MORGADO, Fernando. Colômbia: um novo polo internacional de TV. Observatório da Imprensa, São Paulo, n. 630, 2011. Disponível em: <http://observatoriodaimprensa.com.br/monitor-da-imprensa/um-novo-polo-internacional-de-tv>.

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Um novo polo internacional de TV Por Fernando Morgado em 22/02/2011 na edição 630 Tweetar

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A televisão latino-americana é mundialmente reconhecida pelas características muito particulares das suas produções, que são originalmente criadas para um público cujo gosto é igualmente particular. Os programas de auditório e as telenovelas são dois grandes exemplos de gêneros que encontraram na América Latina uma terra fértil para se desenvolverem, tendo Brasil, México e Argentina como tradicionais líderes. A Venezuela também chegou a ocupar um papel de maior relevância neste cenário, mas a sua atual conjuntura política e econômica acabou prejudicando muito o mercado audiovisual daquele país. Das duas maiores produtoras de TV existentes em Caracas, uma – RCTV – perdeu sua rede de emissoras, e a outra – Venevisión – viu-se obrigada a transferir praticamente todas as suas telenovelas para Miami, onde os contatos para vendas internacionais são facilitados e os custos de produção são menores. Menores custos de produção e estabilidade política foram justamente alguns dos fatores que ⏌�zeram os maiores grupos internacionais de comunicação voltarem seus olhos para um país que, até o ⏌�nal dos anos 1990, não possuía tradição alguma neste setor: a Colômbia. Do monopólio estatal até a tardia abertura ao capital privado já se passaram quase 60 anos de uma história que, de tão inusitada, ajudou a criar condições únicas que transformaram Bogotá no novo polo latino da indústria televisiva. Monopólio estatal Essa história começa em 1953, quando uma junta militar assumiu o governo colombiano, nomeando o general Gustavo Rojas Pinilla como presidente. Ele havia tido o primeiro contato com a TV em 1936, na Alemanha, e desde então desejava trazer este meio para o seu país. Logo que tomou posse, decidiu transformar este projeto em realidade. Até a data de inauguração já estava marcada: 13 de junho de 1954, dia em que as forças armadas completariam um ano no poder. Para que tudo estivesse pronto a tempo, o Estado não mediu esforços: 10 milhões de pesos – uma soma altíssima para a época – foram liberados pelo Ministério da Fazenda para a compra de equipamentos. Técnicos de rádio foram formados para trabalhar em televisão, ao mesmo tempo em que diversos pro⏌�ssionais estrangeiros – cubanos, principalmente – foram contratados para a montagem dos primeiros programas que, improvisadamente, eram produzidos no sótão da Biblioteca Nacional, em Bogotá. Apenas quatrocentas famílias colombianas tiveram condições ⏌�nanceiras de comprar os caros aparelhos de TV. Para ampliar rapidamente a audiência, mil e quinhentos receptores foram importados pelo governo e revendidos através de linhas de crédito especiais concedidas pelo Banco Popular. Mesmo com todas as limitações técnicas e artísticas, conseguiu-se inaugurar a televisão colombiana dentro do prazo estabelecido e com uma imagem cuja nitidez foi muito elogiada pela imprensa da época. A programação de estreia – publicada na forma de comunicado o⏌�cial na primeira página do jornal El Tiempo de 13/6/1954 – teve duração de 3h45min e pode ser assistida através do canal 8 de Bogotá e de uma repetidora em Manizales – canal 10. Informação e entretenimento No início, a estação – que viria a se chamar Televisora Nacional e, mais tarde, Cadena Uno – era utilizada apenas para difusão de programas culturais e mensagens de interesse do governo da época. Aos poucos, a grade foi sendo ampliada e, em 1956, algumas faixas horárias começaram a ser arrendadas para produtoras independentes privadas, chamadas de programadoras. Essa foi a maneira encontrada pelo Estado de obter mais receita sem gerar novos custos e ainda oferecer programas mais atraentes ao grande público. As programadoras ganhavam dinheiro com a venda dos intervalos comerciais das atrações que levavam ao ar nas suas respectivas faixas. Era como se existissem várias emissoras de TV diferentes num mesmo canal. Esses primeiros contratos não foram su⏌�cientes para evitar que a televisão colombiana entrasse nos anos 1960 em gravíssima situação ⏌�nanceira. Para resolver a questão, duas medidas foram tomadas: (1) criou-se um novo órgão para gerir a radiodifusão colombiana, a Inravisión – Instituto Nacional de Radio y Televisión; (2) toda a programação foi fatiada e entregue nas mãos dos

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Nacional de Radio y Televisión; (2) toda a programação foi fatiada e entregue nas mãos dos programadores. Com isso, nascia assim um sistema misto de gestão de programação – ao mesmo tempo público e privado – único no mundo. Foi a partir desta época que os colombianos passaram a se relacionar de vez com várias programadoras cujos nomes se tornariam referência em informação e entretenimento durante as décadas seguintes: Punch, RTI, Producciones JES, Cinevision, ProyectamosTV, InterVisión, Promec, Programar, Datos y Mensages, Coestrellas, Colombiana de Televisión, Tevecine, Televideo, Caracol, RCN, entre outras. Vínculo com gigantes industriais O segundo canal de TV na Colômbia e o primeiro com capital 100% privado nasceria somente em 1966. Tratava-se da Teletigre, canal 9 de Bogotá, criada pela política Consuelo de Montejo em parceria com a rede estadunidense ABC. Por problemas ⏌�nanceiros, a emissora durou apenas três anos e logo foi encampada pela Inravisión, que a transformou na Cadena Dos e implantou o mesmo modelo misto de gestão adotado na estação pioneira. Os anos 1970 foram marcados pela chegada das cores à televisão, implantadas gradualmente entre 1974 e 1979. Os anos 1980, por sua vez, ⏌�caram na história como o período em que a TV chegou ao interior do país através da instalação de diversas estações regionais: Teleantioquia, Televalle – hoje Telepací⏌�co –, Telecafé, Telecaribe, entre outras. Todo esse processo foi conduzido pela Inravisión em parceria com as programadoras – em especial a Televideo, que não apenas geriu parte da programação como também foi responsável pelo projeto dos estúdios de algumas destes novos canais. Entre o ⏌�nal da década de 1980 e a primeira metade dos anos 1990, o caminho começou a ser aberto para que o capital privado ⏌�ncasse de vez a sua bandeira no topo da televisão colombiana. Primeiro foi através da TV paga, que chegou a Bogotá em 1987 por meio da oferta de quatro canais UHF codi⏌�cados – uma modalidade de serviço que fez muito sucesso na Europa, mas que não chegou a ser tão difundida no Brasil. Depois, com promulgação da Constituição de 1991, previu-se a liberdade de criação de mais meios de comunicação e a fundação de um novo órgão regulador para a televisão. Com isso, quatro anos mais tarde, nascia a CNTV – Comisión Nacional de Televisión. Foi ela a responsável por autorizar o surgimento de dois novos canais comerciais: RCN e Caracol, ambos inauguradas em 10 de julho de 1998. As duas redes privadas colombianas estão vinculadas a gigantes industriais. A Caracol – rede líder de audiência – é controlada por um dos homens mais ricos do mundo: Julio Mario Santo Domingo, cuja família fez fortuna na indústria cervejeira e também controla diversos outros veículos de comunicação, como o jornal El Espectador e a revista Cromos. Já a RCN pertence a Carlos Ardilla Lülle, engenheiro que começou sua atividade empresarial com a fabricação de bebidas não-alcoólicas e logo expandiu sua presença para outros mercados – agroindústria, tecidos, serviços ⏌�nanceiros, plásticos, venda de automóveis, alumínio e futebol (por meio do Atlético Nacional de Medellín). Desvios nos cânones Com todo este suporte econômico, não surpreende o fato da Colômbia ter conseguido marcar sua posição no cenário televisivo internacional logo no primeiro ano de operação das novas emissoras privadas. O divisor de águas desta história foi o lançamento, em 1999, de dos maiores fenômenos da teledramaturgia internacional em todos os tempos: Yo soy Betty, la Fea. Criada por Fernando Gaitán, dirigida por Mario Ribeiro Ferreira e produzida pela RCN, a divertida história de amor entre a secretária Betty e seu chefe Armando Mendoza tornou-se um sucesso imediato não apenas em seu país de origem como também nos mais de cem mercados onde a versão original foi exibida. Além disso, mais de vinte adaptações locais desta trama foram gravadas ao redor do mundo, com destaque para as versões realizadas no México – La Fea Más Bella –, Estados Unidos – Ugly Betty – e, mais recentemente, no Brasil – Bela, a Feia.

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Yo soy Betty, la Fea não foi apenas mais uma novela latina que fez sucesso internacional, assim como tantas outras nos últimos cinquenta anos. Ela trouxe diversas inovações na forma de se criar e produzir teledramaturgia, conforme Arlindo Machado e Marta Lucia Vélez sinalizaram no artigo ‘O quartel das feias’, publicado na edição de agosto de 2008 dos Cadernos de Televisão:

‘A telenovela colombiana Yo Soy Betty, la Fea […] sacudiu um pouco esses esquemas, sobretudo pela introdução de três importantes desvios nos cânones novelescos: primeiro, transformou a telenovela num gênero híbrido, misturando o melodrama com a comédia de situações (sitcom), além de encostar também em outros gêneros televisivos; segundo, modi⏌�cou o estereótipo da mulher na telenovela, fazendo emergir personagens femininos completamente fora do padrão convencional; e terceiro, introduziu na telenovela personagens e situações da vida real, confundindo-se, em alguns momentos, com os formatos jornalísticos, como a reportagem e o documentário.’ Novos investidores O sucesso de Betty acabou por transformar-se num grande cartão de visitas para a Colômbia,

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imprensa acabou se fechando numa bolha informativa deixando o cidadão comum vulnerável à desinformação nas redes sociais. Saiba mais Recomendar

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