Montando o puzzle para a pesquisa em Relações Internacionais
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26/07/2016
Montando o puzzle para a pesquisa em Relações Internacionais. | VOX MAGISTER: as relações internacionais pela voz dos pesquisadores.
Montando o puzzle para a pesquisa em Relações Internacionais. Publicado por Rodrigo Albuquerque25 de novembro de 2015
Por Augusto Teixeira Jr.*
(hẹps://voxmagister.files.wordpress.com/2015/11/teixeira‑jr1.jpg) Se o “fazer” científico é um processo laborioso, produção de uma forma de aprender diferenciada de outras formas do saber, ciência não se faz sem método. Desta forma, se estabelece um aparente estranhamento: como produzir conhecimento com métodos e abordagens qualitativas, mas com rigor metodológico? Além do debate sobre qual o objeto das RI, discutido por Cinthia Campos (hẹps://voxmagister.wordpress.com/2015/11/02/os‑desafios‑da‑pesquisa‑em‑relacoes‑internacionais/) em “Os desafios da pesquisa em Relações Internacionais”, surge outro desafio para além da delimitação do campo: como apreender a realidade internacional? No que seria o nosso “calcanhar metodológico”, verifica‑se às vezes a ausência de estratégias robustas de pesquisa, boa relação entre o que se quer saber e como saber. Esta deficiência, ligada ao low profile da metodologia em detrimento da teoria, se apresenta por exemplo em Trabalhos de Conclusão de Curso a partir de parcos aportes metodológicos apresentados por sequências frasais como “a metodologia desta trabalho é qualitativa, exploratória, descritiva e indutiva [etc]”. É importante pontuar com firmeza: a falta de método, desenho de pesquisa e técnica não é culpa da vertente qualitativa de pesquisa. Dito isto, coloca‑se uma questão urgente: como resolver? Qual é a sua variável dependente? Um primeiro desafio, talvez a origem de todos os problemas, reside na “Variável Dependente”, explanandum ou simplesmente o que se quer saber/explicar. Uma coisa é ter um tema outra coisa é ter um objeto delimitado; outra bem diferente é ter um problema de pesquisa. Uma parte significativa dos trabalhos peca em não expor com clareza o que se quer explicar. Afinal, num texto como um TCC, com pequeno número de páginas, acesso limitado a dados, baixo nível de treinamento em técnicas e restrições de tempo; como justificar querer “abraçar o mundo”? É de fundamental importância incorporar dois preceitos: humildade e delimitação. Apesar da realidade social e internacional ser fascinante o jovem pesquisador terá toda a carreira para encarar a Home https://voxmagister.wordpress.com/2015/11/25/montandoopuzzleparaapesquisaemrelacoesinternacionais/ sua complexidade. Por que razão se justifica querer acabar com a festa já
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sua complexidade. Por que razão se justifica querer acabar com a festa já no TCC ou na dissertação? A humildade se processa quando o pesquisador delimita o seu objeto. Quando ele busca um equilíbrio entre um bom problema de pesquisa e os meios (dados, recursos, treinamento e tempo) necessários para enfrentar a questão posta. Esse é o seu problema de pesquisa? E daí? Outro desafio emerge: como ter um bom problema de pesquisa? A rigor, quase qualquer fenômeno ou evento internacional pode ser um tema das Relações Internacionais. Cabe ao pesquisador problematizá‑lo como tal. Não se produz ciência no vácuo. Existem debates fundamentes da área. Existem debates que visam refundá‑la. Possuímos fenômenos clássicos do campo: guerra, paz, conflito, cooperação, comunidades políticas (ex. Estado), atores (ex. indivíduos ou redes). Delimitado o aspecto analisável de um tema, cabe ao pesquisador ter um bom problema de pesquisa. Mas como chegar lá? Resposta: perguntando bem. Para tal é necessário conhecer o que se quer conhecer. Em outras palavras: ir além das perguntas de ignorância buscando perguntar em conexão à debates, tradições e abordagens. E como isso se converte numa boa pergunta? Como saber que chegamos lá? Simples: quando temos em tela um puzzle. Um quebra‑cabeça intelectual pode ser representado pela seguinte assertiva: a teoria X (Paz Democrática) afirma que o que causa ou explica Y (Paz) é X1, X2, Xn (Democracia, Participação, Contestação, Accountability, etc..). Entretanto, o pesquisador verifica que tal teoria não consegue explicar um caso ou um conjunto de casos (ex. Guerra entre Estados Unidos e Reino Unido, em 1812) que são manifestação do fenômeno presumidamente explicado pela Teoria A (Paz Democrática). Em síntese, a Teoria afirma que quando X1, X2, Xn teremos Y (apresentado de forma determinista ou probabilística), mas quando o investigador observa o caso (Guerra de 1820), a explicação ancorada na teoria não responde de forma satisfatória à manifestação (evento) do fenômeno. Ou seja, a teoria “falha” em explicar. O que seria o pesadelo do teórico, para o pesquisador é o paraíso. Eureka, temos um puzzle! E como chegamos a um puzzle? 1. Amplo e profundo conhecimento das principais teorias que tratam do fenômeno a ser explicado; 2. Classificação das principais vertentes explicativas (teóricas e empíricas); 3. Revisão da literatura em termos de a) lógica de explicação e b) variáveis independentes e intervenientes (ou condições); 4. Profundo conhecimento dos casos (eventos ou manifestações do fenômeno) de forma a poder verificar o contraste entre Teorias/Abordagens e Realidade. Diante de um problema sobre o qual as teorias disponíveis disputam a resolução de um puzzle, se faz necessário imaginar distintos caminhos para solucionar o quebra‑cabeças. É a imaginação orientada por teorias, contextualizada no objeto e disciplinada por métodos e técnicas que romperá o véu da ignorância realizando a humilde missão de dar um sentido explicativo a uma realidade internacional infinita, complexa e caótica. ———‑ * Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Atualmente é professor Adjunto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB. Líder do Grupo de Pesquisa em Estudos Estratégicos e Segurança Internacional (GEESI/UFPB /CNPq). Membro da Associação Brasileira de Estudos de Defesa.
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