MOVIMENTOS SOCIAIS 2.0: histórico e estratégias do ciberativismo do Movimento Xingu Vivo Para Sempre.

May 30, 2017 | Autor: Larissa Saud | Categoria: Amazonia, Movimentos sociais, Ciberativismo, Belo Monte Dam, xingu vivo
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

LARISSA BRENA DE CARVALHO SANTOS

MOVIMENTOS SOCIAIS 2.0: histórico e estratégias do ciberativismo do Movimento Xingu Vivo Para Sempre.

Belém­PA 2013

LARISSA BRENA DE CARVALHO SANTOS

MOVIMENTOS SOCIAIS 2.0: histórico e estratégias do Movimento Xingu Vivo Para Sempre na Web.

Trabalho   de   Conclusão   de   Curso apresentado   para   obtenção   de   título   de bacharel   em   Comunicação   Social   – Jornalismo   na   Faculdade   de   Comunicação Social,   Universidade   Federal   do   Pará. Orientadora: Rosane Albino Steinbrenner 

Belém­PA 2013

Ao Xingu e às vidas que dele dependem.

AGRADECIMENTOS

Neste momento minha mais profunda gratidão vai para todos e todas que de alguma forma   contribuíram   para   que   este   trabalho   pudesse   ser   concluído.   Agradeço   em especial às experiência, reflexões e pessoas conhecidas ao longo deste processo que se arrasta por quase um ano, mas que tem suas origens muito antes dos  últimos meses. À   minha   orientadora,   Rosane   Steinbrenner,   pelo   incentivo,   apoio   e   dedicação. À  Rosaly Brito, pelas  inspirações,  reflexões  e  “parênteses”  nos   primeiros  anos  de curso,  e  à  Célia   Amorim, que  mesmo sem   saber fez  reviver  em  mim  o  desejo de trabalhar com comunicação quando nos últimos anos a vontade já não existia mais. A todos e todas do Sesc Boulevard, em nome de José Maria Vilhena, Rose, Dona Rosa, Esther, João, Campelo, Edgar, Ravy, Marcinho, Carol, Bruno, Éder, Shuela, Caríssima e Miguel Chikaoka, pela oportunidade e aprendizagem durante o período em que estive com vocês. À   Enecos,   por   me   mostrar   qual   o   lado   do   comunicador   nesta   sociedade. À Joice, Moenah, Flávia, Moisés, Tomaz, Natássia, Bruno, Fernando, Sávio, João, Yuri, Andreza, e outros tantos amigos que fiz durante esses anos de universidade, com os quais compartilhei sonhos, angústias e cervejas.  À Débora, Naiana, Amanacy, Renato, Abílio, Carla, Adriano, Caio, Kéké, Higor e Amanda,   amigos   de  longa   data  que   contribuíram   e  contribuem   para   que  eu   seja parte do que hoje sou.  Aos amigos e pares mais recentes, Luah, Lanna, Luana, Rafael, Duda, Sabrina, com quais pretendo trabalhar por longos anos.  À   Meyre,   David   e   Tais   Morgado,   por   me   adotarem   como   mais   um   membro   da família.

Agradeço especialmente ao meu companheiro, amigo, co­orientador nas horas vagas e namorado, Cauê Morgado, pela paciência, amor e dedicação em todos os momentos. Ao meu pai, pelo carinho e apoio. Obrigada pelas caronas corridas devido ao meu atraso   característico.   Sem   você   chegaria   sempre   meio   dia   nas   aulas.   À minha mãe, que tenta se fazer presente de todas as formas mesmo estando a um oceano de distância. Agradeço também aos meus familiares de sangue indígena, negro e nordestino, em nome do meu avôhai, Josival, por me ensinar desde cedo o que é enxergar o outro, olhar no olho e dizer “Bom dia”. Se não aprendesse a olhar o outro, certamente este trabalho seria diferente. Agradeço também à minha avó, Altamira, por me adotar como a filha que sempre quis ter ao lado dos seus sete filhos. Obrigada também por sempre dizer “Aqui mesmo não” quando alguma notícia sobre Belo Monte passava na   televisão.   Esta   frase   deve   ter   ficado   na   minha   cabeça   e   me   feito   questionar qualquer   atrocidade   feita   na   cidade   que   leva   o   nome   da   minha   avó. Por fim,  a todos  os  parentes  que  lutam  por uma Amazônia  livre de projetos  que beneficiam apenas os poderosos. A todos vocês, Sawe!

“Do rio que tudo arrasta, diz­se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem”.  Bertolt Brecht

RESUMO

Este  trabalho  é  uma   análise  da   entrada   e atuação  do  Movimento  Xingu   Vivo Para   Sempre   na   Web,   utilizando   como   categorias   o  ciberativismo  e  movimentos sociais.     Como   recorte   temporal   selecionamos   o   período   entre   janeiro  de   2010, entrada do Movimento na web, até novembro de 2013. Adotamos o método indutivo para   analisar as publicações veiculadas nos principais canais de comunicação do Movimento, como site e redes sociais, além de entrevistas. Concluímos que o MXVPS passou   por   três   momentos   diferentes   na   Web,   categorizados   como:  Momento Informativo,   que  vai   da   entrada   do  MXVPS   na   web   até   o  início   das   obras,  onde prevaleceram informações voltadas  à  conscientização sobre os até então possíveis impactos provocados por Belo Monte; Momento das Ações, que vai do início das obras até um encontro realizado pelo Movimento em Altamira, no qual eram mais comuns postagens chamando para ações online e offline; e o Momento Denunciativo, no qual prevaleceram   informações   sobre   greves   e   impactos   da   obra   na   região.   Essas mudanças   de   estratégias   estão   diretamente   ligadas   aos   diferentes   contextos   e avanços   da   obra,   o   que   resultou   na   modificação   de   abordagem   utilizada   pelo Movimento Xingu Vivo durante o período analisado. 

Palavras­chave: Movimentos Sociais, Ciberativismo, Amazônia, Belo Monte, Xingu Vivo.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Fotografia 1 ­ Índia Tuíra passa o facão no rosto do diretor da Eletronorte durante o I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu................................................................  30 Fotografia 2 ­ Encontro que deu origem ao MXVPS..................................................35 Ilustração 1 ­ ISA divulga informações sobre o MXVPS no Twitter.........................40 Gráfico 1 – Acessos nas redes sociais no Brasil de Janeiro de 2009 até Outubro de 2013.................................................................................................................................54 Ilustração 2 ­ Página inicial do site do MXVPS.........................................................64 Tabela 1 ­ Abas, total de publicações,  podem ser observadas em relação às abas do site...................................................................................................................................67 Ilustração 3 ­  Mensagens de apoio no Orkut.............................................................71 Ilustração 4 – Tweet sobre documentos para dúvidas sobre Belo Monte..................73 Ilustração 5 ­ Tweet sobre o custo da eliminação da miséria....................................73 Ilustração 6 ­  Tweet comparativo entre energia eólica e hidrelétrica......................74 Ilustração 7 – MXVPS tira dúvidas online no facebook............................................75 Ilustração 8 ­  Divulgação do Chat Xingu Vivo no site..............................................76 Ilustração 9  – Tweets mostram segunda fase do XMVPS na Web...........................79 Ilustração 10 – Publicações no Facebook sobre atos..................................................79 Ilustração 11 – Banner virtual do tuitaço contra Belo Monte...................................81 Ilustração 12 – Banner de Rita Lee usado em Tuitaço..............................................82 Ilustração 13 – Banner de Chico Mendes utilizado em Tuitaço................................83 Ilustração 14 – Banner de Harry Potter no Tuitaço..................................................83 Ilustração 15  – Banner da Campanha “Belo Monte Com Meu dinheiro Não” para marchas..........................................................................................................................86 Ilustração 16 – Banner “Belo Monte com Meu dinheiro Não” I................................86 Ilustração 17 ­  Banner “Belo Monte com meu dinheiro não” II...............................87 Ilustração 18 – Banner “Belo Monte com meu dinheiro não” Itaú...........................87

Fotografia 4 – Índios e manifestantes plantam pés de açaí em áreas devastadas por Belo Monte......................................................................................................................90 Fotografia 3 – Manifestantes no Xingu+23 reabrem fluxo do Xingu........................90 Fotografia 5 – Intervenção “Pare Belo Monte” na ensecadeira Pimental................91

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................12 1 ANTECEDENTES E CONCEITOS CENTRAIS AO ESTUDO.........................16 1.1   MOVIMENTOS   SOCIAIS:   DA   LUTA   DE   CLASSES   À   REDE   DE MOVIMENTOS SOCIAIS..............................................................................................17 1.2 ESFERA PÚBLICA: MODELOS E CONCEPÇÕES..............................................20 1.3   A   ORIGEM   DO   MXVPS:   TRANSAMAZÔNICA   E   MOBILIZAÇÕES   NA REGIÃO...........................................................................................................................22 1.4   O   EMBATE   SOBRE   BELO   MONTE   E   A   NECESSIDADE   DE   SE   FAZER OUVIR: A ORIGEM DO MXVPS...................................................................................28 1.5   A   CONCENTRAÇÃO   DOS   MEIOS   DE   COMUNICAÇÃO:   DESAFIO PERMANENTE   AO   RECONHECIMENTO   DAS   LUTAS   DOS   MOVIMENTOS SOCIAIS..........................................................................................................................35

2 MXVPS 2.0: AS PRIMEIRAS AÇÕES NAS REDES SOCIAIS..........................38 2.1 AS AUDIÊNCIAS PÚBLICAS E OS PRIMEIROS PASSOS NA WEB................40 2.2 REDES SOCIAIS, REDES DE MOVIMENTOS SOCIAIS E CIBERATIVISMO 48 2.3 ANÁLISE DO SITE DO MXVPS E DE SUAS REDES SOCIAIS.........................52 2.3.1 O Orkut do MXVPS).............................................................................................................54 2.3.2 O Twitter do MXVPS............................................................................................................55 2.3.3 Facebook do MXVPS............................................................................................................58 2.3.4 Flickr do MXVPS..................................................................................................................59 2.3.5 Canal no Youtube do MXVPS...............................................................................................60 2.3.6 Site do MXVPS.....................................................................................................................60

3 O CIBERATIVISMO DO MXVPS...........................................................................67

3.1 MOMENTO I: O PERFIL INFORMATIVO DO MOVIMENTO (DA ENTRADA NAS REDES AO INÍCIO DAS OBRAS)........................................................................68 3.1.1 Chat Xingu: “Tire suas dúvidas online”................................................................................73 3.1.2 “Defendendo os Rios da Amazônia”: A diversidade do Xingu em vídeos e mapas 3D........75 3.2 MOMENTO II: A CHAMADA PARA AÇÂO (DO INÍCIO DAS OBRAS ATÈ O XINGU+23)......................................................................................................................76 3.2.1 Ato Mundial Em 140 Caracteres...........................................................................................78 3.2.2 “Belo Monte com meu dinheiro não”: O apelo aos bancos financiadores............................83 3.3 MOMENTO II: DENUNCIAS DE IMPACTOS E O FUTURO INCERTO DAS MOBILIZAÇÕES (DO XINGU+23 ATÉ A ATUALIDADE).........................................86 3.3.1 Os atos e mobilizações: O perfil denunciativo do MXVPS na cobertura de ações offline.. .90 3.3.2 A denúncia dos impactos: restabelecendo as bases e ampliando as lutas..............................93

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................98 REFERÊNCIAS.........................................................................................................102

12 INTRODUÇÃO

Muitos   são   os   debates   envolvendo   a   construção   daquela   que   promete   ser   a terceira maior hidrelétrica do mundo, a UHE de Belo Monte. Em meio ao embate de opiniões sobre   a obra, um movimento, sediado a mil quilômetros da capital mais próxima (Belém­Pará), rompe as barreiras geográficas e estruturais da região, e se torna a principal fonte de oposição ao megaprojeto do Governo Federal, que até o momento já ultrapassa 30 bilhões de reais1.  Discordando   do   valor,   dos   danos   ambientais,   sociais   e   do   próprio   projeto   em questão, o  Movimento Xingu Vivo Para Sempre (MXVPS)  surge em Altamira (Pará).   Há   cerca   de   5   anos   com   essa   denominação,   o   MXVPS   passa   a   mobilizar diversos movimentos na região, onde energia elétrica de qualidade e cabos de fibra ótica  ainda  são  escassos  e  a  única  via de acesso  é uma  estrada (a  BR­230,  mais conhecida   como   Transamazônica)   que   em   parte   do   ano   encontra­se   intrafegável. Apesar de todas essas dificuldades, o MXVPS vê na rede mundial de computadores uma  oportunidade  de  divulgar  seus   posicionamentos  contrários   a   obra.  Para  isso utiliza  diversas  formas  de  comunicação, entre elas  o facebook, twitter,  youtube e dispõe também de um site.  Em face desse contexto e utilizando o  método indutivo, este trabalho  pretende analisar a história do ciberativismo do Movimento na web, utilizando como fonte e norte principal  as  informações  publicadas  pelo  MXVPS nas  redes  sociais  citadas, além de entrevistas com uma ex­assessora do MXVPS e com um membro do Comitê Metropolitano do Movimento em  Belém.   Iremos analisar dados desde janeiro de 2010, criação da primeira rede social oficial (Orkut), até novembro de 2013, quando operários paralisam 100% das obras reivindicando melhorias salariais. DIARIO DA LIBERDADE. Obra de Belo Monte gasta 14 bilhões acima do orçamento inicial. Diario da   Liberdade,   15   mai.   2013.   Disponível   em:   < http://www.diarioliberdade.org/brasil/consumo­e­meio­natural/38398­obra­de­belo­monte­gasta­r$­14­ bilh%C3%B5es­acima­do­or%C3%A7amento­inicial.html> Acesso em: 10 dez. 2013. 1

13 Durante a análise do período citado, percebemos que o MXVPS passou por três momentos diferentes na web: O Momento Informativo, O Momento das Ações e o Momento Denunciativo. Gostaríamos de deixar claro que esta divisão é baseada em observações   que   fizemos   sobre   características   que   predominaram   nas   publicações feitas no site e redes sociais institucionais do Movimento, o que não exclui a adoção de outras estratégias em menor escala. Para embasar nossas observações, utilizaremos principalmente os conceitos de esfera   pública,   ciberativismo   e   movimentos   sociais,   tendo   como   base   teórica   Ilse Scherer­Warren, Maria Glória Gohh, Jürgen Habermas, Sérgio Costa, André Lemos e Denis Moraes. Com base nos autores e nos dados levantados buscamos responder as seguintes perguntas:   Quais   motivos   levaram   o   Movimento   Xingu   Vivo   a   utilizar   o ciberativismo?   De   que   forma   e   com   quais   objetivos   o   Xingu   Vivo   utiliza   essas ferramentas de comunicação? Qual o balanço podemos fazer destes quatro anos de ciberativismo do MXVPS?  Pretendemos com essas perguntas e com este estudo mostrar a importância dos meios de comunicação alternativos para a construção de outras perspectivas sobre a construção de grandes obras, como a Hidrelétrica de Belo Monte. Perspectivas estas não submetidas diretamente à interesses estatais e da elite político­econômica da região   da   Amazônia,  e   que   inúmeras   vezes   não   têm   espaço   na   cobertura   que   a grande mídia faz de Belo Monte. Entendemos que devido a concentração midiática, os movimentos sociais buscam formas alternativas de comunicação, já que grande parte do que é exposto na mídia tradicional muitas vezes não trazem à tona suas pautas e demandas. Devido a isto, acreditamos   que   é   de   suma   importância   o   estudo   dos   meios   de   comunicação alternativos para o aprofundamento em alguns assuntos muitas vezes  ásperos aos olhos de atores sociais poderosos. 

14 Com   base   nestes   apontamentos,   no   primeiro   capítulo   traremos   um   suporte teórico   sobre  movimentos   sociais  e  esfera   pública.   Serão   abordadas   as   diversas modificações nos estudos dos movimentos sociais até a constituição do que hoje se chama  Rede   de   Movimentos   Sociais,  bem   como   o   uso   da   internet   pelas   mesmas visando   maior   interferência   na  esfera   pública.  Posterior,   expomos     um   breve histórico sobre as  mobilizações na  região da Transamazônica, onde se encontram movimentos   sociais   que   anos   mais   tarde   deram   origem   ao   MXVPS.   No   final   no capítulo   apontamos   informações   sobre  a   concentração   dos   meios   de   comunicação, desafio na visibilidade de pautas e demandas dos movimentos sociais. No   segundo   capítulo   serão   abordados   os   conceitos   de  redes   sociais,   redes   de movimentos   e   ciberativismo,  além   das   problemáticas   envolvendo   as   audiências públicas   sobre   Belo   Monte,   que   foram   o   estopim   para   que   o   MXVPS   passasse   a utilizar a web. Traremos também uma análise sobre as redes sociais e sobre o site do Xingu Vivo, principais canais de comunicação utilizados pelos movimento ao longo de 3 anos de ciberativismo.  Por fim, no último capítulo, damos exemplos dos três momentos pelos quais o MXVPS desde quando começou a utilizar a web: o Momento Informativo, o Momento das   Ações  e   o  Momento   Denunciativo,   além   dos   motivos   que   impulsionaram   tais mudanças estratégias. Com   base   nestes   apontamentos,   no   primeiro   capítulo   traremos   um   suporte teórico   sobre  movimentos   sociais  e  esfera   pública.   Serão   abordadas   as   diversas modificações nos estudos dos movimentos sociais até a constituição do que hoje se chama  Rede   de   Movimentos   Sociais,  bem   como   o   uso   da   internet   pelas   mesmas visando   maior   interferência   na  esfera   pública.  Posterior,   expomos     um   breve histórico sobre as  mobilizações na  região da Transamazônica, onde se encontram movimentos   sociais   que   anos   mais   tarde   deram   origem   ao   MXVPS.   No   final   no capítulo   apontamos   informações   sobre  a   concentração   dos   meios   de   comunicação, desafio na visibilidade de pautas e demandas dos movimentos sociais.

15 No   segundo   capítulo   serão   abordados   os   conceitos   de  redes   sociais,   redes   de movimentos   e   ciberativismo,  além   das   problemáticas   envolvendo   as   audiências públicas   sobre   Belo   Monte,   que   foram   o   estopim   para   que   o   MXVPS   passasse   a utilizar a web. Traremos também uma análise sobre as redes sociais e sobre o site do Xingu Vivo, principais canais de comunicação utilizados pelos movimento ao longo de 3 anos de ciberativismo.  Por fim, no último capítulo, damos exemplos dos três momentos pelos quais o MXVPS desde quando começou a utilizar a web: o Momento Informativo, o Momento das   Ações  e   o  Momento   Denunciativo,   além   dos   motivos   que   impulsionaram   tais mudanças estratégias.

16 1 ANTECEDENTES E CONCEITOS CENTRAIS AO ESTUDO

Antes de partir diretamente para a análise do ciberativismo do Movimento Xingu Vivo   Para   Sempre,   acreditamos   que   é   de   suma   importância   um   breve   resgate histórico   sobre   os   fatores   que   antecederam   o   surgimento   do   Movimento   e   uma apresentação do referencial teórico a ser utilizado neste estudo, conceitos essenciais ao entendimento do fenômeno do ciberativismo, objeto central deste estudo. Na   primeira   parte   deste   capítulo,   mostramos   as   divergências   existentes  na definição de movimentos sociais e as modificações que aconteceram no seu estudo ao longo do século XX, bem como os autores utilizados e suas abordagens a respeito dos movimentos sociais. O conceito de esfera pública e o papel dos movimentos sociais nesta  “arena”   onde   as  decisões   políticas   são  justificadas   e  vontades   coletivas   são expostas e medidas, também serão  abordados neste capítulo. Em   seguida,   para   entender   a   origem   do   MXVPS   e   seu   posicionamento   e bandeiras,   levantamos   como   se   deu   a   política   de   colonização   da   Amazônia,   cujo planejamento  social   deficiente   culminou   nas   primeiras   mobilizações   sociais   na região da Transamazônica,  região onde se desenvolve a obra da hidrelétrica de Belo Monte   e   onde   se   articulam   os   atores   sociais  que   mais   tarde   deram   origem   ao MXVPS, como veremos ao longo do texto. Por fim, no último tópico deste capítulo, trazemos uma pequena reflexão sobre a concentração dos meios de comunicação tradicionais, que se mostra como um grande desafio para o exercício da democracia e para o fluxo das pautas e demandas dos movimento sociais na esfera pública.

17 1.1   MOVIMENTOS   SOCIAIS:   DA   LUTA   DE   CLASSES   À   REDE   DE MOVIMENTOS SOCIAIS

Diferente   de   outros   conceitos,   o   conceito   de   Movimentos   Sociais   apresenta definições   bastante   diversificadas,   ocorrendo   grandes   variações   de   acordo   com   o autor abordado.  Neste trabalho utilizaremos principalmente as pesquisas de Ilse Scherer­Warren e Maria Glória Gohn devido a suas amplas contribuições a respeito dos movimentos sociais na América Latina.  Segundo as autoras, ao longo do século XX a sociedade passou por intensas modificações   em   sua   morfologia   e   sendo   os   movimentos   sociais   parte   desta sociedade, houve também uma série de mudanças nas suas formas de organização e ação   em   todo   o   mundo.   Todas   essas   alterações   causaram   divergências   entre   os pesquisadores   e   algumas   modificações   na   maneira   como   as   Ciências   Sociais analisam os movimentos sociais. Com   base   nas   autoras   estudadas,   pudemos   identificar   quatro   fases   de constituição   do   pensamento   sociológico   sobre   os   Movimentos   Sociais   ao   longo   do século XX. A primeira foi de meados do século XX até a década de 1970 (Luta de Classes); a segunda foi nos anos de 1970 (Lutas Nacional­Populares); a terceira nos anos de 1980 (Grassroots); e a quarta abarca os anos de 1990 e suas perspectivas para os dias atuais (Networks).  Segundo   Scherer­Warren   (2005),   a   divisão   ocorre   com   o   objetivo   de sistematizar   a   produção   acadêmica,   porém,   a   temporização   das   tendências   não significa  o fim  das   anteriores,  “ao  contrário,  o que  se verifica   é a   emergência  de novos paradigmas coexistindo com as teorias anteriores, ora impondo­se a estas, ora convivendo conflituosamente ou paralelamente”2.

 SCHERER­WARREN, 2005, p. 14.

2

18 Durante o primeiro momento (Luta de Classes) tendia­se a analisar movimentos sociais   apenas   em   uma   perspectiva   macroestrutural.   Nesta   concepção,   existiriam duas classes sociais, burguesia e proletariado, que viviam em conflito, e cabia ao proletariado o protagonismo e as modificações da sociedade (SCHERER­WARREN, 2005). No caso da América Latina,  a dificuldade da definição de proletariado devido as diferenças   entre   o   proletário   urbano   e   rural,   fez   com   que   os   estudiosos concentrassem   seus   estudos   no   Estado,   nos   partidos   políticos   e   nas   vanguardas, enxergando­os como vetor de transformação social:

Há um consenso sobre a dificuldade de constituição de classes fundamentais na   América   Latina   (proletariado   urbano/rural),   também   sobre   sua heteronomia e a consequente falta de uma consciência de classe adequada, vários   destes   estudiosos   são   levados   a   buscar   na   sociedade   e   na   política propriamente dita o potencial da transformação3. 

O   segundo   momento   considerado   é   um   período   de   transição   entre   a   Luta   de Classes e os Movimentos de Base (Grassroots). Neste momento as análises ainda são macroestruturais,   porém   o   foco   se   desloca   da   Luta   de   Classes   para   as   análises envolvendo um objetivo comum de uma nação, o que a autora chama de “vontade coletiva   Nacional­Popular”.   Se   na   Luta   de  Classes   a   análise   seria   o   Estado  e   as vanguardas, nas Lutas Nacional­Populares a análise passa para a ações do “povo”, categoria central nesta fase (SCHERER­WARREN, 2005, p. 16). O terceiro momento das análises sobre os Movimentos Sociais na América Latina seria   os   Movimentos   de   Bases   (Grassroots).   Durante   este   momento   as   pesquisas mudam do macro para micro. Ao invés de analisar a Luta de Classes, proletariado, burguesia,   o   Estado,   as   vanguardas   ou   as   “vontades   nacional­popular”,   os pesquisadores   focam   suas   análises   nas   especificidades   dos   movimentos   sociais,   a partir   do   estudo   da  ação   coletivas  dos  atores   sociais  que   constituem   esses  SCHERER­WARREN, op.cit., p. 15.).

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19 movimentos. O conceito de  identidade  ganha importância. Movimentos feministas, homossexuais e ecológicos destacam­se nesta fase.   Por fim, o último momento são as Redes de Movimentos Sociais (Networks), que seriam uma articulação entre o macro e o micro, entre o comunitário e o global. As redes   seriam   articulações   entre   movimentos   sociais   de   diferentes   locais   e especificidades em torno de uma luta ou pauta em comum, porém com respeito à diversidade   dos   integrantes.   Os   pesquisadores   procurariam,   então,   entender   os sentidos dessas articulações, tanto no macro (transnacional, global) quanto no micro (comunitário, local).  É importante ressaltar que historicamente existem duas visões para o conceito de movimentos sociais: a da corrente funcionalista (predominante nos Estados Unidos) e a da corrente histórico­estrutural, ou marxista (predominante na Europa). Para a funcionalista,   movimentos sociais  são considerados qualquer grupo político que se organiza   em   busca   de   uma   causa   em   comum,   independente   qual   seja.   Quanto   a histórico­estrutural, para  um grupo ser chamado de movimento social é necessário que o mesmo busque uma  mudança social, que sejam contra­hegemônicos e lutem pela cidadania e contra as desigualdades sociais e as “formas de opressão”; desta forma os grupos organizados que atuariam para a manutenção do  status quo  não seriam considerados movimentos sociais. Neste sentido, adotamos as autoras Scherer­Warren (2005:08) e Gohn (2008:10), ambas   sociólogas   da   corrente   “latino­americana”   (oriunda   da   corrente   europeia pós­1960), pois    compartilhamos do entendimento de que  Movimentos  Sociais são “ações   sociais   coletivas   de   caráter   sociopolítico   e   cultural   que   viabilizam   formas distintas   da   população   se   organizar   e   expressar   suas   demandas”   (GOHN,   2008). Estas   formas   de   expressão   podem   ir   desde   a   “simples   denuncia,   passando   pela pressão direta (mobilizações, marchas, concentrações, passeatas, distúrbios à ordem constituída, atos de desobediência civil, negociações etc.) até as pressões indiretas” (GOHN, 2010). Na atualidade, os principais movimentos sociais atuam por meio de

20 redes   sociais,   locais,   regionais,   nacionais   e   internacionais   ou   transnacionais,   e utilizam­se  muito dos novos meios de comunicação e informação, como a internet (SCHERER­WARREN, 2008). A   internet   vem   se   tornando   um   veículo   extremamente   estratégico   para   os movimentos   sociais,   pois   tanto   facilita   a   busca   pela   atenção   dos   meios   de comunicação tradicionais, tão monopolizados no Brasil, quanto favorece a construção de meios de comunicação próprios, a organização de ações e mobilizações coletivas, a busca por possíveis alvos e parceiros, reuniões estratégicas a longa distância, além de dezenas de outras possibilidades (PEREIRA, 2011). Não   estamos   afirmando   que   formas   tradicionais   de   mobilização   deixaram   de existir,   e   sim   que   em   função   da   internet   surgiram   variadas   formas   de   ações coletivas,   o   que   fez   com   o   que   o   conceito   de  esfera   pública  fosse   revisitado   por diversos autores da atualidade.

1.2  ESFERA PÚBLICA: MODELOS E CONCEPÇÕES

Um  ponto em comum  entre todas  as  formas  contemporâneas  de interpretar a esfera pública é o entendimento de que a mesma é uma espécie de “arena onde se dá tanto o amálgama da vontade coletiva quanto a justificação das decisões políticas previamente acertadas” (COSTA, 2002, p. 15). Segundo   o   sociólogo   Sérgio   Costa,   não   existe   grandes   divergências   entre   os pensadores contemporâneos em relação ao papel da esfera pública nas sociedades democráticas,   as   variações   começam   a   aparecer   quando  passa­se  a   analisar   suas recentes   transformações   e   seu   desenvolvimento   em   outros   tipos   de   sistemas   não democráticos. Com   base   nestas   diferenças,   Costa   (1995)   categoriza   dois   grandes   modelos concorrentes de espaços públicos: o Modelo Funcionalista e o Teórico­Discursivo. O

21 primeiro   (ligado   ao   alemão   Friedhelm   Neidhardt)  dá  centralidade   aos   meios   de comunicação   de   massa   e   não   acredita   em   entendimento   comunicativo   dentro   do espaço público, e sim o vê como um “palco” que acomoda a encenação política e a disputa de poder entre diferentes atores (movimentos sociais, partidos, grupos de interesse,   etc..)   pela   atenção   pública.   Este   pensamento   é   majoritário   entre   os pesquisadores da América Latina e é partilhado por diversos autores de diferentes correntes   teóricas.   Já   o   segundo   modelo   (influenciado   pelos   estudos   de   Jürgen Habermas)  acredita na existência de um conjunto de instâncias, formado tanto pela mídia   quanto   por   organizações,   instituições,   sociedade   civil,   espaços   públicos   de diálogos, entre outros, e defende a possibilidade de variadas formas discursivas de comunicação pública.  Conforme a concepção do grupo de pesquisadores ligados à Neidhardt, a esfera pública é uma espécie de “sistema de comunicação especializado em fazer a reunião (input), processamento (throughput) e a transmissão de temas e opiniões (output) às esferas de tomada de decisão política” (COSTA, 2002. p. 17).   Segundo esses autores, para que a opinião pública seja convertida em decisões concretas é necessário acontecer o “policy process”. O mesmo seria a “formação da opinião pública” através da apresentação de posicionamentos sobre certo assunto. Somente   a   partir   disto   é   que   ela   (opinião   pública)   poderia   ser   efetivada.   Desta forma, para que “certo problema se torne um tema público depende menos de seu conteúdo e relevância  do que de  certos  requisitos  prático­estratégicos”.   A Esfera Pública seria vista como mercado, cujo as questões expostas “com um rótulo atraente ou que trazidas à tona por atores sociais poderosos  ­ em termos de acesso a recursos comunicativos” teriam maiores chances de serem publicamente pautadas  (COSTA, 2003. p. 17). Diferente   desta   primeira   concepção,   a   segunda,   que   tem   como   base   as contribuições de Jürgen Habermas, acredita no mérito discursivo da esfera pública, acredita   que   o   espaço   público   não   se   restringe   apenas   a   esta   fórmula   sistêmica.

22 Segundo Sérgio  Costa (1997), ainda que haja espetacularização  argumentativa nas esferas públicas, isto não se deve apenas aos meios de comunicação de massa, pois depende de outros microcampos da sociedade, como a família, a escola, a religião, para ratificar o espetáculo político:

Persistem, para além do espaço público transformado em mercado, um leque diversificado   de   estruturas   comunicativas   e   uma   gama   correspondente   e processos   sociais   (de   recepção   e   reelaboração   das   mensagens   recebidas   e reelaboração   das   mensagens   recebidas   e   de   interpenetração   entre   os diferentes   microcampos   da   esfera   pública),   cuja   existência   confere precisamente   consistência,   ressonância   e   sentido   ao   espetáculo   político (COSTA, 1997, p.17).

Para   o   modelo   Teórico­Discursivo   de   Harbermas,   caso   esses   outros   processos sociais não aconteçam, as mensagem e imagens, mesmo que seguissem a fórmula proposta   e   fossem   muito   bem   elaboradas   tecnicamente,   elas   “ecoariam   no   vazio, destruídas de substâncias e credibilidade” (COSTA, 2002. p. 22). Deste modelo se utilizam diversos autores que falam da influência da internet na sociedade e na esfera pública. Podemos citar Lemos (2009), que se baseia na maior interação   proporcionada   pelos   novos   meios   de   comunicação   para   defender   a existência de uma “nova esfera conversacional”; Langman (2005), que acredita que a internet propiciou a formação de  “esferas públicas virtuais”; e Benkler  (2006),  que diz que vivemos em um novo estágio da economia: “a economia da informação em rede”,   o   que   resultou   na   formação   de   uma   “esfera   pública   interconectada” (ALCÂNTARA, L.M e D´ANDRÉA, C. F. B., 2011, p. 2). 

1.3     A   ORIGEM   DO   MXVPS:   TRANSAMAZÔNICA   E   MOBILIZAÇÕES   NA REGIÃO

23 A   BR­230,   mais   conhecida   como   Transamazônica,   configura­se   como   a   maior rodovia do Brasil. Apesar de vários trechos em condições precárias 4, seus quase 5 mil km atravessam sete estados, indo desde a cidade de Cabedelo na Paraíba até Lábrea no   estado   do   Amazonas,   passando   pelo   Pará,   Tocantins,   Maranhão,   Piauí   e Pernambuco (DNIT, 2001).  Segundo   o   Governo   Federal,   no   Pará,   a   área   conhecida   como   Território   da Transamazônica   é   composta   por   dez   municípios   (Altamira,   Medicilândia,   Pacajá, Porto de Moz, Vitória do Xingu, Anapu, Brasil Novo, Placas, Senador José Porfírio e Uruará) e abrange aproximadamente 252 mil Km². Entretanto, para os movimentos sociais   da   região,   o   município   de   Rurópolis,   marco   da   colonização   induzida   dos militares   e palco  das   primeiras  organizações  sindicais,  também   deve ser incluído nesta lista. Foi entre este município e Altamira, onde ocorreu de forma mais intensa as principais políticas de integração nacional, iniciadas com o governo de Juscelino Kubitschek (1956­1961) e intensificadas com os militares, mais precisamente com o general Emílio Garrastazu Médici (1969­1974) (STEINBRENNER, 2011): 

Um projeto modernizador inspirado pelo desenvolvimentismo de alto impacto promovido pelo Estado no auge do Milagre Econômico e da ditadura militar. Um projeto implantado de forma discricionária, responsável pela intervenção estatal   mais   impetuosa   e   abrupta,   e,   portanto,   violenta   em   termos   de colonização que se tem notícia na história do país (STEINBRENNER, 2011, p. 105).

Impulsionados   por   empréstimos   internacionais   de   organismos   financeiros,   a exemplo do Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, tanto Kubitschek Segundo   Steinbrenner   (2011),   no   trecho   mais   longo,   que   vai   do   Pará   ao   Amazônas,   a Transamazônica apresenta menos de 13% de pavimentação: “Nos estados do Pará e Amazonas – seu trecho mais longo (1.569 e 831  quilômetros, respectivamente) e onde de fato merece seu nome de batismo – a  Transamazônica continua praticamente uma estrada de chão coberta por cascalho e terra  (apenas 12% do trecho paraense e menos de 1% da estrada no Amazonas estão  pavimentados). Entre janeiro e junho, época das chuvas na região, torna­se intrafegável e, nos  meses secos, transforma­se em pista de ―aventura‖, farta em pó e buracos ” (STEIBRENNER, 2011, p. 117). 4

24 quanto os militares tinham planos de explorar os recursos naturais da Amazônia através de projetos faraônicos, que visavam principalmente a extração mineral.

Foi no período do pós­Segunda Guerra Mundial que ficou definido o papel que os países do Terceiro Mundo teriam no cenário econômico internacional. Organismos   financeiros   internacionais   como   o   Banco   Mundial   e   o   Fundo Monetário  Internacional   foram  criados  para   fomentar  um  novo  padrão   de acumulação  do   capitalismo   em  escala   mundial,   baseado   em  investimentos em projetos de infraestrutura nestes países, permitindo assim a expansão da produção industrial (BERMAN, 2012, p. 6).

Entretanto,   para   a   consolidação   destes   projetos   era   necessário   uma infraestrutura   que   envolvia   a   construção   de   estradas,   como   a   Cuiabá­Santarém, Belém­Brasília   (ainda   no   governo   JK)   e   a   ambiciosa   Transamazônica,   além   de hidrelétricas   para   o   abastecimento   energético   das   atividades   eletrointensivas (mineração,   siderurgia,   etc.).   “A   bacia   hidrográfica   amazônica   passou   a   ser identificada   única   e   exclusivamente   pelo   seu   potencial   hidrelétrico”   (BERMAN, 2012,   p.   7).   Dentre   as   construídas   destaca­se   a   UHE   Tucuruí,   projetada   para atender a demanda do Programa Grande Carajás (PGC), iniciado em 1980 (PINTO, 2012),   e   que   ainda   hoje   é   a   maior   hidrelétrica   exclusivamente   brasileira.   Vale ressaltar que os primeiros estudos e projetos sobre o aproveitamento hidrelétrico do Rio Xingu são deste período (NASCIMENTO, 2011). Concomitante a questão da Segurança Nacional, a concentração fundiária no Sul, Sudeste   e   Nordeste   do   país   crescia   cada   vez   mais.   Utilizando   então   de   ampla publicidade e incentivos financeiros, como empréstimos e financiamentos agrícolas, no início da década de 1970, durante o governo de Médici, inicia­se a construção da Transamazônica   e,   assim,   são   intensificadas   as   políticas   de   colonização   da Amazônia, voltadas principalmente para a população destas regiões marcadas pela tensão   fundiária.   “Nos   folhetos   e   propagandas   do   governo   vendia­se   aos   futuros colonos a ideia de terra fácil, farta e fértil” (STEINBRENER, 2011, 135).

25 No   entanto,   as   condições   das   terras   não   eram   boas   como   as   prometidas   e   o Estado   tornou­se   praticamente   ausente  na   região  depois   da   crise   do  petróleo   em 1974   e   com   o   início   do   II   Plano   Nacional   de   Desenvolvimento   (1975­1979),   que passava a priorizar o setor energético do país, deixando inacabadas várias rodovias, inclusive a BR­230, que até hoje não foi plenamente concluída (STEINBRENNER, 2011). Assim, “A população ficou à mercê da própria sorte” (MMA, 2006, p. 17).  Todo este cenário gerou grandes descontentamentos entre os colonos, e no fim da década   de   1970   começam   as   primeiras   mobilizações   na   Transamazônica, organizadas pelo embrião de forças sindicais que viriam a se formar e que tinham como   objetivo   cobrar   providências   do   Governo   Federal   quanto   à   situação   de abandono   da   região.   E   assim   começam   as   primeiras   mobilizações   na Transamazônica,   que   neste   primeiro   momento   buscam   denunciar   os   problemas estruturais comuns a todos da região:

O isolamento provocado pelas precárias condições da estrada, a ausência do Estado, que não provia a população dos serviços básicos de atendimento à saúde, educação e segurança, e a falência da agricultura familiar nos moldes em que vinha sendo praticada provocaram uma reação de mudança marcada por fases bem delimitas (MMA, 2006, p. 15).

Destaca­se que o papel da Igreja Católica foi fundamental para esse processo de organização da população. Através da Doutrina Social da Igreja, a chamada Teologia da   Libertação,   foram   realizados   debates   que   incentivavam   o   trabalho   coletivo,   a conscientização sobre as razões políticas e estruturais que haviam levado os colonos para   a   Transamazônica   e   sobre   a   importância   da   disputa   pelos   Sindicado   dos Trabalhadores Rurais (STR), controlados pelos militares até 1988 (MMA, 2006).  Aos poucos, essa mobilização espontânea, que tem como alicerce as Comunidades Eclesiais   de   Base   (CEBs),   parte   para   a   organização   em   sindicatos.   Durante   este período, que vai de 1972 a aproximadamente 1985, foram várias as caravanas que saíram rumo a Belém e Brasília (TONI, 2006). A intenção era chamar a atenção da

26 mídia,   do   poder   público   e   da   população   brasileira   sobre   a   situação   na   qual   se encontrava a região da Transamazônica, que “no final dos anos de 1980 vivia uma situação de calamidade” (STEIBRENNER, 2011, p.150).  Apesar das várias idas a Brasília poucos foram os avanços práticos alcançados. A população então percebe que precisa se organizar de outra forma. Em 1987 acontece em   Medicilândia   o   primeiro   encontro   regional   que   reuniu   lideranças   de   várias cidades   da   Transamazônica   e   da   Cuiabá­Santarém.   O   objetivo   do   encontro   era levantar   as   reivindicações   comuns   e   formular   propostas   mais   diretas.   Com   o encontro   ficou   claro   que   era   preciso   realizar   uma   pesquisa   sócio­econômica   para fundamentar o discurso do movimento (MMA, 2006). Os dados levantados de forma colaborativa por trabalhadores rurais, professores e pastorais eram alarmantes: 

Havia apenas nove médicos para uma população de 500 mil habitantes, num raio   de   100   km   de   distância;   Mais   de   70%   da   população   adulta   era analfabeta   ou   semi­analfabetizada;   Havia   2.840   km   de   estradas   vicinais habitadas   sem   conservação;   Nenhum   dos   municípios   com   exceção   de Altamira, e mesmo assim de forma precária, dispunha de energia elétrica; as pessoas morriam no fundo das vicinais por falta de assistência médica, além de outras constatações alarmantes (MMA, 2006, p. 23)

Após   a   pesquisa,   vários   encontros   se   sucederam   até   1989,   ano   de   criação   do Movimento Pela Sobrevivência da Transamazônica (MPST), que ao longo do tempo ganha mais abrangência e desenvoltura no debate sobre desenvolvimento regional e local.   Em   1998,   o   movimento   agrega   a   região   do   Xingu   e   passa   a   se   chamar Movimento Pelo Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu (MDTX).  Ao longo de trinta anos foram várias as conquistas do movimento, que passou de uma   mobilização   espontânea   e   instintiva   para   a   luta   sindical.   Foram   criadas federações   e   fundações,   como   a   Fundação   Viver   Produzir   e   Preservar   (FVPP),   a Federação   Estadual   dos   Trabalhadores   da   Agricultura   (Fetragri)   e   o   próprio Movimento Xingu Vivo Para Sempre, que surgiu em outro contexto (2008), mas tem suas bases nestes movimentos.  Apesar disso, o envolvimento de líderes em disputas

27 eleitorais e a própria crise do sindicalismo com a implantação do neoliberalismo fez com   que   as   demandas   passassem   a   ser   cobradas   por   vias   cada   vez   mais institucionalizadas. O resultado foi que ao invés de ganhar força “as mobilizações diminuíram e se arrefeceram” (TONI, 2011, p.2). Esta   possível   “crise”   de   mobilização   vivenciada   pelos   movimentos   sociais   na região   da   Transamazônica   foi   comum   aos   movimentos   em   todo   o   Brasil.   O   que acontece   é   que   com  o   fim   do   regime   militar   (1968­1985),   os   antigos   movimentos sociais5 passaram primeiramente por uma queda significativa nas manifestações das ruas, suas principais formas de reivindicações. Várias são as explicações para isso: a perda de um alvo comum, no caso a ditadura militar; a  institucionalização de vários movimentos   sociais;   a   expansão   das   ONG's;     e   a   própria   crise   do   sindicalismo causado pelo avanço das políticas neoliberais (GOHN, 2010; SCHERER­WARREN, 2008).  Todo   este   cenário   impulsionou   a   formação   de   novos   movimentos   sociais,     não mais pautados apenas na luta de classes e no sindicalismo, e sim na busca de travar reformas estatais, as quais muitas vezes eram devastadoras para grande parte da população. Gohn (1997) destaca o surgimento de movimentos que lutam contra fome, desemprego,   a   favor   dos   “perueiros”,   aposentados,   entre   outros.   Além   dos movimentos de mulheres, homossexuais e negros.  Outros   movimentos   que   também   ganham   destaque   neste   período   são   os movimentos   indígenas,   dos   funcionários   públicos   (em   especial   da   saúde   e   da educação) e o dos ecologistas, que proliferou­se após  a ECO 92  e   impulsionou a criação de várias ONGs.

  Como  dissemos  no  item  1.1   ­  Movimentos   Sociais  e  Esfera   Pública,   os  estudos  dos  Movimentos Sociais   podem   ser   dividimos   em   quatro   períodos:   Luta   de   Classes,   Lutas   Nacional­Populares, Grassroots e  Networks.  Convenciona­se  chamar de  Movimentos Sociais  Tradicionais os  que  tinha destaque até os anos de 1980 (Luta de Classes e Nacional­Populares) e de Novos Movimentos Sociais os formados a partir dos anos de 1990, como: Movimento negro, Movimento Homossexual, Movimento de Mulheres, ecologistas, entre outros. 

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28 Apesar de sabermos da influência do movimento ecologista no Movimento Xingu Vivo Para Sempre, acreditamos que o mesmo não se restringe apenas a influências desta categoria, já que o que observamos ao longo deste trabalho é que o MXVPS é formado por diversos atores sociais articulados em  Rede, o que     Scherer­Warren (2005:08) chama de Networks, ou Redes de Movimentos Sociais.

1.4     O   EMBATE   SOBRE   BELO   MONTE   E   A   NECESSIDADE   DE   SE   FAZER OUVIR: A ORIGEM DO MXVPS

Neste tópico trazemos um breve histórico  sobre a UHE Belo Monte e as ações de atores sociais contrários à hidrelétrica, que ao longo do tempo se organizaram na luta   contra   a   obra   e   formaram   o     Movimento   Xingu   Vivo   Para   Sempre.   Para construção deste histórico utilizamos como fonte principal informações retiradas do site   oficial   do   MXVPS   e   uma   entrevista   com   uma   das   principais   lideranças   do Movimento,  a professora Antônia Melo. Como dissemos  no tópico  anterior, o  plano de integração dos  militares  não  se restringia   a   construção   de   rodovias.   Inserido  nele,   estavam   previstas   também   as hidrelétricas:   muitas   rodovias   que   cortavam   as   florestas   também   passavam   bem próximo aos principais rios da Amazônia e suas quedas, facilitando assim o acesso para   as   pesquisas   posteriores.   A   construção   da   Transamazônica   pode   ser   usada como  um   exemplo   claro   disso,   já   que   a   mesma   foi   aberta   em   1972   e   em   1975   a Eletronorte começa os estudos da viabilidade hidrográfica da região. Ao fim desses estudos,   em   1980,   a   Eletronorte,   através   do   Consórcio   Nacional   de   Engenheiros Construtores (CNEC)6, prevê a construção de cinco grandes hidrelétricas no Xingu e uma   no   rio   Iriri,   todas   com   nomes   indígenas:   Kararaô,   Babaquara,   Ipixuna, Kokraimoro, Jarina e Iriri (KRAUTLER, 2005).   Apesar de ainda  não  existir nesta  data,  O  Movimento Xingu Vivo  critica  o projeto desde a  sua idealização,   pois   o   CNEC   é     integrante   do   grupo   Camargo   Côrrea,   que   atualmente   faz   parte   do consórcio construtor responsável pela obra. 6

29 Segundo o Movimento Xingu Vivo Para Sempre, essas hidrelétricas gerariam 19 mil megawatts (MW) e alagariam mais de 18 mil km², atingindo milhares de pessoas e 12 Terras Indígenas7, além dos grupos isolados da região.  O estudo fica arquivado por alguns anos e em 1987 é utilizado no Plano Nacional de   Energia   Elétrica   de   1987/2010,   o   qual   propõe   a   construção   de   165   usinas hidrelétricas até 2010, destas, 40 seriam construídas na Amazônia Legal. Entre as hidrelétricas, o Plano almeja a construção de Kararaô e a cita como o maior projeto nacional hidrelétrico do século XX. Diante   disto,   vários   indígenas   se   articularam   e   organizam   o   1º   Encontro   dos Povos Indígenas do Xingu, que reúne cerca de 3 mil pessoas na cidade de Altamira (PA), em fevereiro de 1989. O Encontro ganha repercussão nacional e internacional, principalmente   porque  durante   a   fala   de  José   Muniz  Lopes,   então   presidente  da Eletronorte, sobre a construção da hidrelétrica de Kararaô, a índia Tuíra, munida de um facão, ameaça Muniz Lopes e deixa registrada toda sua indignação diante de centenas de jornalistas (Fotografia 1).  A imagem ganhou diversas capas de jornais pelo Brasil e pelo mundo e virou símbolo da luta contra barragens na Amazônia. Ao fim do encontro fica definido que não   serão   mais   usadas   palavras   indígenas   em   nomes   de   hidrelétricas,   já   que Kararaô   é   um   grito   de   guerra   dos   Kayapós,   o   que   os   índios   consideraram   uma   Até   hoje   existe   divergências   sobre   as   Terras   Indígenas   (TI)   atingidas.   O   Estudo   de   Impactos Ambientais   e   o   Relatório   de   Impactos   Ambientais   (EIA/RIMA),   encomendado   pelo   Governo   às empresas Camargo Corrêa, Odebrech e Andrade Gutierrez (construtoras responsáveis e principais interessadas pela obra) afirma que as TI dos Arara da Volta Grande e dos Juruna serão atingidas, porém,   o   Painel     de   Especialistas   ­   estudo   paralelo   organizado   por   40   pesquisadores,   entre antropólogos, sociólogos, zoólogos, biólogos, etimólogos, doutores em energia e sistemas energéticos, historiadores, economistas, engenheiros, hidrólogos, ictiólogos, entre outros, que há anos estudam os impactos da obra na região afirma que além dos citados no EIA/RIMA, os Arara da Terrã Wãgã, Xikrin do Bacajá,  Xipaya,   Kuruaya e os Kayapó também serão atingidos.  Apesar  dos estudos,  a Norte Energia (grupo formado pela Eletrobras, Eletronorte, Chesf, entre outras em menores parcelas) e o Governo Federal, que dizem ter se baseado no EIA/RIMA para analisar a viabilidade da obra, afirmam para  diversos veículos  de  comunicação  que nenhuma  terra  indígena  será  atingida,  como pode   ser   observado   nas   matérias   disponíveis   nos   links: http://veja.abril.com.br/noticia/economia/norte­energia­diz­que­belo­monte­nao­afeta­indios http://economia.terra.com.br/noticias/noticia.aspx?idNoticia=201108091407_ABR_80024636 7

30 agressão cultural. O evento é encerrado com o lançamento da “Campanha Nacional em Defesa dos Povos e da Floresta Amazônica”, que exige a revisão dos projetos de desenvolvimento   para   a   região,   e   com   o   lançamento   da   Declaração   Indígena   de Altamira. O resultado foi a paralisação  temporária do projeto que voltou a ser discutido durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995–2003). 

Fotografia 1 ­ Índia Tuíra passa o facão no rosto do diretor da Eletronorte durante o I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu

Fonte: Blog Rainnert. Créditos: Potrásio Nene. A Agência Estado, 1989

É importante destacar neste período a dependência que os movimentos sociais tinham   dos   grandes   meio   de   comunicação   para   inserir   seus   debates   na   esfera pública. Daí a importância redobrada de atos, manifestação de rua e encontros que visam chamar a atenção dos meios de comunicação e mostrar para a população as

31 reivindicações. Pereira (2011) fala sobre a   influência dos diversos atores no fluxo midiático: 

O sistema político e a esfera pública são perpassados pelos fluxos midiáticos tanto   de   cima   pra   baixo   (os   discursos   políticos   dos   representantes   que informam e procuram conquistar legitimidade para suas decisões na esfera pública) quanto de baixo para cima (a manifestação das demandas dos atores sociais que buscam adentrar na sociedade política) (PEREIRA, 2011, p. 5).

Por um lado movimentos pressionam para que Kararaô e posteriormente Belo Monte não saia do papel. Por outro, o Governo Federal e interessados tentam dar continuidade à obra, como veremos nos parágrafos seguintes.  A ideia de construir Kararaô fica praticamente arquivada até 1994, quando um novo   projeto,   agora   reajustado   com   o   objetivo   de   não   ser   tão   agressivo   para ambientalistas,   indígenas   e   investidores,   é   apresentado   ao   antigo   Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE) 8 e à  Eletrobrás.  O projeto passa a se chamar Belo Monte, que seria formado por duas barragens, sendo   uma   com   a   função   de   desviar   o   rio   Xingu,   empurrando­o   para   um   canal artificial de 100 km.  O desnível geraria energia e o lago que antes era de 1.200 km2 passa   a   ter   pouco   menos   de   600   km2,   “ainda   assim   uma   área   maior   que   a   do município  de Porto  Alegre”9.  A   área   de  alagamento  diminui,  porém   não  se  torna mais aceitável, já que movimentos sociais afirmam que a UHE Belo Monte nada

  O DNAEE deixa de  existir em 1996, quando a Lei  de nº 9.427 cria Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). 9 Disponível   em:    Acesso   em:   10   dez.   2013.   A publicação não especifica sobre qual Porto Alegre refere­se, porém, por conveniência, acreditamos que esteja   utilizando   como   comparação     o   município   de   Rio   Grande   do   Sul,   que   possui   496,682   km², apesar de que  a  área  alagada  por Belo Monte  poderia  ser comparada  também a  Porto  Alegre de Tocantins,   que   possui   501   km²   de   extensão,   como   pode   ser   observado   no   site   do   IBGE: . Acesso em: 10 dez. 2013. 8

32 mais é que a UHE Kararaô reajustada para se tornar “palatável”10. (Xingu Vivo, 2011). Belo Monte é apresentando em 2000, quando o Plano Plurianal de 2000­2003, mais conhecido como Avança Brasil é exposto no Congresso Nacional. O plano cita a construção da UHE como fundamental para o avanço do setor energético do país. Sobre   este   período   e   a   retomada   dos   estudos   no   Rio   Xingu,   Felício   Pontes, procurador   do   Ministério   Publico   Federal   (MPF)   responsável   pelo   caso   desde   a primeira ação, escreve em seu blog11 como o MPF soube da retomada dos estudos: 

Representantes do povo Juruna, da Volta Grande do Xingu, disseram que encontraram nas margens do rio várias tábuas com números gravados. Eram réguas   de   medição.   Estavam   assustados.   Temiam   que   fosse   mais   uma tentativa de construir uma barragem no Xingu. A lembrança do I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu em 1989, quando a índia Kaiapó Tuíra passou o facão no rosto de um dirigente da Eletronorte, ainda estava nítida12.   

Após as pesquisas em terras indígenas sem autorização prévia,  contratação sem licitação  da   Fadesp   (2000),  Plano   de  Emergencial   de   30  bilhões   (2001)  e   Medida Provisória   do   Apagão   (2001),   o  Movimento   pelo   Desenvolvimento   da Transamazônica e Xingu (MDTX), preocupado com desenrolar das ações por parte do Governo Federal, elabora em julho de 2001 um documento intitulado “SOS Xingu: um chamamento ao bom senso sobre o represamento de rios na Amazônia”.13 A   mobilização   dos   movimentos   contrários   a   obra   segue   e   em   março   de   2002 acontece   um   debate   em   Altamira   que   reúne   importantes   atores   sociais,   entre representantes indígenas, políticos locais, ONGs e Ministério Publico Federal. No   VIVO,   Xingu.  Histórico,  14   out.   2010.   Disponível   em:  Acesso em: 13 dez. 2013. 11  PONTES, Felício. Belo monte de violências (I) . Belo Monte de Violências. Belém, s.d.  Disponível em:  . Acesso em: 10 dez. 2013. 12 PONTES, Ibid. 13 MDTX.  Carta   SOS   Xingu:   Um   chamamento   ao   bom   senso   sobre   o   represamento   de   rios   na Amazônia.   Altamira,   25   jul.   2001.   Rios   Vivos,   8   ago.   2002.  Disponível   em:  Acessado em: 8. dez. 2013. 10

33 mesmo   ano,   a   Fundação   Viver,   Produzir   e   Preservar   (FVPP),   o   Movimento   pelo Desenvolvimento   da   Transamazônica   e   Xingu   (MDTX),   o   Grupo   de   Trabalho Amazônico (GTA), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri/Regional) e   o   Conselho   Indigenista   Missionário   (CIMI)   enviam   uma   carta   ao   presidente Fernando   Henrique   Cardoso   pedindo   a   suspensão   de   todas   as   obras   de   grande impacto na Amazônia até que haja discussão e consenso com a sociedade local. Em resposta, Fernando Henrique Cardoso declara que “birra” de ambientalistas atrasa o progresso do Brasil14. Com o fim do mandato de Fernando Henrique, no final de 2002, a esperança era de que o projeto de Belo Monte fosse arquivado, porém isso não acontece. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncia Belo Monte como uma das principais obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mesmo   depois   desses   episódios,   várias  são  as   cartas  enviadas   para   o   governo buscando   explicações   sobre   a   falta   de   diálogo   com   a   comunidade   local   e reivindicando a paralisação dos estudos e da obra, que segundo o movimento, ano após   apresenta   mais   falhas,   totalizando   “mais   de   60   ações   por   ilegalidades, irregularidades e violações de direitos”. 15 As cartas seguem até que em maio de 2008 acontece o Encontro Xingu Vivo para Sempre.   O   mesmo   reúne   representantes   de   populações   indígenas   e   ribeirinhas, movimentos sociais, organizações da sociedade civil, pesquisadores e especialistas para debater impactos de projetos de hidrelétricas na Bacia do Rio Xingu.  Durante o encontro, índios entram em confronto com responsável pelos estudos ambientais da hidrelétrica de Belo Monte e, no meio da confusão, o funcionário da Eletrobrás e coordenador do estudo de inventário da usina, Paulo Fernando Rezende, fica ferido com um corte no braço. 

Após o evento, o Movimento divulga a Carta Xingu Vivo

FHC diz que "birra" ambientalista atrapalha o País. Estadão, São Paulo, 23 abr. 2002. Disponível em:     Acesso  em:   6  dez. 2013. 15 Resposta do Xingu Vivo à nota do CCBM sobre atuação da Força Nacional em Belo Monte. Xingu Vivo,   18   abr.   2013.   Disponível   em: . Acesso em: 11 dez. 2013.   14

34 Para Sempre16, documento final que avalia as ameaças ao Rio Xingu e apresenta à sociedade   brasileira   um   projeto   de   desenvolvimento   para   a   região   e   exige   das autoridades públicas sua implementação. Nesse encontro foi proclamado pelos povos indígenas,   com   o   apoio   dos   movimentos   sociais,   que   o   movimento   passaria   a   se chamar  Movimento Xingu Vivo Para Sempre (Fotografia 2). Na ocasião, Procuradores da República que participavam do Encontro, recebem com   surpresa   a   notícia   de   que   o   Tribunal   Regional   Federal   da   1ª   Região   havia suspendido uma liminar da Justiça Federal de Altamira e autorizou a participação das   empreiteiras   Camargo   Corrêa,   Norberto   Odebrecht   e   Andrade   Gutierrez   nos Estudos de Impacto Ambiental da hidrelétrica de Belo Monte. O MPF recorre, porém não obtém sucesso.  E   é   nesse   cenário   que   o   projeto   fica   tramitando   na   Justiça.   Ora   o   Governo Federal consegue dar continuidade aos estudos, ora o Ministério Público consegue travá­los devido a irregularidades. 

Mas,   apesar   de   toda   a   mobilização   recente

empreendida por distintos movimentos sociais contrários à construção, bem como as muitas ações17 elaboradas pelo Ministério Público Federal do Pará, a construção foi iniciada   no   primeiro   semestre   de   2011,   passando   por   audiências   públicas problemáticas,   relatório   de   impactos   ambientais   elaborados   pelos   próprios construtores, além de outras problemáticas (NASCIMENTO, 2011).

Encontro  Xingu Vivo para Sempre divulga documento final.  Instituto Socioambiental,  24 mai. 2008. Disponível em:  Acesso em: 10 dez. 2013. 17 Todas as ações implementadas pelo MPF estão disponíveis no site do Ministério. Ministério Público Federal. Procuradoria da República no Pará. Processos caso Belo Monte. MPF, 2013. Disponível em: .  Acesso em: 10 dez. 2013. 16

35 Fotografia 2 ­ Encontro que deu origem ao MXVPS

Fonte: Flickr do MXVPS18. Foto: Verena Glass.  Réporter Brasil, maio de 2008.  

1.5   A   CONCENTRAÇÃO   DOS   MEIOS   DE   COMUNICAÇÃO:   DESAFIO PERMANENTE   AO   RECONHECIMENTO   DAS   LUTAS   DOS   MOVIMENTOS SOCIAIS

Como já foi exposto anteriormente, o espetáculo   midiático é fundamentado por vários   microcampos   da   sociedade,   como   a   escola,   a   igreja,   o   trabalho,   as   praças públicas, entre outros (COSTA, 2005).  Apesar disso, não dá para negar o poder de influência que a mídia tem na formação desses microcampos, ainda mais em países como o Brasil, onde a concentração dos meios de comunicação é alarmante e a lei que regula a comunicação no país não é revista há mais de 50 anos.19     Rede   Social   de   Relacionamento   de   Compartilhamento   de   Imagem   do   MXVPS.   Disponível   em: . Acesso em: 10. dez. 2013. 19  Informação do site www.paraexpressaraliberdade.org.br que busca através de uma Lei de Iniciativa Popular   colher   1   milhão   de   assinaturas   e   pressionar   o   governo   em   busca   de   uma   nova   lei   de 18

36 O cenário fica ainda mais complicado quando observamos que dos quase 10 mil veículos  de comunicação no Brasil, poucos são os  grupos  regionais  que produzem seus próprios conteúdos, recorrendo muitas vezes à organização em rede nacional, diminuindo ainda mais a diversidade de informações:   Os  grandes   grupos   nacionais  dominam   o   mercado,   produzindo   o  conteúdo que   será   veiculado   por   esses   veículos   locais.   Alguns   complementam   a programação   com   pequenas   parcelas   de   produção   local,   mas   não   há   uma efetiva regionalização das programações20.

Além   de   pouco   produzirem,   quando   estes   grupos   regionais   produzem   algum conteúdo,   os   mesmos   são   subordinados   a   mesma   óptica   e   dinâmica   dos   veículos nacionais.   Somado   a   isso,   vários   veículos   de   comunicação   são   ligados   à   famílias envolvidas na política, como “os Barbalho, do Pará, têm a Rede Brasil Amazônia de Comunicação, que reproduz, em Belém, o sinal da Band. Os Collor em Alagoas, os Alves e os Maia no Rio Grande do Norte, os Magalhães na Bahia e os Jereissati no Ceará”21. Segundo o site Donos da Mídia, mais de 80% das redes presentes na região Norte estão ligadas a estas famílias e a grupos religiosos.  As   consequências   deste   modelo   de   comunicação   monopolizado   são   várias,   indo desde a invisibilidade de certos atores sociais até a perpetuação de  preconceitos: 

São décadas tentando impor um comportamento, um padrão, ditando valores de   um   grupo   que   não   representa   a   diversidade   do   povo   brasileiro.   Cinco décadas   em   que   a   mulher,   o   trabalhador,   o   negro,   o   sertanejo,   o   índio,   o camponês,   gays   e   lésbicas   e   tantos   outros   foram   e   seguem   sendo invisibilizados pela mídia.22 regulamentação da comunicação no Brasil. 20 CASTRO,   Fábio.   Quem  controla   a   mídia   no  Brasil?.   In:  Comunicação,   Poder   e   democracia. Belém:   2013.   Disponível   em: .   Acesso   em: 10 dez. 2013. 21 CASTRO, Ibid., 2013.

Trecho retirado do site da campanha “Para Expressar a Realidade”, organizada por diversas entidades de movimentos sociais que discutem a democratização dos veículos de comunicação e uma   nova   Lei   de   Comunicação   para   o   Brasil.   Disponível   em:  Acessado em 10 dez. 2013. 22

37 O   cenário   exposto  é   um   dos   maiores   desafios   para   o   exercício   da   democracia (LIMA,   2001),   já   que   a   produção   e   distribuição   de   informação   são   elementos fundamentais para avaliar o grau de democracia de uma sociedade, como apontava o relatório   McBride   ­   "Um   Mundo   e   Muitas   Vozes”,   no   qual   são   levantados   três princípios   básicos   para   uma   sociedade   verdadeiramente   democrática,   são   eles: direito   à   comunicação,   comunicação   como   recurso,   comunicação   horizontal   e participativa (GINDRE, 2004, apud STENBRENNER, 2011) . Apesar de escrito em  1980 e publicado no Brasil pela Fundação Getúlio Vargas em 1983,  o relatório ainda é bastante atual no  debate a respeito do desequilíbrio do fluxo   mundial   de   informação   e   comunicação.   Desequilíbrio   este   que   até   os   dias atuais é um dos    grandes desafios a ser enfrentado pelos movimentos sociais, que diante disso tudo adotam duas posturas distintas.  Ora   desenvolvem   ações   para   alcançar   a   atenção   dos   meios   de   comunicação massivos   ora   driblam   este   problema   desenvolvendo   seus   próprios   meios   de comunicação   (PEREIRA,   2011),   os   quais   podem   ser   rádios   comunitárias (STENBRENNER, 2011), jornais independentes (DOWNING, 2004) e agora, mais recentemente, blogs e redes sociais, e­mails e grupos de discussão (PEREIRA, 2011). 

38 2 MXVPS 2.0: AS PRIMEIRAS AÇÕES NAS REDES SOCIAIS

Se existe um limiar que pode definir a entrada oficial do Movimento Xingu Vivo Para Sempre nas redes sociais, este momento aconteceu em setembro de 2009.   Marcadas   por   várias   denúncias   envolvendo   mudança   inesperada   de   local, repressão policial e criminalização de movimentos sociais e indígenas, as audiências públicas sobre Belo Monte podem ser consideradas a faísca que faltava para que o Xingu Vivo passasse a utilizar oficialmente a Rede Mundial de Computadores.  As audiências foram vistas por muitos presentes não como um espaço de diálogo como foi divulgado e sim como “simulacro de participação”23 (NASCIMENTO, 2011, p. 165) necessário para o licenciamento da obra e como um espaço de campanha eleitoral   (BARROS   E   RAVENA,   2011).   A   repercussão   negativa   foi   tanta   que   o Movimento   achou   necessário   mostrar   ao   mundo   que   o   Governo   Federal     estava “enfiando Belo Monte goela abaixo”.24 Durante   este   momento   houve   um   maior   tensionamento   na   relação   entre   o MXVPS e o Estado e é justamente durante períodos de tensão que os movimentos sociais mais procuram quebrar o silêncio por meio de mídias alternativas, como uma forma de inserir seus pontos de vistas e opiniões, quase sempre não representados e até ridicularizados pela mídia hegemônica (DOWNING, 2004)   na arena da esfera pública (MORAES, 2000). Outro  fator  relevante que  colaborou  para  que  o MXVPS  passasse a  utilizar  a internet foi a presença de pessoas especializadas em comunicação ligadas à ONGS

  O mesmo processo de “simulacro de participação” já havia sido denunciado durante as consulta para a implementação de outro projeto de grande impacto na Amazônia,   a construção da BR 163 (Cuiabá­Santarém) (CAYRES, 2010). 24 MOVIMENTO XINGU VIVO PARA SEMPRE.  Belo Monte e a palavra do presidente. Xingu Vivo,   10   out.   2011.   Disponível   em: .  Acesso em: 10 dez. 2013.  23

39 na assessoria de comunicação do Movimento, que antes era ocupada por ativistas/ militantes não especializados nas novas tecnologias de comunicação.  Antes de utilizar a internet, o XMVPS contava com o apoio de parceiros para divulgação de assuntos oficiais na internet, um deles é   o Instituto Socioambiental (ISA). Na ilustração 1 podemos ver dois tweets no qual o ISA mostrava este apoio:

Ilustração 1 ­ ISA divulga informações sobre o MXVPS no Twitter

Fonte: Prinscreen do Twitter.

Como   podemos   observar   ao   longo   do   que   já   foi   exposto   no   capítulo   anterior, sempre que o Estado e as empresas avançam com pesquisas, licenciamento,  leilão, o Movimento   responde   com   cartas,   encontros   ou   campanhas.   As   audiências   foram mais   um   desses   momentos.   Era   necessário   quebrar   o   silêncio   mais   uma   vez   e definitivamente.  Foi   então   que   a   partir   de   2010   surgem   as   primeiras   publicações   oficiais   no MXVPS   em   redes   sociais,   criação   de   site   e   até   a   formação   de   um   Comitê

40 Metropolitano   do   MXVPS   em   Belém,  que  serviria   como   um   apoio   ao  MXVPS   na capital do estado do Pará, Belém. O Comitê foi criado em outubro de 2009, logo após as audiências, sobre este período Maurício Matos, membro do Comitê Metropolitano em Belém, explica: 

No início nos reivindicávamos como um braço do MXVPS em Belém. Depois, em   razão   de   algumas   divergências,   passamos   a   ter   uma   atuação   mais independente,   mas   sempre   pautando   as   ações   definidas   pelo   conjunto   do MXVPS   (…)   O   motivo   principal   de   utilizarmos   a   Internet,   com   o cyberativismo, é o fato desta ser um ferramenta que nos permite difundir idéias, campanhas, dados técnicos, atingindo um público jovem, formador de opinião, capaz de mobilizar pessoas para ações reais, seja no Brasil ou em qualquer parte do mundo. E tudo isso com um baixo custo­benefício. Assim,  aproveitamos   toda   a   facilidade   de   comunicação   permitida   com   o   mundo virtual para fortalecer a luta contra Belo Monte. (MAURÍCIO MATOS, 25 i.v. 12 jul.2013).

O Comitê Metropolitano saiu na frente do próprio MXVPS e em outubro de 2009 observamos as primeiras publicações no blog26 do mesmo. As informações publicadas no  blog  do  Comitê  durante  muito  tempo  eram   divulgadas   pelos   perfis  oficiais   do MXVPS, isso foi recorrente até a construção do site oficial do MXVPS.  É possível afirmar que as audiências públicas sobre Belo Monte foram um ponto fundamental para a entrada do MXVPS na WEB e é justamente sobre elas e sobre as ações que se seguem às mesmas que os parágrafos seguintes discorrem.

2.1 AS AUDIÊNCIAS PÚBLICAS E OS PRIMEIROS PASSOS NA WEB

Apesar de existir desde 2008, somente dois anos depois (janeiro de 2010) é que o Movimento   Xingu   Vivo   Para   Sempre   começa   a   utilizar   a   internet   de   uma   mais institucionalizada.  Maurício Matos, membro do Comitê Metropolitano Xingu Vivo, servidor público e filiado no Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Entrevista concedida em 12/07/2013 via Gtalk, aplicativo de conversa instantânea do Google. 26 Disponível em:   Acessado em: 10 dez. 2013. 25

41 Atribuímos a entrada do MXPS às audiências públicas realizadas entre 10 e 15 de   setembro   de   2009   em   três   cidades   diretamente   impactadas   pela   obra   (Brasil Novo,   Vitória   do   Xingu   e   Altamira)   e   na   capital   do   estado   do   Pará,   Belém.   As mesmas foram um divisor de águas nas estratégias do Movimento, que, logo após às mesmas, passou a utilizar a Web.  Nascimento (2011) e Barros e Ravena (2011) acompanharam todas as audiências e   fizeram   suas   dissertações   de   mestrado   baseadas   nas   mesmas.   A   primeira (NASCIMENTO, 2011), faz sua pesquisa amparada no conceito de campo de Pierre Bourdieu e analisa as várias forças conflitantes presentes nas audiências. Enquanto os segundos ,fazem uma análise de conteúdo dos discursos presentes e os comparam com de jornais de Belém e São Paulo.  Segundo Nascimento (2011), as audiências públicas surgem em um contexto em que   se   torna   cada   vez   mais   necessário   a   democratização   de   processos   de licenciamento   ambiental   para   implementação   de   grandes   projetos   no   Brasil. Entretanto,   em   ambos   esse   processo   que   deveria   ser   democrático   contrariou   os próprios objetivos.  Nascimento   aponta   algumas   problemáticas   que   ocorreram durante esse processo: A pouca quantidade de audiências em relação aos municípios afetados; O tempo disponibilizados para questionamentos e exposições de falas; A divulgação tardia do Estudo de Impactos Ambientais, bem como a ausência de vários documentos essenciais para uma análise qualificada da viabilidade dos estudos;  E a presença   massiva   de   guardas   da   Força   Nacional   e   da   Polícia   Militar,   Civil   e   e Federal. Para   a   autora,   todos   esses   pontos   vão   completamente   de   encontro   à “participação” pregada e difundida como objetivo principal das audiências, levando a mesma a chamá­las de “simulacro de participação”. Barros e Ravena (2011) também compartilham   desse   mesmo   pensamento   quando   comparam   a   estrutura   das audiências públicas ao funcionamento da mídia como “plateia, palco e bastidores”:

42 Diante   de   uma   plateia   delimitada,   mas   com   possibilidade   de   maior abrangência a partir da publicização das audiências, os políticos ingressaram no  lugar  de fala  do evento  com    o mesmo comportamento  apresentado no palco   oferecido   pela   mídia   –   contando   com   um    acordo   tácito   com   os representantes dos bastidores, formados pela mesa diretora das  audiências. A   plateia,   que   abrangia   a   maioria   dos   movimentos   e   atores   contrários   à construção da usina, vez ou outra conseguiu intervir no palco, muito mais pela   necessidade   de   a   mesa   diretora   legitimar   o   processo   democrático inerente aos objetivos das audiências  públicas (BARROS E RAVENA, 2011, p. 8).

Desta forma, as audiências públicas, que deveriam ser um espaço de debates e questionamentos   sobre   o   Estudo   de   Impactos   Ambientais   (EIA) 27,   se   tornaram apenas mais um processo legal necessário para justificar a implementação da obra. Além   disso,   a   audiência   marcada   para   acontecer   em   Belém,   no   teatro   Ismael Nery28  foi transferida em cima da hora para   Teatro Margarida Schivasappa, com menos da metade de capacidade, reduzindo o espaço disponível de 1000 para 460 lugares.  A mudança repentina de local fez com que várias pessoas não conseguissem entrar no teatro para a participar da audiência, a maioria indígenas e integrantes de movimentos   sociais,   impedidos   na   entrada   do   auditório29  (BARROS   e   RAVENA,  Trabalho de mais de 20 mil páginas divulgado no site do IBAMA apenas duas semanas antes das audiências.   Segundo   pesquisadores   e   membros   do   MXVPS   a   demora   na   inviabilizou   a   análise   e formulação dos questionamentos até as audiências, sendo necessário mais tempo para isso. O EIA está   disponível   em:   .   Acesso: 05 dez. 2013. 28   Em matéria postada no site do IBAMA, o instituto divulgou o referido auditório como   sede da audiência.  IBAMA.  Audiências de Belo Monte atraem cerca de 8 mil participantes.  IBAMA, Brasília,   16   set.   2009.   Disponível   em: . Acesso em: 10 dez. 2013.  Após a data, a  matéria seguinte sobre Belo Monte presente no site do IBAMA acontece em 16/09/2009,   depois   da   última   audiência.   Vale   ressaltar   na   matéria     que   em   nenhum   momento   a instituição faz alusão à mudança de local inesperada e a limitação de espaço do novo auditório, o Margarida   Schivasappa.  IBAMA.  Audiências   de   Belo   Monte   atraem   cerca   de   8   mil participantes.  IBAMA,   Brasília,   16   set.   2009.   Disponível   em: 27

. Acesso em: 10 dez. 2013. 

Na  internet  existem  vários textos  denunciado  irregular idas  nas  audiências.   O  texto  “Audiência Pública de Belo Monte em Belém...Uma Aula de Cidadania?”, escrito por Syglea Lopes, professora de Direito Ambiental no Centro Universitário do Estado do Pará (CESUPA), é um deles. No texto, a professora   denuncia   que   chegou   com   antecedência   ao   local   e   foi   informada   que   alguns   lugares 29

43 2011; NASCIMENTO, 2011). Segundo trecho retirado de um texto divulgado no site da  Federação   de   Órgãos   para   Assistência   Social   e   Educacional  (FASE),   ator integrante da Rede do MXVPS, várias pessoas foram impedidas pela Força Nacional de entrar  e as que conseguiram entrar tiveram suas falas cerceadas:

Foi   para   discutir   estes   importantes   aspectos   que   centenas   de   indígenas, outros moradores da região, além de integrantes de organizações que apóiam sua luta, foram a Belém no dia 15 de setembro para participar da audiência pública   sobre   Belo   Monte.   Chegando   lá,   porém,   encontraram   a   Força Nacional de Segurança realizando uma forte barreira que impediu a entrada da   maioria   dos   manifestantes.   Os   que   puderam   entrar   não   puderam   ser representados na mesa e tiveram dificuldade de ter acesso à fala30. 

O MPF31 afirma que seus procuradores tentaram garantir a entrada de indígenas e   sem­terra,   mas   não   obtiveram   sucesso.     Tentaram     também   negociar   com presidente do Ibama para que a audiência fosse adiada e acontecesse em outro local, visando,   assim,   ampla   participação   dos   presentes.   Entretanto,   o   presidente apresentava­se irredutível:

Os membros do MP tentaram negociar com o presidente do Ibama, Roberto Messias, para que a audiência fosse realizada em um auditório maior, que abrigasse todos os interessados. Eles argumentaram que não seria possível garantir  nem  a  segurança   de  quem  estava   dentro,   nem  a   participação  de quem estava fora. A promotora de Justiça Eliane Moreira, que chegou alguns minutos depois de iniciada a negociação, relatou que até no estacionamento estava impossível entrar. Mas Messias não concordou: alegou que quem não tinha entrado acompanharia pelo telão instalado do lado de fora e descartou estavam reservados aos indígenas. Pouco tempo depois, Syglea Lopes diz que as poltronas reservadas foram tomados por “outras pessoas (homens brancos), possivelmente representante das empresas”. Disponível   em:   .   Acessado   em:   5   dez.   2013.   Outra matéria que confirma denuncia a limitação do espaço foi  publicada no site do MPF e diz que o auditório dispunha apenas de 460 lugares e os presentes superavam 600, fazendo com que dezenas de pessoas, entre indígenas, estudantes e movimentos sociais ficassem do lado de fora. Disponível em: . Acessado em: 5 dez. 2013. 30 FASE.  Belo   Monte:   Audiência   discrimina   e   reprime   população.   Fase,   2009.   Disponível   em:   < . Acesso em: 5 dez. 2013. 31  Site do Ministério Público Federal do Pará disponível em: . Acessado em: 5 dez. 2013.

44 um acordo para adiar a audiência.32 

E   foi   em   meio   a   este   clima   tumultuado   que   a   audiência   começou,   sendo interrompida   pouco   depois   das   primeiras   falas.   Procuradores   do   MPF   e   MPE disseram que o formato de exposição adotado, assim como nas audiências passadas, dificultava   a   participação   de   movimentos   contrários   à   obra.   Os   procuradores   se retiraram do local, afirmando que as audiências eram uma farsa, cujo objetivo era esconder as lacunas do EIA/RIMA:

'Ferem   a   constituição   para   esconder   as   falhas   e   omissões   de   impactos importantes   nos   Estudos   e   no   Relatório   de   Impacto   Ambiental,   que   não esclarecem vários riscos e o que vai acontecer de fato na vida das pessoas e na área impactadas pela barragem', protestou o promotor, que se retirou da mesa   da   audiência.   Junto   com   ele   também   protestou   e   saiu   do   teatro   o procurador   federal   Rodrigo   Timóteo   Costa   e   Silva.   'Fomos   cerceados   de participar nas três audiências públicas anteriores, o MPF teve o seu direito violado, e aqui o espaço não permite a participação popular e democrática, queremos a impugnação de todas as audiências', declarou33. 

Desta forma os procuradores se retiraram, sendo acompanhados por indígenas, ativistas e movimentos sociais, restando apenas metade dos presentes no auditório, grande parte representantes do Governo Federal e Estadual, membros do CCBM e um   grupo   favorável   à   obra.   Enquanto   isso,   os   manifestantes   que   se   retiraram gritavam   palavras   de   ordem   no   hall   do   Centur   e  fechavam   Avenida   Gentil Bittencourt34. Após o episódio,  a Advocacia Geral da União apresentou reclamação disciplinar no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e chamou de  “irresponsável e MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO PARÁ. MPF/PA  questiona modelo de audiência pública de Belo Monte. MPF, 2011. Disponível em:  . Acesso em: 5 dez. 2013.   33 ORM. Protestos marcam audiência­ Entidades contrárias à implantação da hidrelétrica de Belo Monte   dizem   que   foram   impedidas   de   se   manifestar.  ORM,   Belém,   16   set.   2009.   Disponível   em:   Acesso em: 10 dez. 2013.  34 ORM, Ibid., 2009. 32

45 insidiosa”35  a atuação dos promotores durante a audiência.   É importante destacar que, assim como o IBAMA, a AGU nem ao menos cita as incoerências  da audiência, no que se refere a mudança de local, forte aparato policial e falta de espaço para a participação   popular   (NASCIMENTO,   2011),   sendo   as   mesmas   responsáveis   pela reação dos procuradores, indígenas e movimentos sociais. Não  foi  somente em  Belém  que as  audiências  foram  criticadas.  Rodolfo  Salm, PhD   em   Ciências   Ambientais   pela   Universidade   de   East   Anglia   e   professor   da Universidade   Federal   do   Pará,   no   artigo   intitulado   “Belo   Monte:   A   farsa   das audiências   públicas”36  fala   sobre   os   problemas   ocorridos   em   Altamira,   que envolveram   disparidades   nas   falas,   favorecendo   sempre   os   interessados   na   obra: “Cada pessoa inscrita tinha direito a três minutos para uma pergunta oral, havendo três para a resposta dos proponentes, com direito a réplica e tréplica. Ou seja, quem fechava a sessão eram sempre os empreendedores”37. Apesar   da   estratégia   extremamente   parcial   adotada   pelos   interessados, opositores   conseguiram   fazer   várias   perguntas   mais   incisivas,   questionando   os riscos   do   projeto.   Porém,   as   respostas,   segundo   o   pesquisador,   raramente   davam conta das indagações feitas. Ora fugiam do assunto, como quando perguntados sobre a   elevação   no   nível   de   contaminação   dos   poços   de   água   da   cidade,   sobre   a   qual desviaram afirmando que “os nove poços estudados pela sua equipe já apresentavam níveis de contaminação que os tornavam inapropriados para o consumo de água” 38, o Trecho   de  matéria   divulgada   no  site da   AGU,  na   qual   a  entidade   afirma   que o    procurador  da República Rodrigo Timóteo da Costa e Silva e o promotor de justiça do MPE/PA, Raimundo de Jesus Coelho   de   Moraes   agiram   de   forma   parcial.   A   AGU   afirma   que   procurador   e   promotor     foram motivados   por   convicções   pessoas,   sendo   as   mesmas   “desvinculadas   daquilo   que   se   denomina interesse público”. ROSSI, Leticia Verdi.  AGU apresenta Reclamação Disciplinar no CNMP contra procurador   da   República   e   promotor   de   Justiça.  AGU,   24   abr.   2010.   Disponível   em: . Acessado em: 5 dez. 2013. 36  SALM, Rodolfo. Belo Monte: a farsa das audiências públicas. Eco Debate­ Cidadania & Meio  Ambiente. 8 out 2009. Disponível em:  . Acessado em 5. dez. 2013. 37  SALM, Ibid. 2009. 38  SALM, Rodolfo. Belo Monte: a farsa das audiências públicas. Eco Debate­ Cidadania & Meio  35

46 que segundo Salm quer dizer que os pesquisadores do EIA seguiram uma lógica do tipo: “não tem problema destruirmos a sua cidade, porque ela já não era adequada mesmo para se viver”. Ora atacavam e desqualificavam quem se manifestava, como quando   Philip   Fearnside,   um   dos   pesquisadores   de   impactos   ambientais   mais respeitados do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPE) tendo artigos publicados em revistas pelo mundo todo, perguntou qual era a garantia que mais barragens não seriam construídas no Xingu, já que devido ao fluxo sazonal do Rio, uma barragem apenas não seria suficiente para gerar a energia prometida por Belo Monte.   Novamente   a   estratégia   utilizada   não   foi   a   da   argumentação   e   sim   a desclassificação,   já   que   foi   afirmado   que   eu   pesquisador   estava   completamente equivocado   pois a potência de Belo Monte havia sido recalculada para cima, “mas não disse como, nem para quanto”39. Além desses acontecimentos particulares, outro fator que provocou revolta  entre pesquisadores, ativistas e movimentos sociais foi o atraso na divulgação do Estudo de   Impactos   Ambientais,   que   aconteceu   dois   dias   antes   das   audiências,   o   que impossibilitou   qualquer   estudo   prévio   e   levantamento   de   crítica   por   parte   dos opositores até às audiências. Mesmo divulgado fora de época e em cima do prazo, o EIA apresentou volumes não concluídos e estudos incompletos, como o estudo da qualidade hidrográfica e subestimou a população afetada. Antes do fato, o MPF já havia pedido a realização de no mínimo treze audiências para   garantir   que   mais   regiões   afetadas   fossem   incluídas   nas   audiências,   já   que segundo os estudos inciais, Belo Monte afetaria direta e indiretamente cerca de 66 municípios e 11 terras indígenas40, o que tornaria inviável a consulta em apenas 4, Ambiente. 8 out 2009. Disponível  . Acessado em 5. dez. 2013. 39  SALM, Ibid. 2009. 40 MINISTÉRIO   PÚBLICO   FEDERAL.PROCURADORIA   DA   REPÚBLICA   NO   PARÁ.  MPF recomenda mais audiências para debater Belo Monte com moradores do Xingu. MPF, 9 set. 2009.   Disponível   em: http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2009/noticias/mpf­recomenda­mais­audiencias­para­debater­belo­m

47 sendo que Belém está a quase mil km de distância da obra. Após o pedido, a Justiça Federal suspendeu o licenciamento e acatou o pedido de novas audiências, porém, um dia depois, a liminar foi derrubada pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região,   e   em   fevereiro   de   2010,   o   IBAMA   concedeu   licença   prévia41  para     a construção da Usina mesmo com as falhas apontadas no EIA/RIMA  pelo Painel de Especialistas. Diante   deste   cenário,   era   necessário   tomar   alguma     medida   para   denunciar tantas irregularidades apontadas pelo Movimento. Foi então que no início de 2010, o MXVPS começa a utilizar a internet e cria sua primeira rede social, o Orkut, sendo seguida pelo Twitter, Facebook e Youtube, entre outras. Diante   deste   cenário,   era   necessário   tomar   alguma     medida   para   denunciar tantas irregularidades apontadas pelo Movimento, foi então que no início de 2010, o MXVPS   passa   a   utilizar   a   internet.   Sobre   este   período,   Gabriela   Juns,   uma   das assessoras   do   MXVPS   na   época   explica,   no   que   demonstra   também   o   início   da adesão de colaboradores em rede à causa do movimento:

Sabia o potencial que o XV estava perdendo quando  deixava de conversar na rede.   Sem   contar,   que   o   grande   problema   das   causas   amazônicas   é   a dificuldade   de   comunicá­las   pra   quem   não   está   na   área.   Parecem   países diferentes.   Tomei   por   missão   buscar   essa   comunicação,   simples,   direta, buscando o envolvimento de quem tá no sul, no sudeste, no centroeste, no nordeste com um problema que é de todos nós42. 

onte­com­moradores­do­xingu/?searchterm=Belo%20Monte> Acesso em: 10 dez. 2013. 41 BRESCIANI, Eduardo. Ibama concede licença prévia para construção da usina de Belo Monte. G1: São   Paulo,   1   fev.   2010.   Disponível   em:   < http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1472165­5598,00.html> Acesso em: 10 dez. 2013.  42 Gabriela Juns, em entrevista concedida via Gtalk em 10/10/2011. Gabriela Juns é designer. Desde 2007 trabalha com produção de conteúdos e estratégias ciberativistas. Antes de atuar nas mídias sociais   do   MXVPS,   trabalhou   no   Greenpeace   em   Manaus,   onde   aprofundou   os   estudos   sobre Amazônia e Belo Monte.   No Xingu Vivo colaborou em várias campanhas, como a “Belo Monte com meu dinheiro não”,   “Pare Belo Monte” e “15.O Vem acampar na aldeia”. Atualmente Gabi Juns  é coordenadora na escola de Ativismo, com página disponível em: . Acessado em: 5 dez. 2012

48 É nesse momento que o MXVPS cria sua primeira rede social, o Orkut, sendo seguida pelo  Twitter,  Facebook  e  Youtube, entre outras, como veremos nos tópicos que seguem.

2.2 REDES SOCIAIS, REDES DE MOVIMENTOS SOCIAIS E CIBERATIVISMO Quando uma nova tecnologia surge interfere de forma substancial na sociedade fazendo   surgir   novas   formas   de  sociabilidade,   assim   foi   com   a   máquina   a   vapor, eletricidade,    rádio  e com   a   Internet.    Apesar  disso,  em  1969,   quando   o governo inaugura   a  ARPANET,  nem   os   mais   visionários43  poderiam   imaginar  que  o  novo invento dos Estados Unidos, pensado para comunicação militar, iria se transformar em   um   dos   principais   veículos   de   comunicação   do   século   XXI   e   ferramenta importante de mobilização dos movimentos sociais.  Segundo   Castells   (2003),   no   final   do   século   XX,   a     internet   saiu  do   ambiente militar e acadêmico e se expandiu, passando a estar presente em alguns domicílios, departamentos públicos,  empresas privadas:

Internet   uma   tecnologia   obscura   sem   muita   aplicação   além   dos   mundos isolados   dos   cientistas   computacionais,   dos   hackers   e   das   comunidades contraculturais, tornou­se a alavanca na transição para uma nova forma de sociedade­ a sociedade de rede. (CASTELLS, 2003. p.8 )

Fazendo   uma   comparação   com   o   que   MacLuhan   chamou   de   Galaxia   de Gutemberg (1972), quando as maquinas de impressão se popularizam no ocidente, O canadense Marshall McLuhan, no livro “Galaxia de Gutemberg” (1965) inaugura o conceito de “Aldeia   Global”,   desenvolvido   mais   profundamente   em   1972,   em   um   livro   com   mesmo   título   do conceito.   O   autor   defende   que   com   as   novas   tecnologias   as   distancias   se   reduziriam   tanto proporcionando a  aproximação  das pessoas  a ponto de  existir  apenas  uma  cultura  mediada  pelas novas mídias eletrônicas, o que favoreceria o surgimento de uma nova organização social, a Aldeia Global.   Após     o   avanço   da   Internet   esse   conceito   ganha   grande   visibilidade   nas   universidades   e pesquisadores. Devido a isso,  MacLuhan ainda hoje é apontado por muitos como o visionário da Rede Mundial de Computadores, apesar de alguns estudiosos como Santos (….) criticarem o conceito Aldeia Global, pois acreditam que ao invés de uma cultura única interligada por tecnologias, o que acontece com o avanço das novas tecnologias é a convivência paralela de várias culturas.  43

49 Castells   chama   o   momento   atual   de   Galaxia   da   Internet   e  afirma   que  a   mesma constitui­se   “a   base   tecnológica  que   sustenta   a   estrutura  organizacional   que caracteriza a Era da Informação: a Rede”. (CASTELLS, 2003. p. 15). Para Castells redes são formas de organização antigas na sociedades. Desde os primórdios os indivíduos se organizam em alguma espécie de rede, porém, com o desenvolvimento da Internet as redes puderam se converter em redes de informação, impulsionadas cada vez mais por este veículo.  O surgimento da Internet proporcionou  a difusão de informações de uma forma mais rápida e mais interativa, criando assim uma variedade  de novas informações circulando   nos   grupos   sociais.  Juntamente  com   esse  processo,  o   aparecimento  de redes de interação deu ainda mais força e alcance para esses fluxos ampliando a característica de difusão das redes sociais (RECUERO, 2009). Além do poder da contra­informação, as redes sociais tem muito a contribuir para os movimentos sociais de forma organizacional, facilitando a difusão de informação entre   parceiros   (PEREIRA,   2011;   RIGITANO,   2003;  OLIVEIRA,   C.T.F.   e FERREIRA,  2006). Desta forma, as Redes de Movimentos Sociais que já existiam desde o século passado (sec. XX), se organizando e comunicando por telefones, fax, cartas, passaram a ver na Internet mais uma possibilidade de comunicação:  São  partidos   políticos,   ONGs,   movimentos  sociais,   sindicatos  e  até  grupos guerrilheiros   que   descobriram   esse   ambiente   interativo,   cooperativo   e descentralizado   e   nele   viram   a   possibilidade   de   difusão   de   idéias   e reivindicações,   aproveitando­se   do   alcance   global,   da   velocidade   de transmissão   da   velocidade   de   transmissão   e   recepção   de   mensagens   e   do barateamento   de   custos,   entre   outras   vantagens   (OLIVEIRA,   C.T.F.   e FERREIRA, 2006, p. 220­221)

Os movimentos sociais que antes dependiam dos grandes veículos de comunicação para   expor   suas   demandas   e   necessidades,   agora   não   dependem   mais exclusivamente   da   mídia   tradicional.   Pereira   (2011)   fala   sobre   esse   processo   no trecho a seguir:

50

Os movimentos sociais encontraram na Internet um meio capaz de fornecer as   condições   necessárias   para   a   criação   de   canais   informativos   e comunicativos   alternativos   aos   grandes   meios   de   comunicação   de   massa. Esses   espaços   eletrônicos   são   fundamentais   para   que  atores   da   sociedade civil   possam  interagir  através  da  troca   de  informações  e  percepções  sobre determinadas questões (PEREIRA, 2001. p. 7).

O   ativismo44  online,   ou   seja,   as   atividades   militantes   praticadas   na   web,   é chamado de ciberativismo. Segundo Vegh (2003 apud. PEREIRA, 2011; RIGITANO, 2003;   SILVEIRA,   2009),     existem   três   tipos   de   ativismo   online   que   podem   ser utilizados   tanto   por   movimentos   sociais   organizados   quanto   por   indivíduos autônomos, sendo que os mesmos podem fazer uso apenas de um ou de todos os tipos ciberativismo paralelamente.  A primeira categoria pontuada por Vegh preza pela conquista de conscientização e promoção   (awareness/advocacy)   de   uma   causa.   A   internet   seria   utilizada     pelos ativistas   como uma   fonte  alternativa   de  informações   por  meio  de    divulgação  de notícias entre si e a população, buscando assim novos ativistas. Essa conscientização poderia ocorrer por fóruns, páginas, listas de discussão, chats, entre outros.  Grande parte   das   organizações   ativistas45  relacionadas   às   direitos   (humanos,   étnicos   e mulheres) fazem uso deste tipo de ciberativismo (RIGITANO, 2003). A   Internet   também   pode   ser   usada   para   organização   e   mobilização (organization/mobilization) de ações. Eis aqui a segunda categoria de ciberativismo,  O termo “ativista” popularizou­se provavelmente em função de sua adoção por grupos na América do Norte  e  na  Europa. O  motivo,  supostamente,  foi  a tentativa  de distanciamento da  carga  forte associada às palavras “revolucionário” e “radical” ­ a primeira utilizada para extremista que recorre às armas e busca tomar o poder, a segunda para o ator político institucional que age fora dos padrões de conduta comuns às instituições – e a carga da palavra “militante” ­  que defende causas, como os ideais de um partido, mas têm poucas manifestações ativas (ASSIS, 2006:13 apud SILVEIRA, 2009). 45 Como exemplo, Rigitano (2003) cita a atuação da Anistia Internaciorkutonal em relação a troca de informação mundiais. A Anistia utiliza o portal disponível em: <  www.amnesty.org    >  Acesso em: 10 dez. 2013. para se interligar por meio de lista de discussões com mais de 150 países que também. Citamos também a ONG International Rivers, disponível em: , acesso em: 10 dez. 2013., uma das principais parceiras do Xingu Vivo,  que utiliza o ciberativismo de uma   forma   bastante   informativa,     desenvolvendo   vídeos,   infográficos,   dados   interativos   sobre barragens de grandes impactos projetadas para rios em várias partes do mundo.  44

51 que pode ser subdivida em três: A chamada para ação offline (protestos, passeatas, marchas); a chamada para a ação que poderia ser offline, mas que é mais eficiente online (contatar um representante do Estado via e­mail); e a chamada para uma ação exclusivamente online (envio de vários e­mails para encher a caixa de entrada de algum governante). O terceiro e ultimo tipo de ciberativismo é o da ação/ reação (action/reaction),   que   seria   a   utilização   da   internet   por   ativistas   para   cobertura midiática de mobilizações ou para mostrar formas de resistência e apoio durante as mesmas.   Podem   ser   considerados   como   exemplos   desse   terceiro   tipo   de ciberativismo    as   coberturas   do  Coletivo   Mídia   Ninja   (Narrativas   Independentes, Jornalismo e Ação) e as informações divulgadas nas páginas no  facebook  do  Black Block Brasil  e Rio de Janeiro durante as manifestações eclodidas em junho deste ano por todo o Brasil. O primeiro, utilizando o  twitcasting  (site de transmissão de vídeo) fez a transmissão ao vivo de diversos atos contra o aumento da passagem em São   Paulo   e   Rio   de   Janeiro   e   durante   a   Copa   das   Confederações.     O   segundo divulgava informações sobre como evitar os efeitos do gás de pimenta e bombas de efeito  moral  jogados  pela   polícia   visando  a  dispersão  das   manifestações,   além   de informações sobre onde as tropas se encontravam. Ao longo de sua história na internet, consideramos que o MXVPS fez uso destes três tipos de ciberativismo, uns com mais frequência do que outros. Analisando as publicações pudemos perceber que que desde quando entrou na WEB até o início das obras,   o   MXVPS   utilizava   bastante   a   primeira   forma   de   intervenção   online, acreditamos que procurava conscientizar e conseguir mais parceiros para sua causa. Eram comuns publicações com o caráter mais informativo do tipo: “Saiba por que somos contra Belo Monte”, “Entenda por que Belo Monte não é viável”. Já após o início das obras até meados do Xingu +23, encontro realizado em junho de 2012, um ano após o início das obras, as publicações assumiram características mais próximas do   segundo   tipo   de   ciberativismo   pontuado   por   Vegh.   Elas   tinham   em   comum   a chamada  para  ação, tanto offline, quanto online. Já  no terceiro momento, após o

52 Xingu + 23, pode­se dizer que MXVPS lançou mão do terceiro tipo de ciberativismo, cobrindo greves de trabalhadores e ocupações de indígenas e pescadores no canteiro de obras.  Apesar  de   não  caracterizado   Vegh,   acreditamos   que  durante   esse  momento,  o Xingu Vivo também assumiu um perfil mais denunciativo em suas publicações. São comuns matérias, fotos e vídeos falando dos impactos causados pela obra, os quais exporemos melhor nos tópicos seguintes.

2.3 ANÁLISE DO SITE DO MXVPS E DE SUAS REDES SOCIAIS

Antes   de   mostrarmos   como   e   em   quais   momentos   o   MXVPS   utiliza   os ciberativismos categorizados por Vegh, acreditamos que se faz necessário apresentar basicamente as redes sociais que utilizamos como fonte de pesquisa e qual a situação do Xingu Vivo nas mesmas.  Ao longo de sua história na Internet, o MXVPS fez uso oficialmente um site 46   e das   seguintes   redes   sociais:    Facebook,  Twitter,  Flickr,  Youtube  e  Orkut,   todas criadas   no   início   de   2010.   Atualmente   apenas   o   site   e   as   duas   primeiras   são atualizadas com frequência.  Atribuímos isso à perda de popularidade que o Orkut obteve no Brasil ­ primeiro em abril de 2009, quando o  twitter  o ultrapassou em número de acessos, e depois, definitivamente, em fevereiro de 2011, com a ascensão rápida do Facebook (Gráfico 1). 

 Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2013.

46

53 Gráfico 1 – Acessos nas redes sociais no Brasil de Janeiro de 2009 até Outubro de 2013.

Fonte: Site Statcounter47

Outro   motivo   pode   ser   também   a   característica   do  Facebook  de   agregar múltiplas funções (chat, publicações de fotos, vídeos, textos sem limite de caracteres, compartilhamento,   botão   “curtir”,   entre   outros)   em   uma   única   rede   social,   o   que somente   depois   foi   feito   por   algumas   redes   sociais.   Este   diferencial   pode   ter contribuído para que o Flickr deixasse de ser  atualizado, por exemplo, já que fotos passaram a ser postadas diretamente nos álbuns do Facebook. Abaixo, por ordem de criação explicamos basicamente como funciona cada rede social e qual a situação atual do Xingu Vivo nas mesmas.  

Site   que   gera   gráfico   de   monitoramento   da   quantidade   de   usuários   e   acessos   em   redes   sociais, navegadores,   sistema   operacional   de   celular,   sistema   operacional   de   computador,   entre   outros. Disponível em: . Acessado em: 6 dez. 2013. 47

54 2.3.1 O Orkut do MXVPS48 (criado em 01/2010).

Rede social que funciona como uma espécie de página de recados (scraps), onde cada usuário pode trocar recados (scraps) com seus amigos e criar comunidades. Nas comunidades   são   discutidos   assuntos   comuns   com   outros   usuários,   não   sendo necessário   que   haja   amizade   entre   os   mesmos.   Em   2007,   o  Orkut  abriu   sua plataforma para integração com outras redes sociais (RECUERO, 2009), permitindo assim publicações de vídeos do Youtube, por exemplo. Diferente das outras redes sociais, O Orkut não informa a data exata de criação da   conta,   também   não   existe   nenhum   site   ou   programa   que   informe   esta   data. Podemos inferir a data de criação do  Orkut  do MXVPS por meio das publicações, visualizando scraps e histórico de amigos adicionados.   No caso do MXVPS, o Movimento possui 314 amigos em sua rede social, sendo os primeiros  adicionados   em  26/01/2010.    O   MXVPS   faz   parte  de  10   comunidades 49 ligadas à causas ambientais, porém não é moderador de nenhuma. O fato do MXVPS não moderar nenhuma comunidade e nem alcançar o número máximo de amigos por perfil (999), mostra sua pouca influência durante o período em que utilizou esta rede social50.  Orkut   do   MXVPS   disponível   em:   . Acessado em: 6 dez. 2013. 49  São elas: Pare Belo Monte, Xingu Vivo Para Sempre, Amazônia Para Sempre, A Amazônia é nossa, A Amazônia é do Brasil, Por uma Amazônia Para Sempre, Hidréletrica de Belo Monte Não, Conjunto Rio Xingu, Parque Indígena do Xingu e Conheço as belezas do Xingu. Disponíveis respectivamente em:  Acessadas em: 6 dez. 2013. 50  Não temos como afirmar o período exato em que o MXVPS utilizou o Orkut, mas supomos que foi de janeiro de 2010, quando começaram as publicações e recados de amigos, até novembro de 2011, mês 48

55 O perfil conta também com cinco51 vídeos adicionados, sendo que apenas quatro funcionam.   Um   deles   é   o   “Defendendo   os   Rios   da   Amazônia”,   vídeo   de   ampla divulgação   em   todas   as   redes   sociais   do   Movimento,   sendo   utilizado   bastante durante o Período Informativo do MXVPS.  Além   dos   vídeos   e   comunidades,   existem   304  scraps  publicados   no   mural   do MXVPS. Os primeiros scraps continham mensagens de apoio e boas vindas. A conta do   Movimento   não   é   atualizada   desde   22/10/2011,   quando   seus   últimos   amigos foram adicionados.  

2.3.2 O Twitter do MXVPS52 (criado em 11/01/2010).

O  twitter  é   uma   rede   social   popularmente   caracterizada   como   um   tipo   de microblogging, onde o usuário (twitter, identificado com “@”) publica informações de no máximo 140 caracteres em sua “página pessoal”. Nesta página ficam expostas todas as mensagem públicas, mais conhecidas como  tweets.   Os  tweets  publicados pelo usuário são recebidos em tempo real por seus seguidores  (followers), assim como o usuário também recebe  tweets  de quem ele segue  (following).   Os  tweets publicados podem ser retweetados por outros usuários.  O Twitter possui também a função de Trending Topics, ou TT's (assuntos mais comentados), o que faz com que campanhas sejam criadas utilizando  hashtags53,

das últimas atualizações aparecerem. 51 Vídeos   disponíveis   em:   . Acesso em: 6. dez. 2013. 52  Disponível em: . Acesso em: 6 dez. 2013. 53  Palavra já muito popularizada entre usuários de internet. O uso de Hashtags popularizou­se com o Twitter,   mas   tem   suas   origens   na   palavra  Tags,  muito   utilizadas   em   blogs   em   buscas   de palavras­chave. Para gerar uma hashtag o usuário utiliza o  cardinal certilha (#) seguido de alguma palavra. As hastags viram hiperlinks na web,  que são acessados para saber o que estão falando sobre determinado assunto.  Devido ao sucesso das   hashtag, nos últimos anos   outras redes sociais como Facebook, Instagram e Tumblr também deriram à função.  

56 visando, assim, a chegada mais facilmente aos TT's. As campanhas com   hashtags são chamadas de Tweetaços ou Tuitaços54, muito utilizados  pelo MXVPS.  De abril de 2009 até fevereiro de 2011, o  Twitter  era a rede social com maior acesso e visualizações no Brasil. Porém, passou a perder espaço para o  Facebook, principalmente depois do filme “The Social Network” (“A Rede Social”), que estreou no Brasil em 3 de dezembro de 2010 e aborda criação do Facebook. Após a estreia do filme, em menos de dois meses (fevereiro de 2011) o Facebook superou o Twitter em número de acessos no Brasil.   Atualmente o  Twitter  é a terceira rede social mais acessada   no   país,   localizando­se   bem   atrás   do  Youtube  e   do  Facebook,   o   último disparado no número de acessos (Gráfico 1). Atualmente55  a conta do Movimento Xingu Vivo Para Sempre (@xinguvivo) no Twitter  apresenta   8.50256  seguidores   e   segue   55   pessoas.     A   quantidade   de seguidores do MXVPS é bastante considerável, principalmente quando comparamos com perfis de outros grupos voltados à luta contra a construção de hidrelétricas e barragens. A exemplo: a Campanha Munduruku (@cmunduruku 57), twitter que traz informações contrárias a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, também no Pará. O mesmo   conta   com   928   seguidores;   O   perfil   do   Movimento   dos   Atingidos   por Barragens   (@MAB_Brasil58),   com   1.620   seguidores;   e   o   Fórum   Carajás Por ser mais comum no Brasil, ao longo deste trabalho utilizamos “Tuitaços”. Porém, em algumas publicações   e  printscrens  das   postagens   do   MXVPS  pode   aparecer   “Tweetaço”,   pois   o   movimento utiliza ambas as formas para referir­se a esse tipo de campanha.   55 Data da ultima visita 10 dez. 2013. 56 Este   número   é   bastante   considerável,   principalmente   quando   comparamos   com   perfis   de   outros grupos   voltados   à   luta   contra   a   construção   de   hidrelétricas   e   barragens.   A   exemplo:   Campanha Munduruku (@cmunduruku),  twitter  que traz informações contrárias a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós,   também   no   Pará,   que   conta   com   928   seguidores.   Disponível   em: . Acessado em: 6 dez. 2013; O perfil do Movimento dos Atingidos por   Barragens   (@MAB_Brasil),   com   1.620   seguidores.   Disponível   em: .  Acessado  em:  6  dez.  2013;  e  o Fórum Carajás (@forumcarajas), que   tem   como   objetivo   monitorar   os   impactos   provocados   por   grandes   projetos   no   Maranhão, Tocantins   e   Pará,   que   possui   cerca   de   1.033   seguidores.   Disponível   em: . Acesso em: 6 dez. 2013.  57  Perfil disponível em: . Acesso em: 6 dez. 2013. 58  Perfil disponível em: . Acesso em: 6 dez. 2013 54

57 (@forumcarajas59),   que   tem   como   objetivo   monitorar   os   impactos   provocados   por grandes no Maranhão, Tocantins e Pará,  possuindo cerca de 1.033 seguidores.  Em relação aos perfis que o MXVPS segue, destacamos jornalistas, como Eliane Brum(@brumelianebrum)   e   Altino   Machado(@AltinoMachado);  deputados,   Ivan Valente   (@Dep_IvanValente)   e   Arnaldo   Jordy   (@arnaldojordy);   procuradores   do MPF, Ubiratan Cazetta (@ucazetta) e Felício Pontes (@FelicioPontesJr); e ONG's, Justiça   Global   (@justicaglobal),   Instituto   Socio   Ambiental   (@socioambiental, Internacional   Rivers   (@IntlRivers)   e   Amazon   Watch(@AmazonWatch).   Todos   os perfis destacados são seguidos e também seguem o Xingu Vivo.  Além   dos   já   citados,   destaca­se   também   outros   seguidores,   como   a   Marcha Mundial das Mulheres, partidos políticos (PSTU, PEN, PT, PSOL, entre outros) e agências   e   canais   de   comunicação,   como   o   Uol   notícias   (@UOLNoticias),   Tortura Nunca Mais (@gtnmsp) e Diário do Centro do Mundo (@DCM_online). A quantidade e variedade de seguidores de diferentes locais (nacionais, regionais e internacionais) mostram a visibilidade do Xingu Vivo, sendo seguido inclusive por veículos da grande mídia e jornalistas influentes, resultado do uso eficiente das nova tecnologias de comunicação. Outro aspecto é a variedade das ONGs e movimentos sociais que seguem o Xingu Vivo,   entre   eles   movimento   de   mulheres,   LGBTT,   ONGs   indigenistas   e ambientalistas,   muitos pertencentes à Rede da qual o MXVPS faz parte. Sobre a criação do Twitter do MXVPS, o mesmo foi criado 11 de janeiro de 2010 60, porém, as primeiras publicações só começam a aparecer em julho de 2011. Ao longo da pesquisa percebemos que vários tweets foram apagados do perfil público do Xingu Vivo, o que justificaria a ausência de publicações nesta rede social durante mais de um   ano   desde   sua   criação.   Apesar   de   excluídos,   os  tweets  destes   períodos   ainda podem ser observado quando pesquisados na sessão de busca da rede social.   Perfil disponível em: . Acesso em: 6 dez. 2013.    Segundo informações do  Twbithday, site que mostra a data de criação de um perfil no  Twitter. Disponível em:  . Acessado em: 6 dez. 2013. 59 60

58 2.3.3 Facebook do MXVPS

Criado por Mark Zuckenberg em 2004, seu objetivo inicial era ser uma   rede de contatos   entre   novos   universitários   dos   Estados   Unidos   (RECUERO,   2009), entretanto, com o aumento exponencial de usuários (atualmente conta com mais de 1 bilhão de usuários)   o facebook se tornou o site mais acessado do Mundo 61, a na frente do Google, Yahoo, Youtube e Wikipedia. A   rede   social   oferece   dois   tipos   de   contas:  páginas  (recomendadas   para organizações, celebridades, empresas, entre outros) e  perfis  (pessoas físicas). Para receber as publicações de qualquer página, o usuário clica na opção “curtir” e assim vira fã da mesma. A página não possui número de máximo de assinantes. Já no caso dos perfis, as pessoas adicionadas são denominadas de amigos e cada usuário pode ter no máximo 5 mil amigos adicionados. O MXVPS possui uma página62  e um perfil63  nesta rede social.   A utilização do Facebook começou com o perfil em 13/09/2010, porém, em maio de 2011, o perfil do Movimento chegou ao número máximo de amigos adicionados e o MXVPS criou sua página,   que   atualmente   conta   com   21.610   fãs64.  Até   hoje   ambas   as   contas   são atualizadas.  Em   relação  a   quantidade   de   fãs,   os   números   do  MXVPS   superam   em   grande escala   institutos,   páginas   de   outros   movimentos,   mobilizações   e   ONGs   ligadas   à causas   ambientais   no   Brasil   e   mundo.   Segue   algumas   comprações:   a   página   da MULLER, Leonardo. Ranking dos vinte sites mais acessados do mundo. Tecmundo, 7 fev. 2013.  Disponível   em: . Acessado em: 6 dez. 2013. 62 Página   do   MXVPS   disponível   em:  . Acessado em 6 dez. 2013. 63 Perfil do MXVPS disponível em: . Acessado em 6. dez. 2013; 64 Acessado em: 6 dez. 2013. 61

59 campanha Guarani­Kaiowá65, com 3.921 fãs; A página do Movimento Brasil pelas Florestas66, com 10.820; ONG International Rivers67, com 13.284 ;  Instituto Homem e Meio Ambiente (IMAZON)68, com 2.996 fãs; e Instituto Chico Mendes69, com apenas 501 fãs. Conforme informações retiradas da própria rede social, as pessoas que mais a falam sobre a página tem entre 25 e 34 anos e são de São Paulo. Ainda segundo informações retiradas da página, a semana mais popular da mesma foi em 5 de maio de 2013, semana na qual índios Munduruku,  junto com indíos do Xingu, ocuparam o canteiro de Belo Monte pedindo a paralisação das obras e o fim das pesquisas sobre a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós prevista também para o Pará, na região do Tapajós70. 

2.3.4 Flickr do MXVPS71 (criado em outubro de 2010).

Rede   social   de   compartilhamento   de   fotografia,   permite   comentários,   opção “favoritos” e participação em grupos. Foi desenvolvido por uma empresa canadense em 2004 e comprado pelo Yahoo em 2005 (RECUERO, 2009).  

Página da Campanha Guarani­Kaiowá. Disponível em:  . Acessado em: 6 dez. 2013. 66  Página do Movimento Brasil Pelas Florestas. Disponível em:  . Acessado em: 6 dez. 2013. 67   Página   da   ONG  International   Rivers  Disponível   em: . Acessado em: 6 dez. 2013. 68  Disponível em: . Acessado em: 6 dez. 2013. 69  Página disponível em:  . Acessado em: 6 Dez. 2013. 70 Matéria sobre a ocupação. Disponível em: .  Acessado: 6 dez. 2013.   Acessado em: 6 dez. 2013. 71 Flickr do MXVPS está disponível em: . Acessado em: 6 dez. 2013. 65

60 O   MXVPS   criou   sua   conta   no  Flickr  em   outubro  de  2010,  possui   12   álbuns publicados, totalizando 420 fotografias72 e 3.967 visualizações73. O conteúdo em sua maioria traz cobertura de atos e encontros. O álbum de maior visualização (1.108) foi de uma manifestação na Avenida Paulista, ocorrida em 19/06/2011, mesmo mês do início das obras.  Não   é   comum  atores   sociais  criarem   perfis   no  Flickr,   devido   a   isso   não encontramos nenhum perfil de organizações parecidas em ideais com o MXVPS para compararmos a influência do mesmo nesta rede social.

2.3.5 Canal no Youtube do MXVPS74 (criado em 26/11/2010).

Popular site de publicação de vídeos, sendo a segunda rede social mais acessada do Brasil. Permite comentários, inscrição e opções de “gostei” ou “não gostei”. O MXVPS possui 875 inscritos no seu canal no Youtube, postou 26 vídeos,  que ao todo somam 166.152 visualizações.

2.3.6 Site do MXVPS 75(primeiras publicações em 10/2010)

Apesar   de   não   ser   uma   rede   social,   achamos   necessário   trazer   algumas informações   sobre   o   site   do   MXVPS,   pois   o   mesmo   é   um   dos   principais   veículos utilizado pelo Movimento, tendo muitas de suas informações divulgadas no facebook e no twitter direcionam para o site do MXVPS.  Logo quando abrimos o site, a primeira visão (Ilustração 2) mostrada é da barra de rolagem de notícias, logo abaixo um ícone de nome “Últimas novidades”, com o Ultima visita ao site foi feita em 21/10/2013

72 73

Disponível em:  Acesso em: 10 dez. 2013.  Disponível em: . Acessado em: 06. dez. 2013.

74 75

61 conteúdo da aba “Notícias”, em seguida “Deu na Imprensa”,  “banco de imagens” e “Flickr”76, os dois últimos direcionando para o Flickr  do MXVPS77. Ao lado direito existe a sessão para publicação de vídeos, além de pedido de doações, divulgação de documentos e assinatura de newsletter78.  As primeiras publicações no site do MXVPS aconteceram em novembro de 2010 e seguem hoje. Essas publicações podem ser acessadas em sete abas disponíveis na parte   superior     do   site,   são   elas:  Ação,   Notícias,   Documentos,   Deu   na   Imprensa, Compartilhe, Quem Somos e Contato, com exceção de Compartilhe.  Na Tabela 1 são mostradas as abas, seguidas do total de publicações feitas na mesmas, o conteúdo das mesmas, bem como a data de publicação de cada conteúdo.  Até   a   última   visita79  foram   feitas   apenas   4   publicações   na   aba  Ações  que ocorreram   entre   agosto   e   novembro   de   2011.   Nesta   categoria   podemos   observar dados referentes à campanhas online e offline, como ocupações, tuitaços, protestos, entre outros. A primeira postagem divulgada na aba  foi em 25 de agosto de 2011 e trata­se de um convite para “ato mundial em 140 caracteres” 80; Já  Notícias  é   a   principal   aba   do   site   do   Xingu   Vivo.   A   maioria 81  dos   links disponíveis nas redes sociais direcionam para as 483 matérias divulgadas em quase três anos de atividade (08 de novembro de 2010 até 01 de outubro de 2013).  A aba Documentos apresenta 69 arquivos, entre textos, pesquisas, ações judiciais, soluções e impactos ambientais e sociais. Todos publicados em um dia (14/10/2010).

  Rede   social   de   compartilhamento   de   fotografias   do   grupo   yahoo.   Disponível   em: . Acesso em: 10 dez. 2013. 77 Flickr do MXVPS disponível em:  Acesso em: 10 dez. 2013. 78  Recebimento de informações via e­mail. 79 Em 06 dez. 2013. 80 Xingu Vivo. Protestos contra Belo Monte continuam com tuitaço. Xingu Vivo, 25 ago. 2011.  Disponível em:   Acesso em: 10 dez. 2013. 81 Considerando apenas os que direcionam para o site do Xingu Vivo. 76

62 A aba “Deu na Imprensa” trata­se de um clipping de 294 notícias divulgadas em outros veículos envolvendo   Belo Monte, Xingu Vivo, Energia Hidrelétricas, entre outros.

Ilustração 2 ­ Página inicial do site do MXVPS

Fonte: Prinscreen 

  Na  tabela   abaixo   (Tabela   1)  destacamos   alguns   dados   relevantes   sobre   o conteúdo   do   site   do   MXVPS.   O   primeiro   é   a   data   de   publicação   dos   arquivos presentes na Aba Documentos. Todos os 69 arquivos desta aba foram publicados em um mesmo dia (14/10/2010) e a aba nunca mais foi atualizada, demonstrando, assim, uma preocupação em divulgar naquele momento dados sobre a obra, em  informar sobre a mesma. Isso acontece durante o que chamamos nesse trabalho de Momento Informativo (entrada nas redes até o início das obras – Junho de 2011).

63 Outro dado apontado na Tabela  é a data de criação da aba  Ação,  25/08/2011, menos de um mês após o início da obra. A mudança de contexto influenciou para que se passasse a dar mais importância para as ações tanto online quanto offline. Além disso, supõe­se que as pessoas já soubessem quem é MXVPS e o momento  passa a ser então mostrar a que veio o Movimento. Chamamos esse momento, que pode ser representado muito bem pela criação da abas, de  Momento das Ações.  Este é o momento de articulação intensa nas redes de movimentos sociais e de fortalecimento do que Pereira (2011) chama de “internauta militante”. É possível perceber este tipo de relacionamento no site do MXVPS, especialmente com a criação de uma aba para que permite ao “internauta militante” acessar a página no Movimento e ter acesso direto e rápido sobre informações a respeito do que está acontecendo em relação às ações:

Para   que   estes   internautas   militantes   eventuais   sejam   “seduzidos”   a participar das ações de mobilização promovidas pelas entidades é necessário que exista uma ação volitiva dos mesmos, de forma tal que estejam dispostos a acessar as páginas das entidades e possam ver o que está acontecendo em termos   de   mobilização,   ou   que   estejam   vinculados   a   alguma   lista   de discussão ou lista de e­mails para que estejam informados sobre o que está a ocorrer. Trata­se de uma rede informal onde as mensagens convocatórias das ações irão circular (PEREIRA, 2011, p. 16).

Apesar da importância de um canal voltado especificamente para divulgar ações, a aba deixou de ser abastecida em 16/10/2011, pouco tempo depois de sua criação, porém as chamadas para ações continuaram, sendo divulgadas em Notícias. Outro dado retirado do site que chama atenção é a primeira e a última matéria em  Notícias.  A   primeira  “Defendendo   os   rios   da   Amazônia”82,  divulgada   em 08/10/2010, é sobre o lançamento de um vídeo83 elaborado pelo MXVPS em parceria XINGU   VIVO.   Defendendo   os   rios   da   Amazônia.   Xingu   Vivo,   8   nov.   2010.   Disponível   em: . Acessado em: 6 dez. 2013.  83 Vídeo “Defendendo os rios da Amazônia”. Parte 1 disponível em:   Acessado em 6 dez. 2013. Parte 2 disponível em:  Acessado em 6 dez. 2013. 82

64 com as ONGs Amazon Watch e Internacional Rivers. O vídeo aborda biodiversidade do Xingu e busca informar sobre os até então possíveis danos que seriam provocados por Belo Monte.  A última matéria de Notícias é “Trabalhadores em Belo Monte iniciam greve por reajuste”, é compartilhada do site Agência Brasil84 e foi divulgada no site do MXVPS em 26/11/2013. A matéria traz informações sobre a greve dos 27 mil trabalhadores que   paralisaram   100%   das   obras   em   Belo   Monte.   Os   mesmos     reivindicavam aumento   da   cesta   básica   e   reajuste   salarial   de   15%.   A   greve   teve   fim   três   dias depois, conforme matéria85 veiculada no Diário do Pará, porém, até a última visita86 ao site do MXVPS, nenhuma nota havia sido divulgada.  Vale ressaltar a diferença de abordagem entre a primeira matéria e a última divulgada   nos   site  do  MXVPS.   A   primeira   buscava   conscientizar   para   os   futuros danos provocados pela obra e a segunda explorava a insatisfação de trabalhadores do   CCBM,   demonstrando   aqui   a   diferença   entre   o   que   chamamos   de   “Momento Informativo” e “Momento denunciativo”.

Site da Agência Brasil. Disponível em:  Acessado em 6 dez. 2013. DIÁRIO DO PARÁ. Trabalhadores de Belo Monte põem fim à greve geral. Diário do Pará, Belém, 29 nov.   2013.   Disponível   em: Acesssado em 6. dez. 2013. 86 8 dez. 2013. 84 85

65 Tabela 1 ­ Abas, total de publicações,  podem ser observadas em relação às abas do site ABA

Total de Publicações

Conteúdo (primeiro e último)

Data de publicação

Ação

4

Protestos contra Belo Monte continuam com tuitaço87

25/08/2011

Ocupação em São Paulo contra Belo Monte88   Notícias

483

 16/10/2011

Defendendo os rio  da Amazônia89 

08/10/2010

Trabalhadores em Belo Monte inciam greve por reajuste salarial.90

26/11/2013

Documentos

6991

 ­

Todos em 14/10/2010

Deu na imprensa

294

Altamira recebe evento conta Belo Monte em defesa do Xingu 92

10/10/2010

XINGU VIVO. Protestos contra Belo Monte continuam com tuitaço. Xingu Vivo, 25 ago.  2011. Disponível em:   Acesso em: 6 dez. 2013. 88 XINGU VIVO. Ocupação em São Paulo Contra Belo Monte. Xingu Vivo, 16 out. 2011.  Disponível em:    Acessado em 6 dez. 2013. 89 XINGU VIVO. Defendendo os rios da Amazônia. Xingu Vivo, 8 out. 2010. Disponível em:     Acessado em 6 dez. 2013. 87

XINGU VIVO. Trabalhadores iniciam greve por reajuste salarial. Xingu Vivo, 26 nov. 2011.  Disponível em:   Acesso em: 6 dez. 2013. 90

Os documentos são subdivididos  em 26  questões  jurídicas,     13  analise técnico cientificas,  5 impactos econômicos, 5 Impactos sociais, 10 Projetos, 1 cronologia, 4 soluções e alternativas, 1 Perguntas frequentes, 1 histórico e 3 impactos ambientais. 92 XINGU VIVO. Altamira recebe evento contra Belo Monte em defesa do Xingu. Xingu Vivo, 10   nov.   2010.   Disponível   em:  Acesso em: 10 dez. 2013. 91

66

Desmatamento pode reduzir a capacidade da usina de Belo Monte 93

14/05/2013

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Quem somos

1

Descrição do MXVPS

Sem data divulgada

Fonte: Dados colhidos do Site do MXVPS

XINGU VIVO. Desmatamento pode reduzir capacidade da usina de Belo Monte.   Xingu Vivo, 14 mai. 2013. Disponível em:               Acesso em: 10 dez. 2013. 93

67 3 O CIBERATIVISMO DO MXVPS

Após as audiências publicas, realizadas em setembro de 2009, o MXVPS passa a utilizar a Internet e em janeiro de 2010 cria o Orkut, sua primeira rede social oficial, logo após veio o  Twitter, também em janeiro, e em menos de um ano o MXVPS já possui perfil em todas as redes que dispõe atualmente.  Com base nas informações coletadas no capítulo anterior, pudemos constatar que o MXVPS passou por várias mudanças de estratégias que podem ser observadas por meio de suas publicações. Atribuímos essa mudança ao que TARROW (1998 apud PEREIRA 2011) chama de “repertório de conflito”, que conforme o contexto político provocaria   mudanças   nos   “repertórios   de   ações”   dos   movimentos   sociais. Acreditamos que foi justamente isto que aconteceu com MXVPS. Em um primeiro momento   era   comum   percebermos   publicações   voltadas   para   o   convencimento.   O MXVPS buscava informar sobre os impactos que as obra poderiam causar na região, divulgava pesquisas que mostravam a inviabilidade de Belo Monte, além de deixar a disposição uma equipe para tirar tirar dúvidas online. Durante   este   período,   em   todas   as   redes   sociais   do   MXVPS,   várias   são   as publicações   que   aparecem   com   esse   caráter   de   convencimento,   seja   por   meio   de vídeos, fotos ou campanhas, porém, quanto mais próximo do início das obras, junho de 2011, aumenta o chamado para atos, passeatas, protestos, ações diretas, entre outros. Aumentam também o número de publicações relacionadas à ações online, tais como tuitaços94  e assinaturas de petições. Este momento também foi marcado pelas campanhas, como o “Gota D'água”95, no qual atores globais gravaram um vídeo dizendo por que são contra Belo Monte, e o “Belo Monte com meu dinheiro não”, que O MXVPS chamou vários Tuitaços online, entre as hashtags mais utilizadas e divulgadas pelo MXVPS estão #parebelomonte e #belomontenao 95 Apesar da campanha não ter sido puxada pelo MXVPS teve grande divulgação nas redes sociais   no   mesmo.   Site   da   campanha   disponível   em: . Acesso em: 10 dez. 2013. 94

68 chamava   os   correntistas   para   enviar   e­mails   para   seus   bancos   dizendo   que   não queriam a construção da hidrelétrica.  Após esse período, aproximadamente depois   do Xingu + 23, encontro realizado em Altamira, paralelo ao Rio+20, as matérias e postagens passaram a ter um teor mais   denunciativo.   Eram   comuns   postagens   abordando   os   impactos   da   obra   na região, como exploração sexual, tráfico de drogas e mais recente o desmoronamento de   um   aterro   construído   pela   Norte   Energia   em   uma   vila   com   60   moradores   no Bairro da Liberdade.  Para   mostrar   todos   esses   três   momentos   do   MXVPS   na   WEB,   traremos   nos tópicos   seguintes   matérias   e   vídeos,   publicações   nas   redes   sociais   e   campanhas utilizadas em cada momento. Acreditamos que desta forma podemos ter uma visão geral do reflexo que as mudanças de contexto provaram nas estratégias do MXVPS.

3.1 MOMENTO I: O PERFIL INFORMATIVO DO MOVIMENTO (DA ENTRADA NAS REDES AO INÍCIO DAS OBRAS)

Logo   após   as   audiências   públicas,   o   MXVPS   cria   o   Orkut.   Nesta   rede   social, poucas   são   as   interações   por   parte   do   Movimento.   O   que   podemos   verificar   são recados de “amigos” apoiando a causa. Os primeiros recados aparecem entre janeiro e abril de 2010 e são de boas vindas. É importante ressaltar a distância entre um recado  e   outro,   o  que  mostra   a   pouca   influência   que  o   MXVPS   tinha  nesta   rede social. Nas ilustrações 3 e 4 podemos observar alguns desses recados.

Ilustração 3 ­  Mensagens de apoio no Orkut

69

Fonte: Printscreen feito em 09/10/2013. 

Em relação ao MXVPS, o que podemos observar em suas publicações no Orkut neste primeiro momento é a presença de perguntas que o Movimento fazia para seus amigos por meio de postagens. Abaixo, duas perguntas feitas pelo MXVPS no Orkut, ambas divulgadas no mesmo dia (29/10/2010):  1) O que justifica prejudicar 40 mil pessoas sob o pretexto de que esse  é o preço pago pelo desenvolvimento do país? 2)   Porque   construir   com   bilhões   em   recursos   públicos   uma   usina   que produzirá 39% de capacidade instalada?

As perguntas obtiveram algumas respostas dos “amigos” presentes no seu Orkut, que responderam: 

Grana!Se fosse a seca do nordeste nao tinha muito politico preocupado nao.   Basta   ver   a   miséria   do   povo   nordestino   a   anos   na   politica   do

70 nordeste. Eu acho que os politicos nao estao fazendo favor nenhum (sic.) (Usuário sem identificação). Pois é um pais que tem tantas coisas importantes para ser feita na área social. Isto prova que o governo tem dinheiro né. A prova  é tanta que faria a barragem de belo monte sozinho caso as empresas não entrassem no consórcio (sic). (Usuária: Lua Barroso)

Outra característica que nos chamou a atenção foi a sessão “Sobre o Xingu Vivo” no Orkut, que é destinada para apresentação do Movimento. Nesta área, ao invés de se apresentar, o MXVPS diz o porquê é contra a construção de Belo Monte, como podemos observar no seguinte trecho: O Complexo Hidrelétrico de Belo Monte pode vir a ser um dos maiores desastres sociais e ambientais da história da Amazônia. Se construído, vai   desviar   e   secar   o   Rio   Xingu   em   um   trecho   de   100   quilômetros, conhecido   como   a   Volta   Grande,   deixando   o   rio   seco   e   milhares   de indígenas, ribeirinhos, populações extrativistas e agricultores familiares sem água, peixe e meios de transporte. Além disso, vai inundar uma área de 668 quilômetros quadrados, inclusive parte da cidade de Altamira96.

Atribuímos tanto as perguntas quanto a apresentação  no “Sobre o Xingu Vivo” à essa primeira fase do MXVPS na internet, que busca por meio de diversas maneiras informar para conquistar apoiadores. O que podemos observar é que o MXVPS traz uma   “contra­   informação”   do   que   era   veiculado   pelos   grandes   veículos   de comunicação,   empresa   e   governo   federal   sobre   a   construção   da   hidrelétrica,   que dizia   que  a   usina   beneficiaria   a   população  brasileira,   não   atingia   indígenas   e  só traria benefícios para a população atingida. Sobre esse poder que a internet pode proporcionar para os movimentos sociais repercutirem de alguma forma na esfera pública PEREIRA (2011) descreve:

Os movimentos sociais, compreendidos aqui como caixas de ressonância das esferas sociais, são capazes de trazer para a esfera pública questões Descrição   de   “Sobre   o   Xingu   Vivo”   no   Orkut.   Disponível   . Acesso em: 10 dez. 2013. 96

em:

71 que até então estavam silenciadas. A internet oferece o espaço para que estas questões sejam tematizadas, articuladas e publicizadas, tornando assim   possível   a   inclusão,   através   da   produção   e   distribuição   de informações   daqueles   que   até   então   encontravam­se   inexistentes (PEREIRA, 2011, p. 7).

Essas características podem ser observadas também nas outras redes sociais do MXVPS. No,  Twitter, por exemplo, criado no mesmo mês do Orkut, as publicações com   frequência   traziam   links   de   pesquisa,   informações   sobre   Belo   Monte   como podemos ver nos  tuitaços disponíveis nas Ilustrações 4, 5 e 6.

Ilustração 4 – Tweet sobre documentos para dúvidas sobre Belo Monte

Fonte: Printscreen Twitter

Ilustração 5 ­ Tweet sobre o custo da eliminação da miséria

Fonte: Printscreen Twitter

72 Ilustração 6 ­  Tweet comparativo entre energia eólica e hidrelétrica 

Fonte: Printscreen Twitter

Este caráter informativo foi predominante em todas as redes sociais. No facebook, além   de  links,   o  MXVPS   deixava   também   uma   equipe  online   para   tirar   dúvidas sobre Belo Monte (Ilustração XX), e no site as primeiras matérias também tinha esta caraterística, como os texto “Xingu,  um símbolo da diversidade biológica e cultural brasileira” 97 e  divulgado em  14/10/2010.  Segue um trecho do texto: 

Ao longo de seus 2,7 mil quilômetros, o Rio Xingu corta o nordeste do Mato Grosso e atravessa o Pará até desembocar no rio Amazonas, formando uma bacia   hidrográfica   de   51,1   milhões   de   hectares   (o   dobro   do   território   do Estado de São Paulo) que abriga trechos ainda preservados do Cerrado, da Floresta Amazônica e áreas de transição. A Bacia do Rio Xingu é única no planeta: mais da metade de seu território é formada por áreas protegidas. São   27   milhões   de   hectares   de   alta   prioridade   para   a   conservação   da biodiversidade,   abrigando   30   Terras   Indígenas   e   12   Unidades   de Conservação98. 

É importante notar neste período a importância que o MXVPS dá para a questão ambiental da construção de Belo Monte, pois em várias publicações é recorrente esse tipo   de   argumentação.   Nos   itens   3.1.1   e   3.1.2   nos   aprofundamos   em   duas   ações realizadas pelo MXVPS durante este período, a primeira é o Chat­Xingu, bate­papo sobre   a   obra   com   estudiosos,   e   a   segunda   é   o   vídeo   “Defendendo   os   rios   da Amazônia”,  pois acreditamos que ambas demonstram bem esse primeiro momento do MXVPS na Web. 

XINGU   VIVO.   Em   defesa   do   Xingu.   Xingu   Vivo,   12   out.   2010.   Disponível   em: . Acessado em 6. dez. 2013. 98 Xingu Vivo, Ibid., 2010. 97

73 Ilustração 7 – MXVPS tira dúvidas online no facebook

Fonte: Prinscreen

3.1.1 Chat Xingu: “Tire suas dúvidas online”.

Dentro   deste   primeiro   momento   do   MXVPS   na   WEB   optamos   por   nos aprofundarmos   em   um   estratégia   que   marca   bem   esta   postura   de   busca   de apoiadores do MXVPS. Uma das primeiras ações do MXVPS na web foi a realização do   Chat­Xingu.   O   chat   tinha   como   caraterística   principal   disponibilizar   pessoas especializadas   em   diversas   áreas   para   falar   sobre   irregularidades   e   até   então possíveis   impactos   da   obra.  Em   menos   de  um  mês   foram   realizados   3   chats   não periódicos   com   uma   hora   de   duração   cada,   no   qual   os   internautas   poderiam entrevistar os  convidados  por  meio do  twitter,  facebook  e pelo site do  MXVPS. A inauguração aconteceu em 05 de novembro de 2010 com Felício Pontes, procurador do   Ministério   Público   Federal   e   um   dos   principais   responsáveis   pelas   primeiras ações do MPF contra a Belo Monte, que vem ocorrendo desde 2001. O   convidado   para   o   segundo   Chat­Xingu   foi   Arsenio   Oswaldo   Sevá   Filho, professor  de doutorado em Antropologia Social e Ciências Sociais na Unicamp e um

74 dos   colaboradores   do   Painel   de   Especialistas 99,   documento   elaborado   por   26 especialistas responsáveis pela análise critica do EIA de Belo Monte.   O ultimo chat foi em 23 de dezembro de 2010 e contou com a presença de  Brent Milikan, geógrafo e diretor do Programa Amazônia da ONG International Rivers,  e Telma Monteiro, ativista e pesquisadora especialista em projetos infra­estruturais na Amazônia. Ambos os convidados divulgaram no chat o documento Mega­projeto, Mega­riscos   –   Análise   de   Riscos   para   Investidores   no   Complexo  Hidrelétrico   Belo Monte100,  elaborado   pelas   ONGs   Amigos   da   Terra,   Amazônia   Brasileira   e International   Rivers  com   o  objetivo   principal   de  traçar   os   ricos   de  Belo  Monte  e mostrar para os possíveis investidores o prejuízo financeiro da obra. 

Ilustração 8 ­  Divulgação do Chat Xingu Vivo no site

Fonte: Printscreen do site  (05/10/2010)

Disponível   em:   < http://www.socioambiental.org/banco_imagens/pdfs/Belo_Monte_Painel_especialistas_EIA.pdf> Acesso em: 10 dez. 2013. 100 AMIGOS   DA   TERRA;   AMAZÔNIA   BRASILEIRA;   INTERNATIONAL   RIVER.  Mega­projeto, Mega­riscos   –   Análise  de  Riscos  para   Investidores  no  Complexo  Hidrelétrico  Belo  Monte.   19  jan. 2011.   Disponível   em:   Acesso em: 10 dez. 2013. 99

75 3.1.2 “Defendendo os Rios da Amazônia”: A diversidade do Xingu em vídeos e mapas 3D. Durante este primeiro momento um vídeo se tornou bastante popular nas redes sociais do MXVPS e durante muito tempo foi utilizado para mostrar a posição do MXVPS em relação à Belo Monte.   para divulgar es, o perfil torna público o vídeo “Defendendo os Rios da Amazônia”101, produzido em mapas 3D disponíveis no Google Maps. O vídeo foi feito pelo MXVPS em parceira com as ONGs International Rivers e Amazon Watch, duas principais parceiras do MXVPS até a atualidade. O vídeo é dividido em duas partes com cerca de  6 minutos cada e foi carregado no Youtube em 14/09/2009, um dia antes da audiência pública realizada Belém, pelo perfil de Andre Deak102. O vídeo é narrado pela atriz Dira Paes e logo de início traz informações sobre as espécies de peixes, mamíferos e répteis que podem desaparecer com a obra, além do surto de malária que pode ocorrer na região, devido aos lagos provocados pela obra. Além   de   denunciar   que   a   energia   gerada   por   Belo   Monte   não   iria   beneficiar   a população e sim a indústria mineral103 que se consolidaria próximo à usina.    Parte   1   disponíivel   em:  https://www.youtube.com/watch?v=4k0X1bHjf3E  e   parte   2   em: https://www.youtube.com/watch?v=JcCpFBro­Lc 101

  Produtor  de   jornalismo  multimídia   que  trabalha   há   mais  de   10   anos  com   projetos  envolvendo jornalismo e comunicação na internet. Já foi repórter da Rolling Stone, Carta Capital, Caros Amigos, entre   outras,   além   de   co­organizador   do   livro   Vozes   da   Democracia   (2006),   idealizado   pela   ONG Intervozes. Já ganhou o prêmio Vladimir Herzog 2008, categoria internet e foi indicado em 2012 ao Best   Blog   Awards,   da   Deustchewelle.   É   Mestre   pela   ECA­USP   na   área   teoria   da   comunicação   e atualmente é Professor na ESPM e na pós­graduação da Faap. O carregamento do vídeo por meio de seu   canal   no  youtube,   mostra   que  o   produtor   provavelmente  pode   ter   sido   um  dos   executores   do projeto “Defendendo os  Rios da Amazônia”, por mais que o mesmo não apareça em seu portfólio, disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2013.  102

Em 2011 a empresa canadense Belo Sun se reivindicou dona de área que terá razão reduzida com a construção da hidrelétrica. A empresa prometia instalar o maior projeto de mineração de ouro do Brasil bem próximo à usina de Belo Monte,   uma mina à céu aberto a 10 km da TI Paquiçamba e Arara da Volta grande, além de uma área próxima à terras de índios isolados. Apesar de ainda não possuir   parecer   conclusivo   da   Fundação   Nacional   do   Índio   (FUNAI),   em   menos   de   dois   anos   a empresa já possui  "minuta de Licença Prévia", concedida pela Secretaria de Meio Ambiente (SEMA). INSTITUTO   SOCIO   AMBIENTAL,   Projeto   de   mineração   ao   lado   de   Belo   Monte   está   prestes   a receber   licença   ambiental.   ISA,   12   jul.   2013.   Disponível   em:  Acesso em: 10 dez. 2013. Neste link pode ser acompanhado 103

76 As duas partes do vídeo “Defendendo os Rios da Amazônia”   tiveram   cerca de 200 mil visualizações. Número considerável, já que se somarmos as visualizações dos 30 vídeos do canal TV Belo Monte104,os mesmos somam apenas 37.155 mil.

3.2   MOMENTO II: A CHAMADA PARA AÇÂO (DO INÍCIO DAS OBRAS ATÈ O XINGU+23).

Até o início das obras, várias são as publicações que aparecem com esse caráter de convencimento exposto no tópico anterior, porém, quanto mais próximo de junho de 2011, quando começa a terraplenagem no primeiro canteiro de obra, aumenta o chamado   para   atos,   passeatas,   protestos,   ações   diretas,   entre   outros.   Aumentam também o número de publicações relacionadas à ações online, tais como tuitaços 105 e assinaturas de petições. Este momento também foi marcado pelas campanhas, como o “Gota D'água”106, no qual atores globais gravaram um vídeo dizendo por que são contra   Belo   Monte   e   pedindo   assinaturas   para   o   travamento   da   obra,   e   o   “Belo Monte   com   meu   dinheiro   não”,   que   chamava   os   correntistas   para   enviar   e­mails para   seus   bancos   dizendo   que   não   queriam   a   construção   da   hidrelétrica.   Nas Ilustrações   9   e   10  abaixo   podemos   observar   essa   nova   estratégia   adotada   pelo MXVPS em várias datas e redes sociais diferentes.

o   processo   de   licenciamento   da   Belo   Sun.     Disponível   em:   < http://monitoramento.sema.pa.gov.br/simlam/VisualizarProcesso.aspx? UrlRetorno=ListarProcessos.aspx&id=65500> Acesso em: 10 dez. 2013. 104 Canal criado pelo Consorcio Construtor Belo Monte para criar divulgar informações favoráveis à obra. Disponível em:  Acesso em: 10 dez. 2013.

O MXVPS chamou vários Tuitaços online, entre as hashtags mais utilizadas e divulgadas pelo MXVPS estão #parebelomonte e #belomontenao 106 Apesar da campanha não ter sido puxada pelo MXVPS teve grande divulgação nas redes sociais no mesmo. Site disponível em: . Acessado em 6. dez. 2013. 105

77 Ilustração 9  – Tweets mostram segunda fase do XMVPS na Web.

Fonte: Printscrenn Twitter

Ilustração 10 – Publicações no Facebook sobre atos

Fonte: Printscreen página do MXVPS no facebook

78 Além das redes sociais, no site do MXVPS foi criada uma página somente para divulgar este tipo de ação. A aba “Ação” foi criada em 25/08/2011 e esteve ativa até 16/10/2011. Depois deste período as informações relacionadas à ações passaram a ser publicadas unicamente na aba   “notícias”, mostrando assim uma preocupação pontual e imediata de se investir mais nesse tipo de estratégia. Durante   este   período     outra   estratégia   que   prevaleceu   foram   as   campanhas realizadas pelo MXVPS. Nos tópicos seguintes analisamos algumas delas.

3.2.1 Ato Mundial Em 140 Caracteres

Um   das   primeiras   ações   depois   do   início   das   obras   foi   a   organização   de   um tuitaço contra Belo Monte intitulado “Ato Mundial em 140 caracteres”. O mesmo foi realizado em 25 de agosto de 2011 e tinha como objetivo divulgar os atos presenciais que   iriam   acontecer   em   várias   cidades   do   Brasil,   além   de   fazer   com   que   os   não presentes   nas   manifestações   offline   pudessem   também   dizer   que   não   queriam   a construção   da   hidrelétrica.   O   evento107  criado   no  facebook  que   chamava   para   o tuitaço tinha a seguinte descrição: 

Você, que também é contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu; que também é contra a remoção de indígenas e ribeirinhos; que é contra a extinção de centenas de espécies de animais e plantas; que é a favor   da  biodiversidade   do  rio  Xingu,   está   convocado  a   TWEETAR  contra todo este absurdo! Vamos mostrar que o povo sabe o que está acontecendo e é contra! Vamos colocar esse protesto nos Tts!108.

Vale notar a diferença entre este tipo de descrição e a “Quem sou eu” no Orkut do MXVPS. A primeira falava sobre os impactos e mostrava dados, nesta o chamado é Evento   “Tuitaço   contra   a   construção   de   Belo   Monte.   Disponível   em: . Acesso em: 10 dez. 2013. 108 Descrição   do   evento   “Tuitaço   Contra   Belo   Monte”.   Disponível   em: . Acesso em: 10 dez. 2013. 107

79 bem mais direto, supõe­se que as pessoas já tem informações sobre Belo Monte e é justamente para estas pessoas que o evento é direcionado. Para as que já sabem que não   querem   a   construção   da   usina,   daí   o   caráter   mais   impositivo   e   direto   da descrição.  O tuitaço foi amplamente divulgado em todas as redes sociais do MXVPS, abaixo (Ilustração 11),  um banner virtual utilizado para divulgar a ação.

Ilustração 11 – Banner virtual do tuitaço contra Belo Monte

Fonte: Página do MXVPS no Facebook (agosto, 2011).

Para   participar   do  tuitaço   a   pessoa   deveria  possuir  twitter,  pois   até   junho   de 2013109  o  facebook  ainda não tinha aderido à função  hashtag. Além disso, deveria escrever alguma  mensagem  durante o dia 25/08/2011, de 8  às  23h,    utilizando  a hashtag  #BeloMonteNão   e   #PareBeloMonte.   O   MXVPS   também   disponibilizava algumas   imagens   para   serem     agregadas   às   mensagens   durante   o   tuitaço (Ilustração 12, 13 e 14). As imagens continham personagens de filmes e desenhos, G1. Facebook incorpora na rede social 'hashtag', símbolo do Twitter. G1: São Paulo, 12 jun. 2013.  Disponível em:   Acesso em: 10 dez. 2013.  109

80 artistas e ativistas, como Harry Potter, Senhor dos Anéis, Avatar, Rita Lee, Kurt Cobain e Chico Mendes.

Ilustração 12 – Banner de Rita Lee usado em tuitaço

Fonte: Página do MXVPS no 

Fonte: Facebook (agosto, 2011).

Ilustração 13 – Banner de Chico Mendes utilizado em tuitaço

Fonte: Evento no facebook criado para divulgar tuitaço  (agosto, 2011).

81

Ilustração 14 – Banner de Harry Potter no tuitaço

Fonte: Evento no facebook criado para divulgar tuitaço  (agosto, 2011).

A   divulgação   teve   repercussão,   sendo   apoiada   por   artistas,   políticos   e   até revistas,   como   Caros   Amigos,   Sérgio   Marone,   Heloisa   Helena.   Apesar   de   toda mobilização empreendida, segundo uma matéria divulgada no site do MXVPS logo após o tuitaço, a hashtag #PareBeloMonte teve cerca de 10 mil menções no Twitter, porém   não   chegou   aos  Trend   Topics  (TTs).   Segundo   alguns   usuários,   pode   ter ocorrido um possível boicote à hashtag, a seguir algumas mensagens reivindicando a ausência do MXVPS dos Trend Topics:

82 @spascamA  hastag  #PareBeloMonte  não   está   sendo   computada   pelo twitter, muito poucas apareceram, alguém esclarece o pq? @MemeliaMoreira  ô  twitter,   o   que   é   que   vocês   fizeram   com   nosso #parebelomonte?   Nós   continuaremos   nossa   resistência  #parebelomonte @ecologista1  Dureza   ver   Jânio   Quadros   nos   Top   Trends   e   o   tuitaço #PareBeloMonte  e  #   BeloMonteNao  censurado.   Cada   vez   menos   dá   p/ confiar no twitter110.

Segundo a blogueira Aldrey Riechel que criou o blog Pare Belo Monte TT 111 para monitorar a hashtag, #parebelomonte teve consideravelmente mais menções quando comparada   à   outras   que   aconteciam   simultaneamente,   como   #DiadoMiojo   e #JanioQuadros.  Apesar de causar estranheza a acusação de uma rede social censurar protestos online, segundo alguns social media o fato não é só possível como existe registro de outros  casos,  como o Mega­Tuitaço  Contra  Ricardo  Teixeira112,  que obteve  25  mil mensagens em 14 horas de duração, chegando aos TT's mundial, foi misteriosamente retirado do ar. Segundo o serviço online do  Twitter, a tag foi retirada devido aos prováveis  spams  detectados, que ocorreriam quando um mesmo usuário publicava utiliza várias vezes a mesma hashtag em apenas um  tweet. Outro caso parecido foi a utilização   da  hashtag  #flotilla   para   falar   de   um   ataque   à   um   barco   de   ajuda humanitária que seguia para a Faixa de Gaza. A tag pouco tempo depois que chegou aos   TTs   desapareceu   da   lista,   fazendo   com   que   os   usuários   criassem   outra   a #freedomflotilla que rapidamente emergiu da mesma forma. Segundo matéria113  do

110

Tweets de usuários em 25/08/2011 durante Tuitaço.

Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2013.

111

LANCENET. “Censurado” Mega twittaço contra Ricardo Teixeira atinge o topo no Brasil. Lancenet: Rio de Janeiro, 17 jul. 2011. Disponível em:  . Acesso em: 10 dez. 2013. 113 IDGNow. Desaparecimento de hashtag levanta suspeita de censura no  Twitter. IDGNow, 1 jun. 2010.   Disponível   em:   < http://idgnow.uol.com.br/internet/2010/06/01/desaparecimento­de­hashtag­levanta­suspeita­de­censur a­no­twitter/> Acesso em: 10 dez. 2013. 112

83 UOL sobre o caso, Sean Garrett, porta­voz do  Twitter, disse que o microblog iria investigar o erro. Polêmicas   a   parte,   a  hashtag  #ParebeloMonte   obteve   vários  tweets,   uns repudiando à construção da usina, outros apoiando o MXVPS. O sucesso da hashtag foi tanto que até a atualidade ela ainda é utilizada em vários tweets. 

3.2.2 “Belo Monte com meu dinheiro não”: O apelo aos bancos financiadores

Outra campanha que se destacou durante este período, foi a “Belo Monte com meu   dinheiro   Não”,   que   tinha   tinha   como   objetivo   articular   apoiadores   para contactar os bancos por meio de e­mail, mensagens no Facebook e tweets para que os mesmo   não   financiassem   Belo   Monte.   A   campanha   foi   lançada   oficialmente   em 08/01/2012,   porém,   desde   o   ano   anterior   já   existiam   postagens   com   esse   tema. Agosto de 2011 foi a primeira vez que a frase apareceu no site do MXVPS em uma notícia114,   a   mesma     dizia   que   a   equipe   de   comunicação   do   MXVPS   estava disponibilizando um arquivo (Ilustração 15) para que fosse impresso e utilizado nas marchas. Após isso, em dezembro do mesmo ano, alguns banners virtuais começam a ser divulgados  no  facebook. Foram divulgados  5  banners  que  foram  responsáveis  por quase 50% do total de compartilhamentos (781 de 1743)  obtidos pela página no mês de dezembro de 2011.  Abaixo (Ilustração 16 e 17) segue três deles.

XINGU VIVO. Cartazes, panfletos e banner para os grandes protestos. Xingu Vivo, 18 ago. 2011. Disponível   em:   < http://www.xinguvivo.org.br/2011/08/18/cartazes­panfletos­e­banner­para­os­grandes­protestos> Acesso em: 10 dez. 2013.  114

84

Ilustração 15 – Banner da Campanha “Belo Monte Com Meu dinheiro Não” para marchas

Fonte: Site do MXVPS (2011)

Ilustração 16 – Banner “Belo Monte com Meu dinheiro Não” I

Fonte: Página do MXVPS no Facebook (dezembro de 2011)

85             Ilustração 17 ­  Banner “Belo Monte com meu dinheiro não” II

Fonte: Página do MXVPS no Facebook (dezembro de 2011)

Ilustração 18 – Banner “Belo Monte com meu dinheiro não” Itaú

Fonte: Página do MXVPS no Facebook (dezembro de 2011)

86 Segundo   matéria115  divulgada   no   site   do   MXVPS,   centenas   de   correntistas enviaram mensagens a seus bancos. O Resultado foi que o Itaú respondeu em sua rede social no facebook aos correntistas que não tinha planos de fazer empréstimo ao Consórcio   Construtor   de   Belo   Monte   e   nenhum   banco   privado   (apenas   a   Caixa Econômica)   cedeu   fundos   para   a   construção   da   hidrelétrica   durante   todo   ano   de 2012, mesmo assim as obras seguem cada vez mais aceleradas com os empréstimos cedidos pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES).

3.3 MOMENTO II: DENUNCIAS DE IMPACTOS E O FUTURO INCERTO DAS MOBILIZAÇÕES (DO XINGU+23 ATÉ A ATUALIDADE).

Em   meados   de   junho   de   2012   aconteceu   em   Altamira   o   Xingu+23,   encontro organizado pelo MXVPS em paralelo à Rio+20 que tinha como objetivo relembrar o I Encontro do Povos Indígenas em Altamira,  23 anos antes. O Xingu+23  acorreu de 13 a 16 de junho  na Vila Santo Antônio, diretamente impactada por Belo Monte e localizada bem em frente a um dos canteiros, de onde podia­se ouvir o maquinário e as explosões provocadas pela obra. O encontro reuniu cerca de 300 pessoas, entre ribeirinhos, agricultores, pescadores, ativistas e indígenas dos povos Juruna, Xikrin, Kayapó e Xipaya próximos da região, os Munduruku, das bacias dos rios Teles Pires e Tapajós e os Tembé da região de Belém.  Um   ampla   campanha   de   divulgação   que   contava   com   site116,   arrecadação financeira virtual117  e a música “Um Sonho” de Gilberto Gil, cedida 118  pelo cantor para ser utilizada durante a campanha pré­Xingu+23 reforçava a marca decisiva do

XINGU   VIVO.   Xingu   Vivo   2012:   olhando   para   trás.   E   para   frente.   Xingu   Vivo,   10   dez.   2012. Disponível em:  Acesso em: 10 dez. 2013. 116 Site do Xingu+23. Disponível em:  Acesso em: 10 dez. 2013. 117 Disponível em:  Acesso em: 10 dez. 2013. 118 Conforme matéria disponível em:  Acesso em: 10 dez. 2013. 115

87 encontro para o MXVPS.   Tal carga depositada pôde ser percebida tanto antes do Xingu+23, com a divulgação, quanto durante e depois do mesmo.  Ao longo dos quatro dias foram feitas várias ações, cujas imagens ganharam o mundo   por   meio   do   Xingu   Vivo.   Portais   do   Brasil   e   do   mundo   (ORM 119,   G1120, Repórter Brasil121, Correio Braziliense122, The Gardian123, entre outros) noticiaram as ações, realizadas diretamente em um dos canteiros da obra, Pimental. Durante o encontro,   duas   ações   se  destacaram  na  cobertura  on­line   do MXVPS.   A  primeira aconteceu no canteiro de obras Pimental, onde os participantes abriram uma fenda nas   ensecadeiras   para   que   o   fluxo   do   rio   voltasse   a   acontecer   (Fotografia   3), plantaram de 500 pés de açaí nas áreas devastadas pela hidrelétrica (Fotografia 4) e, utilizando a técnica de “banner humano”, deitaram no chão e escreveram com seus próprios corpos a frase: “Pare Belo Monte” (Fotografia 5).

ORM. Galeria de imagens das atividades no Xingu+23 em Altamira. Disponível em:  . Acesso em: 10 dez. 2013.  120 G1. Xingu+23 debate os impactos sociais e ambientais da usina de Belo Monte. G1: Pará,  14 jun. 2012.   Disponível   em:   < http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2012/06/xingu23­debate­os­impactos­sociais­e­ambientais­da­usin  a­de­belo­monte.html >   Acesso em: 10 dez. 2013. 121 REPORTER BRASIL. ONGS denunciam à ONU perseguição da polícia a manifestantes contra Belo Monte.  Repórter   Brasil,   18   jun.   2012.   Disponível   em:   < http://reporterbrasil.org.br/2012/06/ongs­denunciam­a­onu­perseguicao­da­policia­a­manifestantes­co ntra­belo­monte/> Acesso em: 10 dez. 2013 122 CORREIO BRAZILIENSE.  Indígenas e ecologistas ocupam represa da usina de Belo Monte, na Amazônia.     Correio   Braziliense:     Rio   de   Janeiro,   15   jun.   2012.   Disponível   em:   < http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2012/06/15/interna_brasil,307555/indigenas­e­ ecologistas­ocupam­represa­da­usina­de­belo­monte­na­amazonia.shtml> Acesso em: 10 dez. 2013. 123 SIEGLE, Lucy.  Ethical living: it is right to give a dam?. The Guardian, 22 jul. 2013. Disponível em:   Acesso   em:   10 dez. 2013. 119

88 Fotografia 3 – Manifestantes no Xingu+23 reabrem fluxo do Xingu

Fonte: Site do MXVPS

Fotografia 4 – Índios e manifestantes plantam pés de açaí em áreas devastadas por Belo Monte

Fonte: Site do MXVPS

89 Fotografia 5 – Intervenção “Pare Belo Monte” na ensecadeira Pimental

Fonte: Site do MXVPS

A segunda manifestação culminou na destruição de alguns escritórios do CCBM em  outro canteiro, Belo Monte. A ação foi conduzida  por alguns  participantes  do evento, dentre os quais não havia nenhum membro do MXVPS, que mesmo assim foi criminalizado com o indiciamento de 11 lideranças ligadas ao referido movimento. Somente no site do MXVPS foram feitas 24 publicações sobre o Xingu+23 em menos   de   um   mês124,   mostrando   a   frequência   com   que   o   MXVPS   abordava   o encontro.  O objetivo de conseguir a visibilidade mundial voltada para Belo Monte durante o   Rio+20   foi   alcançado,   mas,   apesar   de   toda   mobilização   empreendida   antes   e durante o encontro, a construção da obra continuou.  Após   o   encontro,   sob   ameaça   de   morte,   o   jornalista   que   trabalhava   para   o MXVPS deixou a região. O resultado foi uma mudança no conteúdo veiculado nos canais   de   comunicação   do   MXVPS   que   adotaram   cada   vez   mais   o   caráter   de denuncia   dos   impactos   provocados   pela   obra   e   o   aumento   de   conteúdos 124

De 16 mai. 2012 a 16 jun. 2012. 2012.

90 compartilhados de atores da Rede do MXVPS. Outra característica observada  foi o destaque dado  à cobertura de greves e ocupações125, as quais tornam­se cada vez mais frequentes, e a divulgação maior de assuntos envolvendo causas afins, como as hidrelétricas em Teles Pires e São Luiz do Tapajós, ambas no Pará. 

3.3.1 Os atos e mobilizações: O perfil denunciativo do MXVPS na cobertura de ações offline.

Optamos por analisar as coberturas das greves e ocupações ocorridas em Belo Monte   devido   ao   grande   trabalho   de   cobertura   empreendido   pelo   Movimento durante as referidas manifestações. Porém, vale destacar, que assim como o perfil denunciativo adotado pelo Movimento não é estático, as manifestações também não começaram a aconteceram exatamente após o Xingu+23. Desde  o  início   das   obras   de  construção   da   UHE   Belo   Monte  (junho   de  2011), ocorreram   inúmeros   atos   e   mobilizações   nos   municípios   afetados   pela   usina, especialmente   em   Altamira,   por   ser   a   principal   cidade   da   região   e   sede   dos escritórios   da   CCBM,   Norte   Energia   e   diversos   órgãos   governamentais   (IBAMA,   A   primeira   grande   ocupação   do   canteiro   aconteceu   em   outubro   de   2011,   durante   o   Seminário Mundial Contra Belo Monte, organizado pelo Comitê Metropolitano com o apoio do MXVPS, onde centenas de pessoas, entre ribeirinhos, indígenas, atingidos, ambientalistas e pessoas da sociedade civil se reuniram de 25 a 27 de outubro e pensaram estratégias para travar o desenvolvimento da obra.   Após   o   evento,   tornou­se   recorrente   a   ocupação   dos   canteiros,   à   exemplo:   Greve   dos trabalhadores   em  novembro   de   2011.   G1.   Milhares   de   trabalhadores   paralisam  obras   de   sítio  da Usina   de   Belo   Monte.  G1:   Pará,   11   nov.   2013.   Disponível   em:   < (http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2013/11/milhares­de­trabalhadores­paralisam­obras­de­sitio­da­u sina­de­belo­monte.html)> Acesso em: 10 dez. 2013.; Ocupação de pescadores e indígenas em outubro de 2012. Articulação inédita de indígenas e pescadores promove nova ocupação de Belo Monte. Xingu Vivo,  9   out.   2012.   Disponível   em:   Acesso  em:  10  dez.   2013.;     e  a  ocupação  dos  Munduruku  em maio  de 2013. RODRIGUES, Alex.  Índios que ocupam Belo Monte dizem estar cansados de esperar governo para   negociar.   Agência   Brasil:   18   mai.   2013.     Disponível   em:   < (http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013­05­28/indios­que­ocupam­belo­monte­dizem­estar­cansad os­de­esperar­governo­para­negociar>. Acesso em: 10 dez. 2013. 125

91 INCRA,   FUNAI,   etc.).   As   manifestações   tiveram   participação   de   distintas organizações,   movimentos   e   atores   sociais,   contando   também   com   temáticas   e demandas   diversificadas.   Alguns   exemplos   dessa   diversidade   são   a   luta   pela paralisação da obra por ser considerada inviável ambientalmente e socialmente; a exigência   de   cumprimento   das   condicionantes   impostas   pelo   IBAMA   durante   o processo de licenciamento; a reivindicação de melhorias salariais e de condições de trabalho   por   parte   dos   trabalhadores   da   obra;   o   protesto   contra   o   deslocamento compulsório a que comunidades e bairros foram sujeitos e a busca por indenizações mais “justas”. A maior parte desses atos e mobilizações não foram organizados pelo MXVPS,  o que   não   excluía   o   apoio   e   participação   na   maioria   deles.   O   site   e   os   perfis   do movimento em redes sociais atuaram na divulgação e informação sobre o que ocorria nesses processos de mobilização, demonstrando o recorte e a visão do MXVPS sobre os acontecimentos.  Neste   item,   abordamos   alguns   exemplos   de   mobilizações   que   receberam divulgações   de   destaque   pelos   veículos   de   comunicação   do   MXVPS.   Além   de analisarmos como se deu a cobertura das mesmas. As diversas greves e paralisações de trabalhadores da usina ocorridas entre os anos de 2011 e 2013 são essenciais para uma análise das estratégias de comunicação do MXVPS em relação às mobilizações. Algumas dessas greves foram acompanhadas pelo jornalista do MXVPS, que fez em seus textos uma série de denúncias contra a CCBM, Norte Energia, Força Nacional e Polícia Militar do Pará. Essa cobertura com viés   crítico   às   empresas   construtoras,   fez   com   que   o   referido   jornalista   fosse processado   inúmeras   vezes,   sendo   acusado   inclusive   de   ter   liderado   algumas paralisações e greves. Um destes processos resultou em uma proibição expressa de que o jornalista se aproximasse de qualquer canteiro de construção da usina, o que também foi denunciado pelo MXVPS.

92 Logo na primeira greve (novembro de 2011), a cobertura do MXVPS foi intensa e destacou denúncias sobre práticas que se repetiriam nas outras greves e que pouco reverberaram   nos   grandes   meios   de   comunicação   e   em   diversas   instâncias governamentais e do judiciário. Dentre as quais destacamos: a demissão em massa dos trabalhadores que participaram de cada greve; a relação próxima entre a Força Nacional, Polícia Militar do Pará e Norte Energia, que segundo o MXVPS atuavam apenas na repressão aos grevistas sob ordens diretas da Norte Energia, funcionando desta forma como “empresas privadas de segurança” para o empreendimento, o que seria simbolizado por diversas fotos tiradas pelo MXVPS e que retratavam o logo da Norte Energia nos veículos policiais; como consequência dessas demissões em massa realizadas em cada greve e da relação “promíscua” entre os empreendedores e as forças de segurança do Estado, a cobertura jornalística do MXVPS fez uma de suas principais   denúncias,   a   qual   foi   a   acusação   de   que   a   Força   Nacional   e   a   Polícia Militar   do   Pará   levavam   compulsoriamente   os   trabalhadores   demitidos   até   a fronteira do Maranhão, para evitar que os mesmos reivindicassem seus direitos ou participassem de manifestações contra Belo Monte no município de Altamira. As   inúmeras   ocupações   que   ocorreram   nos   canteiros   de   obra   de   Belo   Monte também   receberam   grande   destaque   na   cobertura   jornalística   e   divulgação   de informações por parte do MXVPS. Dentre essas ocupações, destacamos quatro delas ocorridas entre os anos de 2011 e 2013: a primeira ocupação a um canteiro de Belo Monte, ocorrida em outubro de 2011 como consequência de um evento organizado pelo Comitê Metropolitano Xingu Vivo Para Sempre, a qual durou um dia e contou com a participação de indígenas de diversas etnias e locais (dos estados do Pará, Tocantins   e   Mato   Grosso),   pescadores   e   estudantes;   a   segunda   ocupação   que destacamos foi a mais longa (21 dias) e contou com a participação exclusivamente de indígenas da região (Volta Grande do Xingu e “Rota Iriri”), ocorrida em julho de 2012; a terceira ocupação ocorreu em outubro de 2012, contando com a participação de pescadores das proximidades de Altamira e indígenas da chamada “Rota Iriri”; a

93 quarta ocupação a ser destacada, ocorreu em maio de 2013 e teve a peculiaridade de ter sido liderada pelos indígenas da etnia Munduruku, os quais são moradores da Bacia do Tapajós e cujo foco de suas exigências eram sua oposição aos   projetos de construção do Complexo Hidrelétrico do Tapajós.

3.3.2 A denúncia dos impactos: restabelecendo as bases e ampliando as lutas.

No ultimo dia do Xingu+23, o escritório do Consórcio Construtor Belo Monte foi quebrado   por   indígenas   e   alguns   participantes.   O   CCBM   responsabilizou unicamente os integrantes do MXVPS. Em nota, o Movimento respondeu à acusação alegando   que   os  verdadeiros   culpados   pelas   mazelas   em   Altamira  era   o  Governo Federal   e   o     CCBM   e   que   a   acusação   era   uma   tentativa   de   criminalização   do movimente   visando     desmoralizar   o   MXVPS   perante   a   população   de   Altamira. Abaixo segue trecho da nota divulgada pelo MXVPS na qual o movimento afirma que   os   afetados   por   Belo   Monte   não   são   criminosos   e   exige   que   as   perdas   dos mesmos sejam reparadas: A despeito de serem a empresa e o governo os vetores de toda a violência que explodiu na região desde o início das obras da hidrelétrica, o Consórcio e as forças repressivas da polícia reforçaram o processo de criminalização, e agora 11 participantes do Xingu +23 – entre eles um padre que rezou uma missa e abençoou o encontro, um pescador que teve sua casa destruída pelo Consórcio poucos dias antes, e um documentarista que apenas o registrou ­, estão sendo investigados e indiciados como criminosos (...)Exigimos a imediata anulação de   todos   os   processos   de   criminalização   da   população   do   Xingu   e   seus apoiadores.   Exigimos   que   suas   perdas   econômicas,   morais,   culturais   e espirituais  sejam  reparadas.   Exigimos   que  a   população  brasileira   tenha   o direito de decidir sobre a construção de projetos de grande porte, que tenha o direito   de   dizer   não,   que   seja   consultada   sobre   como   e   onde   os   recursos públicos são aplicados – e exigimos, acima de tudo, que a democracia e os princípios básicos dos direitos humanos sejam garantidos no Brasil126

 XINGU VIVO.  Nota de apoio ­ Vítimas de Belo Monte não são criminosos. Xingu Vivo, 16 jun.  2012. Disponível em:    Acesso em: 10 dez. 2013. 126

94 O episódio teve ampla repercussão na mídia, onde era noticiado que a justiça pediria prisão preventiva de onze dos mais de 300 participantes. Apesar disso, os inquéritos foram arquivados por falta de provas contra os integrantes do MXVPS, únicos indiciados. Após o fato, o MXVPS passou por um processo de desestruturação, que pode ser notado   com   a   redução   nas   chamadas   para   ações   mais   diretas   e   mudanças  no conteúdo   das   matérias   e   postagens   do   MXVPS.   Tornou­se   comum   a   elaboração materiais   (vídeo,   fotos,  matérias   e   postagens)   abordando   os   impactos   da   obra   na região. Selecionamos três matérias em diferentes momentos que ilustram esse tipo de conteúdo.  A   primeira   foi   divulgada   em   22/02/2013   no   site   do   MXVPS.   A   matéria 127  foi compartilhada   do   site   da   Agência   Brasil128    e   afirma   que   de   2011   para   2012  a apreensão   de   crack   em   Altamira   aumentou   900%   e   a   quantidade   de   cocaína aumentou   12   vezes   no   mesmo   período.   O   conteúdo   também   aborda   a   exploração sexual de crianças e adolescentes crescente  na região, que  ao  longo de 2013 passou a ser denuncia constante no site do   MXVPS. Principalmente após a descoberta de um prostíbulo em área declarada pelo CCBM. A Boate Xingu, como era chamada, mantinha   14   mulheres,   sendo   uma   adolescente   de   16   anos,   e   uma   travesti   em regime de escravidão e cárcere privado, conforme matéria “Adolescente é resgatada de   prostíbulo   em   Belo   Monte”129  feita   pelo   Repórter   Brasil130  em   14/02/2013   e divulgada no site do MXVPS na mesma data. 

XINGU VIVO. Apreensão de crack aumenta 900% em município próximo a Belo Monte. Xingu Vivo, 18   fev.   2013.   Disponível   em:  Acesso em: 10 dez. 2013. 128 Disponível em:  Acesso em: 10. dez. 2013. 129 XINGU  VIVO.  Adolescente  resgatada  de  prostíbulo  em  Belo  Monte.  Xingu  Vivo,  14  fev.   2013. Disponível   em: Acesso em: 10 dez. 2013. 130 Site do Repórter Brasil. Disponível em:  Acesso em: 10 dez. 2013. 127

95 Em uma outra matéria “Aterro de reassentamento da norte energia desmorona e atinge   comunidade”131,   desda   vez   não   compartilhada   de   nenhum   outro   site,   o Movimento afirmou que  um  aterro    feito  pela  Norte  Energia  desabou  sobre  uma comunidade   com   60   moradores   no   Bairro   da   Liberdade.   O   seguinte   trecho   da matéria  trouxe  uma  entrevista  com  Ildomar  Bezerra   de Souza,  morador atingido pelo desmoronamento. A entrevista é utilizada para denunciar a falta da diálogo da Norte Energia com os impactados pela obra:

Entrou lama em tudo que é lugar, o único poço que temos na vila, onde todo mundo pega água, foi soterrado, queimou minha geladeira, meu ventilador, e passamos a noite toda correndo, com medo de que a lama derrubasse tudo (…) Estamos com muito medo, dessa vez só morreu um cachorro, mas aqui chove   muito   e   da   próxima   vez   tudo   pode   ser   soterrado.   A   Norte   Energia nunca veio conversar com a gente, não quer se responsabilizar, mas achamos que temos que ser removidos o mais rápido possível, temos muito medo de morrer   (…)   (Morador   de   Vila   soterrada   por   aterro   da   Norte   Energia   em matéria divulgada no site do MXVPS).

Outra   denuncia   feita   pela   matéria   está   na   qualidade   das   casas   que   serão entregues   para   alguns   indenizados.   Segundo   a   entrevista   duas   casas   do reassentamento teriam desabado com o desmoronamento, porém os seguranças não deixaram os moradores da vila entrar no terreno da Norte Energia para confirmar. “Os seguranças da obra não deixaram a gente entrar. Mas  imagina o perigo, estão fazendo casas sobre terra fofa, sem nenhuma segurança” (Idolmar  Ildomar Bezerra de Souza, em entrevista concedida para o MXVPS). De acordo com nossas análises, essa nova estratégia de abordagem se deu por vários motivos. Destacamos aqui três deles. 1) Desgaste do próprio Movimento. O   primeiro   tem   relação   com   o   próprio   ideal   do   MXVPS,   que   mesmo   após   o barramento  do  rio  defende  a  paralisação  total   da   obra,    objetivo  que  atualmente Xingu Vivo. Aterro de reassentamento da norte energia desmorona e atinge comunidade. Xingu  Vivo, 19 out. 2013. Disponível em:   Acesso em: 10 dez. 2013. 131

96 parece pouco viável. Este motivo torna as chamadas para ações cada vez mais de difícil   adesão,   tornando   os   veículos   de   comunicação   do   MXVPS   uma   espécie   de “agência” que se limitam apenas à divulgação de notícias.   2) Ausência de   um assessor/jornalista fixo e presente na região. Após o Xingu+23, provavelmente devido   à   perseguições   políticas132,   o   jornalista   que   trabalhava   para   o   Movimento desde meados de abril de 2011  deixou a região, o que tornou a produção de conteúdos próprios cada vez mais escassos. Esse fator refletiu na dependência do  MXVPS de profissionais e parceiros distantes para fazer a alimentação do site e redes sociais. O Movimento passou a   enviar informações para Belém ou Sul e Sudeste para que posteriormente   fossem   feitas   as   postagens.     A   ausência   de   um   profissional trabalhando   para   o   Xingu   Vivo   também   repercutiu   no   aumento   considerável   de conteúdos compartilhados de parceiros pertencentes  à Rede da qual o MXVPS faz parte, fazendo com que caísse o o número de chamadas para ações e aumentasse a presença   de   notícias.  3)   Divulgação   de   impactos   como   estratégia   de ampliação da Rede.  Outro motivo que levantamos  é a divulgação dos impactos gerados por Belo Monte como uma estratégia de convencimento. Tal estratégia teria como objetivo atingir e reestruturar as  bases  locais do MXVPS  ­ pois  abordar os impactos   pode   aproximar   a   população   crescente   insatisfeita   com   a   obra,   devido principalmente   às   condicionantes,   muitas   não   cumpridas   –   e   mostrar   para movimentos sociais de outras regiões que os impactos gerados por hidrelétricas são irreversíveis e bem maiores do que o governo e as empresas afirmam, já que Belo Monte era divulgado como um projeto diferenciado e inovador pelo Governo Federal.

XINGU   VIVO.     Consórcio   de   Belo   Monte   acusa   jornalista   de   instigar   greve   de   sete   mil trabalhadores.   Xingu   Vivo,   11   abr.   2012.   Disponível   em:   Acesso   em:   10   dez.   2013.   XINGU VIVO. Belo Monte: greve e ameaça de morte ­ entrevista com Ruy Sposati. Xingu Vivo, 9 abr. 2012.   Disponíveis   respectivamente   em:       e . Acesso em: 10 dez. 2013. 132

97 Sobre este último item, é importante o aumento de notícias sobre a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós e resistência dos indígenas da etnia Munduruku em relação à construção da usina. Além de informações a respeito da hidrelétrica de Teles Pires, localizada   na   divisa   do   Mato   Grosso   e   Pará,   onde   está   localizado   um   trecho   de cachoeiras   que   formam   a   região   chamada   de   Sete   Quedas,   considerado   um   local sagrado e intocável para os indígenas.  

98 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O   objetivo   desta   pesquisa   foi   mostrar   de   que   forma   e   em   quais   contextos   o Movimento Xingu Vivo Para Sempre utiliza a internet para inserir suas pautas e demandas nos debates da esfera pública. Para isso, fizemos uma análise de suas postagens   nos   principais   canais   de   comunicação   utilizados   pelo   movimento.   O conteúdo   é   vasto   e,   devido   a   quantidade   de  publicações,   de   difícil   análise.  Só   de tweets  o MXVPS tem cerca de 8.500, além de 700 postagens no site e centenas de publicações no facebook e youtube.  Quais motivos levaram o Movimento Xingu Vivo a utilizar o ciberativismo? De que   forma   e   com   quais   objetivos   o   Xingu   Vivo   utiliza   essas   ferramentas   de comunicação? Qual o balanço podemos fazer destes quatro anos de ciberativismo?  Devido a essa demanda, a análise das publicações foi dividida em três momentos cronológicos: Desde a entrada do MXVPS na Web até o início das obras, do início das obra até o Xingu+23 e após o Xingu+23 até a atualidade. O objetivo foi observar quais  estratégias  ciberativistas  (VEGH, 2003  apud. PEREIRA, 2011; RIGITANO, 2003;   SILVEIRA,   2009)   sobressiam   em   cada   período.   Por   meio   de   pesquisa bibliográfica,   levantamento   documental,   análise   das   redes   sociais   do   movimento, análise   dos   perfis   e   conteúdo   depositado   nos   mesmos   e   entrevista   com   alguns assessores obtivemos várias conclusões.  O MXVPS é oriundo de uma  Rede de Movimentos Sociais  que se manifestava desde as primeiras reivindicações na Transamazônica. Apesar de ter surgido muito tempo depois das primeiras manifestações, o Movimento até os dias atuais e mesmo passando por várias modificações, não somente na comunicação como em sua própria estrutura, o mesmo ainda traz algumas formas de manifestação desta época, como por exemplo, a utilização de cartas enviadas para o Congresso e o fechamentos da Transamazônica. 

99 Antes   do   início   das   obras,   o   envio   de   cartas   para   autoridade   era   frequente. Diminuindo consideravelmente com o tempo, porém não deixando de existir. Após adentrar oficialmente à web por meio de redes sociais e sites, o MXVPS pôde criar diversas outras redes e fortalecer algumas que já existiam. O   MXVPS   começou   a   utilizar   a   internet   logo   após   às   audiências   públicas, realizadas   em   outubro   de   2009.   Atribuímos   este   fato   à   vários   motivos,   mas destacamos dois mais importantes. O primeiro foi as próprias inconsistências das audiências, que segundo o movimento não alcançou seu objetivo. E o segundo tem a ver com a maior aproximação de pessoas ligadas à ONGs ao MXVPS. Destacamos essa aproximação devido à ampla experiência que as ONGs tem com o ciberativismo, o   que   contribuiu   para   que   o   MXVPS   focasse   na   importância   da   internet   no   que consiste a comunicação de movimentos sociais. Outro fator também importante  é próprio monopólio midiático, que frequentemente é desfavorável às demandas dos movimentos   sociais   e   suas   Redes.   Tal   fato   faz   com   que   os   mesmos   busquem   na internet uma forma de mídia alternativa, algumas vezes radicais outras não. Porém, não destacamos este motivo como fundamental para a entrada do MXVPS na Web, pois esta concentração se estende ao longo de anos, não explicando a entrada do Movimento apenas alguns anos depois da popularização da internet. Após   a   entrada   na   web,   o   MXVPS   passou   por   três   momentos   diferentes.   O primeiro   foi   o   que   chamamos   de  Período   Informativo,  no   qual   se   destacou   o primeiro   tipo   de   ciberativismo   de   VEGH,   a   conscientização   e   promoção (awareness/advocacy)   de   uma   causa.   Neste   momento,   o   movimento   procurou   se apresentar   e   dizer   seus   objetivos   para   que   suas   reivindicações   fossem   mais conhecidas   ou   aprofundadas   por   outros   atores   sociais.   Ao   observar   o   avanço   das obras, O MXVPS passa a investir em postagens chamando para ações com objetivo de   travar   a   obra,   dando   início   ao   que   chamamos   de  Período   das   Ações,  ou organização e mobilização (organization/mobilization). Neste período destacaram­se a chamada para ações online e offline, como atos, passeatas, tuitaços e assinatura de

100 petições. Este momento se estendeu até o Xingu+23, encontro importante organizado pelo MXVPS e divulgado como “decisivo” nos veículos de comunicação do movimento. Após   o   Xingu+23,   houve   uma   diminuição   nas   chamadas   ações   diretas,   só acontecendo isso quando havia algum julgamento judicial ou paralisações das obras. Ao que parece, travar definitivamente a obra se torna cada vez mais difícil. E assim, o MXVPS passa a dar cada vez mais visibilidade à cobertura das greves e ocupações ocorridas nos canteiros de obra, dando início ao terceiro período do movimento na Web,   o  Período   das   Denúncias,   no   qual   se   destacou   o   terceiro   tipo   de ciberativismo de VEGH, o da ação e reação (action/reaction).  É importante destacar que, em parte desses acontecimentos, principalmente no que se refere às greves e ocupações, não havia nenhum veículo de mídia, seja da Grande Mídia  ou da  Mídia Alternativa, acompanhando os atos e mobilizações  In loco,  sendo   o   jornalista   do   MXVPS   (Ruy   Sposati),   o   único   a     fazer   esse   tipo   de cobertura nesses casos. Assim, o MXVPS torna­se a única fonte rápida de oposição e de denuncia a respeito do que acontecia em Belo Monte. Sobre a mudança de estratégia em relação ao Período das Ações para o Período das Denúncias, foram destacados três motivos. O primeiro foi o próprio desgaste da causa, a defendida pelo Movimento até os dias atuais é de parar a obra, o que parece um   ideal   mesmo  distante,   fazendo   com   que  as   adesões   de   ações   se   tornem   mais difíceis. Outro fator é a ausência de um jornalista exclusivo do movimento atuando na região, o que fez com que o movimento dependesse de parceiros distantes para divulgar   suas   informações,   parceiros   esses   especializados   em   divulgação   de informação e não em elaboração de estratégias ciberativistas. Como ultimo motivo destacamos   as   denúncias   como   uma   estratégia   de   recuperação   das   bases   locais perdidas , já que a divulgação de impactos aproxima o público afetado e insatisfeito com   a   obra,   e   como   uma   forma   de   alertar   movimentos   sociais   de   outras   regiões sobre os riscos irreversíveis de projetos hidrelétricos.

101 Por fim, sabemos que esta pesquisa não se esgota em si mesma, tendo vários aspectos   a   serem   aprofundados   mais   delicadamente   em   futuras   pesquisas.   Mas, esperamos   com   esse   trabalho   ter   contribuído   de   alguma   forma   com   pesquisas envolvendo ciberativismo e movimentos sociais na Amazônia. 

102 REFERÊNCIAS 

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