Morcegos Urbanos: Status do Conhecimento e Plano de Ação para a Conservação no Brasil

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Chiroptera Neotropical 16(1),July 2010

Morcegos Urbanos: Status do Conhecimento e Plano de Ação para a Conservação no Brasil Susi M. Pacheco1*, Mirian Sodré2, Gama, A.R2,Angelika Bredt³, Edna M. Cavallini, Sanches4 Rosane V. Marques5, Guimarães, M.M.6 & Gledson Bianconi7 1. Instituto Sauver. Av. Pernambuco, 2623/404. 2. Centro de Controle de Zoonoses do Município de São Paulo (CCZ/SP). 3. Diretoria de Vigilância Ambiental, Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal. 4. Departamento de Micologia, Faculdade de Medicina Veterinária, UFRGS. 5. Unidade de Assessoramento Ambiental, Divisão de Assessoramento Técnico, Procuradoria Geral de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. 6. Neotropica Tecnologia Ambiental. 7. Mülleriana Sociedade Fritz Müller de Ciências Naturais. * Porto Alegre/RS. 90240-005, Brasil. e-mail: [email protected]. Abstract Urban bats: Knowledge Status and Action Plan for Conservation in Brazil This study analysis information on the bat species recorded in urban and suburban areas in the aspects of distribution, shelters, colonies size, diet, health aspects and conservation. Data were obtained at the Center for Zoonosis Control (CCZ), Center for Health Surveillance and Environmental, Research Institutes and experience and studies carried by the authors. A total of 47 species was recorded as follows: 17 Phyllostomidae, 16 Molossidae, 11 Vespertilionidae, two Emballonuridae and one Noctilionidae. It was verified that insectivorous bats were dominant, representing 64% of the recorded species. Three species were present only in the urban area and nine in the suburban area, the other species could be found in both sites. The most common species in, at least three cities, are Artibeus lituratus and Tadarida brasiliensis. Molossus molossus was a species not so commom in south states and commom in São Paulo and Distrito Federal. Eptesicus brasiliensis, Lasiurus blossevillii, L. ega and Promops nasutus are rare in all states. It is also discussed some aspects of the impact that bats generate and suffer in large cities, and proposes an action plan for the conservation of this group in urban environments. Keywords: bats, urban areas, conservation, public health, shelters Resumo O estudo aborda informações sobre as espécies de morcegos registradas em meio urbano e periurbano quanto à sua distribuição, locais de abrigos, tamanho das colônias, hábitos alimentares e questões de saúde pública e conservação. Foram utilizados dados existentes em Centros de Controle de Zoonoses (CCZ), Centros de Vigilância Sanitária e Ambiental, Institutos de Pesquisa e a experiência e os estudos dos autores. Foram registradas 47 espécies, sendo 17 Phyllostomidae, 16 Molossidae, 11 Vespertilionidae, duas Emballonuridae e uma Noctilionidae. Verificou-se a dominância de morcegos insetívoros, representados por 64% do total das espécies registradas. Três espécies ocorreram somente em área urbana, nove em periurbana e 29 em ambas as áreas. As espécies consideradas comuns em pelo menos três estados foram Artibeus lituratus e Tadarida brasiliensis; Molossus molossus foi pouco comum nos estados do Sul e comum em São Paulo e Distrito Federal. Eptesicus brasiliensis, Lasiurus blossevillii, L. ega e Promops nasutus são raras em todos os estados. São discutidos os impactos que os morcegos geram e sofrem nas grandes cidades, e proposto um plano de ação para a conservação do grupo em ambientes urbanos. Palavras chaves: Chiroptera, área urbana, conservação, saúde pública, abrigos. morcegos (Zortéa & Aguiar, 2008) e, lamentavelmente, já contabiliza oito espécies ameaçadas de extinção (Chiarello et al. 2008). Por outro lado, espécies como Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758), Artibeus lituratus (Olfers, 1818), Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810), Glossophaga soricina (Pallas, 1766), Desmodus rotundus (E. Geoffroy, 1810), Myotis nigricans (Shinz, 1821) e Molossus molossus (Pallas, 1766)

Introdução Existem no Brasil em torno de 167 espécies de morcegos, pertencentes a nove famílias (Tavares et al. 2008). No entanto, esse número deve aumentar com a realização de inventários onde existem lacunas de conhecimento, em especial, nas regiões Norte e Nordeste. Embora considerado megadiverso, o País apresenta apenas oito espécies endêmicas de

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possuem ampla distribuição em território nacional, seja em ambiente natural ou antropizado. Tanto no Brasil como no mundo, ainda existem poucas informações relativas à conservação e ecologia desses mamíferos em áreas urbanas e naturais. A maioria dos estudos é referente a inventários faunísticos, impactos ambientais e análises variadas sobre a estrutura de assembléias, com maior ênfase à família Phyllostomidae (ex.: Sampaio et al. 2003; Bianconi et al. 2004, 2008; Cleveland et al. 2006; Barclay et al. 2007; Kunz et al. 2007). O conhecimento sobre morcegos na grande maioria das cidades brasileiras é restrito às espécies que são enviadas ou coletadas pelos órgãos de saúde e/ou agricultura, municipais ou estaduais. Existem poucos estudos referentes ao comportamento, uso do habitat alterado, padrões de deslocamentos, preferências por abrigos, reprodução, e outros (Marques & Fabián, 1994; Pacheco & Marques, 1995; Fabián & Marques, 1996; Marques & Pacheco, 1999; Marques, 2003; Pacheco et al. 2008; Sodré & Esbérard, 2008, Uieda et al., 2008). Pelo fato de o Brasil ser um país de proporções continentais, não há dados completos sobre o número total de espécies ocorrentes nas cidades brasileiras. Alguns trabalhos indicam que prevalecem espécies insetívoras sobre as demais (Marques & Fabián, 1994; Fabián & Marques, 1996, Silva et al. 1996, Bredt & Uieda, 1996). Este trabalho tem como objetivo demonstrar aspectos importantes da comunidade de morcegos em áreas urbanas e periurbanas de alguns estados brasileiros. Assim, são apresentadas informações sobre a distribuição e a freqüência de ocorrência de espécies, tipos de abrigos ocupados, fidelidade aos mesmos, tamanhos de colônias, registros de deslocamento, hábitos alimentares, relação dos morcegos com a saúde pública e sua importância econômica e ecológica. Por fim, propõe-se um plano de ação para a conservação dos morcegos que ocorrem em áreas urbanas.

informações disponíveis em monografias (dissertações e teses) e em outros trabalhos dos autores. Para fins comparativos, além das zonas urbanizadas foram incluídos registros para regiões periurbanas e naturais. Os dados avaliados são referentes a indivíduos e colônias observados/capturados em seus abrigos diurnos ou encaminhados aos órgãos de saúde pela comunidade quando encontrados caídos no chão, dentro de residências ou afogados em piscinas. Neste caso, na maioria das vezes, o morcego é coletado morto ou bastante debilitado. Quando os morcegos são capturados em edificações, este procedimento é realizado manualmente, com auxílio de pinça de 30 cm, luvas de raspa de couro ou puçás e, raramente, com rede de neblina. Este último método é usual para a captura de morcegos fitófagos junto às fontes de alimento ou, então, em ambientes não urbanos. Os morcegos foram identificados, sexados e mensurados através de medidas padrões utilizadas para determinação específica (Vizotto & Taddei, 1973; Gregorin & Taddei, 2002; Barquez & Diaz, 2009). Igualmente, são informatizados os dados relativos aos tipos de abrigos, tamanho das colônias, aspectos reprodutivos e dieta básica. Os indivíduos debilitados ou mortos foram encaminhados para diagnóstico laboratorial de raiva, onde estão preservados, em via úmida, nos laboratórios dos CCZs ou instituições de pesquisas. Especificamente em Porto Alegre, além do diagnóstico de raiva, foram realizados exames para a detecção de fungos, no caso Histoplasma capsulatum que é diagnosticado através do cultivo ou por métodos moleculares. Para inferências sobre o nível de conservação em ambiente urbano, foi determinado o grau de frequência das espécies nos levantamentos executados, obtido por meio do cálculo da Constância (C), sendo as espécies classificadas em comuns (C = 50%), pouco comuns (25 = C < 50%) e raras na amostragem (C < 25%) (SilveiraNeto et al., 1976; Bianconi et al., 2004). Para avaliar o deslocamento de indivíduos ou colônias, o método empregado foi a marcaçãorecaptura (do tipo tonsura ou anilha), ou retirandose a colônia de determinado local, soltando-a em áreas com distâncias estabelecidas e posteriormente reencontrando-as no abrigo de origem.

Material e Métodos A amostragem de quirópteros foi baseada em dados registrados nos últimos 20 anos por instituições de pesquisa e saúde pública, como Centros de Controle de Zoonoses (CCZ) das cidades de Brasília/DF, São Paulo/SP, Departamento de Vigilância Ambiental em Saúde (Divisão de Vigilância de Zoonoses e Intoxicações) da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná, CCZ de Porto Alegre/RS, Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS/SES/RS) e Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF/SCT/RS) em Eldorado do Sul/RS. Adicionalmente, foram incorporadas

Resultados Foram registradas 47 espécies sendo, 17 (36%) da família Phyllostomidae, 16 (34%) Molossidae, 11 (23%) Vespertilionidae, 2 (4%) Emballonuridae e 1 Noctilionidae (2%). Houve marcada dominância das espécies insetívoras

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(64%) sobre as fitófagas (28%, onde estão incluídos frutos, folhas, néctar, pólen e partes florais), onívoras (4%), piscívoras (2%) e hematófagas (2%) (Tabela 1). A tabela 1 informa, também, as ocorrências nas cidades de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Distrito Federal, em áreas periurbanas e urbanas, apresentando os principais abrigos utilizados conforme as espécies e o tamanho das colônias, caso a espécie não seja solitária. Na tabela 2, verificam-se os dados sobre fidelidade ao abrigo e deslocamento para 15 espécies. Durante o monitoramento de colônias de Nyctinomops laticaudatus (E. Geoffroy, 1805) e Tadarida brasiliensis (I. Geoffroy, 1824) constatou-se fidelidade ao abrigo superior a 20 anos, informada pelos moradores. Observa-se que oito espécies possuem dados de deslocamentos, que variam de 3,0 km a 170 km, percorridos em um único dia ou mesmo em algumas semanas. No cálculo da Constância estabelecido para as áreas urbanas no Rio Grande do Sul apenas T. brasiliensis pode ser considerada comum. Molossus molossus, Molossus rufus E. Geoffroy, 1805, Promops nasutus (Spix, 1823), Histiotus velatus (I. Geoffroy, 1824), Artibeus fimbriatus Gray, 1838 e A. lituratus são de ocorrência pouco comum e as demais raras. Alguns morcegos são encontrados exclusivamente em área periurbana: Anoura caudifera (E. Geoffroy, 1818), D. rotundus, Eptesicus furinalis (d'Orbigny, 1847), H. velatus, Myotis albescens (E. Geoffroy, 1806), Myotis levis (I. Geoffroy, 1824), M. nigricans e Noctilio leporinus (Linnnaeus, 1758). No estado do Paraná, A. lituratus, M. rufus e T. brasiliensis aparecem como comuns nas áreas urbanas da maioria dos municípios, seguidas por M. molossus (pouco comum); as demais espécies aparecem como raras na amostragem. Das 28 espécies registradas para as áreas urbanas e periurbanas do Distrito Federal, são consideradas comuns M. molossus, N. laticaudatus, A. lituratus e G. soricina e, pouco comuns, Cynomops planirostris (Peters 1866), Eumops glaucinus (Wagner, 1843), Peropteryx macrotis (Wagner, 1843) e Platyrrhinus lineatus (E. Geoffroy, 1810), enquanto A. caudifera, D. rotundus, H. velatus e S. lilium somente foram registradas em áreas periurbanas. Com relação à saúde pública, morcegos são comumente relacionados às zoonoses. No entanto, com exceção do diagnóstico de raiva, e alguns poucos estudos relacionados a fungos patógenos, poucos dados são realmente consistentes. Nas grandes capitais do Brasil, os índices de positividade para raiva em morcegos oscilam entre 0,5% e 0,8%, correspondendo aos indicadores de

normalidade estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (entre 1-4%). Estudos sobre histoplasmose e pneumociste realizados em São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul têm apresentado índices de prevalência baixos (inferior a 30%) e não representam risco à saúde humana e de animais domésticos. Discussão O número de espécies registradas (n= 47) representa 28% da riqueza de morcegos sugerida para o Brasil (n= 167) (Tavares et al. 2008). Percebe-se no conjunto de dados poucas espécies comuns e pouco comuns coexistindo com várias raras. A expansão urbana e agrícola e o desenvolvimento econômico indiscriminado têm contribuído para a supressão dos habitats naturais dos morcegos, ocasionando a extinção das espécies mais vulneráveis e menos adaptadas. Por outro lado, está beneficiando espécies, com novas oportunidades de abrigo e alimento (Fenton, 1992, 1997). Os ambientes urbanos, sem planejamento adequado, contribuem para o estabelecimento de morcegos fitófagos e insetívoros (Harmani et al., 1996; Fenton, 1997), uma vez que, as plantas utilizadas na arborização urbana demonstram ser potencial fonte de alimento para os morcegos filostomídeos (Muller & Reis, 1992; Rodrigues et al. 1994; Sazima et al.,1994; Zortéa & Chiarello, 1994; Uieda, 1996). Igualmente, a iluminação pública é oportuna para os insetívoros, já que permite maior concentração dos insetos em torno dos pontos de luz (Blake et al. 1994; Rydell & Racey, 1995). Quanto aos abrigos diurnos, os morcegos adaptaram-se às construções humanas, em substituição às cavernas, ocos de árvores e outros tipos de abrigos naturais (Kunz, 1982). O processo sinantrópico que vem ocorrendo com algumas espécies de morcegos, tem causado incômodos à população quanto: a) ao adentramento de morcegos nas edificações; b) à visualização em seus abrigos diurnos e noturnos; c) às vocalizações emitidas; d) ao mau cheiro, decorrente da presença de colônias e do acúmulo de suas fezes e urina nos abrigos diurnos; e) à presença de fezes no interior dos cômodos ou em paredes, muros, bancos, carros, etc.; f) vôos rasantes realizados pelos morcegos fitófagos junto à fonte de alimento. Podem, ainda, ocorrer interações indesejáveis entre morcegos e seres humanos e seus animais de estimação e, com isso, aumentar o risco da transmissão da raiva e outras doenças, caso o morcego se encontre infectado.

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Tabela 01. Lista de espécies com ocorrência já registrada em área urbana e/ou periurbana pelos Centros de Controle de Zoonoses (CCZ) das cidades de Brasília/DF, São Paulo/SP, Curitiba/PR e Porto Alegre/RS, pelo Centro de Vigilância em Saúde (CEVS/SES/RS) em Porto Alegre e Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF/SCT/RS) em Eldorado do Sul/RS, Pacheco et al. (2008) e Bernardi et al. (2009). Apresentando a dieta (F- fitófago; I- insetívoro; H- hematófago; Ppiscívoro; e O- onívoro); a área de ocorrência (Ur- urbano; Pe- periurbano); o status de frequência (SR- Sem registro; RA- Rara; PC- pouco comum; e CO- comum); os principais tipos de abrigos (1- Edificações desabitadas; 2- Cômodo pouco frequentado; 3- Cobertura com laje/forro; 4- Cobertura sem laje/forro; 5- Sótão; 6- Beiral da cobertura; 7- Chaminé; 8- Ducto de ventilação; 9- Caixilho para persianas; 10- Condicionador de ar; 11- Junta de dilatação; 12- Espaços diversos; 13- Poço elevador; 14- Andar técnico; 15- Porão; 16- Garagem; 17- Galeria águas pluviais; 18- Folhagem; 19-Oco em árvore; 20- Sem registro de abrigo); e número de indivíduos nas colônias registradas, SD – Sem Dados. Taxa Emballonuridae Diclidurus scutatus Peropteryx macrotis Phyllostomidae Desmodontinae Desmodus rotundus Glossophaginae Anoura caudifera Anoura geoffroyi Glossophaga soricina Lonchophylla dekeyseri Phyllostominae Mimon bennettii Phyllostomus discolor Phyllostomus hastatus Carolliinae Carollia perspicillata Stenodermatinae Artibeus fimbriatus Artibeus lituratus Artibeus obscurus Artibeus planirostris Chiroderma doriae Platyrrhinus lineatus Pygodema bilabiatum Sturnira lilium Noctilionidae Noctilio leporinus

Dieta

I I

Área Status de Frequência Ur Pe DF SP PR RS x x

SR RA SR PC SR SR

SR SR

Abrigos DF

RA PC RA RA

F N F F

x x

x x x

RA SR CO RA

I O O

x x x

x x

SR SR RA RA SR SR RA SR RA

SR SR SR

20 11

F

x

x

RA PC RA

SR

1,17

F F F F F F F F

x x

x x x x

RA CO SR RA RA CO RA PC

18

x x x

SR CO SR RA SR PC SR RA

x

SR

SR RA RA

P

x x x x

RS

20

x

17

15,17

SR RA 17 1, 2 SR SR 20 RA RA 1,2,5,8,14,15,17 1,2,3,4,5,8,13,15,16,17 SR SR 20

RA RA CO PC RA SR RA SR SR SR RA SR RA SR RA RA

PR

20

5,12,17

19

2 a 24

1

2 a 20 SD 1 a 100 SD

2,3,4,12,14,15,18

20

20 1,4,6,18 20

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Colônias

SD 1 a 12

5,8,14

H

RA RA CO SR

SP

20

SD SD 3 a 10

1,2

20

2 a 40

20 18

20 15,16,18 20 20

20 20 1,4,6,18 20 20

18 18

14 20 2,10,12

18

1 a 30 1 a 25 5a8 SD SD 1 a 22 SD 1 a 35

17

19

1 a 60

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Área Status de Frequência Ur Pe DF SP PR RS

DF

SP

I I I I I I I

x x x

19 3,12 3

20 20 3

3,11,12

3,11

Eumops perotis

I

x

Molossops temminckii

I

Molossus molossus

Taxa Molossidae Cynomops abrasus Cynomops planirostris Eumops auripendulus Eumops bonariensis Eumops glaucinus Eumops hansae Eumops maurus

Dieta

x

RA RA RA

SR

20

x

x

RA SR RA

SR

20

I

x

x

CO CO PC

PC

3,4,5,7,8,9,10,11,12

3,4,5,9,12

3,4,5,11,12,14

3,5,11,12,13,15,16

1 a 50

Molossus rufus

I

x

x

SR

PC CO

RA

3

3,4,7,12,14,16

3,4,12,13

1 a 250

Nyctinomops aurispinosus

I

x

x

RA RA RA

SR

11, 12

20

2,3,12

1a3

Nyctinomops laticaudatus Nyctinomops macrotis Promops nasutus Tadarida brasiliensis

I I I I

x x x x

x

CO CO RA CO

RA SR RA CO

SR SR RA CO

3,11,12 20 3

20 11 20 9,11,12

20

x x

CO RA RA SR

12 2,3,5,6,11,12,14

1,2,3,4,7 1,3,5,7,8,9,10,11,13,14,16

3 a 3.000 9 1 a 12 1 a 10.000

I I I I I I I I I I I

x

x x x x x x x x x x x

RA SR SR RA RA SR RA SR SR SR RA

RA SR RA PC RA RA RA RA RA SR PC

RA RA RA RA RA RA RA SR RA RA RA

RA SR RA RA RA RA RA RA RA SR RA

3

20

1 20 20 3,4,5 18 2,16 20

20

Vespertilionidae Eptesicus brasiliensis Eptesicus diminutus Eptesicus furinalis Histiotus velatus Lasiurus blossevillii Lasiurus cinereus Lasiurus ega Myotis albescens Myotis levis Myotis ruber Myotis nigricans

x

x x x x x x x

RA RA PC SR RA SR RA

12

Colônias

SR SR SR SR SR SR SR

x x x x

RA PC RA SR PC SR SR

RS

RA SR RA RA RA RA SR

x

x

Abrigos PR

7 4 a 75 1a3 SD 1a6 SD SD

6 20 20 20

20

3 18 18

20

634

20

20

SD

20

20 3 20 20 20 20 20 3,4,12

20 20 20

SD

11 1,3,4,11,12,15,16,18 18 18 12, 18 15 1,3,4 1,3,4,7

1 a 30 SD 1 a 20 1 a 40 1a4 1a5 Solitário 2 a 20 1 a 14 SD 1 a 10

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Tabela 02. Lista de espécies com dados registrados pelos Centros de Controle de Zoonoses (CCZ) das cidades de Brasília/DF, São Paulo/SP, Curitiba/PR e Porto Alegre/RS, pelo Centro de Vigilância em Saúde (CEVS/SES/RS) em Porto Alegre e Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF/SCT/RS) em Eldorado do Sul/RS, sobre a fidelidade ao abrigo e/ou deslocamento. Taxa Phyllostomidae Desmodontinae Desmodus rotundus Glossophaginae Anoura caudifera Glossophaga soricina Phyllostominae Phyllostomus hastatus Stenodermatinae Artibeus lituratus Platyrrhinus lineatus Noctilionidae Noctilio leporinus Molossidae Cynomops planirostris Molossus molossus Molossus rufus Nyctinomops laticaudatus Promops nasutus Tadarida brasiliensis Vespertilionidae Eptesicus brasiliensis Histiotus velatus

Fidelidade ao Abrigo

Deslocamento

Superior a 5 anos

Sem dados

Sim Superior a 10 anos

Sem dados Sem dados

Sim

Sem dados

Superior a 2 anos Sim

8 km em 2 meses (DF); e 12 km (SP) Sem dados

Superior a 2 anos

Sem dados

Superior a 7 anos Superior a 10 anos Superior a 1 ano Superior a 20 anos Sim Superior a 20 anos

Sem dados 10 km em 4 dias (DF); 170 km (RS) Sem dados 6 km em 21 dias (DF) Sem dados 3 km (RS)

Superior a 10 anos Superior a 3 anos

Sem dados Sem dados

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Abrigos e Colônias Os abrigos preferenciais são coberturas com laje ou forro, espaços diversos e coberturas sem laje ou forro, seguido de folhagens, edificações desabitadas e juntas de dilatação (Tabela 1). No entanto, uma informação bastante relevante, é o fato que ainda não há registro de refúgios para 16 espécies (34%), demonstrando a carência de informações disponíveis. Fatores como o tipo de material do qual é constituído o abrigo artificial, suas dimensões, amplitude e fatores abióticos (luminosidade, umidade e temperatura) são limitantes para a adaptação dos morcegos em cidades, já que a maioria procura características semelhantes às encontradas nos refúgios naturais. A temperatura é uma variável sempre considerada nos trabalhos do Rio Grande do Sul, uma vez que os morcegos ocupam locais com temperaturas superiores a 38 ºC no verão e a 15 ºC no inverno. Peropteryx macrotis que, no Distrito Federal, utiliza as cavernas como abrigo, na área urbana, encontra semelhanças em edificações onde o substrato é concreto, pedra, cimento ou tijolo. Cynomops planirostris, outro exemplo, utiliza oco de árvore (Vizotto & Taddei, 1976), tanto na natureza como em zona urbana e, quando ausentes, os abrigos escolhidos estão associados à madeira. O espaço do abrigo pode ser fator limitante, uma vez que define o tamanho dos agrupamentos. Essa situação foi observada em relação à M. albescens por Maricélio Guimarães, numa cidade de Goiás, onde até dois indivíduos estavam abrigados em espaços estreitos de paredes e cerca de 20 em locais amplos. O mesmo pesquisador observou comportamento similar para esta espécie na vegetação nativa de Cerrado, onde pequenos espaços, entre o tronco seco da árvore e o ritidoma que se desprende, abrigavam um ou dois indivíduos. Algumas vezes, um mesmo tronco abrigava indivíduos solitários, ou colônias pequenas com até 12 indivíduos. Dentre as espécies encontradas em ambientes urbanos, M. molossus, demonstra ser a mais oportunista na escolha de seus abrigos, uma vez que explora uma diversidade de estruturas nas edificações, como se observa na tabela 1. As espécies apresentam variabilidade quanto ao número de indivíduos formando agrupamentos que se alteram conforme a região ou cidade. Quatro espécies tendem em ser solitárias: Lasiurus cinereus (Palisot de Beauvois, 1796), Lasiurus ega (Gervais, 1856), Lasiurus egregius (Peters, 1870) e Lasiurus blossevillii (Lesson & Garnot, 1826). No entanto, estas espécies podem constituir pequenos agrupamentos com até cinco indivíduos, no período de acasalamento e de criação de

filhotes. Alguns morcegos formam grupos entre um e 30 indivíduos, como A. lituratus e E. furinalis. Outras espécies, como C. planirostris, Eptesicus brasiliensis (Desmarest, 1819) e H. velatus formam grupos no máximo até 75 indivíduos (Tabela 1). Apenas duas espécies, N. laticaudatus e T. brasiliensis formam colônias superiores a 1.000 indivíduos. No Rio Grande do Sul, N. laticaudatus tem sua ocorrência, até o momento, restrita às áreas rurais (telhados e fendas em rochas), enquanto T. brasiliensis é encontrada tanto em áreas urbanas quanto rurais, com agrupamentos maiores que variam entre 80 e 500 indivíduos, superando 3.000 morcegos no período reprodutivo e de recrutamento dos jovens (entre novembro e março) (Marques & Fabián, 1994; Fabián & Marques, 1996; Pacheco et al., 2008). Nas cidades, G. soricina explora casas e cômodos desabitados ou pouco frequentados, telhados, ductos de ventilação, poços de elevadores, garagens, andar técnico (água, eletricidade, gás, esgoto, etc.) (Nogueira et al., 2007, presentes autores). Este Glossophaginae necessita de aberturas amplas para ter acesso aos abrigos (beiral aberto, telha, alçapão, janela ou porta aberta, ausente ou quebrada) e, quando o local é habitado, a sua permanência é temporária. Colônias maternidades podem apresentar centenas de fêmeas e seus filhotes (Nowak, 1994). Em cavernas, suas colônias possuem cerca de 20 indivíduos, enquanto em áreas urbanas, cerca de 150 morcegos. Podem chegar a 2.000 indivíduos em construção abandonada no bioma Caatinga (Barquez et al., 1999). Essa proporção também foi observada no andar técnico do prédio da Embrapa Cerrados, em Brasília/DF, e em São Paulo, foram encontrados aproximadamente 1.000 indivíduos desta espécie em sala de geradores em prédio abandonado do Banco Banespa. Estes ambientes possuem características abióticas semelhantes às cavernas. É possível que os grandes agrupamentos possam estar associados à ausência ou escassez de abrigos favoráveis, pois sua distribuição em ambientes urbanos está relacionada à oferta de alimento (propriedades com quintais e jardins com árvores atrativas ou bebedouros). As espécies frugívoras exploram uma grande variedade de árvores como abrigo. Na arborização urbana do Distrito Federal, A. lituratus utiliza 15 espécies de plantas como poleiro diurno, em especial, a mangueira (Mangifera indica Linn.) e o jambolão (Syzygium jambos Linn. Alston), e cerca de 80 espécies como abrigo noturno (Uieda et al., 2008). No Rio Grande do Sul, o jerivá (Syagrus romanzoffiana (Cham.)) é comumente abrigo de A. lituratus (Pacheco et al., 2008), além de butiazeiros e abacateiros. Em São Paulo e no

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Paraná, em figueiras (Ficus sp.), mangueiras (Mangifera indica), dracenas e folhagens de várias espécies de palmeiras. Platyrrhinus lineatus, além das árvores citadas anteriormente, abriga-se em locais relativamente bem iluminados como construções abandonadas, beirais de casas altas, marquises e garagens. Dentre os insetívoros, L. blossevillii utiliza como abrigo diurno, folhagens ou bainhas de palmeiras de Syagrus romanzoffiana e, L. ega abriga-se em Corypha umbraculifera Linn., a palmeira-das-bermudas (Pacheco et al., 2008). Como camuflagem, essas espécies utilizam folhas secas, cuja coloração assemelha-se a de seus próprios pelos. Espécies dos gêneros Histiotus e Myotis podem ser encontradas em residências atrás de quadros nas paredes ou atrás da tubulação da chaminé de fogões à lenha, no Rio Grande do Sul. Na Região Sul e Sudeste do país, as coberturas utilizadas como abrigo pelos morcegos insetívoros são, preferencialmente, de telhas de cerâmica, zinco, cimento amianto e barro ecológico. A altura dos forros e sua disposição em barrotes e cumeeiras também são determinantes na escolha do abrigo de acordo com a espécie. Tadarida brasiliensis, M. levis, H. velatus e N. laticaudatus habitam telhados com telhas de cerâmica, forros altos e cumeeiras de três a 12 m de altura, em geral, ambientes grandes, com áreas acima de 100 m2. Molossus molossus é observada em edificações mais baixas, com telhas de cimento amianto, onde o espaçamento com o forro não ultrapassa 50 cm. Quando a cobertura é maior e mais alta, os morcegos permanecem na parte mais baixa da mesma, normalmente, nos cantos ou entre as vigas de madeira e a parede, sendo difícil a sua observação e captura. No caso de H. velatus, há a tendência para permanecer em telhados sem forro, no interior de furos de tijolos não maciços existentes na cobertura, em fendas de muros e moinhos ou construções antigas de pedra.

campinas), Ficus insipida Willd., O. pyramidale e L. glyptocarpa. Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767) foi observado consumindo Carica papaya Linn. (mamão). Entre as árvores sabidamente utilizadas como fontes de alimento no Rio Grande do Sul e em alguns municípios do Paraná, por A. fimbriatus, A. lituratus e S. lilium estão as figueiras (diversas espécies do gênero Ficus, entre elas Ficus luschnatiana (Miq.), ingá-feijão (Inga marginata Willd.), mamoeiro (Carica spp.), mangueira (Mangifera indica), pessegueiro (Prunus persica (Linn.) Batsch ), alfeneiro ou ligustro (Ligustrum lucidum) e pitangueira (Eugenia uniflora Linn.). A pata-de-vaca (Bauhinia candicans Benth) e a paineira (Chorisia speciosa St. Hill) são representantes vegetais da dieta de G. soricina e A. caudifer (Pacheco et al., 2008). Em São Paulo, as árvores de maior representatividade na alimentação para A. lituratus e P. lineatus são o chapéu de sol (Terminalia catappa Linn.), as figueiras (Ficus spp.), a nêspera (Eryobotria japonica (Thunb.) Lindl.) e o alecrim de campinas (H. balansae). Com relação aos insetívoros, apenas para M. molossus (Com. pess. Susi M. Pacheco) e T. brasiliensis (Silva & Fleck, 1976; Fabián et al., 1990) existem informações sobre alimentação, constando de coleópteros, baratas, mosquitos, cupins, neurópteros, dermápteros, ortópteros e odonatos. Para os demais, a composição específica da dieta é desconhecida, ressaltando a necessidade de incentivo a pesquisas em áreas urbanas. Quanto a N. leporinus cujo hábito é preferencialmente piscívoro ocorre em áreas periurbanas e rurais. Contudo, D. rotundus tem sido registrado, eventualmente, em alguns grandes centros urbanos, alimentando-se de sangue humano e de animais (Uieda, 1995; Torres et al., 2005; M. Sodré e Gama, A. Com. Pess.). Morcegos Urbanos e Saúde Pública Considerando as questões debatidas no Congresso Brasileiro de Zoologia em fevereiro de 2008 e a tímida listagem prévia do quantitativo de morcegos submetidos ao exame laboratorial para raiva no país, além dos poucos trabalhos referentes a outras zoonoses, não há informações suficientes sobre quais espécies podem gerar mais preocupações na área de saúde. Com relação à raiva, é comum, quando da análise de documentos oficiais, a separação dos morcegos em apenas dois grupos: “hematófagos” e “não hematófagos”. Este fato dificulta o entendimento do papel de cada espécie na ecoepidemiologia da raiva e impede a elaboração de estratégias eficazes para o monitoramento e/ou

Hábitos Alimentares Na literatura existem dados substanciosos referentes à dieta de A. lituratus em áreas urbanas de algumas cidades brasileiras (Muller & Reis, 1992, Sazima et al., 1994, Zortéa & Chiarello, 1994) e no DF (Uieda et al., 2008). Para o Distrito Federal, G. soricina alimenta-se de frutos de Muntingia calabura Linn. (calabura) e das flores de Ochroma pyramidale (Cav. ex Lam.) Urb. (pau-de-balsa), Lafoensia glyptocarpa Koehne (mirindiba) e Caryocar brasiliense Cambess (pequizeiro). Platyrrhinus lineatus foi observada, juntamente com A. lituratus, em M. calabura, Holocalyx balansae Micheli (alecrim de

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controle. Nas grandes cidades brasileiras, a maioria dos morcegos encaminhados aos órgãos de saúde provém de espécies coloniais. Em geral, estes animais são encontrados e/ou capturados em áreas externas ou no interior das edificações, realidade que intensifica o risco de contato de humanos e animais de estimação, com morcegos infectados com o vírus rábico. No Distrito Federal, por exemplo, dos 46 morcegos registrados, pertencentes a 11 espécies, que interagiram com cães e gatos, no período de 1988 a 2006, três apresentaram resultado positivo para raiva, N. laticaudatus, L. blossevillii e A. lituratus (Bofill et al., 2006a). Na cidade de São Paulo, no período de 20 anos, as espécies Nyctinomops macrotis (Gray, 1840), T. brasiliensis, H. velatus e M. nigricans, corresponderam a aproximadamente 80% do total de 34 morcegos positivos para raiva. Dentre as espécies da família Phyllostomidae, apenas A. lituratus e G. soricina apresentaram positividade para o vírus rábico. Segundo os dados dos CCZs, os morcegos molossídeos são os mais envolvidos nos adentramentos em edificações e, portanto, representam risco em potencial para os seus moradores. Molossus molossus é a espécie mais frequente nos adentramentos do DF e SP, no entanto, na cidade paulista (CCZ-SP), no período de 1988 a 2008, foram analisados 1.524 animais dessa espécie e somente um indivíduo apresentou resultado positivo para raiva, com um índice de positividade de 0,06%. No Paraná, no período de 2004 a 2008, as espécies mais encaminhadas pelos CCZs ao Laboratório Central do Estado (LACEN) foram M. molossus, M. rufus e A. lituratus, sendo a última com maior número de indivíduos positivos para a raiva. Ao contrário das localidades citadas anteriormente, T. brasiliensis é a espécie mais comum em Porto Alegre e vem obtendo a maior prevalência de positividade para raiva em área urbana. No Rio Grande do Sul, de janeiro de 2007 a outubro de 2009, 685 morcegos foram enviados para o diagnóstico de raiva (IPVDF/FEPAGRO), dos quais, 22 indivíduos de seis espécies (T. brasiliensis, M. molossus, M. nigricans, H. velatus, E. furinalis e A. lituratus) foram positivos, provenientes de 10 municípios, obtendo-se o índice de positividade de 0,03%. No Brasil, as amostras enviadas estão tendenciosas. Prevalecem amostras de morcegos frugívoros, nectarívoros e insetívoros em relação à espécie hematófaga Desmodus rotundus, cuja coleta depende das Secretarias de Agricultura Estaduais. Assim, nos últimos dois anos, os

morcegos insetívoros vêm apresentando altos índices de positividade em relação à baixa positividade relacionada à D. rotundus, embora existam surtos de raiva herbívora no País, transmitida por morcegos hematófagos, comprovados pelos exames laboratoriais de bovinos e equinos. Os quirópteros são suscetíveis a infecção fúngica denominada Histoplasmose, pois desenvolvem e participam do ciclo epidemiológico desta micose sistêmica (Menges et al., 1967). Holff & Bigler (1981) demonstraram que algumas espécies de morcegos estavam presentes no ciclo do Histoplasma capsulatum como disseminadores ativos do microorganismo no ambiente. Contudo, não significava que tinham histoplasmose, ou seja, que eram capazes de atuar como disseminadores. É importante enfatizar que, no país, frequentemente os seres humanos adquirem a doença em ambientes naturais como cavernas devido a ausência de uso dos equipamentos de proteção individuais. Atualmente estão sendo realizadas pesquisas em São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso para avaliar a importância dos morcegos na dinâmica da transmissão da histoplasmose em áreas urbanas. O acúmulo de fezes nos abrigos, com temperaturas variando entre 22 ºC e 40 ºC e umidade entre 67% e 87%, favorece o crescimento do H. capsulatum e do Cryptococcus neoformans. Esta situação pode estar associada às espécies que apresentam maior fidelidade ao abrigo e ao local de pouso, resultando em maior acúmulo de fezes, em geral, secas. No Mato Grosso, H. capsulatum foi mais prevalente em M. molossus, com índice de positividade de 30% (Projeto Coinfecção Histoplasma capsultatum e Pneumocystis sp. em quirópteros (UFMT, UFRGS, INSTITUTO SAUVER, INDEA/MT, SES/MT)). As espécies envolvidas em São Paulo são P. hastatus, N. laticaudatus, M. molossus, M. rufus, T. brasiliensis e Noctilio albiventris Desmarest, 1818 (Com. Pess. M.A.G. Dias) e, no Rio Grande do Sul, T. brasiliensis, M. molossus, A. fimbriatus e D. rotundus. Embora tenha se constatado a presença de H. capsulatum em pulmões, fígado e intestino, as fezes coletadas em abrigos, para T. brasiliensis e M. molussus, foram negativas. Isso significa que os telhados não oferecem boas condições para proliferação do fungo, já que atingem temperaturas no verão, de até 72 ºC. Atualmente, outro fungo foi detectado em pulmões de morcegos, o Pneumocystis sp., fungo oportunista, o qual torna-se patogênico, desenvolvendo pneumonia intersticial difusa. A pneumocistose não é considerada zoonose, pois o

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fungo é espécie-específica. Entre 2007-2009, foi diagnosticada em 16 espécies de morcegos de áreas urbanas dos estados do Mato Grosso e do Rio Grande do Sul, mostrando-se prevalente em T. brasiliensis, D. rotundus, N. laticaudatus, M. molossus, A. fimbriatus, S. lilium, M. levis e Diphylla ecaudata (Spix, 1823) apresentando um índice de positividade de 21,6% (CavalliniSanches et al., 2009). Em São Paulo e demais cidades, os morcegos são, possivelmente, o menor dos problemas de saúde pública, quando comparados, por exemplo, aos roedores sinantrópicos e mosquitos como Aedes sp., nos quais todos os anos são notificados milhares de casos de leptospirose e dengue, respectivamente. Conforme SES/SP (2005) a incidência de dengue tem variado de 0,12 a 137,3 casos por 100.000 habitantes. No caso da leptospirose, Ribeiro (2006) informa a ocorrência de 1,95 a 2,72 casos por 100.000 habitantes. A expectativa é que, com o aumento de informações, exista maior suporte aos programas de controle da raiva urbana com campanhas eficientes de vacinação animal e monitoramento das espécies de morcegos potencialmente envolvidas nas diferentes zoonoses vinculadas a quirópteros.

presença de quirópteros em telhados, a maioria dos moradores procura soluções. Alguns contratam firmas de controle de pragas (Pol et al., 1998); outros fazem uso de seus próprios métodos, utilizando produtos químicos líquidos, gases ou na forma gel, ou ainda vedando de qualquer maneira a abertura dos abrigos. Poucos procuram soluções profissionais. Neste sentido, a orientação mais empregada é realizar a vedação da estrutura da edificação, após o desalojamento da colônia de morcegos, ou o deslocamento sazonal das espécies. Essa orientação, na verdade, não é devidamente monitorada. Brigham et al. (1987) acompanharam a vedação de um abrigo de Eptesicus fuscus (Beauvois, 1796), no Canadá, e verificaram que a colônia se desloca pouco, do abrigo original para o novo, em média 55 m na cidade e 160 m na área rural. Observaram ainda que, persistindo aberturas na estrutura da edificação, os morcegos retornam ao abrigo, devido à fidelidade ao local. Estes dados demonstram que, a retirada dos morcegos, mesmo sendo a colônia inteira, com posterior soltura, não se mostra eficiente. Para M. molossus, em Brasília/DF, foi registrado o retorno ao abrigo após soltura a 10 km do mesmo. Essa mesma colônia, contendo 32 indivíduos, foi monitorada ao longo de seis anos e verificou-se que uma fêmea e um macho utilizaram o mesmo abrigo (telhado) durante 52 e 40 meses, respectivamente (Bredt, A e Uieda, W., Com. Pess.). Outras duas espécies apresentaram mesma característica, porém em ambiente natural. M. M. Guimarães (Obs. Pess.) acompanhou nove indivíduos de Cynomops abrasus (Temminck, 1827) que retornaram ao abrigo (oco de árvore) do qual haviam sido retirados após soltura a cerca de 45 km de distância; C. planirostris, que também habita em oco de árvore, foi reocupado pelos cinco indivíduos que foram soltos a 20 km de distância. No Rio Grande do Sul, um indivíduo de M. molossus removido de seu abrigo e solto a 170 km de distância, retornou ao mesmo; contudo, não foi possível averiguar o tempo exato desse deslocamento. Desalojar morcegos de seus abrigos é um desafio para os pesquisadores, porque pouco ou nada é conhecido sobre o comportamento das colônias de diversas espécies após este procedimento. Em Brasília/DF, acompanhou-se a vedação de uma junta de dilatação de um prédio de seis andares, que abrigava uma colônia com cerca de 700 N. laticaudatus. Nos dois a três dias seguintes à vedação, os morcegos permaneceram nas placas verticais de concreto próximas à junta de dilatação e, em seguida, desapareceram. Vinte e um dias após, moradores de um apartamento do 5º

Fidelidade ao Abrigo, Deslocamento e Desalojamento Os abrigos representam um fator essencial na vida dos morcegos, uma vez que são utilizados para reprodução e criação dos seus filhotes, promoverem interações sociais e digestão de alimento (Kunz, 1982). Para tanto, os abrigos devem oferecer condições de proteção contra o clima adverso e os predadores (Kunz, 1982). A falta de conhecimento associado à inexistência de planos de manejo eficientes em áreas urbanas pode gerar consequências desastrosas para as colônias bem como para o próprio homem urbano. As construtoras responsáveis pela manutenção das edificações realizam reformas e, sem uma avaliação prévia, vedam estruturas que abrigam morcegos. Em Brasília/DF, por exemplo, realizaram a vedação de uma junta de dilatação em um prédio de seis andares e os morcegos, não podendo sair pela abertura normal, tentaram escapar pelo “bocal das lâmpadas” dos banheiros dos apartamentos, que faziam conexão com a estrutura vedada. No Sul e Sudeste, não é raro vedarem telhados e juntas de dilatação entre prédios, matando todos os morcegos, e, posteriormente, o odor de animais putrefatos permanece por meses, incomodando mais os moradores do que se os mesmos estivessem vivos. Em casos de adentramentos nas residências e

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e 6º andar de um prédio residencial, situado a 820 m do prédio vedado, registraram a ocorrência de adentramento, em uma mesma noite, de 18 e 6 N. laticaudatus, respectivamente. Aproximadamente um ano depois, um macho jovem desta espécie, positivo para raiva, adentrou um apartamento do 6º andar de um prédio residencial, situado a cerca de 2 km do prédio vedado. Outra situação interessante, ocorrida na mesma cidade, foi o desalojamento de uma colônia de N. laticaudatus, em consequência de um incêndio (Bofill et al. 2006b). Não se soube estimar o tamanho da colônia que residia no último andar do prédio público incendiado. Segundo os funcionários locais, aproximadamente duas horas após o início do incêndio, observou-se uma “nuvem” de morcegos abandonando o prédio em chamas. Uma parte adentrou o prédio vizinho e a outra caiu na via pública, onde foi possível coletar 37 indivíduos parcialmente queimados ou atropelados, que foram submetidos ao exame laboratorial para raiva. Nenhum destes morcegos apresentou resultado positivo para raiva. Após duas semanas, não foram mais observados morcegos no prédio vizinho ao do incêndio. No entanto, cerca de 70 dias após o evento, foi encontrada uma fêmea N. laticaudatus, adulta, com raiva, no chão de um prédio público distante 4 km do prédio incendiado. Para Porto Alegre/RS, os morcegos desalojados tendem a procurar o local mais próximo à procura de refúgio. Por exemplo, em um prédio próximo ao centro de Porto Alegre que possuía uma colônia de T. brasiliensis no telhado, foi utilizado produto tóxico para desalojá-los, em pleno verão, quando há o auge do número de indivíduos, especialmente pela presença de jovens recém-recrutados. Alguns dias depois, a residente de um dos apartamentos do mesmo prédio, que havia viajado e deixado a persiana e o vidro de uma das janelas semi-aberta, encontrou vários morcegos no interior de seu apartamento, provavelmente, provenientes do telhado do prédio. Em geral, o prédio ao lado e da frente são os mais procurados ou mesmo até 3-4 km de distância do abrigo de origem. A mudança de abrigo, provocada por fatores como, vedação, incêndio, variações climáticas, associada ao tempo decorrido no encontro de um novo abrigo, pode causar estresse físico em alguns morcegos. Assim, o contato corporal de morcegos desalojados da colônia original com indivíduos de outras colônias poderá aumentar as chances de transmissão da raiva (Bofill et al. 2006a). Além disso, Calisher et al. (2006), afirmam que não existem razões para que morcegos sejam diferentes de outras espécies de mamíferos, entre

eles, o homem, pois o sistema imunológico sofre o mesmo estresse que os humanos. Mas será que desalojar é a melhor solução? Informações prestadas por Thomas Kunz e Gary McCracken (Com. Pess.), demonstram que há locais onde se pode e deve manter os morcegos em telhados. As condições para isso são telhados grandes em altura e extensão e que não tenham contato físico com os moradores. Nestes abrigos, há possibilidade de se fazer estudos de saúde animal, além de fomentar estudos comportamentais e biológicos. Ao desalojar os animais de seus abrigos diurnos, o pesquisador ou a comunidade estará repassando o problema ao seu vizinho e igualmente dispersando zoonoses, se houverem naquela colônia. Importância econômica e ecológica dos morcegos no meio urbano Certamente, as distintas espécies de morcegos têm importante papel nos ambientes urbanos. Existem alguns subsídios para valorar os serviços ecológicos prestados gratuitamente pelos morcegos, tais como polinização, dispersão de sementes e consumo de insetos, como demonstrado nos estudos de Fleming (1982), Sazima et al. (1994), Taddei (1996), Harmani et al. (1996) e Cleveland et al. (2006). Quanto à importância ecológica e ambiental na área urbana, os insetívoros, em especial, desempenham papel fundamental no controle de insetos. A ação destes animais é crucial para minimizar o transtorno causado por dípteros como Culex sp., Mansonia sp., Aedes sp. e outros. Um exemplo proveniente do estado de São Paulo é o das regiões próximas ao rio Pinheiros e às represas Guarapiranga e Billings, grandes criadouros de mosquitos. Nestas áreas, os morcegos insetívoros mais comuns são das espécies M. molossus e M. nigricans. Este último, possivelmente, realiza o controle destes mosquitos, pois podem caçar, a poucos metros do chão ou junto à lâmina d’água. Há morcegos fitófagos que são registrados apenas na área periurbana das cidades estudadas, tais como Pygoderma bilabiatum (Wagner, 1843), Anoura geoffroyi Gray, 1838 e A. caudifer, assumindo importante papel na manutenção de fragmentos de matas secundárias e, por vezes, na regeneração dos mesmos (Sodré & Esbérard, 2008; Pacheco et al., 2008; Uieda et al., 2008; Bianconi et al., 2008). Outros como S. lilium, C. perspicillata e A. fimbriatus podem ocorrer ora na área urbana ora periurbana conforme a cidade. Deve-se ressaltar que as zonas periurbanas são verdadeiros refúgios para a quiropterofauna que, raramente, se desloca para áreas altamente urbanizadas.

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Impactos da Expansão Urbana nas Populações de Morcegos A ampliação e o adensamento urbano, o desmatamento, a expansão da agricultura e pecuária e a implantação de empreendimentos (rodovias, hidrelétricas, mineradoras, entre outros), contribuem para o deslocamento não natural dos morcegos ou mesmo, para a sua extinção. Neste novo cenário, o homem soma novas doenças ao entrar em contato com a fauna silvestre (leishmaniose visceral e tegumentar, febre amarela, febre maculosa, doença de chagas, malária, hantavirose, etc.), além daquelas habituais, adquiridas na convivência desequilibrada com a fauna sinantrópica (leptospirose, dengue, raiva). Toneladas de vetoricidas, inseticidas, carrapaticidas e demais praguicidas são aplicados indiscriminadamente nos ambientes para matar os “inimigos” e, certamente, estão contribuindo para a redução das populações de morcegos (Geluso et al., 1976; Kunz et al., 1977; Clark Jr., 1988; Cleveland et al., 2006, Betke et al., 2008; Jefferies, 2009), como ainda, influenciando no desenvolvimento da raiva no grupo (Carneiro et al., 2009). No Distrito Federal, com a implantação do AHE (Aproveitamento Hidrelétrico) Queimado, houve o aumento de morcegos ocupando as construções humanas na área rural da bacia do Rio Preto, principalmente, por G. soricina, C. perspicillata e D. rotundus. Dados de Uieda et al. (2008) mostram que A. lituratus é visto no Distrito Federal bebendo água com óleo em postos de gasolina. Em Cuiabá/MT, foi observada A. lituratus bebendo água de esgoto, no centro de uma das ruas mais movimentadas dessa capital brasileira (Com. Pess. Susi M. Pacheco e Edna M. Cavallini-Sanches). Tais informações são preocupantes em termos de saúde animal. Atualmente, atribui-se a maior divulgação do trabalho realizado pelos CCZs ao aumento de chamadas pela população que solicita a retirada de animais encontrados em situações não habituais (caídos no solo, interior de residências e outras situações adversas ao comportamento dos morcegos). Igualmente, palestras e simpósios realizados para a comunidade são fatores que minimizam o preconceito em relação ao grupo e auxiliam no conhecimento dos hábitos das diferentes espécies. Provavelmente, por essas razões, associadas às constantes alterações ambientais que vêm ocorrendo nos remanescentes de matas na periferia do município de São Paulo, o CCZ-SP já contabilizou mais de 40 espécies de morcegos, considerando que houve aumento na diversidade de quirópteros registrados, nos últimos

20 anos. Status de Conhecimento sobre Morcegos em Áreas Urbanas Das 47 espécies avaliadas no presente estudo, apenas quatro (N= 4) foram consideradas comuns para o Distrito Federal, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Dentre as espécies consideradas raras, há 26 espécies, das quais podem ser citadas para a área urbana: Eumops maurus (Thomas, 1901), N. aurispinosus (Peale, 1848), Phyllostomus discolor Wagner, 1843, P. hastatus, C. abrasus e Diclidurus scutatus Peters, 1869 (Tabela 1). Pouco comuns e comuns há cinco espécies, destacando-se A. lituratus, M. molossus, T. brasiliensis. Outras como P. lineatus e M. rufus, por exemplo, foram consideradas comuns, pouco comuns e raras nas diferentes localidades (Tabela 1). Desmodus rotundus, embora muito comum e frequente em todas as regiões brasileiras, tem ocorrência ocasional em áreas urbanas. Este resultado permite inferir que ainda não é possível estabelecer um status de conservação para espécies nas cidades, pois há deficiências no conhecimento do tamanho de populações, bem como, sobre os tipos de abrigos utilizados por certas espécies (Tabela 1). Além disso, esse status muitas vezes é distinto para cada centro urbano, já que o índice de frequencia na ocorrência das espécies difere relativamente entre as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste (Eumops auripendulus (Shaw, 1800) que é rara no Paraná e Distrito Federal e pouco comum em São Paulo). Um exemplo é o que ocorre no Paraná. Espécies como Mimon bennettii (Gray, 1838), Artibeus obscurus (Shinz, 1821), Eumops bonariensis (Peters, 1874) e Eumops hansae Sanborn, 1932, Molossops temminckii (Burmeister, 1854), Eptesicus diminutus Osgood, 1915 e Myotis ruber (E. Geoffroy, 1806) são raras em ambiente periurbano e estão registradas apenas para este Estado. Outras como Artibeus planirostris Spix, 1823 e Eumops perotis (Schinz, 1821) são raras para São Paulo, Paraná e Distrito Federal. Conforme a última revisão da lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção no Paraná e no Rio Grande do Sul, em 2004 e 2003, respectivamente, aproximadamente 15 espécies, encontradas em área urbana, apresentavam dados considerados deficientes: as espécies do gênero Eumops, C. abrasus, M. rufus, M. levis, N. aurispinosus, N. laticaudatus, P. lineatus, P. nasutus (Pacheco & Freitas, 2003; Mikich & Bérnils, 2004). Estas e outras espécies, graças ao esforço de captura e de estudos inclusive de impacto ambiental, tem tido suas áreas de ocorrência ampliadas, conduzindo a novas

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informações (Fabián et al., 2006; Miranda et al., 2006; Weber et al., 2006, 2007; Pacheco et al., 2007; Quintela et al., 2008; Bernardi et al., 2009). Nos estados da Região Sul, em especial em Taquara e Porto Alegre um indivíduo de N. leporinus foi encontrado em área urbana. Esta constatação pode ser um indício de que seus abrigos, em zona periurbana e fragmentos de mata, estão desaparecendo e estão recorrendo a construções humanas, ou a arborização de parques, jardins e lagos artificiais nos centros urbanos. Outro exemplo é a retirada de morcegos de telhados, sem critérios e de forma incorreta, que pode estar afetando a densidade populacional de espécies como T. brasiliensis em Porto Alegre. Nos últimos oito anos, sete abrigos com agrupamentos superiores a 1.200 morcegos sofreram remoção de animais e estes não retornaram aos mesmos. Porém, recentemente em 2010, um telhado foi investigado a cerca de 3 km desses locais e encontrado um agrupamento com cerca de 10.000 T. brasiliensis. Este fato está sendo investigado e infere-se que sejam grupos de diversas colônias desalojadas. Ainda são necessários estudos para comprovar efetivamente essa redução populacional e essa aglomeração de indivíduos em poucos locais. Enfatiza-se que o município de São Paulo registra 24% das espécies de morcegos que ocorrem no Brasil e 62% das representadas para o Estado de São Paulo, número considerado elevado visto que é uma região altamente antropizada. Essa constatação indica a necessidade de realização de monitoramentos e de planejamento de metas para conservação de quirópteros. Com relação ao estado do Paraná, nos últimos 10 anos, os dados referentes aos espécimes capturados e encaminhados às regionais de saúde são provenientes de diversos municípios, em geral, fornecidos pela comunidade. Não existem capturas, nem planos de desalojamento ou monitoramentos que permitam inferir o tamanho das colônias. Existem métodos para se estabelecer o status de conservação das espécies em áreas urbanas. Não obstante, algumas questões ainda devem ser respondidas, como a confirmação e reavaliação das espécies que estão depositadas em coleções científicas ou em instituições de ensino e mesmo órgãos de saúde e da agricultura. Há muito material armazenado incorretamente, desperdiçado ou descartado. Esforços em uma identificação mais criteriosa levariam ao registro de um número maior de espécies em áreas urbanas. Morcegos ameaçados de extinção registrados em áreas urbanas Com base nas listas de espécies ameaçadas

regionais, nacional e internacional, verifica-se que algumas espécies possam correr risco de extinção em meio urbano, embora em categoria mais amena de ameaça (Vulnerável). Um exemplo é o registro de E. maurus na zona urbana de São Paulo, próximo ao aeroporto de Congonhas, dentro de um apartamento (Sodré et al., 2008). Os outros registros para esta espécie no Brasil são os estados de Goiás e Tocantins em área natural e com pouca alteração antrópica. A espécie encontra-se na categoria de Vulnerável pela IUCN Red List of Threatened Species (2007) e atualmente (IUCN, 2009) como Dado Deficiente. Igualmente, Chiroderma doriae Thomas, 1891 ocupava a mesma categoria de Vulnerável (IUCN, 2007) e, também teve seu status modificado para Baixo Risco (LC) (IUCN, 2009), foi encontrado caído, na região urbanizada de Jundiaí, município vizinho à cidade de São Paulo. Outro exemplo, Lonchophylla dekeyseri Taddei, Vizotto & Sazima 1983 (morceguinho do Cerrado), listada no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção como Vulnerável (VU – A3c) foi capturada em Brasília próximo a O. pyramidale (pau de balsa) no campus da UnB – Universidade de Brasília. Plano de ação para espécies urbanas Em países da Europa ou Estados Unidos há dados específicos para planos de ação referentes a áreas urbanas, conservação de espécies ou mesmo a nível de migração (Waite, 2006). No Brasil, ainda há necessidade de mobilização. Verifica-se que há impactos que podem estar facilitando a ocorrência e o aumento de espécies no meio urbano. Um dos principais fatores é a fragmentação de florestas, a descaracterização de matas ciliares, a expansão agrícola (biocombustíveis e soja) e urbana, em áreas antes situadas em zonas periurbanas ou rurais. A exploração imobiliária é fator de risco para morcegos, bem como para outros vertebrados e invertebrados terrestres. Tais conflitos já eram observados no final do século XX, nos Estados Unidos (Pierson & Racey, 1998). Estudos que envolvem anilhamento, deslocamento, migração ou dispersão de espécies nas cidades, como de Esbérard (2000, 2003) devem ter continuidade porque possibilitam os rumos que devem ser incrementados para os próximos meses e anos. Destas orientações depende a informação do porquê da flutuação populacional em alguns estados brasileiros em determinadas épocas do ano. Sazonalidade, movimentos migratórios ou deslocamentos curtos de algumas dezenas de quilômetros, ou

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simplesmente uma dispersão temporária? O emprego de marcações adequadas, com anilhas ou colares não apenas auxilia nos trabalhos de biologia, fisiologia, comportamento e deslocamento, mas igualmente favorece o reconhecimento das áreas que devem ter bloqueio vacinal, em caso de surtos rábicos. Auxilia, ainda, ao se encontrar morcegos com resultados de testes laboratoriais positivos para determinadas doenças, permite estimar o número de indivíduos doentes e monitorar colônias, bairros e moradores possibilitando melhores resultados para controle e tratamento dos mesmos. Desta forma, questiona-se: O que é necessário fazer em termos de espécies urbanas no Brasil? Quais são as metas a serem alcançadas? O plano de ação para morcegos urbanos visa obter as respostas, através de: 1) Estimativa de abundância de populações de quirópteros em áreas urbanas. 2) Monitoramentos a curto, médio e longo prazo dessas populações. Nas cidades, enfoque deste artigo, já é realizado o monitoramento de curto prazo, porém com metodologias distintas. Portanto, há necessidade de padronização de métodos e almejar os monitoramentos de médio e longo prazo, a fim de obter dados concretos sobre as espécies urbanas. 3) Dados sobre comportamento e biologia de diversas espécies são encontrados na literatura como em T. brasiliensis, M. molossus, D. rotundus, e especialmente com dieta em C. perspicillata, A. lituratus, P. lineatus. Porém, estas espécies são abundantes em determinadas regiões e suas populações de fácil acesso. Portanto, incrementar estudos ecoetobiológicos deve ser um objetivo prioritário para os próximos cinco anos. 4) Estudos que abordam deslocamento, migração e dispersão ainda são incipientes no Brasil. O país não faz parte da convenção internacional de espécies migratórias e, apenas dados preliminares indicam que algumas espécies tenham deslocamento sazonal evidente e dispersão por regiões como T. brasiliensis e D. rotundus (Obs. Pess. S. Pacheco, Marques, 2003; Trajano, 2003). Contudo, há indícios que demonstram que S. lilium, L. blossevillii e M. levis apresentem comportamento migratório ou de dispersão mesmo que seja vertical. Incentivar estudos de populações com a finalidade de averiguar a migração ou os deslocamentos são fundamentais para estudos reprodutivos e mesmo em dispersão de zoonoses. 5) O Centro de Estudos e Anilhamento de Morcegos (CEAM) necessita ser implementado, pois de uma efetiva marcação que não cause injúrias aos quirópteros dependem os estudos de dinâmica populacional, migração e deslocamento,

bem como será útil nos estudos epidemiológicos e de monitoramento de colônias. 6) Os estudos epidemiológicos são a base para a conservação de espécies de quirópteros. A população humana não os considera carismáticos e tende a relacionar qualquer morcego com vampirismo e a diversas doenças. Estudando a ecoepidemiologia de diversas zoonoses, será possível desmistificar a idéia do “morcego transmissor de doenças” e, no caso de alta incidência de algum mal, fazer o manejo correto. No Rio Grande do Sul, estudos epidemiológicos estão sendo realizados desde 2007 e vem trazendo novas informações sobre a relação habitatmorcego-homem. Até 2015, haverá informações publicadas pelo menos para 10 espécies em áreas urbanas. 7) Aprimoramento de bancos de dados estaduais, regionais e nacionais. 8) Elaboração de programas de divulgação e de educação ambiental mais efetivos, contemplando a população em geral, bem como, profissionais afins (biólogos, veterinários, arquitetos, engenheiros, paisagistas, viveiristas, etc.). 9) Atuação junto a Secretaria de Obras e de Posturas, CREAs e demais órgãos responsáveis pela normatização das edificações, no sentido de minimizar potenciais abrigos de morcegos. 10) A construção de abrigos artificiais, a exemplo dos parques urbanos de Londres e da Universidade da Flórida (com 5.000 T. brasiliensis em 1991 a 60.000 em 1997), objetivando estudos científicos, turismo, educação ambiental (Tuttle, 1988), podem representar uma excelente estratégia conservacionista. Em Porto Alegre, há um projeto em andamento para colocação de casas para morcegos (bat houses) em praças e áreas verdes. Esta iniciativa é uma oportunidade de avaliar o convívio dos morcegos em relação à população humana, sem causar danos ao meio ambiente. 11) Incentivar o uso de espécies vegetais fornecedoras de alimento para morcegos fitófagos nos planos de recuperação de áreas degradadas. O Distrito Federal vem produzindo e plantando espécies nativas do cerrado na arborização urbana. Das 75 espécies vegetais, 20% apresentam potencial para a quiropterofauna. Contudo, essas espécies devem ser plantadas em locais onde não haja movimentação de pessoas, especialmente durante a noite, para não ser mais um motivo de conflito. 12) Contabilizar os benefícios promovidos pelos morcegos insetívoros em ambientes urbanos, confrontando dados relativos a dieta dos morcegos e os gastos realizados pelo Ministério da Saúde com campanhas de “combate” a pragas e vetores de doenças (dengue, febre amarela, leishmaniose,

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malária, etc.).

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Consideração final Em contraste com a riqueza de espécies de morcegos existente no país, ainda há insuficiência de estudos nas áreas urbanas. Assim, é imprescindível o direcionamento de pesquisas sobre a fauna de quirópteros nas diferentes regiões. Os morcegos que ocorrem em ambientes urbanos estão refletindo a diversidade existente nas diversas regiões brasileiras. Quanto mais tropical o ambiente, maior a riqueza de espécies e menor a dominância de poucas espécies sobre as outras. Por outro lado, regiões mais ao sul, com clima subtropical, demonstram a ocorrência de um menor número de espécies e a forte dominância de algumas. Em áreas urbanas, os morcegos são considerados pragas domésticas e identificados no mesmo nível de baratas, cupins ou mesmo roedores. Tal fato evidencia a importância da Educação Ambiental com relação a estes mamíferos, mostrando seu papel ambiental, em termos de saúde e economia nas cidades. O plano de conservação de espécies urbanas é importante não apenas para manter o equilíbrio da teia alimentar, mas igualmente para auxiliar no manejo de espécies nas cidades e solucionar problemas de saúde pública que possam envolver quirópteros. Compreendendo a dieta, o comportamento social, a dispersão ou deslocamento sazonal, as possibilidades de coabitação entre espécies, relação predador-presa, torna-se mais fácil a convivência entre a fauna urbana e o homem. Como próximas metas, além de implantar o plano e discuti-lo com a comunidade científica, será informar o real status de conservação das espécies em áreas antropizadas. Outro desafio é informar a população leiga a respeito da importância dos morcegos para o equilíbrio ambiental, tentando remover as idéias errôneas a respeito da imagem desses animais. Agradecimentos: A equipe de técnicos dos CCZs de Brasília/DF, São Paulo/SP e Porto Alegre/RS que prontamente auxiliam nas pesquisas e monitoramentos de quirópteros. À equipe do LACEN, Curitiba/PR que auxiliou nos dados inseridos neste trabalho. À equipe do CEVS/SES/RS, SMAM/PrefPOA/RS, IPVDF/SCT/RS, estagiários, alunos e colegas que participaram destas pesquisas.

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