil bioquímico. Finalmente, frente aos resultados aqui descritos e às conclusões já enumeradas, os autores encorajam que mais estudos envolvendo protocolos de esforço anaeróbio devem ser desenvolvidos junto a modelos de diabetes experimental bem como no modelo hu-

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Conflitos de interesse

tolerance in the urban brazilian population aged 30-

De acordo com as normas para publicação desta

69 yr. Diabetes Care, v. 15, p. 1506-1516, 1992.

revista (parágrafo 3.11), não houve no desenvolvimento da pesquisa nenhuma espécie de interesse que

MARTINS, D. M. Exercício físico e sua relação com

tenha interferido nos resultados deste trabalho.

o diabetes. In: SILVA, O. J. Exercício físico em situações especiais. I: crescimento, flexibilidade, alterações posturais,

Referências

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Autor Responsável: Prof. M.e David M. Oliveira Rua Domingos Marcantônio Sobrinho n°560 Jd. Tropical II CEP 14400-000 Tel. (16) 8155-7599 – 3703-9238

L A MPM A N, R. M.; SCHT EINGA RT, D. E. Effects of exercise training on glucose control, lipid metabolism, and insulin sensitivity in hipertriglyceredemia and non-insulin dependent diabetes mellitus. Medicine Science. Sports Exercise, v. 23. n. 6, p. 703-712, 1991.

[email protected] Prof. M.e Daniel dos Santos Rua Tenente Joaquim Cândido 1632 Patrocínio Paulista CEP 14415-000

MALERBI, D.; FRANCO, L. Multicenter study of the prevalence of diabetes mellitus and impaired glucose Investigação – Revista Científica da Universidade de Franca

Franca (SP)

Tel.(16) 8111-6125 E-mail: [email protected] v. 7

n. 1/3

p. 53–60

jan. / dez. 2007

59

Prof. Esp. Luciano Aurélio Garcia Lopes Rua Chile 1632 – Ap.15 Jd. Consolação Franca–SP CEP14400-110 E-mail: [email protected]

Investigação – Revista Científica da Universidade de Franca

60

Franca (SP)

Prof. Pós-Doutor Cassiano Merussi Neiva Rua: Salim Emer, 460 Bairro São Joaquim Franca–SP CEP 14400-000 E-mail: [email protected]

v. 7

n. 1/3

p. 53–60

jan. / dez. 2007

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