Monografia de Pós Graduação: A ORQUESTRA SINFÔNICA COMO PATRIMÔNIO DA CULTURA SERGIPANA

June 3, 2017 | Autor: Priscilla Góes | Categoria: Patrimonio Cultural, Música, Orquestra Sinfônica de Sergipe
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FACULDADE ATLÂNTICO

PRISCILLA DA SILVA GÓES

A ORQUESTRA SINFÔNICA COMO PATRIMÔNIO DA CULTURA SERGIPANA

ARACAJU 2008

PRISCILLA DA SILVA GÓES

A ORQUESTRA SINFÔNICA COMO PATRIMÔNIO DA CULTURA SERGIPANA

Monografia de Pós-Graduação em Educação e Patrimônio Cultural em Sergipe. Orientador Prof. Msc. Claudomi Lisboa e co-orientador Prof. Msc. Luis Eduardo Pina Lima (UFS).

ARACAJU 2008

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar ao meu Deus que me concedeu não somente a vida e inteligência, mas também o inexaurível gosto pela música.

A todos os colegas da faculdade principalmente Ivy, Ivânia, Lucinha, Bianca, Vagner, Edilvan, Wendel, Jorge, Priscila, Daniela, Adriana, Mirtes e Roberto, pela companhia nos almoços e nos trabalhos acadêmicos.

A coordenadora da Pós Graduação, Cristina, pela simpatia e atenção, sempre disposta a nos atender.

Aos meus amigos Fabiano, Suzi, Tarcila, Jaqueline e Elaine, pela ajuda na digitação e impressão desse trabalho.

Aos funcionários da ORSSE: Antônio, pelas xérox dos documentos do arquivo; Adriana e Enaura, pela ajuda na entrega dos questionários; a secretária da ORSSE, Rossevânia, que colaborou nas entrevistas e recepção dos questionários;

Ao atual maestro da ORSSE Guilherme Mannis pela disposição em ajudar sempre que preciso e, pela entrevista.

Aos músicos da ORSSE que colaboraram respondendo aos questionários: Alex Sandro, Ana Caroline, Fabiano, Felipe, Géter, Israel, José Fontes, José Reginaldo, Josemar, Maria Augusta, Mariana, Paulo, Roberta, Sidiclei, Suzan, Tarcísio e Tiago.

Ao público que dispôs do seu tempo para responder aos questionários.

Ao ex-arquivista da ORSSE Emmanuel Vasconcelos, por ter concedido o acesso ao arquivo da ORSSE.

Ao segundo maestro da Orquestra Sinfônica Brasileira, Marcos Arakaki que concedeu uma entrevista quando a OSB tocou em Aracaju.

Ao regente da SECBANDA e ex-maestro da ORSSE, Francisco A. Lima pela entrevista e os recortes de jornais sobre a Orquestra na época da sua atuação.

E ao meu co-orientador pela amizade e pelas várias horas gastas na correção para a melhoria desse trabalho.

Muito obrigada! Priscilla

A música é uma linguagem, mas uma linguagem do intangível, uma espécie de linguagem da alma. Edward Macdowell

RESUMO

Palavras chaves: Música, cultura, Orquestra Sinfônica, Sergipe.

Este trabalho tem como objetivo além de mostrar o desenvolvimento da ORSSE (passando por suas crises e seu fortalecimento), comprovar por meio de observações, entrevistas, e questionários feitos com músicos e com o público, que a Orquestra Sinfônica de Sergipe é parte do Patrimônio Cultural do nosso Estado.

ABSTRACT

This work has the objective byond show us the develysmet of the ORSSE (Symphonic Orchestra of Sergipe) going thru their cryses and strengthen to comprove by observation, interviews and had made questionnaires with the musicians and the public, that the Symphonic Orchestra of Sergipe is part of the Cultural Patrimony of our state.

LISTA DE FOTOS

Ilustração I: Formação mais usual de uma Orquestra Sinfônica ...................................................24 Ilustração II: Orquestra Sinfônica Jovem de Sergipe, ORSSE e coro sinfônico ...........................33 Ilustração III: Orquestra Sinfônica Jovem de Sergipe, ORSSE e coro sinfônico...........................34 Ilustração IV: Público que assistiu a Orquestra Sinfônica Jovem de Sergipe, ORSSE e coro sinfônico.........................................................................................................................................34 Ilustração IV: Orquestra Sinfônica Jovem de Sergipe, ORSSE e coro sinfônico..........................35 Ilustração IV: Orquestra Sinfônica de Sergipe na Catedral Metropolitana de Aracaju...........................................................................................................................................39 Ilustração IV: Orquestra Sinfônica de Sergipe............................................................................. 40 Ilustração IV: Orquestra Sinfônica de Sergipe, apresentação em 2006..........................................40

LISTA DE ABREVIATURAS

CMS: Conservatório de Música de Sergipe. FUNDESC: Fundação Estadual de Cultura. ORSSE: Orquestra Sinfônica de Sergipe. UFS: Universidade Federal de Sergipe.

SUMÁRIO

RESUMO ...................................................................................................................................................................... 6 LISTA DE FOTOS ....................................................................................................................................................... 7 LISTA DE ABREVIATURAS..................................................................................................................................... 8 INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................10 CAPÍTULO I – A MÚSICA COMO PARTE DA CULTURA IMATERIAL.......................................................13 CAPÍTULO II- O DESENVOLVIMENTO DA ORQUESTRA SINFÔNICA DE SERGIPE ........................... 27 CAPÍTULO III - A ORSSE COMO PATRIMÔNIO DA ORQUESTRA SINFÔNICA DE SERGIPE.............41 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................................................48 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA..........................................................................................................................50 MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO........................................................................................................................52 PERIÓDICOS.............................................................................................................................................................53 FONTES ORAIS.........................................................................................................................................................54 GLOSSÁRIO...............................................................................................................................................................55 ANEXOS......................................................................................................................................................................67 APÊNDICES................................................................................................................................................................57

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1. INTRODUÇÃO

Para dar continuidade à pesquisa iniciada no curso de licenciatura em História pela Universidade Federal de Sergipe, sobre a história da Orquestra Sinfônica de Sergipe, surgiu o interesse em ir além da sua História e tentar mostrar que a ORSSE também se manifesta como patrimônio do povo sergipano, e por tanto, deve ser mantida e fortalecida pelo poder público.

Inicialmente formulamos dois tipos de questionários: Um para ser aplicado com o público em um dos concertos da Temporada Oficial de 2007, que continha perguntas para que pudéssemos compreender um pouco sobre o que as pessoas achavam sobre os atuais trabalhos da ORSSE. O outro questionário foi entregue aos músicos, para observarmos como eles entendem a importância da Orquestra para nosso Estado. Após analisarmos os questionários respondidos, entrevistamos o atual maestro da ORSSE, Guilherme Mannis, no intuito de vermos o seu posicionamento sobre a relevância da referida Orquestra para o nosso Estado.

Feito isso, entramos em contato com o ex-maestro da ORSSE Francisco A. Lima, que nos forneceu dados relevantes sobre o funcionamento da mesma no período de sua atuação. Não procuramos entrevistar os demais maestros que regeram a ORSSE como o primeiro maestro Rivaldo Dantas e Ion Bressan, pois, as entrevistas já haviam sido feitas para a monografia anterior.

Este trabalho foi dividido em três capítulos que abordam as seguintes temáticas: No primeiro capítulo “A música como patrimônio da Cultura Imaterial”, procuramos

11 mostrar como as produções musicais estão inseridas na vida das pessoas se fazendo por tanto, parte de suas culturas. Além disso, diferenciamos alguns termos básicos para o estudo sobre patrimônio, como foi o caso de Patrimônio Cultural e Imaterial; cultura erudita, popular e de massa; música clássica e música erudita. Abordamos também a história da formação da orquestra no ocidente e as diferentes maneiras de organização que ela pode possuir.

No segundo capítulo, “O desenvolvimento da Orquestra Sinfônica de Sergipe”, relatamos a história da ORSSE mesmo antes da sua oficialização em 1985, passando por alguns momentos chaves da sua contribuição para com o meio cultural sergipano. Esse capítulo foi construído tendo como base os relatos de alguns músicos que participaram da Orquestra no início da sua formação, entrevistas com alguns maestros que regeram a ORSSE e reportagens de jornais e até mesmo folders de algumas de suas apresentações.

Para a elaboração do terceiro capítulo, “A ORSSE como Patrimônio da Cultura Sergipana”, levamos em consideração principalmente os questionários entregues aos músicos integrantes da ORSSE e ao público presente em uma das apresentações da Temporada Oficial no Teatro Tobias Barreto. O objetivo desse capítulo foi comprovar por meio desses depoimentos que a Orquestra Sinfônica de Sergipe está superando os obstáculos que impediram seu funcionamento durante alguns anos, e está a cada dia ampliando o seu público e fazendo seu trabalho conhecido e reconhecido pelo povo sergipano.

12 Por fim, concluímos analisando toda a trajetória da ORSSE e principalmente o seu momento atual e oferecendo algumas sugestões para que ela venha a ter uma maior visibilidade no cenário artístico cultural sergipano.

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2. A MÚSICA COMO PARTE DA CULTURA IMATERIAL

O Patrimônio Cultural não pode ser reduzido somente a um conjunto de edifícios ou obras de arte; ele envolve todos os campos da ação humana. O meio ambiente, nossas reservas naturais, o conhecimento científico e tecnológico, documentos escritos, imagens, objetos, danças, músicas, lendas, dentre outros. Todo esse conjunto compõe nossa herança cultural e estas são as bases de nossa identidade como povo, como afirma Dennys Cuche: “A cultura aparece como um conjunto de conquistas artísticas, intelectuais e morais que constituem o patrimônio de uma nação (...)” (CUCHE, Dennys. 2002, 29).

Título VIII, capítulo III, seção II, Artigo 216: Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (http://portal.iphan.gov.br/portal/ (pesquisa realizada em 09/11/2007)

Dentro das formas de expressão e das manifestações artístico-culturais, devemos ter em mente a vasta produção musical do povo brasileiro e os diversos grupos responsáveis em divulgar essas manifestações culturais locais e internacionais, como por exemplo, as orquestras, que divulgam o legado tanto da música internacional, quanto nacional.

14 Para podermos estudar sobre Patrimônio Cultural devemos ter em mente uma importante distinção entre a Cultura Material, que compreende a construção de artefatos que são produzidos por meio de algum tipo de tecnologia, e a Cultura não – material ou imaterial, que são as ações, hábitos, crenças e conhecimentos de uma sociedade.

A música, independente do estilo, origem ou influências é, provavelmente, a manifestação artística mais presente no cotidiano da nossa sociedade. A produção musical no campo do patrimônio cultural está associada à cultura imaterial de uma sociedade.

A UNESCO define como Patrimônio Cultural Imaterial as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas e também os instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes são associados e as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos que se reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. O Patrimônio Imaterial é transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. (http://portal.iphan.gov.br/portal/, pesquisa realizada em 09/11/2007)

1.1 – CULTURA: ERUDITA, POPULAR E DE MASSA

Apesar de alguns estudiosos discordarem de uma classificação da cultura, esta pode ser aceita tendo em vista o meio que a produziu ou até mesmo do meio que a consome. Sendo assim, consideremos a divisão em três categorias: Cultura erudita, popular e de massa.

1.1.1 – CULTURA ERUDITA

15 A definição de cultura erudita mais aceita é como a cultura que está associada no sistema educacional, principalmente no meio acadêmico. Muitas vezes ela recebe também a denominação de “cultura de elite”, por ser produzida por uma minoria de intelectuais ligados a academia.

Com a cultura erudita são produzidas as ‘obras primas’ que revolucionam os diversos campos do saber e da ação, como as descobertas científicas, os novos modos de pensar as técnicas revolucionárias, as grandes obras literárias ou artísticas em geral, enfim, produtos humanos que provocam ‘cortes’ na maneira de pensar e agir e que por isso, se tornam clássicos. Esse tipo de produção cultural é erudito por exigir maior rigor na sua elaboração, sendo por isso mesmo, uma produção elitizada, acessível a um público restrito (...). O que se pode criticar é um tipo de exclusão externa, que seleciona de antemão os privilegiados que terão acesso a essa produção cultural, quando na verdade a possibilidade de escolha deveria estar garantida a qualquer um, independentemente de suas posses. (ARANHA, Maria Lúcia de Arruda.

1996, 40)

A música erudita a princípio seguia esse modelo: Produção da elite para elite. Os grandes palácios possuíam sua orquestra, seu(s) compositores, e todo acesso a essa produção artística era acompanhado somente pela elite. No período Barroco, por exemplo, toda produção operística era acessível a um público extremamente restrito que freqüentavam os teatros. A música era controlada pela elite também porque os compositores eram sustentados financeiramente por eles. Essa elite que sustentava compositores e artistas em geral era conhecida como mecenas e eles, geralmente influenciavam as obras dos artistas, pois, na maioria das vezes, as composições eram encomendadas, como percebemos em um trecho do livro de Henry Raynor: “Um dos deveres essenciais do compositor era estar cônscio dos desejos do seu auditório, cujo principal membro era o seu empregador”. (RAYNOR, Henry. 1986, 17)

Devemos ter em mente, porém, que atualmente na área musical, não cabe mais designar a música erudita como “música para elite”, onde só quem faz parte da elite tem

16 acesso e interesse por esse tipo de música. Tendo em vista que os meios de comunicação de massa (televisão, rádio, internet) contribuíram muito para que as pessoas (independente da classe social ou se está ou não em um meio acadêmico) tenham acesso a esta espécie de música. Encontrar na internet interpretações variadas de compositores de praticamente toda a história da música não é uma tarefa difícil.

Existem alguns programas tanto na televisão quanto no rádio que divulgam esse tipo de música (mesmo sendo poucos e algumas vezes em horário de difícil acesso, como pela madrugada). Adquirir Cds das mais diversas orquestras do mundo não é tarefa difícil e muitas vezes o seu preço é mais barato do que os das baladas de sucesso do momento. Além disso, grande parte das orquestras atualmente tem tomado a responsabilidade de divulgar a música erudita para além dos teatros em locais como praças públicas, parques, interiores e, no caso da Orquestra Sinfônica de Sergipe, até na Orla da Atalaia.

“Não se trata aqui, quase escusava dizê-lo, de defender a hegemonia de um tipo de música sobre o outro: Tanto a música ‘clássica’ quanto a popular são importantes e desejáveis. O que se reivindica é uma igualdade de oportunidades, o que não seria assim tão difícil de conseguir por um uso alternativo mais bem planificado das faixas de FM e AM.” (PAES, José Paulo. 2003, 127) “Todavia a marginalização da música ‘clássica’ nos meios de comunicação de massa é infinitamente maior que a da MPB, desproporção comprovável pelo simples confronto das tiragens médias das gravações desta e daquela, ou da quantidade de espectadores presente Às apresentações públicas e uma e outra isso pra não falar no número ridiculamente pequeno de orquestras sinfônicas e grupos de câmara existentes no país.” (Ibiden, 127)

1.1.2 – CULTURA POPULAR

17 O conceito de cultura popular é complexo. Ela pode ser caracterizada dentre outras coisas, pela espontaneidade das experiências de vida de uma determinada sociedade, que não tem a influência do meio acadêmico, nem da mídia. É a parte da cultura produzida pelo povo para o próprio povo. Uma das principais características desta forma cultural é o fato de geralmente ela ser anônima ou produzida coletivamente.

A cultura popular não é acabada. Ela se modifica a depender do contato dos diferentes costumes entre, por exemplo, o meio rural e urbano.

(...) toda a cultura é dinâmica, estando em constante transformação. Aliás, a vitalidade da cultura popular permite absorver e reelaborar as inúmeras influências de outros costumes, como, por exemplo, as que resultam do contato com o mundo rural e urbano, ou do impacto da tecnologia e da cultura de massa. (ARANHA, Maria Lúcia de

Arruda. 1996, 40)

Dentro da cultura popular, podemos ainda destacar a “cultura individualizada”, que está relacionada à produção por pessoas que não estejam no meio acadêmico, como expõe a professora Maria Lúcia A. Aranha: Trata-se da cultura popular individualizada, que se caracteriza por ser produzida por escritores, compositores, artistas plásticos, dramaturgos, cineastas, enfim, intelectuais que não vivem dentro da universidade (e por tanto não produzem cultura erudita), nem são típicos representantes da cultura popular (que se caracteriza pelo anonimato) nem da cultura de massa (que resulta do trabalho de equipe). (Ibidem, 43)

1.1.3 – CULTURA DE MASSA

18 A cultura de massa teve início com a Revolução Industrial. Ela abrange os setores de moda, lazer, mídia, música, que influenciam o estilo de vida da sociedade, tendo como objetivo maior, a obtenção de lucro.

Essa cultura começou a surgir a partir da Revolução Industrial quando a ascensão da burguesia aumentou a complexidade da vida urbana. Ela se intensificou no século XIX com o aparecimento do jornal onde o romance-folhetim, precursor das telenovelas, começou a ser publicado em episódios fragmentados. Em nosso século, o processo exacerbou devido a amplitude dos meios de comunicação. Essa produção visa o passatempo, o divertimento e, principalmente, o consumo, pois, mesmo que o produto tenha utilidade prática, no dia a dia das pessoas, ele aparece sempre modificado, inovado e, por isso, as pessoas tendem a substituí-los mesmo que os antigos atendam perfeitamente às suas necessidades. (GRAÇA, Tereza Cristina Cerqueira. 2002, 60).

Ao contrário da cultura popular, a cultura de massa é produzida “de cima” para baixo, impondo padrões devido ao poder de difusão dos seus produtos. Essa produção visa, sobretudo, ao passatempo, divertimento e consumo rápido.

Tendo em vista que a música é uma das representações culturais de uma sociedade, ela também pode ser subdividida da forma que apresentamos acima. Como o nosso trabalho visará compreender a importância da Orquestra Sinfônica de Sergipe para o nosso Estado, a nossa ênfase será em conhecer mais sobre a música erudita, tendo em vista que essa é a forma mais divulgada pelas orquestras sinfônicas em geral. Quanto ao termo “erudito” utilizado em música faremos algumas observações.

1.2 – MÚSICA ERUDITA E MÚSICA CLÁSSICA

19 A orquestra executa, sobretudo musica erudita, que por muitas vezes é chamada de “música clássica”. São necessárias algumas considerações com relação ao uso desses termos, pois existem discordâncias entre os musicólogos sobre a utilização dos mesmos.

Para muitos musicólogos a expressão “Música Clássica” só deve ser empregada para as composições do período de 1750 a 1810, que foi o período do Classicismo musical, sendo os principais compositores Joseph Haydn (1732-1809), Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) e as composições iniciais de Beethoven (1770-1827). Este estilo prezaria pela clareza, equilíbrio, e objetividade da estrutura, em lugar da subjetividade ou do emocionalismo. Sendo assim, a música Clássica despreza o “exagero” do período Barroco e se opõe ao sentimentalismo do período Romântico.

A palavra ‘clássico’ deriva do latim ‘classicus’, que significa um cidadão (e posteriormente um escritor) da mais alta classe. E, com efeito, seu sentido, para nós, está associado a algo que consideramos de alta classe, de primeira ordem, de extremo valor. [...] No que diz respeito à música, o termo “clássico” é empregado em dois sentidos diferentes. As pessoas, às vezes, usam genericamente a expressão “música clássica”, considerando toda música dividida em duas grandes categorias: “clássica” e “popular”. Para o musicólogo, entretanto, “Clássico” com “C” maiúsculo tem sentido muito especial e preciso. O termo designa especificamente a música composta entre 1750 e 1810 – período bem curto, que inclui a música de Haydn e Mozart, bem como as composições iniciais de Beethoven. (BENNETT. 1986, 45).

Por tanto, a expressão “musica erudita” geralmente é a mais aceita. Esse termo vem do latim eruditio, que significa conhecimento, saber, sabedoria. Há, entretanto, aqueles que afirmam que essa definição não é propícia, pois poderia dá a falsa impressão que esse gênero musical é só para as elites.

20 Uma das características da música erudita é o fato de ser escrita (desde sua origem), utilizando notações musicais, enquanto que a música popular era transmitida oralmente (isso não significa dizer que posteriormente não pudesse ser escrita).

Para ser um bom executante de música erudita são necessários muitos anos de dedicação ao instrumento. Os termos que são utilizados nas suas peças requerem um tempo na dedicação ao estudo musical, porém, esse fator não impossibilita a apreciação da mesma. Geralmente o interprete de música erudita é uma pessoa instruída no meio acadêmico onde estuda Teoria Musical, Solfejo, e a prática do instrumento de sua preferência. Para execução e interpretação de música popular e de música de massa esses pré – requisitos em geral não são exigidos, a pesar de existirem músicos populares que tem uma formação musical acadêmica.

Devido ao fato da utilização do termo “música Erudita” não ser unânime, e a expressão “música clássica” ser bastante popularizada, usaremos nesse trabalho a expressão música clássica, com o mesmo sentido de música erudita sedo que quando tiver o sentido do Período Clássico (1750-1810), o termo Música Clássica será grafado com inicial maiúscula.

1.3 - A FORMAÇÃO ORQUESTRAL

O termo Orquestra vem de uma antiga palavra grega (orkhestra) que, significa exatamente “lugar para dançar”. Na Grécia, durante o século V a.C., os espetáculos eram encenados em teatros livres, chamados de “anfiteatros”. Orquestra era o nome dado ao espaço que se situava em frente à área principal de representação e que destinava às

21 apresentações do coro, que cantava e também dançava. Era ali que ficavam também os instrumentistas.

Passou-se muito tempo, até que no início do século XVII, na Itália, as primeiras óperas começaram a ser executadas. Essas óperas originalmente pretendiam ser imitações dos dramas gregos e, portanto, a mesma palavra foi usada para descrever o espaço entre o palco e o lugar ocupado pelos instrumentistas. Porém, após algum tempo, a orquestra passou a designar o próprio grupo de músicos e, finalmente, o conjunto de instrumentos que tocavam (BENNETT. 1986; 43).

A estrutura de uma orquestra como conhecemos hoje teve suas origens durante o Período Barroco (1600-1750). A orquestra barroca dispunha de poucos instrumentos, em geral, tinha cerca de dezessete músicos. Bach usava uma formação com cinco violinos, duas violas, dois violoncelos, dois oboés, dois fagotes, três trombones e um par de tímpanos. Havia também a utilização de um baixo contínuo, que era geralmente o cravo, podendo ser também o órgão. Com o passar dos anos e tendo em vista o aperfeiçoamento dos instrumentos à orquestra passa a ter uma composição fixa dos mesmos e o naipe de corda (principalmente o violino) passaram a ser sua base. Foi durante o período barroco que a orquestra começou a tomar forma. No princípio, o termo ‘orquestra’ era usado pra designar um conjunto, formado ao acaso, com quaisquer instrumentos disponíveis. Mas, à medida que avançava o século XVII, o aperfeiçoamento dos instrumentos de corda (em particular, o violino) por esplendidos artesãos, como as famílias Amati, Guarneri e Stradivari, fez com que a seção das cordas se tornasse uma unidade independente. Essa passou a constituir a base da orquestra – um núcleo central ao qual os compositores acrescentavam outros instrumentos, individualmente ou em dupla, de acordo com as circunstâncias: flautas, oboés, fagotes, por vezes trompas, e eventualmente trompetes e tímpanos. (BENNETT. 1986, 43)

22 No Período do Classicismo (1750 – 1810), a formação da orquestra estava em pleno desenvolvimento. No princípio o cravo era utilizado para preencher a música orquestral. Aos poucos ele foi sendo substituído por instrumentos de sopro. Os compositores procuravam cada vez mais ampliar a participação desses instrumentos na formação orquestral. Ao final do século XVIII, em uma orquestra havia: Uma ou duas flautas; dois oboés; duas clarinetas; dois fagotes; duas trompas; dois trompetes; dois tímpanos e as cordas (primeiros e segundos violinos, violoncelos, violas, e contrabaixos). Beethoven ampliou o número de instrumentos em algumas de suas composições, com uma terceira trompa, um flautim, um contrafagote e três trombones. A seção de percussão na “Nona Sinfonia” foi acrescida de pratos, triângulos, bombo e o número de trompas passaram a ser quatro.

Já no fim do século XVIII, os quatro principais tipos de instrumentos das madeiras (flauta, oboé, fagote e o recém inventado clarinete) passaram a ser combinados aos pares dando independência ao naipe. O cravo, como contínuo, caiu em desuso e no seu lugar passou-se a usar duas trompas que faziam a ligação da tessitura. Quase sempre estava incluído também um par de trompetes e outro de tímpanos. Por algum tempo, esta foi a formação da orquestra padrão, freqüentemente denominada ‘orquestra clássica’. É a que se usa para tocar as últimas sinfonias de Haydn e as primeiras de Beethoven e Schubert. (BENNETT. 1998, 54)

Já no Período do Romantismo (1810 – 1910), a orquestra cresceu enormemente. A seção de metais foi completada com a adição da tuba. Os compositores passaram a adicionar o flautim, clarone, corne inglês, e o contrafagote. Os instrumentos ficaram mais variados e foi necessário aumentar a seção de cordas para que se mantivesse o equilíbrio orquestral.

Os compositores românticos deleitaram-se em explorar toda essa grande variedade de volume e alturas sonoras, a riqueza das harmonias e as novas possibilidades de combinar e contrastar timbres. Sua música oferece um belo sortimento de tipos de composição – desde peças para um ou poucos executantes, como canções, obras para piano e música

23 de câmara (trios, quartetos, etc.) até empreendimentos espetaculares, envolvendo grande número de participantes, como as óperas de Wagner ou as imensas obras orquestrais de Berlioz, Mahler e Richard Strauss. (BENNETT. 1986, pág. 58)

No final do século XIX e início do XX, para suprir as exigências dos compositores, foram agregados à orquestra vários instrumentos, fazendo com que esta crescesse enormemente. Os metais passaram a contar com instrumentos extras e as madeiras combinadas em grupos de três e quatro instrumentos. Por volta de 1910, certos compositores passaram a escrever para orquestras menores. Outros, entretanto, têm utilizado novos instrumentos e novas técnicas eletrônicas.

O posicionamento dos instrumentos num palco de salas de concerto também é um fator relevante para o equilíbrio musical, e deste modo, a formação clássica também se ocupou de padronizar sua disposição: instrumentos de maior ressonância acústica vão ficando para trás, e de menor ressonância, para frente, indo progressivamente dos mais suaves aos mais fortes. Por essa razão é que as cordas encontram-se no primeiro plano do palco, seguidos pelas madeiras, metais, e lá no fundo, a percussão. Este esquema retrata bem a disposição mais comum numa orquestra moderna, apesar de, a critério do maestro, ela possa ser alterada.

A orquestra é dividida em quatro “naipes” ou famílias dos instrumentos que são: As cordas, as madeiras, os metais e a percussão.

As “cordas” desempenham o papel mais importante na maior parte das músicas. Elas são colocadas na frente e são a base da orquestra, sendo composta por mais da metade dos membros da mesma. O naipe das cordas é formado por: Violinos, violas,

24 violoncelos, contrabaixos e harpa. O principal dos primeiros violinos, conhecido como spalla, é o líder de toda orquestra estando subordinado somente ao maestro.

O naipe das “madeiras” ocupa o centro da orquestra, em um plano mais elevado que as cordas. Os instrumentos que fazem parte são: Flautim, flautas, oboés, corne inglês, clarinetes, clarone, clarinete baixo, fagotes e contrafagote. Neste naipe, o líder é o oboé principal.

Os instrumentos de “metal” são dispostos atrás da madeiras para não abafar sons mais suaves. Os instrumentos que compõem o naipe dos metais são: Trompas, trompetes, trombones, tuba. Aqui, o líder é o principal dos trombones.

Na parte detrás da orquestra, na parte mais elevada da plataforma fica o naipe de “percussão”. Seus principais instrumentos são: Tímpanos, bombo, pratos, triângulo, pandeiro, xilofone, carrilhão, castanholas, gongo, maracas.

Ilustração I – Disposição dos instrumentos mais utilizada em uma orquestra atual. Fonte: (GÓES. 2006, 19).

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1.4 – AS DIFERENTES FORMAS ORQUESTRAIS

Para a formação orquestral de grande porte, existem basicamente duas formas: A Filarmônica e a Sinfônica. A orquestra Filarmônica é na maioria das vezes, sustentada por uma instituição privada e a Sinfônica normalmente pertence a uma instituição pública. Geralmente essas orquestras possuem cerca de oitenta músicos e em alguns casos mais de cem, a depender da exigência da obra executada.

Outra formação orquestral que antecede as grandes orquestras é a Camerística. Chamamos “Música de Câmara” à formação instrumental que se limite a poucos executantes. O termo vem da palavra “câmara” ou “câmera” (da mesma origem que “câmera

fotográfica”)

como

sinônimo

de

“sala”,

“quarto”,

genericamente

“compartimento ou aposento de uma casa”. É, portanto, literalmente a música destinada a pequenos espaços, e por isso, a música escrita para pequenas formações de músicos, sem a presença do maestro.

Sua origem vem de um tipo de música feito normalmente em casa, que por sua vez deram origem aos sarais, os madrigais e até as serenatas, e no Brasil vieram a constituir uma forma específica através do Choro.

A história da música registra principalmente a música executada nos palácios e residências nobres, mas que seguramente era praticada em ambiente caseiro desde muito tempo, talvez até mesmo na antiguidade clássica.

26 Até o período Barroco, vinte músicos já era uma orquestra inteira, a partir do Classicismo, com o aumento da orquestra, este número passou a ser camerístico. Não existe um padrão que determine exatamente a quantidade limite de músicos para a orquestra de câmara, número este que, ultrapassado, conferirá à música um caráter orquestral. Em geral, podemos dizer que entre vinte e quarenta músicos, temos uma “orquestra de Câmara”, e, a partir de quarenta músicos já se trata de uma orquestra Sinfônica ou Filarmônica, ainda que pequena.

A formação camerística pode ser desde dois músicos (sonatas para violino e piano, por exemplo) denominado dueto, três (trio), quatro (quarteto), e daí pra frente segue-se o quinteto, sexteto, septeto, octeto, noneto e orquestra de câmara (dez ou mais músicos). Com exceção do quarteto, que tem uma formação padronizada (dois violinos, viola e violoncelo, o chamado Quarteto de Cordas), os demais necessitam de uma discriminação específica dos instrumentos utilizados, já que eles podem variar.

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3. O DESENVOLVIMENTO DA ORQUESTRA SINFÔNICA DE SERGIPE

A ORSSE foi efetivada no primeiro governo de João Alves Filho, que tinha como secretário da educação e cultura João Gomes Cardoso Barreto. O seu primeiro maestro foi Rivaldo Dantas, que ficou nessa posição cerca de oito anos.

Mas a história da ORSSE teve início algum tempo antes da sua oficialização em 1985. Em 1971 um grupo de professores e alunos reuniam-se para cumprir o dispositivo legal (lei 5692/71 CFE, e parecer 1273/73), que estabelece no currículo do Ensino Técnico de Música, a prática de Orquestra e música de Câmera do Conservatório de Música de Sergipe. Organizado inicialmente como um grupo de Câmera, e logo depois como Orquestra de Concertos.

Devido ao crescimento do grupo com a participação de alunos do curso técnico, o desejo de formar um grupo sinfônico começou a nascer e somente em 10 de maio de 1985 a Orquestra Sinfônica de Sergipe foi regulamentada por meio do decreto governamental nº 6938. Art. 1º - A Orquestra Sinfônica de Sergipe, instituída pelo decreto nº 6.938, de 10 de maio de 1985, é um órgão operacional integrado a estrutura organizacional da Fundação Estadual de Cultura – FUNDESC, diretamente subordinada à presidência da mesma função, e tem como sede o Conservatório de Música do Estado de Sergipe. Art. 3º: a Orquestra Sinfônica de Sergipe ficará integrada como órgão operacional, à estrutura administrativa da Fundação Estadual de Cultura – FUNDESC. Art. 4º: O regimento interno da Orquestra Sinfônica de Sergipe, a ser aprovado pelo conselho de administração da FUNDESC, por proposta do diretor – presidente da mesma fundação detalhará seus objetivos, disciplinará sua constituição e estrutura, estabelecerá as suas atribuições e definirá as demais disposições que lhe sejam pertinentes. (Diário Oficial 10 de Maio de 1985).

28

A primeira apresentação como Orquestra Sinfônica foi no dia 10 de maio de 1985, no Centro de Criatividade, onde tocaram cerca de 60 músicos, executando peças eruditas e alguns baiões nordestinos como Asa Branca, Paraíba Masculina, e Assum Preto (Gazeta de Sergipe, 10/02/1985).

Dentre os músicos que participavam inicialmente da ORSSE, havia professores do Conservatório de Música de Sergipe e instrumentistas que vinham de outras cidades como Recife, Salvador, Fortaleza, Vitória do Espírito Santo, Brasília, Belo Horizonte e até mesmo de Buenos Aires, Argentina. (Gazeta de Sergipe. 10.02.1985).

A ORSSE foi lembrada pelo seu primeiro aniversário, como mostra o jornal “Gazeta de Sergipe” veiculado em maio de 1986. A reportagem ressalta a crise que vem passando a Orquestra, dentre elas, a pouca divulgação e a falta de pagamento dos salários dos músicos. Além disso, os seus membros enfatizaram a necessidade urgente da contratação dos integrantes da ORSSE, que era uma antiga promessa, porque a falta de vínculo empregatício, segundo argumentam, deixava os músicos inseguros quanto ao seu futuro profissional. (GÓES. 2006, 27 e 28)

Desde sua criação, os jornais mostram denúncias de músicos sobre o descaso do governo em relação à Orquestra Sinfônica. As reclamações mais freqüentes são de atraso nos pagamentos, os salários que no decorrer dos anos não eram reajustados, e ainda havia algumas contratações irregulares dos instrumentistas.

29 Tendo em vista este clima de descaso das autoridades públicas em relação ao melhor funcionamento da ORSSE, os seus integrantes fizeram um manifesto pedindo providencias para o funcionamento da mesma:

Considerando, que tais instituições (Conservatório de Música e Orquestra Sinfônica) têm características singulares na forma de ação no âmbito sócio-cultural, necessitando de peculiar atenção do poder público, para sua sustentação e cumprimento as finalidades específicas; Considerando que tais instituições já se consagraram como patrimônio vivo da sociedade sergipana, através do trabalho dos seus professores e músicos; Considerando que a Orquestra Sinfônica de Sergipe não obteve ainda o pleno reconhecimento por parte do poder público para obter um tratamento diferenciado, a semelhança do que ocorre com as demais orquestras do país, no que tange a estrutura técnica e a política salarial especifica; Considerando que, a mão de obra necessária a continuidade do trabalho de forma a cumprir com a finalidade dessas instituições, só será possível com uma mudança de atitudes com esse profissional, para que o exercício das tarefas seja viável em se oferecendo as condições básicas de salário e valorização; (...) Considerando que, das 17 (dezessete) orquestras do país, a Sinfônica de Sergipe, é aquela que paga o menor salário ao seu músico (...) inibindo assim o seu progresso e as condições de oferecer um melhor trabalho a sociedade, bem como enfraquecendo o incentivo aos jovens que se despertam para a música, como também favorecendo o êxodo desses músicos que são atraídos por outros estados, a semelhança do que vem ocorrendo de algum tempo para cá; Considerando que, o desenvolvimento e o trabalho de uma orquestra sinfônica, pelas suas características, é feito com material sinfônico, elaborado técnica e cientificamente (composições, intérpretes, etc), exigindo – se dos seus executantes uma superior capacidade e qualidade técnica; Considerando que, em conseqüência das exigências acima, requer-se condições materiais para tanto, isto é, instrumentos, acessórios e manutenção de superior qualidade, o que não tem acontecido, Propomos que seja inserida na Nova Constituição de Sergipe: (...) Que aos músicos pertencentes ao quadro da Orquestra Sinfônica de Sergipe sejam assegurados a qualidade de técnicos, o que, por fato e direito o são, de conformidade com a lei nº 3857 de 22/12/60 (DOU 23/12/60); portaria MEC nº 524 de 26/08/77 (DOU 02/09/77) e decreto nº 7763 de 12/05/86, Resolução nº 02/86 de 06/05/86, Art. 6º, parágrafo único, Anexo III (DOE 13/06/86); Que, por tratar-se de uma instituição ‘sui generis’ no Estado, os salários dos integrantes da Orquestra Sinfônica, tenham tratamento diferenciado, pela qualidade e característica do trabalho, bem como, seja praticada uma política salarial nunca inferior ao piso correspondente a 04 (quatro) salários mínimos para o nível III – 0, 06 (seis) salários mínimos para o nível IV – 0 e 08 (oito) salários mínimos para o nível V – 0, a semelhança do que ocorre com todas as demais orquestras no gênero do país, favorecendo assim a continuidade e progresso da orquestra, competindo a nível de mercado de trabalho e atraindo profissionais de boa qualidade técnica, o qual terá seu aproveitamento no corpo docente do Conservatório de Música, para a formação de novos instrumentistas. (Manifesto da Orquestra Sinfônica

30 ao governo de Sergipe, Aracaju, 07 de junho de 1989, disponível no arquivo do Teatro Tobias Barreto).

O descaso do poder público de Sergipe com a ORSSE nos primeiros anos após sua criação é evidente. Por várias vezes os seus integrantes solicitavam ao governo mais atenção. Para o bom funcionamento de uma Orquestra Sinfônica não é suficiente apenas o pagamento dos seus integrantes. É importante que esse pagamento tenha reajustes periodicamente para que o profissional não seja desvalorizado.

A Orquestra também precisa de divulgação constante para os seus eventos; reciclagem dos músicos; um bom local para os ensaios; dentre outros elementos. Essa falta de incentivo gerou o descontentamento de vários músicos, ocasionando certo “esvaziamento” na ORSSE, pois vários dos seus integrantes foram para outros estados onde tinham melhores condições de trabalho. Quando alguns músicos saíam, praticamente não havia contratação ou concursos para preenchimento das suas vagas. Essa situação acarretou ao longo dos anos uma diminuição considerável no quadro da ORSSE, sendo um dos fatores para a sua decadência. (GÓES. 2006, 31 e 32)

A década de 1980 foi um dos períodos de maior atividade da ORSSE. “Chegamos a ter mais de 60 músicos, dos quais, atualmente, cerca de 50 estão espalhados pelo Brasil e exterior”, comenta o maestro Rivaldo Dantas em entrevista concedida a rádio UFS em 2002, na qual ainda afirma que o desmembramento da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura, ocorrido em 1992, contribuiu para o início da decadência do Conservatório de Música e da Orquestra, pois o C.M.S. e a ORSSE ficaram subordinadas a Secretaria da Cultura que não tinha estrutura suficiente para mantê-las. Os problemas começaram a surgir porque as verbas diminuíram

31 consideravelmente, em relação à época em que Educação e Cultura eram integradas. A crise coincidiu também com a aposentadoria de alguns músicos. (Ibidem, 32)

De 1994 a 1998 o maestro Francisco Alberto Lima assumiu a direção da ORSSE, que no momento passava por uma séria crise, após te ficado dois anos desativada. De acordo com a entrevista feita com o referido maestro, a Orquestra estava em 1994 vinculada ao CMS, o que não deveria ter acontecido pois a ORSSE tem portaria própria. Com a ajuda da professora Aglaé Fontes, houve um concurso para seis ou oito músicos com o intuito de completar a Orquestra, pois, alguns integrantes tinham aderido ao PDV (Plano de Demissão Voluntária), outros tinham se aposentado e os que vinham de outros estados não se viam mais estimulados a estarem em Sergipe devido aos baixos salários. O maestro Francisco ainda completa dizendo que não houve incentivo por parte do governo em manter a Orquestra, e esta chegou inclusive a mudar de nome para Orquestra de Concertos de Sergipe.

Segundo o jornal Diário de Aracaju do dia 16 de outubro de 1996, os músicos denunciavam os baixos salários que recebiam:

Um músico no nível 1 com a complementação oferecida pelo Estado consegue ganhar R$ 200,00 e o de nível superior ganha na faixa de R$ 600,00, o que na opinião do maestro [Francisco] não é um procedimento normal, uma vez que todas as orquestras instituíram um pio salarial para seus músicos cujo valor mínimo é de R$ 800,00. “A única solução para que tenhamos uma Orquestra renovada é investindo no aumento salarial do músico” (...). Francisco Alberto relatou também que a Orquestra tem trabalhado muito, porque vem realizando um trabalho em grupo “nós saímos do número de apresentação normal que é de dois concertos por mês. Nós estamos fazendo na faixa de seis a oito apresentações como grupo. Alguns grupos se apresentam para a Secretaria da Cultura, para a Secretaria da Educação, para a Biblioteca e para todos os seguimentos da sociedade que solicitam os serviços da orquestra”, frisou. Além dos músicos pertencentes a Orquestra, o Maestro também conta com um pequeno número de estagiários, que recebem mensalmente uma bolsa de R$ 120,00. “Eles estão inclusive com atraso no

32 pagamento do mês passado” (...) O maestro contou ainda que o dinheiro recebido pelo não dá para custear os gastos com sua manutenção. “Eu já tenho músicos que não estão vindo para os ensaios por não disporem de dinheiro sequer para ônibus”.

No ano de 2003, no governo de João Alves Filho, que tinha como secretário da Secretaria da Cultura José Carlos Teixeira, a Orquestra Sinfônica voltou suas atividades, novamente sob a regência de Rivaldo Dantas.

Em 2004, a ORSSE passa a ser regida pelo maestro Gladson Carvalho. A Orquestra foi aos poucos voltando a se reestruturar, contando com a participação, em sua maioria, de músicos sergipanos e alguns de outros lugares, inclusive da Romênia, para completar o quadro de instrumentistas.

No dia 9 de novembro de 2004, os integrantes da ORSSE foram surpreendidos com a suspensão por tempo indeterminado dos trabalhos da orquestra. A decisão foi tomada porque a situação dos músicos estava irregular. Para que a orquestra pudesse continuar seriam necessários contratos por comissão ou concurso público.

Em dezembro de 2004 foi anunciado o retorno das atividades da ORSSE. Um dos motivos para sua volta com certa urgência, foi devido à pressão do público que não aceitou a interrupção de seus trabalhos. O governo criou então trinta cargos comissionados para os músicos. Já havia oito efetivos (referente ao concurso realizado em 1989), totalizando quarenta e três instrumentistas. (CINFORM de 13/12/2004)

No início do ano de 2005 o maestro Ion Bressan foi convidado para reger a Orquestra Sinfônica de Sergipe. Em 14 de março de 2005 no Teatro de Tobias Barreto a Orquestra realiza sua primeira apresentação com o novo maestro. Foram executadas:

33 Sinfonia nº 05 em Dó menor de L.V.Beethoven; O hino de 150 anos de Aracaju de José Gentil Leite; Trechos da ópera La Traviata de G. Verdi: Coro de Zingarelle, Mattadori Spagnuoli, e Brindisi e de P. Mascagni, a ópera Cavaleria Rusticana: Innegiamo. Nesse dia a Orquestra contou com a participação do coral Madrigal Polifônico, sob regência de Joel Magalhães. (GÓES. 2006, 34).

Em abril de 2006 a ORSSE juntamente com o apoio da Secretaria de Combate a Pobreza, a Secretaria da Educação e o Banese deram início ao projeto Orquestras Jovens de Sergipe com dois núcleos, um na capital Aracaju e outro na cidade de Itabaiana. Esse projeto consistia em dois ensaios de orquestra semanais para os estudantes que já tinham um conhecimento básico sobre o seu instrumento, além das aulas individuais. Havia ainda as aulas de iniciação musical para os jovens que estavam começando a prender música.

Ilustração II: Primeira apresentação da Orquestra Sinfônica Jovens de Sergipe, ORSSE e Coral Sinfônico, sob a regência do maestro Ion Bressan em Abril de 2006 no Teatro Tobias Barreto. Foto retirada do site da Secretaria do Estado da Cultura de Sergipe em abril de 2006.

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Ilustração III: Primeira apresentação da Orquestra Sinfônica Jovens de Sergipe, ORSSE e Coral Sinfônico, sob a regência do maestro Ion Bressan, em Abril de 2006 no Teatro Tobias Barreto. Foto retirada do site da Secretaria do Estado da Cultura de Sergipe em abril de 2006.

Ilustração IV: Público que assistiu a primeira apresentação da Orquestra Sinfônica Jovens de Sergipe, ORSSE e Coral Sinfônico, sob a regência do maestro Ion Bressan, em Abril de 2006 no Teatro Tobias Barreto. Foto retirada do site: http://www.sec.se.gov.br/modules/news/article.php?storyid=161

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Ilustração VI: Primeira apresentação da Orquestra Sinfônica Jovens de Sergipe, ORSSE e Coral Sinfônico, sob a regência do maestro Ion Bressan, em Abril de 2006 no Teatro Tobias Barreto. Foto retirada do folder da Orquestra Jovem.

Porém, em agosto do mesmo ano, os cerca de 700 jovens participantes do projeto foram surpreendidos com a notícia de que não teriam mais o apoio da Secretaria da Cultura e que o maestro Ion Bressan fora exonerado da ORSSE.

A partir daí, os alunos do núcleo de Aracaju não poderiam mais ensaiar no Teatro Tobias Barreto. A Secretaria de Combate a Pobreza disponibilizou o espaço do Gonzagão para os ensaios, as aulas e apresentações. Do mês de agosto até dezembro o projeto permaneceu com muitas dificuldades, dentre elas podemos ressaltar:



A falta de professores, já que os músicos da ORSSE não podiam mais dar aulas

no projeto; 

A precariedade do espaço, pois, é um local aberto e sem salas apropriadas para as

aulas e os ensaios. 

Por não está mais no teatro onde havia toda a estrutura material necessária, foi

preciso comprar cadeiras e estantes para partituras.

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Vários instrumentos foram adquiridos, dentre eles violinos, violoncelos e violas, que eram emprestados aos estudantes que ainda não tinham seu próprio instrumento. Além disso, alguns alunos recebiam uma bolsa de R$ 150,00 para ajuda de custo.

Em 17 de dezembro de 2006 houve a última apresentação dos alunos, na Orla da Atalaia, com um público de cerca de duas mil pessoas, conforme o jornal da cidade do dia 19 de dezembro de 2006.

No dia 18 de dezembro os alunos foram para frente do Palácio dos Despachos e fizeram uma manifestação pedindo ao governador eleito Marcelo Deda, para que desse prosseguimento ao projeto da Orquestra Jovem. Mesmo depois de entregue o abaixoassinado com cerca de quatro mil assinaturas que os pais e alunos integrantes do projeto conseguiram e mesmo afirmando na frente de várias emissoras de rádio e televisão que o Projeto iria continuar, este, não vingou.

De acordo com Marcelo Deda, o seu governo não pensa em interromper quaisquer projetos que tenham resultados positivos. Ele explicou que a idéia é ter compromisso com os resultados e significados desses na vida dos sergipanos. Ele disse que a determinação é buscar formas que permitam a continuidade do projeto. (Correio de Sergipe, Aracaju, 19 de dezembro de 2006) Quando eu vi rostos tão jovens, fiquei feliz. E quero parabenizar os que iniciaram esse projeto. Eu não tenho compromisso com o erro, mas com o acerto. O que foi feito de certo nesse governo será mantido. Eu não preciso mudar o que está dando certo. Então, no que depender do governador, esse projeto vai continuar. (Correio de Sergipe, Aracaju, 19 de dezembro de 2006). Ao final da manifestação [os jovens integrantes do projeto] foram recebidos pelo governador eleito Marcelo Deda, que se comprometeu em dar continuidade ao projeto. (Jornal da cidade. Aracaju, 19 de dezembro de 2006). Os alunos perfilaram-se na porta do Palácio de Despachos e executaram peças do repertório clássico para o governador eleito, que afirmou que irá se informar sobre as medidas adotadas, prometendo

37 buscar formas de garantir a continuidade desses e de outros projetos de cunho sócio-educativo. Temos absoluto interesse em continuar oferecendo esta oportunidade de aprendizado musical a estes mais de 700 jovens e todos os municípios atendidos pela Orquestra. (19/12/2006)

Em 11 de agosto de 2006 a batuta da ORSSE passa para as mãos do maestro paulista Guilherme Mannis. A programação que foi feita para a ORSSE executar durante o ano de 2007 contemplava uma série de concertos oficiais tocados no Teatro Tobias Barreto geralmente as sextas – feiras (com o ingresso sendo vendido a R$ 5,00) e tendo uma reapresentação do mesmo concerto no domingo (com o ingresso custando R$ 1,00).

A temporada dos concertos oficiais teve início no dia 15 de março com a abertura da ópera Guilherme Tell de Giacchino Rossini, a sinfonia número 5 em dó menor, op. 67 de Ludwig Van Beethoven e a Rapsódia sobre Meu Papagaio do compositor e pianista Daniel Freire (músico da ORSSE), que fez o solo de piano com a orquestra.

Podemos destacar também a vinda de solistas para tocar com a ORSSE, onde muitos desses solistas além de tocar ofereciam masterclass. Dentre esses solistas podemos destacar o spalla da Orquestra Sinfônica de São Paulo (OSESP), Emmanuelle Baldini que apresentou o concerto para violino e orquestra em ré maior, op. 61 de L.Van Beethoven nos dias 25 e 27 de maio e o pianista sergipano Eduardo Garcia, que apresentou o concerto para piano em sol maior de Maurice Ravel nos dias 13 e 15 de julho.

No dia 11 de outubro de 2007 teve início o Projeto “Concertos Didáticos Sinfonia do Saber”, que contou com a parceria da Secretaria de Estado da Educação e da

38 Secretaria de Estado da Cultura, através da Orquestra Sinfônica. Esse projeto propôs levar alunos das escolas públicas para Teatro Tobias Barreto para assistirem ao ensaio geral da ORSSE (que ocorre na manhã da apresentação da temporada oficial).

Assistimos ao segundo dia do projeto que aconteceu em 26 de outubro de 2007 pela manhã. Havia alunos do Colégio Barão de Mauá, João Alves e Alceu Amoroso Lima.

Após a Orquestra ter executado a primeira música, Poema Sinfônico de Sibelius, o maestro Guilherme Mannis dirigiu-se aos alunos e apresentou a Orquestra, explicando como ela funciona. Ele pediu para que um músico representante de cada naipe fizesse um solo para que os estudantes pudessem ouvir os instrumentos separadamente. Alguns instrumentistas também

explicaram

rapidamente como

os

seus

instrumentos

funcionavam.

Após apresentar alguns movimentos da suíte de Gounoud, o maestro abriu o espaço para que os alunos fizessem perguntas tais como: Quando a Orquestra foi fundada; quanto tempo leva para estudar harpa; Qual a diferença entre o contrabaixo acústico e o elétrico; quantas horas diárias de ensaio a Orquestra tem para apresentar um concerto; qual a importância dos sinais que o maestro faz; dentre outras.

A partir desses questionamentos percebemos como apenas uma apresentação pode despertar tanto interesse em crianças e adolescentes que na maioria das vezes não tinham tido a oportunidade de ver uma orquestra ao vivo.

39 No mesmo ano a ORSSE ainda tocou em alguns interiores do Estado como Estância, Maruim, Canindé do São Francisco e Laranjeiras; em praças públicas; na Catedral Metropolitana de Aracaju; no Parque da Sementeira e na Orla de Aracaju. A Orquestra encerrou suas atividades do ano de 2007 na sexta-feira do dia 21 de dezembro às 21 horas no Teatro Tobias Barreto com a apresentação da Fantasia Coral, do compositor Ludwig Van Beethoven, para coro, solistas, e orquestra; a Abertura Coriolano do mesmo compositor e o concerto número 2 para trompa e orquestra de Richard Strauss.

Ilustração V: ORRSE na Catedral Metropolitana de Aracaju, 22/09/2007 sob regência do maestro convidado Roberto Carlos di Leo. Disponível no site: http://www.sec.se.gov.br/modules/news/article.php?storyid=161

Ilustração VI: ORSSE em novembro de 2006 Foto disponível no calendário anual de 2007 da Secretaria do Estado da Cultura de Sergipe.

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Ilustração VII: Apresentação da ORSSE no Teatro Tobias Barreto. Foto disponível no calendário anual de 2007 da Secretaria do Estado da Cultura de Sergipe.

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4. A ORSSE COMO PATRIMÔNIO DA CULTURA SERGIPANA

Com o decorrer dos anos a ORSSE vem mostrando aos sergipanos seu valor como um importante meio cultural. Apesar de várias crises que ela passou, hoje, podemos dizer que desenvolve um trabalho relevante no meio musical sergipano, tendo inclusive um maior apoio do Estado para desempenhar seu trabalho. O número de integrantes foi ampliado e consta atualmente de:

Músicos da Orquestra: Violinos: 14; Violas: 6; Violoncelos: 7; Contrabaixos: 5; Flautas: 3; Oboés: 3; Clarinetes: 3; Fagote: 1; Trompa: 4; Trompetes: 4; Trombones: 4; Tuba: 1; Tímpano: 1; Percussão: 2; Harpa: 1; Piano: 1. Totalizando 60 instrumentistas.

Integrantes do Coro Sinfônico: Sopranos: 12; Contraltos e mezzos: 13; Tenores: 10; Baixos: 11; Regente: 1 Preparador Vocal: 1. Totalizando 48 coralistas.

Setor administrativo: Diretor artístico e maestro: 1; Diretor administrativo: 1; Assistentes de direção: 2; Arquivista e copista: 1; Designer gráfico: 1; Montadores: 3; Fotógrafos: 2. Totalizando 11 cargos administrativos.

A ORSSE vem consolidando o seu número de integrantes para que possa ser reconhecida como uma orquestra sinfônica desde 2003. Entretanto, os músicos ainda não dispõem de uma segurança quanto ao seu futuro como membros da mesma, pois, a

42 maioria dos instrumentistas possui cargos comissionados, ou seja, não estão amparados por uma lei trabalhista mais sólida que os sustentem no cargo.

Outro problema que a Orquestra enfrenta é a pouca divulgação para seus eventos. Geralmente os jornais televisivos locais fazem os anúncios somente no dia da apresentação. Durante o ano de 2007 essa falha foi amenizada devido à colocação de alguns cartazes pela cidade. Porém, esse tipo de divulgação ainda foi insuficiente para atrair um número maior de pessoas ao teatro.

Ao assistirmos as apresentações, percebemos que no final do ano, por exemplo, por ter havido uma maior propaganda na televisão sobre o último concerto e realizada com antecedência, o teatro teve muito mais público do que nos dias que a divulgação foi menor. Devemos entender a partir disso, que a pesar do público está comparecendo com maior freqüência as apresentações da ORSSE, ela ainda não está devidamente conhecida dos sergipanos e esse será um árduo caminho a trilhar: o processo de formação de público que a ORSSE tem que encarar durante os próximos anos. Apesar do que tem sido feito, ainda há um grande público para alcançar e para que isso ocorra, a Secretaria de Estado da Cultura deve investir muito mais em propagandas, além de levar mais intensamente a ORSSE para escolas e interiores, para que o seu trabalho torne-se mais conhecido e acolhido pelos sergipanos.

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1.1 – O POSICIONAMENTO DOS MÚSICOS QUANTO OS TRABALHOS DA ORSSE

Fizemos várias visitas aos ensaios da ORSSE que ocorrem de segunda a sexta das 9h às 12h no Teatro Tobias Barreto e a depender da necessidade, durante a noite, sábados, domingos e feriados. Depois de conversar com o maestro Guilherme Mannis, foi permitido que em um desses ensaios os músicos recebessem um questionário para ser entregue posteriormente. Foram entregues cerca de 55 questionários, sendo que somente 19 foram devolvidos e dentre estes, 2 não autorizaram a divulgação do que estava escrito.

De acordo com os questionários entregues, podemos mostrar alguns pontos positivos e outros que precisam ser melhorados com urgência, para que o trabalho da Orquestra possa se solidificar ainda mais no Estado.

Dentre os pontos citados por alguns músicos que são relevantes para o melhor funcionamento que a ORSSE tem atualmente destacamos: A volta dos trabalhos da Orquestra desde 2003, com ensaios e apresentações constantes; O maior apoio do Estado que se materializa principalmente na compra de instrumentos como cravo, órgão, piano, instrumentos de percussão, harpa, estantes para partituras, uma concha acústica para o Teatro Tobias Barreto, o que contribui para uma melhor projeção do som do palco para o teatro; um local adequado para os ensaios e o aumento do público nas apresentações.

Quanto às melhorias que os músicos consideram necessárias e em alguns casos urgentes, podemos destacar: Uma maior divulgação das apresentações; Uma equiparação

44 salarial, pois, às vezes os salários dos músicos se diferem em cerca de 100% (tendo em vista músicos que executam o mesmo trabalho); A não possibilidade dos integrantes da ORSSE darem aulas no Conservatório de Música de Sergipe, pois, seriam dois cargos pelo Estado (um pela Secretaria de Estado da Cultura e outro pela Secretaria de Estado da Educação) e de acordo com a lei essa situação não é possível, o que impossibilita que os músicos que muitas vezes vem de outras cidades contribuam para melhorar o ensino de música aqui. Esse é um problema relevante tendo em vista que o CMS passa por uma situação muito precária devido a falta de professores dos mais diversos instrumentos. Se os instrumentistas da ORSSE pudessem lecionar no CMS, esse problema seria resolvido.

Ainda podemos destacar que o salário dos músicos é insuficiente para manter uma qualidade adequada para o seu instrumento. Se levarmos em consideração, por exemplo, os instrumentos de corda como o violino, iremos perceber que para comprar e manter um bom instrumento o preço é alto pois, suas cordas e a crina do arco devem ser trocadas com uma certa regularidade (cerca de 3 a 6 meses), além dessas peças serem na maioria das vezes importadas, encarecendo ainda mais seu valor.

1.2 – O POSICIONAMENTO DO PÚBLICO QUANTO AOS TRABALHOS DA ORSSE

No dia 23 de novembro de 2007, no Teatro Tobias Barreto foram entregues 200 questionários para o público que fora assistir a ORSSE na sua penúltima apresentação na Temporada de 2007. Somente 91 questionários foram devolvidos e a partir desses podemos destacar alguns pontos relevantes sobre a forma que o público vê a Orquestra.

45 Através dos questionários entregues percebemos que a maioria do público assisti aos concertos da ORSSE com freqüência e muitos a acompanham em outros lugares fora do Teatro, como na Praça Tobias Barreto, no Teatro Lourival Batista, na Orla da Atalaia, em outras cidades como Laranjeiras e Porto da Folha, no Shopping, pela televisão e na Catedral Metropolitana de Aracaju. Por meio dessas apresentações em lugares variados do Estado, a ORSSE consegue atingir um público muito maior do que alcançaria somente no teatro. De acordo com os questionários percebemos também que nem sempre o público que acompanha a ORSSE costuma ouvir música erudita fora das apresentações, o que aumenta ainda mais a responsabilidade da ORSSE em apresentar um estilo de música que é novo para muitas pessoas.

Outro fator relevante que o questionário aponta é a pouca divulgação dos concertos da ORSSE, onde cerca de 45% dos entrevistados acham que está ruim ou precária.

Quanto ao repertório, a maioria acha enriquecedor e que o folder que acompanha a maioria dos concertos ajudam o público a conhecer um pouco mais sobre a obra executada, seu compositor e o solista, quando for o caso. Foi ressaltada também a importância das explicações dadas pelo maestro antes ou depois das execuções musicais.

Por fim, o item que questiona se a ORSSE é ou não patrimônio da cultura sergipana, e qual sua importância para o Estado, a esmagadora maioria das respostas confirmam que ela é muito importante ou essencial para Sergipe.

46

1.3



A

OPINIÃO

DE

ALGUNS

MAESTROS

SOBRE

A

IMPORTÂNCIA DE UMA ORQUESTRA SINFÔNICA

Após ver o que parte do público e dos músicos pensam sobre a ORSSE nós fizemos entrevistas com alguns maestros que são relevantes para o cenário musical erudito sergipano e até mesmo nacional, que expuseram seus pontos de vistas sobre a importância que uma orquestra pode ter para um Estado. Os entrevistados foram unânimes em afirmar que a manutenção de uma orquestra sinfônica é algo estritamente relevante para a vida cultural de uma sociedade, como podemos observar nos depoimentos que seguem:

Essa é a típica pergunta que pode ser rebatida com outra: Por que o estado mantém funções básicas? Nós acreditamos que em um aparelho cultural estatal uma orquestra sinfônica seja algo fundamental para a população, para ter uma locomotiva da área da música no estado. Então, como aparelho cultural, é indispensável para qualquer estado. (Maestro Guilherme Mannis. Ver anexo II). É muito importante, sobretudo quando a orquestra sinfônica do Estado produz da cultura do próprio Estado. Se há compositores do Estado que escrevem música clássica eu acho que a Orquestra deve tocar essas músicas. Se a Orquestra Sinfônica do Estado toca com autores regionais, eu acho que isso é importante que aconteça. Se a Orquestra Sinfônica do seu Estado forma e capacita professores e forma público e platéia de crianças, isso é papel importante da Orquestra Sinfônica do Estado. A Orquestra ainda pode ser considerada como patrimônio quando ela representa o seu Estado em festivais internacionais de música, quando ela grava cd(s), quando faz turnês. Então, há mil formas da Orquestra ser um órgão importante do seu Estado, desde que o maestro tenha visão e o governo apóie. (Maestro Marcos Arakaki. Ver anexo I). O Estado ter uma Orquestra Sinfônica é cultura, é dar ao seu povo a possibilidade de ter alguma coisa de nível cultural universal. Um governo que se presa se propõem a manter uma orquestra sinfônica, uma boa banda de música. Isso faz parte da cultura do povo, não pode o governo privar o povo dessa possibilidade. (Maestro Francisco Lima. Ver anexo III) A preocupação que a sociedade deve ter para com a criança e o adolescente é de que eles possam ver mais longe. Com relação à música é preciso se tirar também da preguiça intelectual, pois a música serve muito mais a alma do que ao corpo, mas como nossa sociedade é materialista, de consumo, a própria mídia divulga isso, a música foi

47 colocada no campo tão comercial, se barateado e passa a não ter nenhum valor significativo cultural e espiritual. A Orquestra Sinfônica já traz um outro lado da música, pois está é mais elaborada e tem algo mais do que um ritmo simplório, pois exige mais do intelecto. Na arte em geral seja ela pintura, escultura ou música temos que descobrir algo ali dentro que nos chame atenção. A questão que envolve a música clássica é a educação ao ouvi-la. Ela está ao alcance de todo mundo. É lamentável que não tenhamos no Brasil pelo menos cinco orquestras para cada Estado. (...) Porém isso não é um trabalho de curto prazo e sim a médio e longo prazo. (...) O que eu lamento é que o espaço na Orquestra Sinfônica de Sergipe está sendo preenchido basicamente com pessoas de fora, deixando de lado os sergipanos, fazendo o programa inverso daquele que desenhamos a princípio. (Maestro Rivaldo Dantas, disponível em: GÓES. 2006, 71)

48

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que foi visto chegamos à conclusão que a Orquestra Sinfônica de Sergipe pode ser sim considerada nosso patrimônio cultural, tendo em vista a sua atuação no cenário artístico musical no Estado devido ao seu reconhecimento pelo público.

Talvez o maior problema para que uma orquestra sinfônica seja aceita não só em Sergipe, mas no Brasil, seja a falta de formação musical da população brasileira. Ao se criar o grupo de admiradores, cria-se, além do interesse pela profissão, um mercado de trabalho, já que, o povo acostumado irá passar a exigir e, exigindo, as entidades públicas terão que desenvolver e ampliar o mercado de trabalho do músico.

Mas, como já foi dito e comprovado pelos questionários, a Orquestra ainda precisa de um maior incentivo do Estado, principalmente com relação as suas apresentações. Além disso, outros projetos para a formação de público podem ser colocados em prática nos próximos anos para que as pessoas em geral tenham acesso a ouvir e compreender melhor o funcionamento de uma orquestra e conhecer mais sobre música erudita.

O projeto iniciado em 2007, “Sinfonia do Saber” pode ser ampliado no sentido de não apenas levar os alunos ao teatro em um dia de ensaio, pode ser criadas apresentações exclusivas para os alunos tanto pela manhã, quanto pela tarde, com um repertório específico que possa atrair a atenção dos estudantes. A Orquestra pode também fazer apresentações nas escolas tanto públicas quanto particulares, com

49 palestras e exposições sobre a história da ORSSE, para que o público jovem se interesse em visitar suas apresentações em outros lugares como o teatro.

Com o curso de licenciatura em música iniciado no ano de 2007 na Universidade Federal de Sergipe, e a proposta aprovada da volta do ensino de música nas escolas com certeza irá ampliar as possibilidades para a música em Sergipe, não somente no campo erudito, mas também em outros estilos um tanto quanto marginalizados devido a preferência da maioria da população pelas músicas de massa.

Outra medida que favoreceria o desenvolvimento tanto da ORSSE quanto da música em Sergipe seria a volta da Orquestra Jovem vinculada a ORSSE, com a estrutura do Teatro Tobias Barreto e com os próprios músicos da Orquestra sendo os professores.

E, por fim, para melhorar a qualidade dos músicos do Estado, será imprescindível a abertura do curso de bacharelado pela UFS, pois o curso de licenciatura não supre as necessidades do ensino e aperfeiçoamento na execução do instrumento, algo que só acontece no curso de bacharelado.

Percebemos então, que apesar dos esforços que estão sendo feitos, ainda há a necessidade de um maior apoio para a cultura em Sergipe, para que o acesso as diferentes manifestações culturais sejam acessíveis a todos os sergipanos com igualdade de oportunidades.

50

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 2º edição. São Paulo: Moderna, 1996.

BENNETT, Roy. Uma breve História da Música. Tradução de Maria Teresa Resende Costa. Rio de Janeiro: Jorge Zarrar Editor, 1986.

CARPEAUX, Maria Otto. O livro de ouro da História da Música, da idade Média ao século XX. 7ª edição. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.

CUCHE, Dennys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: 2002.

FERREIRA Martins. Como usar a música na sala de aula. São Paulo: Contexto, 3ª ed., 2002.

FRANÇA, Eurico Nogueira. Matéria de música. Editora de Brasília, EBASA: 2ª edição, 1972.

GONÇALVES, Hortência de Abreu. Manual de monografia, dissertação e tese. São Paulo: Avercamp, 2004.

GRAÇA, Tereza Cristina Cerqueira; SOUZA, Josefa Eliana e FILHO, Manoel Luiz Cerqueira. Sociedade e Cultura Sergipana, parâmetros curriculares e textos. Governo de Sergipe. Secretaria do Estado da Educação e Desporto e Lazer. Aracaju, 2002.

51 GRIFFITHS, Paul. Enciclopédia da música do século XX. Tradução de Marcos Santarrita e Alda Porto. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

ISAACS, Alan e MARTIN, Elizabeth (organizadores). Dicionário de música. Tradução de Álvaro Cabral. Zahar editores: Rio de Janeiro, 1985.

PAES, José Paulo. Música e democracia, “populismo X elitismo”. Argumento falacioso). IN BOSI, Alfredo (organizador). Cultura Brasileira, temas e situações. 4º edição. Ed. Ática; São Paulo, 2003.

RAYNOR, Henry. História Social da Música, da Idade média a Beethoven. Tradução de Nathanael C. Caixeiro. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

52

MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO

GÓES, Priscilla da Silva. Acordes Dissonantes da História da Música em Sergipe: A Orquestra Sinfônica, 1985 – 2005. Monografia de graduação do departamento de História da Universidade Federal de Sergipe: São Cristóvão, 2006.

53

PERIÓDICOS

CORREIO DE SERGIPE, Aracaju, 19 de dezembro de 2006.

CORREIO DE SERGIPE, Aracaju, 19 de dezembro de 2006.

GAZETA DE SERGIPE, Aracaju, 10 de fevereiro de 1985.

JORNAL DA CIDADE. Aracaju, 19 de dezembro de 2006.

54

FONTES ORAIS

Ao atual maestro da ORSSE Guilherme Mannis, entrevistado em 21 de dezembro de 2007.

Ao ex-maestro da ORSSE, Francisco Alberto Lima, entrevistado em 08 e janeiro de 2008.

Ao maestro da OSB Marcos Arakaki, entrevistado em 25 de outubro de 2007.

55

GLOSSÁRIO

CONCERTO: Apresentação musical pública realizada por um número substancial de músicos, excluídas as representações teatrais ou dos serviços religiosos. Os concertos prosperaram ao longo do século XIX, encorajados pela formação de sociedades filarmônicas em muitas sociedades européias e norte americanas, e adotaram numerosas formas (como os concertos ao ar livre). O concerto do século XX é usualmente um espetáculo apresentado por uma orquestra.

HARMONIA: A harmonia ocorre quando duas ou mais notas de diferentes sons são ouvidas ao mesmo tempo, produzindo um acorde. Os acordes são de dois tipos: consonantes, nos quais as notas concordam umas com as outras e, dissonantes, nos quais as notas dissoam em maior ou menor grau, trazendo o elemento de tensão a frase musical. Usamos a palavra “harmonia” de duas maneiras: para nos referirmos à seleção de notas que constituem determinado acorde e, em sentido lato, para descrevermos o desenrolar ou a progressão dos acordes durante toda uma composição.

MAESTRO: O maestro como conhecemos hoje, surgiu no romantismo musical quando a massa orquestral ou coral tomou grandes proporções. No classicismo, com o inicio do crescimento da massa orquestral (ou coral), quem 'coordenava' era o músico mais visível: o primeiro violinista ou algum instrumentista de sopro. Em composições com acompanhamento por instrumento de teclado, o cravo na época e depois o piano, quem tocava este instrumento 'regia' a orquestra. Uma evolução deste estado inicial foi a marcação do tempo (métrica musical) através de batidas de um bastão no chão. Porém este ruído produzido pela batida, afetava diretamente a música, pois todos os músicos

56 precisavam ouvir a marcação (batidas) e assim todo o público também ouvia. Alguns músicos, inclusive, decidiram apenas marcar o tempo com as mãos e braços e ainda outros, enrolavam as partituras e marcavam o tempo. Carl Maria Von Weber foi quem introduziu uma vareta ou pequeno bastão para substituir o rolo de partitura. A esta vareta deu-se o nome de batuta.

MASTRCLASS: Consiste em uma aula em público para que o instrumentista melhore a interpretação de alguma obra

REGÊNCIA: Arte de dirigir uma orquestra, coro, balé, ou ópera durante os ensaios e apresentações públicas. Quando rege uma obra instrumental, além de marcar o tempo para garantir que todos executantes comecem juntos e permaneçam juntos, o maestro é responsável pelo andamento em que a peça é tocada e pela manutenção do equilíbrio do volume de som produzido pelos vários grupos de instrumentos, cabendo-lhe ainda assegurar que a entrada de solistas ou grupos de instrumentos ocorram exatamente no momento certo. Em suma, o regente controla o som produzido pelo conjunto, tal como o instrumentista controla o som produzido por seu instrumento. Os métodos usados pelos regentes para realizarem essa interpretação variam desde o uso aparatoso, ginástico e exuberante de gestos e movimentos faciais até o circunspeto e austero aceno de cabeça.

SINFONIA: Alguns compositores modernos usam a palavra Sinfonia como sinônimo de qualquer peça de música em que um grupo de instrumentistas toque em conjunto.

SPALLA: O primeiro violino de uma orquestra, que toca as passagens solo e costuma ter responsabilidades administrativas.

57

APÊNDICES

58

APÊNDICE I

59

APÊNDICE II Folder do Projeto “Orquestra Jovem de Sergipe”

60

APÊNDICE III Folder da primeira apresentação do Projeto “Orquestra Jovem de Sergipe” (Parte 1)

61

APÊNDICE IV Folder da primeira apresentação do Projeto “Orquestra Jovem de Sergipe” (Parte 2)

62

APÊNDICE V

63

APÊNDICE VI Folder contendo toda a programação da Temporada Oficial 2007 (Parte 1)

64

APÊNDICE VII Folder contendo toda a programação da Temporada Oficial 2007 (Parte 2)

65

APÊNDICE VIII Folder contendo toda a programação dos “Concertos Didáticos” (Parte 1)

66

APÊNDICE IX Folder contendo toda a programação dos “Concertos Didáticos” (Parte 2)

67

ANEXOS

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ANEXO I

ENTREVISTADORA: Priscilla da Silva Góes ENTREVISTADO: Maestro Marcos Arakaki DATA: 25/10/2007 LOCAL: Teatro Tobias Barreto

PRISCILLA: Como é a sua atuação na Orquestra Sinfônica Brasileira? MARCOS ARAKAKI: Eu atuo como regente assistente da OSB. A minha função é substituir o maestro ou qualquer convidado em qualquer concerto ou ensaio que me seja solicitado, então eu tenho que está preparado em toda a temporada o ano todo.

PRISCILLA: Como você percebe o incentivo do governo brasileiro para as orquestras em geral? MARCOS ARAKAKI: Eu acho que os governos dos estados têm feito a parte deles, lógico que alguns estados menos do que outros, mas agente também entende que cada estado tem uma riqueza e um nível de produção diferente, então é muito difícil que os governos dêem o mesmo subsídio como incentivo as Orquestras sinfônicas. Mas eu acredito que os que não têm é por falta de sensibilidade e cultura dos governantes, e os que têm, cada vez tem que olhar a orquestra com bons olhos porque ela é importante como patrimônio local e cultural.

PRISCILLA: Como são divididas as apresentações da OSB?

69 MARCOS ARAKAKI: A OSB toca em séries de concertos: Séries de concertos fechados, didáticos, as turnês e palestras. São diversos eventos que fazem parte de um todo da Orquestra Sinfônica.

PRISCILLA: A OSB tem algum projeto para o ensino de música? MARCOS ARAKAKI: Tem sim. A OSB acompanha o trabalho a “Vale música” que é um projeto da Vale do Rio Doce. Nós damos a coordenação musical do projeto e também tem os concertos didáticos com a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, tem a série de concertos para a juventude e tem concertos como essa turnê que é para a formação de platéia.

PRISCILLA: Como você percebe a recepção do público aos concertos, principalmente os didáticos? MARCOS ARAKAKI: É sempre muito boa porque as pessoas aprendem como funciona uma orquestra, vêem as coisas com mais calma quando o maestro explica, e isso ajuda muito a desmistificar a figura da orquestra no palco e mostrar a orquestra mais humana, a orquestra como realmente deve ser vista.

PRISCILLA: Qual a importância para um Estado ter sua orquestra sinfônica? MARCOS ARAKAKI: É muito importante, sobretudo quando a orquestra sinfônica do Estado produz da cultura do próprio Estado. Se há compositores do Estado que escrevem música clássica eu acho que a Orquestra deve tocar essas músicas. Se a Orquestra Sinfônica do Estado toca com autores regionais, eu acho que isso é importante que aconteça. Se a Orquestra Sinfônica do seu Estado forma e capacita professores e forma público e platéia de crianças, isso é papel importante da Orquestra Sinfônica do Estado.

70 A Orquestra ainda pode ser considerada como patrimônio quando ela representa o seu Estado em festivais internacionais de música, quando ela grava cd(s), quando faz turnês. Então, há mil formas da Orquestra ser um órgão importante do seu Estado, desde que o maestro tenha visão e o governo apóie.

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ANEXO II

ENTREVISTADORA: Priscilla da Silva Góes ENTREVISTADO: Maestro Guilherme Daniel Breternitz Mannis DATA: 21/12/2007 LOCAL: Teatro Tobias Barreto

PRISCILLA: Desde quando o senhor está à frente dos trabalhos da ORSSE como maestro? GUILHERME MANNIS: Desde agosto de 2006.

PRISCILLA: Como o senhor teve conhecimento dos trabalhos da ORSSE? GUILHERME MANNIS: Anteriormente ao convite eu não tinha muito conhecimento dos trabalhos da ORSSE. Eu tive conhecimento a partir do convite, vim ao Estado e achei que seria uma localidade com condições de se realizar um trabalho que pudesse gerar frutos, nós temos um teatro com boa estrutura e achei que valeria a pena investir nesse projeto.

PRISCILLA: Qual a importância da ORSSE para a sua vida profissional? GUILHERME MANNIS: Bom, aqui é o núcleo de toda a minha vida. É um trabalho estritamente sério que eu desenvolvo, não posso dizer que é apenas vir na orquestra e reger, é o meu projeto de vida. É um trabalho que exige muita dedicação, inclusive em fins de semanas, feriados. Creio que não seja só um trabalho, mas sim um projeto de vida pessoal.

PRISCILLA: Como o senhor percebe a contribuição do Estado de Sergipe em relação aos trabalhos da ORSSE atualmente? GUILHERME MANNIS: No sentido governamental, a orquestra se cristalizou como um bem público que deve ser mantido, preservado e valorizado. Há pouco tempo alguns setores da sociedade não viam muita importância em o estado ter uma orquestra sinfônica. Creio que com os trabalhos intensivos desses dois últimos anos e na próxima

72 temporada, achamos que o grupo já estará mais cristalizado. Tanto pelo fato da orquestra ter feito grandes concertos com solistas de renomes no cenário nacional, quanto pela produção intensa da orquestra. A orquestra teve este ano 120 eventos, dos quais 55 foram concertos da orquestra, com um público estimado de 37500 pessoas. É uma produção que é muito importante para a orquestra e para a sociedade. Creio então que a orquestra está muito mais cristalizada na sociedade e no meio político que a mantém.

PRISCILLA: Em sua opinião, porque um Estado deve manter uma (ou mais) orquestra? GUILHERME MANNIS: Essa é a típica pergunta que pode ser rebatida com outra: Por que o estado mantém funções básicas? Nós acreditamos que em um aparelho cultural estatal uma orquestra sinfônica seja algo fundamental para a população, para ter uma locomotiva da área da música no estado. Então, como aparelho cultural, é indispensável para qualquer estado.

PRISCILLA: Como acontecem os Concertos Didáticos para as escolas e como estas são escolhidas? GUILHERME MANNIS: Os Concertos didáticos derivam de uma proposta da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo de realizar os concertos didáticos nos ensaios gerais. Utilizam-se o ensaio geral da orquestra não só para a orquestra fazer uma apresentação antes da apresentação principal, mas para fazer com que as crianças tenham contato com a música clássica. Esse projeto tem sido muito bem sucedido, as crianças têm voltado ao teatro, e espero que dê bons frutos.

PRISCILLA: Em quais cidades a ORSSE tocou este ano? GUILHERME MANNIS: Em Maruim, Estância, Laranjeiras, Lagarto e Canindé do São Francisco PRISCILLA: Como são escolhidos s músicos para solarem com a ORSSE? GUILHERME MANNIS: São escolhidos os músicos são de destaque no cenário nacional, além dos músicos de destaque na própria orquestra sinfônica capazes de serem solistas, pois levam o trabalho com muita seriedade e têm muito talento, e também os solistas sergipanos, como foi o caso da execução da Fantasia Coral de Beethoven, que tem sete solistas, um pianista e seis cantores, e utilizou apenas solistas de nosso Estado.

73 Utilizamos, portanto, três pilares de valorização: Relevância nacional, relevância na própria orquestra e no meio sergipano.

PRISCILLA: Como acontece a contratação dos músicos para tocarem na orquestra? GUILHERME MANNIS: Se dá através de uma prova de seleção feita pela direção e alguns chefes de naipes, e a contratação se dá por cargos de comissão através da secretaria da cultura.

PRISCILLA: Por que a proposta da Academia da ORSSE não foi posta em prática este ano? GUILHERME MANNIS: São vários Projetos e é muito complicado implantar tudo de uma vez sem o dinheiro e estrutura necessária. A partir do momento que nós temos produção, nós trabalhamos em vista de oferece a população mais concertos com maior qualidade nós teremos contrapartidas da parte do estado onde poderemos programar mais projetos que temos em mente.

PRISCILLA: Por ser a ORSSE uma orquestra mantida pelo Estado, está sendo cogitado concurso para cargos efetivos? GUILHERME MANNIS: Não.

PRISCILLA: O senhor percebe a ORSSE como Patrimônio da Cultura Sergipana? Por quê? GUILHERME MANNIS: Bom, sem dúvida nenhuma. Eu acho que a orquestra é um aparelho estatal essencial na área da cultura. Como os hospitais são importantes para a saúde, dos aparelhos culturais – desde que o Estado tenha condições de ter aparelhos culturais -, creio que a Orquestra Sinfônica seja um dos mais vitais.

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ANEXO III

ENTREVISTADORA: Priscilla da Silva Góes ENTREVISTADO: Maestro Francisco Alberto Lima DATA: 08/01/2008 LOCAL: Sede da SECBANDA

PRISCILLA: Durante quanto tempo o senhor foi maestro da ORSSE? MAESTRO FRANCISCO: De 1994 a 1998.

PRISCILLA: Qual o incentivo do Estado para a ORSSE nessa época? MAESTRO FRANCISCO: Não houve incentivo do Estado, não houve investimento, pelo contrário, houve até uma situação de piora para a Orquestra Sinfônica, que mudou até de nome nesse período.

PRISCILLA: De onde eram os músicos da ORSSE na época em que o senhor foi o regente? MAESTRO FRANCISCO: Na época os músicos não tinham contrato. Estive fora do Estado entre 1992 e 1994 e quando voltei e assumi encontrei a Orquestra com alguns músicos que haviam feito concurso em caráter precário, porque alguns músicos da Orquestra tinham ido embora. A Orquestra foi desfeita na mudança de governo, e quando eu voltei encontrei a Orquestra desativada e vinculada ao Conservatório de Música, o qual não era, pois, tinha decreto e portaria própria. Daí batalhamos junto a professora Aglaé Fontes e o secretário que era Luis Antônio Barreto. Houve então um concurso para seis ou oito músicos, os outros integrantes eram alunos do Conservatório e

75 outros músicos que restaram da Orquestra. Houve ainda alguns músicos que saíram por terem aderido ao PDV (Plano de Demissão Voluntária) e a Orquestra ficou em uma situação calamitosa.

PRISCILLA: Como era a freqüência do público nas apresentações da ORSSE? MAESTRO FRANCISCO: A Orquestra tinha um bom público quando ativa e, cerca de 85% dos músicos eram vindos de Recife e Salvador pois ela não tinha condições de se manter somente com os músicos daqui.

PRISCILLA: A Orquestra tocava somente música erudita ou ampliava para outros estilos musicais? MAESTRO FRANCISCO: As orquestras sinfônicas do mundo têm uma característica. Não é que elas não possam tocar música popular, elas tocam, mas tem que tocar com uma roupagem e com os arranjos próprios, não é, da mesma forma que tocam outros grupos musicais, tendo esses cuidados, nós a executávamos também.

PRISCILLA: Qual a importância para um Estado manter uma Orquestra Sinfônica? MAESTRO FRANCISCO: O Estado ter uma Orquestra Sinfônica é cultura, é dar ao seu povo a possibilidade de ter alguma coisa de nível cultural universal. Um governo que se presa se propõem a manter uma orquestra sinfônica, uma boa banda de música. Isso faz parte da cultura do povo, não pode o governo privar o povo dessa possibilidade.

PRISCILLA: O senhor vê a ORSSE como patrimônio da Cultura sergipana?

76 MAESTRO FRANCISCO: Sem dúvida. Eu acho que é um ponto definido. O povo deve ser conscientizado de que aquilo é um patrimônio dele. A banda da música, a Orquestra Sinfônica é um patrimônio dele e faz parte da história dele.

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ANEXO IV

FACULDADE ATLÂNTICO PÓS – GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E PATRIMÔNIO CULTURAL EM SERGIPE PESQUISADORA: Priscilla da Silva Góes

TEMA: A Orquestra Sinfônica como patrimônio da cultura sergipana.

QUESTIONÁRIO PARA OS MÚSICOS DA ORSSE

NOME: __________________________________________________ DATA:___/____/____ FUNÇÃO DESMPENHADA NA ORSSE:_______________________

1 – Qual o incentivo que você teve para iniciar seus estudos em música? _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________

2 – Quantos anos de estudo foram necessários para você iniciar em uma orquestra profissional? _______________________________________________________________________ 3 – Onde você estudou música? _______________________________________________________________________ 4 – Como você tomou conhecimento dos trabalhos da ORSSE?

78 _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________

5 – Quando você começou a tocar na ORSSE? _______________________________________________________________________

6 – Como foi seu processo de ingresso na ORSSE?

Teste (

) Convite (

) Outro (

) Qual: ________________________

7 - Qual a sua situação de trabalho na ORSSE?

Efetivo ( )

Contrato (

) Outro (

) Qual: ____________________

8 – Quantas horas diárias de estudo individual você tem? _______________________________________________________________________

9 – Quantos cursos de aperfeiçoamento você fez nos últimos dois anos? Onde? _______________________________________________________________________

10 – Como você percebe a contribuição do Estado de Sergipe em relação aos trabalhos da ORSSE? _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ 11 - Qual a importância da ORSSE para a sua vida profissional?

79 _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________

12 – Quais as suas perspectivas como membro da ORSSE? _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________

13 – O que você acha na receptividade do público aos concertos da ORSSE? _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________

14 – Outros comentários: _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________

Eu, __________________________ autorizo a divulgação do conteúdo dessa pesquisa.

_________________________________________ Assinatura da Pesquisadora

80

FACULDADE ATLÂNTICO PÓS – GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E PATRIMÔNIO CULTURAL EM SERGIPE PESQUISADORA: Priscilla da Silva Góes

QUESTIONÁRIO PARA O PÚBLICO DA Orquestra Sinfônica de Sergipe

BOA NOITE! Caro amigo, gostaria de contar com a sua colaboração para responder esse questionário que faz parte de uma pesquisa acadêmica sobre a Orquestra sinfônica de Sergipe. Desde já, muito obrigada pela colaboração.

Questionário realizado no Teatro Tobias Barreto no dia 23 de novembro de 2007 Questionários entregues: 200 Questionários recebidos: 91 Resultados em %

1 – Qual a sua escolaridade?

A – Ensino Fundamental completo ou incompleto: 10,9. B – Ensino Médio completo ou incompleto: 26,3. C – Superior completo ou incompleto: 42,8. D – Pós graduado: 19,7.

2 – Com que freqüência você costuma assistir aos concertos da ORSSE?

81 A - Uma vez ao mês: 26,3. B – Constantemente: 40,6. C- Raramente: 20,8. D - É a primeira vez: 14,2.

3 – Você assiste (ou já assistiu a algum concerto da ORSSE em outro lugar que não seja o Teatro?

A – Não: 51,6. b – Sim: 48,3. Onde: Conservatório de Música de Sergipe; Praças públicas; Teatro Lourival Baptista; Hospital Cirurgia; Orla da Atalaia; No município de Laranjeiras; Tribunal de Contas do Estado; Catedral Metropolitana de Aracaju; Televisão; Shopping; No município de Porto da Folha; No Calçadão.

4 – Você costuma ouvir música erudita fora das apresentações?

A – Sim, constantemente: 51,6. B – Raramente: 36,2. C – Não: 12

5 – Como você conheceu a ORSSE?

A – Pela televisão: 28,5. B – jornais: 5,4.

82 C – Através de amigos: 45. D – Outra forma: 20,8. Qual: No teatro; Em galerias; nas escolas; por um professor; e-mail informativo cultural.

6 - O que você acha sobre a divulgação da ORSSE?

A – Excelente: 13,1. B – Boa: 27,4. C – Suficiente: 13,1. D – Precária: 42,8. E – Ruim: 3,2.

7– O repertório apresentado pela ORSSE ajuda a enriquecer o seu conhecimento sobre música?

A – Sim, enriquece muito: 58,2. B – Sim, ajuda um pouco: 37,3. C – Não: 4,3. Por quê? Os folders ajudam a ampliar o conhecimento sobre a música e sobre os compositores.

8 – Você reconhece a Orquestra Sinfônica de Sergipe como Patrimônio da nossa cultura?

A – Sim: 95,6.

83 B – Não: 4,3.

9 - Qual a importância da ORSSE para Sergipe?

A – Essencial: 51,6. B - Muito Importante: 47,2. C – Pouco importante: 1. D – Não tem importância: 0.

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