Monografia Alan Rafael de Medeiros - Graduação em Licenciatura em Música (UFPR - 2007)

May 29, 2017 | Autor: A. Rafael de Mede... | Categoria: Musicology, Guitar, Dilermando Reis, Brazilian Guitar
Share Embed


Descrição do Produto

ALAN RAFAEL DE MEDEIROS

SUA MAJESTADE, O VIOLONISTA E COMPOSITOR DILERMANDO REIS (1916-1977)

CURITIBA 2007

1

ALAN RAFAEL DE MEDEIROS

SUA MAJESTADE, O VIOLONISTA E COMPOSITOR DILERMANDO REIS (1916-1977)

Monografia apresentada à disciplina de Trabalho de Graduação II como requisito parcial para conclusão do curso de Música – Licenciatura da Universidade Federal do Paraná - UFPR. Orientador: Prof. Dr. Álvaro Carlini

CURITIBA 2007

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a meus pais, João e Maria, que apoiaram minha decisão em cursar a faculdade de Música, e em nenhum momento duvidaram do meu potencial. Ao meu orientador, professor e musicólogo Dr. Álvaro Carlini, lhe sou grato por vários motivos. Primeiramente lhe agradeço por aceitar o desafio de comigo trilhar por escassas fontes referenciais em busca de uma concisa biografia. Agradeço pelo incentivo e sinceridade, por sua atuação decisiva na instigação do material elaborado para um melhor resultado final, ou como ele mesmo denomina, o conhecido “pentear o texto”. Agradeço-lhe pelas agradáveis tardes de orientação, regadas a muito café e casos engraçados, fazendo este processo de orientação parecer mais uma reunião entre amigos. E principalmente, lhe sou grato por ter vivenciado comigo este processo acadêmico valioso, ensinando através de sua ética e de sua convicção a importância de ser verdadeiro e transparente na vida. Agradeço à professora, musicóloga e violonista Márcia Taborda, pela disposição em ceder seus artigos, pela simpatia e disponibilidade, se mostrando prestativa

e

acessível,

respondendo

sempre

às

minhas

dúvidas.

Pelas

oportunidades e pela credibilidade. Ao

violonista

e

pesquisador

Alessandro

Cordeiro

da

UFG,

pela

disponibilização de sua tese de mestrado, pela prestatividade e interesse na divulgação de Dilermando Reis. Ao seu orientador, professor e violonista Eduardo Meirinhos, pela prestatividade, sem o qual não conseguiria contatar o Alessandro. À pesquisadora e historiadora Ana Paula Peters, cujos trabalhos auxiliaram em muito na compreensão do contexto social, pela sua prestatividade, amizade e pelo interesse para com o tema. Ao professor e violonista Cláudio Fernandes, pela disponibilização de discos do compositor. Ao violonista e pesquisador norte americano David Jerome, pela atenção e simpatia, amizade e preocupação para com a divulgação do violão brasileiro de Dilermando Reis. Seu trabalho ajudou em muito na compreensão da técnica do violonista, e suas edições de partituras serviram como base de escolha das peças contidas no compêndio musical. Pela resolução de minhas dúvidas e auxilio na ampliação dos anexos.

Ao violonista carioca Genésio Nogueira, pelo pioneirismo de escrever a única biografia brasileira sobre Dilermando Reis. Agradeço à família de Dilermando Reis, Érika Carelli, Wanderley Carelli Reis, Erasto Reis, pela prestatividade e compromisso para com a memória de Dilermando Reis. Por facilitarem o acesso aos materiais e documentos que foram muito úteis na concretização e conclusão desta monografia. Ao meu irmão Eduardo Medeiros pelo interesse no trabalho e pelo auxilio nas traduções, aos amigos Sidney Basílio e Priscila Paglia por colaborarem na reunião de partituras do compositor. Agradeço à Anna Klamas, pois mais que minha companheira, foi indiretamente co-orientadora desta monografia. Ao seu companheirismo e credibilidade, seus cuidados que sempre vieram em meu socorro nos momentos de crise e “leve desespero”, causados pelo excesso de preocupação desta fase da Graduação. Pelas suas palavras de carinho, conforto e incentivo, pela sua atenção, por contribuir em muito na metodologia e nas cansativas revisões de texto. Obrigado Anna, pelo que é e pelo que significa em minha vida. Agradeço a Deus, que nos deu Sabedoria e a capacidade de superação dos limites. Pelo conforto e capacitação no caminho ao qual fui guiado. A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a feição deste trabalho, o meu sincero muito obrigado.

“É quase impossível escrever bem para a guitarra sem sabê-la executar” Hector Berlioz – Século XIX

QUADRO DE TABELAS E ILUSTRAÇÕES

página Anexo 1 Discografia de Dilermando Reis..........................................................

49

Anexo 2 Catálogo de composições de Dilermando Reis...................................

49

Anexo 3 Parcerias de Dilermando Reis interpretadas por cantores..................

49

Anexo 4 Primeira foto profissional de Dilermando Reis.....................................

49

Anexo 5 Foto de Dilermando Reis nos estúdios da Rádio Clube do Brasil, por volta de 1940..................................................................................................

49

Anexo 6 Foto mais conhecida do público na década de 1950..........................

49

Anexo 7 Última foto registrada do violonista, década de 1970..........................

49

Anexo 8 Recortes de jornal com apreciações sobre o músico..........................

49

Anexo 9 Compêndio musical brevemente comentado......................................

49

RESUMO

Dilermando Reis (1916-1977), violonista e compositor, foi um personagem ímpar na história do violão brasileiro: adquiriu sucesso como intérprete e compositor de larga aceitação pela sociedade brasileira, divulgando seu nome em paralelo à música. Foi desde a infância incentivado e influenciado musicalmente pela linguagem popular do instrumento, adotando, deste modo, uma interpretação que explorou tais recursos, ao mesmo tempo em que continha nítidos traços de erudição. Sua extensa obra para violão é reflexo de um período de aceitação e expectativa sobre o material musical produzido no Brasil, através do desenvolvimento dos processos de gravação, do desenvolvimento econômico brasileiro e da profissionalização possibilitada pelo Rádio, no qual atuou grande parte de sua carreira. Em concordância com suas gravações, foi um dos grandes responsáveis no século XX pela disseminação do violão no Brasil e pela divulgação do repertório de caráter popular. Foi um dos ícones do violão brasileiro, influenciando toda a geração seguinte de violonistas.

ABSTRACT

Dilermando Reis (1916-1977), guitarist and composer, was a special figure in the history of the Brazilian guitar: he achieved success as an interpreter and composer of wide acceptance in the Brazilian society, spreading his name in parallel to his music. Since his infancy, he was stimulated and musically influenced by the popular language of the instrument, and adopting, in this way, the interpretation that explored such resources and at the same time that contained clear traces of erudition. His extensive workmanship for guitar reflects a period of acceptance and expectation concerning the musical material produced in Brazil. It was done through the development of recording processes as well as the Brazilian economic development and the professionalism brought by the Radio, where he worked many years. In agreement with his recordings, he was one of the most important figures in the dissemination of the guitar in Brazil and the spreading of the popular repertoire in the 20th century. A true icon of the Brazilian guitar, he influenced generations of guitar players.

SUMÁRIO

QUADRO DE TABELAS E ILUSTRAÇÕES.........................................................

05

RESUMO................................................................................................................

06

ABSTRACT............................................................................................................

07

INTRODUÇÃO.......................................................................................................

09

2 DILERMANDO REIS: A INFÂNCIA NA CIDADE DE GUARATINGUETÁ........

11

2.1 O “abrasileiramento” dos gêneros musicais.....................................................

13

2.2 O violão no início do século XX; antecessores de Dilermando Reis................

16

2.3 A aquisição do repertório musical de Dilermando Reis....................................

22

2.4 Levino Albano da Conceição e sua influência sobre Dilermando Reis............

23

3. A VIDA DO VIOLONISTA NA CAPITAL DA REPÚBLICA...............................

26

3.1 Dilermando Reis professor...............................................................................

26

3.2 Dilermando Reis e o Rádio..............................................................................

29

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................

36

4.1 Dilermando Reis e seu legado.........................................................................

36

4.2 O intérprete e compositor.................................................................................

37

REFERÊNCIAS......................................................................................................

42

APÊNDICE: Discografia.........................................................................................

45

ANEXOS................................................................................................................

49

9

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho visa a resgatar a importância de Dilermando Reis (1916-1977) tanto para a produção musical de seu tempo, quanto para a divulgação do violão. A autenticidade das suas composições musicais é oriunda de uma realidade sócio-cultural específica aliada ao seu contato com o repertório disseminado e conhecido da época, o que foi um fator decisivo na linguagem violonística utilizada pelo compositor, sendo considerado assim um dos pioneiros na construção e afirmação do caráter brasileiro deste instrumento. Tendo em vista a escassez de estudos sobre sua vida e obra, este trabalho se justifica pelo fato de contribuir para o incremento da literatura violonística e possibilitar, através do mapeamento histórico a que se pretende, o aprofundamento do tema para futuras pesquisas científicas. Neste ano de 2007, em que se completam 30 anos de seu falecimento, espera-se incentivar na comunidade de violonistas o interesse pela discografia de Dilermando Reis, facilitando o acesso à sua obra e conseqüentemente motivando sua posterior reprodução musical. No primeiro capítulo deste trabalho, após localizar geograficamente o personagem da análise, estabeleceu-se como foco principal a abordagem do estilo musical que passou a ser adotado por toda uma geração de músicos no início do século XX, que, no campo do violão, foi representado pelos pioneiros do instrumento, cujo reflexo notoriamente incidiu em Dilermando Reis, na linguagem que ele posteriormente ajudou a disseminar. São tratados na seqüência do trabalho, a partir do panorama histórico levantado, as questões pertinentes à realidade social de Dilermando, bem como a influência que seu professor Levino Albano da Conceição exerceu sobre o mesmo. No capítulo seguinte, inicia-se o recorte biográfico deste músico, a partir de sua chegada à então capital federal do Brasil, Rio de Janeiro, fator central para a concretização do êxito profissional de Dilermando. Suas atividades no campo da educação violonística, sua atuação nas emissoras de rádio e nos estúdios de gravação foram fatores imprescindíveis para a divulgação e aceitação de sua obra, bem como para afirmação do violonista como compositor. Na conclusão do trabalho, deu-se maior atenção à importância de Dilermando Reis para a geração subseqüente de violonistas, como divulgador e responsável

10

pela aceitação do violão nas diversas camadas da sociedade brasileira. Apesar de todos os seus esforços, Dilermando foi criticado pela escola violonística vigente, retirando o músico das salas de concerto e do meio musical da época. A seção de anexos apresenta a relação discográfica completa e a lista das composições de Dilermando, visando a sistematizar um catálogo para futuras consultas, bem como facilitar o acesso à obra do violonista. Incluíram-se também algumas fotos importantes do músico e um compêndio elaborado com obras historicamente significativas na sua trajetória, seja por particularidades técnicas ou por sua importância na consagração de Dilermando Reis como instrumentista. O apêndice Discografia traz alguns fatos relacionados à atuação de Dilermando Reis nos estúdios de gravação, o tipo de acompanhamento ao qual recorreu em muitos de seus discos e alguns eventos ocorridos neste meio de atuação do violonista. O levantamento bibliográfico utilizado para a realização deste trabalho teve como base pesquisas realizadas no campo do violão popular brasileiro. É importante ressaltar que o material pertinente ao tema é bastante escasso sendo que a única biografia publicada sobre o personagem analisado veio auxiliar também na busca por informações contidas em fontes externas a ela. A utilização de alguns dos programas de rádio do violonista Fábio Zanon, mesmo sabendo-se não constituir fonte de cunho acadêmico, foi trazida ao contexto por tecer breves análises acerca da técnica interpretativa de Dilermando Reis, que auxiliada pela falta de estudos sobre o músico, transformaram-na em uma fonte de pesquisa, ainda que não legítima. Incluiu-se três de seus programas nas referências bibliográficas devido a sua veracidade e importância para este trabalho.

11

2 DILERMANDO REIS: A INFÂNCIA NA CIDADE DE GUARATINGUETÁ.

A cidade de Guaratinguetá privilegiou-se pela sua localização no Vale do Paraíba (centro do impulso cafeeiro nacional), e em conseqüência da riqueza do café no século XIX se expandiu demograficamente principalmente pela necessidade de mão-de-obra nos campos. Após a abolição da escravatura (1888), a chegada dos imigrantes para atuação no campo substituiu o antigo sistema de trabalho, assim como a evolução industrial brasileira dada no início do século XX, também contribuiu para com a diversificação da estruturação social. O quinto presidente da república do Brasil, Francisco Rodrigues Alves era natural de Guaratinguetá, e sua eleição trouxe uma série de benefícios à cidade. Situada entre a capital paulista e a Capital Federal Rio de Janeiro, foi também beneficiada por esta localização com a ferrovia que cortava a cidade e ligava as duas potências brasileiras. Nesse contexto de desenvolvimento sócio-cultural é que nasceu na cidade de Guaratinguetá, em 22 de setembro de 1916 Dilermando dos Santos Reis, o terceiro de um total de dez irmãos. Dentre eles, dois também tocavam violão. Chico (Francisco dos Santos Reis, pai de Dilermando, 1877-1954) era também violonista amador e foi o primeiro professor do filho. Logo após a iniciação no aprendizado violonístico, o garoto foi encaminhado ao professor Lauro Santos, que dirigia um grupo carnavalesco no qual Dilermando fez parte. “Naquela época, [Lauro Santos] era considerado o melhor professor de violão de Guará” (NOGUEIRA, 2000, p.21). O garoto teve como professores de teoria Bomfiglio de Oliveira 1 e o músico e maestro Benedito Cipolli (1896–1959). Cipolli era compositor e flautista, assim como conhecedor do violão, e após um período de contato com o jovem violonista, declarou: "Você está pronto para seguir uma brilhante carreira"2. Dilermando abandonou a escola aos quinze anos de idade, pois a dedicação do adolescente à sua evolução musical passou a afetar seu desempenho nos estudos. Nesse período, sua interpretação musical começou a se destacar pela clareza e particularidades interpretativas, tanto que “(...) com quinze anos de idade, já era considerado o melhor violonista de Guará” (NOGUEIRA, op.cit, p.23). Este 1 2

Pistonista nascido em Guaratinguetá (1890-1940), que tocou em um dos conjuntos de Pixinguinha.

Benedito de França Cipolli, vida e obra. Acesso em: 18.mai.2007.

Disponível

em:

12

reconhecimento está ligado também à divulgação feita por seu pai que mostrava o filho violonista à vizinhança e levava-o às noites de serestas em Guaratinguetá. Devido à precariedade de meios para a divulgação dos acontecimentos importantes que ocorriam, característica das localidades periféricas em relação aos grandes centros urbanos da época, a fama pessoal era alcançada através da atuação em grandes eventos realizados nas cidades. Os chorões mais bem dotados firmavam desde o século XIX a sua fama nessas festas particulares de maior nomeada correndo a notícia do seu virtuosismo de boca em boca, até firmar-se no consenso da população o seu conceito de grandes tocadores (TINHORÃO, 1998, p.198).

Nesse ambiente de disseminação das qualidades musicais do jovem Dilermando Reis como violonista em Guaratinguetá é que ele foi apresentado ao concertista Levino Albano da Conceição, que realizava recitais na cidade. Dilermando iniciou sua vida profissional como músico, e também o caminho para seu êxito no Brasil como violonista solista a partir desta interação. A relação entre os dois será abordada no capítulo Levino Albano da Conceição e sua influência sobre Dilermando Reis. Conforme

abordado

anteriormente,

a

localização

geográfica

de

Guaratinguetá, cidade na qual Dilermando Reis iniciou e desenvolveu seus conhecimentos musicais, está situada entre as capitais dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Tais cidades eram no início do século XX os principais centros brasileiros do desenvolvimento violonístico, fato que pode ser percebido pelo destaque adquirido pelos instrumentistas que atuaram nestas cidades. Enquanto que em São Paulo a tradição violonística estava mais voltada para o campo das modinhas3 e serestas4, no Rio de Janeiro o choro5 era predominante. Dilermando Reis, portanto, através do seu contato com as distintas correntes locais, participou das noites de serestas paulistas durante a juventude, assim como integrou

3

Segundo Castagna [S.l.: s.n., 199-], modinha seria “(...) um tipo genérico de canção séria de salão, que incluía cantigas, romances e outras formas poéticas, compostas por músicos de alta posição profissional. (...) uma prática musical doméstica ou de salão destinada a um entretenimento mais leve e menos erudito que aquele proporcionado pela ópera e pela música religiosa”.

4

Gênero musical associado ao canto com acompanhamento (comumente o violão). Conforme Luciano Gallet (apud Pires, 1995, p.8) “(...) a seresta era o choro enquanto evento, com formação instrumental igual ou diversa acompanhando um cantor solista popular”.

13

posteriormente rodas de choros e conjuntos regionais na então capital federal Rio de Janeiro, transitando portanto nos dois centros. Tanto o repertório incorporado quanto a técnica adotada por Dilermando Reis ao longo de sua carreira violonística são oriundos de um período anterior ao seu desenvolvimento musical. Para uma melhor compreensão desta análise, inicia-se nos dois próximos capítulos uma breve abordagem sobre a adaptação e reutilização dos estilos musicais no Brasil, bem como a apresentação dos principais personagens que contribuíram para o desenvolvimento do violão no país. 2.1 O “abrasileiramento” dos gêneros musicais.

Para se precisar o termo música popular no âmbito da cultura brasileira, fazse necessário entender que ela está "(...) intimamente relacionada à estrutura social que a acolheu nos diversos períodos da nossa história" (TABORDA, 2003). Nesse sentido, a contextualização social é importante para a compreensão das características musicais que passaram a ser adotadas em um determinado momento histórico. Segundo aponta Mário de Andrade apud Taborda (2003) "já nas vésperas da Independência, que um povo nacional vai se delineando musicalmente, e certas formas e constâncias brasileiras principiam se tradicionalizando na comunidade, com o lundu, a modinha, a sincopação". Tendo como objeto de estudo o período que compreende a incorporação de elementos (gêneros) musicais específicos oriundos da Europa (as polcas, schottisches, valsas, mazurcas, que foram as principais formas musicais adotadas pelo violonista analisado) bem como a sua "nacionalização", ou seja, a atribuição de uma roupagem estética de caráter nacional, partindo da prática, é importante verificar a origem tanto social quanto musical desta incorporação no país. No Brasil, é possível acompanhar este processo iniciado a partir da segunda metade do século XIX que implicou no surgimento do gênero Choro, primeiro como denominação da festa onde se tocava o repertório, depois formação instrumental e maneira de tocar e posteriormente como gênero musical em si, perdurando até praticamente os trinta anos do século seguinte. Em conseqüência desta somatória

5

Abordado no capítulo O “abrasileiramento” dos gêneros musicais deste trabalho.

14

de fatores, foi a maior escola de formação de instrumentistas do período, e culminou na atuação profissional de grande parte deles no Rádio. Com o notável desenvolvimento nacional proporcionado pela valorização do café, na segunda metade do século XIX, fator responsável pelo salto de modernização e melhorias na qualidade de vida da então capital do Império, tem-se a classe média, um novo estrato social que emergiu em meio aos benefícios do desenvolvimento, dentre eles: a iluminação da cidade a gás, sistema de saneamento, instalação de telefones a partir de 1877 até o ano de 1879, quando a capital teve a "(...) primeira experiência com a luz elétrica". (TINHORÃO, 1998, p.194). Tal estrato veio atuar nas diversas profissões surgidas a partir deste processo de emancipação brasileira, que se deu devido à ampliação das fábricas, proliferação dos serviços públicos e instalação de empresas estrangeiras. Justamente pela expansão profissional recém-oferecida, foi da diversificação trabalhista que surgiram os novos músicos instrumentistas, atuando como "(...) funcionários públicos federais, principalmente da Alfândega, Central do Brasil, Tesouro, Casa da Moeda dos Correios e Telégrafos; servidores municipais, trabalhando em cargos como os de guarda municipal a funcionários da Light" (TABORDA, 2004). A distinção de classes que passou a existir (antes limitada a senhores e escravos), impôs às camadas sociais brasileiras a definição de seus gostos e interesses, sendo que a delimitação das mesmas é justificada por diversos fatores, dentre eles o ambiente freqüentado por uma ou outra classe, o corte de vestido mais ou menos adequado, e é claro, pela adoção de certas correntes culturais (invariavelmente importadas), que no campo musical resultou preferencialmente na escolha do repertório de gêneros europeus como valsas, polcas, mazurcas, schottisches, então tradição dos salões. Segundo Peters (2005, p.58), o surgimento do Choro se deu em reflexo da "(...) diversidade cultural, étnica e sócio-econômica das cidades, onde os gêneros musicais europeus da moda estavam presentes". Há aqui um contraste a ser observado, enquanto os estratos sociais de maior poder aquisitivo consumiam o que vinha de fora, mostrando a inexperiência de um grupo em ascensão, sem identidade própria que se espelhava nos pares estrangeiros, a classe proletária realizava o fenômeno de aculturação 6 daqueles 6

Para melhor exemplificar este fenômeno, podemos por analogia citar Roberto DaMatta em seu artigo intitulado Globalização e Identidade Nacional: Considerações a partir da Experiência Brasileira. In:

15

mesmos elementos culturais. Ou seja, trata-se de um "(...) processo de transformação em gêneros locais e nacionais". (ibid, p.58) Ora, se se considera que, por essa mesma época, as camadas mais baixas se aplicavam vigorosamente pelos terreiros retumbantes umbigadas nacionais, enquanto nas festas de adro a música dos negros barbeiros baianos e cariocas anunciava com seu "ritmo de senzala" o futuro "estilo choro" com que brancos e mulatos da baixa classe média daqueles mesmos anos de Oitocentos nacionalizavam valsas, polcas e mazurcas - pode compreender-se que a cultura popular urbana - assim divididas em classes reservava para o povo miúdo as criações autênticas, e para as classes média e alta o mero consumo das modas importadas (TINHORÃO, 1998, p.210).

Foi necessário à mais nova camada proletária brasileira "(...) criar formas próprias de participação" (ibid, p.195), e enquanto uns poucos melhor empregados tentavam se espelhar na alta burguesia e em suas atividades culturais, a grande maioria acabou por cultivar gosto pela reunião em casas de família, resumidas a comes e bebes embalados ao som das "(...) valsas, polcas, schottisches e mazurcas à base de flauta, violão e cavaquinho". (ibid, p.195). Não demoraria muito para a elite nacional criticar tal evento, denominando de maneira depreciativa as reuniões, utilizando muitas vezes os termos forrobodó, maxixe ou chinfrim. Em um tempo que ainda não aparecera, nem o disco nem o rádio, os conjuntos de tocadores de flauta, violão e cavaquinho constituíam, pois, as orquestras dos pobres que podiam contar com um mínimo de disponibilidade financeira para encarar as despesas das festas (ibid, p.200).

Foi nesse mosaico montado a partir das interações sócio-culturais resultantes do florescimento tardio da estrutura econômica brasileira, e na desigualdade proporcionada pela ascensão da classe média que passou a buscar formas novas de lazer urbano (que ela mesma criou), em relação à tradicional elite, que a sociedade presenciou o nascimento do gênero conhecido como Choro, nome que

Pluralismo cultural, identidade e globalização/ Cândido Mendes (coordenador); Luiz Eduardo Soares (editor). Rio de Janeiro: Record, 2001. Segundo DaMatta a aculturação se refere ao modo pelo qual um certo dado ou entidade cultural vindo de fora é reinterpretado por um sistema. E, no processo, como seu significado pode mudar porque ele pode ser redefinido em termos da cultura local. Uma leitura ingênua da globalização dirá: "x" é bom porque vem de fora; é bom porque funciona na sociedade A ou B; é bom porque é mais racional, civilizado, adiantado, desenvolvido, moderno etc. Já uma visão menos inocente (ou interessada) sabe que entidades culturais são reinterpretadas em sociedades diferentes, nas quais ganham novas funções, adquirem novos papéis e assumem novos significados.

16

"(...) serviu inicialmente para designar o jeito choroso de se tocar o repertório de músicas estrangeiras que desembarcavam no Brasil durante o final do Século XIX"7. A música dos chorões perdurou até o início da década de 1920, quando o efeito pós-guerra apresentou possibilidades de um “novo mundo”, trazendo ao país as tendências musicais estrangeiras (os foxs, as rumbas, ao som das jazz bands) que voltam a se tornar referência, fazendo lembrar o processo de apropriação musical realizada cinqüenta anos antes. A música popular carioca, produzida nas três primeiras metades do século XX, trazia a marca de uma autenticidade cultural, verdadeira reserva da nacionalidade e da identidade popular urbana, que, na visão deles, era ameaçada pelo artificialismo comercial e pelos gêneros híbridos que dominavam o rádio (boleros, sambas jazzificados, rumbas e marchas carnavalescas de fácil aceitação popular) (NAPOLITANO apud PETERS, 2006, p.147).

A partir deste processo, o Choro passou a ser encarado como ultrapassado, mas a música brasileira já havia sido incrustada dos caracteres chorosos. Os elementos deste gênero continuaram a serem utilizados pelos músicos que surgiram, constituindo esta a maior herança do Choro, a apropriação de uma roupagem de características extremamente brasileiras no tratamento das melodias, dos ritmos, e das harmonias em relação aos gêneros que vinham de fora do país.

2.2 O violão no início do século XX; antecessores de Dilermando Reis. Um dos aspectos mais interessantes da música brasileira no século XX, é a evolução de um violão despretensioso e marginalizado, para o instrumento mais utilizado na música erudita ou popular, em qualquer classe social, como acompanhador ou solista. Esse fenômeno ocorreu com uma rapidez tão grande, que os movimentos anteriores foram sendo esquecidos, à medida que se alcançava uma nova etapa. Hoje, o maior desafio que se apresenta ao violão brasileiro é a pesquisa e organização do seu repertório, 8 o levantamento dos principais violonistas e a recuperação de sua história .

Acredita-se que o violão tal como o conhecemos tenha chegado ao Rio de Janeiro (capital do então Império) nas primeiras décadas do século XIX, pelas mãos dos imigrantes europeus que aqui desembarcaram, junto à família real portuguesa.

7

Revista eletrônica de Musicologia volume VIII, dezembro de 2004. Acesso em 14.mar.2007.

8

CASTAGNA; ANTUNES, 1994, p.37.

Disponível

em:

17

As oficinas de impressão musical auxiliaram a divulgação do instrumento, lançando materiais para execução violonística. Após as primeiras investidas na disseminação do violão, professores do instrumento passaram a se estabelecer na capital, ampliando sua divulgação. Até o século seguinte, o violão foi freqüentemente associado à base harmônica, seja nos grupos de choro, seja no acompanhamento da voz. A revista O Violão (Rio de Janeiro-1929), apresenta Clementino Lisboa como sendo o primeiro violonista solista a se apresentar na capital federal Rio de Janeiro, "especialmente no Clube Mozart, centro musical da elite carioca" (DUDEQUE, 1994, p.101). As primeiras tentativas de elevar o violão à categoria de instrumento sério não foram bem sucedidas, tamanha era a associação deste à boemia. Dois eventos, ambos em São Paulo, mobilizaram a sociedade e a imprensa no ano de 1916: o recital do célebre violonista paraguaio Agustin Barrios9, em agosto no salão nobre do edifício do Jornal do Comércio, e a apresentação do paulista Américo Jacomino, o Canhoto (1889-1928), no salão nobre do Conservatório Dramático Musical, resultando em grande êxito e contribuindo para um novo olhar crítico sobre o instrumento. Canhoto pode ser considerado um dos primeiros violonistas importantes da história do violão brasileiro, pela linguagem instrumental que adotou e pela influência exercida para a geração posterior de instrumentistas da qual faz parte Dilermando Reis. "(...) Canhoto tinha uma tonalidade penetrante, fraseado expressivo e um vibratto intenso (...)"10. Sua inspiração romântica na composição e execução de valsas, simboliza a presença chorosa na feitura das peças características dos salões europeus, utilizada em grande escala pelos pioneiros do instrumento. Este é um dos maiores méritos de Canhoto, ele é um dos artistas formativos de um estilo brasileiro de compor e de interpretar. A sua maneira absolutamente delirante de interpretar valsas, com uma liberdade alucinada de fraseado e vibratos chorosos, teriam uma grande influência na geração seguinte de instrumentistas (ZANON, 2006).

9

Violonista e compositor paraguiao (1885-1944), compôs mais de 300 obras para violão “(...) algumas são consagradas, como La Catedral, Choro da Saudade (...) além de várias valsas, e que na sua maioria apresentam uma refinada linguagem harmônica” (DUDEQUE, 1994, p.99). Realizou vários concertos no Brasil, tendo residido no país devido ao sucesso alcançado.

10

(JEROME, 2005, p 7): “Canhoto had a penetrating tone, fluid, expressive phrasing, and an intense vibrato (…)” (Tradução de Eduardo Medeiros).

18

Dilermando Reis foi responsável pela aceitação nacional da obra de Canhoto conhecida como Abismo de Rosas, sendo considerada "(...) uma das mais célebres gravações de toda a história da música instrumental brasileira" (ZANON, 2006), na gravação feita em seu LP de 1961, com o nome da valsa. Após o sucesso e aceitação dos dois concertistas supra mencionados, no ano seguinte Josefina Robledo (1892-1972), aluna de Francisco Tárrega, fez apresentações no Brasil, especialmente em São Paulo em agosto de 1917. Entretanto a grande contribuição de Josefina seria a disseminação da escola moderna do violão, cujo mentor foi seu professor. Trata-se de um trabalho que "(...) pode ser encarado como um divisor de águas na trajetória do ensino do instrumento"11. Um personagem no Rio de Janeiro importante para a divulgação do violão foi Joaquim Francisco dos Santos, mais conhecido como Quincas Laranjeira (18731935). Dentre seus esforços para a disseminação do instrumento, consta o ensino do violão para senhoras da alta sociedade, introduzindo-o no cotidiano das famílias tradicionais. A principal contribuição de Quincas Laranjeira para o desenvolvimento do violão brasileiro foi como fundador da revista O Violão em 1928 no Rio de Janeiro, que continha transcrições de obras clássicas, estudos e métodos como os de Dionísio Aguado12, Mateo Carcassi13, Antonio Cano14, Ferdinando Carulli15, Francisco Tárrega16 e que tencionava a aceitação do instrumento no Brasil. Nesse 11

Taborda, Márcia Ermelindo. Introdução do Violão no Rio de Janeiro. Revista Brasiliana, Rio de Janeiro, n. 15, s.p, set. 2003.

12

Violonista e compositor espanhol (1784-1849), reconhecido por seu virtuosismo. Escreveu diversas obras de qualidade para o instrumento, e também “(...) o mais completo método para guitarra do classicismo” (DUDEQUE, 1994, p.61).

13

Violonista e compositor italiano (1792-1853) que se tornou respeitado por suas qualidades violonísticas, tendo se radicado em Paris e lançado compêndios didáticos para o instrumento “(...) de grande valor pedagógico ainda hoje” (DUDEQUE, 1994, p.68).

14

Violonista e compositor espanhol (1811-1897), elogiado por Dionísio Aguado no referente às suas habilidades violonísticas.

15

Violonista e compositor italiano (1770-1841) que compôs várias obras para o instrumento. “Durante um período de 12 anos, Carulli publicou cerca de 300 obras para guitarra e música de câmara com guitarra” (DUDEQUE, 1994, p.67).

16

Violonista e compositor espanhol (1852-1909), idealizador da moderna Escola do Violão. Além de sua importância como compositor, fez transcrições de obras de Bach, Chpin, etc. “Suas contribuições para o desenvolvimento do técnico e musical do instrumento são muitas e de importância fundamental para o que foi chamado por muitos como o renascimento do violão” (DUDEQUE, 1994, p.80).

19

intuito, acabou se tornando o divulgador da moderna escola do violão, adquirindo os estereótipos desta corrente: Quincas Laranjeiras tomou emprestado da escola espanhola de Tárrega o estilo romântico e sentimental, numa profusão de arrastes e vibratos; e ele os transferiu para o estilo de seresta, que seria mais tarde adotado por Dilermando Reis. Ou seja, seu papel foi mais de formador que de criador (ZANON, 2006).

Quincas Laranjeira teve como alunos João Pernambuco e Antonio Rebello 17, apresentando uma divisão na linguagem violonística: João Pernambuco, pioneiro do violão brasileiro juntamente a Canhoto, esteve associado à corrente da música de caráter popular, e Antônio Rebello, posteriormente professor do violonista Turíbio Santos, relacionou em sua didática o caráter mais virtuoso da técnica violonística. Ou seja, Quincas foi referência e indiretamente divisor da linguagem no instrumento, tendo como base a escola moderna do violão, mesclada com sua experiência nas rodas de choro. A importância de Quincas Laranjeira no campo da educação violonística no início do século XX refletiu sobre a maioria dos violonistas do Rio do Janeiro daquele período, e indiretamente sobre a geração posterior. "Não havia violonista na cidade [Rio de Janeiro] que não mantivesse contato e desfrutasse dos conhecimentos musicais de Quincas"18. Trazido para o foco do trabalho em questão, Quincas seria responsável pela formação daquele que foi professor e maior influência de Dilermando Reis: Levino Albano da Conceição. Assim, a raiz violonística de Dilermando estaria intimamente ligada à técnica de Quincas Laranjeira, oriunda da tradição dos métodos eruditos, que ele decodificava para o campo do violão popular. Importância sobre Dilermando Reis teve também João Pernambuco (18831947), violonista que deve sua fama às rodas de choro. Villa Lobos ouvindo suas obras, dizia que "(...) Bach não teria vergonha de assiná-las como suas" (DUDEQUE, 1994, p.102). Ele aprendeu música com os violeiros no nordeste, e motivado pelos jovens cariocas que tocavam violão quando passavam pelo Recife,

17

Violonista e professor do instrumento (1902-1965), tendo como alunos os violonistas Jodacil Damasceno, e os irmãos Sérgio e Eduardo Abreu.

18

Taborda, Márcia Ermelindo. Introdução do Violão no Rio de Janeiro. Revista Brasiliana, Rio de Janeiro, n. 15, s.p, set. 2003.

20

resolveu ir ao Rio de Janeiro. Integrou conjuntos musicais como o Grupo Caxangá de caráter regionalista e participou também da formação dos Oito Batutas. João faz parte de uma geração de violonistas compositores, cujo enfoque entre compor e interpretar não se distinguia, característica que pode ser observada em Dilermando Reis. Nosso violão ganhou uma feição, um sotaque e um anedotário próprios, e alguns dos personagens mais fascinantes da música brasileira são os nossos violonistas compositores. Para eles, tocar e compor são uma coisa só, e a distinção entre os gêneros clássico e popular é bastante tênue (ZANON, 2006).

João Pernambuco auxiliou Dilermando Reis nos primeiros anos deste na cidade do Rio de Janeiro, quando o recém-chegado violonista foi ali deixado por seu professor Levino. Dilermando interpretou em sua carreira algumas obras de João Pernambuco, como o jongo Interrogando e o maxixe Sons de carrilhões, gravado cinco vezes em seus discos. Quanto à aceitação das obras de João Pernambuco após sua morte, Leal e Barbosa (1982, p.57) afirmam que Dilermando foi "(...) um dos que mais trabalhou na divulgação de sua obra". Ícone da fusão violonística popular com a elaboração erudita foi Heitor Villa Lobos (1887-1959), e sabendo da importância de sua vasta obra para a música brasileira, a abordagem neste capítulo tem como foco a exposição de sua função como contribuinte para a linguagem violonística no período de aprendizado e desenvolvimento de Dilermando, ou seja, das primeiras composições de Villa Lobos até a década de 1930. Villa Lobos absorveu o conhecimento melódico-harmônico herdado das rodas de choro que freqüentou durante a juventude, e no teor de sua formação erudita acabou por mesclar a característica principal de suas primeiras obras para o instrumento. Sua Suíte Popular Brasileira (1908-1912) consta de cinco movimentos, Mazurca-choro, Schottish-choro, Valsa-choro, Gavota-choro e Chorinho, utilizando gêneros europeus comumente adotados pelos músicos chorões. Segue-se a primeira de sua série dos choros: o Choro nº 1, composta em 1921, gravada por Dilermando em seu LP Meu amigo violão, datado de 1965. Contribuindo para a literatura do instrumento, Villa Lobos compôs a série de 12 estudos em 1929, com exploração das possibilidades violonísticas, obra que se

21

tornou referência no gênero. Nessa ambição, colaborou para a divisão entre a linguagem popular de se compor e tocar violão da outra de caráter erudito, que priorizava a investigação do instrumento, a técnica do executante e a superação dos limites tradicionais melódico-harmônicos. Na fase final de sua vida, Dilermando Reis ambicionou gravar em LP o que considerava os três pilares da música brasileira: Pixinguinha19, Ernesto Nazareth20 e Villa Lobos. Conseguiu lançar LP’s dedicados às músicas dos dois primeiros compositores, porém morreu antes de gravar um compêndio com obras do maestro Villa-Lobos. Por volta de 1930, com a apresentação de violonistas estrangeiros no Brasil, como Regino Sainz de la Maza21 e Juan Rodrigues22 em 1929 (cujo êxito logrado se deu também em virtude dos esforços da revista O Violão do Rio de Janeiro, que completava seu primeiro ano de lançamento), alguns instrumentistas chegaram a residir certo tempo no país devido à boa aceitação da crítica (como fizeram Josefina Robledo e Agustín Barrios anos antes), e em concordância com a linguagem de concerto que vinha sendo introduzida através das obras de Villa Lobos, a linha divisória continuou a se estabelecer entre as correntes violonísticas. Com a chegada em São Paulo do violonista uruguaio Isaías Sávio (19001977) na década de 1930, a separação da linguagem violonística no Brasil foi definitivamente impulsionada. Seus esforços como educador e suas investidas na criação de associações e cursos regulares de violão (Associação Cultural Violonística Brasileira, Associação Cultural de Violão de São Paulo, criação da

19

Flautista e compositor brasileiro (1897-1973) consagrado através de suas obras. Integrou a formação dos Oito Batutas, tendo excursionado pela França e Argentina. Dentre suas composições, destaca-se sua parceria na música Carinhoso, que atingiu prestígio nacional. Após seu falecimento, Dilermando declarou: “(...) – A música brasileira perdeu metade de sua história” (NOGUEIRA, 2000, p.184).

20

Pianista e compositor brasileiro (1863-1934), escreveu tangos (que eram chamados de tangos brasileiros), valsas e choros, e utilizou a apropriação musical de gêneros que vinham de fora da mesma maneira que os pioneiros violonistas brasileiros. Escreveu obras como Odeon, Brejeiro, tenebroso, que “(...) entre o sofisticado e o espontâneo, entre o balanço rasgado de um maxixe e as sutis fermatas de uma valsa chopiniana, fizeram dele um músico único (...)” (CAZES, 1998, p. 34).

21

Violonista e compositor espanhol (1896-1981), considerado na Espanha o violonista dos “iniciados”. “Criador da primeira cátedra de violão do mundo, no Conservatório de Madri em 1935”. (ZANON, 2006).

22

Violonista e compositor chileno (1885-1944). Compôs obras como La Despedida (Chilena nº 2) e Coral del Nord (Chilena nº 1). Ambas as peças foram gravadas por Dilermando Reis em 1959 e 1961, respectivamente.

22

cadeira de violão no Conservatório Dramático Musical de São Paulo) resultaram em uma maior divulgação do repertório de concerto. Dentre os tantos discípulos de Isaías Sávio, destacam-se o também educador Henrique Pinto23 que, a exemplo de seu professor, lançou compêndios didáticos e transcrições para a disseminação do repertório que passou a ser executado no Brasil. O violão de concerto se tornou referência tanto na questão de repertório quanto de aprendizado, sendo assim a corrente violonística popular encontrou no Rádio (no momento de expansão deste), o veículo para a divulgação de sua linguagem, no qual Dilermando Reis construiu carreira e adquiriu sucesso como compositor e intérprete. É importante ressaltar que este foi um dos poucos que, mesmo à margem dos espaços eruditos vigentes na época, tem seu valor reconhecido no que diz respeito à disseminação do violão solista de caráter popular.

2.3 A aquisição do repertório musical de Dilermando Reis.

A origem de Dilermando Reis é um fator relevante para a compreensão do desenvolvimento e assimilação musical por parte do violonista. Em um período em que o rádio ainda estava em sua fase de desenvolvimento, o contato musical de Dilermando enquanto garoto esteve intimamente ligado à sua família. Sempre que o pai pegava no instrumento para dedilhar alguns acordes, o menino abandonava o que estivesse fazendo e vinha ouvi-lo. Sua mãe gostava de cantar as canções de Catullo da Paixão Cearense, que eram sucesso naquele tempo, e Dilermando adorava ouvi-la cantar ao violão. E aí nasceu seu amor pelo instrumento (NOGUEIRA, 2000, p.20).

A reprodução em um tempo em que os meios de transmissão musical ainda se aprimoravam, se dava basicamente através do processo da performance ao vivo; a tradição do recontar só seria substituída pela inovação do reproduzir, a partir da década de 1930 com exceção das primeiras gravações da casa Edison, o que restringe a possibilidade de variação no repertório musical à casualidade. Dilermando, porém, em entrevista concedida ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 22 de novembro de 1972, contou que seu pai lhe apresentava LP’s do

23

Violonista e professor do instrumento, lançou diversos compêndios sobre o ensino do violão, publicou artigos em revistas especializadas e é membro da Academia Paulista de Música.

23

violonista Canhoto (Américo Jacomino), e pedia para que este tirasse "de ouvido" as músicas para apurar seu domínio sobre o instrumento. Ao iniciar seus estudos no violão, Dilermando Reis construiu um repertório que lhe foi colocado à disposição, ou seja: o conjunto de peças violonísticas que era transmitido pelos músicos da época, através da fama do executante (normalmente o próprio compositor), ou pela dificuldade técnica da obra. Assim, é natural no conjunto de peças interpretadas por Dilermando, encontrar obras de João Pernambuco (Sons de carrilhões, Interrogando), o já citado Américo Jacomino (Abismo de Rosas, Marcha dos Marinheiros), Mozart Bicalho24 (Gotas de Lágrimas), que eram algumas das obras violonísticas mais interpretadas e conhecidas da época. "Dadas as dificuldades técnicas inerentes à sua execução, Gotas de Lágrimas era considerada como música de desafio. Quem tocasse essa valsa era considerado um bom violonista" (SAMPAIO, 2002, p.32). Desse modo, no que se refere à assimilação do estilo violonístico de Dilermando Reis, é natural qualificá-lo no grupo de compositores pioneiros do violão caracteristicamente brasileiro. Os gêneros explorados pelo violonista eram executados no Brasil desde meados do século anterior. Nesse contexto se aceita a intenção de Cazes (1998, p.50) ao dizer que "Dilermando tocava e compunha ao estilo dos pioneiros do violão. Suas composições como Noite de lua e o choro Magoado, gravadas em seu primeiro 78 rpm, poderiam perfeitamente ter sido feitas cinqüenta anos antes". Os gêneros que predominaram nas composições de Dilermando são compostos de choros, valsas, polcas, guarânias, boleros que foram de encontro ao gosto dos ouvintes da emergente Era do Rádio e assim o destacaram como compositor.

2.4 Levino Albano da Conceição e sua influência sobre Dilermando Reis.

Tanto a carreira musical de Dilermando Reis como sua evolução e amadurecimento musical estão intimamente ligadas à pessoa de Levino Albano da Conceição. Dilermando encontrou em Levino além de um professor conceituado, 24

Violonista e compositor mineiro (1901-1986), antecessor de Dilermando, que com sua valsa Gotas de Lágrimas o influenciou de tal modo que se tem uma grande semelhança entre esta e a primeira música do gênero gravada de Dilermando Reis (Noite de Lua).

24

que era freqüentemente “(...) comparado pela imprensa paulista com o virtuose Agustín Barrios e à concertista Josefina Robledo” (NOGUEIRA, 2000, p.23), um facilitador do seu acesso à então capital da República, e conseqüentemente à sua ascensão como violonista. Levino nasceu em 1895 em Cuiabá, Mato Grosso, e ainda garoto ficou cego. Assim como Dilermando Reis, Levino Albano demonstrou cedo interesse pelo violão, aos doze anos tornou-se conhecido em Cuiabá como violonista. Viajou para o Rio de Janeiro para estudar no Instituto Benjamin Constant, escola especializada na educação para deficientes visuais. Lá aprimorou sua técnica e passou a lecionar violão. Com o apoio do Instituto Benjamin Constant, aos vinte e dois anos o violonista passou a excursionar pelo Brasil realizando recitais, cuja renda se destinava à fundação de escolas especiais para os deficientes visuais, e foi também colaborador para a fundação de diversas instituições de ensino especializadas. Levino foi reconhecido pela sociedade da época através de seu trabalho pela valorização dos portadores de necessidades especiais, e somado às suas composições e habilidades musicais, seu nome acabou sendo divulgado. Chegou a arrecadar fundos em seus concertos para uma viagem até a Espanha, que era sede de convenções sobre a educação para deficientes visuais em 1929. “A imprensa carioca e paulista o chamavam de Rei do Violão” (ibid, p.231). No tocante às suas qualidades como músico, Levino era além de compositor, arranjador de obras clássicas. Escreveu diversos estudos para o instrumento, visando a ampliar a didática para o desenvolvimento da técnica violonística. "Como intérprete, Levino podia não ter a malícia de um João Pernambuco nem a ousadia de Canhoto, mas ele tinha um arsenal técnico poderoso e amplos recursos expressivos" (ZANON, 2006). É nesse período de realização de recitais em prol da divulgação do Instituto Benjamin Constant, que se deu a primeira interação entre Levino Albano da Conceição e Dilermando Reis. Em 1931, ao chegar em Guaratinguetá para a realização

de

concertos,

Levino

conheceu

e

ouviu

diversos

violonistas

guaratinguetaenses. Dilermando foi apresentado por amigos ao concertista como sendo um dos melhores violonistas da cidade.

25

Levino resolveu aceitar Dilermando como seu pupilo, após constatar que era realmente um violonista de potencial, o jovem o acompanharia em suas excursões pelo Brasil. “Com menos de seis meses de aula e convívio com o cego, o rapaz melhorou sensivelmente a maneira de tocar” (NOGUEIRA, 2000, p.25). Dilermando foi aluno e guia de seu professor, e após a evolução musical do violonista, Levino da Conceição introduziu-o em seus recitais formando um duo violonístico que perdurou por quase dois anos. Segundo afirma Dilermando, (Entrevista ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, 22.nov.1972): “ – No começo eu estudava com o Levino e ele nos primeiros recitais não me apresentou como aluno. Mas logo depois de três meses ele fazia a primeira parte e deixava a segunda parte para eu fazer”. Dilermando foi deixado por Levino no Rio em 1933, ano a partir do qual não teriam mais contato. Dilermando Reis denominou Levino Albano da Conceição como responsável pela sua evolução musical e pelas características violonísticas que acabou por herdar e aprimorar. “– De qualquer maneira nós ficamos devendo ao Levino o fato de você existir como violonista no Brasil. – Não tenha dúvidas. (...) – Eu devo a Levino da Conceição”. (Entrevista ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, 22.nov.1972). As características da linguagem do violão-solista dos pioneiros foram ainda mais acentuadas no jovem violonista por meio de seu convívio e aprendizado com Levino Albano da Conceição. Dilermando Reis disseminou até o final de sua carreira os trejeitos violonísticos que muito contribuíram para a aceitação de sua música, sendo um dos responsáveis pela afirmação da verdadeira escola do violão-solista popular brasileiro. Levino Albano da Conceição morreu em 1955, no auge da carreira violonística de seu aluno Dilermando Reis.

26

3. A VIDA DO VIOLONISTA NA CAPITAL DA REPÚBLICA.

Dilermando Reis chegou ao Rio de Janeiro em companhia de seu então professor Levino Albano da Conceição, em 1933. Segundo Nogueira (2000, p.26), sempre após seus recitais, Levino “(...) retornava ao Rio. Muitas vezes ficava hospedado no próprio Instituto Benjamim Constant, onde era querido e conhecido por todos”. Mas ao retornar com Dilermando Reis, a primeira coisa feita por Levino foi procurar João Pernambuco. É possível que o intuito de tal visita fosse apresentar o jovem violonista a um dos ícones do violão popular no Rio de Janeiro, iniciando assim os primeiros contatos de Dilermando Reis com o meio violonístico da capital. Levino deixou Dilermando hospedado em um hotel e pagou quinze dias de estadia, afirmando que voltaria para buscá-lo, o que não ocorreu. Procurando a ajuda de João Pernambuco, a única pessoa que conhecia nos menos de vinte dias na capital, Dilermando passou a dividir com ele as despesas do quarto. Quanto a este episódio disse Dilermando: “ – Eu vendo que Levino não voltava, resolvi “lutar” sozinho com meu violão” (Entrevista à Rádio Jornal do Brasil apud NOGUEIRA, 2000, p.29). A principal fonte de renda do músico no início da carreira foi como professor de instrumento. As condições do violonista melhoraram a partir de seu ingresso na Rádio Transmissora (analisada no capítulo Dilermando Reis e o Rádio), até então se manteve com dificuldade.

3.1 Dilermando Reis professor

Dentre todas as atividades desempenhadas pelo violonista, três foram cruciais para o seu reconhecimento como instrumentista: suas gravações em discos, seu sucesso no meio radiofônico e seu trabalho como professor. Lecionou durante vinte e seis anos no período compreendido entre 1934 e 1960. As lojas de instrumento contratavam professores para aumentar a procura e o interesse dos clientes, visando à ampliação das vendas. Dilermando, em um período de dois anos atuou em uma loja na Rua Buenos Aires, integrando em seguida o quadro de professores da loja Ao Bandolim de Ouro. Pela qualidade do ensino de Dilermando Reis, o dono da loja destinava a ele a maior parte dos clientes que

27

procuravam por um professor de violão. E por último o violonista lecionou naquela que era freqüentada por grande parte dos músicos cariocas da época, a loja A guitarra de Prata (NOGUEIRA, 2000, p.29). Conforme Jerome, (2005, p.6) “Dilermando tentou fazer sua vida ensinando violão, mas isto era irrealizável (...) Muitos de seus alunos eram marinheiros que vinham e iam com os navios, deixando o professor Dilermando esperando”25. O autor se refere à dificuldade enfrentada pelo professor com base em sua clientela Tais condições resultaram em um período instável na vida do violonista nos dois primeiros anos no Rio de Janeiro. Dilermando não conseguiria continuar se mantendo somente com o dinheiro das aulas de violão, “(...) pensava em retornar à sua cidade de Guaratinguetá” (NOGUEIRA, op. cit, p.37), quando em 1936 passou a atuar no meio radiofônico, o que ampliou seus rendimentos. Após o início turbulento, sua musicalidade e versatilidade começaram a lhe render outros trabalhos nas emissoras, melhorando sua condição financeira. Ao longo da década de 1940 o violonista passou a ganhar prestígio e novos alunos, devido à ascensão de sua carreira. Segundo afirma Nogueira (2000, p.58) “(...) ser aluno do professor Dilermando era orgulho para qualquer pessoa, independente da condição social, econômica ou cultural”. Tal frase enfatiza a realidade que passou a acompanhar o professor de violão: teve como alunos desde os mais diversos indivíduos da população pobre do Rio de Janeiro que freqüentavam as lojas nas quais trabalhou, até a considerada “elite carioca”. Personagens como a atriz Bibi Ferreira (1922) e o ministro da Fazenda do Governo de Juscelino Kubitschek26, Sebastião Paes de Almeida (1912-1975) estudaram violão com Dilermando Reis. Maristela Kubitschek (1942), filha do então Presidente da República, ao estudar com Dilermando, marcaria um período positivo na carreira do violonista. A partir desta interação, Dilermando e Juscelino iniciariam

25

Dilermando tried to make a living teaching guitar, but this is unreliable (…)Many of his students were saylors who came and went with the ships, leaving professor Dilermando waiting”. (Tradução do autor).

26

Médico, militar e político brasileiro, tendo sido presidente da república de 1956 a 1961. Cantor amador de serestas, gostava de cantar ao som do violão, tendo convidado Dilermando Reis a viajar várias vezes com ele à Brasília, no momento de construção daquela que seria capital federal do Brasil. Nomeou mais tarde o violonista para o cargo de delegado Fiscal da Receita, para que Dilermando pudesse se dedicar exclusivamente à carreira de solista, com rendimentos assegurados pela nova profissão ofertada.

28

um longo período de amizade, que acabaria por beneficiar a trajetória do violonista até o fim de sua vida27. A afirmação de Cazes (1998, p.50) ao citar o presidente como um dos alunos de Dilermando é equivocada. O próprio violonista esclarece, em entrevista concedida ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (22.nov.1972): “– Me disseram que Juscelino Kubitschek foi seu aluno, não é verdade? (...) – Não, ele não. – Ele não aprendeu violão com você? – Foi a filha dele que estudou, a Maristela”. “[Dilermando Reis] editou um método simples de acordes, dedicado aos alunos interessados em aprender acompanhamento” (NOGUEIRA, 2000, p.160). Dentre seus alunos que ganharam destaque no meio violonístico cita-se Darcy Villa Verde28 que afirma: “Tive pouco tempo de aula com ele, porém o curto período me foi de grande valia: aprimorei meus conhecimentos sobre o violão e aprendi muitos macetes empregados no violão popular” (ibid, p.161). Bola Sete (Djalma de Andrade, 1923-1987), outro aluno de Dilermando Reis, foi violonista de renome internacional, tendo residido nos Estados Unidos e incorporado características do Jazz americano ao longo de sua carreira. Nicanor Teixeira29, a partir de 1948 teve quatro anos de aulas com Dilermando Reis. Suas composições de caráter brasileiro expressam a colaboração do pioneiro no aprimoramento de sua carreira violonística. Luis Molina Júnior30, um aluno mais exaltado em sua admiração por Dilermando afirmava que “(...) Andrés Segovia foi o melhor violonista do mundo. Do Brasil o maior foi (...) Dilermando Reis” (ibid, p.199). Dilermando só deixou de exercer a atividade de professor em 1960, quando a ampliação de seus compromissos como intérprete e compositor na gravadora Continental, sua atuação no quadro de músicos da Rádio Nacional, bem como o novo cargo de Delegado Fiscal da Receita (oferecido pelo então presidente Juscelino Kubitschek), acabaram por deixá-lo sem tempo para lecionar. 27

Sabe-se que a carreira violonística de Dilermando Reis foi beneficiada pelo contato com o então presidente da República Juscelino Kubitschek. Como esta interação benéfica não é o objeto do estudo em questão, o levantamento poderá ser abordado por futuras pesquisas.

28

Violonista brasileiro (1933) que realizou recitais na América do Norte e Europa. Durante toda sua carreira como intérprete lançou apenas um disco interpretando obras populares.

29

Violonista e compositor brasileiro (1928), foi professor do Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro.

30

Violonista (1924-?) que substituiu Dilermando Reis em 1960 como professor de violão na loja A Guitarra de Prata. Fez parte da orquestra de violões de Dilermando Reis.

29

Sabe-se que Dilermando Reis organizou a primeira orquestra de violões do Brasil, que sua atuação se dava nos estúdios da Rádio Clube do Brasil e nos cassinos da Urca e do Icaraí no Rio de Janeiro. Com o fechamento do Cassino da Urca em 1942, Dilermando desfez a orquestra31. Contava com 10 integrantes, dentre eles Osmar Abreu32, que também estudou violão com Dilermando Reis. Algumas obras interpretadas preferidas pela orquestra: “Jalousie, Marselhesa, Inspiração” (NOGUEIRA, 2000, p.44). Durante os vinte e seis anos de dedicação ao ensino do violão, Dilermando disseminou a linguagem dos pioneiros do instrumento: as técnicas da interpretação contidas

na

música

violonística

de

características

brasileiras.

Contribuiu

significativamente para a difusão e continuação do repertório dos violonistascompositores do início do século XX, pois além das gravações que realizou, sua metodologia de ensino reafirmou aquelas nuances técnico-interpretativas.

3.2 Dilermando Reis e o Rádio

Dilermando Reis encontrou no Rádio o espaço que para ele foi fundamental na divulgação de sua obra. Trabalhou em algumas emissoras cariocas, e foi nesse contato com o meio radiofônico que passou a ser conhecido da grande massa do povo, tendo em vista que se tratava do período de desenvolvimento e ampliação das emissoras e da profissionalização musical, resultantes das novas possibilidades deste poderoso meio de comunicação. As atenções da população brasileira estavam voltadas para o Rádio, e tal fator contribuiu para a aceitação do violonista como intérprete em caráter nacional junto ao público ouvinte. Após o segundo ano de sua chegada ao Rio de Janeiro (1935), Dilermando Reis trabalhou na Rádio Guanabara, período pouco fecundo para a vida do músico. Enfrentou problemas financeiros, fator que pode ser verificado pelas características da emissora: o corredor da rádio era local de ensaio devido ao pequeno espaço, e os programas costumavam ir ao ar somente quando havia patrocínio. Esta realidade 31

Pouco se sabe sobre a orquestra e sobre seu repertório, bem como a metodologia de ensaio e regência adotada por Dilermando Reis. O assunto poderá ser abordado por futuras pesquisas.

32

Violonista brasileiro (1912-1983) pai dos concertistas brasileiros consagrados Sérgio e Eduardo Abreu.

30

resume o amadorismo inicial das emissoras, sabendo-se que foi a partir de 1932 que o Rádio iniciou seu processo de amadurecimento, através da liberação dos microfones à publicidade. A partir da segunda metade da década de 1930 as emissoras procuraram atrair as camadas da sociedade aos seus estúdios, iniciando o processo construção e ampliação dos pequenos estúdios. Enquanto as emissoras cariocas priorizavam o contato bem sucedido com a massa popular nos estúdios, este processo foi inversamente desenvolvido pelas rádios de São Paulo, que preferiram atrair as classes de maior poder aquisitivo para seus modernos palcos, contemplando construções luxuosas e aconchegantes. Muito curiosamente, enquanto as emissoras cariocas caminhavam assim para a nova fase do rádio à base de programas dirigidos às grandes camadas, com a presença do próprio povo em seus espetáculos de palcoauditório, em São Paulo, a evolução dos estúdios se fazia no sentido do luxo e da sofisticação (TINHORÃO, 1981, p.52).

Nesse sentido é possível afirmar que houve uma antecipação das rádios cariocas, chamando as atenções para si da grande população urbana carioca, depois brasileira, tornando-se o Rio de Janeiro um forte centro influenciador cultural sobre o cotidiano brasileiro. Todo esse contexto acabou por exigir uma demanda maior de profissionais para atuação nas emissoras da cidade. Em conseqüência desta evolução do Rádio como meio difusor, frente ao desenvolvimento dos processos de gravação que se aperfeiçoavam, gerou-se vasto campo de trabalho nesse importante e cobiçado meio de atuação, tendo como principais beneficiados "(...) compositores, cantores, instrumentistas e arranjadores, gerando uma demanda na formação de artistas talentosos, colocando o rádio como principal veículo de divulgação e profissionalização dos músicos populares" 33. Em 1936, portanto, um período de efervescência das rádios na busca por bons músicos, Dilermando Reis foi apresentado a Renato Murce34, então diretor de programação musical na Rádio Transmissora na loja A Guitarra de Prata. Segundo Nogueira (2000, p.38), quando Renato ouviu o violonista executar a valsa Gotas de 33

Revista eletrônica de Musicologia volume VIII, dezembro de 2004. Disponível em: Acesso em 14.mar.2007.

34

Apresentador (1900-1987) e pioneiro do rádio brasileiro, criou vários programas como "Papel carbono", "Ontem, hoje e sempre", trabalhando mais de trinta anos na Rádio Nacional."Foi o primeiro grande protetor de Dilermando Reis", e este em sua homenagem dedicou a valsa Sinházinha. (NOGUEIRA, 2000, p.180)

31

Lágrimas de Mozart Bicalho, convidou-o para integrar dois de seus novos programas, Alma do Sertão e Antigamente. Em seu livro, Renato Murce (1976, p.48) dá algumas indicações sobre a base dos dois programas: “Lançamos Antigamente nos moldes da Hora para nossos Avós, que já fizéramos na Philips; a Hora Sertaneja [primeiro nome do programa Alma do Sertão], apenas com música e aspectos regionais (...)”. Foi a partir desta interação com Murce que Dilermando iniciou seu caminho de êxitos radiofônicos e conseqüentemente o reconhecimento no meio musical. Atuou posteriormente em programas como "Variedades Esso" que era "(...) um programa de violão-solo, a título de experiência (...)" e também no "Programa Casé", que ia ao ar aos domingos, e assim Dilermando passou "(...) a ser o violonista mais bem pago do meio musical do Rio de Janeiro" (NOGUEIRA, 2000, p.38). Antes de iniciar sua extensa carreira discográfica como compositor em 1941, Dilermando Reis já atuava em diversos programas de rádio, além de ser freqüentemente chamado para acompanhar os principais cartazes da época (cantores de maior fama das emissoras de rádio). O violonista conquistou seu espaço como músico na Rádio Transmissora e lá permaneceu até 1940. Ao citar a importância das personalidades que conhecera na emissora, Renato Murce (1976, p.53) afirma: “Não posso encerrar o capítulo da minha passagem pela Transmissora, sem dizer que ali conheci diversos grandes artistas: o grande violonista Dilermando Reis (...)”. Ao longo da década de 1940, o aumento da participação popular nos estúdios exigiu das emissoras programas variados que atraíssem o público ouvinte. Um grande elenco profissional de músicos integrou o cast das rádios para promover diversos números à massa presente nos auditórios. Os apresentadores (chamados de animadores, por terem a função de manter o público envolvido com o show) contavam com atrações que vinham de encontro ao gosto popular da época: (...) os animadores dos programas contavam não apenas com a presença de cartazes de sucesso garantido junto ao público, mas ainda com a colaboração de grandes orquestras,conjuntos regionais, músicos solistas, conjuntos vocais, humoristas e mágicos, aos quais se juntavam números de exotismo, concursos à base de sorteios e distribuição de amostras de produtos entre o público (TINHORÃO, 1981, p.70).

Como músico integrante dos espetáculos das emissoras, além de sua atuação como violonista-solista, Dilermando participou de conjuntos regionais no

32

início de sua carreira, e foi nesse mesmo período de grandes oportunidades que integrou o Regional do Pixinguinha35, formado por instrumentistas respeitados na época. Sobre a técnica dos regionais e sua utilização pelas emissoras, temos: (...) cada uma [emissora de rádio] mantinha uma orquestra que acompanhava as estrelas, e um grupo mais ágil chamado Conjunto Regional. O grupo Regional nada mais é que uma evolução do formato de choro mais básica: flauta, violão, cavaquinho e pandeiro. O nome regional é fruto do hábito de muitos desses grupos se apresentarem trajando roupas típicas. Os regionais tinham uma habilidade essencial para os ritmos frenéticos dos programas de calouros; conheciam e tocavam tudo de ouvido e não precisavam de arranjos escritos, só precisavam saber o tom da música e acertar a introdução. Alguns destes grupos atingiam nível artístico excepcional, e ainda são fundamento camerístico, por assim dizer, da tradição de arranjos de música popular (ZANON, 2006).

A importância dos conjuntos regionais na Era do Rádio justificou tanto a sonoridade da música de caráter nacional que vinha de encontro ao ideal da Era Vargas (analisado no apêndice Discografia), quanto a necessidade das rádios que emergiam em meio à disputa pelos maiores índices de audiência, e o motivo era simples: pelo fato dos programas serem transmitidos ao vivo, por esta formação instrumental possuir músicos treinados à improvisação (oriundos das rodas de choro) com instrumentistas que tiravam "de ouvido" rapidamente as músicas, bem como pelo fato de as rádios normalmente não possuírem condições de pagar ensaios, foi a formação mais explorada nos programas de auditórios. Comandar um regional era sinal de habilidade e respeito no meio musical da época, assim "(…) cada bom instrumentista organizava seu próprio regional: Pixinguinha, Luís Americano, Waldir Azevedo, Dilermando Reis, dirigiam regionais. A maioria desses conjuntos, entretanto, tinha curta duração" (TABORDA, 2004). A pesquisadora refere-se ao regional organizado por Dilermando quando este havia se transferido para a Rádio Clube do Brasil, em 1940. Por volta de 1950, Benedito Lacerda, que comandava o regional da emissora precisou se afastar, assim o trabalho de organizar um novo conjunto foi delegado a Dilermando Reis. O regional contou com a presença do ilustre cavaquinista Waldir Azevedo36, que iniciou sua carreira no rádio no momento em que foi aprovado para formar junto com

35

Tute – violão de sete cordas, João da Baiana – pandeiro, Luis Americano – saxofone, Dilermando Reis – violão de seis cordas, Luperce Miranda – bandolim, Pixinguinha – flauta.

36

Compositor e cavaquinista (1923-1980), que alcançou grande sucesso através de suas composições, dentre elas Brasileirinho e Pedacinhos do céu.

33

Dilermando a base do mais novo grupo regional da Rádio Clube do Brasil. Com o tempo “(...) Dilermando lhe passou o comando do regional, para dedicar-se à sua carreira de solista que despontava (...)” (CAZES, 1998, p.108). Em março de 1951, o regional de Waldir Azevedo lançou um disco em 78 rpm interpretando peças de Dilermando Reis (as músicas Sentimental e Bingo), com a participação do autor. Em 1953 e 1955, a parceria foi repetida e novas músicas (Penumbra, Calanguinho, Limpa banco e Sonhando com você) foram gravadas. Na nova emissora, Dilermando atuou em um programa de violão-solo e continuou a acompanhar os cantores. A partir de 1941, o violonista iniciou a gravação de suas composições nos estúdios da Continental (até 1943 chamada Colúmbia), atividade que assumiu papel central na sua carreira, embora tenha concomitantemente mantido seu trabalho no rádio. O nome do violonista ganhou ainda mais notoriedade após o lançamento de seus discos. Dilermando continuou trabalhando na Rádio Clube do Brasil até 1953. Em 1956 o músico assinou contrato com a Rádio Nacional. Um fato interessante a ser revisitado, ocorrido no ano de 1953, foi da viagem de Dilermando até os Estados Unidos para cumprir uma curta temporada de apresentações. Lá se inscreveu em um teste para violonista-solista na emissora de televisão da CBS, tendo sido selecionado. "(...) – Eu cheguei lá, tinha uns 15 moços com aqueles violões bonitos, tocando bem, e eu pensei que estava perdido. Mas eu pensei, já que eu vim aqui, tenho que gravar meu número"37. Em entrevista concedida à Rádio Jovem Pan de São Paulo em 1975, o violonista afirmou: “ – O fato que atribuo ter sido selecionado como melhor, entre tantos candidatos, talvez tenha sido por não tocar de palheta. O que pesou foi minha sonoridade. Sorte minha, né?” (apud NOGUEIRA, 2000, p.55). O contrato não foi renovado pois o Sindicato dos Músicos norte-americanos não permitia a permanência de estrangeiros nestas condições por mais de 90 dias. Dilermando Reis assinou contrato com a Rádio Nacional em Junho de 1956 (ano de comemoração dos 20 anos da emissora) ao que tudo indica, a pedido do então presidente da República Juscelino Kubitschek. O novo trabalho contribuiu definitivamente para a valorização pessoal do músico, colocando-o no grupo de 37

Violão Clássico Weblog. Entrevista com Ronoel Simões, julho de 2005. Disponível em: Acesso em 11.jul.2007

34

artistas consagrados que atingiram grande prestígio. Nesta emissora ele ganhou um programa de violão intitulado Sua Majestade, o Violão, apelido pelo qual era conhecido. "A exposição que um programa solo no rádio dava nessa época, era comparável a um programa na tv aberta hoje em dia" (ZANON, 2006). A Nacional era a mais ambicionada pelos artistas de então, com o quadro mais notável de músicos incluindo “(...) dois conjuntos regionais e ainda os seguintes solistas individuais: Chiquinho (acordeão), Abel Ferreira (clarinete e saxofone), Luperce Miranda (bandolim), Jacob Bittencourt (bandolim), Luiz Americano (clarinete e saxofone), Dilermando Reis (violão) (...)” (Sérgio Cabral apud BARBOSA; DEVOS, 1984, p.60). Dilermando Reis atuou mais de trinta anos no meio radiofônico (1936-1969), e sua trajetória atravessou praticamente todas as fases desse meio de comunicação. Ele vivenciou o desenvolvimento inicial do Rádio, acompanhando calouros nos programas de auditórios, que seriam a grande marca das emissoras na década de 1930 até a metade da década de 1940. Sua atuação em conjuntos regionais, bem como suas composições caracteristicamente brasileiras, vieram de encontro ao ideal de nacionalização ambicionado pelo governo de Getúlio Vargas, no processo de valorização e afirmação da identidade nacional brasileira. Após a reação da classe que ascendia na expansão proporcionada após a Segunda Guerra, o movimento que reivindicava melhores programas à mais nova classe, resultou em uma espécie de “aburguesamento” das emissoras, e fez com que muitas destas modificassem seus programas e alterassem suas principais características. O apelo feito pela nova classe social brasileira pode ser verificado em artigos escritos em fins da década de 1940. Em títulos como: "Auditórios viciados" publicado no segundo número da revista Rádio Visão, em 15/05/1947, ou ainda "Os programas de auditório estão 'matando' o rádio!", escrito na Revista do Rádio, em 09/01/1951 (apud TINHORÃO, 1981, pp.83 e 85), pode-se perceber o intenso ataque feito aos programas destinados às camadas populares da sociedade. Apesar desta investida visando ao “melhoramento” dos programas de Rádio, Dilermando atravessou a década de 1940 atuando no meio radiofônico e gravando suas composições, sem entretanto alterar o teor nacionalista e regionalista de suas obras violonísticas. O professor de violão Dilermando Reis passou a ser requisitado pela sociedade após a divulgação de suas músicas que acabaram caindo no gosto

35

das diferentes camadas da população brasileira, mostrando que nesse processo de “refinamento” dos costumes no rádio, Dilermando Reis foi apreciado também pela mais nova classe média. – Comecei a formar meu nome radiofônico, atuando em programas então famosos, como Alma do Sertão, Antigamente e outros. Mais tarde, integrei um programa que em pouco tempo se tornou famoso: o Variedades Esso, onde eu tocava ao lado de Rogério Guimarães. Estive durante alguns anos na Rádio Clube do Brasil, onde consegui consolidar meu nome e minha arte através das mais diversas apresentações, e onde formei pela primeira vez no Brasil, uma orquestra só de violões, cujo sucesso artístico ultrapassou a expectativa. Mais tarde, viria a encerrar minha atuação no sem-fio na Rádio Nacional, onde estive vários anos, alcançando um renome que me permitiu a gravação de diversos discos. (MURCE, 1976, p.118-119)

36

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 4.1 Dilermando Reis e seu legado

Dilermando Reis comumente é relacionado ao grupo de compositores de Choro, mas tal afirmação é aqui considerada ambivalente, dada a dificuldade de localização deste personagem no cenário musical brasileiro. Em livros biográficos dos compositores do gênero, muitas vezes o nome de Dilermando não é citado ou não recebe a devida importância. Na comemoração da Semana Nacional do Choro, dificilmente o violonista é lembrado em meio aos músicos chorões porque a própria categorização se torna reducionista. Embora não se possa negar as muitas aproximações na relação do compositor com o Choro, os gêneros musicais adotados em suas composições, mostram uma variação de estilos e a predominância de outros que não se reduzem necessariamente a este. Em uma linha de categorização, Dilermando é enquadrado como compositor de choros em conseqüência de seu jeito “choroso” de tocar, característica dos músicos oriundos da metade do século XIX. Assim, como foi visto no primeiro capítulo deste trabalho, tal idéia se relaciona mais ao aspecto interpretativo, do que propriamente à forma musical. Em uma segunda linha de análise encontra-se a relação dos gêneros adotados pelos músicos do século passado, que vão de encontro aos utilizados pelo violonista. Naquele período de re-significação da identidade nacional, a música estrangeira tocada nos salões brasileiros passou a ser executada com sonoridades e elementos particulares pelos músicos da época, o que resultou no Choro, primeiro como a já mencionada maneira de tocar, depois como gênero, adquirindo forma e estrutura específicas. Outro fator relevante foi o tipo de formação a qual Dilermando recorreu em um dado momento de sua vida, atuou em regionais, conjunto oficial na execução de choros, incorporando em muitas de suas composições os trejeitos de execução violonística deste tipo de conjunto. A sua atuação como solista também foi muitas vezes relacionada como uma tendência ao Choro, pois não era comum naquela época outro tipo de categorização quando não se acompanhava a voz.

37

Talvez a questão da vida seresteira38 do compositor tenda a aproximar sua relação com os chorões, sabendo-se que as rodas de choro se estendiam muitas vezes até altas horas da madrugada. Mesmo somando todos estes fatores, torna-se precipitado atribuir a Dilermando Reis pertencimento ao grupo de compositores de Choro, até porque no total de suas 130 obras, apenas 42 choros estão catalogados, pouco menos de um terço de suas músicas. Sua importância como músico pode ser comparada a tantos outros instrumentistas cuja linguagem ultrapassou uma categorização simplificada. Assim, utilizou-se no decorrer deste trabalho a denominação pioneiro do violão, pelo fato de retratar um grupo de violonistas-compositores do início do século XX, elaboradores e releitores de elementos técnico-interpretativos que foram largamente utilizados na composição da música para violão brasileiro de caráter popular, tanto no tratamento das melodias, harmonias e ritmos, quanto no aproveitamento dos gêneros musicais (scottishes, mazurcas, valsas, choros, polcas, etc). Considerados portanto, criadores da identidade popular do violão-solista no Brasil do século XX.

4.2 O intérprete e compositor

Dilermando Reis integrou a geração de violonistas pioneiros do instrumento que mesclavam suas funções entre a composição e a interpretação. Foi através de suas obras violonísticas que Dilermando Reis acabou sendo associado à escola do violão popular brasileiro, pois além das peças apresentarem elementos musicais utilizados em larga escala pelos pioneiros do instrumento, a seleção dos gêneros por ele adotados (valsas, choros, polcas, guarânias), tenderam a distanciá-lo do repertório de concerto então vigente. O violonista iniciou sua carreira como compositor pela necessidade de ampliar o reduzido repertório violonístico popular da época. As peças mais interpretadas (Abismo de Rosas, Sons de Carrilhões, Gotas de Lágrimas) eram executadas por Dilermando Reis, e a partir do momento em que o músico passou a integrar diversos programas de rádio, tal necessidade fez-se premente.

38

Aqui se preferiu adotar tal expressão ao invés de vida boemia, evitando seu sentido pejorativo.

38

Suas duas primeiras composições foram as valsas Iracema e Noite de Lua, esta última lançada em seu primeiro disco de 78 rpm, datado de agosto de 1941, apresentando características muito semelhantes à valsa Gotas de Lágrimas de Mozart Bicalho. Assim acredita-se que Dilermando tenha usado a música do compositor mineiro como base composicional, pela sua conhecida dificuldade interpretativa, bem como uma espécie de estudo de estilo. Observa-se aí o início da construção do estilo pessoal do compositor. A principal característica das valsas de Dilermando Reis é a presença de interpretação em rubato, expresso na parte A, fluente, e ao mesmo tempo livre de um andamento marcado, o que é comumente contestado na parte B. “(...) sua inspiração para compor valsas é inigualável, elas estão entre as mais belas valsas brasileiras e só se comparam às de Ernesto Nazareth” (ZANON, 2006). Seus choros são mais tradicionais, apresentando movimentos melódicos ágeis, suspensão de cadências, fermatas em notas específicas, etc. Suas valsas e choros são constituídos de duas partes em sua grande maioria, e as mudanças de tonalidades para contraste entre estas, normalmente seguem o procedimento formal de modulações (quarto grau, dominante, relativa maior, etc). Além de compor obras para o violão ao longo da carreira, Dilermando fez arranjos e adaptações de obras vocais conhecidas da época, como Na baixa do Sapateiro, Carinhoso, Índia, músicas que vinham de encontro ao gosto popular emergente da Era do Rádio. Por meio das gravações de peças de compositores eruditos, como Frederic Chopin, Claude Debussy, Robert Schumann, Francisco Tárrega, César GuerraPeixe, Heitor Villa-Lobos, Lorenzo Fernandez, entre outros, apresentou aos ouvintes do rádio obras de concepção erudita. Foi o violonista responsável pela única gravação do Concertino n°1 para violão e orquestra de Radamés Gnattali39, em 1970. Dilermando Reis foi um compositor fértil, compôs e gravou 130 obras para violão, em 34 anos de trabalho como compositor, até o final da década de 1970, deixando ainda manuscritos de músicas não gravadas. Suas peças violonísticas o

39

Compositor e maestro brasileiro (1906-1988) que escreveu importantes obras para o violão, dentre eles quatro concertos para violão e orquestra. Trabalhou trinta anos na Rádio Nacional e escreveu arranjos orquestrais para diversos programas da emissora, dentre eles o programa de violão de Dilermando Reis.

39

colocaram na confortável posição de melhor violonista popular brasileiro, devido à aceitação do público. "Para a maioria dos brasileiros que tem uma idade suficiente para ter acompanhado a Era do Rádio, Dilermando é a encarnação do estilo e da sonoridade do nosso violão solo" (ZANON, 2006). Através de seus estudos com o professor Levino Albano da Conceição, somado ao contato com o repertório popular da época, Dilermando incorporou uma técnica interpretativa muito associada aos elementos de execução do Choro, contendo ao mesmo tempo nítidos traços de erudição técnico-interpretativos herdados da escola violonística do espanhol Francisco Tárrega, resultando em uma assinatura pessoal inconfundível. O estilo de Dilermando como intérprete é tão individual, que tudo que ele tocava se tornava, de alguma forma, Dilermando Reis. Ainda há gente que acredite que Abismo de Rosas ou Sons de Carrilhões sejam de Dilermando, de tal forma estas músicas ficaram associadas à sua interpretação. O mesmo vale para obras clássicas de Barrios ou Tárrega, ou para peças latino-americanas (ZANON, 2006).

Dilermando aproveitava a sustentação sonora proporcionada pelas cordas de aço que utilizou durante toda a carreira para extrair um “(...) cantabile de verdade” (ibid). Auxiliado por pizzicatos freqüentes e por vibratos nas notas boas do violão, Dilermando construiu uma interpretação pessoal que o acompanhou durante toda a carreira, e mesmo “(...) sem ter a execução polida de alguém com treinamento clássico, Dilermando constitui um modelo de fraseado intuitivo totalmente apropriado” (ibid). O violão seresteiro tem o hábito de tocar as notas dos baixos sempre antecipadas em relação à melodia. Dilermando segue esta prática, mas vai muito além: enquanto as notas de acompanhamento mantêm o ritmo firme, a melodia passeia, flutua, num éter de exaltação emocional, freqüentemente se antecipando aos baixos, de uma maneira totalmente espontânea e imprevisível (ibid).

A escolha do encordoamento feita por Dilermando Reis (mesmo quando a superioridade das cordas de nylon já havia sido atestada), gerou críticas dos músicos da época, resultando no afastamento de Dilermando do meio violonístico de seu tempo. Dilermando Reis aprendeu teoria musical suficiente para escrever suas composições, entretanto costumava destinar à amigos violonistas o trabalho de escreverem as obras e arranjos de sua autoria que seriam editados. Sua

40

metodologia estava mais ligada à dos pioneiros do instrumento que costumavam tirar “de ouvido” as músicas para interpretação. Unindo este fator à escolha do encordoamento, Dilermando foi muitas vezes estigmatizado, sendo considerado “(...) quadrado, um simples violeiro ou tocador de violão” (NOGUEIRA, 2000, p.357), e apesar de comprovadas e reafirmadas suas qualidades musicais, este estigma ainda permanece. Sua competência para com o tratamento violonístico pode ser verificada através das diversas transcrições editadas, dos arranjos das obras de outros compositores eruditos e populares, bem como seus estudos para a gravação do Concertino n° 1 de Radamés Gnattali, considerada uma obra erudita contemporânea e complexa para a execução violonística. Dilermando Reis re-significou o violão em um tempo em que este, associado à boemia, era bastante estigmatizado no Brasil. Quando a utilização deste instrumento se fazia presente principalmente nos grupos de chorões, nos regionais ou no acompanhamento dos cantores na Era do Rádio, Dilermando mesclou seu conhecimento herdado da tradição dos pioneiros do violão, com o crescente mercado do Rádio então em ascensão, fazendo a fusão da brasilidade de sua melodia saudosa e brejeira com nítidos traços de erudição, próprios de uma técnica particular, fizeram a sonoridade de seu violão se tornar inconfundível. Sua importância é inegável, tanto como divulgador do violão no Brasil quanto pela importância de sua vasta obra, muitas vezes vista como ultrapassada pelas novas gerações. Sua influência para os violonistas posteriores é nitidamente exemplificada nesta citação: [Renato Murce] – Gostaria que vocês aplaudissem agora Baden Powell! Ele é novinho assim, mas vocês vão ver como ele toca! - O público maravilhouse ao ouvi-lo tocar Magoado do grande Dilermando Reis, considerado então o maior violonista da América Latina (DREYFUS, 1999, p.11).

Após a expansão da nova corrente moderna brasileira do violão popular, chamada de Bossa Nova, oriunda da incorporação de elementos da linguagem do Jazz americano com a estilização rítmica do samba, tem-se um novo panorama na divulgação do instrumento: A popularidade de Dilermando Reis e a bossa nova foram um fator crucial na divulgação do violão no Brasil. Nos anos 60 o violão era uma verdadeira febre, e o violonista que define o papel do violão nos novos movimentos musicais, absorvendo a harmonia da bossa nova e uma vigorosa pegada

41

derivada dos ritmos africanos, e que, para muitos, define o som do violão brasileiro é Baden Powell (ZANON, 2006).

Ou seja, Dilermando Reis foi referência violonística por um período de mais de

trinta

anos

(1940-1975),

influenciando

uma

geração

subseqüente

de

40

instrumentistas que, assim como Baden Powell , assumiram também o papel de divulgar o violão brasileiro reivindicando uma identidade genuinamente brasileira.

40

Violonista e compositor (1937-2000) de extensa obra para o instrumento. Conhecido internacionalmente, trabalhou com técnica erudita nas harmonias e ritmos populares, criando uma execução única que o consagrou como violonista.

42

REFERÊNCIAS

Livros ANTÔNIO; PEREIRA, Irati e Regina. Garoto, Sinal dos tempos. Rio de Janeiro: Funarte, 1982. BARBOSA; DEVOS, Valdinha e Anne Marie. Radamés Gnattali, o eterno experimentador. Rio de Janeiro: Funarte, 1984. CAZES, Henrique. Choro, do quintal ao Municipal. São Paulo: Editora 34, 1998. CAMPOS, Wagner. A História do Violão. Mostra de Instrumentos Musicais. Acessoria Nacional: Caderno Sonora Brasil, 2005. DaMATTA, Roberto. Globalização e Identidade Nacional: Considerações a partir da experiência brasileira. In: MENDES, Cândido (Coord.). Pluralismo cultural, identidade e globalização. Rio de Janeiro: Record, 2001. p.168-199. DREYFUS, Dominique. O violão vadio de Baden Powell. São Paulo: Editora 34, 1999. JEROME, David. The brazilian guitar of Dilermando Reis. California: Ed. Do autor, 2005. LEAL; BARBOSA, José Souza e Artur Luiz. João Pernambuco, Arte de um povo. Rio de Janeiro: Funarte, 1982. MURCE, Renato. Bastidores do Rádio; fragmentos do rádio de ontem e hoje. 1 Ed. Rio de Janeiro: Imago, 1976. NOGUEIRA, Genésio. Dilermando Reis, Sua Majestade, o Violão. Rio de Janeiro: Ed. do autor, 2000. PASCHOITO, Ivan. Great Arrangements of Dilermando Reis. São Paulo: Ed. Fermata do Brasil, 1995. PINTO, Alexandre Gonçalves. O Chôro: reminiscências dos chorões antigos. Rio de Janeiro, MEC/FUNARTE, 1978. SAMPAIO, Renato. O violão brasileiro de Mozart Bicalho. Belo Horizonte: Ed. Hematitas, 2002. SANTOS, Turíbio. Heitor Villa-Lobos e o violão. 1 Ed. Rio de Janeiro: Museu VillaLobos/MEC - Departamento de Assuntos Culturais, 1975. TINHORÃO, J. R. Música popular - do gramofone ao rádio e tv. São Paulo: Ática, 1981. ______ . História Social da Música popular brasileira. São Paulo: Editora 34, 1998. Teses e Dissertações CORDEIRO, Alessandro. A obra para violão solo de Dilermando Reis; transcrição de peças não publicadas e revisão das publicações a partir de fontes primárias. Dissertação de Mestrado em Música – UFG, Goiânia, 2003. PETERS, Ana Paula. De ouvido no Rádio: os programas de auditório e o choro em Curitiba. 2005. Dissertação de Mestrado em Sociologia – UFPR, Curitiba, 2005. PIRES, Luciano Linhares. Dilermando Reis: o violonista brasileiro e suas obras. Dissertação de mestrado em Música – UFRJ, Rio de Janeiro, 1995. TABORDA, Márcia Ermelindo. Dino Sete cordas e o acompanhamento de violão na música popular brasileira. Dissertação de Mestrado em Música – UFRJ, Rio de Janeiro, 1995.

43

Artigos de publicações periódicas (Revistas) CASTAGNA; ANTUNES, Paulo e Gilson. 1916: O violão brasileiro já é uma arte. Cultura vozes, São Paulo, ano 88, n.1, p.37-51, jan/fev.1994. CASTAGNA; SCHWARZ, Paulo e Werner. Uma bibliografia do violão brasileiro (1916-1990). Revista Música, São Paulo, v.4, n.2, p.190-218, nov.1993. JEROME, David. Towards a biography of Dilermando Reis. Soundboard Magazine, Idyllwild - Califórinia, v.31, n.1, Winter 2005. TABORDA, Márcia Ermelindo. Introdução do Violão no Rio de Janeiro. Revista Brasiliana, Rio de Janeiro, n.15, s.p, set. 2003. Artigos de publicações periódicas CASTAGNA, Paulo. A modinha e o lundu nos séculos XVIII e XIX. [S.l.: s.n., 199?]. PETERS, Ana Paula, Revista eletrônica de Musicologia volume VIII, dezembro de 2004. Disponível em: Acesso em: 14.mar.2007. ______ . Do choro aos meios eletrônicos e uma visão interartes. Algumas reflexões para uma História Cultural do Choro. Anais do IV Fórum de Pesquisa Científica em Arte EMBAP, Curitiba, 2006. Disponível em: Acesso em: 13.mai.2007. TABORDA, Márcia Ermelindo. No Tempo da Reprodução: Música Popular Brasileira, primeiros passos. Caderno Cultural Polêmica Imagem nº 10, 2003. Disponível em: Acesso em: 11.dez.2006. ______. No tempo dos Regionais, Caderno Cultural Polêmica Imagem nº 12, 2004. Disponível em: Acesso em: 11.dez.2006. Sítios internéticos Benedito de França Cipolli, vida e obra. Disponível em: Acesso em: 18.mai.2007. Discoteca do Centro Cultural. Discografia Dilermando Reis. Disponível em: . Acesso em: 31.jul.2007 ______. Discografia Odete Amaral. Disponível em: . Acesso em: 31.jul.2007 Fórum Violão Erudito. Entrevista com Ronoel Simões, 23.out.2000. Disponível em: Acesso em: 03.jul.2007 Violão Clássico Weblog. Entrevista com Ronoel Simões, julho de 2005. Disponível em: Acesso em 11.jul.2007 ZANON, Fábio, Violão com Fábio Zanon, programa Dilermando Reis. Disponível em: Acesso em: 11.set.2006. ______. Violão com Fábio Zanon, programa Américo Jacomino, o Canhoto. Disponível em: < http://vcfz.blogspot.com/2006_05_01_archive.html> Acesso em: 08.mai.2007

44

______. Violão com Fábio Zanon, programa João Pernambuco. Disponível em: Acesso em 11.set.06 ______. Violão com Fábio Zanon. Disponível em: Acesso em: 05.dez.2006. ______.A arte do violão. Disponível em: Acesso em: 22.abr.2007. Entrevistas REIS, Dilermando. Entrevista concedida pelo violonista brasileiro ao Museu da Imagem e do Som em 22 de novembro de 1972. Entrevistadores: Fraga Filho, Paulo Roberto, Nelson Karan, Neuza Fernandes. Rio de Janeiro, 22.nov.1972.

45

APÊNDICE: Discografia

Após a transição do método de gravação do sistema mecânico para o sistema elétrico em 1929, a atividade musical ganha mais um campo de atuação, músicos são requeridos para trabalhar nos estúdios fornecendo material para consumo da população. Nesse período outro fator que favoreceu a expansão da prática e da aceitação da música popular no Brasil foi a política econômica criada durante o governo de Getúlio Vargas, a partir da década de 1930. O resultado deste processo incentivou a criação musical ao mesmo tempo em que contribuiu para sua reprodução. A estratégia política do governo Vargas de motivar o crescimento interno no Brasil se deu em diversos campos, visando à sua efetiva justificação e aceitação através da chamada Nova Política Econômica. Incentivado pela iniciativa de motivação econômica através “(...) do aproveitamento potencialidades brasileiras” (TINHORÃO, 1998, p.295), esse movimento encontrou na música popular o material ideal de produção para consumo. Em meio a este contexto de valorização do potencial nacional associado ao desenvolvimento do sistema de gravação, Dilermando Reis ganhou espaço para a construção

de

sua

carreira

violonística,

pois

sua

obra

de

elementos

incontestavelmente brasileiros, viria confirmar a expectativa de um período em que o gosto musical da população voltava-se para a matéria-prima criada no país. Tal afirmação pode ser verificada pelo êxito discográfico na carreira do violonista. Em se tratando da discografia de um instrumentista solista, a quantidade normalmente não é o fator determinante, porém, Dilermando Reis, diferentemente da maior parte dos violonistas de seu tempo, atuou em estúdios nos períodos de 1941 a 1975, que significaram 34 anos de carreira dedicados à gravação de suas obras, transformando-o no violonista que teve maior número de discos lançados no Brasil. A vasta discografia colaborou para o êxito pessoal do instrumentista, assim como contribuiu para a aceitação do violão nas diversas camadas sociais brasileiras. Um dado importante a ser observado é que Dilermando nunca assinou contrato com a Gravadora Continental nos 34 anos de trabalho. “– É bom que o

46

senhor conte à posteridade que há 34 anos41 não tem contrato assinado. – É de boca. – Renovado automaticamente. – Automaticamente” (Entrevista ao Museu da Imagem do Som do Rio de Janeiro, 22.nov.1972). Dilermando gravava grande parte de suas obras com acompanhamento de outro violonista, prática comum realizada pelos pioneiros do violão, (como também o fizera anos antes João Pernambuco). Durante alguns trechos que exigem mais do solista, com escalas ou arpejos rápidos que percorrem o braço do violão e que impossibilitam a execução simultânea das outras notas do acorde, o segundo violonista garante a harmonia executando as células rítmicas características do acompanhamento. O músico que atuou com Dilermando Reis por quase toda a carreira foi Jayme Florence, mais conhecido como Meira42. “Era o único violonista a ter o privilégio de gravar com Dilermando Reis – Sua Majestade, o Violão, como o chamavam” (DREYFUS, 1999, p.21). Além de Meira, Horondino Silva, o Dino sete cordas43 também acompanhou Dilermando, sua presença em três dos LP’s lançados no início da década de 1970 marca a história do violão brasileiro, reunindo um dos melhores violonistas-solistas do Brasil, com as harmonias e baixarias do melhor acompanhador de sete cordas. “São extremamente raros os exemplos de Dino como acompanhador único de cantor ou instrumentista (...). Poderíamos aqui citar os três discos em que acompanha o violonista e compositor Dilermando Reis” (TABORDA, 1995, p.6). Dilermando Reis gravou alguns LPs com orquestra, a que com maior freqüência acompanhou o violonista foi a de Radamés Gnattali. Os arranjos do maestro enriqueceram as composições de Dilermando, e o programa do violonista na Rádio Nacional foi por ele arranjado em muitas ocasiões, como apresentam Barbosa e Devos (1984, p.309) no quadro abaixo:

41

Equívoco do entrevistador, sabendo-se que em 1972 Dilermando completava 31 anos de contrato (verbal) com a Gravadora Continental.

42

Violonista e compositor pernambucano (1909-1982), considerado “(...) o violão de seis cordas mais respeitado da formação de regional” (CAZES, 1998, p.67). Dentre seus alunos destacam-se Baden Powell e Rafael Rabello.

43

Violonista carioca (1918-2006) reconhecido como a maior influência brasileira do violão de sete cordas. Formou com Meira a dupla violonística de maior sucesso dos conjuntos regionais.

47

Programa Dilermando Reis Título

Gênero

Autor

Intérprete

Data

Exodus

Canção

Ernest Gold

Dilermando Reis

31.1.64.

Moon River

Valsa

Henry Mancini

Dilermando Reis

17.1.64

No tempo de vovô

Xote

Dilermando Reis

Dilermando Reis

4.10.63

Recordando a Malangueña

Serenata-espanhola

Dilermando Reis

Dilermando Reis e sua orquestra

2.8.62

Samba em meio tom

Samba-choro

Dilermando Reis

Dilermando Reis

24.7.64

Sob o céu de Brasília

Valsa

Dilermando Reis

Dilermando Reis

24.1.64

Tempo de Criança

Choro

Dilermando Reis

Dilermando Reis

9.10.63

Valsa e dois amores (uma)

Valsa

Dilermando Reis

Dilermando Reis

30.11.62

Devido à sua amizade com Gnattali, Dilermando foi convidado a gravar o Concertino n° 1 para violão e orquestra, composto em 1951, uma obra de linguagem contemporânea, sendo o primeiro de outros três concertos do autor para o instrumento. Há aqui uma discordância no que diz respeito à dedicatória feita por Radamés Gnattali. Alguns LP’s e autores afirmam que Dilermando foi homenageado com o concertino do maestro, mas como aponta corretamente Fábio Zanon: “Seu concertino n° 1 é dedicado ao violonista cubano Juan Mercadal, que se apresentava com freqüência no Brasil nesta época” (ZANON, 2006), e confirma Ronoel Simões, em entrevista concedida à Álvaro Henrique: “O número 1 [concertino], o Dilermando Reis gravou. Eu até pensava que fosse dedicado a ele, mas é dedicado ao Juan Mercadal”44. Dilermando homenageou seu amigo Radamés com a valsa Velha seresta, gravada em seu LP Meu Amigo Violão, de 1965. Com o intuito de oferecer uma fonte para futuras pesquisas sobre Dilermando Reis, apresenta-se o catálogo completo de discos de 78 rpm e LP’s gravados pelo compositor na seção de anexos (Anexo-1). Apresenta-se também na seção de anexos (Anexo-2) uma relação de composições de Dilermando Reis, em ordem alfabética, trazendo o respectivo gênero e referência discográfica. O material apresentado em anexo foi realizado baseando-se em consultas à fonte particular do musicólogo e discófilo Ronoel Simões, revisada e ampliada por 44

Violão clássico Weblog. Entrevista com Ronoel Simões, julho de 2005. Disponível em: Acesso em 11.jul.2007

48

David Jerome. As datas, bem como alguns gêneros estão baseados na discografia apresentada por Nogueira (2000, p.283-298).

49

ANEXOS

ANEXO 1 Discografia de Dilermando Reis

Tipo

Nº de catálogo

Músicas

Gênero

Compositor

Formação instrumental

Lançamento

78RPM (Odeon)

11.253

A – Campista B – Esmeralda

-Choro -Valsa

- H.X. Pinheiro - H. X. Pinheiro

H. X. Pinheiro (viola), Dilermando Reis e Luiz Bittencourt (violões)

Jun.1935 (PIRES, 1995, p.127)

78 RPM (Odeon)

11.866

A – A tua falta B – Olhos tristes

-Canção -Canção

-C. Luiz -V. Paiva

Gastão Formenti, R. Guimarães e Dilermando Reis (violões)

Jun.1940 (PIRES, 1995, p.127)

78 RPM

55.289

A – Fitinha encarnada B – lá longe na minha terra

-Toada -Toada

-Bibi Ferreira -Bibi Ferreira

B. Ferreira, Dilermando Reis e J. Florence (violões)

Ago.1941 (PIRES, 1995, p.127)

78 RPM

55.290

A – Noite de Lua B – Magoado

-Valsa -Choro

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Ac. Inst. do Meira -Ac. Inst. do Meira

78 RPM

15.503

A – Noite de Lua B – Magoado (reedição do 55.290)

-Valsa -Choro

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Ac. Inst. do Meira -Ac. Inst. do Meira

Mai.1944

78 RPM

15.158

A – Dança Chinesa B – Adeus de Pai João

-Dança -Dança típica

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Violão-solo

Jun.1944

78 RPM

15.294

A – Recordando B – Saudade de um dia

-Choro -Valsa

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Ac. Inst. do Meira -Ac. Inst. do Meira

Mar.1945

78 RPM

15.317

A – Minha saudade B – Rapsódia infantil

-Valsa -Fantasia

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Ac. Inst. do Meira -Violão-solo

Abr.1945

78 RPM

15.650

A – Noite de estrelas B – Dedilhando

-Valsa -Choro

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Ac. Inst. do Meira -Ac. Inst. do Meira

Jun.1946

78 RPM

15.674

A – Adelita B – Grajaú

-Mazurca -Choro

-F. Tárrega -Dilermando Reis

-Violão-solo -Ac. Inst. do Meira

Jul-ago.1946

78 RPM (RCA Victor)

80-0530

B – Não revelarás

-Fox

-A. Seixas, A. Passos

-Carlos Galhardo, Dilermando Reis e seu conjunto

Jun.1947 (PIRES, 1995, p.128)

78 RPM

15.888

A – Vê se te agrada B – Dois destinos (1º Gr)

-Choro -Valsa

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Ac. Inst. do Meira -Violão-solo

Mai-jun.1948

78 RPM

15.966

A – Jungle Fantasy B – Araguaia

-Polca Paraguaia

-Esy Morales -Dilermando Reis

Orquestra (Esy M.) -Violão-solo

78 RPM

16.054

A – Súplica B – Tempo de criança

-Valsa -Choro

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Ac. Inst. do Meira

Mai-jun.1949

78 RPM

16.109

A – Flor de Aguapé B – Doutor Sabe Tudo

-Valsa -Choro

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Ac. Inst. do Meira -Ac. Inst. do Meira

Jul-set.1949

78 RPM

16.263

A – Alma Sevilhana B – Quando baila la muchacha

-Serenata -Estilo paraguaio

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Violão-solo

Ago.1941

Out-dez.1948

Jul-ago.1950

78 RPM

16.370

A – Xodó da Baiana B – Promessa

-Choro -Valsa

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Violão-solo

Mar-abr.1951

78 RPM

16.389

A – Cuidado com o velho B – Vaidoso

-Choro -Choro

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Com seu conjunto -Com seu conjunto

Mai.1951

A – Sentimental

-Baião

-Dilermando Reis

78 RPM

16.483

B – Bingo

-Choro

-Dilermando Reis

-c/ Waldir Azevedo e conjunto -c/ Waldir Azevedo e conjunto

Out-dez.1951

78 RPM

16.560

A – Sons de Carrilhões B – Abismo de rosas

-Maxixe -Valsa

-João Pernambuco -Américo Jacomino

-Violão-solo -Violão-solo

Jun.1952

A – Calanguinho

-Calango

-Dilermando Reis

78 RPM

16.753

B – Penumbra

-Bolero

-Dilermando Reis

-c/ Waldir Azevedo e conjunto -c/ Waldir Azevedo e conjunto

Jun.1953

78 RPM

16.803

A – Alma Nortista B – Interrogando

-Valsa -Jongo

-Dilermando Reis -João Pernambuco

-Violão-solo -Violão-solo

Jul-ago.1953

-Fantasia espanhola -Dança oriental

-Violão-solo

16.978

A – Recordando a Malagueña B – Uma noite em Haifa

-Dilermando Reis

78 RPM

-Dilermando Reis

-Violão-solo

A – Eu amo Paris

-Fox-trot

-Cole Porter

78 RPM

17.011

B – Fingimento

-Chorocanção

-Dilermando Reis

-C. Porter e Orquestra - Com seu conjunto

A – Poema de Fibrich 17.094

-Poema musical -Canção russa

-Zedenko Fibrich

78 RPM

A – Dois destinos (2º Gr) B – Vê se te agrada (regravação do 15.888)

-Valsa -Choro

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Ac. Inst. do Meira

A – Limpa Banco

-Polca

-Dilermando Reis

B – Sonhando com você

-Bolero

-Dilermando Reis

-c/ Waldir Azevedo e conjunto -c/ Waldir Azevedo e conjunto

Mai-jun.1955

Fev-mar.1956

B – Barqueiros do volga

-Domínio público

-Violão-elétrico

17.108

78 RPM

17.112

78 RPM

17.242

A – Rosita B - Chuvisco

-Polca -Baião

-Francisco Tárrega -Dilermando Reis

-C/ Conjunto típico -C/ Conjunto típico

-Maxixe -Valsa -Choro -Valsa

-João Pernambuco -Américo Jacomino -Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Violão-solo -Ac. Inst. do Meira -Ac. Inst. do Meira

LPP 225

A – Sons de Carrilhões - Abismo de Rosas - Magoado - Noite de Lua (regravações do 16.560 e 55.290) B – Adelita - Tristesse Op. 10 nº 3 - Adágio (Sonata ao Luar) - Ruas de Espanha

-Mazurca -Estudo -Adágio

-Francisco Tárrega -Frederic Chopin -L. W. Beethoven

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

-Serenata

-Dilermando Reis

-Violão-solo

A – Tristesse Op.10 nº 3 B – Adelita (regravações do LPP 225)

-Estudo -Mazurca

-Frederic Chopin -Francisco Tárrega

-Violão-solo -Violão-solo

-Dança -Pavana -Estudo -Estudo -Estudo -Valsa

-E. Lecuona -Francisco Tárrega -Claude Debussy -Robert Schumann -Frederic Chopin -Dilermando Reis, J. Amorin -Antonio Rovira -J. A. Flores

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

78 RPM

LP

17.358

LPP-3.009

Sua Majestade, o Violão Vol. 1 A – Malagueña - Pavana - Clair de Lune - Romanza - Noturno Op.9 nº 2 B – Se ela perguntar - Romance de amor - Índia

Ago-out.1954

Mar.1955

-Violão-elétrico

78 RPM

10 polegada s

Jun-jul.1954

Mai-jun.1955

Jul.1956

-Canção -Guarânia

-Violão-solo -Violão-solo

Nov-dez.1956

Fev.1958

- Foi boto Sinhá - Araguaia - Marcha Triunfal Brasileira A – Se ela perguntar 78 RPM

17.522

78 RPM

17.604

B – Índia (regravações do LPP 3.009) A – Romance de amor B – Pavana (regravações do LPP3.009) Volta ao Mundo A- Na baixa do sapateiro - Ausência - La despedida (Chilena nº2) - Milongueiro Del Ayer - Estrelita

LP

LPP-3.070

- An Affair to remember - Love is a many splendored Thing B- Dança espanhola nº 5 - Comme Prima - Amoureuse - Uma noite em Haifa - Jalousie - Olhos negros - Duas guitarras Melodias da Alvorada A – Lembro-me ainda - Despertar da montanha - Canção para alguém - Sons de Carrilhões - Adeus de Pai João

LP

LPP-3.091

B – Oiá de Rosinha - Abandono - Quando os olhos falam - Caxinguelê - Exaltação à Brasília A – La Despedida

78RPM

LP

LP

17.799

B – Ausência (regravações do LPP 3.070)

LPP-3.082

Sua Majestade, o Violão Vol. 2 A – Si tu portais e Jhonny Guitar - Dança Chinesa - Toada de saudade - Mattinata - Mágoas de um violão - Tu e Eu B – Fasinação - Rosita - La Paloma - Terra Seca - Sonho de Boneca - Oiá de Rosinha

LPP-3.158

Abismo de Rosas A – Marcha dos marinheiros - Coral Del Nord (dança chilena nº 1) - Sons de Carrilhões

-Lendas A. -Polca Paraguaia -Marcha

-W. Henrique -Dilermando Reis

-Violão-solo -Violão-solo

-Benedito Chaves

-Violão-solo

-Valsa

-Violão-solo

-Guarânia

-Dilermando Reis, J. Amorin -J. A. Flores

-Canção -Pavana

-Antonio Rovira -Francisco Tárrega

-Violão-solo -Violão-solo

-Samba -Guarânia -Dança chilena -Milonga -Canção mexicana -Fox -Fox

-Ary Barroso -Dilermando Reis -Juan Rodriguez

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

-Abel Fleury -Manuel Ponce

-Violão-solo -Violão-solo

-B. C. Adamson -P. F. Webster

-Violão-solo -Violão-solo

-Dança -Canção -Valsa -Dança oriental -Canção -Canção russa -Canção russa

-E. Granados -P. Taccani -Jacob Gade -Dilermando Reis

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

-Jacob Gade -Anônima

-Violão-solo -Violão-solo

-Anônima

-Violão-solo

-Valsa -Tango Brasileiro -Canção -Maxixe -Dança típica -Toada -Sambacanção -Sambacanção -Choro -Samba (Cantado)

-Dilermando Reis -Eduardo Souto

-Dança chilena -Guarânia

-Juan Rodriguez

-Violão-solo

-Dilermando Reis

-Violão-solo

-Canção

-D. Young

-Violão-solo

-Dança -Toada -Canção -Valsa -Canção -Canção -Polca -Dança -Samba -Choro -Toada

-Dilermando Reis -Dilermando Reis -R. Leoncavallo -Dilermando Reis -F. Cibulka -F. D. Marchetti -F. Tárrega -S. Yradier -A. Barroso -Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

-Marcha

-Américo Jacomino

-Violão-solo

-Dança

-Juan Rodriguez

-Violão-solo

-Maxixe

-João Pernambuco

-Violão-solo

-Dilermando Reis -João Pernambuco -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo

-Todas as músicas executadas com acompanhamento da orquestra de Radamés Gnattali

Fev.1958

Nov-dez.1958

Ago.1959

Abr.1960

-Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis

Ago.1960

Set.1960

Set.1961

- Noite de Lua - Magoado - Granadina B – Abismo de Rosas - Adelita - Tristesse Op. 10 nº 3 - Uma valsa e dois amores - Adágio (Sonata ao luar) - Ruas de Espanha

78 RPM

17.888

78 RPM

17.990

78 RPM

18.036

78 RPM

18.054

-Valsa -Choro -Serenata -Valsa -Mazurca -Estudo -Valsa

-Dilermando Reis -Dilermando Reis -Calle Barreta -Américo Jacomino -Francisco Tárrega -Frederic Chopin -Dilermando Reis

-Ac. Inst. do Meira -Ac. Inst. do Meira -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

-Adágio

-L. W. Beethoven

-Violão-solo

-Serenata

-Dilermando Reis

-Violão-solo

-Valsa

-Dilermando Reis

-Violão-solo

-Marcha

-Américo Jacomino

-Violão-solo

Mai.1961

A – Soluços B – Odeon

-Valsa -Tango brasileiro

-José A. Freitas -Ernesto Nazareth

-Violão-solo -Violão-solo

Nov.1961

A – Oiá de Rosinha

-Toada

-Dilermando Reis

B – Abandono

-Sambacanção

-N. Brito

-C/ orquestra de Radamés Gnattali -C/ orquestra de Radamés Gnattali

A – No tempo do Vovô B – Fingimento

-Xote -Chorocanção

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Fantasia espanhola -Bolero -Valsa

-Dilermando Reis

-D. Curtis

- Sob o céu de Brasília B – No tempo do vovô - Tempo de criança - Chuvisco - Rosita - Mágoas de africano - Xodó da baiana

-Canção italiana -Chorocanção -Valsa -Xote -Choro -Baião -Polca -Choro -Batuque

A – L’arlequin de Tolède

-Valsa

-H. Giraud

B – Recordando a Malagueña

-Fantasia espanhola

-Dilermando Reis

Violão e poesia A – Pequena canção de natal B – Idealista, Felicidade, Ato de caridade

-Música e poesia -Música e poesia

-G. Ghiaroni -D. Andrade

-Violão-solo e declamador -Violão-solo e declamador (Declamador: Paulo Gracindo)

-Maxixe -Tango brasileiro

-João Pernambuco -Eduardo Souto

-Violão-solo -Violão-solo

-Valsa -Dobrado

-Mozart Bicalho -A. M. Espírito Santo, B. Macedo

-Ac. Inst. do Meira -Violão-solo

-Valsa -Tango brasileiro -Polca paraguaia -Tango -Fantasia -Valsa

-Mozart Bicalho -Ernesto Nazareth

-Ac. Inst. do Meira -Violão-solo

-Carola

-Violão-solo

-Mattos Rodrigues -Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Ac. Inst. do Meira -Violão-solo -Violão-solo

A – Uma valsa e dois amores B – Marcha dos marinheiros (regravações do LPP 3.158)

Presença de Dilermando Reis A – Recordando a Malagueña - Presença - Uma valsa e dois amores - Torna a Sorriento LP

78 RPM

LPP-3.203

78.018

78 RPM

18.037

78 RPM

78.165

78 RPM

78.220

- Fingimento

A – Sons de Carrilhões B – Despartar da montanha A – Gotas de Lágrimas B – Cisne Branco Gotas de Lágrimas A – Gotas de lágrimas - Brejeiro

LP

PPL-12.072

- Volve Volve - La Cumparsita - Rapsódia infantil - Nossa ternura

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Francisco Tárrega -Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Violão-solo

-Dilermando Reis. -Acompanhamento da orquestra de Radamés Gnattali Part. Especial: Steve Bernard (órgão)

-C/ Orquestra de Guerra Peixe -Violão-solo

Jan.1962

Mar.1962

Mar.1962

Mar.1962

1962

Dez.1962

1963

Set.1963

B – Cateretê mineiro

-Cateretê

-Levino A. Conceição -A. M. espírito Santo, B. Macedo -Dilermando Reis -João Pernambuco -Dilermando Reis -Nelson Piló

-Violão-solo

- Cisne Branco

-Dobrado

- Eterna Saudade - Interrogando - Gauchinha - Suspiro da Nêga

-Valsa -Jongo -Mazurca -Choro

-Agustin Barrios -Anônimo

-Violão-solo -Violão-solo

-P. J. Carcés, S. Aguayo -Levino Albano Conceição -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Luís Americano -P. Webster, Gold, H. Mancini -Dilermando Reis -Massenet -Dilermando Reis

-Violão-solo

-Nelson Pilo/D. Reis -Anônimo -Dilermando Reis -M. Zan, A. Pinto -H. Villa-Lobos -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Américo Jacomino

-Violão-solo -Ac. Inst. do Meira -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

-Ernesto Nazareth

-Violão-solo

- Última inspiração - Samba meigo - Súplica

-Choro -Dança -Choro -Guarânia -Choro -Valsa -Dobrado -Tango brasileiro -Tango brasileiro -Valsa -Samba -Valsa

-P. Pan -Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Ac. Inst. do Meira -Violão-solo

Capitão Caçula A – Gotas de Lágrimas - Cisne Branco

-Valsa -Dobrado

-Ac. Inst. do Meira -Violão-solo

B – Nossa ternura - Capitão Caçula

-Valsa -Dobrado

-Mozart Bicalho -A. M. Espírito Santo, B. Macedo -Dilermando Reis -S. Fonseca

-Canção -Batuque -Valsa -Toada – estilo pampeano -Valsa -Chorocanção -Toada

-A. Borges -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Violão-solo

-Dilermando Reis

-Violão-solo

-Choro -Valsa -Prelúdio

-Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

-Choro -Valsa

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Violão-solo

-Valsa -Chorocanção -Prelúdio -Valsa -Valsa

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Ac. Inst. do Meira -Violão-solo

-J. S. Bach -Dilermando Reis -P. Tchaikovsky

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

-Choro -Chorocanção -Valsa -Choro

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Ac. Inst. do Meira -Ac. Inst. do Meira

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Ac. Inst. do Meira

Junto a Teu Coração A – Junto a teu coração - Prenda minha

LP

LP

PPL-12.143

PPL-12.217

- Noites Del Paraguay

-Valsa -Folclore gaúcho -Polca

- Canção Gaúcha

-Canção

- Fim de festa - Limpa banco B – Domingo em Madrid - Lágrimas de virgem - Suave é a noite, Êxodus, Moon river - Caboclinho - Elegia - Alma Sevillana Meu amigo Violão A – Na ginga da Nêga - Malagueña Sale Rosa - Disse me disse - Chalana - Choro nº 1 - Velha seresta B – Chico Reis - Amor de Argentina - Odeon

LP

LD-33.684

Subindo ao Céu A – Subindo ao Céu - Conversa de baiana - Romântica - Baile na fronteira

LP

PPL-12.298

- Valsa das hortências - Desengano B – Enquanto meu amor não vem - Moderninho - Ana Cristina - Prelúdio em forma de oração - Reclamando - Alma nortista Recordações A – Recordações - Meu lamento

LP

PPL-12.330

- Prelúdio de Bach - Nuvens que passam - Apenas um coração solitário - Guanabara B – Sentimental - Bugrinha - Na onda

-Valsa -Polca -Serenata -Valsa -Canção -Choro -Estudo -Fantasia

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

Nov.1964

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

Set.1965 Uso de cordas de nylon

Out.1965

-Violão-solo -Violão-solo

1966 Uso de cordas de nylon

Jul.1967

- Ternura - Malicioso - Primavera Saudades de Ouro Preto A – Saudades de Ouro Preto - Se ela perguntar

LP

PPL-12.353

LP

LP

- Yá -Mágoas de africano B – Serenata do adeus - Em uma rua de Coimbra - Feitiço - Celeste - Mensagem

CS-50.142

PPL-12.420

Sons de Natal A – White Christmas - Boas festas - Stille nacht, Heil’ge Nacht - O Tannenbaum - O caminho de Belém - Sonho de boneca B – Jingle Bells - Feliz Natal - Adeste Fideles - Blim Blem Blom - Prelúdio em forma de oração - Santo Natal Dilermando Reis A – Ondas do Danúbio - Polquinha do Zé - Coração que sente - Contratempo - Tardes em Lindóia -Aquela saudade B – Rosa - Sobradinho - Pituchinha - Machucando - Choro para Claudinha - Rosas de outono

LP

CPLP 70.003

-A. Silva

-Violão-solo

-Valsa

-Violão-solo

-Valsa -Valsa -Valsa -Valsa -Valsa

-Dilermando Reis, J. Amorin -Z. Abreu, A. Maruqes Jr. -J. A. Freitas -Dilermando Reis -J. Galate, A. Silva, R. Torres -Dilermando Reis -A. Marino -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Ac. Inst. do Meira -Violão-solo

-Valsa

-R. Burns

-Violão-solo

-Valsa -Choro -Valsa -Choro

-J. Barros -Dilermando Reis -Z. Abreu -Pixinguinha, J. Barro -Dilermando Reis -E. Santos -V. Moraes -Dilermando Reis

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

-Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

-Dilermando Reis

-Violão-solo

-Canção -Fadocanção

-J. Pimentel -Dilermando Reis

-C/ orquestra -Ac. Inst. do Meira

-C. natal -C. natal -C. natal

-I. Berlim -A. Valente -J. F. X. Gruber

-C. natal -C. natal -Choro -C. natal -C. natal -C. natal -C. natal -Prelúdio

-E. Anschütz -C. Perret -Dilermando Reis -Domínio público -K. Caldas -Domínio público -Cláudio -Dilermando Reis

-C. natal

-Hoffman

-Valsa -Polca -Valsa -Choro -Valsa -Choro -Valsa

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Ac. Inst. do Meira

-Maxixe -Valsa -Choro -Choro -Valsa

-V. Serqueira -Dilermando Reis -Ernesto Nazareth -Dilermando Reis -Z. Abreu -Dilermando Reis -Pixinguinha, O. Souza -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis -J. Florence -Dilermando Reis

-Concerto

-R. Gnattali

-Modinha -Ponteio -Choro

-L. Fernandez -Guerra Peixe -H. Villa-Lobos

-Violão e orquestra de R. Gnattali -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

-Valsa -Valsa -Valsa

Só nos dois A – Só nós dois B – Em uma rua de Coimbra

PPL-12.428

-Valsa

- Soluços - Mágoas de um violão - Saudades de Matão

- Alma apaixonada 33 RPM

-Violão-solo -Ac. Inst. do Meira -Violão-solo

-Valsa

Gemidos D’alma A – Gemidos D’alma - Candanguinho - Branca - Carinhoso

PPL-12.374

-Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis

- Amando sobre o mar

B – Minha saudade - Rapaziada do Bráz - Dois destinos - Flor de Aguapé - Uma valsa e dois amores - Valsa da despedida

LP

-Valsa -Choro -Valsa

Grand Prix A – Concerto nº 1 para violão e orquestra B – Velha modinha - Ponteado - Choro nº 1

-Valsa -Choro -Valsa Fadocanção -ChoroValsaSambacanção -Valsa

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Ac. Inst. do Meira

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Ac. Inst. do Meira

Todas as músicas executadas com acompanhamento de órgão.

Mar.1968

Set.1968

Mar.1969

1969

1969

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

1970

- Ponteio - La Catedral

LP

LP

PPL-12.455

SLP-10.047

Dilermando Reis A – Sonho de outono - Tema de Lara - É só cascata - Sandrinha - Nossa seresta - Mexicanita B – Maria Betânia - Nhá Chica do baile - Destiny - Oriental - Luar de Maio - Betinha Dilermando Reis A – Carinhanha - Valsa verde - O que bate lá bate cá - Uma história de amor (Love story) - Matutando - Vê se te agrada B – Fogo na canjica - Glória - Cigarro de palha - Promessa - Cismas - Penumbra Dilermando Reis interpreta Pixinguinha A – Carinhoso

LP

SLP-10.081

-Violão-solo -Violão-solo

-Valsa -Canção -Choro -Valsa -Choro -Polca -Valsa -Polca -Canção -Choro -Valsa -Mazurca

-A. Joice e A. Pires -M. Jarre -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Capiba -Dilermando Reis -S. Baines -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

-Toada -Valsa -Choro -Canção

-Dilermando Reis -Capiba, F. Santos -Dilermando Reis -F. Lai, C. Sigman

-Ac. Dino 7 cordas -Violão-solo -Ac. Dino 7 cordas -Violão-solo

-Choro -Choro -Polca -Valsa -Choro -Valsa -Sambacanção -Bolero

-Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis -B. de Oliveira -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Ac. Dino 7 cordas -Ac. Dino 7 cordas -Ac. Dino 7 cordas -Ac. Dino 7 cordas -Ac. Dino 7 cordas -Ac. Dino 7 cordas -Ac. Dino 7 cordas

-Dilermando Reis

-Ac. Dino 7 cordas

-Choro

-Pixinguinha, J. Barro -Pixinguinha, V. Moraes -Pixinguinha, B. Lacerda -Pixinguinha, B. Lacerda -Pixinguinha -Pixinguinha, B. Lacerda -Pixinguinha, B. Lacerda -Pixinguinha -Pixinguinha, B. Lacerda -Pixinguinha, B. Lacerda -Pixinguinha, B. Lacerda -Pixinguinha, B. Lacerda

-Choro

- Cheguei

-Choro

- Ingênuo

-Choro

- Cinco companheiros - Vou vivendo

-Choro -Choro

B – Naquele tempo

-Choro

- Chorei - Cochichando

-Choro -Choro

- Segura ele

-Choro

- Urubatan

-Choro

-Proezas do Solon

-Choro

- Favorito - Tenebroso - Brejeiro SLP-10.116

-H. Tavares -A. Barrios

- Lamentos

Homenagem a Ernesto Nazareth A – Odeon

LP

-Ponteio -Estudo

- Floreaux - Escorregando B – Apanhei-te cavaquinho - Escovado - Ouro sobre azul - Bambino - Espalhafatoso - Biciclete Club

-Tango brasileiro -Choro -Choro -Tango brasileiro -Tango brasileiro -Choro -Choro

-Ernesto Nazareth

-Choro -Choro -Choro -Choro -Tango brasileiro

-Ernesto -Ernesto -Ernesto -Ernesto -Ernesto

-Ernesto Nazareth -Ernesto Nazareth -Ernesto Nazareth -Ernesto Nazareth -Ernesto Nazareth -Ernesto Nazareth Nazareth Nazareth Nazareth Nazareth Nazareth

1970

1971

Todas as músicas executadas com acompanhamento de Horondino Silva (Dino sete cordas

1972

Todas as músicas executadas com acompanhamento de Horondino Silva (Dino sete cordas

1973

LP

LP

1.01.404.11 1

033.404.044

Violão brasileiro de Dilermando Reis A – Terno olhar - Deixa comigo - Eterna mágoa - Miudinho - Viola triste - Quando vovô dançava B – Chegadinho - Balada da saudade - Cavaquinho encabulado - Valsa em Mi - Gente boa - Iracema Concerto nº 1 para violão e orquestra (reedição) A – Concerto nº 1 para violão e orquestra B – Velha modinha - Ponteado - Choro nº 1 - Ponteio - La Catedral Disco de Ouro A – Adágio do Concierto de Aranjuez - Prelúdio em forma de oração - Despertar da montanha - Se ela perguntar

LP

1.01.404.13 4

-Valsa -Choro -Valsa -Choro -Valsa -Xote

-Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Ac. Inst. do Meira -Violão-solo -Ac. Inst. do Meira -Violão-solo -Violão-solo

-Choro -Balada -Choro

-Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Ac. Inst. do Meira -Violão-solo -Ac. Inst. do Meira

-Valsa -Choro -Valsa

-Dilermando Reis -Dilermando Reis -Dilermando Reis

-Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

-Concerto

-R. Gnattali

-Modinha -Ponteio -Choro -Ponteio -Estudo

-L. Fernandez -Guerra Peixe -H. Villa-Lobos -H. Tavares -A. Barrios

-Violão e orquestra de R. Gnattali -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo -Violão-solo

-Adágio

-J. Rodrigo

-Prelúdio

-Dilermando Reis

-Tango brasileiro -Valsa

-E. Souto

- Lembro-me ainda

-Valsa

-Dilermando Reis, J. Amorin -Dilermando reis

- Canção para alguém

-Canção

-Dilermando Reis

- Em uma rua de Coimbra B – Abismo de rosas

-Fadocanção -Valsa

-Dilermando Reis

- Na baixa do sapateiro - Dança espanhola nº 5 - Magoado - Sob o céu de Brasília

-Samba -Dança

-A. Barroso -E. Granados

-Choro -Valsa

-Dilermando Reis -Dilermando Reis

- Tempo de criança

-Choro

-Dilermando Reis

- Ruas de Espanha

-Serenata

-Dilermando Reis

-A. Jacomino

-C/ orquestra de R. Gnattali -C/ orquestra de R. Gnattali -C/ orquestra de R. Gnattali -C/ orquestra de R. Gnattali -C/ orquestra de R. Gnattali -C/ orquestra de R. Gnattali -Ac. Inst. do Meira -C/ orquestra de R. Gnattali -Violão-solo -Violão-solo -Ac. Inst. do Meira -C/ orquestra de R. Gnattali -C/ orquestra de R. Gnattali -Violão-solo

1975

1976

1976

ANEXO 2 Catálogo de composições de Dilermando Reis

MÚSICA

GÊNERO

GRAVAÇÕES

Abandono

Samba-canção

- LP: LPP-3.091 (Melodias da alvorada – 1960) - 78 RPM: 18.036 (1962)

Adeus de Pai João

Dança típica

- 78 RPM: 15.158 (1944) - LP: LPP-3.091 (Melodias da alvorada – 1960)

Alma apaixonada

Valsa

- LP: PPL-12.374 (Gemidos d’alma – 1968)

Alma nortista

Valsa

- 78 RPM: 16.803 (1953) - LP: PPL-12.298 (Subindo ao céu – 1966)

Alma Sevillana

Fantasia

- 78 RPM: 16.263 (1950) - LP: PPL-12.143 (Junto a Teu coração – 1964)

Ana Cristina

Valsa

- LP: PPL-12.298 (Subindo ao céu – 1966)

Aquela saudade

Choro

- LP: PPL-12.428 (Dilermando Reis – 1969)

Araguaia

Polca paraguaia

- 78 RPM: 15.966 (1948) - LP: LPP-3.009 (Sua majestade o Violão Vol. 1 – 1958)

Ausência

Guarânia

- LP: LPP-3.070 (Volta ao mundo – 1959) - 78 RPM: 17.799 (1960)

Baile na fronteira

- LP: PPL-12.298 (Subindo ao céu – 1968)

Balada da saudade

Toada estilo pampeano Balada

Betinha

Mazurca

- LP: PPL-12.455 (Dilermando Reis – 1970)

Bingo

Choro

- 78 RPM: 16.483 (1951)

Bugrinha

Valsa

- LP: PPL-12.330 (Recordações – 1967)

Caboclinho

Choro

- LP: PPL-12.143 (Junto a Teu coração – 1964)

Calanguinho

Calango

- 78 RPM: 16.753 (1953)

Canção para alguém

Canção

- LP: LPP-3.091 (Melodias da alvorada – 1960) - LP: 1.01.404.314 (Disco de ouro – 1976)

Candanguinho

Choro

- LP: PPL-12.374 (Gemidos d’alma – 1968)

Carinhanha

Toada

- LP: SLP-10.047 (Dilermando Reis – 1971)

Cavaquinho encabulado

Choro

- LP: 1.01.401.111 (O violão brasileiro de Dilermando Reis – 1975)

Caxinguelê

Choro

- LP: LPP-3.091 (Melodias da alvorada – 1960)

Celeste

Valsa

- LP: PPL-12.374 (Gemidos d’alma – 1968)

Chegadinho

Choro

- LP: 1.01.401.111 (O violão brasileiro de Dilermando Reis – 1975)

Chico Reis

Dobrado

- LP: PPL-12.217 (Meu amigo violão – 1965)

Chuvisco

Baião

- 78 RPM: 17.242 (1956) - LP: LPP-3.203 (Presença de Dilermando Reis – 1962)

Cigarro de palha

Choro

- LP: SLP-10.047 (Dilermando Reis – 1971)

- LP: 1.01.401.111 (O violão brasileiro de Dilermando Reis – 1975)

Cismas

Samba

- LP: SLP-10.047 (Dilermando Reis – 1971)

Contratempo

Choro

- LP: PPL-12.428 (Dilermando Reis – 1969)

Conversa de baiana

Batuque

- LP: PPL-12.298 (Subindo ao céu – 1968)

Cuidado com o velho

Choro

- 78 RPM: 16.389 (1951)

Dança chinesa

Dança

- 78 RPM: 15.158 (1944) - LP: LPP-3.028 (Sua majestade, o Violão vol. 2 – 1960)

Dedilhando

Choro

- 78 RPM: 15.650 (1946)

Deixa comigo

Choro

- LP: 1.01.401.111 (O violão brasileiro de Dilermando Reis – 1975)

Desengano

Choro-canção

- LP: PPL-12.298 (Subindo ao céu – 1968)

Disse me disse

Choro

- LP: PPL-12.217 (Meu amigo violão – 1965)

Dois destinos

Valsa

- 78 RPM: 15.888 (1948) - 78 RPM: 17.108 (1955) - LP: PPL -12.353 (Saudades de Ouro Preto – 1968)

Domingo em Madrid

Serenata

- LP: PPL-12.143 (Junto a Teu coração – 1964)

Doutor Sabe tudo

Choro

- 78 RPM: 16.109 (1949)

É só cascata

Choro

- LP: PPL-12.455 (Dilermando Reis – 1970)

Em uma rua de Coimbra

Fado-canção

- LP: PPL-12.374 (Gemidos d’alma – 1968) - 33 RPM: CS-50.142 (Só nós dois – 1969) - LP: 1.01.404.314 (Disco de ouro – 1976)

Enquanto meu amor não vem Eterna Mágoa

Toada

- LP: PPL-12.298 (Subindo ao céu – 1968)

Valsa

- LP: 1.01.401.111 (O violão brasileiro de Dilermando Reis – 1975)

Eterna saudade

Valsa

- LP: PPL-12.072 (Gotas de lágrimas – 1963)

Exaltação à Brasília

Samba

- LP: LPP-3.091 (Melodias da alvorada – 1960)

Feitiço

Choro

- LP: PPL-12.374 (Gemidos d’alma – 1968)

Fim de festa

Valsa

- LP: PPL-12.143 (Junto a Teu coração – 1964)

Fingimento

Choro-canção

- 78 RPM: 17.011 (1954) - 78 RPM: 18.054 (1962) - LP: LPP-3.203 (Presença de Dilermando Reis – 1962)

Flor de Aguapé

Valsa

- 78 RPM: 16.109 (1949) - LP: PPL -12.353 (Saudades de Ouro Preto – 1968)

Fogo na canjica

Polca

- LP: SLP-10.047 (Dilermando Reis – 1971)

Gauchinha

Polca

- LP: PPL-12.072 (Gotas de lágrimas – 1963)

Gente boa

Choro

- LP: 1.01.401.111 (O violão brasileiro de Dilermando Reis – 1975)

Grajaú

Choro

- 78 RPM: 15.674 (1946)

Guanabara

Choro

- LP: PPL-12.330 (Recordações – 1967)

Guaratinguetá

Guarânia

- 78 RPM: CS-609 (1963) Gravadora: Caboclo (PIRES, 1995, p.133)

Iracema

Valsa

- LP: 1.01.401.111 (O violão brasileiro de Dilermando Reis – 1975)

Lembro-me ainda

Valsa

- LP: LPP-3.091 (Melodias da alvorada – 1960) - LP: 1.01.404.314 (Disco de ouro – 1976)

Limpa banco

Polca

- 78 RPM; 17.112 (1955) - LP: PPL-12.143 (Junto a Teu coração – 1964)

Luar de maio

Valsa

- LP: PPL-12.455 (Dilermando Reis – 1970)

Machucando

Choro

- LP: PPL-12.428 (Dilermando Reis – 1969)

Mágoas de um violão

Valsa

- LP: LPP-3.028 (Sua majestade, o Violão vol. 2 – 1960) - LP: PPL -12.353 (Saudades de Ouro Preto – 1968)

Malicioso

Choro

- LP: PPL-12.330 (Recordações – 1967)

Magoado

Choro

- 78 RPM: 55.290 (1941) - 78 RPM: 15.503 (1944) - 10 Polegadas: LPP-225 (1956) - LP: LPP-3.158 (Abismo de rosas – 1961) - LP: PPL-12.298 (Subindo ao céu – 1966) - LP: 1.01.404.314 (Disco de ouro – 1976)

Mágoas de africano

Choro

- LP: LPP-3.203 (Presença de Dilermando Reis – 1962) - LP: PPL-12.374 (Gemidos d’alma – 1968)

Matutando

Choro

- LP: SLP-10.047 (Dilermando Reis – 1971)

Mensagem

Samba-canção

- LP: PPL-12.374 (Gemidos d’alma – 1968)

Meu lamento

Choro-canção

- LP: PPL-12.330 (Recordações – 1967)

Mexicanita

Polca

- LP: PPL-12.455 (Dilermando Reis – 1970)

Minha saudade

Valsa

- 78 RPM: 15.317 (1945) - LP: PPL -12.353 (Saudades de Ouro Preto – 1968)

Miudinho

Choro

- LP: 1.01.401.111 (O violão brasileiro de Dilermando Reis – 1975)

Moderninho

Choro

- LP: PPL-12.298 (Subindo ao céu – 1966)

Na ginga da nêga

Choro

- LP: PPL-12.217 (Meu amigo violão – 1965)

Na onda

Choro

- LP: PPL-12.330 (Recordações – 1967)

Nhá Chica no baile

Polca

- LP: PPL-12.455 (Dilermando Reis – 1970)

No tempo do vovô

Xote

- 78 RPM: 18.054 (1962) - LP: LPP-3.203 (Presença de Dilermando Reis – 1962)

Noite de estrelas

Valsa

- 78 RPM: 15.650 (1946)

Noite de Lua

Valsa

- 78 RPM: 55.290 (1941) - 78 RPM: 15.503 (1944)

- 10 Polegadas: LPP-225 (1956) - LP: LPP-3.158 (Abismo de rosas – 1961)

Nossa seresta

Valsa

- LP: PPL-12.455 (Dilermando Reis – 1970)

Nossa ternura

Valsa

- LP: PPL-12.072 (Gotas de lágrimas – 1963) - LP: 33.684 (Capitão caçula – 1965)

Nuvens que passam

Valsa

- LP: PPL-12.330 (Recordações – 1967)

O que bate lá bate cá

Choro

- LP: SLP-10.047 (Dilermando Reis – 1971)

O que é que há?

Choro

- 78 RPM: 16.189 (Waldir Azevedo e conjunto – 1950) (PIRES, 1995, p.129)

Oiá de Rosinha

Toada

- LP: LPP-3.091 (Melodias da alvorada – 1960) - LP: LPP-3.028 (Sua majestade, o Violão vol. 2 – 1960) - 78 RPM: 18.036 (1962)

Oriental

Choro

- LP: PPL-12.455 (Dilermando Reis – 1970)

Penumbra

Bolero

- 78 RPM: 16.753 (1953) - LP: SLP-10.047 (Dilermando Reis – 1971)

Pituchinha

Valsa

- LP: PPL-12.428 (Dilermando Reis – 1969)

Polquinha do Zé

Polca

- LP: PPL-12.428 (Dilermando Reis – 1969)

Prelúdio

- LP: PPL-12.298 (Subindo ao céu – 1966) - LP: PPL-12.420 (Sons de natal – 1969) - LP: 1.01.404.314 (Disco de ouro – 1976)

Presença

Bolero

- LP: LPP-3.203 (Presença de Dilermando Reis – 1962)

Primavera

Valsa

- LP: PPL-12.330 (Recordações – 1967)

Promessa

Valsa

- 78 RPM: 16.370 (1951) - LP: SLP-10.047 (Dilermando Reis – 1971)

Estilo paraguaio

- 78 RPM: 16.263 (1950)

Quando chega a saudade

Choro

- 78 RPM: 248 (Gravadora Star) Heitor Avena de Castro – Cítara (1951) (PIRES, 1995, p.130)

Quando os olhos falam

Samba-canção

- LP: LPP-3.091 (Melodias da alvorada – 1960)

Quando vovô dançava

Xote

- LP: 1.01.401.111 (O violão brasileiro de Dilermando Reis – 1975)

Rapsódia infantil

Fantasia

- 78 RPM: 15.317 (1945) - LP: PPL-12.072 (Gotas de lágrimas – 1963)

Reclamando

Choro

- LP: PPL-12.298 (Subindo ao céu – 1966)

Recordações

Valsa

- LP: PPL-12.330 (Recordações – 1967)

Recordando

Choro

- 78 RPM: 15.294 (1945)

Recordando a Malagueña

Fantasia espanhola

- 78 RPM: 16.978 (1954) - LP: LPP-3.203 (Presença de Dilermando Reis – 1962) - 78 RPM: 78.018 (1962)

Romântica

Valsa

- LP: PPL-12.298 (Subindo ao céu – 1966)

Prelúdio oração

em forma

Quando muchacha

baila

de

la

Rosas de outono

Valsa

- LP: PPL-12.428 (Dilermando Reis – 1969)

Ruas de Espanha

Serenata

- 10 Polegadas: LPP-225 (1956) - LP: LPP-3.158 (Abismo de rosas – 1961) - LP: 1.01.404.314 (Disco de ouro – 1976)

Salário mínimo

Choro-baião

-Manuscritos de Dilermando Reis (apud JEROME, 2005, p. 13)

Samba em meio tom

Samba-choro

(VALDINHA; DEVOS, 1984, p.309)

Samba meigo

Samba

- LP: PPL-12.217 (Meu amigo violão – 1965)

Sandrinha

Valsa

- LP: PPL-12.455 (Dilermando Reis – 1970)

Saudade de um dia

Valsa

- 78 RPM: 15.294 (1945)

Se ela perguntar

Valsa

- LP: LPP-3.009 (Sua majestade o Violão Vol. 1 – 1958) - 78 RPM: 17.522 (1958) - LP: PPL -12.353 (Saudades de Ouro Preto – 1968) - LP: 1.01.404.314 (Disco de ouro – 1976)

Sentimental

Baião

- 78 RPM: 16.483 (1951) - LP: PPL-12.330 (Recordações – 1967)

Sob o céu de Brasília

Valsa

- LP: LPP-3.203 (Presença de Dilermando Reis – 1962) - LP: 1.01.404.314 (Disco de ouro – 1976)

Sobradinho

Maxixe

- LP: PPL-12.428 (Dilermando Reis – 1969)

Sonhando com você

Bolero

- 78 RPM: 17.112 (1955)

Sonho de boneca

Choro

- LP: LPP-3.028 (Sua majestade, o Violão vol. 2 – 1960) - LP: PPL-12.420 (Sons de natal – 1969)

Súplica

Valsa

- 78 RPM: 16.054 (1949) - LP: PPL-12.217 (Meu amigo violão – 1965)

Ternura

Valsa

- LP: PPL-12.330 (Recordações – 1967)

Toada de saudade

Toada

- LP: LPP-3.028 (Sua majestade, o Violão vol. 2 – 1960)

Tempo de criança

Choro

- 78 RPM: 16.054 (1949) - LP: LPP-3.203 (Presença de Dilermando Reis – 1962) - LP: 1.01.404.314 (Disco de ouro – 1976)

Terno olhar

Valsa

- LP: 1.01.401.111 (O violão brasileiro de Dilermando Reis – 1975)

Uma valsa e dois amores

Valsa

- LP: LPP-3.158 (Abismo de rosas – 1961) - 78 RPM: 17.888 (1961) - LP: LPP-3.203 (Presença de Dilermando Reis – 1962) - LP: PPL -12.353 (Saudades de Ouro Preto – 1968)

Uma noite em Haifa

Dança oriental

- 78 RPM: 16.978 (1954) - LP: LPP-3.070 (Volta ao mundo – 1959)

Vaidoso

Choro

- 78 RPM: 16.389 (1951)

Vê se te agrada

Choro

- 78 RPM: 15.888 (1948) - 78 RPM: 17.108 (1955)

Serenata Sinházinha

- LP: SLP-10.047 (Dilermando Reis – 1971)

Viola triste

Valsa

- LP: 1.01.401.111 (O violão brasileiro de Dilermando Reis – 1975)

Valsa das hortências

Valsa

- LP: PPL-12.298 (Subindo ao céu – 1966)

Valsa em Mi

Valsa

- LP: 1.01.401.111 (O violão brasileiro de Dilermando Reis – 1975)

Velha seresta

Valsa

- LP: PPL-12.217 (Meu amigo violão – 1965)

Xodó da baiana

Batuque

- 78 RPM: 16.370 (1951) - LP: LPP-3.203 (Presença de Dilermando Reis – 1962)



Valsa

- LP: PPL-12.374 (Gemidos d’alma – 1968)

ANEXO 3 Parcerias de Dilermando Reis interpretadas por cantores

Música

Gênero

Compositores

Disco

Que me importa

Samba-canção

Dilermando Reis, Jair Amorin – na voz de Nelson Gonçalves

RCA Victor 801.847a (out.1957)

Indiferença

Choro

Dilermando Reis – na voz de Odete Amaral

Tudo tem no Brasil

Samba

Pedro Caetano, Castro Barbosa, Dilermando Reis – na voz de Castro Barbosa

Odeon 13.126a (mai.1951) Colúmbia 55.236b (set.1940)

Pela última vez

Samba-canção

Dilermando Reis, Jair Amorin – na voz de Carlos Galhardo

Se ela perguntar

Valsa

Dilermando Reis, Jair Amorin – na voz de Carlos Galhardo

O que é que há

Choro

Dilermando Reis – gravado por Waldir Azevedo

Victor 800.789a (mai.1951) RCA Victor 800.865b (jan.1952) Continental 16.189b (jan/fev.1950)

Fonte: David Jerome, Califórnia, arquivo pessoal do autor.

Música

Gênero

Compositores

É tão tarde

Samba-canção

Dilermando Reis, Jair Amorin – na voz de Roberto Luna

Odeon 14.094 (out.1956)

Brasília

Samba-canção

Dilermando Reis, Bastos Tigre – na voz de Cear Prates, Radamés Gnattali e sua orquestra

Continental 17.442a (1957)

Exaltação à Brasília

Samba

Dilermando Reis, Bastos Tigre – na voz de Heleninha Costa, Guio de Moraes e sua orquestra

Toda América TA-5.811 (Fev.1959)

Guaratinguetá

Guarânia

Dilermando Reis,– gravado por Raul Torres e Florêncio, conjunto

Caboclo CS-609 (1963)

Fonte: (PIRES, 1995, p.131-133)

Disco

ANEXO 4 Primeira foto profissional de Dilermando Reis

Fonte: (NOGUEIRA, 2000, p.12)

ANEXO 5 Foto de Dilermando Reis nos estúdios da Rádio Clube do Brasil, por volta de 1940

Fonte: (JEROME, 2005, p.1)

ANEXO 6 Foto mais conhecida do público na década de 1950

Fonte: (NOGUEIRA, 2000, p.5)

ANEXO 7 Última foto registrada do violonista, década de 1970

Fonte: (NOGUEIRA, 2000, p.416)

ANEXO 8 Matéria de jornal com apreciação sobre o músico

Retirado do artigo do Jornal do Brasil, em 24.out.1975, escrito por José Ramos Tinhorão (apud NOGUEIRA, 2000, p.99-100) O violão brasileiro (mesmo) de Dilermando Reis O aparecimento da bossa nova, a partir de fins da década de 1950, projetando novas expectativas de comportamento entre as camadas jovens da classe média urbana, provocou em muitos pontos uma ruptura fundamental com valores tradicionais da cultura brasileira. Um desses pontos foi a maneira de tocar violão. Com a transformação do estilo criado pelo baiano João Gilberto, no único admissível entre pessoas julgadas modernas, todas as demais escolas de violão, inclusive as dos espanhóis Tárrega e Segóvia, de aceitação universal, tornam-se automaticamente desprezíveis e ultrapassadas. E no campo do violão popular, então, esse preconceito dos neófitos da classe média urbana pós-guerra fez que o violão de baixaria fosse considerado algo artisticamente desprezível. Felizmente,

como

apesar

da

ditadura

dos

meios

de divulgação,

unanimemente dirigidos às pessoas da chamada classe A, ainda não se conseguiu sufocar as correntes artísticas anteriores ao advento da nova verdade dos contratos de risco cultural, ainda se consegue ouvir um som de violão brasileiro não submetido às necessidades rítmicas de suporte para melodias e harmonias norte americanas. Entre esses violões está do competentíssimo Dilermando Reis, que agora reaparece em disco lançado pela Continental no LP O

violão brasileiro de Dilermando Reis. Num certo sentido, não se pode mais pedir ligações com as fontes artísticas realmente populares do que as apresentadas por esse paulista de Guaratinguetá, nascido em 1916: para começar, começou tocando com um cego – o famoso concertista Levino Albano da Conceição (...). A verdade é que, apesar de todas as desculpas que as pessoas costumam dar para gostar do estilo de Dilermando Reis – ele é bom, mas parou no tempo, toca quadrado, mas é um quadrado maravilhoso – o violão de Oiá de Rosinha [apresentada no compêndio] (mais tarde recriada pro Theo de Barros com o nome de Disparada) é um violão que se ouve com interesse, agrado e ternura.

Sem

precisar

complicar a interpretação, como

fazem

os

atuais

violonistas da escola de Baden Powell, preocupados em

tocar

mais

instrumento,

que

o

Dilermando

Reis procura arrancar do violão o que ele é capaz de oferecer

de

caprichando

emoção,

nos

efeitos

expressivos , o que acaba estabelecendo

entre

ele,

seu instrumento e o ouvinte um clima de intimidade que transforma pessoas

música em

e

velhos

conhecidos. É Reis

este

que

Dilermando

todos

estão

convidados a ouvir tocando – e o título faz justiça ao disco – um violão brasileiro.

Anexo 9 Compêndio musical brevemente comentado

1- Iracema (Retirado do LP Violão Brasileiro de Dilermando Reis: 1.01.404.052 1975. Gênero: Valsa; violão-solo). A primeira composição de Dilermando Reis, gravada em seu último LP.Composta de duas partes; tonalidade principal é Mi Maior, contrastando com a segunda parte em Lá Maior. Foi editada e transcrita por David Jerome (2005, p.39). 2- Gotas de Lágrimas (Retirado do LP Gotas de Lágrimas: PPL-12.072 – 1965. Gênero: Valsa; violão-solo. Compositor: Mozart Bicalho).

Gotas de Lágrimas foi uma peça executada por grande parte dos violonistas do início do século XX. Sua melodia cromática exigia grande virtuosismo do executante, sendo por isso considerada uma "música de desafio". Para Dilermando Reis esta obra significou seu ingresso na Rádio Transmissora, pois somente após ouvir a execução do violonista é que Renato Murce o convidou para integrar o cast da emissora. Editada por Renato Sampaio e transcrita por Nelson Pilo (2002, p.63). 3- Noite de Lua (Retirado do LP Abismo de Rosas: LPP-3.158 – 1961. Gênero: Valsa; acompanhamento: Meira45, segundo violão). Lançada em seu primeiro disco de 78 rpm, esta obra foi a apresentação de Dilermando Reis ao meio discográfico, contendo os traços de sua execução pessoal. Composta em três partes, apresenta a tonalidade de Lá menor, seguida por Dó Maior e a última em Lá Maior. A obra é conhecida do público e executada pelos violonistas, tendo sido editada pela Bandeirante Editora Musical, em 1952. Já foi mencionada a semelhança entre esta obra e Gotas de Lágrimas, aqui entendido como um estudo de estilo no desenvolvimento de Dilermando Reis como compositor. 4- Magoado (Retirado do LP Abismo de Rosas: LPP-3.158 – 1961. Gênero: Choro; acompanhamento: Meira, segundo violão) 45

Vide p.46

Foi lançado em seu primeiro disco de 78 rpm, junto com a valsa Noite de

Lua. Trata-se do mais conhecido choro de Dilermando Reis, também transcrito para outros instrumentos. Composto de duas partes, sua tonalidade é Lá menor, sendo a segunda em Lá Maior, contendo o tema inicial desta executados em intervalos de 3ªs pelos dois violões, e na repetição, o tema é tocado em pizzicatos. Foi a obra mais regravada pelo violonista em discos ao longo de sua carreira discográfica. 5- Abismo de Rosas (Retirado do LP Abismo de Rosas: LPP-3.158 – 1961. Gênero: Valsa; violão-solo. Compositor: Américo Jacomino, o Canhoto). Dilermando Reis interpretava Abismo de Rosas de maneira tão pessoal que muitas vezes a autoria desta lhe foi atribuída. Foi o grande responsável pela aceitação nacional desta música, e de maneira geral, pela obra de Canhoto. A interpretação da valsa pode demonstrar a influência que a obra de Américo Jacomino exerceu sobre Dilermando Reis: seja na composição, seja na interpretação, repleta de rubatos e ritardandos. A execução de Dilermando foi transcrita e encontra-se editada no livro de Ivan Paschoito (1995, p.12). 6- Grajaú (Retirado do disco de 78 rpm 15.674 – 1946. Gênero: Choro; acompanhamento: Meira, segundo violão). Este choro foi gravado uma única vez, no disco de 78 rpm, supracitado, daí a importância de sua inclusão no CD em anexo. Trata-se de uma composição de início de carreira de Dilermando Reis, já que este havia lançado somente 10 músicas até o ano de 1946. Quando esta obra foi editada, o violonista demorou oito anos para conseguir vender os mil exemplares impressos, “(...) que eram adquiridos com o próprio compositor” (.NOGUEIRA, 2000, p.142). Dividida em duas partes, sua tonalidade é Mi Maior. 7- Promessa (Retirado do LP Dilermando Reis: SLP-10.047 – 1971. Gênero: Valsa; violão-solo).

Esta obra foi gravada apenas duas vezes ao longo da discografia de Dilermando Reis, em 1951, e, regravada em 1971. A tonalidade é em Mi Maior, que segundo Nogueira (2000, p.153) era a “(...) preferida por ele”, sendo a segunda parte em Lá Maior. Dilermando ofereceu essa valsa ao “(...) professor e violonista Isaías Sávio” (ibid, p.153). Foi editada em 1953. 8- Disse me disse (Retirado do LP Meu amigo violão: PPL-12.217 – 1965. Gênero: Choro; violão-solo). Gravada em seu último LP, esta obra apresenta características particulares das típicas composições de Dilermando Reis. A melodia desenvolve-se sobre uma construção harmônica formada por acordes de 7ª Maior ao longo da obra, em uma espécie de “composição moderna”, no momento em que a bossa-nova utilizava em larga escala suas inovações harmônicas. “(...) É como se ele dissesse: – Estão

vendo, eu também sei escrever estes acordes dissonantes” (Zanon, 2006). Dividida em duas partes, sendo a primeira em Lá Maior, com uma breve modulação para Ré Maior na segunda parte, essa peça foi transcrita e editada por David Jerome (2005, p.30). 9- Balada da saudade (Retirado do LP Violão Brasileiro de Dilermando Reis: 1.01.404.052 – 1975. Gênero: Valsa; violão-solo). Uma peça particular na carreira do violonista, de caráter semiimprovisatório46, apresentando uma liberdade rítmica tão pessoal na parte A, que levou David Jerome em sua transcrição (2005, p.22) a denominar o andamento no início da partitura com um “freely”, ou seja, livremente. Seu tema na segunda parte é um pouco mais fluente, e a tonalidade da obra é em Mi menor. Segundo Jerome (2005, p.12) esta obra foi composta “quando [Dilermando foi] convidado por um entrevistador de rádio para tocar uma peça que fizesse o ouvinte conhecer sua

46

Esta obra apresenta uma construção com respirações fraseológicas longas, fraseados intuitivos, arpejos de acordes dominantes e suspensão do movimento cadencial.

sensibilidade, ele tocou uma música, quase improvisadamente, que mais tarde gravou como Balada da saudade”47. 10- Oiá de Rosinha (Retirado do LP Melodias da Alvorada: LPP-3.091 – 1960. Gênero: Toada; acompanhamento: Orquestra de Radamés Gnattali). Incluiu-se esta obra para apresentar tanto a atuação do violonista frente à orquestra do maestro Radamés Gnattali, quanto a versatilidade composicional de Dilermando em um gênero regionalista que lembra em muito a moda de viola, sendo que a própria afinação do instrumento nesta obra confirma este regionalismo: D-G-D-G-B-D48. A sonoridade de suas cordas de aço contribuiu ainda mais para a associação com uma música de caráter interiorano. Dilermando adicionou um efeito percussivo nesta música, que é obtido batendo-se a mão direita no cavalete do violão, resultando na sonoridade da figura rítmica que é repetida ao longo da peça. A tonalidade da peça é Sol Maior, foi transcrita e editada por David Jerome (2005, p.42). 11- Na baixa do sapateiro (Retirado do LP Disco de Ouro: 1.01.404.134 – 1976. Gênero: Samba; violão-solo. Compositor: Ary Barroso). Esta música demonstra as qualidades de Dilermando Reis como arranjador “(...) original e habilidoso” (PASCHOITO, 1995, p.9), em um exemplo de transcrição que freqüentemente realizava das músicas vocais da época, para inclusão posterior em seus programas de rádio. Com sua interpretação pessoal, Dilermando acrescentou pizzicatos no tema, rubatos e ritardandos, adicionando elementos interpretativos que eram muito utilizados por ele. A tonalidade do arranjo é Ré Maior, e foi editado apenas uma vez 49.

47

(JEROME, 2005, p.12): “When asked by a radio interviewer to play a piece that would allow a listener to know his sensibility, he played a piece, quasi-improvised, which he latter recorded as ‘Balada de Saudade’”. (Tradução do autor). 48 Ibid, p.13. 49 Não foi possível localizar informações mais precisas acerca da data e da editora responsável pela publicação deste arranjo.

12- Prelúdio em forma de oração (Retirado do LP Sons de Natal: LPP-12.420 – 1969. Gênero: Prelúdio; acompanhamento: órgão). A única composição do gênero realizada por Dilermando Reis, um estudo para o violão, mostrando seu conhecimento sobre a construção formal do prelúdio. Lembra obras do mesmo gênero que faziam parte do repertório do violonista, a peça explora o uso das cordas soltas, bem como a extensão do instrumento. Foi transcrita e editada por David Jerome (2005, p.46). 13- Se ela perguntar (Retirado do LP Sua Majestade, o Violão: LPP-3.009 – 1958. Gênero: Valsa; violão-solo). Incluiu-se no compêndio esta valsa devido à sua importância na divulgação do violonista. Seis anos antes de ser gravada pela primeira vez por Dilermando, a valsa recebeu uma letra e foi interpretada por Carlos Galhardo50, resultando em regravações por importantes cantores da época e na grande aceitação. É a valsa mais conhecida e executada pelos violonistas, alcançando sucesso internacional. É constituída de duas partes, sendo a tonalidade principal de Mi menor. Apresenta as características pessoais interpretativas utilizadas por Dilermando Reis ao longo de sua carreira. Foi publicada pela primeira vez pela Editora Bandeirante, em 1954. 14- Xodó da baiana (Retirado do disco de 78 rpm 16.370 – 1951. Gênero: Batuque; violão-solo). Outra obra de Dilermando apreciada e executada internacionalmente, representa melodicamente, harmonicamente e na figuração dos baixos elementos característicos nitidamente brasileiros, acreditando ser este o motivo principal de seu sucesso fora do Brasil. Tal avaliação difere daquela realizada por Zanon (2006) quando supõe a “despretensão” da obra como sendo o principal fator de aceitação. Composta de duas partes, a primeira na tonalidade de Ré menor e a segunda na de Ré Maior. Como outra característica marcante desta música, sua

50

Cantor brasileiro (1913-1985), conhecido como O cantor que dispensa adjetivos, atuou em diversas emissoras ao longo da carreira e foi um dos grandes nomes da Era do Rádio.

execução prevê afinação diferenciada: sexta corda afinada um tom abaixo, ou seja, em Ré.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.