MOVIMENTOS SOCIAIS 2.0: histórico e estratégias do ciberativismo do Movimento Xingu Vivo Para Sempre.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
LARISSA BRENA DE CARVALHO SANTOS
MOVIMENTOS SOCIAIS 2.0: histórico e estratégias do ciberativismo do Movimento Xingu Vivo Para Sempre.
BelémPA 2013
LARISSA BRENA DE CARVALHO SANTOS
MOVIMENTOS SOCIAIS 2.0: histórico e estratégias do Movimento Xingu Vivo Para Sempre na Web.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção de título de bacharel em Comunicação Social – Jornalismo na Faculdade de Comunicação Social, Universidade Federal do Pará. Orientadora: Rosane Albino Steinbrenner
BelémPA 2013
Ao Xingu e às vidas que dele dependem.
AGRADECIMENTOS
Neste momento minha mais profunda gratidão vai para todos e todas que de alguma forma contribuíram para que este trabalho pudesse ser concluído. Agradeço em especial às experiência, reflexões e pessoas conhecidas ao longo deste processo que se arrasta por quase um ano, mas que tem suas origens muito antes dos últimos meses. À minha orientadora, Rosane Steinbrenner, pelo incentivo, apoio e dedicação. À Rosaly Brito, pelas inspirações, reflexões e “parênteses” nos primeiros anos de curso, e à Célia Amorim, que mesmo sem saber fez reviver em mim o desejo de trabalhar com comunicação quando nos últimos anos a vontade já não existia mais. A todos e todas do Sesc Boulevard, em nome de José Maria Vilhena, Rose, Dona Rosa, Esther, João, Campelo, Edgar, Ravy, Marcinho, Carol, Bruno, Éder, Shuela, Caríssima e Miguel Chikaoka, pela oportunidade e aprendizagem durante o período em que estive com vocês. À Enecos, por me mostrar qual o lado do comunicador nesta sociedade. À Joice, Moenah, Flávia, Moisés, Tomaz, Natássia, Bruno, Fernando, Sávio, João, Yuri, Andreza, e outros tantos amigos que fiz durante esses anos de universidade, com os quais compartilhei sonhos, angústias e cervejas. À Débora, Naiana, Amanacy, Renato, Abílio, Carla, Adriano, Caio, Kéké, Higor e Amanda, amigos de longa data que contribuíram e contribuem para que eu seja parte do que hoje sou. Aos amigos e pares mais recentes, Luah, Lanna, Luana, Rafael, Duda, Sabrina, com quais pretendo trabalhar por longos anos. À Meyre, David e Tais Morgado, por me adotarem como mais um membro da família.
Agradeço especialmente ao meu companheiro, amigo, coorientador nas horas vagas e namorado, Cauê Morgado, pela paciência, amor e dedicação em todos os momentos. Ao meu pai, pelo carinho e apoio. Obrigada pelas caronas corridas devido ao meu atraso característico. Sem você chegaria sempre meio dia nas aulas. À minha mãe, que tenta se fazer presente de todas as formas mesmo estando a um oceano de distância. Agradeço também aos meus familiares de sangue indígena, negro e nordestino, em nome do meu avôhai, Josival, por me ensinar desde cedo o que é enxergar o outro, olhar no olho e dizer “Bom dia”. Se não aprendesse a olhar o outro, certamente este trabalho seria diferente. Agradeço também à minha avó, Altamira, por me adotar como a filha que sempre quis ter ao lado dos seus sete filhos. Obrigada também por sempre dizer “Aqui mesmo não” quando alguma notícia sobre Belo Monte passava na televisão. Esta frase deve ter ficado na minha cabeça e me feito questionar qualquer atrocidade feita na cidade que leva o nome da minha avó. Por fim, a todos os parentes que lutam por uma Amazônia livre de projetos que beneficiam apenas os poderosos. A todos vocês, Sawe!
“Do rio que tudo arrasta, dizse que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem”. Bertolt Brecht
RESUMO
Este trabalho é uma análise da entrada e atuação do Movimento Xingu Vivo Para Sempre na Web, utilizando como categorias o ciberativismo e movimentos sociais. Como recorte temporal selecionamos o período entre janeiro de 2010, entrada do Movimento na web, até novembro de 2013. Adotamos o método indutivo para analisar as publicações veiculadas nos principais canais de comunicação do Movimento, como site e redes sociais, além de entrevistas. Concluímos que o MXVPS passou por três momentos diferentes na Web, categorizados como: Momento Informativo, que vai da entrada do MXVPS na web até o início das obras, onde prevaleceram informações voltadas à conscientização sobre os até então possíveis impactos provocados por Belo Monte; Momento das Ações, que vai do início das obras até um encontro realizado pelo Movimento em Altamira, no qual eram mais comuns postagens chamando para ações online e offline; e o Momento Denunciativo, no qual prevaleceram informações sobre greves e impactos da obra na região. Essas mudanças de estratégias estão diretamente ligadas aos diferentes contextos e avanços da obra, o que resultou na modificação de abordagem utilizada pelo Movimento Xingu Vivo durante o período analisado.
Palavraschave: Movimentos Sociais, Ciberativismo, Amazônia, Belo Monte, Xingu Vivo.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Fotografia 1 Índia Tuíra passa o facão no rosto do diretor da Eletronorte durante o I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu................................................................ 30 Fotografia 2 Encontro que deu origem ao MXVPS..................................................35 Ilustração 1 ISA divulga informações sobre o MXVPS no Twitter.........................40 Gráfico 1 – Acessos nas redes sociais no Brasil de Janeiro de 2009 até Outubro de 2013.................................................................................................................................54 Ilustração 2 Página inicial do site do MXVPS.........................................................64 Tabela 1 Abas, total de publicações, podem ser observadas em relação às abas do site...................................................................................................................................67 Ilustração 3 Mensagens de apoio no Orkut.............................................................71 Ilustração 4 – Tweet sobre documentos para dúvidas sobre Belo Monte..................73 Ilustração 5 Tweet sobre o custo da eliminação da miséria....................................73 Ilustração 6 Tweet comparativo entre energia eólica e hidrelétrica......................74 Ilustração 7 – MXVPS tira dúvidas online no facebook............................................75 Ilustração 8 Divulgação do Chat Xingu Vivo no site..............................................76 Ilustração 9 – Tweets mostram segunda fase do XMVPS na Web...........................79 Ilustração 10 – Publicações no Facebook sobre atos..................................................79 Ilustração 11 – Banner virtual do tuitaço contra Belo Monte...................................81 Ilustração 12 – Banner de Rita Lee usado em Tuitaço..............................................82 Ilustração 13 – Banner de Chico Mendes utilizado em Tuitaço................................83 Ilustração 14 – Banner de Harry Potter no Tuitaço..................................................83 Ilustração 15 – Banner da Campanha “Belo Monte Com Meu dinheiro Não” para marchas..........................................................................................................................86 Ilustração 16 – Banner “Belo Monte com Meu dinheiro Não” I................................86 Ilustração 17 Banner “Belo Monte com meu dinheiro não” II...............................87 Ilustração 18 – Banner “Belo Monte com meu dinheiro não” Itaú...........................87
Fotografia 4 – Índios e manifestantes plantam pés de açaí em áreas devastadas por Belo Monte......................................................................................................................90 Fotografia 3 – Manifestantes no Xingu+23 reabrem fluxo do Xingu........................90 Fotografia 5 – Intervenção “Pare Belo Monte” na ensecadeira Pimental................91
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................12 1 ANTECEDENTES E CONCEITOS CENTRAIS AO ESTUDO.........................16 1.1 MOVIMENTOS SOCIAIS: DA LUTA DE CLASSES À REDE DE MOVIMENTOS SOCIAIS..............................................................................................17 1.2 ESFERA PÚBLICA: MODELOS E CONCEPÇÕES..............................................20 1.3 A ORIGEM DO MXVPS: TRANSAMAZÔNICA E MOBILIZAÇÕES NA REGIÃO...........................................................................................................................22 1.4 O EMBATE SOBRE BELO MONTE E A NECESSIDADE DE SE FAZER OUVIR: A ORIGEM DO MXVPS...................................................................................28 1.5 A CONCENTRAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO: DESAFIO PERMANENTE AO RECONHECIMENTO DAS LUTAS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS..........................................................................................................................35
2 MXVPS 2.0: AS PRIMEIRAS AÇÕES NAS REDES SOCIAIS..........................38 2.1 AS AUDIÊNCIAS PÚBLICAS E OS PRIMEIROS PASSOS NA WEB................40 2.2 REDES SOCIAIS, REDES DE MOVIMENTOS SOCIAIS E CIBERATIVISMO 48 2.3 ANÁLISE DO SITE DO MXVPS E DE SUAS REDES SOCIAIS.........................52 2.3.1 O Orkut do MXVPS).............................................................................................................54 2.3.2 O Twitter do MXVPS............................................................................................................55 2.3.3 Facebook do MXVPS............................................................................................................58 2.3.4 Flickr do MXVPS..................................................................................................................59 2.3.5 Canal no Youtube do MXVPS...............................................................................................60 2.3.6 Site do MXVPS.....................................................................................................................60
3 O CIBERATIVISMO DO MXVPS...........................................................................67
3.1 MOMENTO I: O PERFIL INFORMATIVO DO MOVIMENTO (DA ENTRADA NAS REDES AO INÍCIO DAS OBRAS)........................................................................68 3.1.1 Chat Xingu: “Tire suas dúvidas online”................................................................................73 3.1.2 “Defendendo os Rios da Amazônia”: A diversidade do Xingu em vídeos e mapas 3D........75 3.2 MOMENTO II: A CHAMADA PARA AÇÂO (DO INÍCIO DAS OBRAS ATÈ O XINGU+23)......................................................................................................................76 3.2.1 Ato Mundial Em 140 Caracteres...........................................................................................78 3.2.2 “Belo Monte com meu dinheiro não”: O apelo aos bancos financiadores............................83 3.3 MOMENTO II: DENUNCIAS DE IMPACTOS E O FUTURO INCERTO DAS MOBILIZAÇÕES (DO XINGU+23 ATÉ A ATUALIDADE).........................................86 3.3.1 Os atos e mobilizações: O perfil denunciativo do MXVPS na cobertura de ações offline.. .90 3.3.2 A denúncia dos impactos: restabelecendo as bases e ampliando as lutas..............................93
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................98 REFERÊNCIAS.........................................................................................................102
12 INTRODUÇÃO
Muitos são os debates envolvendo a construção daquela que promete ser a terceira maior hidrelétrica do mundo, a UHE de Belo Monte. Em meio ao embate de opiniões sobre a obra, um movimento, sediado a mil quilômetros da capital mais próxima (BelémPará), rompe as barreiras geográficas e estruturais da região, e se torna a principal fonte de oposição ao megaprojeto do Governo Federal, que até o momento já ultrapassa 30 bilhões de reais1. Discordando do valor, dos danos ambientais, sociais e do próprio projeto em questão, o Movimento Xingu Vivo Para Sempre (MXVPS) surge em Altamira (Pará). Há cerca de 5 anos com essa denominação, o MXVPS passa a mobilizar diversos movimentos na região, onde energia elétrica de qualidade e cabos de fibra ótica ainda são escassos e a única via de acesso é uma estrada (a BR230, mais conhecida como Transamazônica) que em parte do ano encontrase intrafegável. Apesar de todas essas dificuldades, o MXVPS vê na rede mundial de computadores uma oportunidade de divulgar seus posicionamentos contrários a obra. Para isso utiliza diversas formas de comunicação, entre elas o facebook, twitter, youtube e dispõe também de um site. Em face desse contexto e utilizando o método indutivo, este trabalho pretende analisar a história do ciberativismo do Movimento na web, utilizando como fonte e norte principal as informações publicadas pelo MXVPS nas redes sociais citadas, além de entrevistas com uma exassessora do MXVPS e com um membro do Comitê Metropolitano do Movimento em Belém. Iremos analisar dados desde janeiro de 2010, criação da primeira rede social oficial (Orkut), até novembro de 2013, quando operários paralisam 100% das obras reivindicando melhorias salariais. DIARIO DA LIBERDADE. Obra de Belo Monte gasta 14 bilhões acima do orçamento inicial. Diario da Liberdade, 15 mai. 2013. Disponível em: < http://www.diarioliberdade.org/brasil/consumoemeionatural/38398obradebelomontegastar$14 bilh%C3%B5esacimadoor%C3%A7amentoinicial.html> Acesso em: 10 dez. 2013. 1
13 Durante a análise do período citado, percebemos que o MXVPS passou por três momentos diferentes na web: O Momento Informativo, O Momento das Ações e o Momento Denunciativo. Gostaríamos de deixar claro que esta divisão é baseada em observações que fizemos sobre características que predominaram nas publicações feitas no site e redes sociais institucionais do Movimento, o que não exclui a adoção de outras estratégias em menor escala. Para embasar nossas observações, utilizaremos principalmente os conceitos de esfera pública, ciberativismo e movimentos sociais, tendo como base teórica Ilse SchererWarren, Maria Glória Gohh, Jürgen Habermas, Sérgio Costa, André Lemos e Denis Moraes. Com base nos autores e nos dados levantados buscamos responder as seguintes perguntas: Quais motivos levaram o Movimento Xingu Vivo a utilizar o ciberativismo? De que forma e com quais objetivos o Xingu Vivo utiliza essas ferramentas de comunicação? Qual o balanço podemos fazer destes quatro anos de ciberativismo do MXVPS? Pretendemos com essas perguntas e com este estudo mostrar a importância dos meios de comunicação alternativos para a construção de outras perspectivas sobre a construção de grandes obras, como a Hidrelétrica de Belo Monte. Perspectivas estas não submetidas diretamente à interesses estatais e da elite políticoeconômica da região da Amazônia, e que inúmeras vezes não têm espaço na cobertura que a grande mídia faz de Belo Monte. Entendemos que devido a concentração midiática, os movimentos sociais buscam formas alternativas de comunicação, já que grande parte do que é exposto na mídia tradicional muitas vezes não trazem à tona suas pautas e demandas. Devido a isto, acreditamos que é de suma importância o estudo dos meios de comunicação alternativos para o aprofundamento em alguns assuntos muitas vezes ásperos aos olhos de atores sociais poderosos.
14 Com base nestes apontamentos, no primeiro capítulo traremos um suporte teórico sobre movimentos sociais e esfera pública. Serão abordadas as diversas modificações nos estudos dos movimentos sociais até a constituição do que hoje se chama Rede de Movimentos Sociais, bem como o uso da internet pelas mesmas visando maior interferência na esfera pública. Posterior, expomos um breve histórico sobre as mobilizações na região da Transamazônica, onde se encontram movimentos sociais que anos mais tarde deram origem ao MXVPS. No final no capítulo apontamos informações sobre a concentração dos meios de comunicação, desafio na visibilidade de pautas e demandas dos movimentos sociais. No segundo capítulo serão abordados os conceitos de redes sociais, redes de movimentos e ciberativismo, além das problemáticas envolvendo as audiências públicas sobre Belo Monte, que foram o estopim para que o MXVPS passasse a utilizar a web. Traremos também uma análise sobre as redes sociais e sobre o site do Xingu Vivo, principais canais de comunicação utilizados pelos movimento ao longo de 3 anos de ciberativismo. Por fim, no último capítulo, damos exemplos dos três momentos pelos quais o MXVPS desde quando começou a utilizar a web: o Momento Informativo, o Momento das Ações e o Momento Denunciativo, além dos motivos que impulsionaram tais mudanças estratégias. Com base nestes apontamentos, no primeiro capítulo traremos um suporte teórico sobre movimentos sociais e esfera pública. Serão abordadas as diversas modificações nos estudos dos movimentos sociais até a constituição do que hoje se chama Rede de Movimentos Sociais, bem como o uso da internet pelas mesmas visando maior interferência na esfera pública. Posterior, expomos um breve histórico sobre as mobilizações na região da Transamazônica, onde se encontram movimentos sociais que anos mais tarde deram origem ao MXVPS. No final no capítulo apontamos informações sobre a concentração dos meios de comunicação, desafio na visibilidade de pautas e demandas dos movimentos sociais.
15 No segundo capítulo serão abordados os conceitos de redes sociais, redes de movimentos e ciberativismo, além das problemáticas envolvendo as audiências públicas sobre Belo Monte, que foram o estopim para que o MXVPS passasse a utilizar a web. Traremos também uma análise sobre as redes sociais e sobre o site do Xingu Vivo, principais canais de comunicação utilizados pelos movimento ao longo de 3 anos de ciberativismo. Por fim, no último capítulo, damos exemplos dos três momentos pelos quais o MXVPS desde quando começou a utilizar a web: o Momento Informativo, o Momento das Ações e o Momento Denunciativo, além dos motivos que impulsionaram tais mudanças estratégias.
16 1 ANTECEDENTES E CONCEITOS CENTRAIS AO ESTUDO
Antes de partir diretamente para a análise do ciberativismo do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, acreditamos que é de suma importância um breve resgate histórico sobre os fatores que antecederam o surgimento do Movimento e uma apresentação do referencial teórico a ser utilizado neste estudo, conceitos essenciais ao entendimento do fenômeno do ciberativismo, objeto central deste estudo. Na primeira parte deste capítulo, mostramos as divergências existentes na definição de movimentos sociais e as modificações que aconteceram no seu estudo ao longo do século XX, bem como os autores utilizados e suas abordagens a respeito dos movimentos sociais. O conceito de esfera pública e o papel dos movimentos sociais nesta “arena” onde as decisões políticas são justificadas e vontades coletivas são expostas e medidas, também serão abordados neste capítulo. Em seguida, para entender a origem do MXVPS e seu posicionamento e bandeiras, levantamos como se deu a política de colonização da Amazônia, cujo planejamento social deficiente culminou nas primeiras mobilizações sociais na região da Transamazônica, região onde se desenvolve a obra da hidrelétrica de Belo Monte e onde se articulam os atores sociais que mais tarde deram origem ao MXVPS, como veremos ao longo do texto. Por fim, no último tópico deste capítulo, trazemos uma pequena reflexão sobre a concentração dos meios de comunicação tradicionais, que se mostra como um grande desafio para o exercício da democracia e para o fluxo das pautas e demandas dos movimento sociais na esfera pública.
17 1.1 MOVIMENTOS SOCIAIS: DA LUTA DE CLASSES À REDE DE MOVIMENTOS SOCIAIS
Diferente de outros conceitos, o conceito de Movimentos Sociais apresenta definições bastante diversificadas, ocorrendo grandes variações de acordo com o autor abordado. Neste trabalho utilizaremos principalmente as pesquisas de Ilse SchererWarren e Maria Glória Gohn devido a suas amplas contribuições a respeito dos movimentos sociais na América Latina. Segundo as autoras, ao longo do século XX a sociedade passou por intensas modificações em sua morfologia e sendo os movimentos sociais parte desta sociedade, houve também uma série de mudanças nas suas formas de organização e ação em todo o mundo. Todas essas alterações causaram divergências entre os pesquisadores e algumas modificações na maneira como as Ciências Sociais analisam os movimentos sociais. Com base nas autoras estudadas, pudemos identificar quatro fases de constituição do pensamento sociológico sobre os Movimentos Sociais ao longo do século XX. A primeira foi de meados do século XX até a década de 1970 (Luta de Classes); a segunda foi nos anos de 1970 (Lutas NacionalPopulares); a terceira nos anos de 1980 (Grassroots); e a quarta abarca os anos de 1990 e suas perspectivas para os dias atuais (Networks). Segundo SchererWarren (2005), a divisão ocorre com o objetivo de sistematizar a produção acadêmica, porém, a temporização das tendências não significa o fim das anteriores, “ao contrário, o que se verifica é a emergência de novos paradigmas coexistindo com as teorias anteriores, ora impondose a estas, ora convivendo conflituosamente ou paralelamente”2.
SCHERERWARREN, 2005, p. 14.
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18 Durante o primeiro momento (Luta de Classes) tendiase a analisar movimentos sociais apenas em uma perspectiva macroestrutural. Nesta concepção, existiriam duas classes sociais, burguesia e proletariado, que viviam em conflito, e cabia ao proletariado o protagonismo e as modificações da sociedade (SCHERERWARREN, 2005). No caso da América Latina, a dificuldade da definição de proletariado devido as diferenças entre o proletário urbano e rural, fez com que os estudiosos concentrassem seus estudos no Estado, nos partidos políticos e nas vanguardas, enxergandoos como vetor de transformação social:
Há um consenso sobre a dificuldade de constituição de classes fundamentais na América Latina (proletariado urbano/rural), também sobre sua heteronomia e a consequente falta de uma consciência de classe adequada, vários destes estudiosos são levados a buscar na sociedade e na política propriamente dita o potencial da transformação3.
O segundo momento considerado é um período de transição entre a Luta de Classes e os Movimentos de Base (Grassroots). Neste momento as análises ainda são macroestruturais, porém o foco se desloca da Luta de Classes para as análises envolvendo um objetivo comum de uma nação, o que a autora chama de “vontade coletiva NacionalPopular”. Se na Luta de Classes a análise seria o Estado e as vanguardas, nas Lutas NacionalPopulares a análise passa para a ações do “povo”, categoria central nesta fase (SCHERERWARREN, 2005, p. 16). O terceiro momento das análises sobre os Movimentos Sociais na América Latina seria os Movimentos de Bases (Grassroots). Durante este momento as pesquisas mudam do macro para micro. Ao invés de analisar a Luta de Classes, proletariado, burguesia, o Estado, as vanguardas ou as “vontades nacionalpopular”, os pesquisadores focam suas análises nas especificidades dos movimentos sociais, a partir do estudo da ação coletivas dos atores sociais que constituem esses SCHERERWARREN, op.cit., p. 15.).
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19 movimentos. O conceito de identidade ganha importância. Movimentos feministas, homossexuais e ecológicos destacamse nesta fase. Por fim, o último momento são as Redes de Movimentos Sociais (Networks), que seriam uma articulação entre o macro e o micro, entre o comunitário e o global. As redes seriam articulações entre movimentos sociais de diferentes locais e especificidades em torno de uma luta ou pauta em comum, porém com respeito à diversidade dos integrantes. Os pesquisadores procurariam, então, entender os sentidos dessas articulações, tanto no macro (transnacional, global) quanto no micro (comunitário, local). É importante ressaltar que historicamente existem duas visões para o conceito de movimentos sociais: a da corrente funcionalista (predominante nos Estados Unidos) e a da corrente históricoestrutural, ou marxista (predominante na Europa). Para a funcionalista, movimentos sociais são considerados qualquer grupo político que se organiza em busca de uma causa em comum, independente qual seja. Quanto a históricoestrutural, para um grupo ser chamado de movimento social é necessário que o mesmo busque uma mudança social, que sejam contrahegemônicos e lutem pela cidadania e contra as desigualdades sociais e as “formas de opressão”; desta forma os grupos organizados que atuariam para a manutenção do status quo não seriam considerados movimentos sociais. Neste sentido, adotamos as autoras SchererWarren (2005:08) e Gohn (2008:10), ambas sociólogas da corrente “latinoamericana” (oriunda da corrente europeia pós1960), pois compartilhamos do entendimento de que Movimentos Sociais são “ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam formas distintas da população se organizar e expressar suas demandas” (GOHN, 2008). Estas formas de expressão podem ir desde a “simples denuncia, passando pela pressão direta (mobilizações, marchas, concentrações, passeatas, distúrbios à ordem constituída, atos de desobediência civil, negociações etc.) até as pressões indiretas” (GOHN, 2010). Na atualidade, os principais movimentos sociais atuam por meio de
20 redes sociais, locais, regionais, nacionais e internacionais ou transnacionais, e utilizamse muito dos novos meios de comunicação e informação, como a internet (SCHERERWARREN, 2008). A internet vem se tornando um veículo extremamente estratégico para os movimentos sociais, pois tanto facilita a busca pela atenção dos meios de comunicação tradicionais, tão monopolizados no Brasil, quanto favorece a construção de meios de comunicação próprios, a organização de ações e mobilizações coletivas, a busca por possíveis alvos e parceiros, reuniões estratégicas a longa distância, além de dezenas de outras possibilidades (PEREIRA, 2011). Não estamos afirmando que formas tradicionais de mobilização deixaram de existir, e sim que em função da internet surgiram variadas formas de ações coletivas, o que fez com o que o conceito de esfera pública fosse revisitado por diversos autores da atualidade.
1.2 ESFERA PÚBLICA: MODELOS E CONCEPÇÕES
Um ponto em comum entre todas as formas contemporâneas de interpretar a esfera pública é o entendimento de que a mesma é uma espécie de “arena onde se dá tanto o amálgama da vontade coletiva quanto a justificação das decisões políticas previamente acertadas” (COSTA, 2002, p. 15). Segundo o sociólogo Sérgio Costa, não existe grandes divergências entre os pensadores contemporâneos em relação ao papel da esfera pública nas sociedades democráticas, as variações começam a aparecer quando passase a analisar suas recentes transformações e seu desenvolvimento em outros tipos de sistemas não democráticos. Com base nestas diferenças, Costa (1995) categoriza dois grandes modelos concorrentes de espaços públicos: o Modelo Funcionalista e o TeóricoDiscursivo. O
21 primeiro (ligado ao alemão Friedhelm Neidhardt) dá centralidade aos meios de comunicação de massa e não acredita em entendimento comunicativo dentro do espaço público, e sim o vê como um “palco” que acomoda a encenação política e a disputa de poder entre diferentes atores (movimentos sociais, partidos, grupos de interesse, etc..) pela atenção pública. Este pensamento é majoritário entre os pesquisadores da América Latina e é partilhado por diversos autores de diferentes correntes teóricas. Já o segundo modelo (influenciado pelos estudos de Jürgen Habermas) acredita na existência de um conjunto de instâncias, formado tanto pela mídia quanto por organizações, instituições, sociedade civil, espaços públicos de diálogos, entre outros, e defende a possibilidade de variadas formas discursivas de comunicação pública. Conforme a concepção do grupo de pesquisadores ligados à Neidhardt, a esfera pública é uma espécie de “sistema de comunicação especializado em fazer a reunião (input), processamento (throughput) e a transmissão de temas e opiniões (output) às esferas de tomada de decisão política” (COSTA, 2002. p. 17). Segundo esses autores, para que a opinião pública seja convertida em decisões concretas é necessário acontecer o “policy process”. O mesmo seria a “formação da opinião pública” através da apresentação de posicionamentos sobre certo assunto. Somente a partir disto é que ela (opinião pública) poderia ser efetivada. Desta forma, para que “certo problema se torne um tema público depende menos de seu conteúdo e relevância do que de certos requisitos práticoestratégicos”. A Esfera Pública seria vista como mercado, cujo as questões expostas “com um rótulo atraente ou que trazidas à tona por atores sociais poderosos em termos de acesso a recursos comunicativos” teriam maiores chances de serem publicamente pautadas (COSTA, 2003. p. 17). Diferente desta primeira concepção, a segunda, que tem como base as contribuições de Jürgen Habermas, acredita no mérito discursivo da esfera pública, acredita que o espaço público não se restringe apenas a esta fórmula sistêmica.
22 Segundo Sérgio Costa (1997), ainda que haja espetacularização argumentativa nas esferas públicas, isto não se deve apenas aos meios de comunicação de massa, pois depende de outros microcampos da sociedade, como a família, a escola, a religião, para ratificar o espetáculo político:
Persistem, para além do espaço público transformado em mercado, um leque diversificado de estruturas comunicativas e uma gama correspondente e processos sociais (de recepção e reelaboração das mensagens recebidas e reelaboração das mensagens recebidas e de interpenetração entre os diferentes microcampos da esfera pública), cuja existência confere precisamente consistência, ressonância e sentido ao espetáculo político (COSTA, 1997, p.17).
Para o modelo TeóricoDiscursivo de Harbermas, caso esses outros processos sociais não aconteçam, as mensagem e imagens, mesmo que seguissem a fórmula proposta e fossem muito bem elaboradas tecnicamente, elas “ecoariam no vazio, destruídas de substâncias e credibilidade” (COSTA, 2002. p. 22). Deste modelo se utilizam diversos autores que falam da influência da internet na sociedade e na esfera pública. Podemos citar Lemos (2009), que se baseia na maior interação proporcionada pelos novos meios de comunicação para defender a existência de uma “nova esfera conversacional”; Langman (2005), que acredita que a internet propiciou a formação de “esferas públicas virtuais”; e Benkler (2006), que diz que vivemos em um novo estágio da economia: “a economia da informação em rede”, o que resultou na formação de uma “esfera pública interconectada” (ALCÂNTARA, L.M e D´ANDRÉA, C. F. B., 2011, p. 2).
1.3 A ORIGEM DO MXVPS: TRANSAMAZÔNICA E MOBILIZAÇÕES NA REGIÃO
23 A BR230, mais conhecida como Transamazônica, configurase como a maior rodovia do Brasil. Apesar de vários trechos em condições precárias 4, seus quase 5 mil km atravessam sete estados, indo desde a cidade de Cabedelo na Paraíba até Lábrea no estado do Amazonas, passando pelo Pará, Tocantins, Maranhão, Piauí e Pernambuco (DNIT, 2001). Segundo o Governo Federal, no Pará, a área conhecida como Território da Transamazônica é composta por dez municípios (Altamira, Medicilândia, Pacajá, Porto de Moz, Vitória do Xingu, Anapu, Brasil Novo, Placas, Senador José Porfírio e Uruará) e abrange aproximadamente 252 mil Km². Entretanto, para os movimentos sociais da região, o município de Rurópolis, marco da colonização induzida dos militares e palco das primeiras organizações sindicais, também deve ser incluído nesta lista. Foi entre este município e Altamira, onde ocorreu de forma mais intensa as principais políticas de integração nacional, iniciadas com o governo de Juscelino Kubitschek (19561961) e intensificadas com os militares, mais precisamente com o general Emílio Garrastazu Médici (19691974) (STEINBRENNER, 2011):
Um projeto modernizador inspirado pelo desenvolvimentismo de alto impacto promovido pelo Estado no auge do Milagre Econômico e da ditadura militar. Um projeto implantado de forma discricionária, responsável pela intervenção estatal mais impetuosa e abrupta, e, portanto, violenta em termos de colonização que se tem notícia na história do país (STEINBRENNER, 2011, p. 105).
Impulsionados por empréstimos internacionais de organismos financeiros, a exemplo do Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, tanto Kubitschek Segundo Steinbrenner (2011), no trecho mais longo, que vai do Pará ao Amazônas, a Transamazônica apresenta menos de 13% de pavimentação: “Nos estados do Pará e Amazonas – seu trecho mais longo (1.569 e 831 quilômetros, respectivamente) e onde de fato merece seu nome de batismo – a Transamazônica continua praticamente uma estrada de chão coberta por cascalho e terra (apenas 12% do trecho paraense e menos de 1% da estrada no Amazonas estão pavimentados). Entre janeiro e junho, época das chuvas na região, tornase intrafegável e, nos meses secos, transformase em pista de ―aventura‖, farta em pó e buracos ” (STEIBRENNER, 2011, p. 117). 4
24 quanto os militares tinham planos de explorar os recursos naturais da Amazônia através de projetos faraônicos, que visavam principalmente a extração mineral.
Foi no período do pósSegunda Guerra Mundial que ficou definido o papel que os países do Terceiro Mundo teriam no cenário econômico internacional. Organismos financeiros internacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional foram criados para fomentar um novo padrão de acumulação do capitalismo em escala mundial, baseado em investimentos em projetos de infraestrutura nestes países, permitindo assim a expansão da produção industrial (BERMAN, 2012, p. 6).
Entretanto, para a consolidação destes projetos era necessário uma infraestrutura que envolvia a construção de estradas, como a CuiabáSantarém, BelémBrasília (ainda no governo JK) e a ambiciosa Transamazônica, além de hidrelétricas para o abastecimento energético das atividades eletrointensivas (mineração, siderurgia, etc.). “A bacia hidrográfica amazônica passou a ser identificada única e exclusivamente pelo seu potencial hidrelétrico” (BERMAN, 2012, p. 7). Dentre as construídas destacase a UHE Tucuruí, projetada para atender a demanda do Programa Grande Carajás (PGC), iniciado em 1980 (PINTO, 2012), e que ainda hoje é a maior hidrelétrica exclusivamente brasileira. Vale ressaltar que os primeiros estudos e projetos sobre o aproveitamento hidrelétrico do Rio Xingu são deste período (NASCIMENTO, 2011). Concomitante a questão da Segurança Nacional, a concentração fundiária no Sul, Sudeste e Nordeste do país crescia cada vez mais. Utilizando então de ampla publicidade e incentivos financeiros, como empréstimos e financiamentos agrícolas, no início da década de 1970, durante o governo de Médici, iniciase a construção da Transamazônica e, assim, são intensificadas as políticas de colonização da Amazônia, voltadas principalmente para a população destas regiões marcadas pela tensão fundiária. “Nos folhetos e propagandas do governo vendiase aos futuros colonos a ideia de terra fácil, farta e fértil” (STEINBRENER, 2011, 135).
25 No entanto, as condições das terras não eram boas como as prometidas e o Estado tornouse praticamente ausente na região depois da crise do petróleo em 1974 e com o início do II Plano Nacional de Desenvolvimento (19751979), que passava a priorizar o setor energético do país, deixando inacabadas várias rodovias, inclusive a BR230, que até hoje não foi plenamente concluída (STEINBRENNER, 2011). Assim, “A população ficou à mercê da própria sorte” (MMA, 2006, p. 17). Todo este cenário gerou grandes descontentamentos entre os colonos, e no fim da década de 1970 começam as primeiras mobilizações na Transamazônica, organizadas pelo embrião de forças sindicais que viriam a se formar e que tinham como objetivo cobrar providências do Governo Federal quanto à situação de abandono da região. E assim começam as primeiras mobilizações na Transamazônica, que neste primeiro momento buscam denunciar os problemas estruturais comuns a todos da região:
O isolamento provocado pelas precárias condições da estrada, a ausência do Estado, que não provia a população dos serviços básicos de atendimento à saúde, educação e segurança, e a falência da agricultura familiar nos moldes em que vinha sendo praticada provocaram uma reação de mudança marcada por fases bem delimitas (MMA, 2006, p. 15).
Destacase que o papel da Igreja Católica foi fundamental para esse processo de organização da população. Através da Doutrina Social da Igreja, a chamada Teologia da Libertação, foram realizados debates que incentivavam o trabalho coletivo, a conscientização sobre as razões políticas e estruturais que haviam levado os colonos para a Transamazônica e sobre a importância da disputa pelos Sindicado dos Trabalhadores Rurais (STR), controlados pelos militares até 1988 (MMA, 2006). Aos poucos, essa mobilização espontânea, que tem como alicerce as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), parte para a organização em sindicatos. Durante este período, que vai de 1972 a aproximadamente 1985, foram várias as caravanas que saíram rumo a Belém e Brasília (TONI, 2006). A intenção era chamar a atenção da
26 mídia, do poder público e da população brasileira sobre a situação na qual se encontrava a região da Transamazônica, que “no final dos anos de 1980 vivia uma situação de calamidade” (STEIBRENNER, 2011, p.150). Apesar das várias idas a Brasília poucos foram os avanços práticos alcançados. A população então percebe que precisa se organizar de outra forma. Em 1987 acontece em Medicilândia o primeiro encontro regional que reuniu lideranças de várias cidades da Transamazônica e da CuiabáSantarém. O objetivo do encontro era levantar as reivindicações comuns e formular propostas mais diretas. Com o encontro ficou claro que era preciso realizar uma pesquisa sócioeconômica para fundamentar o discurso do movimento (MMA, 2006). Os dados levantados de forma colaborativa por trabalhadores rurais, professores e pastorais eram alarmantes:
Havia apenas nove médicos para uma população de 500 mil habitantes, num raio de 100 km de distância; Mais de 70% da população adulta era analfabeta ou semianalfabetizada; Havia 2.840 km de estradas vicinais habitadas sem conservação; Nenhum dos municípios com exceção de Altamira, e mesmo assim de forma precária, dispunha de energia elétrica; as pessoas morriam no fundo das vicinais por falta de assistência médica, além de outras constatações alarmantes (MMA, 2006, p. 23)
Após a pesquisa, vários encontros se sucederam até 1989, ano de criação do Movimento Pela Sobrevivência da Transamazônica (MPST), que ao longo do tempo ganha mais abrangência e desenvoltura no debate sobre desenvolvimento regional e local. Em 1998, o movimento agrega a região do Xingu e passa a se chamar Movimento Pelo Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu (MDTX). Ao longo de trinta anos foram várias as conquistas do movimento, que passou de uma mobilização espontânea e instintiva para a luta sindical. Foram criadas federações e fundações, como a Fundação Viver Produzir e Preservar (FVPP), a Federação Estadual dos Trabalhadores da Agricultura (Fetragri) e o próprio Movimento Xingu Vivo Para Sempre, que surgiu em outro contexto (2008), mas tem suas bases nestes movimentos. Apesar disso, o envolvimento de líderes em disputas
27 eleitorais e a própria crise do sindicalismo com a implantação do neoliberalismo fez com que as demandas passassem a ser cobradas por vias cada vez mais institucionalizadas. O resultado foi que ao invés de ganhar força “as mobilizações diminuíram e se arrefeceram” (TONI, 2011, p.2). Esta possível “crise” de mobilização vivenciada pelos movimentos sociais na região da Transamazônica foi comum aos movimentos em todo o Brasil. O que acontece é que com o fim do regime militar (19681985), os antigos movimentos sociais5 passaram primeiramente por uma queda significativa nas manifestações das ruas, suas principais formas de reivindicações. Várias são as explicações para isso: a perda de um alvo comum, no caso a ditadura militar; a institucionalização de vários movimentos sociais; a expansão das ONG's; e a própria crise do sindicalismo causado pelo avanço das políticas neoliberais (GOHN, 2010; SCHERERWARREN, 2008). Todo este cenário impulsionou a formação de novos movimentos sociais, não mais pautados apenas na luta de classes e no sindicalismo, e sim na busca de travar reformas estatais, as quais muitas vezes eram devastadoras para grande parte da população. Gohn (1997) destaca o surgimento de movimentos que lutam contra fome, desemprego, a favor dos “perueiros”, aposentados, entre outros. Além dos movimentos de mulheres, homossexuais e negros. Outros movimentos que também ganham destaque neste período são os movimentos indígenas, dos funcionários públicos (em especial da saúde e da educação) e o dos ecologistas, que proliferouse após a ECO 92 e impulsionou a criação de várias ONGs.
Como dissemos no item 1.1 Movimentos Sociais e Esfera Pública, os estudos dos Movimentos Sociais podem ser dividimos em quatro períodos: Luta de Classes, Lutas NacionalPopulares, Grassroots e Networks. Convencionase chamar de Movimentos Sociais Tradicionais os que tinha destaque até os anos de 1980 (Luta de Classes e NacionalPopulares) e de Novos Movimentos Sociais os formados a partir dos anos de 1990, como: Movimento negro, Movimento Homossexual, Movimento de Mulheres, ecologistas, entre outros.
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28 Apesar de sabermos da influência do movimento ecologista no Movimento Xingu Vivo Para Sempre, acreditamos que o mesmo não se restringe apenas a influências desta categoria, já que o que observamos ao longo deste trabalho é que o MXVPS é formado por diversos atores sociais articulados em Rede, o que SchererWarren (2005:08) chama de Networks, ou Redes de Movimentos Sociais.
1.4 O EMBATE SOBRE BELO MONTE E A NECESSIDADE DE SE FAZER OUVIR: A ORIGEM DO MXVPS
Neste tópico trazemos um breve histórico sobre a UHE Belo Monte e as ações de atores sociais contrários à hidrelétrica, que ao longo do tempo se organizaram na luta contra a obra e formaram o Movimento Xingu Vivo Para Sempre. Para construção deste histórico utilizamos como fonte principal informações retiradas do site oficial do MXVPS e uma entrevista com uma das principais lideranças do Movimento, a professora Antônia Melo. Como dissemos no tópico anterior, o plano de integração dos militares não se restringia a construção de rodovias. Inserido nele, estavam previstas também as hidrelétricas: muitas rodovias que cortavam as florestas também passavam bem próximo aos principais rios da Amazônia e suas quedas, facilitando assim o acesso para as pesquisas posteriores. A construção da Transamazônica pode ser usada como um exemplo claro disso, já que a mesma foi aberta em 1972 e em 1975 a Eletronorte começa os estudos da viabilidade hidrográfica da região. Ao fim desses estudos, em 1980, a Eletronorte, através do Consórcio Nacional de Engenheiros Construtores (CNEC)6, prevê a construção de cinco grandes hidrelétricas no Xingu e uma no rio Iriri, todas com nomes indígenas: Kararaô, Babaquara, Ipixuna, Kokraimoro, Jarina e Iriri (KRAUTLER, 2005). Apesar de ainda não existir nesta data, O Movimento Xingu Vivo critica o projeto desde a sua idealização, pois o CNEC é integrante do grupo Camargo Côrrea, que atualmente faz parte do consórcio construtor responsável pela obra. 6
29 Segundo o Movimento Xingu Vivo Para Sempre, essas hidrelétricas gerariam 19 mil megawatts (MW) e alagariam mais de 18 mil km², atingindo milhares de pessoas e 12 Terras Indígenas7, além dos grupos isolados da região. O estudo fica arquivado por alguns anos e em 1987 é utilizado no Plano Nacional de Energia Elétrica de 1987/2010, o qual propõe a construção de 165 usinas hidrelétricas até 2010, destas, 40 seriam construídas na Amazônia Legal. Entre as hidrelétricas, o Plano almeja a construção de Kararaô e a cita como o maior projeto nacional hidrelétrico do século XX. Diante disto, vários indígenas se articularam e organizam o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, que reúne cerca de 3 mil pessoas na cidade de Altamira (PA), em fevereiro de 1989. O Encontro ganha repercussão nacional e internacional, principalmente porque durante a fala de José Muniz Lopes, então presidente da Eletronorte, sobre a construção da hidrelétrica de Kararaô, a índia Tuíra, munida de um facão, ameaça Muniz Lopes e deixa registrada toda sua indignação diante de centenas de jornalistas (Fotografia 1). A imagem ganhou diversas capas de jornais pelo Brasil e pelo mundo e virou símbolo da luta contra barragens na Amazônia. Ao fim do encontro fica definido que não serão mais usadas palavras indígenas em nomes de hidrelétricas, já que Kararaô é um grito de guerra dos Kayapós, o que os índios consideraram uma Até hoje existe divergências sobre as Terras Indígenas (TI) atingidas. O Estudo de Impactos Ambientais e o Relatório de Impactos Ambientais (EIA/RIMA), encomendado pelo Governo às empresas Camargo Corrêa, Odebrech e Andrade Gutierrez (construtoras responsáveis e principais interessadas pela obra) afirma que as TI dos Arara da Volta Grande e dos Juruna serão atingidas, porém, o Painel de Especialistas estudo paralelo organizado por 40 pesquisadores, entre antropólogos, sociólogos, zoólogos, biólogos, etimólogos, doutores em energia e sistemas energéticos, historiadores, economistas, engenheiros, hidrólogos, ictiólogos, entre outros, que há anos estudam os impactos da obra na região afirma que além dos citados no EIA/RIMA, os Arara da Terrã Wãgã, Xikrin do Bacajá, Xipaya, Kuruaya e os Kayapó também serão atingidos. Apesar dos estudos, a Norte Energia (grupo formado pela Eletrobras, Eletronorte, Chesf, entre outras em menores parcelas) e o Governo Federal, que dizem ter se baseado no EIA/RIMA para analisar a viabilidade da obra, afirmam para diversos veículos de comunicação que nenhuma terra indígena será atingida, como pode ser observado nas matérias disponíveis nos links: http://veja.abril.com.br/noticia/economia/norteenergiadizquebelomontenaoafetaindios http://economia.terra.com.br/noticias/noticia.aspx?idNoticia=201108091407_ABR_80024636 7
30 agressão cultural. O evento é encerrado com o lançamento da “Campanha Nacional em Defesa dos Povos e da Floresta Amazônica”, que exige a revisão dos projetos de desenvolvimento para a região, e com o lançamento da Declaração Indígena de Altamira. O resultado foi a paralisação temporária do projeto que voltou a ser discutido durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995–2003).
Fotografia 1 Índia Tuíra passa o facão no rosto do diretor da Eletronorte durante o I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu
Fonte: Blog Rainnert. Créditos: Potrásio Nene. A Agência Estado, 1989
É importante destacar neste período a dependência que os movimentos sociais tinham dos grandes meio de comunicação para inserir seus debates na esfera pública. Daí a importância redobrada de atos, manifestação de rua e encontros que visam chamar a atenção dos meios de comunicação e mostrar para a população as
31 reivindicações. Pereira (2011) fala sobre a influência dos diversos atores no fluxo midiático:
O sistema político e a esfera pública são perpassados pelos fluxos midiáticos tanto de cima pra baixo (os discursos políticos dos representantes que informam e procuram conquistar legitimidade para suas decisões na esfera pública) quanto de baixo para cima (a manifestação das demandas dos atores sociais que buscam adentrar na sociedade política) (PEREIRA, 2011, p. 5).
Por um lado movimentos pressionam para que Kararaô e posteriormente Belo Monte não saia do papel. Por outro, o Governo Federal e interessados tentam dar continuidade à obra, como veremos nos parágrafos seguintes. A ideia de construir Kararaô fica praticamente arquivada até 1994, quando um novo projeto, agora reajustado com o objetivo de não ser tão agressivo para ambientalistas, indígenas e investidores, é apresentado ao antigo Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE) 8 e à Eletrobrás. O projeto passa a se chamar Belo Monte, que seria formado por duas barragens, sendo uma com a função de desviar o rio Xingu, empurrandoo para um canal artificial de 100 km. O desnível geraria energia e o lago que antes era de 1.200 km2 passa a ter pouco menos de 600 km2, “ainda assim uma área maior que a do município de Porto Alegre”9. A área de alagamento diminui, porém não se torna mais aceitável, já que movimentos sociais afirmam que a UHE Belo Monte nada
O DNAEE deixa de existir em 1996, quando a Lei de nº 9.427 cria Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). 9 Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. A publicação não especifica sobre qual Porto Alegre referese, porém, por conveniência, acreditamos que esteja utilizando como comparação o município de Rio Grande do Sul, que possui 496,682 km², apesar de que a área alagada por Belo Monte poderia ser comparada também a Porto Alegre de Tocantins, que possui 501 km² de extensão, como pode ser observado no site do IBGE: . Acesso em: 10 dez. 2013. 8
32 mais é que a UHE Kararaô reajustada para se tornar “palatável”10. (Xingu Vivo, 2011). Belo Monte é apresentando em 2000, quando o Plano Plurianal de 20002003, mais conhecido como Avança Brasil é exposto no Congresso Nacional. O plano cita a construção da UHE como fundamental para o avanço do setor energético do país. Sobre este período e a retomada dos estudos no Rio Xingu, Felício Pontes, procurador do Ministério Publico Federal (MPF) responsável pelo caso desde a primeira ação, escreve em seu blog11 como o MPF soube da retomada dos estudos:
Representantes do povo Juruna, da Volta Grande do Xingu, disseram que encontraram nas margens do rio várias tábuas com números gravados. Eram réguas de medição. Estavam assustados. Temiam que fosse mais uma tentativa de construir uma barragem no Xingu. A lembrança do I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu em 1989, quando a índia Kaiapó Tuíra passou o facão no rosto de um dirigente da Eletronorte, ainda estava nítida12.
Após as pesquisas em terras indígenas sem autorização prévia, contratação sem licitação da Fadesp (2000), Plano de Emergencial de 30 bilhões (2001) e Medida Provisória do Apagão (2001), o Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu (MDTX), preocupado com desenrolar das ações por parte do Governo Federal, elabora em julho de 2001 um documento intitulado “SOS Xingu: um chamamento ao bom senso sobre o represamento de rios na Amazônia”.13 A mobilização dos movimentos contrários a obra segue e em março de 2002 acontece um debate em Altamira que reúne importantes atores sociais, entre representantes indígenas, políticos locais, ONGs e Ministério Publico Federal. No VIVO, Xingu. Histórico, 14 out. 2010. Disponível em: Acesso em: 13 dez. 2013. 11 PONTES, Felício. Belo monte de violências (I) . Belo Monte de Violências. Belém, s.d. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2013. 12 PONTES, Ibid. 13 MDTX. Carta SOS Xingu: Um chamamento ao bom senso sobre o represamento de rios na Amazônia. Altamira, 25 jul. 2001. Rios Vivos, 8 ago. 2002. Disponível em: Acessado em: 8. dez. 2013. 10
33 mesmo ano, a Fundação Viver, Produzir e Preservar (FVPP), o Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu (MDTX), o Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri/Regional) e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) enviam uma carta ao presidente Fernando Henrique Cardoso pedindo a suspensão de todas as obras de grande impacto na Amazônia até que haja discussão e consenso com a sociedade local. Em resposta, Fernando Henrique Cardoso declara que “birra” de ambientalistas atrasa o progresso do Brasil14. Com o fim do mandato de Fernando Henrique, no final de 2002, a esperança era de que o projeto de Belo Monte fosse arquivado, porém isso não acontece. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncia Belo Monte como uma das principais obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mesmo depois desses episódios, várias são as cartas enviadas para o governo buscando explicações sobre a falta de diálogo com a comunidade local e reivindicando a paralisação dos estudos e da obra, que segundo o movimento, ano após apresenta mais falhas, totalizando “mais de 60 ações por ilegalidades, irregularidades e violações de direitos”. 15 As cartas seguem até que em maio de 2008 acontece o Encontro Xingu Vivo para Sempre. O mesmo reúne representantes de populações indígenas e ribeirinhas, movimentos sociais, organizações da sociedade civil, pesquisadores e especialistas para debater impactos de projetos de hidrelétricas na Bacia do Rio Xingu. Durante o encontro, índios entram em confronto com responsável pelos estudos ambientais da hidrelétrica de Belo Monte e, no meio da confusão, o funcionário da Eletrobrás e coordenador do estudo de inventário da usina, Paulo Fernando Rezende, fica ferido com um corte no braço.
Após o evento, o Movimento divulga a Carta Xingu Vivo
FHC diz que "birra" ambientalista atrapalha o País. Estadão, São Paulo, 23 abr. 2002. Disponível em: Acesso em: 6 dez. 2013. 15 Resposta do Xingu Vivo à nota do CCBM sobre atuação da Força Nacional em Belo Monte. Xingu Vivo, 18 abr. 2013. Disponível em: . Acesso em: 11 dez. 2013. 14
34 Para Sempre16, documento final que avalia as ameaças ao Rio Xingu e apresenta à sociedade brasileira um projeto de desenvolvimento para a região e exige das autoridades públicas sua implementação. Nesse encontro foi proclamado pelos povos indígenas, com o apoio dos movimentos sociais, que o movimento passaria a se chamar Movimento Xingu Vivo Para Sempre (Fotografia 2). Na ocasião, Procuradores da República que participavam do Encontro, recebem com surpresa a notícia de que o Tribunal Regional Federal da 1ª Região havia suspendido uma liminar da Justiça Federal de Altamira e autorizou a participação das empreiteiras Camargo Corrêa, Norberto Odebrecht e Andrade Gutierrez nos Estudos de Impacto Ambiental da hidrelétrica de Belo Monte. O MPF recorre, porém não obtém sucesso. E é nesse cenário que o projeto fica tramitando na Justiça. Ora o Governo Federal consegue dar continuidade aos estudos, ora o Ministério Público consegue traválos devido a irregularidades.
Mas, apesar de toda a mobilização recente
empreendida por distintos movimentos sociais contrários à construção, bem como as muitas ações17 elaboradas pelo Ministério Público Federal do Pará, a construção foi iniciada no primeiro semestre de 2011, passando por audiências públicas problemáticas, relatório de impactos ambientais elaborados pelos próprios construtores, além de outras problemáticas (NASCIMENTO, 2011).
Encontro Xingu Vivo para Sempre divulga documento final. Instituto Socioambiental, 24 mai. 2008. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 17 Todas as ações implementadas pelo MPF estão disponíveis no site do Ministério. Ministério Público Federal. Procuradoria da República no Pará. Processos caso Belo Monte. MPF, 2013. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2013. 16
35 Fotografia 2 Encontro que deu origem ao MXVPS
Fonte: Flickr do MXVPS18. Foto: Verena Glass. Réporter Brasil, maio de 2008.
1.5 A CONCENTRAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO: DESAFIO PERMANENTE AO RECONHECIMENTO DAS LUTAS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS
Como já foi exposto anteriormente, o espetáculo midiático é fundamentado por vários microcampos da sociedade, como a escola, a igreja, o trabalho, as praças públicas, entre outros (COSTA, 2005). Apesar disso, não dá para negar o poder de influência que a mídia tem na formação desses microcampos, ainda mais em países como o Brasil, onde a concentração dos meios de comunicação é alarmante e a lei que regula a comunicação no país não é revista há mais de 50 anos.19 Rede Social de Relacionamento de Compartilhamento de Imagem do MXVPS. Disponível em: . Acesso em: 10. dez. 2013. 19 Informação do site www.paraexpressaraliberdade.org.br que busca através de uma Lei de Iniciativa Popular colher 1 milhão de assinaturas e pressionar o governo em busca de uma nova lei de 18
36 O cenário fica ainda mais complicado quando observamos que dos quase 10 mil veículos de comunicação no Brasil, poucos são os grupos regionais que produzem seus próprios conteúdos, recorrendo muitas vezes à organização em rede nacional, diminuindo ainda mais a diversidade de informações: Os grandes grupos nacionais dominam o mercado, produzindo o conteúdo que será veiculado por esses veículos locais. Alguns complementam a programação com pequenas parcelas de produção local, mas não há uma efetiva regionalização das programações20.
Além de pouco produzirem, quando estes grupos regionais produzem algum conteúdo, os mesmos são subordinados a mesma óptica e dinâmica dos veículos nacionais. Somado a isso, vários veículos de comunicação são ligados à famílias envolvidas na política, como “os Barbalho, do Pará, têm a Rede Brasil Amazônia de Comunicação, que reproduz, em Belém, o sinal da Band. Os Collor em Alagoas, os Alves e os Maia no Rio Grande do Norte, os Magalhães na Bahia e os Jereissati no Ceará”21. Segundo o site Donos da Mídia, mais de 80% das redes presentes na região Norte estão ligadas a estas famílias e a grupos religiosos. As consequências deste modelo de comunicação monopolizado são várias, indo desde a invisibilidade de certos atores sociais até a perpetuação de preconceitos:
São décadas tentando impor um comportamento, um padrão, ditando valores de um grupo que não representa a diversidade do povo brasileiro. Cinco décadas em que a mulher, o trabalhador, o negro, o sertanejo, o índio, o camponês, gays e lésbicas e tantos outros foram e seguem sendo invisibilizados pela mídia.22 regulamentação da comunicação no Brasil. 20 CASTRO, Fábio. Quem controla a mídia no Brasil?. In: Comunicação, Poder e democracia. Belém: 2013. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2013. 21 CASTRO, Ibid., 2013.
Trecho retirado do site da campanha “Para Expressar a Realidade”, organizada por diversas entidades de movimentos sociais que discutem a democratização dos veículos de comunicação e uma nova Lei de Comunicação para o Brasil. Disponível em: Acessado em 10 dez. 2013. 22
37 O cenário exposto é um dos maiores desafios para o exercício da democracia (LIMA, 2001), já que a produção e distribuição de informação são elementos fundamentais para avaliar o grau de democracia de uma sociedade, como apontava o relatório McBride "Um Mundo e Muitas Vozes”, no qual são levantados três princípios básicos para uma sociedade verdadeiramente democrática, são eles: direito à comunicação, comunicação como recurso, comunicação horizontal e participativa (GINDRE, 2004, apud STENBRENNER, 2011) . Apesar de escrito em 1980 e publicado no Brasil pela Fundação Getúlio Vargas em 1983, o relatório ainda é bastante atual no debate a respeito do desequilíbrio do fluxo mundial de informação e comunicação. Desequilíbrio este que até os dias atuais é um dos grandes desafios a ser enfrentado pelos movimentos sociais, que diante disso tudo adotam duas posturas distintas. Ora desenvolvem ações para alcançar a atenção dos meios de comunicação massivos ora driblam este problema desenvolvendo seus próprios meios de comunicação (PEREIRA, 2011), os quais podem ser rádios comunitárias (STENBRENNER, 2011), jornais independentes (DOWNING, 2004) e agora, mais recentemente, blogs e redes sociais, emails e grupos de discussão (PEREIRA, 2011).
38 2 MXVPS 2.0: AS PRIMEIRAS AÇÕES NAS REDES SOCIAIS
Se existe um limiar que pode definir a entrada oficial do Movimento Xingu Vivo Para Sempre nas redes sociais, este momento aconteceu em setembro de 2009. Marcadas por várias denúncias envolvendo mudança inesperada de local, repressão policial e criminalização de movimentos sociais e indígenas, as audiências públicas sobre Belo Monte podem ser consideradas a faísca que faltava para que o Xingu Vivo passasse a utilizar oficialmente a Rede Mundial de Computadores. As audiências foram vistas por muitos presentes não como um espaço de diálogo como foi divulgado e sim como “simulacro de participação”23 (NASCIMENTO, 2011, p. 165) necessário para o licenciamento da obra e como um espaço de campanha eleitoral (BARROS E RAVENA, 2011). A repercussão negativa foi tanta que o Movimento achou necessário mostrar ao mundo que o Governo Federal estava “enfiando Belo Monte goela abaixo”.24 Durante este momento houve um maior tensionamento na relação entre o MXVPS e o Estado e é justamente durante períodos de tensão que os movimentos sociais mais procuram quebrar o silêncio por meio de mídias alternativas, como uma forma de inserir seus pontos de vistas e opiniões, quase sempre não representados e até ridicularizados pela mídia hegemônica (DOWNING, 2004) na arena da esfera pública (MORAES, 2000). Outro fator relevante que colaborou para que o MXVPS passasse a utilizar a internet foi a presença de pessoas especializadas em comunicação ligadas à ONGS
O mesmo processo de “simulacro de participação” já havia sido denunciado durante as consulta para a implementação de outro projeto de grande impacto na Amazônia, a construção da BR 163 (CuiabáSantarém) (CAYRES, 2010). 24 MOVIMENTO XINGU VIVO PARA SEMPRE. Belo Monte e a palavra do presidente. Xingu Vivo, 10 out. 2011. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2013. 23
39 na assessoria de comunicação do Movimento, que antes era ocupada por ativistas/ militantes não especializados nas novas tecnologias de comunicação. Antes de utilizar a internet, o XMVPS contava com o apoio de parceiros para divulgação de assuntos oficiais na internet, um deles é o Instituto Socioambiental (ISA). Na ilustração 1 podemos ver dois tweets no qual o ISA mostrava este apoio:
Ilustração 1 ISA divulga informações sobre o MXVPS no Twitter
Fonte: Prinscreen do Twitter.
Como podemos observar ao longo do que já foi exposto no capítulo anterior, sempre que o Estado e as empresas avançam com pesquisas, licenciamento, leilão, o Movimento responde com cartas, encontros ou campanhas. As audiências foram mais um desses momentos. Era necessário quebrar o silêncio mais uma vez e definitivamente. Foi então que a partir de 2010 surgem as primeiras publicações oficiais no MXVPS em redes sociais, criação de site e até a formação de um Comitê
40 Metropolitano do MXVPS em Belém, que serviria como um apoio ao MXVPS na capital do estado do Pará, Belém. O Comitê foi criado em outubro de 2009, logo após as audiências, sobre este período Maurício Matos, membro do Comitê Metropolitano em Belém, explica:
No início nos reivindicávamos como um braço do MXVPS em Belém. Depois, em razão de algumas divergências, passamos a ter uma atuação mais independente, mas sempre pautando as ações definidas pelo conjunto do MXVPS (…) O motivo principal de utilizarmos a Internet, com o cyberativismo, é o fato desta ser um ferramenta que nos permite difundir idéias, campanhas, dados técnicos, atingindo um público jovem, formador de opinião, capaz de mobilizar pessoas para ações reais, seja no Brasil ou em qualquer parte do mundo. E tudo isso com um baixo custobenefício. Assim, aproveitamos toda a facilidade de comunicação permitida com o mundo virtual para fortalecer a luta contra Belo Monte. (MAURÍCIO MATOS, 25 i.v. 12 jul.2013).
O Comitê Metropolitano saiu na frente do próprio MXVPS e em outubro de 2009 observamos as primeiras publicações no blog26 do mesmo. As informações publicadas no blog do Comitê durante muito tempo eram divulgadas pelos perfis oficiais do MXVPS, isso foi recorrente até a construção do site oficial do MXVPS. É possível afirmar que as audiências públicas sobre Belo Monte foram um ponto fundamental para a entrada do MXVPS na WEB e é justamente sobre elas e sobre as ações que se seguem às mesmas que os parágrafos seguintes discorrem.
2.1 AS AUDIÊNCIAS PÚBLICAS E OS PRIMEIROS PASSOS NA WEB
Apesar de existir desde 2008, somente dois anos depois (janeiro de 2010) é que o Movimento Xingu Vivo Para Sempre começa a utilizar a internet de uma mais institucionalizada. Maurício Matos, membro do Comitê Metropolitano Xingu Vivo, servidor público e filiado no Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Entrevista concedida em 12/07/2013 via Gtalk, aplicativo de conversa instantânea do Google. 26 Disponível em: Acessado em: 10 dez. 2013. 25
41 Atribuímos a entrada do MXPS às audiências públicas realizadas entre 10 e 15 de setembro de 2009 em três cidades diretamente impactadas pela obra (Brasil Novo, Vitória do Xingu e Altamira) e na capital do estado do Pará, Belém. As mesmas foram um divisor de águas nas estratégias do Movimento, que, logo após às mesmas, passou a utilizar a Web. Nascimento (2011) e Barros e Ravena (2011) acompanharam todas as audiências e fizeram suas dissertações de mestrado baseadas nas mesmas. A primeira (NASCIMENTO, 2011), faz sua pesquisa amparada no conceito de campo de Pierre Bourdieu e analisa as várias forças conflitantes presentes nas audiências. Enquanto os segundos ,fazem uma análise de conteúdo dos discursos presentes e os comparam com de jornais de Belém e São Paulo. Segundo Nascimento (2011), as audiências públicas surgem em um contexto em que se torna cada vez mais necessário a democratização de processos de licenciamento ambiental para implementação de grandes projetos no Brasil. Entretanto, em ambos esse processo que deveria ser democrático contrariou os próprios objetivos. Nascimento aponta algumas problemáticas que ocorreram durante esse processo: A pouca quantidade de audiências em relação aos municípios afetados; O tempo disponibilizados para questionamentos e exposições de falas; A divulgação tardia do Estudo de Impactos Ambientais, bem como a ausência de vários documentos essenciais para uma análise qualificada da viabilidade dos estudos; E a presença massiva de guardas da Força Nacional e da Polícia Militar, Civil e e Federal. Para a autora, todos esses pontos vão completamente de encontro à “participação” pregada e difundida como objetivo principal das audiências, levando a mesma a chamálas de “simulacro de participação”. Barros e Ravena (2011) também compartilham desse mesmo pensamento quando comparam a estrutura das audiências públicas ao funcionamento da mídia como “plateia, palco e bastidores”:
42 Diante de uma plateia delimitada, mas com possibilidade de maior abrangência a partir da publicização das audiências, os políticos ingressaram no lugar de fala do evento com o mesmo comportamento apresentado no palco oferecido pela mídia – contando com um acordo tácito com os representantes dos bastidores, formados pela mesa diretora das audiências. A plateia, que abrangia a maioria dos movimentos e atores contrários à construção da usina, vez ou outra conseguiu intervir no palco, muito mais pela necessidade de a mesa diretora legitimar o processo democrático inerente aos objetivos das audiências públicas (BARROS E RAVENA, 2011, p. 8).
Desta forma, as audiências públicas, que deveriam ser um espaço de debates e questionamentos sobre o Estudo de Impactos Ambientais (EIA) 27, se tornaram apenas mais um processo legal necessário para justificar a implementação da obra. Além disso, a audiência marcada para acontecer em Belém, no teatro Ismael Nery28 foi transferida em cima da hora para Teatro Margarida Schivasappa, com menos da metade de capacidade, reduzindo o espaço disponível de 1000 para 460 lugares. A mudança repentina de local fez com que várias pessoas não conseguissem entrar no teatro para a participar da audiência, a maioria indígenas e integrantes de movimentos sociais, impedidos na entrada do auditório29 (BARROS e RAVENA, Trabalho de mais de 20 mil páginas divulgado no site do IBAMA apenas duas semanas antes das audiências. Segundo pesquisadores e membros do MXVPS a demora na inviabilizou a análise e formulação dos questionamentos até as audiências, sendo necessário mais tempo para isso. O EIA está disponível em: . Acesso: 05 dez. 2013. 28 Em matéria postada no site do IBAMA, o instituto divulgou o referido auditório como sede da audiência. IBAMA. Audiências de Belo Monte atraem cerca de 8 mil participantes. IBAMA, Brasília, 16 set. 2009. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2013. Após a data, a matéria seguinte sobre Belo Monte presente no site do IBAMA acontece em 16/09/2009, depois da última audiência. Vale ressaltar na matéria que em nenhum momento a instituição faz alusão à mudança de local inesperada e a limitação de espaço do novo auditório, o Margarida Schivasappa. IBAMA. Audiências de Belo Monte atraem cerca de 8 mil participantes. IBAMA, Brasília, 16 set. 2009. Disponível em: 27
. Acesso em: 10 dez. 2013.
Na internet existem vários textos denunciado irregular idas nas audiências. O texto “Audiência Pública de Belo Monte em Belém...Uma Aula de Cidadania?”, escrito por Syglea Lopes, professora de Direito Ambiental no Centro Universitário do Estado do Pará (CESUPA), é um deles. No texto, a professora denuncia que chegou com antecedência ao local e foi informada que alguns lugares 29
43 2011; NASCIMENTO, 2011). Segundo trecho retirado de um texto divulgado no site da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE), ator integrante da Rede do MXVPS, várias pessoas foram impedidas pela Força Nacional de entrar e as que conseguiram entrar tiveram suas falas cerceadas:
Foi para discutir estes importantes aspectos que centenas de indígenas, outros moradores da região, além de integrantes de organizações que apóiam sua luta, foram a Belém no dia 15 de setembro para participar da audiência pública sobre Belo Monte. Chegando lá, porém, encontraram a Força Nacional de Segurança realizando uma forte barreira que impediu a entrada da maioria dos manifestantes. Os que puderam entrar não puderam ser representados na mesa e tiveram dificuldade de ter acesso à fala30.
O MPF31 afirma que seus procuradores tentaram garantir a entrada de indígenas e semterra, mas não obtiveram sucesso. Tentaram também negociar com presidente do Ibama para que a audiência fosse adiada e acontecesse em outro local, visando, assim, ampla participação dos presentes. Entretanto, o presidente apresentavase irredutível:
Os membros do MP tentaram negociar com o presidente do Ibama, Roberto Messias, para que a audiência fosse realizada em um auditório maior, que abrigasse todos os interessados. Eles argumentaram que não seria possível garantir nem a segurança de quem estava dentro, nem a participação de quem estava fora. A promotora de Justiça Eliane Moreira, que chegou alguns minutos depois de iniciada a negociação, relatou que até no estacionamento estava impossível entrar. Mas Messias não concordou: alegou que quem não tinha entrado acompanharia pelo telão instalado do lado de fora e descartou estavam reservados aos indígenas. Pouco tempo depois, Syglea Lopes diz que as poltronas reservadas foram tomados por “outras pessoas (homens brancos), possivelmente representante das empresas”. Disponível em: . Acessado em: 5 dez. 2013. Outra matéria que confirma denuncia a limitação do espaço foi publicada no site do MPF e diz que o auditório dispunha apenas de 460 lugares e os presentes superavam 600, fazendo com que dezenas de pessoas, entre indígenas, estudantes e movimentos sociais ficassem do lado de fora. Disponível em: . Acessado em: 5 dez. 2013. 30 FASE. Belo Monte: Audiência discrimina e reprime população. Fase, 2009. Disponível em: < . Acesso em: 5 dez. 2013. 31 Site do Ministério Público Federal do Pará disponível em: . Acessado em: 5 dez. 2013.
44 um acordo para adiar a audiência.32
E foi em meio a este clima tumultuado que a audiência começou, sendo interrompida pouco depois das primeiras falas. Procuradores do MPF e MPE disseram que o formato de exposição adotado, assim como nas audiências passadas, dificultava a participação de movimentos contrários à obra. Os procuradores se retiraram do local, afirmando que as audiências eram uma farsa, cujo objetivo era esconder as lacunas do EIA/RIMA:
'Ferem a constituição para esconder as falhas e omissões de impactos importantes nos Estudos e no Relatório de Impacto Ambiental, que não esclarecem vários riscos e o que vai acontecer de fato na vida das pessoas e na área impactadas pela barragem', protestou o promotor, que se retirou da mesa da audiência. Junto com ele também protestou e saiu do teatro o procurador federal Rodrigo Timóteo Costa e Silva. 'Fomos cerceados de participar nas três audiências públicas anteriores, o MPF teve o seu direito violado, e aqui o espaço não permite a participação popular e democrática, queremos a impugnação de todas as audiências', declarou33.
Desta forma os procuradores se retiraram, sendo acompanhados por indígenas, ativistas e movimentos sociais, restando apenas metade dos presentes no auditório, grande parte representantes do Governo Federal e Estadual, membros do CCBM e um grupo favorável à obra. Enquanto isso, os manifestantes que se retiraram gritavam palavras de ordem no hall do Centur e fechavam Avenida Gentil Bittencourt34. Após o episódio, a Advocacia Geral da União apresentou reclamação disciplinar no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e chamou de “irresponsável e MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO PARÁ. MPF/PA questiona modelo de audiência pública de Belo Monte. MPF, 2011. Disponível em: . Acesso em: 5 dez. 2013. 33 ORM. Protestos marcam audiência Entidades contrárias à implantação da hidrelétrica de Belo Monte dizem que foram impedidas de se manifestar. ORM, Belém, 16 set. 2009. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 34 ORM, Ibid., 2009. 32
45 insidiosa”35 a atuação dos promotores durante a audiência. É importante destacar que, assim como o IBAMA, a AGU nem ao menos cita as incoerências da audiência, no que se refere a mudança de local, forte aparato policial e falta de espaço para a participação popular (NASCIMENTO, 2011), sendo as mesmas responsáveis pela reação dos procuradores, indígenas e movimentos sociais. Não foi somente em Belém que as audiências foram criticadas. Rodolfo Salm, PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de East Anglia e professor da Universidade Federal do Pará, no artigo intitulado “Belo Monte: A farsa das audiências públicas”36 fala sobre os problemas ocorridos em Altamira, que envolveram disparidades nas falas, favorecendo sempre os interessados na obra: “Cada pessoa inscrita tinha direito a três minutos para uma pergunta oral, havendo três para a resposta dos proponentes, com direito a réplica e tréplica. Ou seja, quem fechava a sessão eram sempre os empreendedores”37. Apesar da estratégia extremamente parcial adotada pelos interessados, opositores conseguiram fazer várias perguntas mais incisivas, questionando os riscos do projeto. Porém, as respostas, segundo o pesquisador, raramente davam conta das indagações feitas. Ora fugiam do assunto, como quando perguntados sobre a elevação no nível de contaminação dos poços de água da cidade, sobre a qual desviaram afirmando que “os nove poços estudados pela sua equipe já apresentavam níveis de contaminação que os tornavam inapropriados para o consumo de água” 38, o Trecho de matéria divulgada no site da AGU, na qual a entidade afirma que o procurador da República Rodrigo Timóteo da Costa e Silva e o promotor de justiça do MPE/PA, Raimundo de Jesus Coelho de Moraes agiram de forma parcial. A AGU afirma que procurador e promotor foram motivados por convicções pessoas, sendo as mesmas “desvinculadas daquilo que se denomina interesse público”. ROSSI, Leticia Verdi. AGU apresenta Reclamação Disciplinar no CNMP contra procurador da República e promotor de Justiça. AGU, 24 abr. 2010. Disponível em: . Acessado em: 5 dez. 2013. 36 SALM, Rodolfo. Belo Monte: a farsa das audiências públicas. Eco Debate Cidadania & Meio Ambiente. 8 out 2009. Disponível em: . Acessado em 5. dez. 2013. 37 SALM, Ibid. 2009. 38 SALM, Rodolfo. Belo Monte: a farsa das audiências públicas. Eco Debate Cidadania & Meio 35
46 que segundo Salm quer dizer que os pesquisadores do EIA seguiram uma lógica do tipo: “não tem problema destruirmos a sua cidade, porque ela já não era adequada mesmo para se viver”. Ora atacavam e desqualificavam quem se manifestava, como quando Philip Fearnside, um dos pesquisadores de impactos ambientais mais respeitados do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPE) tendo artigos publicados em revistas pelo mundo todo, perguntou qual era a garantia que mais barragens não seriam construídas no Xingu, já que devido ao fluxo sazonal do Rio, uma barragem apenas não seria suficiente para gerar a energia prometida por Belo Monte. Novamente a estratégia utilizada não foi a da argumentação e sim a desclassificação, já que foi afirmado que eu pesquisador estava completamente equivocado pois a potência de Belo Monte havia sido recalculada para cima, “mas não disse como, nem para quanto”39. Além desses acontecimentos particulares, outro fator que provocou revolta entre pesquisadores, ativistas e movimentos sociais foi o atraso na divulgação do Estudo de Impactos Ambientais, que aconteceu dois dias antes das audiências, o que impossibilitou qualquer estudo prévio e levantamento de crítica por parte dos opositores até às audiências. Mesmo divulgado fora de época e em cima do prazo, o EIA apresentou volumes não concluídos e estudos incompletos, como o estudo da qualidade hidrográfica e subestimou a população afetada. Antes do fato, o MPF já havia pedido a realização de no mínimo treze audiências para garantir que mais regiões afetadas fossem incluídas nas audiências, já que segundo os estudos inciais, Belo Monte afetaria direta e indiretamente cerca de 66 municípios e 11 terras indígenas40, o que tornaria inviável a consulta em apenas 4, Ambiente. 8 out 2009. Disponível . Acessado em 5. dez. 2013. 39 SALM, Ibid. 2009. 40 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL.PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO PARÁ. MPF recomenda mais audiências para debater Belo Monte com moradores do Xingu. MPF, 9 set. 2009. Disponível em: http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2009/noticias/mpfrecomendamaisaudienciasparadebaterbelom
47 sendo que Belém está a quase mil km de distância da obra. Após o pedido, a Justiça Federal suspendeu o licenciamento e acatou o pedido de novas audiências, porém, um dia depois, a liminar foi derrubada pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, e em fevereiro de 2010, o IBAMA concedeu licença prévia41 para a construção da Usina mesmo com as falhas apontadas no EIA/RIMA pelo Painel de Especialistas. Diante deste cenário, era necessário tomar alguma medida para denunciar tantas irregularidades apontadas pelo Movimento. Foi então que no início de 2010, o MXVPS começa a utilizar a internet e cria sua primeira rede social, o Orkut, sendo seguida pelo Twitter, Facebook e Youtube, entre outras. Diante deste cenário, era necessário tomar alguma medida para denunciar tantas irregularidades apontadas pelo Movimento, foi então que no início de 2010, o MXVPS passa a utilizar a internet. Sobre este período, Gabriela Juns, uma das assessoras do MXVPS na época explica, no que demonstra também o início da adesão de colaboradores em rede à causa do movimento:
Sabia o potencial que o XV estava perdendo quando deixava de conversar na rede. Sem contar, que o grande problema das causas amazônicas é a dificuldade de comunicálas pra quem não está na área. Parecem países diferentes. Tomei por missão buscar essa comunicação, simples, direta, buscando o envolvimento de quem tá no sul, no sudeste, no centroeste, no nordeste com um problema que é de todos nós42.
ontecommoradoresdoxingu/?searchterm=Belo%20Monte> Acesso em: 10 dez. 2013. 41 BRESCIANI, Eduardo. Ibama concede licença prévia para construção da usina de Belo Monte. G1: São Paulo, 1 fev. 2010. Disponível em: < http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL14721655598,00.html> Acesso em: 10 dez. 2013. 42 Gabriela Juns, em entrevista concedida via Gtalk em 10/10/2011. Gabriela Juns é designer. Desde 2007 trabalha com produção de conteúdos e estratégias ciberativistas. Antes de atuar nas mídias sociais do MXVPS, trabalhou no Greenpeace em Manaus, onde aprofundou os estudos sobre Amazônia e Belo Monte. No Xingu Vivo colaborou em várias campanhas, como a “Belo Monte com meu dinheiro não”, “Pare Belo Monte” e “15.O Vem acampar na aldeia”. Atualmente Gabi Juns é coordenadora na escola de Ativismo, com página disponível em: . Acessado em: 5 dez. 2012
48 É nesse momento que o MXVPS cria sua primeira rede social, o Orkut, sendo seguida pelo Twitter, Facebook e Youtube, entre outras, como veremos nos tópicos que seguem.
2.2 REDES SOCIAIS, REDES DE MOVIMENTOS SOCIAIS E CIBERATIVISMO Quando uma nova tecnologia surge interfere de forma substancial na sociedade fazendo surgir novas formas de sociabilidade, assim foi com a máquina a vapor, eletricidade, rádio e com a Internet. Apesar disso, em 1969, quando o governo inaugura a ARPANET, nem os mais visionários43 poderiam imaginar que o novo invento dos Estados Unidos, pensado para comunicação militar, iria se transformar em um dos principais veículos de comunicação do século XXI e ferramenta importante de mobilização dos movimentos sociais. Segundo Castells (2003), no final do século XX, a internet saiu do ambiente militar e acadêmico e se expandiu, passando a estar presente em alguns domicílios, departamentos públicos, empresas privadas:
Internet uma tecnologia obscura sem muita aplicação além dos mundos isolados dos cientistas computacionais, dos hackers e das comunidades contraculturais, tornouse a alavanca na transição para uma nova forma de sociedade a sociedade de rede. (CASTELLS, 2003. p.8 )
Fazendo uma comparação com o que MacLuhan chamou de Galaxia de Gutemberg (1972), quando as maquinas de impressão se popularizam no ocidente, O canadense Marshall McLuhan, no livro “Galaxia de Gutemberg” (1965) inaugura o conceito de “Aldeia Global”, desenvolvido mais profundamente em 1972, em um livro com mesmo título do conceito. O autor defende que com as novas tecnologias as distancias se reduziriam tanto proporcionando a aproximação das pessoas a ponto de existir apenas uma cultura mediada pelas novas mídias eletrônicas, o que favoreceria o surgimento de uma nova organização social, a Aldeia Global. Após o avanço da Internet esse conceito ganha grande visibilidade nas universidades e pesquisadores. Devido a isso, MacLuhan ainda hoje é apontado por muitos como o visionário da Rede Mundial de Computadores, apesar de alguns estudiosos como Santos (….) criticarem o conceito Aldeia Global, pois acreditam que ao invés de uma cultura única interligada por tecnologias, o que acontece com o avanço das novas tecnologias é a convivência paralela de várias culturas. 43
49 Castells chama o momento atual de Galaxia da Internet e afirma que a mesma constituise “a base tecnológica que sustenta a estrutura organizacional que caracteriza a Era da Informação: a Rede”. (CASTELLS, 2003. p. 15). Para Castells redes são formas de organização antigas na sociedades. Desde os primórdios os indivíduos se organizam em alguma espécie de rede, porém, com o desenvolvimento da Internet as redes puderam se converter em redes de informação, impulsionadas cada vez mais por este veículo. O surgimento da Internet proporcionou a difusão de informações de uma forma mais rápida e mais interativa, criando assim uma variedade de novas informações circulando nos grupos sociais. Juntamente com esse processo, o aparecimento de redes de interação deu ainda mais força e alcance para esses fluxos ampliando a característica de difusão das redes sociais (RECUERO, 2009). Além do poder da contrainformação, as redes sociais tem muito a contribuir para os movimentos sociais de forma organizacional, facilitando a difusão de informação entre parceiros (PEREIRA, 2011; RIGITANO, 2003; OLIVEIRA, C.T.F. e FERREIRA, 2006). Desta forma, as Redes de Movimentos Sociais que já existiam desde o século passado (sec. XX), se organizando e comunicando por telefones, fax, cartas, passaram a ver na Internet mais uma possibilidade de comunicação: São partidos políticos, ONGs, movimentos sociais, sindicatos e até grupos guerrilheiros que descobriram esse ambiente interativo, cooperativo e descentralizado e nele viram a possibilidade de difusão de idéias e reivindicações, aproveitandose do alcance global, da velocidade de transmissão da velocidade de transmissão e recepção de mensagens e do barateamento de custos, entre outras vantagens (OLIVEIRA, C.T.F. e FERREIRA, 2006, p. 220221)
Os movimentos sociais que antes dependiam dos grandes veículos de comunicação para expor suas demandas e necessidades, agora não dependem mais exclusivamente da mídia tradicional. Pereira (2011) fala sobre esse processo no trecho a seguir:
50
Os movimentos sociais encontraram na Internet um meio capaz de fornecer as condições necessárias para a criação de canais informativos e comunicativos alternativos aos grandes meios de comunicação de massa. Esses espaços eletrônicos são fundamentais para que atores da sociedade civil possam interagir através da troca de informações e percepções sobre determinadas questões (PEREIRA, 2001. p. 7).
O ativismo44 online, ou seja, as atividades militantes praticadas na web, é chamado de ciberativismo. Segundo Vegh (2003 apud. PEREIRA, 2011; RIGITANO, 2003; SILVEIRA, 2009), existem três tipos de ativismo online que podem ser utilizados tanto por movimentos sociais organizados quanto por indivíduos autônomos, sendo que os mesmos podem fazer uso apenas de um ou de todos os tipos ciberativismo paralelamente. A primeira categoria pontuada por Vegh preza pela conquista de conscientização e promoção (awareness/advocacy) de uma causa. A internet seria utilizada pelos ativistas como uma fonte alternativa de informações por meio de divulgação de notícias entre si e a população, buscando assim novos ativistas. Essa conscientização poderia ocorrer por fóruns, páginas, listas de discussão, chats, entre outros. Grande parte das organizações ativistas45 relacionadas às direitos (humanos, étnicos e mulheres) fazem uso deste tipo de ciberativismo (RIGITANO, 2003). A Internet também pode ser usada para organização e mobilização (organization/mobilization) de ações. Eis aqui a segunda categoria de ciberativismo, O termo “ativista” popularizouse provavelmente em função de sua adoção por grupos na América do Norte e na Europa. O motivo, supostamente, foi a tentativa de distanciamento da carga forte associada às palavras “revolucionário” e “radical” a primeira utilizada para extremista que recorre às armas e busca tomar o poder, a segunda para o ator político institucional que age fora dos padrões de conduta comuns às instituições – e a carga da palavra “militante” que defende causas, como os ideais de um partido, mas têm poucas manifestações ativas (ASSIS, 2006:13 apud SILVEIRA, 2009). 45 Como exemplo, Rigitano (2003) cita a atuação da Anistia Internaciorkutonal em relação a troca de informação mundiais. A Anistia utiliza o portal disponível em: < www.amnesty.org > Acesso em: 10 dez. 2013. para se interligar por meio de lista de discussões com mais de 150 países que também. Citamos também a ONG International Rivers, disponível em: , acesso em: 10 dez. 2013., uma das principais parceiras do Xingu Vivo, que utiliza o ciberativismo de uma forma bastante informativa, desenvolvendo vídeos, infográficos, dados interativos sobre barragens de grandes impactos projetadas para rios em várias partes do mundo. 44
51 que pode ser subdivida em três: A chamada para ação offline (protestos, passeatas, marchas); a chamada para a ação que poderia ser offline, mas que é mais eficiente online (contatar um representante do Estado via email); e a chamada para uma ação exclusivamente online (envio de vários emails para encher a caixa de entrada de algum governante). O terceiro e ultimo tipo de ciberativismo é o da ação/ reação (action/reaction), que seria a utilização da internet por ativistas para cobertura midiática de mobilizações ou para mostrar formas de resistência e apoio durante as mesmas. Podem ser considerados como exemplos desse terceiro tipo de ciberativismo as coberturas do Coletivo Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) e as informações divulgadas nas páginas no facebook do Black Block Brasil e Rio de Janeiro durante as manifestações eclodidas em junho deste ano por todo o Brasil. O primeiro, utilizando o twitcasting (site de transmissão de vídeo) fez a transmissão ao vivo de diversos atos contra o aumento da passagem em São Paulo e Rio de Janeiro e durante a Copa das Confederações. O segundo divulgava informações sobre como evitar os efeitos do gás de pimenta e bombas de efeito moral jogados pela polícia visando a dispersão das manifestações, além de informações sobre onde as tropas se encontravam. Ao longo de sua história na internet, consideramos que o MXVPS fez uso destes três tipos de ciberativismo, uns com mais frequência do que outros. Analisando as publicações pudemos perceber que que desde quando entrou na WEB até o início das obras, o MXVPS utilizava bastante a primeira forma de intervenção online, acreditamos que procurava conscientizar e conseguir mais parceiros para sua causa. Eram comuns publicações com o caráter mais informativo do tipo: “Saiba por que somos contra Belo Monte”, “Entenda por que Belo Monte não é viável”. Já após o início das obras até meados do Xingu +23, encontro realizado em junho de 2012, um ano após o início das obras, as publicações assumiram características mais próximas do segundo tipo de ciberativismo pontuado por Vegh. Elas tinham em comum a chamada para ação, tanto offline, quanto online. Já no terceiro momento, após o
52 Xingu + 23, podese dizer que MXVPS lançou mão do terceiro tipo de ciberativismo, cobrindo greves de trabalhadores e ocupações de indígenas e pescadores no canteiro de obras. Apesar de não caracterizado Vegh, acreditamos que durante esse momento, o Xingu Vivo também assumiu um perfil mais denunciativo em suas publicações. São comuns matérias, fotos e vídeos falando dos impactos causados pela obra, os quais exporemos melhor nos tópicos seguintes.
2.3 ANÁLISE DO SITE DO MXVPS E DE SUAS REDES SOCIAIS
Antes de mostrarmos como e em quais momentos o MXVPS utiliza os ciberativismos categorizados por Vegh, acreditamos que se faz necessário apresentar basicamente as redes sociais que utilizamos como fonte de pesquisa e qual a situação do Xingu Vivo nas mesmas. Ao longo de sua história na Internet, o MXVPS fez uso oficialmente um site 46 e das seguintes redes sociais: Facebook, Twitter, Flickr, Youtube e Orkut, todas criadas no início de 2010. Atualmente apenas o site e as duas primeiras são atualizadas com frequência. Atribuímos isso à perda de popularidade que o Orkut obteve no Brasil primeiro em abril de 2009, quando o twitter o ultrapassou em número de acessos, e depois, definitivamente, em fevereiro de 2011, com a ascensão rápida do Facebook (Gráfico 1).
Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2013.
46
53 Gráfico 1 – Acessos nas redes sociais no Brasil de Janeiro de 2009 até Outubro de 2013.
Fonte: Site Statcounter47
Outro motivo pode ser também a característica do Facebook de agregar múltiplas funções (chat, publicações de fotos, vídeos, textos sem limite de caracteres, compartilhamento, botão “curtir”, entre outros) em uma única rede social, o que somente depois foi feito por algumas redes sociais. Este diferencial pode ter contribuído para que o Flickr deixasse de ser atualizado, por exemplo, já que fotos passaram a ser postadas diretamente nos álbuns do Facebook. Abaixo, por ordem de criação explicamos basicamente como funciona cada rede social e qual a situação atual do Xingu Vivo nas mesmas.
Site que gera gráfico de monitoramento da quantidade de usuários e acessos em redes sociais, navegadores, sistema operacional de celular, sistema operacional de computador, entre outros. Disponível em: . Acessado em: 6 dez. 2013. 47
54 2.3.1 O Orkut do MXVPS48 (criado em 01/2010).
Rede social que funciona como uma espécie de página de recados (scraps), onde cada usuário pode trocar recados (scraps) com seus amigos e criar comunidades. Nas comunidades são discutidos assuntos comuns com outros usuários, não sendo necessário que haja amizade entre os mesmos. Em 2007, o Orkut abriu sua plataforma para integração com outras redes sociais (RECUERO, 2009), permitindo assim publicações de vídeos do Youtube, por exemplo. Diferente das outras redes sociais, O Orkut não informa a data exata de criação da conta, também não existe nenhum site ou programa que informe esta data. Podemos inferir a data de criação do Orkut do MXVPS por meio das publicações, visualizando scraps e histórico de amigos adicionados. No caso do MXVPS, o Movimento possui 314 amigos em sua rede social, sendo os primeiros adicionados em 26/01/2010. O MXVPS faz parte de 10 comunidades 49 ligadas à causas ambientais, porém não é moderador de nenhuma. O fato do MXVPS não moderar nenhuma comunidade e nem alcançar o número máximo de amigos por perfil (999), mostra sua pouca influência durante o período em que utilizou esta rede social50. Orkut do MXVPS disponível em: . Acessado em: 6 dez. 2013. 49 São elas: Pare Belo Monte, Xingu Vivo Para Sempre, Amazônia Para Sempre, A Amazônia é nossa, A Amazônia é do Brasil, Por uma Amazônia Para Sempre, Hidréletrica de Belo Monte Não, Conjunto Rio Xingu, Parque Indígena do Xingu e Conheço as belezas do Xingu. Disponíveis respectivamente em: Acessadas em: 6 dez. 2013. 50 Não temos como afirmar o período exato em que o MXVPS utilizou o Orkut, mas supomos que foi de janeiro de 2010, quando começaram as publicações e recados de amigos, até novembro de 2011, mês 48
55 O perfil conta também com cinco51 vídeos adicionados, sendo que apenas quatro funcionam. Um deles é o “Defendendo os Rios da Amazônia”, vídeo de ampla divulgação em todas as redes sociais do Movimento, sendo utilizado bastante durante o Período Informativo do MXVPS. Além dos vídeos e comunidades, existem 304 scraps publicados no mural do MXVPS. Os primeiros scraps continham mensagens de apoio e boas vindas. A conta do Movimento não é atualizada desde 22/10/2011, quando seus últimos amigos foram adicionados.
2.3.2 O Twitter do MXVPS52 (criado em 11/01/2010).
O twitter é uma rede social popularmente caracterizada como um tipo de microblogging, onde o usuário (twitter, identificado com “@”) publica informações de no máximo 140 caracteres em sua “página pessoal”. Nesta página ficam expostas todas as mensagem públicas, mais conhecidas como tweets. Os tweets publicados pelo usuário são recebidos em tempo real por seus seguidores (followers), assim como o usuário também recebe tweets de quem ele segue (following). Os tweets publicados podem ser retweetados por outros usuários. O Twitter possui também a função de Trending Topics, ou TT's (assuntos mais comentados), o que faz com que campanhas sejam criadas utilizando hashtags53,
das últimas atualizações aparecerem. 51 Vídeos disponíveis em: . Acesso em: 6. dez. 2013. 52 Disponível em: . Acesso em: 6 dez. 2013. 53 Palavra já muito popularizada entre usuários de internet. O uso de Hashtags popularizouse com o Twitter, mas tem suas origens na palavra Tags, muito utilizadas em blogs em buscas de palavraschave. Para gerar uma hashtag o usuário utiliza o cardinal certilha (#) seguido de alguma palavra. As hastags viram hiperlinks na web, que são acessados para saber o que estão falando sobre determinado assunto. Devido ao sucesso das hashtag, nos últimos anos outras redes sociais como Facebook, Instagram e Tumblr também deriram à função.
56 visando, assim, a chegada mais facilmente aos TT's. As campanhas com hashtags são chamadas de Tweetaços ou Tuitaços54, muito utilizados pelo MXVPS. De abril de 2009 até fevereiro de 2011, o Twitter era a rede social com maior acesso e visualizações no Brasil. Porém, passou a perder espaço para o Facebook, principalmente depois do filme “The Social Network” (“A Rede Social”), que estreou no Brasil em 3 de dezembro de 2010 e aborda criação do Facebook. Após a estreia do filme, em menos de dois meses (fevereiro de 2011) o Facebook superou o Twitter em número de acessos no Brasil. Atualmente o Twitter é a terceira rede social mais acessada no país, localizandose bem atrás do Youtube e do Facebook, o último disparado no número de acessos (Gráfico 1). Atualmente55 a conta do Movimento Xingu Vivo Para Sempre (@xinguvivo) no Twitter apresenta 8.50256 seguidores e segue 55 pessoas. A quantidade de seguidores do MXVPS é bastante considerável, principalmente quando comparamos com perfis de outros grupos voltados à luta contra a construção de hidrelétricas e barragens. A exemplo: a Campanha Munduruku (@cmunduruku 57), twitter que traz informações contrárias a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, também no Pará. O mesmo conta com 928 seguidores; O perfil do Movimento dos Atingidos por Barragens (@MAB_Brasil58), com 1.620 seguidores; e o Fórum Carajás Por ser mais comum no Brasil, ao longo deste trabalho utilizamos “Tuitaços”. Porém, em algumas publicações e printscrens das postagens do MXVPS pode aparecer “Tweetaço”, pois o movimento utiliza ambas as formas para referirse a esse tipo de campanha. 55 Data da ultima visita 10 dez. 2013. 56 Este número é bastante considerável, principalmente quando comparamos com perfis de outros grupos voltados à luta contra a construção de hidrelétricas e barragens. A exemplo: Campanha Munduruku (@cmunduruku), twitter que traz informações contrárias a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, também no Pará, que conta com 928 seguidores. Disponível em: . Acessado em: 6 dez. 2013; O perfil do Movimento dos Atingidos por Barragens (@MAB_Brasil), com 1.620 seguidores. Disponível em: . Acessado em: 6 dez. 2013; e o Fórum Carajás (@forumcarajas), que tem como objetivo monitorar os impactos provocados por grandes projetos no Maranhão, Tocantins e Pará, que possui cerca de 1.033 seguidores. Disponível em: . Acesso em: 6 dez. 2013. 57 Perfil disponível em: . Acesso em: 6 dez. 2013. 58 Perfil disponível em: . Acesso em: 6 dez. 2013 54
57 (@forumcarajas59), que tem como objetivo monitorar os impactos provocados por grandes no Maranhão, Tocantins e Pará, possuindo cerca de 1.033 seguidores. Em relação aos perfis que o MXVPS segue, destacamos jornalistas, como Eliane Brum(@brumelianebrum) e Altino Machado(@AltinoMachado); deputados, Ivan Valente (@Dep_IvanValente) e Arnaldo Jordy (@arnaldojordy); procuradores do MPF, Ubiratan Cazetta (@ucazetta) e Felício Pontes (@FelicioPontesJr); e ONG's, Justiça Global (@justicaglobal), Instituto Socio Ambiental (@socioambiental, Internacional Rivers (@IntlRivers) e Amazon Watch(@AmazonWatch). Todos os perfis destacados são seguidos e também seguem o Xingu Vivo. Além dos já citados, destacase também outros seguidores, como a Marcha Mundial das Mulheres, partidos políticos (PSTU, PEN, PT, PSOL, entre outros) e agências e canais de comunicação, como o Uol notícias (@UOLNoticias), Tortura Nunca Mais (@gtnmsp) e Diário do Centro do Mundo (@DCM_online). A quantidade e variedade de seguidores de diferentes locais (nacionais, regionais e internacionais) mostram a visibilidade do Xingu Vivo, sendo seguido inclusive por veículos da grande mídia e jornalistas influentes, resultado do uso eficiente das nova tecnologias de comunicação. Outro aspecto é a variedade das ONGs e movimentos sociais que seguem o Xingu Vivo, entre eles movimento de mulheres, LGBTT, ONGs indigenistas e ambientalistas, muitos pertencentes à Rede da qual o MXVPS faz parte. Sobre a criação do Twitter do MXVPS, o mesmo foi criado 11 de janeiro de 2010 60, porém, as primeiras publicações só começam a aparecer em julho de 2011. Ao longo da pesquisa percebemos que vários tweets foram apagados do perfil público do Xingu Vivo, o que justificaria a ausência de publicações nesta rede social durante mais de um ano desde sua criação. Apesar de excluídos, os tweets destes períodos ainda podem ser observado quando pesquisados na sessão de busca da rede social. Perfil disponível em: . Acesso em: 6 dez. 2013. Segundo informações do Twbithday, site que mostra a data de criação de um perfil no Twitter. Disponível em: . Acessado em: 6 dez. 2013. 59 60
58 2.3.3 Facebook do MXVPS
Criado por Mark Zuckenberg em 2004, seu objetivo inicial era ser uma rede de contatos entre novos universitários dos Estados Unidos (RECUERO, 2009), entretanto, com o aumento exponencial de usuários (atualmente conta com mais de 1 bilhão de usuários) o facebook se tornou o site mais acessado do Mundo 61, a na frente do Google, Yahoo, Youtube e Wikipedia. A rede social oferece dois tipos de contas: páginas (recomendadas para organizações, celebridades, empresas, entre outros) e perfis (pessoas físicas). Para receber as publicações de qualquer página, o usuário clica na opção “curtir” e assim vira fã da mesma. A página não possui número de máximo de assinantes. Já no caso dos perfis, as pessoas adicionadas são denominadas de amigos e cada usuário pode ter no máximo 5 mil amigos adicionados. O MXVPS possui uma página62 e um perfil63 nesta rede social. A utilização do Facebook começou com o perfil em 13/09/2010, porém, em maio de 2011, o perfil do Movimento chegou ao número máximo de amigos adicionados e o MXVPS criou sua página, que atualmente conta com 21.610 fãs64. Até hoje ambas as contas são atualizadas. Em relação a quantidade de fãs, os números do MXVPS superam em grande escala institutos, páginas de outros movimentos, mobilizações e ONGs ligadas à causas ambientais no Brasil e mundo. Segue algumas comprações: a página da MULLER, Leonardo. Ranking dos vinte sites mais acessados do mundo. Tecmundo, 7 fev. 2013. Disponível em: . Acessado em: 6 dez. 2013. 62 Página do MXVPS disponível em: . Acessado em 6 dez. 2013. 63 Perfil do MXVPS disponível em: . Acessado em 6. dez. 2013; 64 Acessado em: 6 dez. 2013. 61
59 campanha GuaraniKaiowá65, com 3.921 fãs; A página do Movimento Brasil pelas Florestas66, com 10.820; ONG International Rivers67, com 13.284 ; Instituto Homem e Meio Ambiente (IMAZON)68, com 2.996 fãs; e Instituto Chico Mendes69, com apenas 501 fãs. Conforme informações retiradas da própria rede social, as pessoas que mais a falam sobre a página tem entre 25 e 34 anos e são de São Paulo. Ainda segundo informações retiradas da página, a semana mais popular da mesma foi em 5 de maio de 2013, semana na qual índios Munduruku, junto com indíos do Xingu, ocuparam o canteiro de Belo Monte pedindo a paralisação das obras e o fim das pesquisas sobre a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós prevista também para o Pará, na região do Tapajós70.
2.3.4 Flickr do MXVPS71 (criado em outubro de 2010).
Rede social de compartilhamento de fotografia, permite comentários, opção “favoritos” e participação em grupos. Foi desenvolvido por uma empresa canadense em 2004 e comprado pelo Yahoo em 2005 (RECUERO, 2009).
Página da Campanha GuaraniKaiowá. Disponível em: . Acessado em: 6 dez. 2013. 66 Página do Movimento Brasil Pelas Florestas. Disponível em: . Acessado em: 6 dez. 2013. 67 Página da ONG International Rivers Disponível em: . Acessado em: 6 dez. 2013. 68 Disponível em: . Acessado em: 6 dez. 2013. 69 Página disponível em: . Acessado em: 6 Dez. 2013. 70 Matéria sobre a ocupação. Disponível em: . Acessado: 6 dez. 2013. Acessado em: 6 dez. 2013. 71 Flickr do MXVPS está disponível em: . Acessado em: 6 dez. 2013. 65
60 O MXVPS criou sua conta no Flickr em outubro de 2010, possui 12 álbuns publicados, totalizando 420 fotografias72 e 3.967 visualizações73. O conteúdo em sua maioria traz cobertura de atos e encontros. O álbum de maior visualização (1.108) foi de uma manifestação na Avenida Paulista, ocorrida em 19/06/2011, mesmo mês do início das obras. Não é comum atores sociais criarem perfis no Flickr, devido a isso não encontramos nenhum perfil de organizações parecidas em ideais com o MXVPS para compararmos a influência do mesmo nesta rede social.
2.3.5 Canal no Youtube do MXVPS74 (criado em 26/11/2010).
Popular site de publicação de vídeos, sendo a segunda rede social mais acessada do Brasil. Permite comentários, inscrição e opções de “gostei” ou “não gostei”. O MXVPS possui 875 inscritos no seu canal no Youtube, postou 26 vídeos, que ao todo somam 166.152 visualizações.
2.3.6 Site do MXVPS 75(primeiras publicações em 10/2010)
Apesar de não ser uma rede social, achamos necessário trazer algumas informações sobre o site do MXVPS, pois o mesmo é um dos principais veículos utilizado pelo Movimento, tendo muitas de suas informações divulgadas no facebook e no twitter direcionam para o site do MXVPS. Logo quando abrimos o site, a primeira visão (Ilustração 2) mostrada é da barra de rolagem de notícias, logo abaixo um ícone de nome “Últimas novidades”, com o Ultima visita ao site foi feita em 21/10/2013
72 73
Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. Disponível em: . Acessado em: 06. dez. 2013.
74 75
61 conteúdo da aba “Notícias”, em seguida “Deu na Imprensa”, “banco de imagens” e “Flickr”76, os dois últimos direcionando para o Flickr do MXVPS77. Ao lado direito existe a sessão para publicação de vídeos, além de pedido de doações, divulgação de documentos e assinatura de newsletter78. As primeiras publicações no site do MXVPS aconteceram em novembro de 2010 e seguem hoje. Essas publicações podem ser acessadas em sete abas disponíveis na parte superior do site, são elas: Ação, Notícias, Documentos, Deu na Imprensa, Compartilhe, Quem Somos e Contato, com exceção de Compartilhe. Na Tabela 1 são mostradas as abas, seguidas do total de publicações feitas na mesmas, o conteúdo das mesmas, bem como a data de publicação de cada conteúdo. Até a última visita79 foram feitas apenas 4 publicações na aba Ações que ocorreram entre agosto e novembro de 2011. Nesta categoria podemos observar dados referentes à campanhas online e offline, como ocupações, tuitaços, protestos, entre outros. A primeira postagem divulgada na aba foi em 25 de agosto de 2011 e tratase de um convite para “ato mundial em 140 caracteres” 80; Já Notícias é a principal aba do site do Xingu Vivo. A maioria 81 dos links disponíveis nas redes sociais direcionam para as 483 matérias divulgadas em quase três anos de atividade (08 de novembro de 2010 até 01 de outubro de 2013). A aba Documentos apresenta 69 arquivos, entre textos, pesquisas, ações judiciais, soluções e impactos ambientais e sociais. Todos publicados em um dia (14/10/2010).
Rede social de compartilhamento de fotografias do grupo yahoo. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2013. 77 Flickr do MXVPS disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 78 Recebimento de informações via email. 79 Em 06 dez. 2013. 80 Xingu Vivo. Protestos contra Belo Monte continuam com tuitaço. Xingu Vivo, 25 ago. 2011. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 81 Considerando apenas os que direcionam para o site do Xingu Vivo. 76
62 A aba “Deu na Imprensa” tratase de um clipping de 294 notícias divulgadas em outros veículos envolvendo Belo Monte, Xingu Vivo, Energia Hidrelétricas, entre outros.
Ilustração 2 Página inicial do site do MXVPS
Fonte: Prinscreen
Na tabela abaixo (Tabela 1) destacamos alguns dados relevantes sobre o conteúdo do site do MXVPS. O primeiro é a data de publicação dos arquivos presentes na Aba Documentos. Todos os 69 arquivos desta aba foram publicados em um mesmo dia (14/10/2010) e a aba nunca mais foi atualizada, demonstrando, assim, uma preocupação em divulgar naquele momento dados sobre a obra, em informar sobre a mesma. Isso acontece durante o que chamamos nesse trabalho de Momento Informativo (entrada nas redes até o início das obras – Junho de 2011).
63 Outro dado apontado na Tabela é a data de criação da aba Ação, 25/08/2011, menos de um mês após o início da obra. A mudança de contexto influenciou para que se passasse a dar mais importância para as ações tanto online quanto offline. Além disso, supõese que as pessoas já soubessem quem é MXVPS e o momento passa a ser então mostrar a que veio o Movimento. Chamamos esse momento, que pode ser representado muito bem pela criação da abas, de Momento das Ações. Este é o momento de articulação intensa nas redes de movimentos sociais e de fortalecimento do que Pereira (2011) chama de “internauta militante”. É possível perceber este tipo de relacionamento no site do MXVPS, especialmente com a criação de uma aba para que permite ao “internauta militante” acessar a página no Movimento e ter acesso direto e rápido sobre informações a respeito do que está acontecendo em relação às ações:
Para que estes internautas militantes eventuais sejam “seduzidos” a participar das ações de mobilização promovidas pelas entidades é necessário que exista uma ação volitiva dos mesmos, de forma tal que estejam dispostos a acessar as páginas das entidades e possam ver o que está acontecendo em termos de mobilização, ou que estejam vinculados a alguma lista de discussão ou lista de emails para que estejam informados sobre o que está a ocorrer. Tratase de uma rede informal onde as mensagens convocatórias das ações irão circular (PEREIRA, 2011, p. 16).
Apesar da importância de um canal voltado especificamente para divulgar ações, a aba deixou de ser abastecida em 16/10/2011, pouco tempo depois de sua criação, porém as chamadas para ações continuaram, sendo divulgadas em Notícias. Outro dado retirado do site que chama atenção é a primeira e a última matéria em Notícias. A primeira “Defendendo os rios da Amazônia”82, divulgada em 08/10/2010, é sobre o lançamento de um vídeo83 elaborado pelo MXVPS em parceria XINGU VIVO. Defendendo os rios da Amazônia. Xingu Vivo, 8 nov. 2010. Disponível em: . Acessado em: 6 dez. 2013. 83 Vídeo “Defendendo os rios da Amazônia”. Parte 1 disponível em: Acessado em 6 dez. 2013. Parte 2 disponível em: Acessado em 6 dez. 2013. 82
64 com as ONGs Amazon Watch e Internacional Rivers. O vídeo aborda biodiversidade do Xingu e busca informar sobre os até então possíveis danos que seriam provocados por Belo Monte. A última matéria de Notícias é “Trabalhadores em Belo Monte iniciam greve por reajuste”, é compartilhada do site Agência Brasil84 e foi divulgada no site do MXVPS em 26/11/2013. A matéria traz informações sobre a greve dos 27 mil trabalhadores que paralisaram 100% das obras em Belo Monte. Os mesmos reivindicavam aumento da cesta básica e reajuste salarial de 15%. A greve teve fim três dias depois, conforme matéria85 veiculada no Diário do Pará, porém, até a última visita86 ao site do MXVPS, nenhuma nota havia sido divulgada. Vale ressaltar a diferença de abordagem entre a primeira matéria e a última divulgada nos site do MXVPS. A primeira buscava conscientizar para os futuros danos provocados pela obra e a segunda explorava a insatisfação de trabalhadores do CCBM, demonstrando aqui a diferença entre o que chamamos de “Momento Informativo” e “Momento denunciativo”.
Site da Agência Brasil. Disponível em: Acessado em 6 dez. 2013. DIÁRIO DO PARÁ. Trabalhadores de Belo Monte põem fim à greve geral. Diário do Pará, Belém, 29 nov. 2013. Disponível em: Acesssado em 6. dez. 2013. 86 8 dez. 2013. 84 85
65 Tabela 1 Abas, total de publicações, podem ser observadas em relação às abas do site ABA
Total de Publicações
Conteúdo (primeiro e último)
Data de publicação
Ação
4
Protestos contra Belo Monte continuam com tuitaço87
25/08/2011
Ocupação em São Paulo contra Belo Monte88 Notícias
483
16/10/2011
Defendendo os rio da Amazônia89
08/10/2010
Trabalhadores em Belo Monte inciam greve por reajuste salarial.90
26/11/2013
Documentos
6991
Todos em 14/10/2010
Deu na imprensa
294
Altamira recebe evento conta Belo Monte em defesa do Xingu 92
10/10/2010
XINGU VIVO. Protestos contra Belo Monte continuam com tuitaço. Xingu Vivo, 25 ago. 2011. Disponível em: Acesso em: 6 dez. 2013. 88 XINGU VIVO. Ocupação em São Paulo Contra Belo Monte. Xingu Vivo, 16 out. 2011. Disponível em: Acessado em 6 dez. 2013. 89 XINGU VIVO. Defendendo os rios da Amazônia. Xingu Vivo, 8 out. 2010. Disponível em: Acessado em 6 dez. 2013. 87
XINGU VIVO. Trabalhadores iniciam greve por reajuste salarial. Xingu Vivo, 26 nov. 2011. Disponível em: Acesso em: 6 dez. 2013. 90
Os documentos são subdivididos em 26 questões jurídicas, 13 analise técnico cientificas, 5 impactos econômicos, 5 Impactos sociais, 10 Projetos, 1 cronologia, 4 soluções e alternativas, 1 Perguntas frequentes, 1 histórico e 3 impactos ambientais. 92 XINGU VIVO. Altamira recebe evento contra Belo Monte em defesa do Xingu. Xingu Vivo, 10 nov. 2010. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 91
66
Desmatamento pode reduzir a capacidade da usina de Belo Monte 93
14/05/2013
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Quem somos
1
Descrição do MXVPS
Sem data divulgada
Fonte: Dados colhidos do Site do MXVPS
XINGU VIVO. Desmatamento pode reduzir capacidade da usina de Belo Monte. Xingu Vivo, 14 mai. 2013. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 93
67 3 O CIBERATIVISMO DO MXVPS
Após as audiências publicas, realizadas em setembro de 2009, o MXVPS passa a utilizar a Internet e em janeiro de 2010 cria o Orkut, sua primeira rede social oficial, logo após veio o Twitter, também em janeiro, e em menos de um ano o MXVPS já possui perfil em todas as redes que dispõe atualmente. Com base nas informações coletadas no capítulo anterior, pudemos constatar que o MXVPS passou por várias mudanças de estratégias que podem ser observadas por meio de suas publicações. Atribuímos essa mudança ao que TARROW (1998 apud PEREIRA 2011) chama de “repertório de conflito”, que conforme o contexto político provocaria mudanças nos “repertórios de ações” dos movimentos sociais. Acreditamos que foi justamente isto que aconteceu com MXVPS. Em um primeiro momento era comum percebermos publicações voltadas para o convencimento. O MXVPS buscava informar sobre os impactos que as obra poderiam causar na região, divulgava pesquisas que mostravam a inviabilidade de Belo Monte, além de deixar a disposição uma equipe para tirar tirar dúvidas online. Durante este período, em todas as redes sociais do MXVPS, várias são as publicações que aparecem com esse caráter de convencimento, seja por meio de vídeos, fotos ou campanhas, porém, quanto mais próximo do início das obras, junho de 2011, aumenta o chamado para atos, passeatas, protestos, ações diretas, entre outros. Aumentam também o número de publicações relacionadas à ações online, tais como tuitaços94 e assinaturas de petições. Este momento também foi marcado pelas campanhas, como o “Gota D'água”95, no qual atores globais gravaram um vídeo dizendo por que são contra Belo Monte, e o “Belo Monte com meu dinheiro não”, que O MXVPS chamou vários Tuitaços online, entre as hashtags mais utilizadas e divulgadas pelo MXVPS estão #parebelomonte e #belomontenao 95 Apesar da campanha não ter sido puxada pelo MXVPS teve grande divulgação nas redes sociais no mesmo. Site da campanha disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2013. 94
68 chamava os correntistas para enviar emails para seus bancos dizendo que não queriam a construção da hidrelétrica. Após esse período, aproximadamente depois do Xingu + 23, encontro realizado em Altamira, paralelo ao Rio+20, as matérias e postagens passaram a ter um teor mais denunciativo. Eram comuns postagens abordando os impactos da obra na região, como exploração sexual, tráfico de drogas e mais recente o desmoronamento de um aterro construído pela Norte Energia em uma vila com 60 moradores no Bairro da Liberdade. Para mostrar todos esses três momentos do MXVPS na WEB, traremos nos tópicos seguintes matérias e vídeos, publicações nas redes sociais e campanhas utilizadas em cada momento. Acreditamos que desta forma podemos ter uma visão geral do reflexo que as mudanças de contexto provaram nas estratégias do MXVPS.
3.1 MOMENTO I: O PERFIL INFORMATIVO DO MOVIMENTO (DA ENTRADA NAS REDES AO INÍCIO DAS OBRAS)
Logo após as audiências públicas, o MXVPS cria o Orkut. Nesta rede social, poucas são as interações por parte do Movimento. O que podemos verificar são recados de “amigos” apoiando a causa. Os primeiros recados aparecem entre janeiro e abril de 2010 e são de boas vindas. É importante ressaltar a distância entre um recado e outro, o que mostra a pouca influência que o MXVPS tinha nesta rede social. Nas ilustrações 3 e 4 podemos observar alguns desses recados.
Ilustração 3 Mensagens de apoio no Orkut
69
Fonte: Printscreen feito em 09/10/2013.
Em relação ao MXVPS, o que podemos observar em suas publicações no Orkut neste primeiro momento é a presença de perguntas que o Movimento fazia para seus amigos por meio de postagens. Abaixo, duas perguntas feitas pelo MXVPS no Orkut, ambas divulgadas no mesmo dia (29/10/2010): 1) O que justifica prejudicar 40 mil pessoas sob o pretexto de que esse é o preço pago pelo desenvolvimento do país? 2) Porque construir com bilhões em recursos públicos uma usina que produzirá 39% de capacidade instalada?
As perguntas obtiveram algumas respostas dos “amigos” presentes no seu Orkut, que responderam:
Grana!Se fosse a seca do nordeste nao tinha muito politico preocupado nao. Basta ver a miséria do povo nordestino a anos na politica do
70 nordeste. Eu acho que os politicos nao estao fazendo favor nenhum (sic.) (Usuário sem identificação). Pois é um pais que tem tantas coisas importantes para ser feita na área social. Isto prova que o governo tem dinheiro né. A prova é tanta que faria a barragem de belo monte sozinho caso as empresas não entrassem no consórcio (sic). (Usuária: Lua Barroso)
Outra característica que nos chamou a atenção foi a sessão “Sobre o Xingu Vivo” no Orkut, que é destinada para apresentação do Movimento. Nesta área, ao invés de se apresentar, o MXVPS diz o porquê é contra a construção de Belo Monte, como podemos observar no seguinte trecho: O Complexo Hidrelétrico de Belo Monte pode vir a ser um dos maiores desastres sociais e ambientais da história da Amazônia. Se construído, vai desviar e secar o Rio Xingu em um trecho de 100 quilômetros, conhecido como a Volta Grande, deixando o rio seco e milhares de indígenas, ribeirinhos, populações extrativistas e agricultores familiares sem água, peixe e meios de transporte. Além disso, vai inundar uma área de 668 quilômetros quadrados, inclusive parte da cidade de Altamira96.
Atribuímos tanto as perguntas quanto a apresentação no “Sobre o Xingu Vivo” à essa primeira fase do MXVPS na internet, que busca por meio de diversas maneiras informar para conquistar apoiadores. O que podemos observar é que o MXVPS traz uma “contra informação” do que era veiculado pelos grandes veículos de comunicação, empresa e governo federal sobre a construção da hidrelétrica, que dizia que a usina beneficiaria a população brasileira, não atingia indígenas e só traria benefícios para a população atingida. Sobre esse poder que a internet pode proporcionar para os movimentos sociais repercutirem de alguma forma na esfera pública PEREIRA (2011) descreve:
Os movimentos sociais, compreendidos aqui como caixas de ressonância das esferas sociais, são capazes de trazer para a esfera pública questões Descrição de “Sobre o Xingu Vivo” no Orkut. Disponível . Acesso em: 10 dez. 2013. 96
em:
71 que até então estavam silenciadas. A internet oferece o espaço para que estas questões sejam tematizadas, articuladas e publicizadas, tornando assim possível a inclusão, através da produção e distribuição de informações daqueles que até então encontravamse inexistentes (PEREIRA, 2011, p. 7).
Essas características podem ser observadas também nas outras redes sociais do MXVPS. No, Twitter, por exemplo, criado no mesmo mês do Orkut, as publicações com frequência traziam links de pesquisa, informações sobre Belo Monte como podemos ver nos tuitaços disponíveis nas Ilustrações 4, 5 e 6.
Ilustração 4 – Tweet sobre documentos para dúvidas sobre Belo Monte
Fonte: Printscreen Twitter
Ilustração 5 Tweet sobre o custo da eliminação da miséria
Fonte: Printscreen Twitter
72 Ilustração 6 Tweet comparativo entre energia eólica e hidrelétrica
Fonte: Printscreen Twitter
Este caráter informativo foi predominante em todas as redes sociais. No facebook, além de links, o MXVPS deixava também uma equipe online para tirar dúvidas sobre Belo Monte (Ilustração XX), e no site as primeiras matérias também tinha esta caraterística, como os texto “Xingu, um símbolo da diversidade biológica e cultural brasileira” 97 e divulgado em 14/10/2010. Segue um trecho do texto:
Ao longo de seus 2,7 mil quilômetros, o Rio Xingu corta o nordeste do Mato Grosso e atravessa o Pará até desembocar no rio Amazonas, formando uma bacia hidrográfica de 51,1 milhões de hectares (o dobro do território do Estado de São Paulo) que abriga trechos ainda preservados do Cerrado, da Floresta Amazônica e áreas de transição. A Bacia do Rio Xingu é única no planeta: mais da metade de seu território é formada por áreas protegidas. São 27 milhões de hectares de alta prioridade para a conservação da biodiversidade, abrigando 30 Terras Indígenas e 12 Unidades de Conservação98.
É importante notar neste período a importância que o MXVPS dá para a questão ambiental da construção de Belo Monte, pois em várias publicações é recorrente esse tipo de argumentação. Nos itens 3.1.1 e 3.1.2 nos aprofundamos em duas ações realizadas pelo MXVPS durante este período, a primeira é o ChatXingu, batepapo sobre a obra com estudiosos, e a segunda é o vídeo “Defendendo os rios da Amazônia”, pois acreditamos que ambas demonstram bem esse primeiro momento do MXVPS na Web.
XINGU VIVO. Em defesa do Xingu. Xingu Vivo, 12 out. 2010. Disponível em: . Acessado em 6. dez. 2013. 98 Xingu Vivo, Ibid., 2010. 97
73 Ilustração 7 – MXVPS tira dúvidas online no facebook
Fonte: Prinscreen
3.1.1 Chat Xingu: “Tire suas dúvidas online”.
Dentro deste primeiro momento do MXVPS na WEB optamos por nos aprofundarmos em um estratégia que marca bem esta postura de busca de apoiadores do MXVPS. Uma das primeiras ações do MXVPS na web foi a realização do ChatXingu. O chat tinha como caraterística principal disponibilizar pessoas especializadas em diversas áreas para falar sobre irregularidades e até então possíveis impactos da obra. Em menos de um mês foram realizados 3 chats não periódicos com uma hora de duração cada, no qual os internautas poderiam entrevistar os convidados por meio do twitter, facebook e pelo site do MXVPS. A inauguração aconteceu em 05 de novembro de 2010 com Felício Pontes, procurador do Ministério Público Federal e um dos principais responsáveis pelas primeiras ações do MPF contra a Belo Monte, que vem ocorrendo desde 2001. O convidado para o segundo ChatXingu foi Arsenio Oswaldo Sevá Filho, professor de doutorado em Antropologia Social e Ciências Sociais na Unicamp e um
74 dos colaboradores do Painel de Especialistas 99, documento elaborado por 26 especialistas responsáveis pela análise critica do EIA de Belo Monte. O ultimo chat foi em 23 de dezembro de 2010 e contou com a presença de Brent Milikan, geógrafo e diretor do Programa Amazônia da ONG International Rivers, e Telma Monteiro, ativista e pesquisadora especialista em projetos infraestruturais na Amazônia. Ambos os convidados divulgaram no chat o documento Megaprojeto, Megariscos – Análise de Riscos para Investidores no Complexo Hidrelétrico Belo Monte100, elaborado pelas ONGs Amigos da Terra, Amazônia Brasileira e International Rivers com o objetivo principal de traçar os ricos de Belo Monte e mostrar para os possíveis investidores o prejuízo financeiro da obra.
Ilustração 8 Divulgação do Chat Xingu Vivo no site
Fonte: Printscreen do site (05/10/2010)
Disponível em: < http://www.socioambiental.org/banco_imagens/pdfs/Belo_Monte_Painel_especialistas_EIA.pdf> Acesso em: 10 dez. 2013. 100 AMIGOS DA TERRA; AMAZÔNIA BRASILEIRA; INTERNATIONAL RIVER. Megaprojeto, Megariscos – Análise de Riscos para Investidores no Complexo Hidrelétrico Belo Monte. 19 jan. 2011. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 99
75 3.1.2 “Defendendo os Rios da Amazônia”: A diversidade do Xingu em vídeos e mapas 3D. Durante este primeiro momento um vídeo se tornou bastante popular nas redes sociais do MXVPS e durante muito tempo foi utilizado para mostrar a posição do MXVPS em relação à Belo Monte. para divulgar es, o perfil torna público o vídeo “Defendendo os Rios da Amazônia”101, produzido em mapas 3D disponíveis no Google Maps. O vídeo foi feito pelo MXVPS em parceira com as ONGs International Rivers e Amazon Watch, duas principais parceiras do MXVPS até a atualidade. O vídeo é dividido em duas partes com cerca de 6 minutos cada e foi carregado no Youtube em 14/09/2009, um dia antes da audiência pública realizada Belém, pelo perfil de Andre Deak102. O vídeo é narrado pela atriz Dira Paes e logo de início traz informações sobre as espécies de peixes, mamíferos e répteis que podem desaparecer com a obra, além do surto de malária que pode ocorrer na região, devido aos lagos provocados pela obra. Além de denunciar que a energia gerada por Belo Monte não iria beneficiar a população e sim a indústria mineral103 que se consolidaria próximo à usina. Parte 1 disponíivel em: https://www.youtube.com/watch?v=4k0X1bHjf3E e parte 2 em: https://www.youtube.com/watch?v=JcCpFBroLc 101
Produtor de jornalismo multimídia que trabalha há mais de 10 anos com projetos envolvendo jornalismo e comunicação na internet. Já foi repórter da Rolling Stone, Carta Capital, Caros Amigos, entre outras, além de coorganizador do livro Vozes da Democracia (2006), idealizado pela ONG Intervozes. Já ganhou o prêmio Vladimir Herzog 2008, categoria internet e foi indicado em 2012 ao Best Blog Awards, da Deustchewelle. É Mestre pela ECAUSP na área teoria da comunicação e atualmente é Professor na ESPM e na pósgraduação da Faap. O carregamento do vídeo por meio de seu canal no youtube, mostra que o produtor provavelmente pode ter sido um dos executores do projeto “Defendendo os Rios da Amazônia”, por mais que o mesmo não apareça em seu portfólio, disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2013. 102
Em 2011 a empresa canadense Belo Sun se reivindicou dona de área que terá razão reduzida com a construção da hidrelétrica. A empresa prometia instalar o maior projeto de mineração de ouro do Brasil bem próximo à usina de Belo Monte, uma mina à céu aberto a 10 km da TI Paquiçamba e Arara da Volta grande, além de uma área próxima à terras de índios isolados. Apesar de ainda não possuir parecer conclusivo da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), em menos de dois anos a empresa já possui "minuta de Licença Prévia", concedida pela Secretaria de Meio Ambiente (SEMA). INSTITUTO SOCIO AMBIENTAL, Projeto de mineração ao lado de Belo Monte está prestes a receber licença ambiental. ISA, 12 jul. 2013. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. Neste link pode ser acompanhado 103
76 As duas partes do vídeo “Defendendo os Rios da Amazônia” tiveram cerca de 200 mil visualizações. Número considerável, já que se somarmos as visualizações dos 30 vídeos do canal TV Belo Monte104,os mesmos somam apenas 37.155 mil.
3.2 MOMENTO II: A CHAMADA PARA AÇÂO (DO INÍCIO DAS OBRAS ATÈ O XINGU+23).
Até o início das obras, várias são as publicações que aparecem com esse caráter de convencimento exposto no tópico anterior, porém, quanto mais próximo de junho de 2011, quando começa a terraplenagem no primeiro canteiro de obra, aumenta o chamado para atos, passeatas, protestos, ações diretas, entre outros. Aumentam também o número de publicações relacionadas à ações online, tais como tuitaços 105 e assinaturas de petições. Este momento também foi marcado pelas campanhas, como o “Gota D'água”106, no qual atores globais gravaram um vídeo dizendo por que são contra Belo Monte e pedindo assinaturas para o travamento da obra, e o “Belo Monte com meu dinheiro não”, que chamava os correntistas para enviar emails para seus bancos dizendo que não queriam a construção da hidrelétrica. Nas Ilustrações 9 e 10 abaixo podemos observar essa nova estratégia adotada pelo MXVPS em várias datas e redes sociais diferentes.
o processo de licenciamento da Belo Sun. Disponível em: < http://monitoramento.sema.pa.gov.br/simlam/VisualizarProcesso.aspx? UrlRetorno=ListarProcessos.aspx&id=65500> Acesso em: 10 dez. 2013. 104 Canal criado pelo Consorcio Construtor Belo Monte para criar divulgar informações favoráveis à obra. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013.
O MXVPS chamou vários Tuitaços online, entre as hashtags mais utilizadas e divulgadas pelo MXVPS estão #parebelomonte e #belomontenao 106 Apesar da campanha não ter sido puxada pelo MXVPS teve grande divulgação nas redes sociais no mesmo. Site disponível em: . Acessado em 6. dez. 2013. 105
77 Ilustração 9 – Tweets mostram segunda fase do XMVPS na Web.
Fonte: Printscrenn Twitter
Ilustração 10 – Publicações no Facebook sobre atos
Fonte: Printscreen página do MXVPS no facebook
78 Além das redes sociais, no site do MXVPS foi criada uma página somente para divulgar este tipo de ação. A aba “Ação” foi criada em 25/08/2011 e esteve ativa até 16/10/2011. Depois deste período as informações relacionadas à ações passaram a ser publicadas unicamente na aba “notícias”, mostrando assim uma preocupação pontual e imediata de se investir mais nesse tipo de estratégia. Durante este período outra estratégia que prevaleceu foram as campanhas realizadas pelo MXVPS. Nos tópicos seguintes analisamos algumas delas.
3.2.1 Ato Mundial Em 140 Caracteres
Um das primeiras ações depois do início das obras foi a organização de um tuitaço contra Belo Monte intitulado “Ato Mundial em 140 caracteres”. O mesmo foi realizado em 25 de agosto de 2011 e tinha como objetivo divulgar os atos presenciais que iriam acontecer em várias cidades do Brasil, além de fazer com que os não presentes nas manifestações offline pudessem também dizer que não queriam a construção da hidrelétrica. O evento107 criado no facebook que chamava para o tuitaço tinha a seguinte descrição:
Você, que também é contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu; que também é contra a remoção de indígenas e ribeirinhos; que é contra a extinção de centenas de espécies de animais e plantas; que é a favor da biodiversidade do rio Xingu, está convocado a TWEETAR contra todo este absurdo! Vamos mostrar que o povo sabe o que está acontecendo e é contra! Vamos colocar esse protesto nos Tts!108.
Vale notar a diferença entre este tipo de descrição e a “Quem sou eu” no Orkut do MXVPS. A primeira falava sobre os impactos e mostrava dados, nesta o chamado é Evento “Tuitaço contra a construção de Belo Monte. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2013. 108 Descrição do evento “Tuitaço Contra Belo Monte”. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2013. 107
79 bem mais direto, supõese que as pessoas já tem informações sobre Belo Monte e é justamente para estas pessoas que o evento é direcionado. Para as que já sabem que não querem a construção da usina, daí o caráter mais impositivo e direto da descrição. O tuitaço foi amplamente divulgado em todas as redes sociais do MXVPS, abaixo (Ilustração 11), um banner virtual utilizado para divulgar a ação.
Ilustração 11 – Banner virtual do tuitaço contra Belo Monte
Fonte: Página do MXVPS no Facebook (agosto, 2011).
Para participar do tuitaço a pessoa deveria possuir twitter, pois até junho de 2013109 o facebook ainda não tinha aderido à função hashtag. Além disso, deveria escrever alguma mensagem durante o dia 25/08/2011, de 8 às 23h, utilizando a hashtag #BeloMonteNão e #PareBeloMonte. O MXVPS também disponibilizava algumas imagens para serem agregadas às mensagens durante o tuitaço (Ilustração 12, 13 e 14). As imagens continham personagens de filmes e desenhos, G1. Facebook incorpora na rede social 'hashtag', símbolo do Twitter. G1: São Paulo, 12 jun. 2013. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 109
80 artistas e ativistas, como Harry Potter, Senhor dos Anéis, Avatar, Rita Lee, Kurt Cobain e Chico Mendes.
Ilustração 12 – Banner de Rita Lee usado em tuitaço
Fonte: Página do MXVPS no
Fonte: Facebook (agosto, 2011).
Ilustração 13 – Banner de Chico Mendes utilizado em tuitaço
Fonte: Evento no facebook criado para divulgar tuitaço (agosto, 2011).
81
Ilustração 14 – Banner de Harry Potter no tuitaço
Fonte: Evento no facebook criado para divulgar tuitaço (agosto, 2011).
A divulgação teve repercussão, sendo apoiada por artistas, políticos e até revistas, como Caros Amigos, Sérgio Marone, Heloisa Helena. Apesar de toda mobilização empreendida, segundo uma matéria divulgada no site do MXVPS logo após o tuitaço, a hashtag #PareBeloMonte teve cerca de 10 mil menções no Twitter, porém não chegou aos Trend Topics (TTs). Segundo alguns usuários, pode ter ocorrido um possível boicote à hashtag, a seguir algumas mensagens reivindicando a ausência do MXVPS dos Trend Topics:
82 @spascamA hastag #PareBeloMonte não está sendo computada pelo twitter, muito poucas apareceram, alguém esclarece o pq? @MemeliaMoreira ô twitter, o que é que vocês fizeram com nosso #parebelomonte? Nós continuaremos nossa resistência #parebelomonte @ecologista1 Dureza ver Jânio Quadros nos Top Trends e o tuitaço #PareBeloMonte e # BeloMonteNao censurado. Cada vez menos dá p/ confiar no twitter110.
Segundo a blogueira Aldrey Riechel que criou o blog Pare Belo Monte TT 111 para monitorar a hashtag, #parebelomonte teve consideravelmente mais menções quando comparada à outras que aconteciam simultaneamente, como #DiadoMiojo e #JanioQuadros. Apesar de causar estranheza a acusação de uma rede social censurar protestos online, segundo alguns social media o fato não é só possível como existe registro de outros casos, como o MegaTuitaço Contra Ricardo Teixeira112, que obteve 25 mil mensagens em 14 horas de duração, chegando aos TT's mundial, foi misteriosamente retirado do ar. Segundo o serviço online do Twitter, a tag foi retirada devido aos prováveis spams detectados, que ocorreriam quando um mesmo usuário publicava utiliza várias vezes a mesma hashtag em apenas um tweet. Outro caso parecido foi a utilização da hashtag #flotilla para falar de um ataque à um barco de ajuda humanitária que seguia para a Faixa de Gaza. A tag pouco tempo depois que chegou aos TTs desapareceu da lista, fazendo com que os usuários criassem outra a #freedomflotilla que rapidamente emergiu da mesma forma. Segundo matéria113 do
110
Tweets de usuários em 25/08/2011 durante Tuitaço.
Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2013.
111
LANCENET. “Censurado” Mega twittaço contra Ricardo Teixeira atinge o topo no Brasil. Lancenet: Rio de Janeiro, 17 jul. 2011. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2013. 113 IDGNow. Desaparecimento de hashtag levanta suspeita de censura no Twitter. IDGNow, 1 jun. 2010. Disponível em: < http://idgnow.uol.com.br/internet/2010/06/01/desaparecimentodehashtaglevantasuspeitadecensur anotwitter/> Acesso em: 10 dez. 2013. 112
83 UOL sobre o caso, Sean Garrett, portavoz do Twitter, disse que o microblog iria investigar o erro. Polêmicas a parte, a hashtag #ParebeloMonte obteve vários tweets, uns repudiando à construção da usina, outros apoiando o MXVPS. O sucesso da hashtag foi tanto que até a atualidade ela ainda é utilizada em vários tweets.
3.2.2 “Belo Monte com meu dinheiro não”: O apelo aos bancos financiadores
Outra campanha que se destacou durante este período, foi a “Belo Monte com meu dinheiro Não”, que tinha tinha como objetivo articular apoiadores para contactar os bancos por meio de email, mensagens no Facebook e tweets para que os mesmo não financiassem Belo Monte. A campanha foi lançada oficialmente em 08/01/2012, porém, desde o ano anterior já existiam postagens com esse tema. Agosto de 2011 foi a primeira vez que a frase apareceu no site do MXVPS em uma notícia114, a mesma dizia que a equipe de comunicação do MXVPS estava disponibilizando um arquivo (Ilustração 15) para que fosse impresso e utilizado nas marchas. Após isso, em dezembro do mesmo ano, alguns banners virtuais começam a ser divulgados no facebook. Foram divulgados 5 banners que foram responsáveis por quase 50% do total de compartilhamentos (781 de 1743) obtidos pela página no mês de dezembro de 2011. Abaixo (Ilustração 16 e 17) segue três deles.
XINGU VIVO. Cartazes, panfletos e banner para os grandes protestos. Xingu Vivo, 18 ago. 2011. Disponível em: < http://www.xinguvivo.org.br/2011/08/18/cartazespanfletosebannerparaosgrandesprotestos> Acesso em: 10 dez. 2013. 114
84
Ilustração 15 – Banner da Campanha “Belo Monte Com Meu dinheiro Não” para marchas
Fonte: Site do MXVPS (2011)
Ilustração 16 – Banner “Belo Monte com Meu dinheiro Não” I
Fonte: Página do MXVPS no Facebook (dezembro de 2011)
85 Ilustração 17 Banner “Belo Monte com meu dinheiro não” II
Fonte: Página do MXVPS no Facebook (dezembro de 2011)
Ilustração 18 – Banner “Belo Monte com meu dinheiro não” Itaú
Fonte: Página do MXVPS no Facebook (dezembro de 2011)
86 Segundo matéria115 divulgada no site do MXVPS, centenas de correntistas enviaram mensagens a seus bancos. O Resultado foi que o Itaú respondeu em sua rede social no facebook aos correntistas que não tinha planos de fazer empréstimo ao Consórcio Construtor de Belo Monte e nenhum banco privado (apenas a Caixa Econômica) cedeu fundos para a construção da hidrelétrica durante todo ano de 2012, mesmo assim as obras seguem cada vez mais aceleradas com os empréstimos cedidos pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES).
3.3 MOMENTO II: DENUNCIAS DE IMPACTOS E O FUTURO INCERTO DAS MOBILIZAÇÕES (DO XINGU+23 ATÉ A ATUALIDADE).
Em meados de junho de 2012 aconteceu em Altamira o Xingu+23, encontro organizado pelo MXVPS em paralelo à Rio+20 que tinha como objetivo relembrar o I Encontro do Povos Indígenas em Altamira, 23 anos antes. O Xingu+23 acorreu de 13 a 16 de junho na Vila Santo Antônio, diretamente impactada por Belo Monte e localizada bem em frente a um dos canteiros, de onde podiase ouvir o maquinário e as explosões provocadas pela obra. O encontro reuniu cerca de 300 pessoas, entre ribeirinhos, agricultores, pescadores, ativistas e indígenas dos povos Juruna, Xikrin, Kayapó e Xipaya próximos da região, os Munduruku, das bacias dos rios Teles Pires e Tapajós e os Tembé da região de Belém. Um ampla campanha de divulgação que contava com site116, arrecadação financeira virtual117 e a música “Um Sonho” de Gilberto Gil, cedida 118 pelo cantor para ser utilizada durante a campanha préXingu+23 reforçava a marca decisiva do
XINGU VIVO. Xingu Vivo 2012: olhando para trás. E para frente. Xingu Vivo, 10 dez. 2012. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 116 Site do Xingu+23. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 117 Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 118 Conforme matéria disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 115
87 encontro para o MXVPS. Tal carga depositada pôde ser percebida tanto antes do Xingu+23, com a divulgação, quanto durante e depois do mesmo. Ao longo dos quatro dias foram feitas várias ações, cujas imagens ganharam o mundo por meio do Xingu Vivo. Portais do Brasil e do mundo (ORM 119, G1120, Repórter Brasil121, Correio Braziliense122, The Gardian123, entre outros) noticiaram as ações, realizadas diretamente em um dos canteiros da obra, Pimental. Durante o encontro, duas ações se destacaram na cobertura online do MXVPS. A primeira aconteceu no canteiro de obras Pimental, onde os participantes abriram uma fenda nas ensecadeiras para que o fluxo do rio voltasse a acontecer (Fotografia 3), plantaram de 500 pés de açaí nas áreas devastadas pela hidrelétrica (Fotografia 4) e, utilizando a técnica de “banner humano”, deitaram no chão e escreveram com seus próprios corpos a frase: “Pare Belo Monte” (Fotografia 5).
ORM. Galeria de imagens das atividades no Xingu+23 em Altamira. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2013. 120 G1. Xingu+23 debate os impactos sociais e ambientais da usina de Belo Monte. G1: Pará, 14 jun. 2012. Disponível em: < http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2012/06/xingu23debateosimpactossociaiseambientaisdausin adebelomonte.html > Acesso em: 10 dez. 2013. 121 REPORTER BRASIL. ONGS denunciam à ONU perseguição da polícia a manifestantes contra Belo Monte. Repórter Brasil, 18 jun. 2012. Disponível em: < http://reporterbrasil.org.br/2012/06/ongsdenunciamaonuperseguicaodapoliciaamanifestantesco ntrabelomonte/> Acesso em: 10 dez. 2013 122 CORREIO BRAZILIENSE. Indígenas e ecologistas ocupam represa da usina de Belo Monte, na Amazônia. Correio Braziliense: Rio de Janeiro, 15 jun. 2012. Disponível em: < http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2012/06/15/interna_brasil,307555/indigenase ecologistasocupamrepresadausinadebelomontenaamazonia.shtml> Acesso em: 10 dez. 2013. 123 SIEGLE, Lucy. Ethical living: it is right to give a dam?. The Guardian, 22 jul. 2013. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 119
88 Fotografia 3 – Manifestantes no Xingu+23 reabrem fluxo do Xingu
Fonte: Site do MXVPS
Fotografia 4 – Índios e manifestantes plantam pés de açaí em áreas devastadas por Belo Monte
Fonte: Site do MXVPS
89 Fotografia 5 – Intervenção “Pare Belo Monte” na ensecadeira Pimental
Fonte: Site do MXVPS
A segunda manifestação culminou na destruição de alguns escritórios do CCBM em outro canteiro, Belo Monte. A ação foi conduzida por alguns participantes do evento, dentre os quais não havia nenhum membro do MXVPS, que mesmo assim foi criminalizado com o indiciamento de 11 lideranças ligadas ao referido movimento. Somente no site do MXVPS foram feitas 24 publicações sobre o Xingu+23 em menos de um mês124, mostrando a frequência com que o MXVPS abordava o encontro. O objetivo de conseguir a visibilidade mundial voltada para Belo Monte durante o Rio+20 foi alcançado, mas, apesar de toda mobilização empreendida antes e durante o encontro, a construção da obra continuou. Após o encontro, sob ameaça de morte, o jornalista que trabalhava para o MXVPS deixou a região. O resultado foi uma mudança no conteúdo veiculado nos canais de comunicação do MXVPS que adotaram cada vez mais o caráter de denuncia dos impactos provocados pela obra e o aumento de conteúdos 124
De 16 mai. 2012 a 16 jun. 2012. 2012.
90 compartilhados de atores da Rede do MXVPS. Outra característica observada foi o destaque dado à cobertura de greves e ocupações125, as quais tornamse cada vez mais frequentes, e a divulgação maior de assuntos envolvendo causas afins, como as hidrelétricas em Teles Pires e São Luiz do Tapajós, ambas no Pará.
3.3.1 Os atos e mobilizações: O perfil denunciativo do MXVPS na cobertura de ações offline.
Optamos por analisar as coberturas das greves e ocupações ocorridas em Belo Monte devido ao grande trabalho de cobertura empreendido pelo Movimento durante as referidas manifestações. Porém, vale destacar, que assim como o perfil denunciativo adotado pelo Movimento não é estático, as manifestações também não começaram a aconteceram exatamente após o Xingu+23. Desde o início das obras de construção da UHE Belo Monte (junho de 2011), ocorreram inúmeros atos e mobilizações nos municípios afetados pela usina, especialmente em Altamira, por ser a principal cidade da região e sede dos escritórios da CCBM, Norte Energia e diversos órgãos governamentais (IBAMA, A primeira grande ocupação do canteiro aconteceu em outubro de 2011, durante o Seminário Mundial Contra Belo Monte, organizado pelo Comitê Metropolitano com o apoio do MXVPS, onde centenas de pessoas, entre ribeirinhos, indígenas, atingidos, ambientalistas e pessoas da sociedade civil se reuniram de 25 a 27 de outubro e pensaram estratégias para travar o desenvolvimento da obra. Após o evento, tornouse recorrente a ocupação dos canteiros, à exemplo: Greve dos trabalhadores em novembro de 2011. G1. Milhares de trabalhadores paralisam obras de sítio da Usina de Belo Monte. G1: Pará, 11 nov. 2013. Disponível em: < (http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2013/11/milharesdetrabalhadoresparalisamobrasdesitiodau sinadebelomonte.html)> Acesso em: 10 dez. 2013.; Ocupação de pescadores e indígenas em outubro de 2012. Articulação inédita de indígenas e pescadores promove nova ocupação de Belo Monte. Xingu Vivo, 9 out. 2012. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013.; e a ocupação dos Munduruku em maio de 2013. RODRIGUES, Alex. Índios que ocupam Belo Monte dizem estar cansados de esperar governo para negociar. Agência Brasil: 18 mai. 2013. Disponível em: < (http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/20130528/indiosqueocupambelomontedizemestarcansad osdeesperargovernoparanegociar>. Acesso em: 10 dez. 2013. 125
91 INCRA, FUNAI, etc.). As manifestações tiveram participação de distintas organizações, movimentos e atores sociais, contando também com temáticas e demandas diversificadas. Alguns exemplos dessa diversidade são a luta pela paralisação da obra por ser considerada inviável ambientalmente e socialmente; a exigência de cumprimento das condicionantes impostas pelo IBAMA durante o processo de licenciamento; a reivindicação de melhorias salariais e de condições de trabalho por parte dos trabalhadores da obra; o protesto contra o deslocamento compulsório a que comunidades e bairros foram sujeitos e a busca por indenizações mais “justas”. A maior parte desses atos e mobilizações não foram organizados pelo MXVPS, o que não excluía o apoio e participação na maioria deles. O site e os perfis do movimento em redes sociais atuaram na divulgação e informação sobre o que ocorria nesses processos de mobilização, demonstrando o recorte e a visão do MXVPS sobre os acontecimentos. Neste item, abordamos alguns exemplos de mobilizações que receberam divulgações de destaque pelos veículos de comunicação do MXVPS. Além de analisarmos como se deu a cobertura das mesmas. As diversas greves e paralisações de trabalhadores da usina ocorridas entre os anos de 2011 e 2013 são essenciais para uma análise das estratégias de comunicação do MXVPS em relação às mobilizações. Algumas dessas greves foram acompanhadas pelo jornalista do MXVPS, que fez em seus textos uma série de denúncias contra a CCBM, Norte Energia, Força Nacional e Polícia Militar do Pará. Essa cobertura com viés crítico às empresas construtoras, fez com que o referido jornalista fosse processado inúmeras vezes, sendo acusado inclusive de ter liderado algumas paralisações e greves. Um destes processos resultou em uma proibição expressa de que o jornalista se aproximasse de qualquer canteiro de construção da usina, o que também foi denunciado pelo MXVPS.
92 Logo na primeira greve (novembro de 2011), a cobertura do MXVPS foi intensa e destacou denúncias sobre práticas que se repetiriam nas outras greves e que pouco reverberaram nos grandes meios de comunicação e em diversas instâncias governamentais e do judiciário. Dentre as quais destacamos: a demissão em massa dos trabalhadores que participaram de cada greve; a relação próxima entre a Força Nacional, Polícia Militar do Pará e Norte Energia, que segundo o MXVPS atuavam apenas na repressão aos grevistas sob ordens diretas da Norte Energia, funcionando desta forma como “empresas privadas de segurança” para o empreendimento, o que seria simbolizado por diversas fotos tiradas pelo MXVPS e que retratavam o logo da Norte Energia nos veículos policiais; como consequência dessas demissões em massa realizadas em cada greve e da relação “promíscua” entre os empreendedores e as forças de segurança do Estado, a cobertura jornalística do MXVPS fez uma de suas principais denúncias, a qual foi a acusação de que a Força Nacional e a Polícia Militar do Pará levavam compulsoriamente os trabalhadores demitidos até a fronteira do Maranhão, para evitar que os mesmos reivindicassem seus direitos ou participassem de manifestações contra Belo Monte no município de Altamira. As inúmeras ocupações que ocorreram nos canteiros de obra de Belo Monte também receberam grande destaque na cobertura jornalística e divulgação de informações por parte do MXVPS. Dentre essas ocupações, destacamos quatro delas ocorridas entre os anos de 2011 e 2013: a primeira ocupação a um canteiro de Belo Monte, ocorrida em outubro de 2011 como consequência de um evento organizado pelo Comitê Metropolitano Xingu Vivo Para Sempre, a qual durou um dia e contou com a participação de indígenas de diversas etnias e locais (dos estados do Pará, Tocantins e Mato Grosso), pescadores e estudantes; a segunda ocupação que destacamos foi a mais longa (21 dias) e contou com a participação exclusivamente de indígenas da região (Volta Grande do Xingu e “Rota Iriri”), ocorrida em julho de 2012; a terceira ocupação ocorreu em outubro de 2012, contando com a participação de pescadores das proximidades de Altamira e indígenas da chamada “Rota Iriri”; a
93 quarta ocupação a ser destacada, ocorreu em maio de 2013 e teve a peculiaridade de ter sido liderada pelos indígenas da etnia Munduruku, os quais são moradores da Bacia do Tapajós e cujo foco de suas exigências eram sua oposição aos projetos de construção do Complexo Hidrelétrico do Tapajós.
3.3.2 A denúncia dos impactos: restabelecendo as bases e ampliando as lutas.
No ultimo dia do Xingu+23, o escritório do Consórcio Construtor Belo Monte foi quebrado por indígenas e alguns participantes. O CCBM responsabilizou unicamente os integrantes do MXVPS. Em nota, o Movimento respondeu à acusação alegando que os verdadeiros culpados pelas mazelas em Altamira era o Governo Federal e o CCBM e que a acusação era uma tentativa de criminalização do movimente visando desmoralizar o MXVPS perante a população de Altamira. Abaixo segue trecho da nota divulgada pelo MXVPS na qual o movimento afirma que os afetados por Belo Monte não são criminosos e exige que as perdas dos mesmos sejam reparadas: A despeito de serem a empresa e o governo os vetores de toda a violência que explodiu na região desde o início das obras da hidrelétrica, o Consórcio e as forças repressivas da polícia reforçaram o processo de criminalização, e agora 11 participantes do Xingu +23 – entre eles um padre que rezou uma missa e abençoou o encontro, um pescador que teve sua casa destruída pelo Consórcio poucos dias antes, e um documentarista que apenas o registrou , estão sendo investigados e indiciados como criminosos (...)Exigimos a imediata anulação de todos os processos de criminalização da população do Xingu e seus apoiadores. Exigimos que suas perdas econômicas, morais, culturais e espirituais sejam reparadas. Exigimos que a população brasileira tenha o direito de decidir sobre a construção de projetos de grande porte, que tenha o direito de dizer não, que seja consultada sobre como e onde os recursos públicos são aplicados – e exigimos, acima de tudo, que a democracia e os princípios básicos dos direitos humanos sejam garantidos no Brasil126
XINGU VIVO. Nota de apoio Vítimas de Belo Monte não são criminosos. Xingu Vivo, 16 jun. 2012. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 126
94 O episódio teve ampla repercussão na mídia, onde era noticiado que a justiça pediria prisão preventiva de onze dos mais de 300 participantes. Apesar disso, os inquéritos foram arquivados por falta de provas contra os integrantes do MXVPS, únicos indiciados. Após o fato, o MXVPS passou por um processo de desestruturação, que pode ser notado com a redução nas chamadas para ações mais diretas e mudanças no conteúdo das matérias e postagens do MXVPS. Tornouse comum a elaboração materiais (vídeo, fotos, matérias e postagens) abordando os impactos da obra na região. Selecionamos três matérias em diferentes momentos que ilustram esse tipo de conteúdo. A primeira foi divulgada em 22/02/2013 no site do MXVPS. A matéria 127 foi compartilhada do site da Agência Brasil128 e afirma que de 2011 para 2012 a apreensão de crack em Altamira aumentou 900% e a quantidade de cocaína aumentou 12 vezes no mesmo período. O conteúdo também aborda a exploração sexual de crianças e adolescentes crescente na região, que ao longo de 2013 passou a ser denuncia constante no site do MXVPS. Principalmente após a descoberta de um prostíbulo em área declarada pelo CCBM. A Boate Xingu, como era chamada, mantinha 14 mulheres, sendo uma adolescente de 16 anos, e uma travesti em regime de escravidão e cárcere privado, conforme matéria “Adolescente é resgatada de prostíbulo em Belo Monte”129 feita pelo Repórter Brasil130 em 14/02/2013 e divulgada no site do MXVPS na mesma data.
XINGU VIVO. Apreensão de crack aumenta 900% em município próximo a Belo Monte. Xingu Vivo, 18 fev. 2013. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 128 Disponível em: Acesso em: 10. dez. 2013. 129 XINGU VIVO. Adolescente resgatada de prostíbulo em Belo Monte. Xingu Vivo, 14 fev. 2013. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 130 Site do Repórter Brasil. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 127
95 Em uma outra matéria “Aterro de reassentamento da norte energia desmorona e atinge comunidade”131, desda vez não compartilhada de nenhum outro site, o Movimento afirmou que um aterro feito pela Norte Energia desabou sobre uma comunidade com 60 moradores no Bairro da Liberdade. O seguinte trecho da matéria trouxe uma entrevista com Ildomar Bezerra de Souza, morador atingido pelo desmoronamento. A entrevista é utilizada para denunciar a falta da diálogo da Norte Energia com os impactados pela obra:
Entrou lama em tudo que é lugar, o único poço que temos na vila, onde todo mundo pega água, foi soterrado, queimou minha geladeira, meu ventilador, e passamos a noite toda correndo, com medo de que a lama derrubasse tudo (…) Estamos com muito medo, dessa vez só morreu um cachorro, mas aqui chove muito e da próxima vez tudo pode ser soterrado. A Norte Energia nunca veio conversar com a gente, não quer se responsabilizar, mas achamos que temos que ser removidos o mais rápido possível, temos muito medo de morrer (…) (Morador de Vila soterrada por aterro da Norte Energia em matéria divulgada no site do MXVPS).
Outra denuncia feita pela matéria está na qualidade das casas que serão entregues para alguns indenizados. Segundo a entrevista duas casas do reassentamento teriam desabado com o desmoronamento, porém os seguranças não deixaram os moradores da vila entrar no terreno da Norte Energia para confirmar. “Os seguranças da obra não deixaram a gente entrar. Mas imagina o perigo, estão fazendo casas sobre terra fofa, sem nenhuma segurança” (Idolmar Ildomar Bezerra de Souza, em entrevista concedida para o MXVPS). De acordo com nossas análises, essa nova estratégia de abordagem se deu por vários motivos. Destacamos aqui três deles. 1) Desgaste do próprio Movimento. O primeiro tem relação com o próprio ideal do MXVPS, que mesmo após o barramento do rio defende a paralisação total da obra, objetivo que atualmente Xingu Vivo. Aterro de reassentamento da norte energia desmorona e atinge comunidade. Xingu Vivo, 19 out. 2013. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. 131
96 parece pouco viável. Este motivo torna as chamadas para ações cada vez mais de difícil adesão, tornando os veículos de comunicação do MXVPS uma espécie de “agência” que se limitam apenas à divulgação de notícias. 2) Ausência de um assessor/jornalista fixo e presente na região. Após o Xingu+23, provavelmente devido à perseguições políticas132, o jornalista que trabalhava para o Movimento desde meados de abril de 2011 deixou a região, o que tornou a produção de conteúdos próprios cada vez mais escassos. Esse fator refletiu na dependência do MXVPS de profissionais e parceiros distantes para fazer a alimentação do site e redes sociais. O Movimento passou a enviar informações para Belém ou Sul e Sudeste para que posteriormente fossem feitas as postagens. A ausência de um profissional trabalhando para o Xingu Vivo também repercutiu no aumento considerável de conteúdos compartilhados de parceiros pertencentes à Rede da qual o MXVPS faz parte, fazendo com que caísse o o número de chamadas para ações e aumentasse a presença de notícias. 3) Divulgação de impactos como estratégia de ampliação da Rede. Outro motivo que levantamos é a divulgação dos impactos gerados por Belo Monte como uma estratégia de convencimento. Tal estratégia teria como objetivo atingir e reestruturar as bases locais do MXVPS pois abordar os impactos pode aproximar a população crescente insatisfeita com a obra, devido principalmente às condicionantes, muitas não cumpridas – e mostrar para movimentos sociais de outras regiões que os impactos gerados por hidrelétricas são irreversíveis e bem maiores do que o governo e as empresas afirmam, já que Belo Monte era divulgado como um projeto diferenciado e inovador pelo Governo Federal.
XINGU VIVO. Consórcio de Belo Monte acusa jornalista de instigar greve de sete mil trabalhadores. Xingu Vivo, 11 abr. 2012. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2013. XINGU VIVO. Belo Monte: greve e ameaça de morte entrevista com Ruy Sposati. Xingu Vivo, 9 abr. 2012. Disponíveis respectivamente em: e . Acesso em: 10 dez. 2013. 132
97 Sobre este último item, é importante o aumento de notícias sobre a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós e resistência dos indígenas da etnia Munduruku em relação à construção da usina. Além de informações a respeito da hidrelétrica de Teles Pires, localizada na divisa do Mato Grosso e Pará, onde está localizado um trecho de cachoeiras que formam a região chamada de Sete Quedas, considerado um local sagrado e intocável para os indígenas.
98 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desta pesquisa foi mostrar de que forma e em quais contextos o Movimento Xingu Vivo Para Sempre utiliza a internet para inserir suas pautas e demandas nos debates da esfera pública. Para isso, fizemos uma análise de suas postagens nos principais canais de comunicação utilizados pelo movimento. O conteúdo é vasto e, devido a quantidade de publicações, de difícil análise. Só de tweets o MXVPS tem cerca de 8.500, além de 700 postagens no site e centenas de publicações no facebook e youtube. Quais motivos levaram o Movimento Xingu Vivo a utilizar o ciberativismo? De que forma e com quais objetivos o Xingu Vivo utiliza essas ferramentas de comunicação? Qual o balanço podemos fazer destes quatro anos de ciberativismo? Devido a essa demanda, a análise das publicações foi dividida em três momentos cronológicos: Desde a entrada do MXVPS na Web até o início das obras, do início das obra até o Xingu+23 e após o Xingu+23 até a atualidade. O objetivo foi observar quais estratégias ciberativistas (VEGH, 2003 apud. PEREIRA, 2011; RIGITANO, 2003; SILVEIRA, 2009) sobressiam em cada período. Por meio de pesquisa bibliográfica, levantamento documental, análise das redes sociais do movimento, análise dos perfis e conteúdo depositado nos mesmos e entrevista com alguns assessores obtivemos várias conclusões. O MXVPS é oriundo de uma Rede de Movimentos Sociais que se manifestava desde as primeiras reivindicações na Transamazônica. Apesar de ter surgido muito tempo depois das primeiras manifestações, o Movimento até os dias atuais e mesmo passando por várias modificações, não somente na comunicação como em sua própria estrutura, o mesmo ainda traz algumas formas de manifestação desta época, como por exemplo, a utilização de cartas enviadas para o Congresso e o fechamentos da Transamazônica.
99 Antes do início das obras, o envio de cartas para autoridade era frequente. Diminuindo consideravelmente com o tempo, porém não deixando de existir. Após adentrar oficialmente à web por meio de redes sociais e sites, o MXVPS pôde criar diversas outras redes e fortalecer algumas que já existiam. O MXVPS começou a utilizar a internet logo após às audiências públicas, realizadas em outubro de 2009. Atribuímos este fato à vários motivos, mas destacamos dois mais importantes. O primeiro foi as próprias inconsistências das audiências, que segundo o movimento não alcançou seu objetivo. E o segundo tem a ver com a maior aproximação de pessoas ligadas à ONGs ao MXVPS. Destacamos essa aproximação devido à ampla experiência que as ONGs tem com o ciberativismo, o que contribuiu para que o MXVPS focasse na importância da internet no que consiste a comunicação de movimentos sociais. Outro fator também importante é próprio monopólio midiático, que frequentemente é desfavorável às demandas dos movimentos sociais e suas Redes. Tal fato faz com que os mesmos busquem na internet uma forma de mídia alternativa, algumas vezes radicais outras não. Porém, não destacamos este motivo como fundamental para a entrada do MXVPS na Web, pois esta concentração se estende ao longo de anos, não explicando a entrada do Movimento apenas alguns anos depois da popularização da internet. Após a entrada na web, o MXVPS passou por três momentos diferentes. O primeiro foi o que chamamos de Período Informativo, no qual se destacou o primeiro tipo de ciberativismo de VEGH, a conscientização e promoção (awareness/advocacy) de uma causa. Neste momento, o movimento procurou se apresentar e dizer seus objetivos para que suas reivindicações fossem mais conhecidas ou aprofundadas por outros atores sociais. Ao observar o avanço das obras, O MXVPS passa a investir em postagens chamando para ações com objetivo de travar a obra, dando início ao que chamamos de Período das Ações, ou organização e mobilização (organization/mobilization). Neste período destacaramse a chamada para ações online e offline, como atos, passeatas, tuitaços e assinatura de
100 petições. Este momento se estendeu até o Xingu+23, encontro importante organizado pelo MXVPS e divulgado como “decisivo” nos veículos de comunicação do movimento. Após o Xingu+23, houve uma diminuição nas chamadas ações diretas, só acontecendo isso quando havia algum julgamento judicial ou paralisações das obras. Ao que parece, travar definitivamente a obra se torna cada vez mais difícil. E assim, o MXVPS passa a dar cada vez mais visibilidade à cobertura das greves e ocupações ocorridas nos canteiros de obra, dando início ao terceiro período do movimento na Web, o Período das Denúncias, no qual se destacou o terceiro tipo de ciberativismo de VEGH, o da ação e reação (action/reaction). É importante destacar que, em parte desses acontecimentos, principalmente no que se refere às greves e ocupações, não havia nenhum veículo de mídia, seja da Grande Mídia ou da Mídia Alternativa, acompanhando os atos e mobilizações In loco, sendo o jornalista do MXVPS (Ruy Sposati), o único a fazer esse tipo de cobertura nesses casos. Assim, o MXVPS tornase a única fonte rápida de oposição e de denuncia a respeito do que acontecia em Belo Monte. Sobre a mudança de estratégia em relação ao Período das Ações para o Período das Denúncias, foram destacados três motivos. O primeiro foi o próprio desgaste da causa, a defendida pelo Movimento até os dias atuais é de parar a obra, o que parece um ideal mesmo distante, fazendo com que as adesões de ações se tornem mais difíceis. Outro fator é a ausência de um jornalista exclusivo do movimento atuando na região, o que fez com que o movimento dependesse de parceiros distantes para divulgar suas informações, parceiros esses especializados em divulgação de informação e não em elaboração de estratégias ciberativistas. Como ultimo motivo destacamos as denúncias como uma estratégia de recuperação das bases locais perdidas , já que a divulgação de impactos aproxima o público afetado e insatisfeito com a obra, e como uma forma de alertar movimentos sociais de outras regiões sobre os riscos irreversíveis de projetos hidrelétricos.
101 Por fim, sabemos que esta pesquisa não se esgota em si mesma, tendo vários aspectos a serem aprofundados mais delicadamente em futuras pesquisas. Mas, esperamos com esse trabalho ter contribuído de alguma forma com pesquisas envolvendo ciberativismo e movimentos sociais na Amazônia.
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