Monografia A PRÁTICA DO CANTO CORAL NA TERCEIRA IDADE COM O CORAL NOSSA SENHORA AUXILIADORA: UM ESTUDO DE CASO. Licenciatura em Música

June 13, 2017 | Autor: Thais Rabelo | Categoria: Música, Canto Coral, Terceira Idade
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS NÚCLEO DE MÚSICA

THAIS FERNANDA VICENTE RABELO

A PRÁTICA DO CANTO CORAL NA TERCEIRA IDADE COM O CORAL NOSSA SENHORA AUXILIADORA: UM ESTUDO DE CASO.

São Cristóvão 2011

THAIS FERNANDA VICENTE RABELO

A PRÁTICA DO CANTO CORAL NA TERCEIRA IDADE COM O CORAL NOSSA SENHORA AUXILIADORA: UM ESTUDO DE CASO.

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Música, Núcleo de Música, Universidade Federal de Sergipe, como requisito para a obtenção do grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profa. Dra. Mackely Ribeiro Borges

São Cristóvão 2011

A Quitéria, minha querida mãe, pelo incentivo e grande auxílio, presentes em cada momento.

AGRADECIMENTOS

Meus sinceros e profundos agradecimentos... A Deus, meu criador e Eterno Pai, por seu infinito amor. A Nossa Senhora Auxiliadora, minha mãe e mestra. Pelo auxílio em cada momento. A Thalles, meu irmão, pela compreensão e eterna amizade. A Jair, namorado e companheiro de todas as horas, pela compreensão, auxílio e, sobretudo, pelo carinho. A Mackely Ribeiro Borges, querida orientadora, pela atenção e paciência dispensadas a mim e por contribuir para o meu desenvolvimento acadêmico e humano. Ao Coral Nossa Senhora Auxiliadora, fundamento deste trabalho. A cada corista, pelo crescimento que me proporcionaram, pelo apoio, confiança e por nunca duvidarem. Por me ensinarem que a vida é um contínuo aprendizado e que cada momento deve ser vivido com igual beleza. De modo particular à Maurina Campos e Anunciada Lima (in memorian), que com seu canto e encanto deram ao Coral ainda mais alegria. Ao Núcleo de Música e funcionários, pelo acolhimento. Aos professores que fizeram parte, direta e indiretamente de minha formação, pelo aprendizado que me proporcionaram com tanta competência e dedicação. Aos colegas de classe, pela fraterna alegria e troca de experiências. Por terem partilhado comigo os momentos bons e os difíceis. Aos padres Sérgio Aquino (pároco) e Eudes Barreto (vigário) pelo apoio dado à esta pesquisa enquanto representantes da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora. A todos que direta ou indiretamente contribuíram para esta pesquisa que é fruto de cansaços e de alegrias.

Não importa se a estação do ano muda... Se o século vira, se o milênio é outro. Se a idade aumenta... Conserva a vontade de viver, Não se chega a parte alguma sem ela. (Fernando Pessoa)

RESUMO

Esta pesquisa tem como temática a prática do canto coral na terceira idade, tendo como base o Coral Nossa Senhora Auxiliadora. O Coral, fundado em 2005, é sediado na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora localizado na cidade de Aracaju-SE. A pesquisa se divide em duas partes: a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo. Assim, para uma melhor compreensão da prática realizada neste coral foi analisada, por meio da pesquisa bibliográfica, a situação dos idosos na sociedade e o processo de envelhecimento em seus aspectos físicos, psicológicos e sociais. Também foram abordadas questões relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem na terceira idade e, de modo mais específico, a educação musical. Também foram abordados o canto coral e suas contribuições para o indivíduo, bem como a influência desta prática na vida de pessoas idosas. Trata-se, portanto, de um estudo de caso onde a natureza qualitativa da pesquisa torna-se evidente em seu caráter descritivo e centralizado na análise de todo o processo. Os dados deste trabalho resultam de observações realizadas pela pesquisadora que, desde a fundação do Coral Nossa Senhora Auxiliadora até o momento presente, tem desempenhado a função de regente e preparadora vocal do grupo. Também foram utilizados arquivos fotográficos e filmagens das apresentações do coral, registros no jornal da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, caderno de presença etc. Além disso, foi elaborado um questionário no modelo survey, contendo questões relacionadas aos aspectos psicossociais e ao desenvolvimento musical das coralistas. Desta forma, foi possível conhecer mais sobre a realidade do coral e seu desenvolvimento musical desde o início até o momento da realização desta pesquisa. Palavras-chave: Idosos; Educação Musical; Canto Coral; Aracaju.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Pirâmide etária. Fonte: IBGE 2010........................................................................ 12 Figura 2: Proporção de jovens-adultos na população brasileira. Fonte: IBGE, 2008 .............. 13 Figura 3: Localização da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora ............................................ 42 Figura 4: Exercício 1 (vocalizes). ......................................................................................... 51 Figura 5: Exercício 2 (vocalizes). ......................................................................................... 51 Figura 6: Exercício 3 (vocalizes). ......................................................................................... 52 Figura 7: Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora (2009) ........................................................ 80 Figura 8: Chá beneficente em prol do coral (2005) ............................................................... 80 Figura 9: Celebração Eucarística mensal em honra a Nossa Senhora Auxiliadora (2007) ..... 81 Figura 10: Missa e Cantata de Natal (2008) .......................................................................... 81 Figura 11: Missa e Cantata de Natal (2008) .......................................................................... 82 Figura 12: Missa do Novenário da Festa de Nossa Senhora Auxiliadora (23 de maio de 2011) ............................................................................................................................................ 82 Figura 13: Foto do Primeiro Aniversário do Coral Nossa Senhora Auxiliadora no Jornal Avante (2005) ...................................................................................................................... 83 Figura 14: Nota sobre o Coral no Jornal Avante (2008) ........................................................ 83 Figura 15: Foto do Coral no Asilo SAME (dezembro de 2006) Jornal Avante ...................... 84 Figura 16: Nota do Coral ADMA no Jornal Avante (2006) ................................................... 84 Figura 17: Capa do livro em homenagem ao terceiro aniversário do Coral (2008) ................ 85 Figura 18: Contra capa do livro em homenagem ao Coral (2008) ......................................... 86 Figura 19: Partitura de Na Festa da Vida extraída do Álbum Cantando Louvor à Maria ...... 87 Figura 20: Primeira página da partitura da música Va Pensiero do compositor Giuseppe Verdi ............................................................................................................................................ 88 Figura 21: Partitura de O Primeiro Natal. Parte do repertório da Cantata de Natal .............. 89 Figura 22: Partitura do Santo extraída do hinário Festas Litúrgicas I .................................... 90

SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ......................................................................................................... 4 RESUMO ............................................................................................................................. 6 LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................... 7 1.

INTRODUÇÃO............................................................................................................. 8

2. A TERCEIRA IDADE ................................................................................................... 10 2.1. O PROCESSO DO ENVELHECIMENTO .................................................................... 15 2.1.1. Mudanças Físicas .................................................................................................... 18 2.1.2. Mudanças Psicossociais .......................................................................................... 24 3. A EDUCAÇÃO MUSICAL NA TERCEIRA IDADE .................................................. 29 3.1. A PRÁTICA DO CANTO CORAL NA TERCEIRA IDADE ....................................... 31 3.2. AS CONTRIBUIÇÕES DO CANTO CORAL NA VIDA DO IDOSO .......................... 34 3.2.1. O Canto coral e socialização ................................................................................... 34 3.2.2. Contribuições psicológicas e cognitivas .................................................................. 36 3.2.3. O Canto coral e o desenvolvimento vocal................................................................ 39 4. O CORAL NOSSA SENHORA AUXILIADORA............................................................ 42 4.1. BREVE HISTÓRICO.................................................................................................... 43 4.2. ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO DO CORAL NOSSA SENHORA AUXILIADORA ............................................................................................................................................ 45 4.2.1. Freqüência .............................................................................................................. 46 4.2.2. Apresentações e repertório ...................................................................................... 47 4.2.3. Descrição dos ensaios ............................................................................................. 50 4.2.4. Perfil do coral ......................................................................................................... 54 4.3. A METODOLOGIA APLICADA NO CORAL NOSSA SENHORA AUXILIADORA ..... 56 5. CONCLUSÃO ................................................................................................................ 64 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 67 ANEXOS ............................................................................................................................ 76 1 – QUESTIONÁRIO .......................................................................................................... 76 2 – FOTOS .......................................................................................................................... 80 3 – RECORTES DE JORNAL ............................................................................................. 83 4– LIVRO ............................................................................................................................ 85 5 – PARTITURAS ............................................................................................................... 87

1. INTRODUÇÃO

O envelhecimento é assunto atual e tem despertado cada vez mais o interesse pela área, sobretudo por parte de pesquisadores. A afirmação da ONU, em 1982, na Assembléia do Envelhecimento, de que o crescimento populacional é um fenômeno mundial, contribuiu para que o olhar da sociedade começasse a se modificar com relação ao idoso. Apesar disso há ainda muito que fazer para garantir um envelhecimento digno para a maioria da população. Foi justamente a temática do envelhecimento que norteou o presente trabalho, que tem como principal objetivo estudar a prática coral do grupo Nossa Senhora Auxiliadora, analisando suas principais características por meio do estudo descritivo de aspectos como: contexto, história, freqüência, apresentações, repertórios, ensaios e perfil do coral com relação aos aspectos psicossociais e a aprendizagem musical. Trata-se de uma pesquisa viva, um estudo de caso onde a pesquisadora é ao mesmo tempo observadora e agente (desempenhando a função de regente do coral). Para uma melhor compreensão abordaremos assuntos referentes à terceira idade. Assim, no segundo capítulo será tratado a questão da terceira idade e sua situação mundial e nacional, observando como se desenvolveu o conceito de velhice e que iniciativas tem se voltado para esta temática que é real e mais atual do que nunca. Além disso, buscamos conhecer qual a atual situação do idoso no Brasil nos aspectos demográficos e sociais e quais políticas públicas tem se voltado para este público alvo. Ainda neste capítulo discorreremos sobre o processo do envelhecimento e suas principais características contemplando os aspectos físicos, cognitivos e emocionais, tomando como base estudos geriátricos e gerontológicos. Com base nas pesquisas na área da cognição na terceira idade, compreendemos que a aprendizagem é algo não apenas possível, mas também necessário na melhor idade e, neste sentido, inserimos a questão da educação musical como forma de proporcionar a vivência musical, a sensibilidade, a expressividade, além de trabalhar os elementos musicais de forma prazerosa e criativa, contribuindo para que o cérebro do idoso continue em exercício. O terceiro capítulo trata da educação musical na terceira idade, mais especificamente da prática coral, fundamento deste trabalho, compreendendo-a como sendo uma prática musicalizadora, contribuindo também para a socialização, integração, bem estar e consolidação da identidade. Abordaremos também o trabalho de alguns educadores musicais na área do canto coral.

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O quarto capítulo está voltado para a prática coral no grupo Nossa Senhora Auxiliadora, fundado em 2005 e que continua exercendo suas atividades musicais. A princípio buscamos contextualizar o coral, tanto geograficamente quanto ideologicamente, tendo em vista que este se encontra inserido num ambiente religioso e existe em função do mesmo. Em seguida traçamos um breve histórico que engloba desde sua concepção até os dias atuais, sendo destacados também algumas peculiaridades do coral no que se refere à terceira idade. Após esta abordagem inicial sobre o objeto de pesquisa nos concentramos na descrição da prática em si abordando seus principais aspectos bem como as principais características do grupo. O capítulo culmina com a análise do desenvolvimento musical do grupo ao longo destes seis anos, tomando como base a observação dos ensaios e o questionário respondido pelas próprias coralistas. Por fim, finalizamos o trabalho apresentando as conclusões obtidas por meio desta pesquisa. Considerando a existência de grupos corais da terceira idade na cidade de Aracaju e a carência de estudos voltados para esta área, acreditamos que esta pesquisa possa contribuir para a literatura e servir de auxílio a outros profissionais que realizam trabalhos direcionados à prática musical nesta faixa etária.

2. A TERCEIRA IDADE

A Organização das Nações Unidas (ONU) determinou que o indivíduo passa a ser considerado idoso a partir dos 60 anos de idade. Todavia, nos países desenvolvidos esta é adiada para os 65 anos de idade (RABÊLO, 2011). A Organização Mundial da Saúde (OMS) fraciona a terceira idade1 em três grupos: jovens idosos (60 a 69 anos), meio idosos (70 a 79 anos) e idosos velhos (a partir dos 80 anos) (cf. MASCARO, 1997, apud BUENO, 2008). Neste sentido, o Brasil não é mais considerado um país jovem, pois de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) é considerada uma nação envelhecida aquela cuja proporção de pessoas idosas atinge 7% com tendência a crescer, assim, no Brasil o número de idosos já ultrapassa esta porcentagem mínima, representando, segundo o Censo Populacional de 2000, 8,6% da população total (cf. COSTA et al, 2003). Nos últimos anos a temática do envelhecimento tem chamado a atenção da sociedade sendo veiculado nos diferentes meios de comunicação. Também os órgãos governamentais (Ministério da Previdência Social, Ministério da Saúde, Ministério da Educação) e não governamentais (ONGs, Grupos da Melhor Idade etc.) tem se dirigido a este público alvo. É válido ressaltar algumas particularidades a respeito da Previdência Social, enquanto órgão governamental relacionado diretamente ao idoso, por tratar dos direitos de aposentadoria evidenciando a situação do idoso enquanto cidadão. Assim, em virtude do crescimento populacional da terceira idade, a Previdência Social publicou em 2008 o guia Idoso – Cidadão Brasileiro que visa informar sobre os serviços e direitos relacionados aos idosos. O guia esclarece que a Previdência Social se trata de “um seguro que o brasileiro paga para ter uma renda no momento em que para de trabalhar” (BRASIL, 2008, p.10). Ainda de acordo com este guia: Todo trabalhador que contribuiu para a Previdência Social por 180 meses e tenha 65 anos, no caso dos homens, e 60 anos, no caso das mulheres, tem direito a se aposentar. Para os trabalhadores rurais, a idade mínima é reduzida: 60 anos para os homens e 55 anos para as mulheres (BRASIL, 2008, p.10).

Além da aposentadoria por idade há também a outros tipos de aposentaria, tais como: aposentadoria por invalidez, aposentadoria por tempo de contribuição e aposentadoria 1

No presente trabalho os termos “idosos”, “terceira idade” e “melhor idade” serão tratados como sinônimos.

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especial. O Ministério da Saúde também tem desenvolvido iniciativas em prol do idoso, como a caderneta de saúde da pessoa idosa criada no ano de 2007 objetivando garantir atenção integral à saúde da população idosa, com ênfase no envelhecimento saudável e ativo por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Ainda com relação à saúde na terceira idade deve-se destacar o Encontro Nacional da Saúde do Idoso realizado em Brasília, em junho de 2011. No que diz respeito às iniciativas de órgãos não governamentais há que se destacar a presença cada vez mais marcante de grupos da melhor idade. De acordo com Dias e Jaeger (2008, p.59): Os grupos da terceira idade estão prestando um atendimento multidisciplinar aos idosos, possibilitando, por meio da realização de atividades diferenciadas, tanto a inserção cidadã na sociedade, família e comunidade, como o resgate da auto-estima e dignidade dos indivíduos que atingem esta faixa etária.

Este interesse pela população idosa deve-se ao fato de que o mundo está envelhecendo. Sim, o envelhecimento é mundial, pois está ocorrendo nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento (FIGUERÊDO, 2009). Em 1982, na cidade de Viena, na Áustria, a ONU convocou a Assembléia do Envelhecimento. Tal iniciativa apontou a preocupação com os idosos. É a partir de então que a ONU passa a considerar o envelhecimento como um “fenômeno mundial”. No Brasil o aumento da população idosa tem sido objeto de estudo norteando pesquisas de diversas áreas. É fato que o crescimento populacional da terceira idade tem modificado o perfil de todo o mundo, sobretudo dos países desenvolvidos. Tal mudança está diretamente relacionada ao processo de transição demográfica, ou seja, as taxas de mortalidade e natalidade que antes mantinham-se elevadas (caracterizando assim uma população predominantemente jovem) encontram-se em baixa, aumentando também a expectativa de vida (COSTA et al, 2001, p.184-200, apud COSTA et al, 2003), assim, a mudança no perfil da sociedade brasileira é conseqüência do aumento da taxa de longevidade. Segundo Keller (2002 apud COSTA et al, 2003) em comparação aos países desenvolvidos, de modo especial na Europa, o Brasil tem apresentado um processo de transição demográfica muito mais acelerado. De acordo com as pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até o ano de 2025 o Brasil será o sexto país no mundo com maior número de idosos (ROZANTHAL, 2007 apud SANTOS JUNIOR, 2008). A Sinopse do Censo 2010 revelou que a população com idade igual ou superior a 65 anos que em 2000 era de 5,9% em 2010 chegou a 7,4%. É válido ressaltar que dentre os maiores de 85 anos as mulheres são maioria,

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devendo este resultado a fatores biológicos, sociais e culturais. A pirâmide etária a seguir mostra a situação atual da população brasileira com base nas pesquisas do IBGE de 2010, confirmando o aumento no número de idosos e, sobretudo a prevalência do sexo feminino sobre o masculino.

Figura 1: Pirâmide etária. Fonte: IBGE 2010

A figura a seguir é referente à proporção de crianças, jovens-adultos e idosos em relação ao total da população brasileira compreendido entre os anos de 1940 e 2050.

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Figura 2: Proporção de jovens-adultos na população brasileira. Fonte: IBGE, 2008

Assim, ao observar a figura acima compreendemos que: Tendo como referência a revisão das projeções da população brasileira até 2050, realizada pelo IBGE em 2008, considerando a hipótese de maior velocidade futura de queda da fecundidade, em relação à revisão efetuada em 2004, nota-se que as estruturas etárias derivadas evidenciam o aprofundamento de algumas das características assinaladas e mudanças em outras, ou seja, mantidas as tendências, espera-se que ocorra, no período de 2000 a 2030, um aumento de aproximadamente 33 milhões de pessoas com idades de 15 a 60 anos, iniciando-se, a partir dessa data, fortes reduções nessa faixa etária, a tal ponto que a comparação dos valores desse grupo, em 2050, com o observado em 2000, aponta para um aumento de apenas 16,5 milhões (IBGE, 2009, não paginado).

Essa mudança no perfil social traz consigo a exigência de uma atenção Legal voltada para a população idosa que se encontra em constante crescimento, garantindo-lhe leis que proporcionem uma condição de vida digna, e o reconhecimento de sua importância no contexto sócio econômico. No Brasil o tema velhice apareceu pela primeira vez na Constituição de 1934, apresentando, porém, uma abordagem bastante superficial por não tratar de questões voltadas à seguridade social da terceira idade. Tal documento faz referência ao idoso nas leis trabalhistas no Título IV, parágrafo 21, inciso primeiro e somente neste, onde garante: assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a esta descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego, e

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instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte; (BRASIL, 1934, não paginado, grifo nosso).

É somente na Constituição de 1988 que serão mencionados os direitos dos idosos. Aqui o termo aparece pela primeira vez, na seção IV que se trata da assistência social objetivando a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice. No capítulo VII a lei denota atenção mais específica para com a terceira idade: Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. § 1º - Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares. § 2º - Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos (BRASIL, 1988, não paginado).

Outro importante documento é o Estatuto do Idoso, publicado no ano de 2003, que visa regular os direitos assegurados as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. São direitos previstos por este Estatuto: direito à liberdade, ao direito e à dignidade; direito ao meio ambiente acessível, direito à saúde, direito à educação, cultura, esporte e lazer, direito à profissionalização e ao trabalho e o direito à justiça. O Estatuto do idoso faz referência também a questões como habitação, transporte, entidades de atendimento ao idoso, crimes cometidos contra os idosos, dentre outros aspectos. Com relação à habitação, por exemplo, o Estatuto afirma que o idoso tem direito a moradia digna, no seio da família natural ou substituta, ou desacompanhado de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em instituição pública ou privada (BRASIL, 2003). A Assembléia do Envelhecimento de 1982, em Viena, exerceu grande influência sobre a legislação brasileira no que diz respeito aos direitos dos idosos (FIGUERÊDO, 2009). De acordo com o Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003), o envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos termos desta lei e da legislação vigente. Assim sendo, apesar de o envelhecimento ser algo particular e individual, cabe ao Estado garantir aos idosos a proteção social, que inclui: direito à vida, à saúde, à educação, à cultura, ao lazer etc. Direitos estes classificados neste Estatuto como fundamentais.

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É importante que os idosos conheçam seus direitos para que possam participar, de forma consciente, da realidade social. A lei evidencia em suas entrelinhas a mudança no perfil social que agora conta e deve contar com a participação da terceira idade. Desta forma, em paralelo com a mudança no perfil social deve estar também a mudança na consciência da sociedade de que os idosos não são pessoas esquecidas e decadentes, mas o contrário, para que cada vez mais a terceira idade esteja inclusa e atuante na sociedade.

2.1. O PROCESSO DO ENVELHECIMENTO

De acordo com o dicionário Aurélio (cf. FERREIRA, 2008, p. 355) envelhecer significa: “1.Que envelheceu; 2. Decadente, declinante; 3. civilização envelhecida”, enquanto o dicionário Houaiss (cf. HOUAISS, 2009, p. 777) apresenta o termo como: “1. Tornar (-se) velho ou mais velho; 2. Dar ou tomar aspecto de velho, de idoso ou de antigo; 3. Fazer perder ou perder o viço, o frescor, o colorido; 4. Tornar-se desusado, fora de moda ou sem emprego.” Como se pode observar, os significados apresentados nestes dicionários podem ser entendidos como sinônimos de retrocesso, algo decadente. No entanto, é importante ressaltar que os significados apresentados por estes dicionários não se referem especificamente ao ser humano, mas sim de forma generalizada. Destacamos a palavra envelhecimento com o objetivo de enfatizar alguns aspectos importantes deste processo que é tão importante como todos os processos vitais. A problemática do termo não reside principalmente nos significados que os dicionários atribuem ao “velho”, mas sim no significado que o “velho” possui para a sociedade que ainda considera o idoso como alguém ultrapassado e limitado. Ainda há quem acredite que a velhice é a fase de declínio da vida. A sociedade de um modo geral ainda não modificou sua forma de compreender o envelhecimento. Tal fato pode ser observado tanto no ato de desrespeito para com os idosos, até mesmo dentro do próprio seio familiar quanto no medo de envelhecer que assola grande parte das pessoas. Neste último aspecto fica evidente o pensamento errôneo de que envelhecer significa chegar ao “fim da linha”, de relacionar o ser velho ao ser feio e incapaz. De acordo com Beauvoir (1990 apud BEZERRA, 2006, p.2), nas sociedades ocidentais, a velhice foi (e ainda é), ligada a uma imagem estereotipada. É correto afirmar que a mídia é grande responsável pela visão

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equivocada da sociedade, de um modo geral, sobre a velhice. Gerbner (1993 apud BEZERRA, 2006) aponta a televisão como meio midiático de maior influência sobre a opinião das pessoas. Bezerra (2006) observa que a imagem do idoso representada pela mídia se modificou. Assim, da década de 1930 a 1980, por exemplo, o que se destacava eram os aspectos desfavoráveis da terceira idade, dando grande ênfase a aspectos como aparecimento de doenças, perda de habilidades físicas, perda de memória, incapacidade, dentre outros. A partir da década de 1990, o idoso passou a ser representado como ser saudável e ativo. Desta forma, o mesmo autor atribui a mudança da imagem do idoso nos meios midiáticos ao interesse do mercado consumidor por esta população: Como motivo de tal mudança, percebe-se claramente que com o aumento considerável do número de idosos mostrados nos dados demográficos e com o direito a aposentadoria, a exclusão ou a representação negativa desta categoria desconsiderava uma parcela significativa de consumidores com poder aquisitivo e cada vez mais em ascensão no mercado de consumo. Estes agora dispõem de tempo, saúde e recursos para consumir e realizar atividades de lazer e com um diferencial; atividades específicas para a categoria (BEZERRA, 2006, p. 2).

Surge então uma nova preocupação com a atual imagem estereotipada agregada ao idoso, a do “jovem velho” que, por sua vez, contrasta com a realidade desta faixa etária, tanto do ponto de vista biológico uma vez que o organismo do idoso é diferente e não deve ser comparado ao organismo de uma pessoa jovem, quanto do ponto de vista psicológico por gerar frustrações e por impedir que se viva a velhice como fase importante e fundamental da vida. Além de não condizer com a realidade sócio-econômica ao apresentar o idoso como alguém que vive de gastos e de prazeres, desprezando assim todo um contexto social (cf. DEBERT, 1997 apud BEZERRA, 2006). Contudo, deve-se ressaltar que o crescimento da população idosa tem sido responsável pela mudança de pensamento da literatura que aborda o tema. É fato que as pesquisas científicas tem se voltado cada vez mais para o âmbito da gerontologia 2. Porém, sendo a gerontologia uma linha de estudo recente, se comparada aos estudos e especulações sobre a criança, por exemplo, ainda há muito o que se pesquisar e discutir. Em sua pesquisa sobre a produção científica na área da gerontologia no Brasil entre os anos de 1975 e 1999, Goldstein (1999) aborda a presença do termo “velhice” na antiguidade por meio das obras literárias, mas esclarece que estudos sistematizados sobre este assunto só passaram a ocorrer a nível mundial 2

O termo gerontologia foi originado de duas raízes gregas geron (velho) + ia (estudo), ou seja, estudo da velhice.

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a partir do século XX, antes disso toda alusão ao idoso baseava-se em pressuposições infundadas na defesa da estagnação do desenvolvimento nesta fase. No Brasil, estudos voltados para a terceira idade podem ser observados a partir da década de 1990. Ao analisar diversos trabalhos voltados para esta área, Goldstein (1999) conclui que o pensamento referente ao envelhecimento tem se tornado mais aberto, evidenciando a heterogeneidade da velhice. Apesar disso, Medeiros (2005) ressalta a carência de cursos voltados especificamente para o envelhecimento humano. O estudo do envelhecimento humano ainda não chegou até os bancos escolares com a intensidade desejada. Pouquíssimas universidades oferecem cursos de especialização em envelhecimento humano. E os poucos que existem não recebem a devida divulgação na grande mídia. A Gerontologia Social deveria ser ensinada nas escolas, em todos os níveis, e toda faculdade de medicina deveria ter cursos de Geriatria, propiciando assim a formação de um maior número de especialistas no Brasil (MEDEIROS, 2005, p. 9).

Luz (2006) discorda de muitas afirmações que envolvem a terceira idade em uma atmosfera de mitos onde o idoso é apontado como um indivíduo doente, infeliz e solitário. O mito da velhice como etapa negativa se baseia em pressupostos incertos. A maioria dos idosos não tem limitações, nem suas vidas são negativas e dependentes (...). A velhice se constitui uma etapa vital que pode ter elementos de desenvolvimento pessoal, embora este desenvolvimento vá em direção contrária aos valores predominantes na sociedade atual: força, trabalho, poder econômico e político (MORAGAS, 1997 apud LUZ, 2006).

O autor enfatiza a diferença entre o que é mito e o que é cientificamente comprovado sobre a velhice para que não haja um pensamento equivocado ou preconceituoso sobre a real situação na qual se encontra a velhice na atualidade. Neste sentido Debert (2004, p. 203-207) destaca duas perspectivas em voga na sociedade atual, são elas: a perspectiva da miséria e a perspectiva do idoso como fonte de recursos. A perspectiva da miséria, que segundo a autora impregna, de um modo geral, a visão da gerontologia sobre o idoso sustenta-se na ideia de que o idoso é alguém menosprezado, tanto pela família quanto pela sociedade. Por outro lado, a perspectiva do idoso como fonte de recursos nega os estereótipos de abandono e solidão. Pavarini (et al 2005, p. 399) não nega que o organismo do indivíduo na terceira idade encontra-se mais fragilidade e sujeito a doenças, mas afirma que mesmo na existência de uma doença crônica o idoso pode viver com tranqüilidade, participando do contexto social em que viva. Segundo o autor:

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É importante ressaltar que embora a maioria dos idosos apresente pelo menos uma doença crônica, é possível continuar vivendo com qualidade desde que estas doenças sejam controladas. Preservar a autonomia e manter a independência no maior grau possível é um dos objetivos do cuidado ao idoso. Com os avanços tecnológicos principalmente na área da medicina, vêse a possibilidade de viver a vida com doenças crônicas “controladas”, desde que medidas de tratamento e prevenção sejam introduzidas.

Martins et al defende que os mitos acerca da velhice são decorrentes do preconceito, preconceito este que torna a imagem do idoso como sendo senil, inativo, frágil etc. Segundo o autor, no “mundo civilizado” de hoje, a velhice é tida como uma doença incurável, como um declínio inevitável, que está voltado ao fracasso. Outro grande erro é querer entender a terceira idade como sendo um grupo homogêneo, negando assim a individualidade do ser. Segundo Correa (2007) entender os idosos como sendo um grupo homogêneo é uma visão demasiadamente simplista, pois neste sentido não se leva em consideração a história, o patrimônio genético e psicossocial, dentre outros aspectos. Um estudo realizado na Université de Montreal por Champagne e Frennet (DINIS, 1997 apud Martins et al, 2011), permitiu identificar 14 estereótipos como os mais freqüentes relativos aos idosos, dentre eles os que mais se destacam são: os idosos não são sociáveis e não gostam de se reunir; Divertem-se e gostam de rir; Gostam de jogar cartas e outros jogos; gostam de conversar e contar suas recordações; São pessoas doentes que tomam muita medicação; são muito religiosos e praticantes, etc.

2.1.1. Mudanças Físicas

É fato que o envelhecimento é um processo natural que modifica a fisiologia e a anatomia do indivíduo, além de diminuir a funcionalidade de vários sistemas e órgãos (cf. BUENO, 2008 et al apud BORGES, 2010). Devido às alterações biológicas que acarretam a diminuição das funções orgânicas, o idoso se torna mais suscetível as doenças como osteoporose, demência, depressão, incontinência, diabetes, hipertensão, incidência de quedas etc. São essas alterações ocorridas durante a velhice que conduzem ao pensamento errôneo de que a incapacidade acompanha a terceira idade. Segundo Hoffman (2005), o envelhecimento

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é causado por alterações moleculares e celulares, que resultam em perdas funcionais progressivas dos órgãos e do organismo como um todo. Tais alterações começam a ocorrer a partir dos trinta anos de idade. Nas palavras da autora: A velocidade de declínio das funções fisiológicas é exponencial, isto é, a ocorrência de perdas funcionais é acelerada com o aumento da idade. Assim por exemplo, num espaço de 10 anos, ocorrem maiores perdas funcionais entre 60 e 70 anos do que entre 50 e 60 anos. Há, portanto, um efeito cumulativo de alterações funcionais, com degeneração progressiva dos mecanismos que regulam as respostas celulares e orgânicas frente as agressões externas, levando ao desequilíbrio do organismo como um todo (HOFFMAN, 2005, p.7).

Apesar da classificação por idade ainda ser a mais aceita há quem contraponha esta teoria argumentando que cada organismo reage de forma diferenciada, não sendo correto classificar um indivíduo como idoso apenas pelo fato de este ter 60 anos de idade. De acordo com Groisman (2002) a definição do envelhecimento pelo critério cronológico é falho e arbitrário, uma vez que este é um processo heterogêneo: Desse modo, o que podemos salientar é que o envelhecimento não parece ser definido pela idade de uma pessoa, mas pelos efeitos que essa idade teria causado a seu organismo. Várias tentativas foram feitas [...] de se encontrarem marcadores biológicos, como o tempo de reação do indivíduo a estímulos, por exemplo, ou a sua capacidade máxima de encher os pulmões de ar que indiquem a idade real de uma pessoa. Mas nenhum deles mostrouse válido para demonstrar, sozinho, a idade biológica (GROISMAN, 2002, p.66).

Segundo Nóbrega (et al 1999) há uma estreita linha sobre o que é normal e o que é patológico na terceira idade. O autor destaca as alterações cardiovasculares e esquelética nesta faixa etária. Sobre a alterações estruturais cardiovasculares, o mesmo autor (et al 1999, p. 208) explica que: Ocorre o aumento da massa cardíaca da ordem de 1 a 1,5g/ano, entre 30 e 90 anos de idade. As paredes do ventrículo esquerdo (VE) aumentam levemente de espessura, bem como o septo interventricular, mesmo em ausência de DCV [Doença Cardiovascular], mantendo, no entanto, índices ecocardiográficos normais. Essas alterações estão relacionadas com a maior rigidez da aorta, determinando aumento na impedância ao esvaziamento do VE, com conseqüente aumento da pós-carga.

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Além das alterações cardíacas deve-se destacar a redução da força muscular, mais precisamente a partir dos 60 anos de idade. Ocorre também a redução da massa óssea, sobretudo nas mulheres, que se acentuada pode se caracterizar em osteoporose, aumentando a probabilidade de fraturas. Ainda segundo Nóbrega (1999), após os 35 anos há alteração natural da cartilagem articular que, associada às alterações biomecânicas adquiridas ou não, provoca ao longo da vida degenerações diversas que podem levar à diminuição da função locomotora e da flexibilidade, acarretando maior risco de lesões. De um modo geral, as doenças circulatórias também devem ser consideradas como patologias características da terceira idade. A Doença Arterial Obstrutiva Periféria (DAOP), também conhecida como aterosclerose que, segundo Terra (2003, p. 14), caracteriza-se pela obstrução das artérias pelas placas de gordura, apesar de se fazer presente desde a juventude, em muitos casos, só começa a se manifestar de maneira incômoda a partir da meia idade (50 anos) se agravando com o passar do tempo. O indivíduo que é portador desta doença tem grande probabilidade de apresentar obstruções também nas artérias o coração e do cérebro [...]. Estima-se que com o envelhecimento da população sua incidência aumentará 50% nos próximos 20 anos. [...] O sintoma mais comum da doença é a claudicação intermitente. A palavra claudicação é derivada do latim e significa dificuldade de andar, mancar. A claudicação é caracterizada por dor na perna, principalmente na panturrilha [...] (TERRA, 2005, p. 14).

O autor destaca também a bronquite crônica e enfisema pulmonar, o câncer de pele e de próstata, a labirintite, infarto do miocárdio, derrame, infecção respiratória, alterações bucais causadas pela diminuição da saliva, diabetes e infecção urinária como patologias características da terceira idade. Todavia, é válido enfatizar que a velhice não é uma fase necessariamente marcada por doenças, podendo ser também uma fase saudável, a depender do contexto de vida do idoso e que as doenças citadas acima não ocorrem unicamente na velhice, apenas são mais correntes e acentuadas nesta fase da vida. Pelo fato do presente trabalho ter com foco a prática do canto coral será dada uma atenção maior as doenças de ordem respiratória, por ser a respiração um elemento importante no ato de cantar. Tonietto (2005) explica que as doenças respiratórias são bastante comuns em pacientes idosos, sendo a pneumonia causa de grande índice de mortalidade. Segundo o autor: As infecções podem acometer tanto as vias aéreas superiores quanto as inferiores. As infecções das vias aéreas superiores são: resfriado, gripe, faringite, laringite, rinossinusite e amigdalite. Nas vais aéreas inferiores as infecções são: traqueíte, bronquite, pneumonia e tuberculose (TONIETTO, 2005, p. 103).

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Para Tortiello (2005) o indivíduo está mais exposto as doenças respiratórias pelo fato de as vias respiratórias estarem em contato direto com o ar que muitas vezes encontra-se poluído. Assim, a baixa imunidade do idoso aliada aos microorganismos presentes no ar acabam por propiciar o surgimento destas doenças. Faringite e laringite devem ser observadas, pois tanto a laringe quanto a faringe são órgãos importantes do aparelho fonador, responsáveis pela produção vocal. A faringite é a inflamação da faringe que resulta em dores de garganta, o que pode prejudicar também a deglutição. A laringite, por sua vez se caracteriza pela inflamação da laringe, geralmente através de vírus, gerando rouquidão (Tortiello, 2005). Assim, no canto coral voltado para idosos, como é o caso do presente estudo, tanto o regente quanto os coristas devem estar atentos para sintomas como dores de garganta, ou rouquidão, tanto para tentar diagnosticar a causa de tais sintomas na intenção de tratá-los quanto para observar a prática coral, pois o fato do cantar desprovido da técnica necessária e dos cuidados necessários pode trazer complicações para o aparelho fonador do idoso, contribuindo também para com doenças inflamatórias de laringe e faringe. Considerando o fato de o presente estudo abordar a prática coral na terceira idade é de fundamental importância destacar o processo de envelhecimento da voz denominado presbifonia, enquanto mudança fisiológica relacionada à saúde vocal. Segundo Soares (et al, 2007, p. 221): Com o envelhecimento, ocorrem mudanças em todo o organismo. O mesmo acontece nas pregas vocais e em outras estruturas que estão relacionadas com a produção da voz. Essa mudança é conseqüência do envelhecimento natural da voz, chamado de presbifonia. Ocorrem, por exemplo, dentre outras mudanças, as variações de freqüência das vozes, na qual as mulheres apresentam tendência para uma voz mais grave e os homens para mais aguda, pois a espessura de toda mucosa vocal tende a aumentar após os 70 anos, nas mulheres e diminuir, nos homens.

Assim, a presbifonia, compreendida como o envelhecimento da voz deve ser um elemento importante a se considerar por parte de quem trabalha com coral na terceira idade para que não ocorram danos a voz dos coristas. Observando estas mudanças no aparelho fonador dos idosos o regente sente a necessidade, algumas vezes de adaptar a tonalidade da música ao coro. Para isso é preciso que seja sensível a forma como os coristas reagem, sobretudo musicalmente observando as dificuldades apresentadas. É valido ressaltar que o início da presbifonia, seu desenvolvimento e o grau de deterioração vocal dependem de cada indivíduo, de sua saúde física e psicológica e de sua

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história de vida, além de fatores constitucionais, raciais, hereditários, alimentares, sociais e ambientais, incluindo aspectos de estilo de vida e atividades físicas (SOARES et al, 2007). Também a parte cognitiva do idoso passa por modificações. Todavia, o desempenho cognitivo dependerá e muito do histórico de cada pessoa. Em se tratando dos aspectos cognitivos, este trabalho dará ênfase à memória. De acordo com Gatt (2008), com o envelhecimento, a memória apresenta um declínio gradual, mesmo na ausência de patologias graves. Segundo Yassuda (2004 apud GATT, 2008) na terceira idade a memória fica mais lenta e seletiva. A autora aponta também alguns elementos que podem exercer influência negativa sobre a memória, tais como: estresse, depressão, alcoolismo. É de fundamental importância manter a mente ocupada com atividades que contribuam para com a memória. Gatt (2008) explica que apenas uma minoria de idosos, cerca de 1,5% apresenta algum tipo de demência em evolução. Dificuldade de memorização e desempenho ineficaz da mente nem sempre são sintomas de demência, sendo muitas vezes próprios da idade avançada. Ao discutir sobre o envelhecimento cerebral avaliando e diferenciado o que é ou não patológico, Damasceno (1999) apresenta alguns aspectos que estão intimamente ligados ao processo de envelhecimento do cérebro, são eles: aspectos neuropsicológicos (dentro dos quais se insere a memória, função intelectual e visuo-motora-espacial complexa e linguagem), aspectos neuropatológicos e neurofisiológicos. Ao abordar os aspectos psicológicos o autor explica que o padrão de deterioração da memória no idoso normal assemelha-se ao encontrado nas fases iniciais da doença de Alzheimer caracterizados pelo declínio da memória “operacional” e da memória “secundária” (recente) maior que o da memória “primária” (imediata) e da memória “terciária” (remota), ou seja, para o idoso, as recordações de fatos ocorridos há muitos anos e fatos ocorridos imediatamente são mais facilmente lembrados que em situações mais recentes, até mesmo do cotidiano. Com relação à função intelectual e visuo-motora-espacial, percebeuse que atividades manuais complexas e percepção espacial são aspectos nos quais idosos normais não apresentam muita dificuldade, porém, idosos com um nível mínimo de demência apresentam problemas. Por fim, na questão da linguagem o autor esclarece que: O envelhecimento normal deixa relativamente intactos o vocabulário e o processamento sintático, enquanto altera a lembrança de palavras (na conversação e em testes de fluência verbal), aparecendo então raras parafasias semânticas. No nível discursivo, podemos ver dificuldades narrativas (especialmente com inferências, sumarização e interpretação moral de estórias) e omissão de informações sobre a “situação” da estória; omissão de passos essenciais durante a descrição de procedimentos; e na conversação, dificuldade de compreensão, falta de clareza do enunciado, “parafasias narrativas” e problemas com inferências e pressuposições (DAMASCENO, 1999, p. 80).

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Ainda sobre a memória, Lima (2000) aborda a questão do envelhecimento biológico do cérebro. Segundo a autora, a perda do intelecto, memória e da capacidade criativa para resolver problemas não acontece de repente, assim que a pessoa atinge a velhice, mas consiste em um processo lento, progressivo, que muitas vezes passa despercebido. Assim, a partir dos 30 anos de idade já se inicia o processo de perda significativa de neurônios que tende a acelerar com o decorrer do tempo. Entre 40 e 50 anos já se nota um declínio da memória e da criatividade. Aos 60 anos o processo torna-se de fato evidente quando há um declínio perceptível na capacidade cognitiva. A depressão, a má circulação, o estilo de vida estressante e os radicais livres são alguns dos fatores apontados por Lima (2000) como causadores da deteriorização cognitiva associada à idade. Outra doença mental que afeta os idosos é a demência. Segundo Fernandes (2009) estimativas apontam que o número de casos de demência na América Latina deve aumentar 393% até 2040. No Brasil, o problema afeta cerca de um milhão de pessoas. Outro problema que tem aumentado cada vez mais é a Doença de Alzheimer. Todavia, é necessário distinguir demência da doença de Alzheimer. De acordo com Lima (2006, p. 470) a demência é uma síndrome caracterizada pelo declínio global e progressivo das funções cognitivas. A demência acarreta no indivíduo o desenvolvimento de vários déficits cognitivos incluindo comprometimento da memória e algumas perturbações cognitivas como deteriorização das funções da linguagem, declínio ou perda da capacidade de pensar abstratamente, fracasso em reconhecer ou identificar objetos etc. Tais perturbações podem estar presentes isoladamente ou não (LIMA, 2009, p. 472). O mal de Alzheimer, por sua vez, é a forma mais comum de demência, sendo descoberta em 1960 pelo Dr. Alzheimer. Esta doença é progressiva fazendo com que o indivíduo perca a autonomia e a independência, além de causar impacto na família, no sistema de saúde e na sociedade como um todo (INOUYE, 2008, p. 12). O Alzheimer também está relacionado à herança genética e de acordo com Inouye pode ser explicado da seguinte forma: [...] a DA é caracterizada por uma síndrome, de declínio cognitivo crescente e irreversível, com muitos déficits cognitivos dos quais um obrigatoriamente é a memória, suficientemente intenso para causar transtornos no dia a dia, nos aspectos pessoal, social ou ocupacional, excluindo outras doenças que poderiam explicar os sintomas observados (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2003 apud INOUYE, 2008, p. 14).

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Além do Alzheimer há também outros tipos de demências, tais como: demência vascular, demência devido à doença do HIV, demência devido ao traumatismo craniano, demência devido à doença de Parkinson, demência devido à doença de Huntington, dentre outras.

2.1.2. Mudanças Psicossociais

O envelhecimento interfere também em duas importantes áreas na vida do ser humano: a psicológica e a social. Com relação às alterações psicológicas, Borges (2002) cita as sensações de aflição e angústia que muitas vezes conduzem o indivíduo para um quadro depressivo. Essas sensações podem ser influenciadas pelas alterações biológicas e fisiológicas e pelo contexto social no qual o indivíduo está inserido. Segundo Stella et al,(2002) a depressão é, talvez, a mais perigosa das doenças psicológicas pois: [...] constitui enfermidade mental freqüente no idoso, comprometendo intensamente sua qualidade de vida, sendo considerada fator de risco para processos demenciais. É uma condição que coloca em risco a vida, sobretudo daqueles que têm alguma doença crônico-degenerativa ou incapacitante, pois há uma influência recíproca na evolução clínica do paciente (STELLA, et al 2002, p. 91).

É válido ressaltar que a depressão é uma doença que pode estar presente nas diversas faixas-etárias, mas torna-se mais freqüente na velhice. Segundo Stella et al (2002), na existência de doenças crônicas o quadro depressivo pode ser ainda mais perigoso, pois pode contribuir com o agravamento de tais doenças. Ao mesmo tempo, a depressão pode ser causada por fatores como: perda de pessoas queridas, ansiedade, isolamento social, baixa qualidade de vida. Neste sentido, Pacheco (2002 apud STELLA et al 2002, p. 92) afirma que: Enfermidades crônicas e incapacitantes constituem fatores de risco para depressão. Sentimentos de frustração perante os anseios de vida não realizados e a própria história do sujeito marcada por perdas progressivas do companheiro, dos laços afetivos e da capacidade de trabalho - bem como o abandono, o isolamento social, a incapacidade de reengajamento na atividade produtiva, a ausência de retorno social do investimento escolar, a aposentadoria que mina os recursos mínimos de sobrevivência, são fatores que comprometem a qualidade de vida e predispõem o idoso ao desenvolvimento de depressão.

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Na literatura existente sobre o assunto, alguns autores acreditam que a depressão no idoso não é semelhante à depressão em outras idades, as diferenças estão presentes também no quadro sintomático do idoso. Para Martins (2008, p. 120) o diagnóstico depressivo nos na terceira idade é complexo, pois estes apresentam diversos sintomas que geram confusão. Muitas vezes o idoso nega as mudanças de humor ou tenta esconder o humor disfórico na própria vivência. Além disso, a existência de doenças físicas contribui para um diagnóstico complexo. Em muitos casos a depressão na terceira idade torna-se diferente da depressão “comum” por caracterizar-se pela falta de episódios de tristeza, mostrando-se o doente apático, com queixas subjetivas de comprometimento cognitivo, ansiedade proeminente, somatização e excesso de preocupação com o corpo (MARTINS, 2008, p. 119). Em sua pesquisa, Stella (et al 2002) classifica os sintomas depressivos da seguinte forma: sintomas do estado de humor; sintomas neurovegetativos; sintomas cognitivos; sintomas psicóticos. A autora aponta como características dos sintomas de humor: irritabilidade, tristeza, desânimo, sentimento de abandono, sentimento de inutilidade, diminuição da auto-estima, ideias autodepreciativas, idéias de morte, dentre outros. São características dos sintomas neurovegetativo: emagrecimento, distúrbio do sono, perda de energia, lentificação psicomotora, inquietação psicomotora, hipocondria e dores inespecíficas. Já com relação aos sintomas cognitivos são apontadas as dificuldades de concentração e de memória e a lentificação do raciocínio. Por fim, no que se refere aos sintomas psicóticos destacam-se idéias paranóides, delírios de ruína, delírios de morte e alucinações mandativas de suicídio. É mister conhecer o contexto no qual surgiu o quadro depressivo. Além disso, é importante também compreender a relação existente entre a depressão e as doenças físicas, pois A depressão no idoso costuma manifestar-se por meio de queixas físicas freqüentes e associadas a doenças clínicas gerais, sobretudo aquelas que imprimem sofrimento prolongado, levando à dependência física e à perda da autonomia, e que induzem à hospitalização ou institucionalização. Por outro lado, a depressão nesses pacientes agrava as enfermidades clínicas gerais e eleva a mortalidade (STELLA et al 2002, p. 93).

Além da depressão outras mudanças devem ser observados como sendo características do processo de envelhecimento. Santos Junior (2008) aponta a teimosia e a resistência. Segundo o autor: As características da personalidade como egocentrismo, apego excessivo as bens, redução de seu interesse, refúgio ao passado, evitação de mudanças, etc, se convertem nesta perspectiva em tentativas de defesa contra o meio,

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assim como, em tentativas de adaptação a este mesmo meio, que se apresenta cada vez mais difícil e hostil (GUIMARÃES, 1989, p. 24 apud JUNIOR, 2008, p. 17).

De acordo com Viorst (2003, apud JUNIOR, 2008) o idoso não “se torna”, ou seja, não adquire uma nova personalidade, apenas apresenta suas características de forma mais acentuada, evidenciando uma personalidade bem mais intensa. Uma junção das modificações ocorridas na personalidade do indivíduo que se mostram agora intensificadas. Neste sentido a história de vida de cada pessoa pode contribuir positiva ou negativamente para com a qualidade de vida do idoso. Há ainda um outro ponto importante a tratar e que está intimamente ligado aos aspectos próprios do envelhecimento, é a relação entre idoso e sociedade. É comum na terceira idade o afastamento social (BORGES, 2002). É fato que as relações sociais tem início e fundamento na família. É primeiramente no seio familiar que o idoso deve se sentir acolhido, respeitado, necessário. Santos Junior (2008) cita o trabalho como elemento fundamental na vida do idoso. Segundo o autor, a vida profissional influencia na identidade social elevando a auto-estima. Rowe e Kahn (1999 apud SOUZA, 2005) compreendem o envelhecimento bem-sucedido como um processo no qual se encontram diversos fatores que permitem aos indivíduos continuar a funcionar efetivamente, tanto no aspecto físico quanto no mental. Os autores acreditam que para uma velhice bem-sucedida é necessário engajar-se na vida, evitar doenças e manter em alto padrão as funções física e cognitiva. Neste sentido, nas palavras dos autores: Uma velhice bem-sucedida é uma condição de bem-estar físico ligado as circunstancias da história pessoal e do potencial de plasticidade de cada indivíduo, mas também não pode ser alijada das condições sociais e dos valores existentes no ambiente em que esse indivíduo envelheceu (NERI, 1995 apud SOUZA, 2005).

Ainda inserido nesse contexto social destaca-se outro elemento de fundamental importância na vida do idoso, este elemento é a família. A família, que de um modo geral representa o primeiro habitat do indivíduo e “berço” social pode ser definida da seguinte forma: A família é o espaço privilegiado de socialização do ser humano, do nascimento, da descoberta de afeto e da intimidade. É o lugar de exercício da cidadania, locus de convivência entre gerações. A família é o espaço indispensável para a garantia da sobrevivência de desenvolvimento e

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proteção de todos os membros, independente do arranjo familiar ou da forma como se vêm estruturando (KALOUSTIAN, 2000, p. 11 apud VITERBINO, 2001, não paginado).

De acordo com Viterbino (2011), apesar das mudanças estruturais que vem ocorrendo no seio familiar, a função da família permanece e deve permanecer inalterada. Ao observar a citação acima nota-se o significado dado a família como algo indispensável para sobrevivência e proteção de seus membros e esta afirmação remete-nos ao idoso que, muitas vezes, sobretudo a medida que a idade vai aumentando, encontram-se dependentes da família. Para o idoso a família deve ser além de tudo um ambiente no qual ele se sinta bem, aceito e amado. A realidade familiar na terceira idade exerce grande influência sobre a qualidade de vida do indivíduo. Ao relatar sobre a importância da família na recuperação de idosos hospitalizados, Argimo (2009) afirma que a presença da família junto ao paciente idoso transmite-lhe conforto e bem estar. O mesmo autor remete-se a Política Nacional do Idoso que, tanto na Constituição de 1988 quanto no Estatuto do Idoso, ressalta o papel na família na proteção de seus idosos. Mazza et al (2005, p.3), reforça a importância da família na terceira idade uma vez que impossibilitado de prestar assistência o idoso fica exposto a situações de morbidade significativa sob vários aspectos tanto físicos como psíquicos e sociais. É válido ressaltar também que o cuidado com o idoso também implica na expressão sincera de compreensão e afeto. No entanto, mudanças têm ocorrido no cenário social no que diz respeito à relação idoso X família. Debert (2001, p. 82) aponta para uma mudança de pensamento e de comportamento entre família e idoso em países desenvolvidos, caracterizada pelo crescente número de idosos que vivem em unidades domésticas separadas da família. A autora se contrapõe ao pensamento de que esta separação seja sinônimo de abandono e descaso. Queiroz (1999 apud VITERBINO, 2001) afirma estar havendo mudanças com relação à dependência financeira da família por parte do idoso. Segundo o autor, a aposentadoria é o elemento de maior influência nestas mudanças, contribuindo para que, muitas vezes, o idoso seja o principal responsável pelos gastos da família. A crise de desemprego no Brasil torna, muitas vezes, a aposentadoria do idoso a única fonte de subsistência da família. Isto ocorre quando o idoso aposentado aufere renda e os seus familiares não a têm, por falta de emprego, motivado quase sempre pela deficiência e capacidade para o exercício da mão-de-obra especializada. Neste caso, o idoso é a viga mestra

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para sustentação familiar (QUEIROZ, 1999 apud VITERBINO, 2011, não paginado).

No Brasil, o crescimento da população idosa ainda significa algo novo, se comparado a realidade dos países desenvolvidos, onde o envelhecimento populacional é bastante característico. Apesar disso, os estudos mostram que também no Brasil têm ocorrido mudanças no perfil familiar relacionadas à terceira idade. Ao investigar a situação das mulheres idosas no Brasil (que correspondem à maioria em comparação aos homens). Caramago (2003, p. 46) constata que o número de mulheres idosas que vivem na casa de filhos ou de parentes tem reduzido, evidenciando uma mudança de perfil. Caramago (2003) afirma que a proporção de idosos vivendo sozinhos é crescente tanto para homens como para mulheres, apesar de estas apresentarem maior tendência em morar sozinhas. Debert (apud CARAMAGO, 2003, p. 47) atribui a escolha dos idosos em morar sozinhos aos avanços da Seguridade Social, as melhorias nas condições de saúde e outros avanços tecnológicos.

3. A EDUCAÇÃO MUSICAL NA TERCEIRA IDADE

Em razão do crescimento da população idosa, várias iniciativas tem se dirigido para a terceira idade com o objetivo, sobretudo, de melhorar a qualidade de vida do idoso. Neste contexto se apresenta a educação. Segundo Stano (2011 apud SOUZA, 2005) o contexto escolar pode ser apontado como um espaço possível para a qualidade de vida por propiciar participação, compromisso, inserção e renovação de significados. Além disso, o processo de ensino aprendizagem oferece ao educando (neste caso mais especificamente o idoso) a oportunidade de vencer desafios. A aprendizagem também traz benefícios para a cognição por trabalhar a memória mantendo ativas as funções cognitivas (SOUZA, 2005). A aprendizagem mostra-se então, na terceira idade, como uma importante ferramenta socializadora (por possibilitar a interação com outras pessoas, a troca de idéias etc), cognitiva (por conduzir o indivíduo a desenvolver relações de pensamento, propiciando a aquisição de novos conhecimentos) e psicológica (por elevar a auto-estima, disposição, identidade etc.). Para Cachione e Neri (2004 apud SOUZA e LEÃO, 2006), através das iniciativas de educação para pessoas idosas forma-se uma consciência de que o potencial humano não se extingue na velhice. Apesar disso, segundo Luz (2006), em nossa sociedade, admitir novas aprendizagens na velhice trata-se de um desafio de enfrentamento dos preconceitos em relação às capacidades dos seres envelhecidos que aparecem sempre medidas a partir do referencial das capacidades dos jovens. De acordo com Souza e Leão (2006), a terceira idade pode ser apontada como fase bastante propícia para o estudo e aquisição de novos conhecimentos. LIMA (2000) cita o Relatório Jacques Delors, apresentado pela Comissão Internacional de Educação para o século XXI, a pedido da UNESCO. Tal relatório foi iniciado no ano de 1993 e concluído em 1996, e conclui que: [...] frente aos múltiplos desafios do futuro, a educação surge como um trunfo indispensável à humanidade na sua construção dos ideais de paz, contínuo, tanto das pessoas como das sociedades. Não como um remédio milagroso, não como uma “abre-te sésamo” de um mundo que atingiu a realização de todos os seus ideais mas, entre outros caminhos e para além deles, como uma via que conduza a um desenvolvimento mais harmonioso, mais autentico, de modo a fazer recuar a pobreza, a exclusão social, as incompreensões, as opressões, as guerras [...] (DELORS, 1999, p. 11 apud LIMA, 2000, p. 45).

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Com base neste relatório, LIMA (2000) defende a ideia da educação permanente como forma de atender e apoiar o idoso a ser seu próprio intérprete, a manter a sua capacidade de reflexão, de fazer e decidir por si próprio com independência e autonomia. Segundo Francis Wolf (apud LUZ, 2006, p. 7) antes acreditava-se que apenas as crianças tinha que ser educadas, porém, na atualidade este pensamento foi substituído pela ideia de que a educação se estende por toda vida. Assim, a aprendizagem ocorre desde o momento da concepção até a morte. Ao contrário do que muitos pensavam há algumas décadas, a terceira idade é uma fase propícia para a aprendizagem no sentido de que os idosos, em sua maioria estão aposentados e contam com tempo livre para fazer atividades que antes não fora possível. As atividades musicais se destacam nos projetos educacionais direcionados à terceira idade por conduzir o indivíduo à auto-satisfação e ao prazer (LUZ, 2006). Deste modo, a educação, mais especificamente a educação musical contribui para o melhor desempenho cognitivo, retardando e amenizando as alterações biológicas e psicossociais próprias desta faixa-etária já citadas anteriormente. O mesmo autor também aborda o caráter de criação coletiva proporcionado pela educação musical e defende a ideia de uma “educação de possibilidades”. A “educação de possibilidades” adotada por Luz (2006) fundamenta-se em não enfatizar as dificuldades apresentadas no envelhecimento, mas os diversos caminhos que podem ser seguidos como forma de facilitar o processo de ensino aprendizagem. Além disso, na melhor idade o objetivo da educação ultrapassa o sentido de aquisição de novos conhecimentos, tornando-se uma atividade necessária à saúde mental e física e assim muito mais abrangente. A educação musical na terceira idade está diretamente ligada ao desenvolvimento das potencialidades do idoso e com a melhora na qualidade de vida do mesmo. Além disso, deve estar atenta as transformações de sensibilidade musical (SOUZA e LEÃO, 2006). Todavia, é importante diferenciar educação musical de musicoterapia. Enquanto que na primeira o objetivo está focado no desenvolvimento musical do educando, no caso, o idoso, na segunda o objetivo é o bem estar físico e psicológico do mesmo. Para Morelembaum (1999 apud SOUZA et al, 2006) a educação musical deve priorizar a prática à teoria buscando um aprendizado que dê acesso a todos, através de uma concepção de ensino de música que privilegia o desenvolvimento humano, seu todo e a sensibilização. Neste ponto o autor está de acordo com o educador musical Edgar Willems (1890-1978), que

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defendia que a prática deve preceder à teoria (Morelembaum, 1999 apud JUNIOR, 2008). Enfatizando a importância do fazer musical, da experiência e da vivência.

3.1. A PRÁTICA DO CANTO CORAL NA TERCEIRA IDADE

A prática de cantar em conjunto remonta aos tempos mais remotos e se encontra nas mais diferentes etnias e culturas (AMATO, 2007). Sua terminologia provém do grego choros que, passando pelo latim e pelo italiano, consolidou-se como coro (PRAZERES, 2010). Segundo FONTERRADA (2008), o canto coral tem se consolidado nos últimos anos como importante veículo de musicalização, sendo também um veio importante na pedagogia musical do século XX, podendo ser considerado como uma verdadeira escola uma vez que, por meio dele, conceitos e linguagens musicais são assimilados e a percepção é estimulada. Além do aspecto educacional há também outros pontos relevantes proporcionados pela prática coral. De acordo com Figueiredo (s/d, p. 72) a atividade coral existe em várias regiões do mundo há muitos séculos. Uma prática que esteve por muito tempo ligada a atividades religiosas e sociais sendo realizada por pessoas extremamente preparadas para tal mas progressivamente foi se modificando passou a integrar leigos, tornando-se uma prática social. Todavia, enquanto que por um lado esta socialização proporcionou uma aproximação do leigo com a prática musical, por outro tende tornar esta prática cada vez mais preocupada com quantidade do que com qualidade. Em se tratando desta prática na terceira idade, Santos Junior (2008, p. 28) considera que: O canto coral pode proporcionar vários benefícios para a melhoria da qualidade de vida dos idosos, por ser uma atividade que, dentre outros fatores, compreende um fazer musical coletivo, interferindo de maneira bastante positiva na ressocialização e auto-estima da pessoa idosa, além de reativar a memória e estimular o desenvolvimento do processo ensinoaprendizagem através da aprendizagem musical.

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Para FIGUÊREDO (2009), dentre os variados programas voltados para a qualidade de vida do idoso, o canto coral é uma das atividades musicais mais desenvolvidas. Segundo Mathias (1986 apud SOUZA; LEÃO, 2006) um grupo coral, através da educação musical pode ser um agente transformador da sociedade, no sentido da possibilidade do grupo inserir o som de cada indivíduo num processo de educação musical libertadora. Dessa forma, apesar do presente trabalho ter como foco o canto coral como ferramenta de musicalização, analisando o desenvolvimento musical do Coral Nossa Senhora Auxiliadora, faz-se necessário abordar também outros aspectos importantes proporcionados pela prática coral, aspectos estes que influenciam também na aprendizagem musical. Serão abordados os aspectos sociais, psicológicos e cognitivos, considerando-os como agentes motivadores do processo de ensino aprendizagem proporcionando o bem estar aos idosos. A atividade de cantar em conjunto apresenta fatores positivos para iniciação musical. A voz e o corpo são instrumentos democráticos e independentes da classe social ou econômica, cujo desenvolvimento guiado conduz à internalização de importantes conceitos musicais. A imagem do canto coral pode ser, contudo, diversa. Para entender o sentido do canto coral como prática musicalizadora é preciso conhecer o significado do termo musicalização, tão utilizado na atualidade, mas tão pouco compreendido. Fundamentada na vertente sociológica e educacional, Penna (2010) reflete sobre o conceito de musicalizar como sendo o ato de tornar (-se) sensível à música, de modo que, a pessoa reaja, mova-se com ela e conclui que: [...] concebemos a musicalização como um processo educacional orientado que, visando promover uma participação mais ampla na cultura socialmente produzida, efetua o desenvolvimento dos esquemas de percepção, expressão e pensamento necessários à apreensão da linguagem musical, [...] Esse é o objetivo final da musicalização, na qual a música é o material para um processo educativo e formativo mais amplo, dirigido para o pleno desenvolvimento do indivíduo do indivíduo como sujeito social (PENNA, 2010, p. 49).

Assim, a função primordial da musicalização é desenvolver as percepções do educando, e sua expressividade de forma que ele seja capaz, por meio da vivência, de sentir a música e expressá-la tendo consciência de todo o processo de forma que sua vivência não seja alienada, mas crítica. No caso da terceira idade, a sensibilização ocupa ainda maior destaque. Gainza (2000 apud LUZ, 2006) compreende que musicalizar é favorecer o indivíduo a se tornar

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sensível e receptivo ao fenômeno sonoro, com capacidade de promover respostas de índole musical; como um despertar para a linguagem sensível dos sons. É neste sentido que se apresenta a prática coral, como prática musicalizadora que proporciona a vivência e a experiência musical. Ou seja, por meio da prática coral diversos elementos musicais, tais como: parâmetros do som (altura, intensidade, duração e timbre), andamento, ritmo, melodia, fraseados, afinação são trabalhados com os coralistas ainda que de forma indireta. Além disso, segundo Figuerêdo (2009 apud RABELO, 2011), também é desenvolvida no coral a parte técnica como a apreensão de postura corporal, articulação vocal, projeção e respiração adequada ao canto, dinâmica, expressividade, coordenação motora, execução dos gestos dos regentes, entre outros. Assim, a prática coral trabalha com habilidades musicais, não por meio de conceitos e de conteúdo teórico, mas por meio da prática. Kodály (1882-1967), educador musical húngaro, cujo método foi introduzido no Brasil no final da década de 1950, fundamentava-se de modo especial na prática coral para musicalizar, sendo a voz o instrumento mais utilizado pelo educador no processo de musicalização (PAZ, 2000). É importante destacar também a característica nacionalista deste educador que tinha como base o folclore húngaro. De acordo com Fonterrada (2008, p. 156-157): O objetivo do método de educação musical de Kodály é ensinar o espírito do canto a todas as pessoas, além da alfabetização musical para todos, trazendo a música para o cotidiano, nos lares e nas atividades de lazer, de modo a formar público para a música de concerto.

O compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887-1959) embasado pela mesma ideia de Kodály, instituiu no Brasil o canto orfeônico como veículo de educação musical. Assim como o educador musical Hungaro, Villa-Lobos procurou embasar-se no uso de material folclórico, na ênfase do ensino da música por meio do canto coral e no uso da manossolfa (FONTERADA, 2008). Apesar disso o canto orfeônico diferenciava-se da prática coral de Kodály por se preocupar mais com a quantidade de pessoas envolvidas e menos com a preocupação mais ampla para com esta prática educacional. Através das pesquisas realizadas para a elaboração deste trabalho percebe-se que a ideia do canto coral como prática educativa musical intensificou-se a partir do século XX e tem se desenvolvido cada vez mais, inclusive no que se refere à terceira idade, mas ainda há muito o que se explorar neste campo (BORGES, 2010).

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3.2. AS CONTRIBUIÇÕES DO CANTO CORAL NA VIDA DO IDOSO

3.2.1. O Canto coral e socialização

Partindo do pressuposto de que socialização e educação se situam lado a lado e que ambos se complementam (BRUNNER et al, 1994 apud PEREIRA, 2007), começaremos destacando o caráter socializador do canto coral. Segundo Brunner e Zeltner (apud PEREIRA et al, 2007) a socialização é o processo pela qual um indivíduo desenvolve suas formas específicas e socialmente relevantes de comportamento e de vivência, convivendo ativamente com outras pessoas. Ao observar o processo de socialização deparamo-nos com alguns elementos fundamentais como: inclusão, integração, cooperatividade e identidade. A respeito da inclusão social, Amato (2007, p. 80) afirma que: o conceito da inclusão social, como forma de melhoria da qualidade de vida dos indivíduos, revela uma importância ímpar. As oportunidades de participação em todo e qualquer tipo de manifestação artística e cultural devem constituir-se em um direito irrefugável do homem, independentemente de suas origens, raça ou classe social, assim como deveriam ser todos os demais direitos fundamentais à vida humana.

Ainda, segundo a autora (2007, p. 80), a inclusão caracteriza-se na perspectiva de que todos os indivíduos pertencentes a um coral encontram-se na mesma posição de aprendizes que se unem buscando os mesmos objetivos de realização pessoal e grupal. Ou seja, em um coral todos os participantes ocupam a mesma posição de igualdade, a mesma importância. Para que se possa atender as necessidades da terceira idade um coral deve ter como objetivos ajudar o grupo a cultivar novos interesses, especialmente os que tenham algum vínculo de cunho social, possibilitando a participação no grupo e o desenvolvimento da comunicação (cf. SANTOS JUNIOR, 2008). A inclusão gera outro elemento fundamental na prática coral: a integração, entendida como uma questão de atitude, na igualdade e na transmissão de conhecimentos novos (AMATO, 2007). Dessa forma, os coralistas experimentam a sensação de interagir entre si, de se ouvir, ouvir o outro, trocar idéias, gerando também a cooperatividade que se manifesta através da ajuda mútua, da partilha dos conhecimentos e experiências, culminando na

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consolidação da identidade. Assim, o indivíduo inserido em determinado meio, interagindo e cooperando com outros indivíduos que partilham de perspectivas comuns compreendem sua função na sociedade e se posicionam como agentes desta mesma sociedade (cf. AMATO, 2007; JUNIOR, 2008; PEREIRA et al, 2007). Prazeres (2010, p. 22) explica que: Os trabalhos com grupos vocais nas mais diversas comunidades, empresas, instituições e centros comunitários podem realizar a integração entre os mais diversos profissionais, pertencentes a uma variedade de classes socioeconômicas e culturais, em uma construção de conhecimento de si [...] e da realização da produção vocal em conjunto, culminando no prazer estético e na alegria de cada execução com qualidade e reconhecimento mútuos.

É interessante destacar a colocação desta autora quando se refere ao fazer musical, independente do lugar onde esteja sendo realizado e de quem está realizando e observar que ambos não se excluem, mas se completam. Assim, concluímos que, por meio da prática musical, pessoas de diferentes realidades, classes sociais e culturas se interagem numa mesma ação, que engloba técnica, estética e performance, tudo isso em função do conhecimento que chega por meio de todas estas vias. Pereira et al (2007, p.102) classificam o coral como atividade social que tem como elemento fundamental a música: Nesse sentido, acreditamos que há um processo de socialização no canto coral e, consequentemente, um desenvolvimento favorável ao participante desta atividade. Este desenvolvimento acredita-se, é propiciado pelas relações travadas entre as pessoas, porém tendo como canal e vínculo entre elas aquilo que seria o elemento principal – a música, que traz novas formas de agir, pensar e sentir. Necessariamente, parte-se do pressuposto que esta arte é essencialmente uma manifestação social e que, no canto coral, a música contextualiza as relações sociais influenciando o processo de formação dos participantes.

Assim, segundo os autores, para que haja socialização é necessário que se estabelecer relação/interação entre coristas, corista e regente, corista e comunidade e entre corista e a música. Ao compreender o canto coral como prática educativo-musical pode-se considerar tal prática como veículo de fortalecimento das relações interpessoais, onde a música é elemento socializador e integrador, além de promover equilíbrio emocional, (cf. MONTELLO, 2004 apud SOUZA; LEÃO, 2006).

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3.2.2. Contribuições psicológicas e cognitivas

Além da questão social deve-se abordar também a influência do canto coral no desenvolvimento cognitivo e psicológico dos idosos. É válido lembrar que estes elementos estão presentes no canto coral independente da faixa etária. Apesar disso, na terceira idade eles encontram respaldo ainda maior por conta das transformações físicas e psicológicas que se apresentam de forma bem mais acentuada nesta fase, transformações estas já citadas no segundo capítulo deste trabalho. Segundo Smeltze e Bare (2002): Do ponto de vista da psicologia, o envelhecimento retrata-se na capacidade do idoso em adaptar-se às perdas físicas, sociais e emocionais e de conseguir contentamento, serenidade e satisfação na vida. Uma auto estima positiva estimula a aceitação do risco e a participação em novas e desconhecidas funções.

Neste sentido se insere a prática coral, enquanto mecanismo de otimização e educação, otimizando as capacidades individuais e proporcionando aos idosos a oportunidade de se expressarem musicalmente tornando-se assim um importante meio de compensação de perdas na velhice (SANTOS JUNIOR, 2008, p. 33). No que tange ao bem estar psicológico do idoso, Freire (2003 apud PRAZERES, 2010) aponta como requisitos para uma velhice bem sucedida a auto aceitação, o ato de manter relações positivas com os outros, ter autonomia, domínio sobre o ambiente, propósito de vida e o crescimento pessoal. Desse modo, elementos sociais interagem com elementos psicológicos e cognitivos pois por meio da inclusão, interação e cooperatividade a baixa auto estima dá lugar a alta auto-estima resultando na motivação que é de suma importância na aprendizagem (AMATO, 2008; SANTOS JUNIOR, 2009). Amato (2008) explica a motivação como um estado psicológico no qual o indivíduo tem disposição para realizar uma ação, seja no trabalho, seja em qualquer esfera de sua vida, caracterizando-se como um processo contínuo. Para a autora a motivação decorre da melhora na auto estima e do processo de integração, apontando como elementos básicos da motivação: inclusão, controle e afeição. Assim, para motivar, é preciso cultivar a auto-estima individual, integrar a pessoa ao seu grupo de trabalho e fazê-la se sentir importante para o sucesso coletivo.

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Um agente fundamental na promoção motivacional no grupo vocal é o regente. Segundo Amato (2008) a motivação é entendida como uma habilidade que compõe a competência da regência coral. Para a autora, além do conhecimento pedagógico musical o regente deve possuir outras habilidades, dentre elas o saber motivar. De acordo com Stamer (1999, p. 26 apud AMATO, 2008) a técnica motivacional mais efetiva que os educadores musicais corais podem empregar é prestar atenção ao desenvolvimento pessoal e musical de seus coristas. Para Figuêredo (2008, não paginado): Além das habilidades musicais de regência e musicalização (MATHIAS, 1986), composição, canto, entre outras, o regente/educador pode aprimorar sua atuação nos aspectos relacionados à liderança, aprendizagem e motivação do grupo, buscando suporte em outras áreas de conhecimento como a Pedagogia, a Psicologia, a Sociologia e a Administração.

Borges (2010) destaca o conhecimento gerontológico por considerá-lo de fundamental importância para o regente que trabalha com corais de melhor idade, para que se possa realizar um trabalho satisfatório. Assim, com grupos de terceira idade a formação do regente deve ser abrangente a ponto de abarcar uma boa formação musical, conhecimento gerontológico, habilidades motivadoras e de liderança para melhor conduzir o grupo a um desenvolvimento musical. Considerando o canto coral como prática musicalizadora a função do regente, enquanto educador musical, se amplia. Neste sentido, se faz necessário para o regente o conhecimento da realidade do discente, suas expectativas, necessidades e o contexto para que o processo de ensino-aprendizagem não ocorra de forma superficial e vaga. Nas palavras de Figueiredo: Muitos aspectos estão em jogo quando se fala na realização musical de um coral. Todavia, há um consenso de que o regente é o elemento catalisador do grupo e o elemento que tem ascendência sobre o grupo, que orienta e capacita os cantores na tentativa de uma realização musical expressiva. Assim, é natural esperar que a prática coral propicie um crescimento musical àqueles que dela participam. Fazer música deve ser o objetivo principal de um regente e de um coral (FIGUEIREDO, 1989, p. 74).

Assim o autor enfatiza a função musical do regente enquanto educador devendo priorizar todo o processo, avaliando o desenvolvimento musical do grupo e não apenas o produto final. O regente deve preocupar-se com o fazer musical e motivar que os coralistas também contribuam neste processo com sua criatividade e musicalidade.

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Com o crescimento da prática musical envolvendo a terceira idade, diversos autores tem se dedicado a pesquisa nesta área, sobretudo no que se refere a influência da música no desenvolvimento cognitivo do idoso. Santos Junior (2008) afirma que o canto coral contribui para a reativação da memória, o que resulta também no bem estar psicológico do idoso. Considerando o fato de que a cognição se refere a todos os processos pelos quais a entrada sensorial é transformada, reduzida, elaborada, armazenada, recuperada e utilizada, englobando toda a esfera de funcionamento metal (cf. Vieira; Koenig, 2000 apud GATTI, 2008). Gatti (2008) explica que problemas cognitivos podem influenciar não apenas na aquisição de novos conhecimentos, mas também gerar outros problemas, seja de cunho psicológico, social e até mesmo físico. Em sua pesquisa sobre a contribuição das práticas musicoterápicas no desenvolvimento cognitivo na terceira idade enfatizando, sobretudo, problemas de memória e utilizando recursos sonoro-rítmicos-musicais na promoção de novos estímulos e algumas habilidades cognitivas, Gatti (2008) constatou que: A retomada das lembranças, das memórias sonoras e musicais dos idosos e sua utilização na condução das dinâmicas musicoterápicas contribuíram para a ativação de aspectos cognitivos e afetivos positivos, assim como na mobilização das sensações e percepções das trajetórias individuais e coletivas. O realce dos potenciais artísticos e criativos, ao invés de reforçar o declínio cognitivo, contribuiu para o bem-estar subjetivo dos idosos.

Borges (2010) relata sua prática coral com a terceira idade, envolvendo idosos institucionalizados e não institucionalizados e conclui que os idosos institucionalizados demonstraram maiores dificuldades cognitivas resultantes, de um modo geral, de elementos psicológicos, como a falta de motivação e a baixa auto-estima. Apesar disso, a autora considera que ambos os grupos são capazes de aprender e este processo se dá de forma ainda mais prazerosa quando se explora as recordações e as experiências musicais. Assim, concluímos que o canto coral é uma prática que envolve vários aspectos trazendo contribuições para a vida do idoso. Tais aspectos estão interligados e são de fundamental importância no processo de musicalização na terceira idade. Além dos elementos fundamentais da música tais como parâmetros sonoros (altura, intensidade, timbre, duração), melodia, ritmo, dentre outros, a prática coral também desenvolve no corista elementos relacionados à técnica vocal. Estes aspectos serão abordados no tópico a seguir.

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3.2.3. O Canto coral e o desenvolvimento vocal

A voz é a matéria prima fundamental deste trabalho, é o núcleo de uma prática musical caracterizada pela união de sons, de sentimentos, de sonhos e de mensagens denominada coral. De acordo com Coelho (1994, p. 13): A voz é a utilização inteligente dos ruídos e sons musicais produzidos no interior da laringe com o impulso da expiração controlada, ampliados e timbrados nas cavidades de ressonância e modelados pelos articuladores no tempo, no meio e no estado pulsátil de cada pessoa.

Pedroso (1997) destaca o papel da voz na comunicação e no relacionamento humano. Para Terra e Dornelles (sem data, p. 332) pela voz se expressam sentimentos, anseios, alegrias, crenças e ensinamentos. É neste sentido que se insere a prática de cantar na terceira idade, como sendo também uma forma de expressão, além disso, a busca pela técnica vocal é de fundamental importância, pelo fato de contribuir para uma melhor produção sonora e para evitar estragos ao aparelho fonador do cantor, neste caso, a voz do cantor idoso. No prática coral desenvolvida com o grupo Nossa Senhora Auxiliadora, objeto de estudo desta pesquisa, são trabalhados elementos básicos da técnica vocal. Mas afinal, o que é técnica vocal? As técnicas vocais são um conjunto de procedimentos facilitadores da voz (cf. PEDROSO, 1997). Ou seja, o objetivo da técnica é propiciar uma prática sonora de qualidade com menor esforço. Projeção, respiração, articulação e ressonância são elementos fundamentais para a voz cantada. Jackson e Menaldi (1992 apud PEDROSO, 1997) citam também o relaxamento, a coordenação entre relaxamento e respiração e a projeção. Escolhemos a postura, a respiração, a articulação e ressonância para fazer uma breve abordagem. Com relação à postura, Coelho (1994, p. 25) a considera elemento importante no canto, uma vez que o corpo é o instrumento musical do cantor. Dessa forma, a conscientização sobre o próprio corpo, manutenção e restabelecimento de sua elasticidade, desenvolvimento do equilíbrio e do auto controle são objetivos do trabalho de postura. Desta forma: A relação entre postura e respiração é de máxima importância. Todos os exercícios devem começar por uma expiração: é o movimento em que se estabelecem a concentração e o conseqüente estado de prontidão. A partir de então, todo o movimento de esforce é realizado em inspiração e todo o de relaxamento em expiração (COELHO, 1994, p. 25).

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A respiração pode ser considerada elemento fundamental da técnica vocal, pois interfere em outros elementos da técnica, a exemplo do apoio e da projeção vocal. Há pelo menos três tipos de respiração diferentes. De acordo com Oliveira (2000, p. 13) a respiração classifica-se em clavicular ou superior (caracterizada pela expansão somente da parte superior da caixa torácica, ocasionando uma notória elevação dos ombros e geralmente da tensão dos músculos da região do pescoço), respiração média, mista ou torácica (mais comumente utilizada no cotidiano da população, mas inapropriada para a prática do canto, caracterizando-se pela pouca movimentação superior ou inferior durante a inspiração e deslocamento anterior da região torácica média), respiração inferior ou abdominal (caracterizada pela ausência de movimentos da região superior e expansão da região inferior) e a respiração diafragmáticoabdominal (que se caracteriza por uma expansão harmônica de toda a caixa torácica, sem excessos na região superior ou inferior, sendo também a mais adequada para uso do profissional da voz). Ainda de acordo com a autora: Do ponto de vista fisiológico, a função da respiração é efetuar trocas gasosas entre o meio ambiente e o organismo; do ponto de vista psicológico, a respiração indica os ritmos da vida, sendo o processo mais flexível do nosso organismo, o primeiro a se alterar em resposta a qualquer estímulo externo ou interno (OLIVEIRA, 2000, p. 16).

Na prática do canto coral a respiração também pode significar sinais de entrada para o início da música ou da frase musical para todo o coro ou para determinado naipe, sendo utilizados muitas vezes pelo regente. Trabalhar com coral na terceira idade requer maior atenção à reação e resposta dos coralistas, pois como já foi tratado neste trabalho, na terceira idade os problemas respiratórios ocorrem com maior freqüência. Ao utilizar a educação de possibilidades defendida por Luz (2008), o regente deve estar atento a estas peculiaridades não como impossibilidades, mas sim com o intuito de ter cautela ao fazer determinadas exigências como, por exemplo, cantar uma frase musical muito longa com uma única respiração, ou procurar explorar mais os exercícios respiratórios no início do ensaio. O terceiro elemento a ser destacado é a articulação. Articular corresponde à clareza da interpretação musical veiculada pela separação equilibrada e coerente do trecho musical em pequenas unidades. Dentes, língua e lábios são os principais articuladores da voz humana (COELHO, 1994). No canto coral articular bem as palavras é muito importante para a compreensão da mensagem, da letra que está sendo cantada, uma vez que várias vozes cantando ao mesmo tempo sem boa articulação pode gerar confusão na compreensão do texto por parte de quem está ouvindo. De acordo com Terra e Dornelles (sem data) na terceira idade

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a articulação pode sofrer prejuízo que podem ser acarretados, por exemplo, pelo uso de próteses dentárias mal adaptadas. Com relação à ressonância pode-se dizer que esta é responsável pela amplificação das ondas sonoras inaudíveis em ondas sonoras audíveis. Ao tratar das cavidades de ressonância do corpo humano, Coelho (1994) as classifica em: cavidades de ressonância infraglóticas (traquéia, brônquios, pulmões e caixa torácica) e supraglóticas (laringe, faringe, boca, rinofaringe, nariz e seios nasais, maxilares e frontais. Expressões como “voz de peito” e “voz de cabeça” são utilizadas no ambiente acadêmico para designar na primeira: sons cuja ressonância se dá no peito e na segunda, sons cuja ressonância se dá na cabeça. Quando a técnica vocal está inserida em um ambiente corista sua função torna-se ainda mais ampla, indo além dos elementos técnicos. Desta forma: O trabalho de técnica vocal com corais não desenvolve apenas condições e habilidades vocais de coralistas. Promove, também, mudanças em suas estruturas internas de sensibilidade e conhecimento. A partir do momento em que os referenciais e parâmetros de uma pessoa são questionados, ou mesmo alterados, modifica-se seu equilíbrio em relação a sim mesma e ao seu meio (COELHO, 1994, p.16).

Assim, na visão da autora o regente, além da formação específica de canto deve possuir também conhecimento na área de educação musical, musicoterapia, psicologia e teatro. É notável a contribuição do canto coral no que se refere a técnica vocal. Tal fato pode ser comprovado, por exemplo, na pesquisa de Rocha (et al, 2007). Ao comparar a extensão vocal de idosos coralistas e não coralistas o autor concluiu que a prática do canto coral amador aumenta a extensão vocal dos idosos, pois a partir da análise dos dados obtidos, concluiu-se que o número de semitons atingido pelos coralistas é significativamente maior que o atingido pelos não coralistas. Cassol (et al, 2005) constatou que idosos participantes da prática coral durante três anos apresentaram melhoras significativas na respiração, rouquidão, afinação, dores na garganta após o canto. Detectou-se também melhora na qualidade do timbre e da tessitura vocal, na projeção e na estabilidade. Os coristas, no final da pesquisa mostraram-se mais seguros no ato de cantar não se apoiando mais nos colegas. Assim, segundo os autores, o canto coral influenciou positivamente na qualidade vocal dos idosos participantes da pesquisa.

4. O CORAL NOSSA SENHORA AUXILIADORA

O Coral Nossa Senhora Auxiliadora é sediado, desde sua fundação, na Paróquia Nossa Senhora Auxililadora, cuja entrada principal localiza-se na rua Ribeirópolis, no bairro Suíssa, cidade de Aracaju – SE. A igreja encontra-se ligada ao Colégio Salesiano, ambos pertencentes à obra Salesiana, fundada por D. Bosco3 (1815-1888). A congregação chegou ao território sergipano no ano de 1911, e hoje compreende três obras (casas salesianas): O Oratório de Nossa Senhora. Auxiliadora, o Colégio Salesiano e Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora.

Figura 3: Localização da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora

Dom Bosco, ao estruturar a congregação pensou inicialmente nos leigos denominados por ele de Salesianos Cooperadores (SSCC), mas por exigência da Igreja incluiu também os padres salesianos de D. Bosco (SDB) e as religiosas filhas de Maria Auxiliadora (FMA). Em igual posição está também a Associação dos Devotos de Maria Auxiliadora (ADMA). Cada qual com suas atividades próprias, mas todos com o mesmo objetivo: evangelizar a juventude. De modo particular, a ADMA fundamenta sua missão na oração, na penitencia e na devoção à Virgem Maria. A devoção à Virgem Maria com o título de Auxiliadora dos cristãos é própria dos salesianos e a paróquia, por este motivo, no dia 24 de cada mês celebra o dia de Nossa Senhora Auxiliadora, apesar de o dia da festa da padroeira ser no mês de maio. É neste 3

Dom Bosco foi o padre fundador da congregação Salesiana (Sociedade São Francisco de Sales) que tem como carisma a atenção para com a juventude, de modo especial a juventude mais necessitada. Dom Bosco nasceu no Norte da Itália, na região dos Becchi e em 1825 tem uma visão prefigurada em um sonho que revelaria sua missão (cf. BOSCO, 2002).

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contexto devocional que se insere o Coral Nossa Senhora Auxiliadora, que nos primeiros anos chamava-se Coral ADMA, por ser formado pelas associadas da ADMA e por objetivar animar as missas Marianas. É válido ressaltar que o coral ADMA admite todos aqueles que tiverem interesse de cantar e animar as celebrações. No entanto, a presença feminina e, sobretudo, da terceira idade sempre foi marcante, fato este que também refletiu na estrutura do coral.

4.1. BREVE HISTÓRICO

No ano de 2008, quando o Coral comemorava seus cinco anos de existência foi elaborado um pequeno livro contendo algumas informações sobre o Coral. Assim, o livro registra que esta iniciativa teve início no ano de 2005, a partir de uma conversa entre uma associada Estelita (integrante da ADMA) e minha mãe, Quitéria Vicente S. Rabelo, também paroquiana. A ideia era fundar um coral com a finalidade de louvar à Nossa Senhora e, também, de integrar, de modo agradável, os associados da ADMA. A conversa se estendeu a um convite. Aceitamos a proposta e ficamos então responsáveis pela regência e preparação vocal (eu e minha mãe como auxiliar). O fato de ter minha mãe me auxiliando foi de fundamental importância, tanto pela sua formação pedagógica, quanto por sua experiência e maturidade. É importante ressaltar também que a regência era feita por meio de gestos faciais, sinais de cabeça e pela boca, ao cantar juntamente com o grupo, uma vez que o acompanhamento instrumental do coral também era realizado pela regente. O primeiro ensaio ocorreu no dia 10 de junho de 2005 contando com a presença satisfatória de dez pessoas sendo nove mulheres e um homem 4. Começamos o primeiro encontro com uma breve apresentação do nome, da vivência musical e da atividade que desempenhavam na paróquia, além do motivo da presença e o que se esperava do grupo. Constatamos que a grande maioria nunca havia estudado música, poucos lembravam de ter estudado música nos primeiros anos do ensino fundamental (primário). Muitos responderam que estavam ali com o desejo de cantar para Deus e para Nossa Senhora. Assim, ainda que de 4

Os dados foram obtidos através do caderno de freqüência do coral e do pequeno “livro de aniversário de três anos” do Coral.

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forma intrínseca, a vontade de prestar um serviço à igreja por meio da animação das missas ou outras celebrações se fazia notar, considerando também que, de modo geral, as equipes de canto tendem a ser fechadas, por diversos motivos, impossibilitando que outras pessoas possam também desempenhar tal função. Outras vezes a própria timidez e insegurança impedem que o indivíduo realize este desejo. Após a apresentação fizemos um teste para identificar os naipes, considerando a classificação básica para vozes adultas: mulheres (soprano – agudo; mezzo-soprano – intermediário; contralto – grave) e homens (tenor – agudo; barítono – intermediário; baixo – grave), resultando em cinco sopranos, quatro contraltos e um barítono. A classificação foi feita considerando as mudanças ocorridas na voz durante a senilidade, e também as possibilidades de cada um, assim, quem tinha melhor facilidade de cantar as notas agudas e nestas sentia mais segurança ficou classificado como soprano ou tenor, da mesma forma quem tinha mais facilidade com a voz grave ou se sentia mais seguro nesta foi classificado como contralto ou barítono. Iniciamos então uma canção Mãe da Confiança, da banda Dominus, que foi bem aceita pelo grupo apesar de não fazer parte das canções tradicionais já conhecidas por eles. Fizemos uma leitura em voz alta da letra da canção, depois apreciamos em áudio, utilizando um aparelho de cd, e em seguida começamos a prática, cantando juntos. Como na música havia duas vozes diferentes houve dificuldade na junção destas. A partir deste momento percebemos que estávamos trabalhando com uma situação peculiar, pois o desenvolver atividade musical com pessoas leigas em música e ainda mais se tratando de pessoas idosas, requeria também menos pressa, mais paciência e atenção de nossa parte. Deste modo, propor uma música para duas vozes, em um coro com este perfil, desejando que o resultado fosse imediato seria no mínimo, descabido. A primeira apresentação do Coral se deu na missa realizada em 24 de novembro de 2005, data posteriormente escolhida para a comemoração anual o aniversário do coral. Apesar do grupo ainda estar bastante inseguro foi bem acolhido pela comunidade paroquial e, sobretudo, pelo pároco. Apesar disso alguns comentários pejorativos e até mesmo sugestões para que deixássemos para traz esta iniciativa ocorreram, especialmente por parte de alguns cantores da paróquia e de coordenadores de grupos, mas serviram apenas para que o coral seguisse em frente, independente do que ocorresse ou do que fosse dito. Sempre que surgiam queixas nos ensaios por conta dos comentários pejorativos procurávamos saná-los conscientizando o coral de sua importância e capacidade, adotando uma postura neutra diante destes fatos. O trabalho do coral ao longo destes anos encarregou-se de mostrar o seu valor.

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No início de nossa caminhada sentimos a necessidade de possuir nossos próprios recursos, até mesmo pelo fato de haver oportunidade de cantar em outros lugares fora da paróquia. Assim, por iniciativa das próprias coralistas realizamos o “Chá Beneficente” em prol do Coral ADMA. O evento foi muito positivo pois através dos fundos arrecadados adquirimos uma caixa de som, um cabo e dois microfones. Com a caminhada de seis anos aprendemos muito com o Coral Nossa Senhora Auxiliadora e acreditamos ser também algo muito positivo para suas integrantes. O “Chá Beneficente”, por exemplo, revelou-nos que este coral representava para as coralistas algo mais do que cantar nas missas. Como já abordado nos capítulos anteriores, o estar inserido em um grupo é muito positivo para os idosos. No chá observamos a satisfação que tiveram em organizar o evento, preparar o que seria servido e tudo deu muito certo. A partir desta iniciativa compreendemo-nos como um grupo que partilhava de uma ideia comum. Durante essa experiência que se prolonga para o sexto ano de existência percebemos que trabalhar com a terceira idade requer paciência, conhecimento, dedicação, disponibilidade para ouvir e amor pelo que faz.

4.2. ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO DO CORAL NOSSA SENHORA AUXILIADORA

No intuito de conhecer as características do Coral Nossa Senhora Auxiliadora e compreender seu desenvolvimento musical, analisaremos nesta parte alguns aspectos importantes como freqüência, apresentações, repertório, perfil do coral, descrição dos ensaios e desenvolvimento musical. Para a análise da freqüência, apresentações e repertórios serão utilizados fontes de registro como o caderno de freqüência, o pequeno livro elaborado para homenagear os três anos de coral e algumas edições do Jornal Avante, principal meio de divulgação da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora. Para analisar o perfil do grupo de forma mais objetiva elaboramos um questionário no modelo survey que foi aplicado com as coralistas durante um ensaio, mediante prévia aceitação do coro, bem como do pároco. Para análise do desenvolvimento musical do grupo serão utilizados, além do questionário survey e da descrição do processo, alguns arquivos em vídeo de apresentações do coral.

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4.2.1. Freqüência

Com relação à freqüência notamos que no ano de 2005 houve uma oscilação entre cinco pessoas presentes no segundo ensaio realizado em 08 de julho e 19 participantes no ensaio realizado no dia 09 de setembro. No ano de 2006 a freqüência oscilou numa média entre 12 e 14 coralistas, tendo seu ápice no dia 23 de maio com 18 integrantes. É curioso observar que este correspondeu a um dia de apresentação, ou seja, muitos compareceram apesar de não se fazerem assíduos aos ensaios. Os homens, em número de cinco, também contribuíram no aumento no índice de coralistas. O primeiro ensaio do ano de 2007 ocorreu no dia 07 de fevereiro e contou com a presença de dez coralistas. É válido ressaltar que sempre ao retornar do recesso ou de algum feriado o coral era avisado por telefone sobre o retorno das atividades, o que era geralmente feito pela coordenadora (Estelita). Observamos que até a primeira semana do mês de maio a presença manteve-se entre seis e sete pessoas, mas a partir da segunda semana a média de presença ficou em média de treze pessoas, mantendo-se desta forma até meados de novembro, quando voltou a cair para seis pessoas. Em 2008 o coral manteve-se com uma media de dez coralistas por ensaio, o menor índice de presença foi no dia 28 de abril, com apenas cinco pessoas e o maior índice no dia 19 de maio (próximo a missa festiva de Nossa Senhora Auxiliadora). Neste ano já não havia mais participação masculina. É válido destacar a evasão masculina do coral, pois apesar não possuir um motivo comprovado (os homens alegaram falta de tempo) acreditamos que além de serem mais tímidos eles também não se mostravam abertos às correções que, de modo particular, eram feitas por uma regente de apenas 15 anos de idade. Apenas um dos homens persistiu por mais tempo, todavia, por ser o único indivíduo do sexo masculino do grupo acabou por se desmotivar e deixou o coral. Em 2009 a média foi de 12 pessoas por ensaio, mas o maior índice deu-se nos dias 02 de julho, na missa em comemoração a presença da ADMA em Aracaju, com 15 coralistas, 23 e 24 de novembro, ensaio geral e missa de Ação de Graças pelo aniversário de quatro anos do coral, respectivamente. Em 2010 a freqüência manteve-se em média de nove integrantes, aumentando nas vésperas das apresentações. A partir da análise do caderno de freqüência notamos que o

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número de integrantes sempre oscilou entre doze e quinze coralistas. A grande problemática com relação à freqüência é que apesar de contar com a presença assídua de em média seis pessoas, muitos faltavam alternadamente, sobretudo entre os anos 2009 e 2010. Os motivos mais alegados com relação ao fato de não comparecer aos ensaios são: algum problema de saúde, necessidade de ficar em casa para cuidar dos netos e viagens. No ano de 2011 a média de presentes no ensaio tem sido de 12 integrantes. Também e épocas de chuva (entre os meses de julho e agosto) o índice de presentes cai voltando a estabilizar-se a partir do mês de setembro. Ao longo dos anos algumas pessoas passaram pelo coral, alguns permanecem até hoje, outros tiveram sua importante participação mas passaram. O fato de se denominar Coral ADMA acabava por impedir a entrada de outras pessoas da comunidade por acreditarem que apenas os associados poderiam participar, por este motivo, no ano de 2010, optamos por mudar o nome do Coral para Coral Nossa Senhora Auxiliadora, a partir de então outras pessoas da comunidade passaram a se integrar ao grupo.

4.2.2. Apresentações e repertório

No que se refere às apresentações faremos um breve apanhado destas durante esses seis anos tendo como base além do caderno de atas também o Jornal Avante, importante meio de comunicação e divulgação da paróquia. O repertório será analisado conjuntamente com as apresentações, sendo importante ressaltar que em celebrações eucarísticas (missas) o repertório sempre se constituirá dos cantos litúrgicos, ou seja, dos cantos próprios da missa 5. Assim, no ano de 2005 a única apresentação se deu na estréia do Coral na missa do dia 24 de novembro. Em 2006 as apresentações foram: 

Missa do dia 08 de março, prestando uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher;



Novenário para a festa de Nossa Senhora Auxiliadora, na noite do dia 23 de maio;

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Para mais detalhes indicamos a consulta: CNBB (Conferência Nacional dos bispos do Brasil) A música litúrgica no Brasil: um subsídio para quantos se ocupam da música litúrgica na Igreja de Deus que está no Brasil. São Paulo: Paulus, 1999.

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Manhã de louvor, dia 24 de maio, com cantos religiosos6, sobretudo marianos (dedicados à Virgem Maria);



Dia 02 de julho, missa e comemoração pela presença da ADMA em Aracaju;



Dia 23 de novembro quando o Coral foi cantou no asilo SAME, a intenção era comemorar o primeiro aniversário do coral com os idosos que lá se encontravam, foi uma tarde muito gratificante e alegre cujo repertório constituiu-se de músicas da MPB e sobretudo de musicas Natalinas;



A missa do dia 24 de novembro onde o coral celebrou seu primeiro ano de existência;



Missa da novena de Natal, que além dos cantos litúrgicos contou também com alguns cantos natalinos após a missa. Em 2007:



23 de maio – missa do novenário da festa de Nossa Senhora Auxiliadora.



02 de julho – missa. Celebrando o aniversário de fundação da ADMA em Aracaju.



26 de novembro – missa em Ação de Graças pelos dois anos de fundação do coral. O ano de 2008 foi muito positivo para o Coral, que demonstrava um amadurecimento

enquanto grupo e segurança ao cantar. Houve mais apresentações, o que consideramos ter contribuído para aumentar o entusiasmo das coralistas: 

23 de maio: missa do novenário para a festa de Nossa Senhora Auxiliadora;



02 de julho: missa, animada pela ADMA;



24 de novembro: missa em Ação de Graças pelos dois anos de fundação do coral;



06 de dezembro: aniversário do pároco. O coral cantou na recepção músicas italianas (por causa da nacionalidade do padre), tais como Va pensiero e Funiculi-funiculá, canções da MPB e canções natalinas;



09 de dezembro: Apresentação no Oratório D. Bosco. Com um intuito de animar a tarde das meninas órfãs deste oratório e de levar a mensagem natalina. No repertório músicas Natalinas;



15 de dezembro: missa de abertura da novena de Natal. Além dos cantos litúrgicos próprios do tempo de Natal fizemos também uma cantata após a missa, com cantos

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De acordo com Fonseca (2008), a música litúrgica pode ser compreendida como música ritual, ou seja, aquela que está inteiramente a serviço do rito, no caso, o acontecimento litúrgico da missa, enquanto que a música religiosa, é aquela que está relacionada ao Divino, que aborda assuntos pertinentes a fé e a religião, de um modo geral, não sendo, no entanto, apropriada para os ritos litúrgicos, a depender da situação.

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natalinos, concluindo com a participação da comunidade no último canto, muito popular “Noite Feliz”; Em 2009: 

23 de maio: missa do novenário para a festa de Nossa Senhora Auxiliadora;



02 de julho: missa em Ação de graças pelo aniversário da presença da ADMA em Aracaju;



24 de novembro: missa em ação de graças pelo quarto aniversário do coral;



06 de dezembro: homenagem ao pároco pelo aniversário do mesmo. Cantos folclóricos, MPB e italianos;



27 de dezembro: missa e cantata de Natal; Em 2010:



23 de maio: novenário de Nossa Senhora Auxiliadora;



24 de junho: missa solene de São João Batista;



24 de novembro: missa de aniversário do coral;



26 de dezembro: missa e cantata de Natal; Como se pode observar, dentre os anos de 2006 a 2010 houve datas fixas de

apresentação, deste modo o coral contava com dois a três meses de ensaio para cada uma. No início do processo havia maior dificuldade em se preparar o repertório que para uma missa, por exemplo, possui em média de dez cantos. A ideia inicial de formar um coral que cantasse a duas vozes foi sendo adaptada. Durante os ensaios preparativos para as missas cantávamos em uníssono, podendo fazer alternância entre as vozes, até inserir uma segunda voz em trechos esporádicos. Todavia, quando se tratava de cantar o repertório natalino, por exemplo, além de uma maior exigência vocal no que se refere à extensão, trabalhávamos sempre a duas vozes. O fato da maior parte dos cantos de Natal se repetirem todos os anos auxiliou na memorização das vozes e a cada ano que se passa o repertório fica mais seguro. Com relação ao cantar em outro idioma encontramos também dificuldades, pois, apesar do entusiasmo imediato ao receber a letra, algumas ao se depararem com a primeira dificuldade argumentavam que jamais conseguiriam cantar em outra língua. Apesar disso, com muito treino, paciência e perseverança estes argumentos iam cedendo lugar à superação e à conquista. No corrente ano de 2011 tornou-se possível o antigo desejo de animar as celebrações eucarísticas mensais dedicadas a Nossa Senhora Auxiliadora. Assim, a partir do mês de maio

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o coral tornou-se oficialmente responsável pela animação destas celebrações. O amadurecimento musical do grupo e o repertório mais amplo permitiram-nos aceitar este compromisso com tranqüilidade. O coral foi convidado também a animar as missas solenes de Natal e de Ano Novo. O apoio do pároco tem sido fundamental para a auto-estima e confiança do grupo. Notamos também que a freqüência aos ensaios aumentou desde que o coral assumiu os compromissos mensais. Só neste ano de 2011 entraram três novas integrantes que permanecem no grupo. A responsabilidade de cantar mensalmente acarretou também algumas implicações, uma delas é o preparo musical do grupo. Trabalhar um repertório em um prazo médio de três meses possibilitávamos explorar mais a musicalidade do grupo pois nos preocupávamos menos com o repertório em si. Com a mudança das missas mensais a preocupação em ensaiar o repertório aumentou. Todavia, é importante esclarecer que, apesar da ênfase estar agora voltada para o repertório, não deixamos de trabalhar os elementos musicais e técnicos, mas agora com menor intensidade.

4.2.3. Descrição dos ensaios

Os ensaios ocorrem à tarde (melhor horário para as coralistas pelo fato de que algumas moram em bairros distantes e precisam de ônibus para se locomover) e duram em torno de uma hora e 30 minutos. Desde sua fundação o coral segue o mesmo andamento de ensaio. Assim, começamos à tarde com um alongamento corporal, exercício de relaxamento da região do pescoço e ombros, massagens no rosto, procurando contemplar todo o corpo no alongamento. Em seguida fazemos exercícios respiratórios com o intuito de exercitar o diafragma bem como outros órgãos que participam do processo de respiração. No coral adotamos a respiração intercostal diafragmática (trabalhando o músculo diafragma e expandindo a região abdominal e das costelas para a entrada do ar), evitando ao máximo qualquer outra respiração que cause tensão nos os ombros e movimente demasiadamente a região torácica. Em seguida realizamos o aquecimento vocal ou vocalizes. De acordo com Baxter (1990 apud SCARPEL, p. 16) o aquecimento vocal é importante para preparar o indivíduo para a coordenação e resistência que o corpo necessitará para o canto consistindo na transição entre a vocalização e o canto. Assim que a musculatura esteja preparada, o cantor se

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sentirá com um maior controle sobre a voz. Começamos quase sempre com sons fricativos trabalhando a vibração de lábios e língua como forma de aquecer as regiões internas e externas da boca. De acordo com D’ávila: A utilização de exercícios vocais que contenham o som fricativo sonoro pode auxiliar a melhora da hipernasalidade e a adução glótica 12, bem como da hipertensão fonatória, da incoordenação pneumofônica, dos ataques vocais bruscos, da direção do fluxo aéreo para o ambiente, dos tempos máximos de fonação, do apoio respiratório, e do controle da intensidade (D’ÁVILA et al 2010, p. 916).

Além dos sons fricativos trabalhamos os vocalizes sempre na intenção de aquecer a voz e explorar determinados elementos como respiração, apoio, notas vizinhas, saltos, legato, stacatto etc. Apresentamos, a seguir, três exercícios de vocalizes utilizados nos ensaios:

Figura 4: Exercício 1 (vocalizes).

Este exercício, bem como os outros dois mantêm uma ideia melódica e rítmica que varia cromaticamente. Pode ser executado com vogais ou sílabas, a depender do objetivo que se espera alcançar com o grupo. No coral, de modo particular, procuramos trabalhar a afinação, conduzindo o grupo a se ouvir e ouvir o outro, executando notas vizinhas com precisão e trabalhando a respiração (ao final de cada frase ou a cada duas frases). Também acrescentamos variações como realizar mastigação enquanto executa o exercício, com a boca fechada e aberta com o objetivo de trabalhar os músculos da face e da boca.

Figura 5: Exercício 2 (vocalizes).

Neste segundo exercício trabalhamos principalmente a articulação, tanto no que diz respeito às sílabas (articulando bem os lábios em cada sílaba com a movimentação dos lábios)

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quanto no que diz respeito as notas (cantando as duas primeiras e as duas últimas com legatto e a terceira em stacatto (exercitando o diafragma).

Figura 6: Exercício 3 (vocalizes).

Neste terceiro exercício, além da afinação trabalhamos também respiração e apoio. Bem como no primeiro exercício este pode ser executado com vogais, sílabas, boca fechada e palato alto, dentre outras variantes. Os vocalizes contemplam a extensão vocal que vai do fá2 ao lá4 (contraltos e sopranos se adaptam até onde lhes é possível). As músicas da missa não exigem muito da extensão vocal das cantoras, já quando se trata de repertório natalino ou música sacra, por exemplo, a exigência é maior. Quando trabalhamos este tipo de repertório o tempo dedicado aos vocalizes é maior. Após a fase preparatória partimos para o ensaio das músicas. De um modo geral, no caso de ser uma música nova no repertório passamos primeiramente a letra e refletimos sobre a mensagem que a música propõe, em seguida partimos para a melodia, trabalhando lentamente cada frase, juntando aos poucos os períodos, sempre à capela. Somente depois introduzimos o acompanhamento instrumental. Em caso de divisão de vozes passamos cada uma separadamente até que adquiram segurança. A depender do repertório o ensaio de naipes separados se faz necessário. Quando, no caso de haver divisão de vozes, percebemos que há dificuldade de aprender a melodia fazemos ensaio de naipes separado, então começamos o ensaio eu com os sopranos e minha mãe com os contraltos e ao notarmos segurança nos grupos fazemos ensaio com as duas vozes juntas. Procuramos fazer isso desde o início até hoje e é a estratégia que mais surte efeito, apesar disso, nem sempre é possível devido à falta de tempo em preparar o coro para as missas. Outro método que tentamos utilizar no início do coral foi a gravação das vozes em cd. Assim, gravávamos as melodias referentes à cada naipe e cada integrante recebia o seu cd para estudar em casa. Todavia a iniciativa não foi bem sucedida pois a grande maioria não estudava em casa e as deficiência continuavam presentes nos ensaios. Algumas coristas justificavam alegando falta de tempo para ouvir o cd e

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dificuldade de acesso ao aparelho de som que estava sempre a uso de filhos e netos. No início ou no fim do ensaio são dados os avisos ou qualquer outro tipo de informação. Procuramos conduzir os ensaios de forma descontraída, mas sem perder o foco. O ideal é ensaiar de pé para um melhor apoio e condução de ar, todavia isto nem sempre é possível por conta do cansaço físico, então procuramos intercalar com algumas pausas para sentar, nos momentos em que vamos passar apenas a letra ou uma canção que exija menos esforço, mas também na posição sentado é preciso manter a postura. No fim do ensaio realizamos um desaquecimento vocal, começando pelas notas mais agudas em direção as mais graves. Como exemplo do repertório cantado nas missas apresentamos a partitura do canto de ofertório Na festa da vida, extraída do Álbum Cantando Louvor à Maria (cf. Anexo p. 87). Esta música foi cantada na missa do novenário de Nossa Senhora Auxiliadora em 23 de maio de 2011. A música, em ritmo de balada e andamento moderato foi bem recebida pelo coral. Apesar de não se tratar de uma música recente e de ser bastante comum em comunidades de outras paróquias apenas uma integrante do coral conhecia a música. Ensaiamos a música a uma só voz, mas fizemos divisão de vozes, tanto por questão de estética, quanto para não carregar a respiração. Assim, primeiramente fizemos uma leitura da letra da canção que nitidamente trata-se de uma canção mariana. Trata-se também de um canto de ofertório por falar das ofertas entregues sobre o altar. As coristas se sentiram muito tocadas pela letra da música o que auxiliou no processo de aprendizagem. Depois da leitura a regente cantou e tocou para mostrar a música para o coral. Em seguida foi mostrado o ostinato presente em toda a canção e trabalhamos isoladamente o agrupamento de colcheias em tercinas. Unimos então letra e ritmo na primeira estrofe e no refrão e em seguida acrescentamos a melodia. A divisão de vozes foi feita da seguinte forma: na estrofe os contraltos ficaram responsáveis por cantar os quatro primeiros versos e os sopranos os quatro últimos. No refrão todo o coro cantava em uníssono. Um fato interessante a ser apontado foi a dificuldade dos sopranos em executar o intervalo ascendente do compasso 15 para o compasso 16 (notas: mi-fá; letra: É já). A tendência era sempre cantar uma terça maior descendente (lá-fá). Passamos o trecho diversas vezes acompanhado pelo movimento do braço até que os sopranos conseguissem reproduzir o intervalo corretamente. Trabalhamos a afinação e a articulação das palavras de modo que a assembléia dos fiéis não sinta dificuldade de compreender o texto. O andamento também tendia a se tornar mais lento, arrastado, por isso, algumas vezes paramos o acompanhamento instrumental para realizar a regência gestual no sentido de acelerar o andamento.

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É importante destacar que durante cinco anos o acompanhamento instrumental era feito também pela regente, o que dificultava a comunicação gestual entre regente e coro. Segundo Coelho (2009), o gestual é o recurso privilegiado de que o regente dispõe para se comunicar com o coro durante a apresentação. Por outro lado, no ensaio, é imprescindível lançar mão também de recursos da linguagem oral. A partir de 2011 a parte de acompanhamento passou a ser realizada, em algumas oportunidades, por outro músico, então a regência tornou-se mais gestual.

4.2.4. Perfil do coral

De um modo geral o coral é constituído por mulheres já engajadas em alguma atividade da paróquia. Pertencentes a classe média, com condição de saúde física e psicológica estável, com situação financeira também estável e com disposição para cantar. Para uma melhor compreensão do perfil das coristas realizamos uma pesquisa mais objetiva. O método adotado foi o questionário survey. O questionário foi aplicado apenas nas coralistas com idade igual ou superior a sessenta anos, preservando sua identidade. O questionário dividiu-se entre questões de cunho psico-social e questões voltadas à prática coral havendo também uma questão aberta com o objetivo de compreender o significado do Coral Nossa Senhora Auxiliadora para as coristas. O resultado da pesquisa de cunho psicossocial está descrito no quadro a seguir:

Corista Idade Com

quem

mora?

C1

C2

C3

C4

C5

C6

C7

C8

C9

74

83

74

68

65

67

71

85

70

Com meus

Outro

Outro

Com

Com

Com

Com

Com

Com

parentes

meus

meus

filhos e

filhos

filhos e

filhos

filhos

netos

e

netos

filhos

netos Estado civil

viúva

Casada

solteira

solteira

viúva

casada

casada

viúva

viúva

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Participação Financeira na

sim

Sim

sim

sim

sim

sim

sim

sim

sim

renda

familiar? Nível

de

Escolaridade

Situação













Alfabeti-





grau

Grau

grau

grau

grau

grau

zação

grau

grau

AP

AP

AP

AP

AP

AP

Nulo

AP

AP

Auxiliar de

Lavadeira

Prof.

Prof.

Prof.

Prof.

Nulo

Costu-

Prendas

reira

do lar

profissional Profissão

enfermagem

Participação em

grupos

da

melhor

sim

Sim

Não

sim

sim

não

sim

sim

sim

sim

Sim

nulo

não

não

sim

não

sim

sim

idade? Possui doença crônica?

A partir dos dados obtidos concluímos que a maior parte das coristas encontra-se entre os 65 e os 75 anos de idade. Com relação à moradia constatou-se que nenhuma das coristas moram sozinha, apesar disso, a terceira questão evidencia que o fato de morar sozinha não significa dependência financeira, pois praticamente todas afirmaram contribuir com a renda familiar. Os resultados referentes ao estado civil mostram uma quantidade próxima entre as coristas casadas e viúvas. O nível de escolaridade e contexto sócio cultural de 60 anos atrás pode ser notado no resultado da questão 5, na qual a maioria só cursou até o segundo grau e ainda assim, segundo a questão 7, desempenharam a profissão do magistério.

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4.3. A METODOLOGIA APLICADA NO CORAL NOSSA SENHORA AUXILIADORA

Enquanto regente do Coral tivemos a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento do grupo no decorrer destes seis anos. Em nossa prática trabalhamos de forma subjetiva elementos musicais como altura, duração, intensidade, timbre, andamento, movimento melódico, ritmo harmônico etc. Muitos destes elementos são direcionados pela própria regência. Conforme já citado na descrição dos ensaios, há também a preocupação em desenvolver a técnica vocal como meio de proporcionar uma prática vocal adequada que não traga prejuízo ao aparelho fonador, ao contrário, que torne o canto uma atividade cada vez mais possível. Ao trabalhar com um coral de idosas leigas em música nos deparamos com algumas peculiaridades que exigiram e exigem de nós uma metodologia específica que vai desde o cuidado como tamanho da fonte do texto até a forma de se relacionar com o grupo. A primeira situação é referente ao tamanho da fonte da letra das canções. Inicialmente não houve uma preocupação neste aspecto, assim começamos a notar que durante os ensaios algumas coristas não conseguiam acompanhar as músicas. Ao indagá-las se estavam sentindo alguma dificuldade, elas respondiam que sentiam ao enxergar a letra das músicas, o que nos levou a utilizar um tamanho de fonte maior, mas que ao mesmo tempo fosse apropriado para todos, ainda que a maioria das integrantes não apresentava esta dificuldade. Ainda com relação ao texto das canções é importante esclarecer que o coral nunca cantou com partituras, haja vista que a grande maioria das coralistas nunca estudou música e também não se mostrava entusiasmada em aprender a notação musical, pois em oportunidades esporádicas levamos algumas canções em partitura coral, mas o grupo apresentou dificuldade em acompanhar a música, assim, optamos por trabalhar apenas com as letras das canções. Durante os anos de 2005 a 2008 fizemos uso de uma pasta para organização das músicas, a iniciativa, porém, não foi positiva, pois se perdia muito tempo durante os ensaios para encontrar as folhas que, por algum motivo, estavam de lugar, algumas, a minoria, acabavam por misturar as folhas e a cada início do ensaio ou a cada mudança de música era necessário parar para reorganizar a ordem dos cânticos. Foi necessário, então, adotar o uso do caderno de cantos, uma estratégia que resolveu este problema. A ideia consistiu em fazer um caderno para cada missa com apenas os cantos na ordem de determinada apresentação além de capa e

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índice. Desta forma eu e minha mãe ficamos responsáveis por escolher os cantos, organizar o caderno, tirar as cópias e encadernar. A entrega dos cadernos é feita no início do ensaio e cada integrante assina uma lista comprovando o recebimento do material. Outra questão é a comunicação de determinada informação. É preciso estar atento à compreensão do grupo sobre o que se é explicado, evitando falar rapidamente e certificandose de que todos compreenderam, sem, no entanto, demonstrar preocupação demasiada. Ao falar, por exemplo, “agora vamos para o canto de comunhão” alguma coralista poderia abrir na página do canto pós-comunhão e logo surgiam comentários como “este canto eu não tenho!”. Ressaltaremos também que o cantar em coral representa para muitas delas algo maior do que a vontade de cantar ou de se apresentar. Durgante et al (2003) afirma que a religiosidade é um elemento fundamental para a qualidade de vida dos idosos, assim, a fé proporciona saúde e confiança contribuindo para o bem estar da terceira idade. Neste sentido, acreditamos que a fé aliada à música contribua ainda mais para este bem estar. Tal afirmação pode ser confirmada em nossa prática coral. Certa vez observamos uma coralista que, apesar da assiduidade, nem sempre cantava. Em um determinado dia, sem que perguntássemos coisa alguma ela se nos dirigiu e explicou que o coral para ela significava uma benção, pois muitas vezes, saia de casa preocupada ou triste com algo, mas ao sair do ensaio sentia-se muito melhor. Por sentir cansaço respiratório, às vezes, preferia não cantar, mas ia assim mesmo para o ensaio, só para ficar ouvindo as canções. No que diz respeito à escolha do repertório é preciso explicar que no início da formação do coral pedíamos para que cada coralista levasse para o ensaio sugestões de cantos. A iniciativa não foi bem sucedida, pois além de perdermos muito tempo com a escolha nunca se chegava a um denominador comum, então propomos para o grupo que a escolha dos cantos da missa ficasse a cargo de mim e de minha mãe, mas estaríamos abertas a outras sugestões e a opinião do coral. A proposta foi aceita e desta forma caminhamos até hoje. Na escolha dos cantos nos preocupamos com a liturgia, para que os cantos estejam de acordo com o tempo litúrgico proposto pela Igreja (Tempo do Advento-espera da vinda/nascimento de Jesus; Tempo de Natal; Tempo Comum; Tempo Quaresmal - caracterizado pela penitência e conversão; Paixão e Cristo-Semana Santa e o Tempo Pascal - o mais importante para os cristãos católicos pro celebrar a ressurreição de Cristo), além disso há também algumas datas especiais como Corpus Christi, festa de Santos etc. Para cada um destes tempos litúrgicos a Conferência dos Bispos do Brasil – CNBB, organiza os cânticos mais apropriados, cantos que abordem as características do período e que sejam musicalmente simples para que a

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Assembléia possa acompanhar cantando. Além da questão do tempo litúrgico que se está celebrando há também o momento litúrgico na celebração, assim, um cântico de ofertório deve falar sobre o oferecimento do pão e do vinho, enquanto que o canto de comunhão, por exemplo, explora o significado da eucaristia afirmando a presença real de Cristo vivo na hóstia consagrada. Todavia, apesar da preocupação da CNBB com estes aspectos, as comunidades acabaram por ignorar tais orientações e em poucas igrejas de Aracaju seguem os hinários litúrgicos propostos pela CNBB ou respeitam as regras da música litúrgica no Brasil (CNBB, 1999). Neste sentido o Coral Nossa Senhora Auxiliadora se distingue por valorizar os cantos litúrgicos, o que a princípio também contribuiu para com a antipatia de algumas pessoas da comunidade pelo coral. Apesar disso o coral manteve os cantos litúrgicos, porém, no intuito de evitar maiores transtornos, passou a mesclar também com cantos conhecidos da assembléia, o que auxiliou na melhor aceitação do coral e dos cantos novos. De modo especial o repertório do coral contempla em sua maioria músicas marianas por ser responsável pelas missas dedicadas a Nossa Senhora Auxiliadora. Apesar de introduzirmos em nosso repertório músicas não conhecidas, com o intuito de ampliar as possibilidades, as coristas nunca se mostraram conservadoras e, de um modo geral, sempre aceitaram bem as inovações. Ainda no que diz respeito ao repertório destacamos que é preciso estar atento ao estilo musical escolhido, por exemplo, em apresentações não litúrgicas. Músicas em ritmo de cirandas ou canções que resgatam sua mocidade e canções mais alegres (como elas denominam as músicas de andamento mais agitado) são sempre bem vindas. Quando introduzimos músicas em outros idiomas pela primeira vez, em virtude do aniversário do pároco de nacionalidade italiana, algumas coristas mostraram-se tensas em não conseguir aprender a letra e antes mesmo de tentar afirmavam que não seria possível cantar tal música. Além da conversa adotamos também, neste caso, a estratégia de trabalhar primeiramente a letra lentamente, de modo que a regente pronunciasse uma palavra ou uma pequena frase para o coral repeti-la, depois falavam coral e regente e em seguida apenas o coral. Somente depois que o coral se sentisse segura na pronuncia trabalhamos a melodia, num processo lento, mas bem sucedido. As mudanças ocorridas no processo de envelhecimento se expressam de diversas formas em nossa prática coral. Uma delas é o cansaço respiratório apresentado por algumas coristas, sobretudo aquelas com idade mais avançada. Neste caso exploramos os exercícios respiratórios e adotamos uma posição mais flexível quanto à respiração durante a música, exigindo apenas que esta parada para respiração não ocorra no meio de uma palavra. Há que se destacar também o cansaço físico. Algumas coristas sentem dificuldade de se manter de pé

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por um tempo mais prolongado (em média dez minutos). A dor nas pernas é um dos sintomas mais presentes neste caso. Adotamos então a estratégia de pedir para que o coro mantenha-se em pé em músicas intercaladas ou em trechos que exijam maior apoio e projeção. Mesmo sentadas enfatizamos a importância da postura correta com pés apoiados no chão e coluna reta. Também a diminuição nas funções de memória se manifesta em nossa prática na dificuldade de memorizar uma melodia ou o texto das músicas. Uma das coristas apresenta também demora em compreender algumas informações, dificuldade relacionada aos problemas cognitivos. Por isso é sempre necessário falar mais pausadamente e repetir algumas informações quando necessário. Aliás, a repetição é uma estratégia muito bem vinda neste caso. O trabalho com o Coral Nossa Sra. Auxiliadora durante esses seis anos nos fez observar o quanto o coral se desenvolveu musicalmente, sobretudo em alguns aspectos. Com relação à afinação pode-se dizer que esta nunca foi um problema para o grupo, a própria vivência musical proporcionada pelo coral, aliada à técnica vocal encarregou-se de melhorá-la, apesar disso trabalhamos sempre a necessidade de se ouvir e de ouvir o outro e exercitar o apoio. Sempre procuramos trabalhar em conjunto os problemas relacionados à afinação nos ensaios. Nunca foi possível marcar ensaio extraordinário para sanar dificuldades individuais devido à falta de tempo das coristas e da regente. Com relação ao andamento podemos afirmar que este foi um elemento que no início do coral causava problemas por dois motivos, primeiro a falta da vivência musical, segundo, muitas coralistas estavam demasiadamente presas a letra das músicas e não conseguiam olhar para as indicações da regente. Neste ponto, na tentativa de solucionar este problema, trabalhamos no sentido de induzir o coral a sentir o pulso da música, a estar atento às entradas da regente e ao acompanhamento do teclado que sempre marcava o andamento da música. Movimentos corporais também foram positivos de modo que propúnhamos ao grupo que se movimentasse durante a música procurando acentuar os passos nas sílabas fortes. Primeiro fazíamos sem cantar, depois cantando. Ainda hoje, quando necessário, utilizamos tal metodologia. É fato que quando ensaiamos sem acompanhamento instrumental e enfatizando que estejam atentos aos gestos da regente não só o andamento torna-se mais facilmente compreendido, mas também a musicalidade que envolve dinâmicas, fraseados melódicos e rítmicos etc. No que diz respeito à expressividade, esta foi sendo trabalhada aos poucos, também por meio dos sinais de regência, para isso era importante também compreender a proposta da

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música, assim, fomos induzindo-lhes a compreender que um canto de perdão, por exemplo, não deveria ser cantado da mesma forma que um canto de louvor e que era a voz a principal responsável por esta mudança de sentimento e expressividade. Outros dois elementos importantes são a altura/movimento melódico e o ritmo. Compreender o movimento melódico nem sempre foi tarefa fácil para o coral, apesar disso foi uma dificuldade rapidamente superada, muitas vezes trabalhada no ensaio com a movimentação do braço, assim, por meio da visão e da audição foi sendo compreendido quando o som era agudo ou grave e como deveria soar. Nos primeiros anos o ritmo apresentou também algumas dificuldades, sobretudo quando se tratavam de células rítmicas estranhas ao repertório musical das coristas. Durante os ensaios procurávamos trabalhar o ritmo junto à melodia, de modo mais lento, mas também separadamente. A compreensão da comunicação entre regente e coral nunca foi um grande problema para o grupo, pois a comunicação rapidamente aconteceu, tendo em vista que neste sentido os resultados foram, na maioria das vezes, satisfatório. Um dos elementos de maior dificuldade para o coral foi o ato de memorizar a letra das canções. Com o intuito de fazer com que algumas coristas olhassem mais para a regente sugerimos que decorassem ao menos o início de cada estrofe, mas neste sentido apresentavam grande dificuldade. Em controvérsia, a mesma dificuldade não se deu quando se tratava de decorar uma melodia, o que ocorria e ainda ocorre com mais facilidade. Talvez, a maior dificuldade do coral seja cantar a duas vozes, sobretudo se o movimento entre as vozes for muito diferente. Ao longo do tempo a dificuldade foi sendo vencida com a vivência musical e maior segurança, apesar disso, ainda hoje o coral apresenta problemas em manter a voz (linha melódica) sem se confundir com a melodia que está sendo cantada pelo outro naipe, de modo especial o naipe dos contraltos, no qual a melodia costuma não ser tão conhecida como a dos sopranos. Além disso, a voz do soprano, por ser mais aguda acaba soando mais forte que a dos contraltos, dificultando ainda mais o processo. Assim, procuramos equilibrar o volume sonoro entre ambos os naipes, de forma que os dois sejam audíveis, a menos que determinado trecho da música exija que um determinado naipe se sobressaia. Ostra estratégia que utilizamos consiste em a regente segurar a linha melódica dos sopranos e a assistente (sua mãe) segurar a linha a linha melódica dos contraltos, pois elas ainda sentem dificuldade em memorizar e manter uma linha melódica diferenciada. Desta forma, durante as apresentações a regente e a assistente cantavam com um microfone, cada uma, para que o grupo possua uma referência sonora. Atualmente a utilização do microfone da regente como apoio aos sopranos

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já não se faz mais tão necessária pois o naipe já possui maior segurança, todavia, os contraltos, se não tiverem um apoio, apresentam dificuldade em manter uma voz diferente da dos sopranos tendendo sempre a cantar a linha melódica do naipe vizinho uma oitava abaixo. No que se refere à técnica vocal destacaremos a respiração e apoio, a projeção vocal e a articulação. A respiração foi o primeiro elemento trabalhado com o coral por constituir-se também no elemento fundamental para o canto. Ainda durante o primeiro ano muitas coralistas não conseguiam realizar a respiração proposta (intercostal) e concentravam todo o ar na região torácica, dificultando assim o apoio e conseqüentemente a projeção vocal. Por meio dos exercícios respiratórios realizados sempre no início do ensaio o grupo foi compreendendo a respiração e aos poucos aderindo a sua prática. Como conseqüência da melhora da respiração melhorou também o apoio, também de fundamental importância para manter a voz afinada e bem projetada. Neste sentido trabalhamos também os momentos de respiração de cada música, conscientizando-as da ideia musical, para que esta não seja interrompida com uma parada para respiração. A projeção também se desenvolveu num período satisfatório, apesar disso, durante as apresentações, por conta da timidez e falta de segurança, o coral sempre tendia a cantar mais baixo, sem volume. Neste sentido passamos a fazer os últimos ensaios na igreja com a intenção de trabalhar a projeção em ambientes mais abertos, trabalhando também o músculo do diafragma e o abdome no auxílio da projeção, o que tem surtido bons resultados. No que se refere à articulação esta foi sendo desenvolvida ao longo dos ensaios, tanto por meio das próprias músicas quanto por alguns exercícios de trava-língua e por meio dos próprios vocalizes. Por meio da prática notamos também uma evolução na extensão vocal do grupo. Apesar disso é importante lembrar que não foi realizado nenhum estudo mais específico neste sentido. Assim, a partir da observação do grupo e de sua prática musical constatamos que houve um desenvolvimento musical, tanto no que diz respeito à técnica como em outros aspectos mais voltados à musicalização, caracterizando assim o canto coral como prática educativo musical. Diante dos elementos apresentados, apenas a memorização do texto e o cantar em duas vozes ainda apresentam dificuldade pelo grupo. Com o objetivo de coletar a opinião das coristas acerca da prática coral na qual estão inseridas elaboramos um questionário no modelo survey. Nove coristas participaram da pesquisa. Os resultados estão descritos a seguir:

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Com relação ao tempo que participam do coral seis coristas responderam fazer parte desde a fundação, uma respondeu fazer parte a 5 anos e duas entraram recentemente.



No que se refere ao estudo da música cinco responderam já ter estudado enquanto quatro nunca estudaram música.



Ao questionar se participavam de outro coral apenas uma respondeu afirmativamente, tendo entrado no outro coral há três meses.



Com relação às dificuldades que sentiam no início da prática coral as opções mais marcadas foram: dificuldade de cantar afinado, dificuldade de projetar a voz, dificuldade em memorizar a letra das canções e dificuldade de cantar em conjunto a duas vozes. Duas coralistas não apontaram nenhuma dificuldade.



Com relação aos aspectos que foram desenvolvidos com a prática coral os itens mais marcados foram andamento, afinação e memorização. Apenas uma pessoa marcou a opção respiração.



Quando indagadas sobre o motivo que as conduziu à prática coral todas foram unânimes em responder: o desejo de louvar a Deus por meio do canto, vindo em segundo lugar a vontade de cantar e em terceiro a vontade de estar em grupo.



Com relação ao repertório a maioria respondeu estar satisfeita com o repertório e com a forma como é escolhido. Apenas duas pessoas disseram estar satisfeitas com o repertório, mas gostariam de uma maior participação do grupo na escolha do mesmo.



No que diz respeito ao desenvolvimento musical do grupo todas responderam que o grupo se desenvolveu musicalmente nos últimos seis anos. Por fim elaboramos uma questão aberta com o intuito de saber o que o Coral Nossa

Senhora. Auxiliadora significava para cada uma delas. As respostas giraram todas em torno de ser algo muito bom e importante para elas. Duas respostas, porém nos chamaram a atenção pelos elementos abordados conforme podemos verificar abaixo: Significa muita coisa, sempre cantar, louvar a Deus, abre o pensamento de muita gente. Dá a oportunidade de cantar sempre, de louvar a Deus sempre. Eu penso que o coral abre a cabeça de muita gente, e também diverte muito! Eu acho muito importante (CORALISTA A). Significa alegrias, cantar para Nossa Senhora. Significa amor para com todos, acolhida a todos da professora muito amor (CORALISTA B).

A partir das respostas dadas pelas coralistas percebemos que a prática coral significa algo positivo para as mesmas. O fato de perceberem o desenvolvimento musical do grupo durante esses seis anos apontando os aspectos nos quais sentiam maior dificuldade no início

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do processo e que atualmente sentem ter melhorado demonstra que o coral tem amadurecido neste sentido e que adquiriu consciência sobre seu corpo e sua prática de canto. Consideramos o questionário muito positivo tanto por evidenciar que a opinião das coralistas está de acordo com a pesquisadora que observou o grupo enquanto participante durante esses seis anos, quanto por proporcionar uma reflexão crítica sobre a prática coral realizada neste grupo.

5. CONCLUSÃO

Ao estabelecermos um paralelo entre a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo constatamos que muitos dos aspectos abordados na bibliografia se fazem presentes também nesta prática. Assim, através deste estudo concluímos que o envelhecimento da população não é algo distante de nossa realidade. Ao contrário, está cada vez mais presente em nosso cotidiano e não só o envelhecimento, mas também o preconceito para com os idosos, que ainda hoje se faz presente, preconceito este que se manifestou inclusive na própria paróquia. Com relação ao estudo de caso observamos, por exemplo, que a presença de idosas nas pastorais da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora é predominante. A paróquia possui inclusive a Pastoral do Idoso no qual algumas integrantes do Coral fazem parte. Esta predominância da terceira idade também é notada no Coral Nossa Senhora Auxiliadora mesmo com a sua abertura para a participação de toda a comunidade. Ao tratarmos sobre o processo de envelhecimento em seus aspectos físicos, cognitivos e sociais, compreendemos que esta é uma fase de mudanças para o ser humano, apesar disso, tais mudanças não devem ser sinônimo de doenças e anormalidades. Devemos diferenciar o que é normal e o que é patológico. Assim, ao compararmos as informações obtidas por meio da pesquisa bibliográfica com a realidade do coral estudado, observamos que algumas das características próprias do envelhecimento se fazem também presentes entre as coralistas. No que diz respeito às alterações físicas, por exemplo, constatamos, por meio do questionário survey, que a maioria das coristas afirmou possuir alguma doença crônica. Dentre as doenças crônicas observadas durante a prática coral destacam-se a hipertensão arterial, diabetes, circulação e problemas respiratórios. É importante que o regente conheça a realidade de saúde de seu grupo para um melhor desempenho vocal sem que este traga algum transtorno à saúde do corista, uma vez que quando cantamos utilizamos todo o corpo o que nos permite afirmar que as alterações físicas interferem na prática coral e vice-versa. Ao observarmos o Coral Nossa Senhora Auxiliadora notamos os benefícios proporcionados por esta prática, sobretudo por conduzir as coralistas ao conhecimento de seu próprio corpo. Os exercícios de alongamento no início dos ensaios e a movimentação do corpo em algumas canções podem ser apontados como sendo importantes para manter a atividade corporal e maior liberdade de movimento e expressão.

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Outro aspecto estudado nesta pesquisa diz respeito às mudanças cognitivas na terceira idade. Nos primeiros anos do coral, por exemplo, deparamo-nos com uma dificuldade por parte das coralistas em memorizar as canções, tanto no que diz respeito à melodia quanto à letra. Também a compreensão de algumas informações acontecia de forma lenta sendo necessário repetir algumas vezes. A falta de concentração pode ser apontada como importante causador neste sentido. Apesar disso, ao considerarmos que muitas das coristas nunca haviam estudado música e que por conseqüência disto não estavam familiarizadas com o vocabulário musical, podemos considerar que a dificuldade de compreender determinadas informações estava dentro da normalidade. A contribuição da prática coral pode ser notada por meio da observação da regente/pesquisadora acerca da aprendizagem do repertório. No início das atividades, sobretudo entre os anos de 2005 e 2007, o prazo médio para preparação de uma missa era de três meses enquanto que no ano de 2010 este prazo diminuiu para um mês. Também por meio do questionário algumas coristas afirmaram ter sentido melhoras no aprendizado das canções. Ao compreendermos o canto coral como uma prática integradora e estimuladora da auto-estima, observamos que isto também ocorre no Coral Nossa Senhora Auxiliadora. Para as coralistas, o fato de estarem inseridas em um grupo e de poderem interferir no mesmo é bastante positivo. A integração entre as coralistas e a integração entre coralistas e regente possibilita a troca de experiências contribuindo também com o processo de ensinoaprendizagem. Também o fato de prestar um serviço à igreja que possibilita o louvor a Deus por meio do canto e o fato de levar uma mensagem de fé para outras pessoas, de modo especial à assembléia dos fiéis que se reúnem em torno do altar para a celebração eucarística contribui para manter a auto-estima em alta. O Coral Nossa Senhora Auxiliadora pode ser compreendido como uma prática musicalizadora uma vez que proporciona a vivência musical, a sensibilidade sonora, a expressividade e a apreensão de conhecimentos musicais. Podemos constatar que este coral desenvolveu-se musicalmente ao longo de sua existência, pois elementos como alturas e ritmos, dinâmicas, andamentos, formas e estilos são explorados atualmente com naturalidade e maior maturidade. Também a parte técnica foi beneficiada com a prática coral. O conhecimento prévio acerca das alterações fisiológicas no aparelho fonador do idoso foram de grande importância neste sentido, pois para um melhor desempenho vocal do grupo foi necessário conhecer as características vocais de cada coralista tais como naipe, extensão vocal, atenção ao processo

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de presbifonia etc. O desenvolvimento vocal do Coral Nossa Senhora Auxiliadora pode ser constatado por meio da observação da regente/pesquisadora (que tem trabalhado com o grupo desde sua fundação até o presente), das respostas obtidas pelo questionário e através das gravações das apresentações do coral. Assim, o presente trabalho nos mostrou que apesar de toda transformação que ocorre no envelhecimento, no que se refere ao Coral Nossa Senhora Auxiliadora, a terceira idade é uma fase marcada pela experiência de toda uma vida e está carregada de sonhos e de projetos até então adiados. Também com o Coral percebemos que a vontade de louvar a Deus aliada a prática do canto resulta em realização e desenvolvimento, seja no que diz respeito à música e suas técnicas, seja no que diz respeito ao crescimento humano. O coral canta por meio de suas canções a mensagem da perseverança, da alegria, da esperança e da força de vontade.

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ANEXOS 1 – QUESTIONÁRIO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE NÚCLEO DE MÚSICA

QUESTIONÁRIO SURVEY

1. Idade:________________________

A) Questões de cunho psico-social 1. Com quem mora? a) Sozinho(a) b) Com meus filhos c) Com meus filhos e netos d) Com parentes e) Outro 2. Qual seu estado civil? a) Casada b) Solteira c) Viúva d) Divorciada e) Outro 3. Tem participação financeira na renda familiar? a) Sim b) Não 4. Marque o item correspondente ao seu nível de escolaridade: a) Alfabetizado b) Primeiro grau c) Segundo grau d) Terceiro grau e) Nível técnico f) Pós graduação

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g) Não cursou ensino formal 5. Em que situação profissional encontra-se atualmente? a) Ativo(a) b) Aposentado c) Aposentado, mas continuo trabalhando 6. Se sua resposta à questão anterior foi APOSENTADO, responda que atividade (profissão) desempenhava antes da aposentadoria  O número de respostas é aberto R.________________________________________________________ 7. Participa de algum grupo da “Melhor idade”? a) Sim b) Não 8. Possui algum tipo de doença crônica? a) Sim b) Não 9. Ao realizar a prática coral sente algum dos sintomas citados nos itens abaixo?  Permitido mais de uma resposta a) Cansaço respiratório b) Cansaço físico c) Dificuldade de memorização d) Dores de garganta e) Dores em outras áreas do corpo f) Rouquidão B) Questões relacionadas à prática coral 1. Há quanto tempo participa do Coral Nossa Senhora Auxiliadora? R._________________________ 2. Qual (is) motivo(s) lhe impulsionaram a participar deste Coral?  Permitido mais de uma resposta a) Curiosidade b) Desejo de cantar c) Desejo de louvar a Deus através do canto d) Vontade de estar em grupo e) Vontade de estar inserido em algum serviço da paróquia f) Nenhuma das respostas anteriores 3. Já estudou música?

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a) Sim

b) Não

4. Participa de algum outro Coral? Por quanto tempo? a) Sim ___________________________ b) Não 5. Considerando os itens abaixo marque aquele (s) que correspondem à (s) dificuldade (s) que mais sentia no início de sua prática coral a) Dificuldade de cantar afinado b) Dificuldade de respirar c) Dificuldade de apoio (respiração) d) Dificuldade de projetar a voz (coloca a voz de forma que ao ressoar tenha um bom volume e boa qualidade) e) Dificuldade de articular corretamente as palavras f) Dificuldade de compreender os sinais do (a) regente g) Dificuldade de memorizar a letra das canções h) Dificuldade em realizar a expressão musical (dinâmicas) i) Dificuldade e manter o andamento da música j) Dificuldade de cantar em conjunto em uníssono k) Dificuldade de cantar em conjunto com vozes (linhas melódicas) diferentes 6. Observe os itens a seguir e marque aquele(s) que corresponde (m) aos aspectos nos quais você sente ter melhorado ao longo de sua prática coral: a) Respiração b) Projeção (volume) c) Afinação d) Articulação e) Compreensão dos sinais de regência f) Cantar em uníssono g) Cantar com mais de uma voz h) Andamento i) Memorização das letras das canções j) Expressão Musical 7. Considerando que o repertório é escolhido pela regente, sendo também aceitas sugestões por parte das coralistas marque a alternativa correspondente a sua resposta: a) Estou satisfeita com a escolha do repertório, mas gostaria que houvesse maior participação do grupo. b) Estou satisfeita com a escolha do repertório e coma forma como ele é escolhido. c) Não estou satisfeita com o repertório, nem com a forma como as musicas são escolhidas

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8. Na sua opinião o Coral Nossa Senhora Auxiliadora tem melhorado musicalmente ao longo de sua existência? a) Sim b) Não 9. O que o Coral Nossa Senhora Auxiliadora significa para você? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ______________________________________

OBRIGADA!

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2 – FOTOS

Figura 7: Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora (2009)

Figura 8: Chá beneficente em prol do coral (2005)

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Figura 9: Celebração Eucarística mensal em honra a Nossa Senhora Auxiliadora (2007)

Figura 10: Missa e Cantata de Natal (2008)

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Figura 11: Missa e Cantata de Natal (2008)

Figura 12: Missa do Novenário da Festa de Nossa Senhora Auxiliadora (23 de maio de 2011)

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3 – RECORTES DE JORNAL

Figura 13: Foto do Primeiro Aniversário do Coral Nossa Senhora Auxiliadora no Jornal Avante (2005)

Figura 14: Nota sobre o Coral no Jornal Avante (2008)

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Figura 15: Foto do Coral no Asilo SAME (dezembro de 2006) Jornal Avante

Figura 16: Nota do Coral ADMA no Jornal Avante (2006)

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4– LIVRO

Figura 17: Capa do livro em homenagem ao terceiro aniversário do Coral (2008)

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Figura 18: Contra capa do livro em homenagem ao Coral (2008)

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5 – PARTITURAS

Figura 19: Partitura de Na Festa da Vida extraída do Álbum Cantando Louvor à Maria

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Figura 20: Primeira página da partitura da música Va Pensiero do compositor Giuseppe Verdi

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Figura 21: Partitura de O Primeiro Natal que parte do repertório Cantata de Natal

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Figura 22: Partitura do Santo extraída do hinário Festas Litúrgicas I

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