Monografia Embalagem e Meio Ambiente

August 27, 2017 | Autor: Estevão Lemes | Categoria: Design De Embalagem, EMBALAGENS
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Descrição do Produto

ESCOLA SENAI “THEOBALDO DE NIGRIS” FACULDADE SENAI DE TECNOLOGIA GRÁFICA PÓS GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO E PRODUÇÃO DE MÍDIA IMPRESSA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

ESTEVÃO LEMES DE FREITAS LIMA

COMO DESENVOLVER UMA EMBALAGEM CARTOTÉCNICA ECOLOGICAMENTE CORRETA

São Paulo 2011

ESTEVÃO LEMES DE FREITAS LIMA

COMO DESENVOLVER UMA EMBALAGEM CARTOTÉCNICA ECOLOGICAMENTE CORRETA

Monografia apresentada ao curso de PósGraduação Latu Sensu Planejamento e Produção de Mídia Impressa da Ecola SENAI “Theobaldo de Nigris” - Faculdade SENAI de Tecnologia Gráfica como objetivo de conquistar o Título de Pós-Graduado no setor da Indústria Gráfica. Orientador: Prof. Miguel de Frias.

São Paulo 2011

Ficha Catalográfica Elaborada pelos bibliotecários da Faculdade SENAI de Tecnologia Gráfica Lima, Estevão Lemes de Freitas. Como desenvolver uma embalagem cartotécnica ecologicamente correta / Estevão Lemes de Freitas Lima ; Orientador, Miguel de Frias. São Paulo, 2011. 68 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-graduação) – Faculdade SENAI de Tecnologia Gráfica, São Paulo, 2009. 1. Embalagem. 2. Design de embalagem. 3. Meio ambiente. I. Frias, Miguel de. II. Título. CDD 688.8

ESTEVÃO LEMES DE FREITAS LIMA

COMO DESENVOLVER UMA EMBALAGEM CARTOTÉCNICA ECOLOGICAMENTE CORRETA

Monografia apresentada ao curso de PósGraduação Latu Sensu Planejamento e Produção de Mídia Impressa da Ecola SENAI “Theobaldo de Nigris” - Faculdade SENAI de Tecnologia Gráfica como objetivo de conquistar o Título de Pós-Graduado no setor da Indústria Gráfica.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Miguel de Frias

Prof. Marcio Pucci

Prof. Norberto Gaudêncio Junior

São Paulo, ____ de ____________ de 2011

A Olorum e os Sagrados Orixás. Aos meus pais Euzébio e Inez pelo carinho, compreensão e incentivo.

AGRADECIMENTOS Agradeço a Olorum, Oxossi e Obá por mais essa oportunidade de aprendizado, conhecimento, sabedoria e crescimento que foi colocada em meu caminho.

A minha família, principalmente aos meus pais, pelo carinho, incentivo e apoio para que eu galgasse mais um degrau na minha carreira, em busca dos meus objetivos.

Agradeço ao meu Orientador Prof. Miguel de Frias pela paciência e ajuda na elaboração deste projeto, ao Coordenador Prof. Norberto Gaudêncio Junior pela força incentivo. Ao Professor Marcio Pucci, ao Designer e Professor Fábio Mestriner pelas orientações, dicas e apoio dados a minha qualificação.

Aos professores e amigos de sala, que convivemos dois anos trocando experiências, sempre discutindo e debatendo assuntos importantes sobre o nosso meio profissional.

E a todos que de forma direta ou indireta colaboraram para que este trabalho fosse realizado.

“O mundo não vai evoluir da atual situação de crise usando o mesmo pensamento

que

criou

esta

situação.” Albert Einstein

RESUMO

O crescimento da produção de embalagens no Brasil juntamente com os parques gráficos aqui instalados é constante. O setor de celulose e papel investe cada vez mais em recursos para ampliar a área plantada, a capacidade instalada e a melhoria das matérias-primas e dos produtos. Existe uma busca crescente pelos materiais considerados amigos do meio ambiente, e o papelcartão é o primeiro da lista, valorizando assim a busca por embalagens composta por ele. As inovações dentro das empresas de embalagens de papelcartão, principalmente as que estão voltadas ao meio ambiente, são imensas, tornado-as mais valorizadas, pois elas são as responsáveis

para

que

a

embalagem

de

papelcartão

seja

considerada

ecologicamente correta. Este projeto de pesquisa tem como objetivo explorar as preocupações existentes no processo de criação e produção das embalagens de papelcartão visando orientar os alunos, e profissionais voltados ao design de embalagens para as questões que estão envolvidas na produção das mesmas, e quais os caminhos a serem seguidos para que elas sejam consideradas ecologicamente corretas.

Palavras-chave: Embalagem; Design; Design de Embalagem; Meio Ambiente.

ABSTRACT

The growth of the packing production in Brazil along with the graphics parks installed here is constant. The cellulose and paper industry increasingly invest in resources to increase the planted area, the installed capacity and improvement of raw materials and products. There is a growing search for materials that are considered environmentally friendly, and the cardboard is listed first, thus valuing the search for packages composed by it. Innovations within firms packaging cardboard mainly those that are related to the environment are immense, making them more valuable, because they ae responsible for the packaging of cardboard will be considerate environmentally correct. This research project aims to explore the concerns during the process of creating and producing of packages of cardboard

and

to

guide

students

and

professionals

into the design of

packaging for the issues that are involved in the production of them, and what manner to be follow for they will be considered environmentally friendly.

Key-worlds: Package; Design; Package Design; Environment.

LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Amplitude da embalagem.........................................................................16 Figura 2 - Exemplo de aspectos tecnológicos e mercadológicos .............................17 Figura 3 - Gráfico sobre matérias-primas para a produção de embalagens.............21 Figura 4 - Áreas de competência da gestão do design no desenvolvimento de embalagens........................................................................................................33 Figura 5 - Selo forest stewardship council – conselho de manejo florestal ..............42 Figura 6 - Simbologia de rotulagem..........................................................................54 Figura 7 - Simbologia de resíduo reciclável..............................................................55 Figura 8 - Selo da campanha papelcartão para embalagem ....................................57

LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Comparativo da produção de papel de embalagem e papelcartão..........23 Tabela 2 - Principais diferenças em desenhos de homens e mulheres ....................29 Tabela 3 - Os aditivos e suas funções ......................................................................49

LISTA DE SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ABRAFATI – Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas ABRE – Associação Brasileira de Embalagens BRACELPA – Associação Brasileira de Celulose e Papel CEMPRE – Compromisso Empresarial Para a Reciclagem CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental DMA – Departamento de Meio Ambiente FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo FSC – Forest Syewadship Council – Conselho de Manejo Florestal IP – International Paper ISO – International Organization for Standardization VCP – Votorantin Celulose e Papel

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................12 1.1 Problema .........................................................................................................12 1.2 Objetivo............................................................................................................12 1.3 Metodologia .....................................................................................................13 1.4 Problemática....................................................................................................13 2 EMBALAGEM – CONCEITOS...............................................................................14 2.1 Histórico...........................................................................................................14 2.2 Definição e função ...........................................................................................15 2.3 Tipos de embalagem .......................................................................................19 2.4 Matérias-primas utilizadas ...............................................................................20 2.5 O papel como substrato de embalagem ..........................................................22 3 DESIGN..................................................................................................................25 3.1 Definição..........................................................................................................25 3.2 Gestão do design.............................................................................................27 3.3 O design de embalagem..................................................................................31 4 A EMBALAGEM E O MEIO AMBIENTE ...............................................................36 4.1 Ecodesign ........................................................................................................38 4.2 Ecodesign x design sustentável.......................................................................40 4.3 O papel sustentável .........................................................................................41 4.4 Tintas e vernizes..............................................................................................46 4.4.1 Resinas .....................................................................................................46 4.4.2 Pigmentos .................................................................................................47 4.4.3 Solventes ..................................................................................................48 4.4.4 Aditivos......................................................................................................48 4.4.5 Vernizes ....................................................................................................49 4.4.6 A tinta e o meio ambiente..........................................................................50 4.5 Plastificação e laminação.............................................................................51 4.6 Por que reciclar................................................................................................52 4.6.1 Simbologia ................................................................................................53 4.6.2 Resíduo reciclável .....................................................................................55 5 EMBALAGENS AMIGAS DO MEIO AMBIENTE ..................................................56 5.1 Embalagens ecologicamente correta...............................................................56 5.2 Recomendações para um projeto adequado ...................................................59 6 CONCLUSÃO ........................................................................................................61 REFERÊNCIAS.........................................................................................................65

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1 INTRODUÇÃO

O setor de embalagens cresceu e evoluiu muito nas últimas duas décadas no mercado mundial. Isto aconteceu principalmente pela necessidade, não apenas da embalagem proteger o produto, mas também vendê-lo. Produtos que são expostos nas prateleiras do supermercado, lojas de conveniências, empórios etc. não possuem um vendedor direto nos pontos de vendas que impulsione o produto para o cliente.

Para suprir esta necessidade de mercado, os produtores passaram a investir em inovações para atraírem os consumidores na compra de seus produtos. A embalagem além de propiciar a venda do produto, também "vende a imagem da empresa" que comercializa o produto nela acondicionado.

Um projeto adequado de embalagem envolve inúmeros estudos sobre o produto que ela ira acondicionar, buscando uma maneira de protegê-lo para que chegue às condições de consumo sem nenhuma característica alterada; estudos sobre o seu consumido final – público-alvo; logística e transporte.

Partindo-se desta idéia, são estabelecidas outras características como: a matériaprima que será utilizada, o formato, o dimensional, o posicionamento e a arte, sendo “em linha geral” o Marketing e o Departamento de Embalagem os responsáveis por estabelecer tais informações. A função do designer é unir e aplicar essas informações na embalagem de uma maneira que ela atenda a satisfação do cliente e conquiste o consumidor final.

1.1 Problema Como reduzir o impacto ambiental causado por embalagens de papelcartão?

1.2 Objetivo Propor um método de Design explicando quais as medidas e procedimento tomar para desenvolver uma embalagem de papelcartão ecologicamente correta.

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1.3 Metodologia Para a realização deste trabalho foi efetuada uma pesquisa bibliográfica em diversos suportes como livros, artigos científicos, monografias, entre outros.

1.4 Problemática É sabido que a grande preocupação dos clientes em geral não é apenas proteger seus produtos, mas sim destacá-los frente ao concorrente, conquistando sempre uma fatia de mercado cada vez maior. As empresas sempre estão buscando soluções estratégicas para estarem bem posicionadas no mercado.

Pensando assim, não se medem esforços quando se fala de qualidade e força de venda. Uma embalagem deve estar em destaque no ponto de venda para que o consumidor se sinta atraído por ela. Elementos gráficos de destaques são adicionados e se ela possuir algum tipo de selo que represente um órgão importante, demonstrando que a empresa colabora com alguma organização, incentivará a compra do produto.

As embalagens ecologicamente corretas possuem seus respectivos selos, que informam que aquela embalagem e o fabricante do produto que ela acondiciona estão colaborando diretamente contra a degradação do meio ambiente.

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2 EMBALAGEM – CONCEITOS

Se a embalagem antiga remete ao artesanato, a de nossos dias nasceu como irmã gêmea da indústria. Nessa transformação, mudou de personalidade e serventia. (CAVALCANTI; CHAGAS, 2006)

2.1 Histórico A embalagem existe na humanidade desde o dia em que o homem descobriu a necessidade de transportar e proteger as mercadorias. No sentido amplo da palavra, cestos, samburás, ânforas, barris, tonéis, balaios, baús, caixas, garrafas, bolsas e sacolas são embalagens. Já houve quem apontasse a própria natureza como a primeira inventora das embalagens, providenciando a vagem para proteger o feijão e a ervilha, a palha para envolver a espiga de milho, a casca do ovo e da noz. (CAVALCANTI; CHAGAS, 2006, p.13)

O homem foi deixando de usar as folhas das plantas, o couro, o chifre e as bexigas dos animais; passou a usar a cerâmica, peças de barro e o vidro; dos tecidos e madeira, ao papel, papelão, folha de flandres, até chegar aos dias de hoje com o alumínio e as variedades de plásticos. O desenvolvimento de embalagem começa com a origem do homem. Artefatos mais antigos nos dão uma idéia de quando certas embalagens foram usadas pela primeira vez. Quem inventou o primeiro formato não é conhecido, mas é obvio que as embalagens foram criadas para tornar o transporte mais fácil. (MOURA; BANZATO, 1977, p.02)

Pesquisas feitas no Rio de Janeiro, próximo às ruínas das grandes casas que havia nas fazendas de café, descobriram garrafas de vidro que abrigava e protegia os vinhos portugueses, licores franceses e outras bebidas vindas da Europa e que esses vasilhames serviam para armazenar outros produtos líquidos. Isso também acontecia com as caixas de madeira, pipas e tonéis de aguardente. Com os tecidos dos sacos que traziam o trigo eram feitas as roupas para os escravos e as latas vazias serviam para guardar outros objetos.

As embalagens tornaram-se ferramentas de grande importância para a venda de produtos; no início, apenas para proteção e transporte, com o decorrer do tempo passaram a representar um papel fundamental para a apresentação dos mesmos, tornando-se uma estratégia de marketing.

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2.2 Definição e função Nos dias de hoje, a embalagem representa um papel importante na economia mundial e cada vez mais os profissionais do setor têm dedicado mais atenção ao seu desenvolvimento.

Moura e Banzato (1997, p.01) relatam que “vivemos em um mundo de produtos embalados”. Praticamente todos os produtos vendidos são embalados, seja na sua forma final, seja nas fases intermediárias de fabricação e transporte.

Existem várias maneiras de definir uma embalagem, mas a idéia principal da sua função é armazenar e proteger o produto contra impurezas externas como luz, ar, calor ou frio, etc. A embalagem pode ser definida e vista de várias maneiras, dependendo do departamento e do ponto de vista das pessoas. [...] para a pessoa de marketing, embalagem é um meio de apresentar o produto para gerar vendas. Para pessoas de distribuição, é um meio de proteger o produto durante a movimentação, estocagem e transporte. E para o consumidor de varejo, embalagem é um meio de satisfazer ao desejo de consumo do produto. (MOURA e BANZATO, 1997, p. 10)

De acordo com Gurgel (2007, p. 01) “as embalagens são invólucros, recipientes ou qualquer forma de acondicionamento removível, ou não, destinada a cobrir, empacotar, envasar, proteger, manter os produtos ou facilitar sua comercialização.”

Em outra visão Mestriner (2002, p. 04) aponta que além das funções básicas originais da embalagem, ela desempenha uma série de funções e papeis na empresa e na sociedade.

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Figura 1 – Amplitude da embalagem: A figura mostra os principais componentes da amplitude da embalagem para que ela possa ser compreendida em seu sentido amplo. Fonte: MESTRINER (2002, p. 04)

Portanto, partindo da idéia de que algumas funções da embalagem são voltadas principalmente para atender os desejos e necessidades dos departamentos, podemos observar que dentro de uma organização, os interesses para uma mesma embalagem podem ser distintos.

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Figura 2 - Exemplo de aspectos tecnológicos e mercadológicos: a figura mostra uma grande importância por parte das empresas em relação ao desenvolvimento de embalagens. Fonte: GURGEL (2007, p.13)

De acordo com a figura acima, existe por parte das empresas uma importância muito grande com relação ao desenvolvimento e adequação da embalagem de acordo com as funções que devem ser atendidas, os critérios básicos e adicionais que deseja acrescentar, sendo que, se o planejamento não estiver adequado ao resultado que se busca, poderá influenciar diretamente em todo o processo interno. O mundo da embalagem é o mundo do produto, da indústria e do marketing, em que o design tem a responsabilidade de transmitir tudo aquilo que o consumidor não vê, mas que representa um grande esforço produtivo para colocar nas prateleiras o que a sociedade industrial moderna consegue oferecer de melhor. (MESTRINER, 2002, p. 04)

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A embalagem é um fator importante nos planos mercadológicos e operacionais de qualquer empresa, estando diretamente relacionada com seus lucros e perdas e o crescimento de suas vendas.

De acordo com Moura e Banzato (1997, p. 31), devido inovações nas embalagens, existem quatro estratégias que podem auxiliar no aumento das vendas, que seriam: •

Criar uma embalagem diferenciada para o produto já existente;



Criar uma embalagem nova para um produto existente buscando resolver

possíveis problemas de marketing; •

Escolher uma embalagem para um produto novo com base em outras

utilizadas para produtos de outras categorias; •

Criar uma embalagem nova juntamente com um novo produto.

Com o passar dos anos, as embalagens foram evoluindo, novas tecnologias apareceram e com elas, assumindo assim novas tarefas. Com a chegada dos supermercados, surgiu a venda no sistema de auto-serviço onde o consumidor tem acesso direto aos produtos sem a intermediação do vendedor. A embalagem teve que assumir as funções de comunicar a presença do produto chamando a atenção dos consumidores, de informar o conteúdo e os principais atributos do mesmo e, principalmente, a tarefa de vender conquistando a preferência do cliente final. A venda de produtos no sistema de auto-serviço obrigou a uma completa reformulação na função das embalagens. Agora não havia mais o vendedor atrás do balcão para apresentar o produto, explicar suas características e estimular as vendas convencendo o consumidor a levá-lo. (MESTRINER, 2002)

A embalagem passou a ter grande influência na venda de um produto, tornando-o mais ou menos atraente aos olhos do consumidor, porém ela não será a responsável pelo sucesso duradouro do mesmo; isto dependerá de outros fatores como a qualidade do produto, propaganda e marketing. E um fator que também tem grande influência sobre a sociedade são os materiais utilizados para a confecção de determinadas embalagens.

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A embalagem é uma poderosa ferramenta de marketing, quando bem conduzida, pode tornar-se um fator decisivo no ponto-de-venda. Isso acontece porque a embalagem é item obrigatório do produto, [...] pode e deve ser usada em todo seu potencial. (MESTRINER, 2002, p. 22)

A embalagem é a cara da marca, espelhando rapidamente e de forma concentrada seus valores, histórias e atributos, bem como suas forças e fraquezas. Adicionalmente, pode também ser o fator diferenciador e determinante na decisão de compra, ou seja, pode ser considerada um dos maiores promotores e vendedores da marca, já que alcança toda extensão do mercado e age no momento crítico da decisão (SERAGINI, 2004, p. 09).

2.3 Tipos de embalagem Os tipos de embalagens são definidos de acordo com sua utilização, isso acontece devido às necessidades diversas para seu uso, que foram surgindo através dos tempos.

Alguns profissionais de diferentes setores do segmento da embalagem classificamnas em três tipos: •

Embalagem de venda ou embalagem primária: envoltório ou recipiente

que se encontra em contato direto com os produtos. Ex.: frasco ou blister de remédio, bisnaga de creme dental, garrafas de água, refrigerante etc. •

Embalagem grupada ou embalagem secundária: é a embalagem

destinada a conter a embalagem primária ou as embalagens primárias. Ex.: cartuchos de creme dental, caixas de remédios, caixas de chá. •

Embalagem de transporte ou embalagem terciária: utilizada para o

transporte, protege e facilita o armazenamento dos produtos, Ex: pallet.

No entanto, para Gurgel (2007, p. 05-06), existem 5 tipos de classificação para as embalagens: • Embalagem de contenção – Embalagem em contato direto com o produto e, portanto, que exige compatibilidade entre os componentes do produto, os materiais da embalagem e a atmosfera existente dentro dela. Pode também ser de apresentação, recebendo um rótulo ou impressão. • Embalagem de apresentação – Embalagem que envolve a embalagem de contenção, e com a qual o produto se apresenta ao consumidor no ponto-de-venda. Deverá receber uma decoração primorosa e expressiva.

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• Embalagem de comercialização – Embalagem que contém um múltiplo da embalagem de apresentação. Constitui a unidade para a extração de pedido e, por sua vez, é um submúltiplo da embalagem de movimentação. • Embalagem de movimentação – Múltiplo da embalagem de comercialização para ser movimentada racionalmente por equipamentos mecânicos. • Embalagem de transporte – Embalagem para agregar embalagens de comercialização de produtos diferentes, com o objetivo de compor e entregar um pedido ao cliente de forma racionalizada. A entrega de produtos diversos para um determinado cliente necessita de embalagem de transporte de modelos padronizados que possa acomodar de maneira racional embalagens de comercialização de produtos diferentes.

Segundo Moura e Banzato (1997, p. 53), “a embalagem de consumo, além de requisitos de proteção à qualidade do produto durante a vida de prateleira, deve apresentar características estéticas.”

A embalagem de consumo ou apresentação é a que recebe maior atenção durante seu desenvolvimento ao se tratar da parte estética, pois nela estará a representação dos desejos dos consumidores para a sua criação. Muitas empresas visualizam o design como principal requisito de uma embalagem e acabam se esquecendo dos outros processos com os quais ela interage, e isso é um erro grave.

Para Moura e Banzato (1997, p. 30), uma embalagem de apresentação deve ter características que a torne agradável ao consumidor, e ao mesmo tempo, seja capaz de satisfazer as exigências da produção.

2.4 Matérias-primas utilizadas Conforme foram surgindo alguns tipos de embalagens classificadas de acordo com sua função nos processos, com o decorrer dos anos também foram descobertos diversos tipos de materiais para a produção das mesmas. Eles eram utilizados conforme as características do produto ou os objetivos visuais que buscavam alcançar em seu uso. A escolha do tipo de embalagem baseia-se, fundamentalmente, no conhecimento do material que a constituirá, suas características e suas propriedades, levando-se em consideração as necessidades do produto, fabricação, distribuição física e cliente final. (MOURA; BANZATO, 1997, p.81)

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A embalagem final é o produto da ação de uma complexa cadeia produtiva que começa na matéria-prima com os fabricantes de vidro, papel, resinas plásticas, folhas de flandres, alumínio, madeira e tecidos industriais. A indústria de matéria-prima é composta em sua maioria por empresas de grande porte que exigem grandes investimentos e operam em sua escala de produção muito alta. (MESTRINER, 2002, p. 03)

Os principais materiais utilizados na produção de embalagens são: aço, alumínio, madeira, papel, plástico e vidro. Conforme mostra o gráfico a seguir, podemos observar que atualmente dentre os materiais mais utilizados na produção de embalagens estão o plástico e a celulose. Figura 3 - Gráfico sobre matérias-primas para a produção de embalagens: O gráfico faz um comparativo com relação às matérias-primas utilizadas na confecção de embalagens

Vidro 8%

Outros 3%

Metal* 26%

Celulose 34%

Plástico 29%

* Embalagens de aço e alumínio Fonte: ABRE – Associação Brasileira de Embalagens

A matéria-prima é encaminhada aos convertedores, que são as indústrias responsáveis pela transformação dos materiais em garrafas, frascos, potes, filmes, cartuchos, caixas, tampas, lacres e outros acessórios que fazem parte da indústria de embalagens, onde é reunido o maior número de empresas neste setor.

Além dos materiais descritos no gráfico, existem também outras matérias-primas que fazem parte da produção da embalagem, sendo responsáveis diretos pela comunicação visual da embalagem – as tintas e vernizes.

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2.5 O papel como substrato de embalagem O papel como forma de embalagem, surgiu devido à necessidade que existia em transportar os produtos dos locais de produção para os centros consumidores, mantendo-se estáveis por longos períodos de estocagem. As embalagens de papel e papelão atenderam a esses requisitos, pois podiam conter quantidades previamente pesadas de vários tipos de produtos, eram fáceis de estocar, transportar e empilhar, além de higiênicas. A grande indústria brasileira de papel de embalagem se formou em torno de três indústrias: a Melhoramentos, a Klabin e Suzano Feffer. No início do século XX, a novidade era expansão da Klabin Irmãos & Cia. [...] Em 1903, a sociedade arrendou a Fábrica de Papel Paulista de Vila de Salto de Itu. (CAVALCANTI; CHAGAS, 2006, p. 77)

Aqui

no

Brasil,

até

1945,

poucos

produtos

eram

comercializados

pré-

acondicionados. Quase todos eram comercializados a granel, pesados no balcão e embrulhados em papel tipo manilha ou embalados em sacos de papel. [...] Em fotografias antigas das ruas centrais das grandes cidades brasileiras, surpreende muitas vezes o número de pessoas carregando pacotes feitos com o tradicional papel de embrulho cor-de-rosa. (CAVALCANTI; CHAGAS, 2006, p. 79)

Depois do papel de embrulho, chegaram ao mercado os sacos de papel tipo Kraft multifoliados, que surgiram para atender a demanda no acondicionamento de cimento e produtos químicos. Em seguida vieram o papelcartão e o papelão para atender uma nova demanda do mercado. Cartões são papéis fabricados em múltiplas camadas, com gramaturas 2

superiores a 150 g/m . Em sua produção podem ser combinadas diversas matérias-primas principais, como, por exemplo, celulose, pastas, fibras recicladas e laminados plásticos ou metálicos, o que gera uma ampla variedade nos tipos produzidos e uma grande diversidade na maneira como pode ocorrer a utilização final. Sua aplicação mais comum é na fabricação de embalagens para bens de consumo imediato. (MATTOS; VALENÇA, 1995, p. 03)

É sabido que a embalagem é um elemento forte no processo de venda, e para que isto aconteça, é necessário que o material utilizado possua uma boa relação com o produto que será embalado. A utilização do papelcartão possui uma estreita ligação, principalmente, com o consumo de produtos alimentícios industrializados e de higiene e limpeza, onde a embalagem constitui um elemento fundamental no processo de venda. (MATTOS; VALENÇA, 1995, p. 03)

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Alguns fatores contribuíram para o grande consumo de embalagens em papelcartão aqui no Brasil, entre elas estão o crescimento das transações comerciais e as exigências dos consumidores quando o assunto são higiene e praticidade no transporte e acondicionamento dos produtos. Devido a estes fatores a produção de papel para embalagens cresce cada vez mais.

Segundo dados da BRACELPA – Associação Brasileira de Celulose e Papel – em 2009 foram produzidos 4.632.098t de papel de embalagem e 747.988t de papelcartão somando um total de 5.380.086t. Nos meses de janeiro e fevereiro de 2010 a produção ultrapassou a do ano de 2009 no mesmo período conforme mostra a tabela abaixo.

2009

Jan – Fev/09

Jan – Fev/10

Papel de Embalagem

4.632.098

749.189

786.507

Papelcartão Total

747.988 5.380.086

88.611 837.800

126.709 913.216

Tabela 1 - Comparativo da produção de papel de embalagem e papelcartão: a tabela faz uma comparação da produção de papel nos meses de Jan-Fev/09 e Jan-Fev/10 Fonte: BRACELPA

O setor de papelcartão é representado por diversas empresas que fabricam cartões de alta e de baixa qualidade, satisfazendo assim a necessidade de todas as empresas que buscam neste produto as funções necessárias para desenvolver suas embalagens. Outro fator que varia de acordo com a matéria-prima e o processo utilizado são as diferentes categorias de cartões que existem. Os cartões da categoria I, fabricados totalmente com celulose branqueada, são os mais nobres. As categorias seguintes, que têm preços mais reduzidos, correspondem aos cartões triplex (categoria II), fabricados em três camadas e com as faces externas de celulose branqueada, e aos cartões duplex (categorias III e IV), onde apenas uma das faces recebe celulose branqueada. (MATTOS; VALENÇA, 1999, p. 10)

O uso do papelcartão e do papelão na produção de embalagens tem se tornado cada vez mais comum, devido à facilidade e possibilidade de desenvolver peças nos mais diversos modelos. Segundo a ABRE, as embalagens de papel e papelão

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podem se moldadas em vários formatos, são relativamente leves e ocupam pouco espaço de armazenamento. Dentre os materiais de embalagem, o papel é um dos mais econômicos e versáteis; seu baixo custo, baixo peso e facilidade de processamento, fazem dele o mais utilizado na moderna indústria de embalagem. Além das características já citadas, podemos afirmar que é uma matéria-prima 100% reciclável e seu uso atinge muitos setores.

Conforme Mattos e Valença (1999, p. 13), no consumo de embalagens de cartões estima-se que 22% destinem-se ao segmento de alimentos, 36% aos produtos de higiene e limpeza, 20% aos produtos farmacêuticos e cosméticos e 22% a diversos outros segmentos.

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3 DESIGN Este capítulo introduz-se com a apresentação do conceito sobre design, procurando entendê-lo e compreendê-lo melhor. Faz-se uma breve apresentação sobre o que é e o que não é design, destacando-se a interação com o consumidor. Conclui-se o capítulo descrevendo a importância do design, conceituando-o e relacionando-o com uma de suas expressões - a embalagem.

O design não é apenas estilo, é projeto, transmite qualidade, funcionalidade e melhora as margens de lucro das indústrias. O bom design deve ser esteticamente atraente, seguro e agradável ao toque e ao uso, imediatamente compreensível e fácil de operar, fácil de instalar, manusear, guardar, limpar e manter e, por fim, de fabricação fácil e econômica.

O investimento em design sempre foi crítico para alguns tipos de indústrias, como moda e mobiliário. No entanto, cada vez mais, há a preocupação de utilizar o design como

estratégia,

uma

maneira

de

expressar

a

identidade

da

empresa,

estabelecendo seus produtos coerentemente com o que deles se espera.

3.1 Definição O design nasceu em 1919 quando Walter Gropius fundou a Bauhaus, em Weimar. Era uma escola onde somente os métodos técnicos da realização artística eram ensinados; e não a arte. Segundo Gropius, antes da fundação da Bauhaus, foi dada a função da arte uma importância formal que a separava da existência do dia a dia, ao passo que, pelo contrário, a arte estava sempre presente, quando um povo vive sincera e samente.

Por esse motivo criou-se um novo sistema de educação que conduzia, através de um novo ensino especializado de ciência técnica, ao conhecimento das necessidades humanas e a uma percepção universal. A intenção da Bauhaus era formar um novo tipo de artista criador, capaz de compreender qualquer espécie de necessidade: não por que seja um prodígio, mas porque é capaz de abordar as necessidades humanas segundo um método exato.

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As palavras de Gropius continuam a ser válidas; o programa dessa primeira escola de design procurava formar um novo tipo de artista: um artista útil à sociedade, a fim de que esta sociedade volte a encontrar o seu equilíbrio e não haja um mundo falso onde viver materialmente e um mundo ideal de refúgio moral. . (MUNARI, 1987, p. 19)

O estudo do design sempre esteve ligado a outras áreas do conhecimento como a psicologia, teoria da arte, comunicação, ciência da cognição, entre muitas outras. No entanto o design possui um conhecimento próprio que se desenvolveu através da sua história, mas tem se tornado mais evidente nos últimos anos.

O designer Bruno Munari, no final dos anos de 1980, relacionava tanto a arte quanto o design como ofícios. Acreditava que o design deveria ser remetido à idéia de arte, onde o designer restabelecia o contato entre a arte e o público, entre a arte viva, e o seu destinatário / observador / usuário. Uma arte integrada à vida, rompendo com a separação de coisas belas para admirar (por exemplo: uma pintura) e coisas feias (por exemplo: um eletrodoméstico) para utilizar. [...] Mas o método de trabalho do designer é diferente. Este dá exata importância a qualquer componente do objeto a projetar e sabe que a forma definitiva do objeto projetado adquire um valor psicológico determinante no momento da decisão de aquisição por parte do comprador. Por isso procura dar ao projeto a forma mais coerente com as suas funções, forma essa que, atrevo-me a dizê-lo, nasce quase espontaneamente, sugerida pela função, pelo aspecto mecânico (quando existe), pelo material mais adequado, pelas técnicas de produção mais modernas, pela análise de custos e por outros fatores de caráter psicológico e estético. (MUNARI, 1987, p. 22)

Podemos perceber que para Munari a arte e a estética são importantes e devem estar presentes nos objetos e produtos de design. Não é a arte destinada à contemplação pura, à fruição estética e sim a arte para o cotidiano, para o uso nos atos da vida, onde produtos são desenvolvidos com finalidades específicas e geram prazer na utilização, povoando o nosso universo material, distantes e além do supérfluo (que Munari denomina de acaso ou capricho). Anteriormente relacionava-se em termos de arte pura e arte aplicada, e por isso as máquinas de costuram eram feitas por engenheiros e decoradas a ouro e madrepérola por um artista. Hoje esta distinção entre arte pura e arte aplicada, entre arte maior e menor desapareceu, a definição de arte que ultimamente suscitou tanta confusão e embaraços vai perdendo o seu prestígio e a arte volta a ser um ofício, uma simples profissão, como noutros tempos, quando o artista era chamado pela sociedade para realizar comunicações visuais ( a que hoje chamam frescos), pata informar o povo de determinados acontecimentos religiosos. (MUNARI, 1987, p. 23)

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Ele conclui dizendo que “o designer gráfico, nos dias de hoje é chamado pela sociedade para fazer uma comunicação visual, um anúncio, para informar o público (consumidor) do aparecimento de uma novidade em um determinado setor” (MUNARI, 1987, p.23).

Partindo deste princípio, o designer é também um artista, artista do nosso tempo, pois deve enfrentar e resolver as necessidades e exigências da sociedade com humildade e competência. Isto é possível quando o designer conhece o seu ofício, as técnicas e os meios mais adequados para resolver qualquer problema de design com total independência de qualquer preconceito estilístico. Hoje o designer estabelece um contato, há muito perdido, entre a arte e o público, entre a arte, no sentido de algo de vivo, e o seu destinatário. Não há quadro para decorar a parede do salão, mas o eletrodoméstico destinado à cozinha. Não há lugar para uma arte separada da vida, com coisas belas para admirar e coisa feias para utilizar. Se o que atualmente usamos tiver sido feito com arte (e não ao acaso ou por capricho), nada teremos para esconder. (MUNARI, 1987, p. 17)

Portanto, o designer é o profissional capaz de encontrar as soluções para os problemas estéticos coletivos e o usuário quando utiliza um objeto ou um produto projetado por um verdadeiro designer tem consciência da presença de um artista que trabalhou para ele, melhorando as condições da vida humana e favorecendo a relação com o mundo da estética.

3.2 Gestão do design A gestão do design é definida por diversos autores de modo muitas das vezes incongruentes. Gorb a considera como o emprego efetivo dos recursos de design disponíveis numa organização de acordo com os seus objetivos estratégicos. É importante ressaltar aqui que a gestão do design não deve ser interpretada de forma restrita como a gestão do desenvolvimento de um produto, o planejamento e a execução de um processo de design ou a gestão da identidade visual de uma empresa.

Apesar de todas estas atividades fazerem parte da gestão do design, deve-se lembrar dos dois termos chaves destacados da definição apresentada acima. O

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primeiro termo, recursos de design, implica literalmente no uso de todos os recursos de design que uma organização possa se apropriar. Porém estes recursos não podem ser utilizados de forma aleatória e desconexa. Devem ser integrados e canalizados para um propósito claro e definido, o que nos leva ao segundo termo chave: os objetivos estratégicos. Fica evidente, portanto, o posicionamento da Gestão do Design em relação às estratégias corporativas de uma organização.

Dentro de uma estrutura organizacional, Gorb (1990, p. 03) agrupa os recursos de design em quatro grandes áreas: (1) design do produto; (2) design do ambiente; (3) design da informação (ou da comunicação); e (4) design da identidade corporativa. A gestão do design utiliza-se destes recursos para atingir os objetivos estratégicos delineados pela alta gerência da empresa.

De forma resumida, as quatro áreas apresentadas acima descrevem as zonas de influência do design dentro de uma organização. Para facilitar a compreensão deste ponto, segue uma breve explicação sobre cada área: •

Design do produto. Abrange todas as variáveis que influenciam na

agregação de valor ao produto e, conseqüentemente, no aumento de sua competitividade. •

Design do ambiente. Corresponde a extensão física da marca e da

imagem de uma empresa manifestada em seus ambientes. •

Design da informação (ou da comunicação). Compreende o design de

todas as formas de comunicação de uma empresa ou marca com o seu público alvo. •

Design da identidade corporativa. Refere-se à criação da uma imagem

que transmita a cultura, os objetivos e os valores corporativos num nível estratégico e direcionado para a sua audiência. A identidade corporativa deve ser construída em torno de uma idéia ou conceito central e refletir em todos os outros recursos de design da organização.

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Ao desenvolver uma peça de design, o designer deve se preocupar com inúmeros fatores que estarão ligados diretamente ao produto/projeto final. Forma, matériaprima, ergonomia, segurança, confiabilidade, serviço, estética, instruções de uso, embalagem, facilidade de transporte, imagem corporativa, matérias de apoio, custo, satisfação do usuário e o lucro do fabricante.

Além dos fatores citados, existe também a relação com o consumidor, o público alvo. Sempre que algo é projetado, é destinado a um consumidor específico e o designer busca atender as necessidades, desejos, caprichos, anseios desse consumidor, seguindo as informações que lhe são passados.

Existe uma diferença grande entre peças desenvolvidas exclusivamente para certos nichos de consumidores, diferenças entre o público adulto, jovem e infantil; entre o sexo masculino e feminino, e também entre as classes sociais. Estas diferenças são significantes para o desenvolvimento de um projeto e se ele não estiver ao alcance do seu público alvo não será aceito. Quando o projeto busca atingir tanto o sexo masculino quanto o feminino, é necessário definir que tipo de design agrada a maioria dos consumidores.

Moss (1995, p. 51-61) apresenta evidências de que as preferências estéticas entre homens e mulheres são diferentes. Seu estudo principiou com o levantamento das diversas pesquisas realizadas a respeito da forma que pessoas de sexo feminino e masculino desenham. Os resultados obtidos foram sintetizados na tabela a seguir: HOMENS

MULHERES

Linhas verticais

Forma

Temática

Linhas e estruturas arredondadas Ângulos Linhas curvas Tendem a expandir-se para além da Tendem a deixar a área de área de estímulo, possuindo estímulo aberta elaborando estruturas construídas para cima seus desenhos desta área. Dominância da forma Objetos auto-propelentes, como veículos e navios, objetos de tecnologia e máquinas.

Desenham homens Uso da palavra impressa Tabela 2 - Principais diferenças em desenhos de homens e mulheres Fonte: MOSS (1995:53) - Adaptado

Dominância da cor Objetos estáticos ou relativos à vida como flores, animais. Desenham mulheres

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Referente ao design, o resultado da pesquisa acompanhou o obtido nos estudos anteriores citados acima. O projeto feminino foi considerado mais colorido, arredondado e menos técnico do que o masculino. A seqüência do estudo mostra que mulheres tendem a preferir embalagens desenhadas por mulheres, o mesmo ocorrendo com os homens. Isso tem importante correlação com o desenvolvimento das embalagens e seu público-alvo.

Uma das maneiras de se medir o impacto do design, é listando quatro tipos de informações oriundas do ser humano. •

Comportamento: O que o consumidor faz.



Percepção: lida com as imagens mentais das pessoas com relação a

como o produto parece, funciona, etc.. •

Performance: O que uma pessoa pensa sobre como um produto deve

parecer ou funcionar pode dar uma boa indicação de como ele realmente funciona. •

Emoção: refere-se à resposta instintiva que uma pessoa tem pelo produto

(gut response no original). Pelo que foi visto, a Gestão do Design é uma atividade que busca integrar todo o potencial de design existente dentro de uma organização. No meio desta trama de disciplinas, recursos e conhecimentos específicos, encontra-se o design de embalagens.

Além da relação óbvia e direta com o produto, a embalagem também faz parte da comunicação e transporta consigo elementos da identidade corporativa da organização. Sendo assim, a embalagem também deve ser considerada um recurso de design e, devido a sua relação particular com os outros quatro recursos circundados por Gorb, também deve ocupar um papel central na pauta da Gestão do Design.

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3.3 O design de embalagem Devido à competição cada vez maior no ponto de venda, a embalagem tem como missão fazer mais por seu produto. Ela deve atrair, senão seduzir o consumidor, persuadindo-o

a

comprar

determinado

produto,

incluindo

aqui

motivações

emocionais que o designer traduz em termos de cores, imagens e material da embalagem. Desenhar embalagens que realmente contribuam para o sucesso do produto na competição de mercado não é uma tarefa fácil. A embalagem é um importante componente da atividade econômica dos países industrializados, em que o consumo deste item é utilizado como um dos parâmetros para aferir o nível de atividade da economia (MESTRINER 2002, p. 03).

Segundo Moura e Banzato (1997, p. 53), existem 5 critérios básicos que devem ser considerados no planejamento e desenvolvimento de uma embalagem: função, proteção, aparência, custo e disponibilidade, sendo que estes devem ser avaliados juntamente com os aspectos do produto e requisitos de marketing, pois cada produto apresenta seus aspectos específicos inerentes, que exigem estudos isolados.

Fabio Mestriner (2002, p. 10) explica que a compreensão da linguagem visual da categoria a qual o produto pertence, é um fator decisivo no design de embalagem. [...] A linguagem visual da embalagem constitui um vocabulário que os designers precisam conhecer para poder e comunicar com os consumidores. Esse é o principal diferencial do design de embalagem em relação às outras linguagens do design; existe um repertório exclusivo, construído ao longo dos séculos com a evolução do comércio e o desenvolvimento da sociedade de consumo, que dotou os produtos de uma roupagem que permite a identificação de seu conteúdo e facilita o processo de compra. (MESTRINER, 2002, p. 10)

[...] design de embalagem é o ato de percorrer o trajeto estabelecido pela metodologia de projeto atendendo às peculiaridades que a embalagem tem em relação aos demais produtos industriais. (MESTRINER, 2002, p. 10)

Assim sendo, podemos afirmar que na atualidade o design de embalagem tornou-se uma atividade complexa, que envolve além do design e da comunicação visual, o marketing, o consumidor, a indústria e cadeia de distribuição dos produtos.

A embalagem “fala” e, portanto, é necessário um ponto de harmonia com as emoções e convicções do ser humano. Como um espelho do consumidor, a

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embalagem deve ter identidade com o produto. A embalagem deve penetrar no âmago do consumidor sem deixar de trabalhar seu lado racional. Deve transmitir as características do produto atribuindo-lhe qualidades e benefícios. O objetivo dos produtos de consumo é conquistar a preferência dos consumidores e, para conseguir isto, precisam vencer na competição direta seus concorrentes nos pontos-de-venda. Conduzir um produto na ponta da competição de mercado é um atarefa que hoje em dia exige o trabalho de profissionais especializados em uma série de disciplinas agrupadas em torno do marketing. (MESTRINER, 2002, p. 24)

Mestriner completa dizendo que além de entender de desenhos, linguagem visual, ergonomia e tecnologia básica da embalagem, o designer também precisa conhecer o marketing, pois é para ele que o design de embalagem trabalha.

Dentro da gestão do design pode-se articular um planejamento estratégico para o desenvolvimento de embalagens. Ele deve contemplar a interação da embalagem com os demais recursos mencionados anteriormente e deve visar um resultado que reforce o potencial de design e a imagem da empresa como um todo. A embalagem que encontramos no comércio é fruto de uma complexa cadeia produtiva e envolve atividades pós-industriais, como logística, distribuição, design, marketing, comportamento do consumidor, pesquisas, ações promocionais e de ponto-de-venda. Todas essas atividades são canalizadas para um único objetivo: disponibilizar os produtos aos consumidores de forma competitiva. (MESTRINER, 2002, 31)

O design de embalagem é uma atividade multidisciplinar fundamentada no desenho industrial e na comunicação gráfica para conceber estrutural e visualmente produto/embalagem. Seu desenvolvimento também se baseia em conhecimentos técnicos intrínsecos a materiais e processos de impressão e produção em conceitos de marketing, já que o design de um produto precisa responder a objetivos mercadológicos. (OLIVEIRA, 2009, p.55)

De acordo com o que vimos até o momento, percebemos que existem seis áreas voltadas para o desenvolvimento de embalagens. Podemos observar que todas elas são independentes e interligadas e por isso devem ser trabalhadas de maneira integrada para que haja o surgimento de melhores soluções e resultados. Cada área possui um foco principal, porém observa-se que muitas das questões presentes em uma área também podem se relacionar com outras.

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Segundo Fabio Mestriner, “a importância do bom design está no fato de ele agregar valor cumulativo a cada uma das etapas do processo, resultando ao final uma embalagem que eleva o trabalho de todos envolvidos. (2002, p.31)

Ele conclui dizendo que é importante destacar esse ponto, pois é considerado um ponto-chave para o entendimento do valor e da importância do bom design tanto para as empresas que produzem as embalagens quanto para as embaladoras do produto de consumo. O bom design de embalagem é aquele que responde positivamente aos fatores críticos, como proteção, armazenagem e transporte, favorece a fabricação da embalagem pela indústria seu desempenho na linha de envase do embalador e comunica corretamente os atributos diferenciados do produto, chamando a atenção do consumidor e despertando o desejo de compra. (MESTRINER, 2002, 31)

Vale ressaltar aqui que, independente do foco de cada setor, deve-se considerar o consumidor como destinatário final de todo o processo de desenvolvimento de embalagens. Portanto, cabe ao designer o direcionamento destes focos de modo a agregar valor e contribuir para o incremento das expectativas de uso do conjunto produto / embalagem.

Figura 4 - Áreas de competência da gestão do design no desenvolvimento de embalagens: A figura ilustra um mapa estrutural para a articulação do processo de desenvolvimento de embalagens.

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Tendo como referência a figura acima, segue uma breve explicação sobre cada área de competência da gestão do design no desenvolvimento de embalagens. •

Embalagem / produto – Focaliza diretamente as questões relacionadas

ao conjunto produto mais embalagem. Aqui são relevados os aspectos ergonômicos e de uso, bem como os fatores de compatibilidade da embalagem com o produto acondicionado. •

Embalagem / ponto de venda – Diz respeito à forma como a embalagem

expõe o produto no ponto de venda. Deve-se considerar a apresentação da embalagem em diversos ambientes de venda, sejam estes físicos ou virtuais. •

Embalagem / comunicação – Dentro de um contexto ampliado a

comunicação da embalagem abrange desde os aspectos gráficos e informativos até a forma e o material. Deve-se pensar que esta comunicação é global e que não diz respeito apenas aos aspectos visuais. Por exemplo, o emprego de um material ecologicamente correto comunica que a empresa respeita o meio ambiente. •

Embalagem / identidade corporativa – Juntamente com as três áreas

anteriores, esta reforça a marca da empresa solidificando sua imagem. A embalagem funciona como um veículo de disseminação da identidade corporativa, traduzindo os valores desta de forma simples e direta para o seu público. •

Embalagem / indústria – Aqui a gestão do design funciona como uma

ponte entre as demais áreas envolvidas no desenvolvimento de embalagens. Aspectos logísticos, materiais, processos, mercado e tecnologia, são apenas alguns dos fatores que podem ser equalizados através do foco multidisciplinar da gestão do design em busca de soluções eficientes e inovadoras. •

Embalagem / meio ambiente – As questões relacionadas ao meio

ambiente permeiam todas as áreas descritas acima. Porém, devido a sua importância e a sua relevância dentro do conceito de desenvolvimento

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sustentável, esta área merece um destaque especial. Esta interação deve ser visualizada durante todo o ciclo de vida do conjunto produto/embalagem. Entre outros fatores, deve-se considerar o gasto energético envolvido no processo de produção da embalagem, bem como o desperdício do produto resultante do uso inadequado.

Ficou claro que as áreas acima funcionam como um mapa estrutural para a articulação do processo de desenvolvimento de embalagens. Devido ao seu perfil multidisciplinar e orientado para os objetivos estratégicos da organização, a gestão do design possui um papel singular e central neste processo.

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4 A EMBALAGEM E O MEIO AMBIENTE “Todas as embalagens causam impacto no meio ambiente ao serem produzidas, utilizadas e descartadas, mas é possível sempre prevenir esses impactos e, quando inevitáveis, minimizá-los.” (CAMILO, 2009, p. 152)

É muito comum o uso do termo “impacto ambiental” para indicar uma floresta derrubada, um solo contaminado, um veículo emitindo fumaça, etc. Ocorre que o termo impacto ambiental não é adequado a todas estas situações. Antes de iniciarse qualquer discussão é importante que se apresentem alguns conceitos. •

Aspecto ambiental: elemento das atividades, produtos ou serviços de

uma organização, que podem interagir com o meio ambiente. Aspecto ambiental significativo é aquele que tem ou pode ter impacto ambiental significativo (ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – 1996); •

Impacto ambiental: qualquer modificação no meio ambiente, adversa ou

benéfica, que resulte no todo ou em parte das atividades, produtos ou serviços de uma organização (ABNT – 1996).

Embora o design de embalagens seja fortemente orientado por questões mercadológicas e econômicas, os fatores ambientais vêm sendo abordados de modo mais enfático, pois uma das primeiras evidências é relativa ao rápido descarte das embalagens de comercialização, gerando excessivos acúmulos de resíduo pósconsumo.

Conforme Brody e Marsh (1997, apud SAMPAIO, 2008, p. 25), as embalagens são responsáveis por cerca de 70% do volume global de resíduos. Para Mestriner “[...] depois de utilizada, a embalagem transforma-se em um componente do lixo urbano”. (2002, p. 09)

Segundo Enviros, a redução de resíduos decorrentes das embalagens oferece vantagens

para

o

desenvolvimento

sustentável

ao

promover

mudanças

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ambientalmente vantajosas, tanto na produção quando nos modelos de consumo, favorecendo particularmente: (2003, apud SAMPAIO, 2008, p. 80) •

Redução da demanda por recursos naturais finitos originados da extração

e retirada, que muitas vezes não são percebidos; •

Redução

dos

impactos

de

transporte

que

são

freqüentemente

significativos na saúde geral e na avaliação dos impactos ambientais; •

Redução no custo de gerenciamento de resíduos, liberando recursos para

outras prioridades de investimentos, como tecnologias limpas, educação pública e cuidados com a saúde. •

Uso eficiente de recursos pelas indústrias e comércio é importante para as

autoridades locais, pois o resíduo de empresas é coletado com freqüência como parte do resíduo municipal; •

As práticas comerciais e industriais afetam bens de consumo e

embalagens que formam parte do resíduo municipal;

De acordo com Enviros, na Europa, a Diretiva de Embalagens e Resíduos de Embalagens (diretiva 94/62/EC) provocou grandes mudanças tanto na questão design quanto na gestão de embalagens nas empresas. Para isso, a diretiva adicionou aspectos de gestão de resíduos e os Requerimentos Essências de Design, que forma um documento específico contendo diretrizes, normas e sugestões para profissionais de desenvolvimento de embalagens. (2003, apud SAMPAIO, 2008, p. 81)

O impacto ambiental causado por alguns produtos – e por suas embalagens – não pode ser combatido apenas como o uso de materiais menos impactantes, que é a estratégia mais utilizada no meio industrial. São necessárias estratégias mais avançadas que permitam a desmaterialização no consumo destes produtos. Assim sendo, o uso de serviços associados às embalagens é uma das alternativas que tem se mostrado ambiental e economicamente viáveis. Apesar das iniciativas existentes em torno da reciclagem dos materiais, projetar embalagens sustentáveis em termos ambientais tem sido uma preocupação corrente.

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Grande parte dos profissionais do setor de embalagens valoriza a escolha dos materiais paras as embalagens dos seus produtos, esquecendo-se que, muitas vezes, a escolha do material não é o mais importante. É fundamental a análise do ciclo de vida completo. É preciso considerar inúmeros fatores: a energia e a água gasta para produzir uma matériaprima; vitrificar o custo logístico; a real viabilidade da reciclagem proposta; se a opção garante a barreira shelf life (vida de prateleira) que o produto pede; todas as perdas dos processos. (CAMILO, 2009, p. 152)

Para Paulo César Sales, do ponto de vista ambiental a embalagem ideal seria aquela que consumisse poucos recursos para ser produzida, que pudesse ser reutilizada muitas vezes antes de ser reciclada e virar matéria-prima para outros bens. Com objetivo de minimizar os impactos ao Meio Ambiente devemos atuar no sentido de buscar soluções que otimizem os processos e desenhos das embalagens e, possibilitem: • Aumento de quantidade de produto por m² de embalagem utilizada ou movimentada; • Redução da quantidade de material de embalagem consumido para envasar e transportar os mesmos produtos; • Praticidade e Segurança nos Sistemas de Logística e Distribuição, com conseqüente aumento de Produtividade; • Maior Produtividade = Menor impacto para o Meio Ambiente. (SALES, 2010)

Assim sendo, conclui-se que para um projeto de embalagem ser bem desenvolvido, deve possibilitar uma melhor performance nos sistemas de produção, logística e vendas e também agregar valor para o consumidor final. Além de cumprir a missão de entregar o produto com a qualidade garantida ao consumidor, a embalagem deve ser facilmente reciclável.

4.1 Ecodesign O conceito de ecodesign surgiu em meados dos anos 90, nos Estados Unidos, com as indústrias de eletroeletrônicos preocupadas em criar produtos que causassem menos agressão ao meio ambiente.

Segundo Fiskel (1996, p. 96), o ecodesign pode ser definido como um conjunto de práticas de projeto que contempla os aspectos ambientais em todos os processos, reduzindo o impacto ambiental.

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Seu conceito sugere uma importante ligação entre a eficiência dos recursos, gerando produtividade, lucro sem deixar de lado a responsabilidade ambiental. Criando assim um sentido de melhoria econômica para as empresas, pois ao usarem os recursos de forma coerente elas podem reduzir seus custos e serem mais competitivas.

Alfredo Oliveira relaciona uma série de designações similares para definir ecodesign: •

Design verde;



Design de produção limpa;



Eco eficiência;



Design para o ambiente;



Design ambiental.

Ele sugere que design verde é um processo, no qual, os atributos ambientais são tratados como objetivos do design e não apenas recomendações. Ecodesign é a abordagem conceitual e processual da produção que requer que todas as fases do ciclo de vida de um produto ou de um processo devem ser orientadas para o objetivo de prevenção ou minimização de riscos, de curto ou longo prazo, à saúde humana e ao meio ambiente. (OLIVEIRA apud RÉGIS, 2004, p.10)

Existe uma variedade de práticas associadas ao projeto de eco eficiência e que podem ser aplicadas às embalagens e seu processo de fabricação: •

Substituição de materiais;



Diminuição de tamanhos das embalagens;



Redução no peso e espessura dos materiais empregados;



Atenção na escolha das tintas, vernizes e colas;



Redução de diferentes plásticos em uma mesma embalagem;



Extensão da vida útil do produto;



Redução do uso de substâncias tóxicas;



Reciclagem e/ou reutilização da embalagem;

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4.2 Ecodesign x design sustentável Muitos autores utilizam o termo “design sustentável” ou “produção sustentável” referindo-se ao ecodesign. Como já vimos o ecodesign diz respeito ao ato de projetar produtos com a preocupação voltada ao meio ambiente em todo seu ciclo de vida, evitando ou diminuindo a agressão aos ecossistemas.

O design sustentável é aquele que garante às gerações seguintes os recursos para a sua produção, mas que, para isso, não precisa ser necessariamente ecológico. O conceito de sustentabilidade ambiental refere-se às condições sistêmicas segundo as quais, em nível regional e planetário, as atividades humanas não devem interferir nos ciclos naturais em que se baseiam tudo o que a resiliência do planeta permite, e ao mesmo tempo, não devem empobrecer seu capital natural, que será transmitido às gerações futuras. (MANZINI; VEZZOLI, 2005, p. 27)

Podemos entender com a citação acima que os recursos naturais existentes atualmente devem ser preservados para que mais tarde haja condições de vida no nosso planeta, o homem não deve degradar o ambiente, pois depende dele para viver.

Para Almeida (2002), todos os organismos pertencentes a um ecossistema, os seres humanos e suas empresas têm algo em comum: produzem detritos. Entretanto, nos ecossistemas o que é detrito para uma espécie é alimento para outra, assim a natureza está sempre reciclando. É o que buscam as empresas que se almejam sustentáveis: estabelecer sistemas de produção cujo objetivo final é gerar zero resíduo.

“[...] Emissão zero é uma aproximação da produção limpa pela redução máxima do conjunto de outputs e a venda das emissões restantes a outras empresas como matérias secundárias.” (KAZANIAN, 2005, p. 52). Ou seja, um completo aproveitamento.

Está cada vez mais claro que administradores, acionistas e fabricantes começaram a perceber que o requisito básico para a própria sobrevivência nos negócios é a inclusão da dimensão social em suas decisões de investimento.

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Segundo Almeida (2002, p. 118), “Menos poluição = melhor imagem = melhor relacionamento com órgãos ambientais, imprensa e comunidade = acesso fácil a linhas de crédito = captação de melhores cérebros = maior competitividade.”

4.3 O papel sustentável Como o tema desse projeto de pesquisa é sobre “Como Desenvolver Uma Embalagem de Papelcartão Ecologicamente Correta”, não devemos esquecer que sua composição é de 100% derivada da celulose, ou seja, uma matéria-prima adquirida através da extração da madeira.

A produção da madeira utilizada na fabricação do papel vem de florestas replantadas, ou seja, é uma idéia ingênua e equivocada associar a produção do papel à destruição das florestas.

Segundo dados da ABIGRAF – Associação Brasileira da Indústria Gráfica – e de outras entidades do setor, 100% do papel utilizado para impressão no Brasil provém de áreas de reflorestamento, além da reciclagem que agora é um fato.

Lucina Porfirio, editora assistente da revista Publish, especializada em design gráfico e tecnologia gráfica, publicou em 2009 uma matéria sobre a produção do papel e se ele é realmente considerado um vilão para o meio ambiente. O que pouca gente sabe é que no Brasil todo o papel virgem é originário de áreas de reflorestamento, ou seja, de árvores plantadas somente para esse fim, em terras originalmente degradadas por madeireiras e pecuária, esta última verdadeira vilã. (PORFIRIO, 2009, p. 08)

No setor de celulose temos o selo da FSC – Forest Syewadship Council – Conselho de Manejo Florestal – que é reconhecido no mundo todo, com presença em mais de 75 países e todos os continentes. É uma organização independente, sem fins lucrativos, estabelecida para promover o gerenciamento responsável das florestas no mundo.

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A certificação florestal deve garantir que a madeira utilizada em determinado produto é oriunda de um processo produtivo manejado de forma ecologicamente adequada, socialmente justa e economicamente viável.

Figura 5 - Selo Forest Stewardship Council – Conselho de Manejo Florestal Fonte: site FSC

Segundo o agrônomo Nelson Barbosa Leite, sócio-fundador da Teca Consultoria e Empreendimentos Florestais, é impossível fazer papel com árvores de floresta nativa. Ele conclui dizendo que para se produzir grandes volumes de celulose, é necessário que a qualidade da matéria-prima seja aliada ao preço e esse resultado só é obtido por meio de florestas plantadas e renováveis de eucalipto e pínus.

O gerente geral de sustentabilidade da VCP – Votorantin Celulose e Papel, Umberto Cinque, explica que o cultivo do eucalipto é feito em harmonia com o meio ambiente e que isso permite manter grandes áreas de floresta nativa. O ciclo de seu cultivo é em média sete anos. Segundo ele, esse fato responde o questionamento de que o eucalipto seca a terra, pois a preservação já existe há décadas.

Outro especialista, o gerente geral de negócios de papel para impressão e conversão da IP – International Paper, Antônio Gimenez, em entrevista para Luciana Porfírio afirma que se o eucalipto realmente estragasse o solo não seria possível seu replantio no mesmo local. Ele conclui dizendo que: A IP tem 50 anos de plantio na mesma terra e cada vez elas se tornam mais produtivas. Esse mito surgiu pela plantação sem manjo responsável, o que não é o caso das fabricantes de papel. (PORFIRIO, 2009, p. 09)

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O papel não sofre preconceito apenas por causa do desmatamento. Muitas pessoas acreditam que a poluição do ar e da água também é por culpa das fábricas. No entanto, as empresas afirmam que cada vez mais estão investindo em novas tecnologias para melhorar o processo produtivo e diminuir o impacto ambiental.

Segundo Antônio Gimenez, a IP investiu recentemente 129 milhões de dólares em uma chaminé para tratar os resíduos gasosos na sua fábrica de Mogi Guaçu. A empresa também possui uma fábrica em Luiz Antônio, ambas no estado de São Paulo.

Os fabricantes de papel possuem relatórios de emissão de carbono, certificados por empresas independentes. Em um de seus relatórios realizado em 2009, a VCP diz que a quantidade de carbono recolhido por suas florestas de eucalipto é maior do que o carbono gerado durante a fabricação do papel.

Outra grande fabricante de papel, a Suzano Papel e Celulose, também realizou uma pesquisa

semelhante.

Segundo

Luiz

Cornacchioni,

gerente

de

relações

internacionais, as florestas plantadas pela empresa capturam 3,8 vezes mais carbono do que as fábricas emitem no processo produtivo.

A Suzano possui uma área florestal que atinge 525 mil hectares localizados nos estados de São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Maranhão e Espírito Santo. Em 2008 foram plantados 48 mil hectares de área, cerca de 654 milhões de mudas.

A indústria de celulose e papel é tradicionalmente a maior consumidora de água fresca dentre as indústrias químicas, (ela e utilizada desde a criação de mudas de eucalipto até o processo industrial), operando com um consumo acima de 70m³/ton. de celulose produzida. Este considerável volume reforça a importância da avaliação de alternativas para a redução do consumo de água no processo, o que representaria um ganho ambiental, com redução da produção de efluentes e da captação de água fresca e também uma redução do consumo de energia.

Com relação à água utilizada pelos fabricantes de papel, cerca de 95% dela volta para os mananciais após tratamento biológico e decantação. Nas fábricas existem

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pontos de reciclagem onde a água é reutilizada. José Antônio Viana, gerente da unidade de papéis do Grupo Bignardi, explica que a maior parte da água usada por eles é reutilizada para o processo de fabricação do papel.

Tendo consciência dessa relevância, o setor tem trabalhado firme nos últimos anos para reduzir suas taxas de consumo, tanto nas novas fábricas atualmente em construção quanto nas unidades com mais de 20 anos, que precisam se adaptar aos atuais níveis de utilização de água - agora bem menores mesmo em países com abundantes recursos hídricos, como o Brasil.

Um caso que ganhou notoriedade nacional foi o da fabricante de celulose branqueada Lwarcel, que conquistou o 3º Prêmio FIESP 1 de Conservação e Reuso da Água 2008 2 . Instalada na cidade de Lençóis Paulista (SP), a fábrica, distante de qualquer outra fonte de água, até hoje depende de captação de lençóis subterrâneos e poços semi-artesianos. Pedro Stefanini, gerente industrial da Lwarcel Celulose afirma que: A dificuldade se transformou em conceito, a ponto de hoje a empresa apresentar um dos menores consumos específicos de água do setor no Brasil e, provavelmente, um dos menores do mundo. (FALEIROS, 2009, p. 27)

Os números da empresa mostram essa evolução: a companhia passou de um consumo específico de 44m³/tsa em 2004 para 23m³/tsa em 2007, após implantar sete projetos em seu processo de fabricação. No enfoque tecnológico, a Lwarcel buscou alternativa elencando as melhores práticas disponíveis no mundo. Um exemplo foi o investimento na linha de fibras, que substituiu a tecnologia de filtros lavadores por lavadores tipo DD Washing, da Andritz, explica Stefanini.

Já na IP de Mogi Guaçu (SP), os desafios de consumo foram se apresentando ao longo do tempo. Quando a fábrica foi construída, em 1960, à beira da bacia do Mogi Guaçu, o rio tinha muito mais vazão e havia uma folga considerável para a utilização do recurso. Com o desenvolvimento da região, o aumento da densidade

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FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo O Prêmio FIESP de Conservação e Reuso de Água objetiva conhecer, difundir e homenagear, anualmente, empresas que utilizam boas práticas na promoção do uso eficiente de água, com medidas efetivas na redução do consumo e do desperdício de água, gerando benefícios ambientais, econômicos e sociais. 2

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populacional e a maior necessidade de água para irrigar fazendas, a empresa notou que o nível do afluente passou a ficar muito baixo em certas épocas. Desde então, sentiu-se a necessidade de reduzir as dependências do recurso, aponta Wanderlei Peron, especialista ambiental da IP.

De acordo com ele, a empresa trabalhou bastante nesse ponto a partir de 2000, e agora passa por uma fase de monitoramento e controle, pois a maior parte do que poderia ser feito para reduzir a utilização da água já foi realizado. O que ajudou muito foi o fechamento de circuitos, como o uso de condensado nos processos. Também substituímos lavadores que operavam a vácuo por outros que trabalham por prensagem, otimizando o uso da água. (FALEIROS, 2009, P. 28)

A planta da IP, com isso, passou de um consumo diário da ordem de 85 mil metros cúbicos por dia para os atuais 55 mil, ao mesmo tempo em que a produção diária se elevou de 950 para 1.200 toneladas.

Na visão da Suzano, a prática do reuso na indústria de papel e celulose, além de aumentar a disponibilidade dos recursos hídricos para outras atividades e até mesmo para o consumo residencial, reduz os custos de produção, evita perdas de produto final ou intermediário e minimiza a carga de poluentes a serem tratados. Ricardo Quadros, gerente executivo de Qualidade e Meio Ambiente da Suzano relata que: Por conta disso, durante a fase de implantação do Projeto Mucuri, na Bahia, já havia a proposta de quase triplicar o volume de produção de celulose da fábrica sem a necessidade de ampliar a outorga para captação de água do rio Mucuri, o que implicaria novos processos de licenciamento. (FALEIROS, 2009, p. 29)

Segundo o executivo, no entanto, não adianta apenas investir na adequação e redução do consumo se não houver uma política rígida que garanta a perenidade dos resultados alcançados e, até mesmo, sua melhoria, sempre que possível. Assim, a Suzano criou, no painel de controle da fábrica, uma tela que avalia constantemente o consumo de água em cada etapa do processo, elevando esse controle aos mesmos patamares de produção, qualidade e segurança. (FALEIROS, p.29)

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Após vários estudos e pesquisas constatou-se que é possível e necessária à reutilização da água branca nas prensas de lavagem, gerando uma economia considerável de água industrial e é uma alternativa viável.

As tintas, vernizes, plásticos, colas e outros tipos de acabamentos se por um lado sãos responsáveis por deixarem as embalagens atraentes e muitas vezes agregarem valor ao produto, por outro lado, também são responsáveis por limitar cada vez mais a reciclagem do papelcartão. Isso acontece porque dependendo das combinações que são feitas através desses materiais fica cada vez mais difícil se obter uma embalagem ecologicamente correta.

4.4 Tintas e vernizes Tinta é o nome normalmente dado a uma família de produtos usados para proteger e dar cor a objetos ou superfícies, cobrindo-os com uma cobertura pigmentada. Ela é muito comum e aplica-se a praticamente qualquer tipo de objetos, sendo utilizada no artesanato, na indústria e na construção civil.

Na indústria de embalagens cartonadas é utilizada a tinta liquida ou pastosa, dependendo de qual sistema de impressão será utilizado para imprimir as embalagens. Sua composição normalmente é constituída através da mistura de quatro partes: resinas, pigmentos, solventes e aditivos.

4.4.1 Resinas É a parte não volátil da tinta, que serve para aglomerar as partículas de pigmentos e é responsável pela transformação do produto, do estado líquido para o sólido, convertendo-o em película. As resinas são responsáveis pelas propriedades físicoquímicas da tinta, determinando, inclusive, o uso do produto e sua secagem. Ela é a parte da tinta que solidifica para formar a película de tinta seca. As primeiras tintas desenvolvidas utilizavam resinas de origem natural (principalmente vegetal). Atualmente, com exceção de trabalhos artísticos, as resinas utilizadas pela indústria de tinta são sintéticas e constituem compostos de alto peso molecular.

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As resinas mais usuais são as alquídicas, epóxi, poliuretânicas, acrílicas, poliéster, vinílicas e nitrocelulose. Uma breve descrição de cada uma destas resinas encontrase a seguir: •

Resina alquídica: polímero obtido pela esterificação de poliácidos e

ácidos graxos com poliálcoois. Usadas para tintas que secam por oxidação ou polimerização por calor. •

Resinas epóxi: formadas na grande maioria pela reação do bisfenol A

com eplicloridina; os grupos glicidila presentes na sua estrutura conferem-lhe uma grande reatividade com grupos amínicos presentes nas poliaminas e poliamidas. •

Resinas acrílicas: polímeros formados pela polimerização de monômeros

acrílicos e metacrílicos; por vezes o estireno é copolimerizado com estes monômeros. (FIESP, 2006, P. 31)

4.4.2 Pigmentos Material sólido finamente dividido e insolúvel no meio em que são utilizados (orgânico ou aquoso) e têm como finalidades principais conferir cor ou cobertura às tintas.

Os corantes são substâncias geralmente solúveis em água e são utilizados para conferir cor a um determinado produto ou superfície. Fixam-se na superfície que vão colorir através de mecanismos de adsorção, ou ligações iônicas e covalentes enquanto que os pigmentos são dispersos no meio (tinta) formando uma dispersão relativamente estável.

Eles são muito utilizados na indústria têxtil e os pigmentos são fundamentais em tintas para revestimento.

Há três grandes categorias de pigmentos: pigmentos inorgânicos, pigmentos orgânicos e pigmentos de efeito. (FIESP, 2006, p. 32) •

Pigmentos inorgânicos: dióxido de titânio, amarelo óxido de ferro,

vermelho óxido de ferro, cromatos e molibidatos de chumbo, negro de fumo, azul da Prússia, etc.

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Pigmentos orgânicos: azul ftalocianinas, azul e verde, quinacridona

violeta e vermelha, perilenos vermelhos, toluidina vermelha, aril amídicos amarelos, etc. •

Pigmentos de efeito: alumínio metálico, mica, etc.

4.4.3 Solventes São compostos (orgânicos ou água) responsáveis pelo aspecto líquido da tinta com uma determinada viscosidade. Após a aplicação da tinta, o solvente evapora deixando uma camada de filme seco sobre o substrato.

Os

solventes

orgânicos

são

geralmente

divididos

em

dois

grupos:

os

hidrocarbonetos e os oxigenados. Por sua vez, os hidrocarbonetos podem ser subdivididos em dois tipos: alifáticos e aromáticos, enquanto que os oxigenados englobam os alcoóis, acetatos, cetonas, éteres, etc. As tintas de base aquosa utilizam como fase volátil água adicionada de uma pequena quantidade de líquidos orgânicos compatíveis.

A escolha de um solvente em uma tinta deve ser feita de acordo com a solubilidade das resinas respectivas da tinta, viscosidade e da forma de aplicação. Uma exceção importante são as tintas látex, onde a água é a fase dispersora e não solubilizadora do polímero responsável pelo revestimento.

Atualmente existe um esforço mundial no sentido de diminuir o uso de solventes orgânicos em tintas, com iniciativas tais como: substituição por água, aumento do teor de sólidos, desenvolvimento de tintas em pó, desenvolvimento do sistema de cura por ultravioleta dentre outras. (FIESP, 2006, p. 33)

4.4.4 Aditivos Este grupo de produtos químicos envolve uma vasta gama de componentes que são empregados em baixas concentrações (geralmente
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