Movimentos sociais e Produção de Conhecimento: uma proposta teórica e metodológica para a análise da Soberania Alimentar como teoria e prática

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Carolina   Niemeyer1    Resumo  Este  artigo  deriva  da  minha  tese  de  doutorado  denominada   Movimentos  Sociais  como  produtores de  conhecimento:  a  Soberania  Alimentar  no  Movimento  dos  Pequenos  Agricultores  (MPA) .  Nesse  trabalho,  interpretamos  a  Soberania  Alimentar  como   uma  forma  de  conhecimento­prático  que  vem  sendo  desenvolvida  pela  Via  Campesina  e  as  suas  organizações  constituintes,  em interação com os seus parceiros  e  opositores,  em  relação  a  diferentes  contextos  de  ação,  nas  escalas  global,  regional,  nacional  e  local .  A  partir  de  diferentes  aportes,  buscamos  desenvolver  uma  proposta  teórico­metodológica  transdisciplinar  que  auxiliasse   nesse   estudo   e  este   é  o  foco   deste   artigo.    Introdução  A  Soberania  Alimentar  é  uma  das  inúmeras  respostas  criativas  e  originais  criadas  por  movimentos  sociais  de  base  para  o  enfrentamento  do  capitalismo  em  escala  mundial.  Pela  sua  multidimensionalidade,  a  conceituação  tem  diferentes  facetas  e  pode  ser  analisada  a  partir  de  diferentes  enfoques.  Para  autores como  Mc  Michael  (2013),  a  Soberania  Alimentar  representa  a  melhor  alternativa  ao  atual  regime  agroalimentar  neoliberal  que  vigora  desde o final do século XX. Outros enfatizam o seu viés como quadro de ação coletiva  (Clayes,   2013)   e  outros   o  seu   aspecto   como   Direito   Humano   Inalienável   (Patel,   2007).   Sem  descordar  de  nenhuma  das  abordagens  mencionadas,  a  nossa interpretação converge na direção  de  Wittman  (2011,  p.  88),  que  adota  uma  perspectiva  epistêmica  para  a  análise do fenômeno, percebendo­o  como  uma  “ciência  emergente”  construída  por  meio  das  práticas  produtivas  e das propostas políticas de um  conjunto  heterogêneo  de  movimentos  de  base.  E  na  direção  de  Torres  e  Rosset  (2013,  p.  1),  para  quem,  “o  paradigma  da  Soberania  Alimentar  foi  construído  mediante  o  encontro  e  o  diálogo  de  saberes  entre  diferentes   culturas   rurais   e  do   confronto   político   com   o  neoliberalismo   e  o  agronegócio”.  Neste  trabalho  entendemos  a  Soberania  Alimentar  como  um  "programa  de  conhecimento"  com  aspectos  teóricos  e  práticos  e  viés  assumidamente  político.  Este  programa  é  resultante  de  um  processo  de  produção  social  de conhecimento movido pela ação e pela troca de experiências e de saberes entre diferentes  sujeitos,  individuais  e  coletivos,  articulados  em  redes  de  solidariedade  transescalares  e  transdisciplinares.    Doutora   e m   Sociologia   pelo   Instituto   de   Estudos   Sociais   e   Políticos   ­  Iesp­UERJ;   Tecnologista   e m   Saúde   Pública  associada   a o   programa   Radis   /  Ensp   /  Fiocruz;   pesquisadora   a ssociada   a o   Núcleo   de   Teoria   Social   e   América   Latina  ­   Netsal  1



Para  os  sujeitos  engajados  neste  processo,  ciência  é  política  e  o  seu  principal  objetivo  deve  ser  a  emancipação   humana   e  a  preservação   da   vida.  Percebemos  a   Soberania  Alimentar,  como  uma  forma  de  conhecimento­prático  que  vem  sendo  desenvolvida  pela  Via  Campesina  e  as  suas  organizações  constituintes,  em interação com os seus parceiros  e  opositores,  em  relação  a  diferentes  contextos  de  ação,  nas  escalas global, regional, nacional e local . Esta  dinâmica  está  inserida  em  um  processo  contra­hegemônico,  onde  a  Soberania  Alimentar  aparece  com  enorme  centralidade  no  campo  de  disputa  política  por  modelos  de  desenvolvimento,  tendo  em  vista  que  coloca  em  cheque  os  fundamentos  que  sustentam  a  produção  e  reprodução  do  capitalismo.  Esta  é  uma  disputa  material  e  simbólica,  onde  os  movimentos  sociais,  além  de  intervirem  no  campo  político  de  forma  contenciosa  ou  institucional,  atuam  também  através  do desenvolvimento de novos conhecimentos práticos e  teóricos.  A  partir  deste  pressuposto,  defendemos  a  ideia  que  através de sua atuação prática e discursiva, os  movimentos  sociais  rurais  contemporâneos  estão  travando  uma  luta  que,  além  de  política  e  cultural,  é  também  cognitiva  e  epistêmica  e  buscamos  desenvolver  uma  proposta  teórico­metodológica  que  auxiliasse  nesta   análise.  Esta  empreitada  demanda  a  mobilização  de  conceitos,  teorias  e  quadros  interpretativos  diversos,  o  que  exige  a  superação  de  velhas  dicotomias  e  o  empreendimento  de  um  diálogo  entre  a  Sociologia  dos  Movimentos  Sociais  e  outras  áreas  de  conhecimento.  O  estabelecimento  desse  diálogo  interdisciplinar,  decerto  parcial,  não  é  simples,  mas  nos  parece  fundamental  para  avançar  na  discussão  teórica  sobre  os  movimentos  sociais  contemporâneos,  para  além  de  sua  concepção  como  organizações  muito  delimitadas  (social  e  territorialmente)  ou  como  atores  cristalizados  em  um  positivo  científico  que  impede  captar  suas  subjetividades,   elaborações   e  vivências.   Para  organizar  a  nossa  reflexão,  estruturamos  este  artigo  em  eixos  temáticos  definidos  pelos  principais  temas  e  questões  com  os  quais  estamos  trabalhando.  Iniciamos  com  uma  problematização  da  noção  de  conhecimento  e  o  questionamento  do  lugar  e  do  papel  atribuídos  à  ciência  em  nossa  sociedade;  damos  sequência  com  uma  leitura  teórica  sobre  Movimentos  Sociais  e  Produção  de  Conhecimento,  para  então  introduzir  o  debate  sobre  Territórios,  Redes  e  Escalas  em  sua  relação  com  as  ações  e  práticas  dos  movimentos   sociais   contemporâneos.   Conhecimento   para   além   da   racionalidade   científica  Parte­se  do  pressuposto  que  a  ciência  racional,  embora  naturalizada  para  parecer  a  única  opção  possível,  é  uma  construção  moderna  onde  o  cientificismo  substitui  a  religião  na  legitimação  do  conhecimento,  instituindo  novas  relações  de  poder  que  eliminam  outras  formas  de  racionalidade  e  saberes  do   universo   de   possibilidades,   em   favor   da   imposição   de   um   modelo   de   sociedade:   o  capitalismo. 



A  opressão  cultural  e  epistêmica  não  é  novidade  e  foi  uma  das  principais  estratégias,  moderna  e  colonialista,  para  garantir  o  poder  sobre  os  povos  colonizados  e  os  subalternos.  Conforme  reconhecido  por  De  Sousa  Santos  (2002),  o colonialismo enquanto projeto político findou com a independência das colônias,  mas  o  Colonialismo  enquanto  projeto  social  continua  operante  nas  periferias,  tanto  das  ex­colônias  como  dos  países  centrais,  por  meio  de  estratégias  de  opressão  epistêmico­cultural  (algo  que  os  diversos  autores  vinculados   ao   pensamento   pós­descolonial   latino­americano   definiram   como  c  olonialidade ).   A  cientificidade  tornou­se  dogma  e  substituiu  a  religiosidade  como  parâmetro  de  legitimidade  dos  sentidos  e  significados  atribuídos  a  questões  chaves  para  a  sociedade,  como  a  Agricultura  e  tudo  o  que  a  envolve.  Por  conseguinte,  a  disputa  é  de  ordem  cultural,  mesmo  quando  envolve  o  acesso  e  o  direito  aos  meios  de  produção,  como  no  caso  dos  movimentos camponeses, porque estão em cheque saberes, modos de  vida   e  formas   de   reprodução   social.  No  domínio  do  rural,  o  advento  da  agricultura  transgênica  marca  uma  revolução  na  forma  de  produção  e  reprodução  de  alimentos  e  altera  drasticamente  a  realidade  de  agricultores  e  camponeses  do  mundo  inteiro,  porque  a  semente,  até  então  um  bem  natural,  torna­se  um  código  informacional  e  privado,  cujo uso e reprodução estão sujeitos à cobrança de  royalty . Além de colocar em perigo a segurança alimentar  do  planeta,  este  padrão  de  agricultura  ameaça a cultura dos povos e a biodiversidade agrícola global, pois as  sementes  crioulas  e  tradicionais,  que  são  o  principal  repositório  do  saber  histórico  e  tradicional  camponês,  ficam   ameaçadas   de   extinção.   Nesse  contexto,  as  universidades,  os  institutos  de  pesquisa,  as  comissões  técnicas,  as  publicações  científicas,  as  organizações,  os  editoriais  de  economia  e  a  grande  mídia  são  espaços  privilegiados  de  legitimação  da  ideologia  dominante,  e  os  movimentos  sociais  encarnam  um  poder  contra­hegemônico  fundamental  nessa  batalha  por  corações  e  mentes.  O  seu  lugar  subalterno  na  sociedade  obriga­os  a  desenvolverem  “conhecimento­prático”  (Casas­Cortés,  Osterweil  e  Powell,  2008) geralmente à margem das  instituições,  por  outro  lado,  a  sua  não  institucionalização  (Melucci,  1996),  ou  institucionalização  frouxa  (Borras,  2004)  permite  que  ajam  reflexiva  e  criativamente  em  relação  aos constrangimentos sistêmicos, por  meio  da  reinterpretação  de  velhos  problemas  e  da problematização de questões até então naturalizadas. Esta  mesma  característica  propicia  que,  através  da  sua   práxis  cognitiva ,  desenvolvam  ideias  e  visões  de  mundo  alternativas;  as  quais,  apenas  em  um  segundo  momento,  serão  sistematizadas  e  resignificadas  nos  espaços  2

institucionais   de   produção   de   conhecimento,   conforme   reconhecido   por   Eyerman   e  Jamison   (  1991)     .  No  contexto  da ciência hegemônica, os saberes tradicionais, indígenas, camponeses, orientais e todos  os  que  se  desenvolveram  apoiados  por  valores  não  modernos  são  considerados  não  científicos, 

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  Cabe, no entanto, notar, como fizeram Bringel e Echart (2010), que, dependendo da sua capacidade de organização, formulação,  autonomia  e  (des)vinculação  aos  atores  hegemônicos  (como  os  partidos,  a  mídia  e  as  grandes  organizações),  os  movimentos  sociais  podem  tanto  gerar  agendas  e  conhecimentos  próprios,  como  reproduzir  a  agenda  e  formas  de  produção  conhecimento  hegemônica. 



independentemente  do  seu  valor  cognitivo.  Isso  porque  a  ciência  moderna  confundiu  o  valor  social  do  controle  com  o  valor  cognitivo,  ao  transformar  o  primeiro  no  principal  critério  de  validação  do  conhecimento,  com  enorme  prejuízo  para  a  pluralidade  científica,  porque  nega  direito  de  existência  a  qualquer  forma  de  conhecimento  que  não  atenda  a  esse  parâmetro,  independentemente  de  sua  eficácia  contextual   (Lacey,   2008;   De   Sousa   Santos,   2002,   2008).  Em  resposta  a  este  dilema,  o  filósofo  da  Ciência  Hugh  Lacey  (1999)  propõe  que  o  critério  de  objetividade  substitua  o  critério  materialista do controle no processo de comprovação científica, porque essa  seria  a  condição  básica  para  que  uma  “ciência  engajada”  —  regida  por  valores  sociais  e  morais  e  comprovada  na  prática,  como  a  agroecologia  e a agricultura camponesa — tenha direito a existência e possa  ser   testada   e  validada   pelas   instituições   que   legitimam   a  ciência.   De  Sousa  Santos  (2002;  2005)  vai  além,  ao  afirmar  que  sem uma crítica ao modelo de racionalidade  ocidental,  dominante  há  pelo  menos  duzentos  anos  (a  racionalidade  indolente,  em  seus  termos),  "todas  as  propostas  apresentadas  pela  nova  análise  social,  por  mais  alternativas que se julguem, tenderão a reproduzir  o  mesmo  efeito  de  ocultação  e  descrédito.  (Sousa  Santos,  2002.  p.  238).  Com  base  no  reconhecimento  que  "todo  saber  é  ignorante  de  outro  saber"  e  que  a  validação  do  conhecimento  é  relativa  e  dependente  do  contexto,  o  sociólogo  português  propõe  a  edificação  de  uma  “epistemologia  do  Sul”  mobilizada  pelo  “diálogo   de   práticas   e  saberes”   entre   o  conhecimento   científico   e  o  tradicional   e  entre   distintas   culturas.  A  partir  de  uma  perspectiva  feminista,  Haraway  (1998)  também  prega  o  pluralismo  científico  e  considera  o  ideal  de  universalidade  uma  falácia  que  mascara  uma  relação  de  poder,  em  que  os  valores  ocidentais,  machistas  e  capitalistas  foram  naturalizados  para  equivalerem  à  verdade.  A  teórica  reconhece  o  valor  do  conhecimento  coletivo,  teórico  e  prático,  gerado  no  cotidiano do mundo da vida e propõe a adoção  de  uma  perspectiva  parcial,  com base em uma "política de localização e de implicação", em que se assuma o  território  concreto do qual se fala, se atua e se investiga e cujo sujeito do conhecimento, ao invés de abstrato,  tem   um   corpo   e  está   inserido   em   uma   estrutura   social   concreta.  O  conhecimento  subalterno  denuncia  a  falácia  da  neutralidade  da  ciência  na  prática,  demonstrando  que  a  pluralidade  científica  só  pode  ser  atingida,  quando  a  sua  referência  ideal  é  outro  padrão  de  objetividade:  encarnado  e  contextualizado.  Em  substituição  à  objetividade  embasada  pela  racionalidade  instrumental,  que  sustenta  as  relações  de  dominação,  a  epistemologia  feminista  sugere  uma  “objetividade  como  racionalidade  posicionada”  (Haraway,  1988.  p.  590).  Um  valor  que  serve  para  as  relações  entre  humanos  e  não  humanos,  e  entre  humanos  e  eles  mesmos,  pois  Haraway  (1988,  p.  592)  afirma  que  um  conhecimento  situado  deve  tratar  o  seu  objeto  como  ator  e  agente,  levando  em  consideração  não  apenas  as  pessoas,   mas   também   a  natureza.   Esta  assertiva  remete­nos  a  Latour  (1997)  e  à  sua  proposta  de  ator­rede,  de  acordo  com  a  qual,  a  sociedade  é  composta  por  entes  humanos  e  não  humanos.  Em  diálogo  com  muitos  aportes  da sociologia da  4 

ciência,  Latour  dá  voz  às  coisas  inanimadas  e  mostra  como, sem elas, o sistema moderno simplesmente não  funciona,  levando­nos  a  refletir  que,  em  verdade,  foi  a  Modernidade  quem  negou  à natureza o seu status de  sujeito,  ao  supervalorizar  a  cultura,  mediante  uma  racionalidade  instrumental  que  limita o mundo natural (e  social)   a  uma   fonte   de   recursos   a  serem   controlados   e  explorados   ao   limite.  Em  seu  viés  como  “conhecimento­prático”,  a Soberania Alimentar vem se desenvolvendo a partir do  diálogo  entre  o  conhecimento  tradicional  e  a  Agroecologia  e  conformando  um  “programa  social  de  conhecimento”,  no  qual  as  sementes  além  de  ícone  têm  lugar  de  sujeito,  ao  terem  as  suas  especificidades e  conhecimento  acumulados  na  sua  existência  material  tomados  em  conta,  quando  na  elaboração  e  desenvolvimento  do  projeto.  O  modelo  de  agricultura  camponesa,  assim como a Agroecologia, é regido por  valores  opostos  aos  capitalistas,  porque  adota  um  ideal  de  relação  social  que  renega  a   mais­valia ,  assim  como  o  ideal  moderno  de  controle,  ao  “projetar  a  natureza  e  a  cultura  sobre  um  mesmo  plano” (Habermas,  1999.   p.   76)   ou,   pelo   menos,   em   um   plano   de   igualdade   de   direitos   à  existência.  Movimentos   Sociais   e  Produção   de   Conhecimento   Em  diálogo  com  as  contribuições  de  Alberto  Melucci (1996, 2001), entendemos movimentos sociais  mais  como um recurso heurístico e uma categoria analítica, do que como um fenômeno empírico delimitado.  Esta  perspectiva  ajuda­nos  a  entendê­los  não  como  entes  substancializados  em  grupos  ou  instituições,  mas  como   processos  de  ação  social .  Para  o  sociólogo  italiano,  movimento  social  é  uma  categoria  analítica  que  designa  uma  forma  de  ação  coletiva  específica  que  envolve  necessariamente  três  processos:  a  mobilização  de  um  ator  coletivo  (i)  definido  por  solidariedades  específicas,  (ii)  engajado  em  um  conflito  com  um  adversário  pela apropriação e pelo controle de recursos válidos para ambos e (iii) cuja ação envolve a quebra  dos   limites   de   compatibilidade   do   sistema   no   qual   a  ação   tem   lugar   (Melucci,   1996.   p.   29­30;   68­83).  Movimentos  sociais  são   sistemas  de  ação ,  porque  nas   sociedades  complexas  não  se  pode pensar em  totalidade  sistêmica.  O que antes era tido como o sistema social está decupado em quatro diferentes sistemas  na  sociedade:  o   sistema  de  produção  social ,  o   sistema  político ,  o   sistema  organizacional   e  o   sistema  reprodutivo  ou  mundo  da  vida ,  entre  os  quais  existe  uma  relação com certo grau de hierarquia, autonomia e  dependência,  pois  os  limites  e  as  possibilidades  de  um  sistema  são  definidos  em  relação  ao  outro.  A  ação  social  é  definida  em  relação  ao  sistema  ao qual se dirige, envolvendo sempre uma disputa por recursos a ele  pertencentes.  Sendo  assim,  deve­se  iniciar  o  estudo  pela  investigação  do  campo  do  conflito,  para  somente  então   explicar   como   certos   grupos   sociais   atuam   sobre   ele   (Melucci,   2001.   p.   107).  Na  atual  conjuntura,  tanto  nas  sociedades  centrais  como  na  periferia  do  planeta,  as  novas  formas de  desigualdade  englobam  formas  de  privação cultural, como “a destruição de culturas tradicionais substituídas  pela  marginalização  ou  pelo  consumo  dependente  e  pela  imposição  de  modelos  de  vida  que  não  mais  provêem  os  indivíduos  com  a  base  cultural  para  a  sua  auto­identificação”  (Melucci,  1996,  p.93),  mesmo  5 

quando envolvem a luta pelo direito aos meios de produção, como é o caso da luta pela Soberania Alimentar.  No  seu  processo  constitutivo,  os  atores  envolvidos  na  sua  construção  têm  confrontado  a  sociedade  com  novas  questões  e  novas  formas  de  interpretar  a  agricultura,  criado  novas  agendas  políticas,  pressionado por  mudanças  nos  diferentes  subsistemas  sociais  envolvidos  e  desenvolvido  novas  alternativas  no  campo  da  produção.  Esta  dinâmica  é  mobilizada  pela  troca  de  saberes  e  de  informações  entre  diferentes  sujeitos  individuais  e  coletivos  e  o  resultado  desta  relação  gera  um  arsenal  de  novos  conhecimentos  materiais  e  imateriais  registrados  em  distintos  suportes,  os  quais  servem  como  material  de  análise  para  o  empreendimento   de   uma   leitura   cognitiva   a  posteriori   do   processo.  No  domínio  da  sociologia  dos  movimentos  sociais,  Eyerman  e  Jamison  (1991)  inauguraram  o  diálogo  com  a  sociologia  do  conhecimento  e  mantém­se  como  referência  para  os  que  se  propõem  à  realização  de  uma  leitura  cognitiva  de  Movimentos  Sociais.  Influenciados  pela  noção  de  movimento  social  Tourainiana  e  pelo  conceito  de  “Conhecimento  e  Interesse”  de  Habermas,  os  teóricos  desenvolvem  uma  abordagem  comparativa  e  historicamente  informada,  que  conecta  o  movimento  social  a  uma  teoria  contextual   de   mudança   social.   A  sua  proposição  está  apoiada  em  uma  noção  de  conhecimento  que  considera  modos  formais  e  informais  de  produção  de  conhecimento  como  válidas  e  não  estabelece  uma  dicotomia  entre  o  trabalho  intelectual  e  o  prático.  "Por  esta  perspectiva,  o  conhecimento  não  é  apenas,  ou  primeiramente,  o  conhecimento  formal  científico  e  acadêmico  produzido  por  profissionais  sancionados,  é  antes  a  prática  cognitiva  ampla  que  informa  toda  atividade  social",  engloba  o  conhecimento  "formal  e  informal, objetivo e  subjetivo,   moral   e  imoral   e,   mais   importante,   profissional   e  popular"   (Eyerman   e  Jamison,   1991,   p.   49).  Os  teóricos  enfatizam  a  ocorrência  de  uma  relação  de  mão  dupla,  onde  o  movimento  tanto  é  influenciado  pela  sociedade  como  a  influencia  por  meio  da  sua   práxis  cognitiva ,  a  qual  está  registrada  em:  textos,  livros,  declarações,  músicas,  slogans,  modelos  institucionais,  tecnologias  e  outros  recursos  cognitivos;  os  quais,  pela  sua  perenidade,  transcendem  os  limites  temáticos,  geográficos  e  temporais  do  movimento  social.  Com  o  apoio  dessa  proposta  teórica,  pode­se  problematizar  o  processo  de  criação  de  conceitos  e  o  papel  mediador  dos  movimentos  na  “construção  social  do  conhecimento”,  porque  a   práxis  cognitiva  dos  movimentos sociais, registrada nesses suportes, é vista como uma das principais fontes a partir  de   onde   o  senso   comum   e  a  ciência   desenvolvem   as   novas   perspectivas   e  as   novas   ideologias.  O  interesse  dos  teóricos  é  em  descobrir  o  berço  dos  novos  intelectuais  e  os  movimentos  sociais  são  vistos  como  os  mediadores  no  processo  de  construção  social  do  conhecimento,  porque  a   dinâmica  processual  da  sua  práxis  cognitiva   favorece  o  surgimento  dos  “Intelectuais  do  Movimento ”,   entendidos  como  sendo  os  responsáveis  pela  produção  cognitiva  dos  movimentos  sociais.  Este  conceito  está  inspirado  no  “Intelectual  Orgânico”  de  Gramsci  e  visa  discriminar  entre  o  intelectual  forjado  no  seio  do  movimento  social  e  aquele  que  o  influencia  a  partir  de  cima.  No  entanto,  a  noção  de  “intelectual  coletivo  da  classe”,  6 

associada  ao  papel  exercido  pelo  movimento  social  –  ou  partido  político  –  na  construção  da  consciência  coletiva  da  classe, passa despercebida para Eyerman e Jamison. Na interpretação de Leher e da Motta (2012,  p.  426­428),  “a  abordagem  Gramsciana  do  intelectual  não  é  subjetiva,  mas sim, coletiva: são os intelectuais  como   massa   –  e  não   como   indivíduos   –  cuja   função   é  produzir   e  difundir   ideologias   que   o  interessam”.   A  partir  da  noção  de  “intelectuais  coletivos  da  classe”,  a  fonte gerativa de novos conhecimentos não  é  mais  o  indivíduo  –  o  intelectual  do  movimento  –  mas  a  práxis  cognitiva  de  um  movimento  social  e  o  processo  de  interação  comunicativa  dele  com  ele  mesmo  e  com  os  seus  aliados  e  opositores.  Esta  é  uma  dinâmica  relacional  que  envolve:  tradução,  negociação,  conflito  e  disputa.  Pode  ter  viés  colaborativo,  quando  movida  pelo  desejo  de  cooperação  e/ou  construção  de  consenso.  Ou  ser  contenciosa  a  ponto  de  objetivar  a  destruição  do  oponente,  quando  está  em  jogo  a  legitimação  de  visões  de  mundo  opostas  e  3

concorrentes   sobre   questões   de   interesse   comum  .  Este  processo  relacional  é  gerador  de  novos  conhecimentos,  mas  devemos  ir  além  dessa  mera  constatação,  se  quisermos  capturar  as  dinâmicas  através  dos  quais  o  conhecimento  é  gestado,  modificado  e  mobilizado   pelos   movimentos   sociais,   interpretando­os   como   espaços   de   “Conhecimento­prático”.  A  formulação  de  movimentos sociais como espaços de “Conhecimento­prático” foi desenvolvida por  Casas­Cortés,  Osterweil  e  Powel  (2008)  a  partir  de  Sousa  Santos  (2005),  e  sintetiza  a  ideia  de  movimentos  sociais  como  espaços  importantes  de:  criação,  reformulação  e  difusão  de  conhecimento.  Esses  saberes  assumem  a forma de histórias, ideias, narrativa e ideologias, mas também teorias, conhecimentos, bem como  análises  políticas  e  entendimentos  críticos  de  contextos particulares. O seu processo constitutivo, bem como  as  diversas  encenações  desses  saberes,  é  o  que  os  autores  denominam  como  "conhecimento  prático"  (Casas­Cortés,   Osterweil   e  Powel,   2008.   P.   21)  Aqui  o  interesse  não  é  encaixar  os  estudos  de  caso  em  estruturas  conceituais  ou  ordens  conceituais  preconcebidas,  mas  revelar  a  dinâmica  processual  através  da  qual  um  movimento  social  se  constroi.  Este  objetivo  obriga  a  realização  de  pesquisas  de  viés  etnográfico,  que  permitam  acompanhar  os  atores  que  constituem  o  movimento  social, "escutando, rastreando e mapeando o seu trabalho e vivenciando com eles o  processo  de  trazer  um  movimento  à  existência"  (IBID.  27  p.).  O  que,  no  mais  das  vezes,  exige,  ainda  que  haja   uma   relação   de   confiança   consolidada   entre   o  pesquisador   e  o  sujeito/objeto   da   pesquisa.  O  foco  no   processo  constitutivo  de  novas  formas  de  conhecimento  por  movimentos  e  coletivos  sociais  –  e  não  no  seu  resultado  –  revela  um  novo  viés  da  sua  ação  política:  a  produção  de  conhecimento  alternativo  como  uma  forma  de  resistência  social,  na  disputa  por  poder  que  caracteriza  a  relação  entre  o  instituinte  e  o  instituído.  Mas  a  proposta  de  interpretação  de  movimentos  sociais  como  “espaços  de  conhecimento­prático”  dos  últimos  autores  enfatiza  o  modo   como  os  movimentos  sociais  engajam­se  na  tarefa  epistemológica  de  análise,  concepção  e  elaboração  de  novas  formas  de  se  conceber  e  de  se  estar  no  3

  As   dinâmicas   de   tradução,   negociação,   conflito   e  disputa   foram   mais   bem   trabalhadas   na   referida   tese   (Niemeyer,   2014) 



mundo,  mas  não  abarca  o  domínio  da  produção  e  outras  experiências  que  não  sejam  essencialmente  intelectuais  ou  claramente  políticas.  Com  a  intenção  de  dar  conta  desse  aspecto,  mobilizamos  a  noção  de  “produção  como  uma  forma  de  resistência social” de Van der Ploeg (2014) e incluímos processos cotidianos  e  não  discursivos  de  natureza  prática  e  expressiva  — dentre os quais, técnicas produtivas, formas de gestão,  mitos  e  ritos  —  como  parte  das  dinâmicas  através  das  quais  os  movimentos  sociais  geram  novos  conhecimentos   ou   novas   “formas   de   conhecimento­prático”.   Van  der  Ploeg  (IBID, p. 18­19) remete a James Scott (2008 [1985]) para afirmar que a luta social não  é  necessariamente  contenciosa  e  pode  se  dar,  também,  por  dentro  e  pelas  beiradas,  no  cotidiano  da  resistência  oculta  e  camuflada  dos  dominados  em  relação  aos  seus  dominadores. O autor elenca três formas  de  resistência  interconectadas  por  uma  miríade de inter­relações ligadas no tempo e no espaço: a  luta velada  e  a  sabotagem ,  que  equivale  à  “arma  dos  fracos”  revelada  no trabalho de Scott (2000); a  luta aberta , dentre  as  quais  inclui  diferentes  formas  de  ação  contenciosa  e  de  ação  direta,  excluindo  a  ação  institucional.  E   a  intervenção  direta  nos  processos  produtivos  e  no  trabalho  e  a  sua  alteração ,  que  contempla  expressões  urbanas,  rurais  e  rururbanas,  como:  a recuperação de fábricas, a autogestão, a organização em cooperativa, a  agroecologia  e  a  agricultura  camponesa  urbana  e  periurbana.  Em  tais  formas  de  resistência,  diz  o  autor,  as  estruturas  técnico­institucionais  de  trabalho  e  dos  processos  produtivos  são  ativamente  alteradas,  tendo  em  vista  melhorar  o  trabalho  e  os  processos  produtivos  e  alinhá­los  aos  interesses  expectativas  e  experiências  dos   trabalhadores   envolvidos   (IBID,   p.19).   O  estudo  de  Van  der  Ploeg  (2014)  está  centrado  na  agricultura  camponesa,  interpretada  como  um  conjunto de conhecimentos e de valores que sustentam um modo de produção não capitalista, cuja realização  prática  corresponde  a  uma  estratégia  de resistência social, porque implica em uma forma alternativa de estar  e  de  se  relacionar  com  o  mundo  social  e  natural.  Seja  em  seu  viés  como  teoria  ou  prática  produtiva,  a  Soberania  Alimentar  pode  ser  entendida  nestes  termos,  porque  está  apoiada  em  um  princípio  de  economia  moral  (Edelman,  2009)  e  pelos  valores  camponeses  de  solidariedade,  autonomia,  auto­suficiência  e  independência   em   relação   ao   mercado.   Até  este  ponto,  o  nosso  foco  esteve  concentrado  no  processo  de  produção  de  conhecimento  por  movimentos  sociais,  sem  contudo  situar  a  sua  ação  no  tempo  e  no  espaço  e  nem  explorar  as  suas  inter­relações.  Na  próxima  seção,  buscamos  realizar  este  objetivo  a  partir  de  uma  discussão  sobre  Territórios,   Redes   e  Escalas,   tendo   como   meta   uma   concepção   integradora   entre   essas   diferentes   dimensões.  Territórios,   Redes   e  Escalas  Nos  estudos  sobre  os movimentos sociais contemporâneos, é relativamente consensual a ideia de que  as  formas  e  expressividades  da  ação  coletiva  são  hoje  múltiplas  e  variáveis  e  que  uma  de  suas  particularidades  é a articulação em rede. Também há um consenso amplo, principalmente entre os estudiosos  8 

latino­americanos,  na  consideração  dos  territórios  como  uma  dimensão  central  para  a  localização  dos  conflitos  e  das  disputas  de  projetos  de  sociedade.  Outrossim,  as  escalas  também  emergem  como  uma  variável  fundamental  para  captar  a  multiterritorialidade  da  ação  coletiva  e  a  forma  como  os  atores  sociais  constroem,  de  forma  concomitante,  ações  políticas  em  diversas  escalas  (entendidas  aqui  como  o  local,  o  nacional,   o  regional   e  o  global).   Apoiados  em  Fernandes  (2008),  entendemos  Território  “como  um  espaço  de  vida”  ou  “como  um  espaço  vital  compreendido  pela  sua  multidimensionalidade”.  O  teórico discrimina entre territórios materiais  e  imateriais (porque as disputas territoriais são travadas em diferentes dimensões: econômica, social política,  cultural,  teórica  e  metodológica)  e distingue três tipos de territórios materiais inter­relacionados, na intenção  de   revelar   a  dimensão   do   conflito   e  de   disputa   de   poder   entre   classes   que   os   define.  O  primeiro  território  material  é formado pelo país, seus estados e municípios, ou seja, são espaços de  governança.  O  segundo  território  é  o  da  propriedade  privada  capitalista  e  não  capitalista.  E  o  terceiro,  por  diferentes  espaços  relacionais,  ou seja, são territórios controlados por  relações de poder que atuam por sobre  o estado ou com o seu apoio, como: o narcotráfico e as vastas áreas destinadas à soja no Brasil. Os territórios  materiais  são  objeto  de  disputa  entre  classes  sociais  e  quem  controla  o  território  do  estado  –  as  suas  estruturas  de  poder  –  controla  os  outros  territórios,  porque  influencia  em  suas  definições.  No  que  tange  ao  universo  rural,  no  modelo  de  sociedade  capitalista  vigente,  a  balança  pende  a  favor  das  transnacionais  e do  agronegócio,  enquanto  "o  agronegócio  organiza  seu  território  para  produção  de  mercadorias,  o  grupo  de  camponeses  organiza  seu  território,  primeiro,  para  sua  existência,  precisando  desenvolver  todas  as  dimensões   da   vida"   (Fernandes,   2008,   p.   10­11).  Os  territórios  materiais são frutos de uma relação de poder sustentada pelo território imaterial através  da  produção  de  conhecimento e da ideologia. O território imaterial pertence tanto ao campo da ciência como  da  política,  porque  as  explicações,  os  paradigmas  e  os  conceitos  são  produzidos com uma intencionalidade,  como,  por  exemplo,  a  definição  do  sistema  agroalimentar.  O  controle  do  território  material  e  imaterial  é  definido  pela  luta  de  classes  e  o  desenvolvimento  da  nossa  perspectiva  teórico­analítica,  em  diálogo  com  a  empiria,  levou­nos  a  entender  que  os movimentos sociais levam essa prerrogativa em conta, quando buscam  se  fortalecer  mediante  a  construção  de  redes  de  alianças;  as  quais,  independentemente  da  escala,  podem  variar   entre   redes   de   alianças   táticas   e  redes   de   alianças   estratégicas.  Território  é  também  uma  noção  histórica  e  a  sua  variação  no  tempo  correspondeu  aos  diferentes  modelos  de  sociedade.  Haesbaert  (2005)  explica  que  as  sociedades  tradicionais  conjugavam  a  construção  material  –  ou  funcional  –  do  território  à  sua  dimensão  simbólica,  como  abrigo  e  referente  fundamental  à  preservação  de  sua  cultura.  Nas sociedades modernas, os territórios funcional e simbólico foram dissociados  até  certo  ponto  e,  mais  recentemente,  o  território  passa  gradativamente  de  um  território  mais  “zonal”,  onde  se  pretende  o  controle  de  áreas,  para  um  “território­rede”  caracterizado  pela fluidez e a mobilidade, onde se  9 

objetiva  o  controle  de  redes  e  de  fluxos,  sendo  uma  marca  fundamental  deste  tempo  histórico,  a  vivência  cada  vez  mais  intensa  da  multiterritorialidade.  "O  território,  como  espaço  dominado  e/ou  apropriado,  manifesta  hoje  um  sentido  multi­escalar  e multidimensional que só pode ser devidamente apreendido dentro  de   uma   concepção   de   multiplicidade,   de   uma   multiterritorialidade".    (IBID,   p.   6778­6790).  No  ativismo  contemporâneo  as  redes  têm  transcendido  os  territórios  nacionais,  criando  dinâmicas  transnacionais crescentemente complexas. O crescimento do ativismo social global é, em grande medida, um  reflexo  da  globalização  neoliberal,  mas  esta  mera atribuição, apesar de ter sido a principal explicação para o  fenômeno  durante  o  fim  dos  1990  e  a  década  de  2000,  tem  pouco  recurso  explicativo  (Bringel,  2011).  A  despeito  das  suas  diferenças,  as  perspectivas  mais  influentes  compartilham  a  ideia  que  os  impactos  da  globalização  neoliberal  induziram o ativismo social a mudar o foco do plano doméstico para o internacional,  passando  a  direcionar  as  suas  demandas  e  ações  contra  as  instituições  internacionais  e  as  grandes  multinacionais   (Tarrow   e  McAdam,   2005;   Bennet,   2005;   Klein,   2002,   Della   Porta,   2005).   Em  comum  a  esses  estudos  há  a  adoção  do  nacionalismo  metodológico  como  ponto  de  partida,  o  conceito  de   movimento  social  transnacional  tem  o  estado­nação  como  referência  e  o  principal  critério  para  que  um  movimento  social  seja  considerado transnacional é o fato de estar organizado em mais de um país, o  que  induz  a  uma  interpretação  reducionista  do  fenômeno.  Isso  porque  tendem  a  adotar  a  ideia  que  a  sua  construção  se  dá  sempre  do  local  para  o  global,  o  que  Bringel  (2014)  conceituou  como  uma  “visão  teleológica   e  linear”   das   escalas   de   ação   política.  Nós  defendemos  que  a  teorização  de  movimentos  sociais  em  um  contexto  global  deve  propiciar  um  entendimento  mais  complexo,  holístico  e  crítico  de  fenômeno.  Assim  como  Eschlle  e  Stammers  (2004),  entendemos  que  o  pesquisador  deve  buscar  entender  a  relação  mutuamente  constitutiva  entre  as  diferentes  escalas:  global,  transnacional,  nacional  e  local,  sem diluir as suas diferenças e especificidades, direcionando  a  sua  atenção:  ao  grau  de  densidade  das  relações  sociais  através  do  globo,  à  reconfiguração  do  tempo  e  do  espaço   e  ao   papel   da   consciência,   da   reflexividade   e  da   agência   no   processo.    Bringel  (2014)  avança  no  entendimento  teórico  e  empírico  das  relações  entre  territórios,  redes  e  escalas  tratadas  de  forma  conjugada,  na  sua  conceituação  de   espacialidades  das  ações  coletivas.   Inspirado  em  algumas  perspectivas  críticas  da  geografia  política  e  da  sociologia,  o  teórico  sugere  que,  longe  de  constituir­se  em  uma  disjuntiva  excludente,  ambas  as  dimensões  são  complementares  e  o  foco  da  análise  deve  ser  na  tensão  entre  elas,  porque  esta  é  uma  das  principais  forças  mobilizadoras  do  processo  de  espacialização  da  (contestação)  política.  Quando  lutas  sociais  territorializadas  se  unem  e/ou  criam  uma  ou  mais  redes flexíveis, passam a estar conectadas a lugares diferentes e a uma variedade de escalas geográficas  –   do   global   ao   local   –  assim   como   a  serem   partes   constitutivas   e  nós   entre   diferentes   longitudes   na   rede.  Nicholls  (2009)  também  faz  um  esforço  teórico  para  integrar  as  diferentes  dimensões  e  oferece  um  quadro  conceitual  para  a  interpretação  da  complexa  geografia  das  redes  dos  movimentos  sociais  10 

contemporâneos,  a  partir  da  premissa  que  redes  e  espacialidades  são  dimensões  diferentes,  mas  não  excludentes,  e  a  questão  principal  é  entender  como  os  distintos  lugares  de  ativismo  contribuem  na  conformação   de  m   ovimentos   sociais   espaciais .  Partindo  do  pressuposto  que  os  movimentos  sociais  estão  estruturados  em  redes  sociais,  o  geógrafo  incorpora  Granovetter  (1983  [1973])  para  discriminar  entre  redes  sociais  globais  e  locais e os seus distintos  papeis  na  consolidação  dos  movimentos  sociais.  Enquanto  os  "laços  fortes"  respondem  pelo  alto  grau  de  confiança  e  de  capital  social,  que  garantem  a  coesão  das  redes  locais,  os  "laços  fracos"  das  redes  globais  contribuem  para  o  estabelecimento  de  relações  à  distância  e  para  a  difusão  da  mensagem  e  da  ideologia do  movimento   social.   Sob   esse   aspecto,   as   redes   sociais   locais   e  globais   são   complementares.   Na concepção de Nicholls, o conceito de lugar transcende a visão territorial, porque se refere também  a  "uma  área  que  abriga  diversos  "pontos  de  contato"  que  estimulam  novas  interações  entre  outros"  (IBID,  p.84).  Os  “pontos  de  contato”  surgem  em  oportunidades  de  encontro  e  interação  entre  ativistas  e  organizações  em  eventos  de  naturezas  e  objetivos  diversos:  protestos,  coalizões,  encontros  nacionais,  internacionais   e  transnacionais,   seminários,   fóruns   sociais;   cursos   de   formação,   brigadas,   etc.   O  fluxo  dessas  interações  é  mantido  presencialmente  nesses  episódios,  e  à  distância,  por  meio  das  tecnologias  de  comunicação.  À  medida  que  as  interações  se  intensificam,  as  barreiras  cognitivas  são  diminuídas  e  os  valores  comuns  vêm  à  tona;  em  consequência,  as  pessoas  (e  organizações)  tornam­se  mais  propensas  à  colaboração  mútua,  porque  as  partes  em  relação adquirem a confiança necessária para exporem  os  seus  saberes  e  ideias  nas  “zonas  de  contato”  –  conforme  teorizado  por  Sousa  Santos  –  influenciando  mutuamente  os  seus  repertórios  de  ação  e  contribuindo  para  a  edificação  de  um  corpo  de  saberes  sobre  as  questões   que   lhes   são   caras.  Na ausência de hierarquias formais, o que mantém estas redes unidas é um princípio de Solidariedade  Transnacional  e  Desigual.  Transnacional  porque  ultrapassa  fronteiras  nacionais  (Featherstone,  2003;  Nicholls,  2009)  e  desigual  porque  o  baixo  nível  de  capital  social  compartilhado  limita  a  capacidade  de  controle   e  de   coordenação   dessas   redes   (Nicholls,   2009).  Nesse  processo,  os  ativistas  migrantes  têm  papel  estratégico  “na  construção  de  quadros  interpretativos  comuns  e  na  conexão  entre  ativistas  locais  e  pessoas  distantes”  (IBID,  p.  87)  e  as  brigadas  internacionalistas  ganham  destaque  como  os  espaços  que  oportunizam  a  consolidação  dos  laços  entre  as  organizações,  porque  tem  maior  duração  no  tempo  e  implicam  na  construção  de  projetos  comuns.  Complementando  Nicholls,  pode­se  dizer  que  os  ativistas  enviados  para  as  brigadas  são  os  agentes  que  fazem  a  ponte  entre  um  local  e outro local, porque atuam como tradutores — nos termos de Carou e Bringel  (2010)  —  que decodificam uma cultura para a outra e tendem a estabelecer laços afetivos e de confiança nos  novos   lugares   onde   estão   baseados,   levando   esse   legado   consigo   quando   retornam   aos   seus   locais   de   origem. 

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Por  conseguinte,  a  análise  da  construção  da  Soberania  Alimentar  e  de  outras  formas  de  ação  dos  movimentos  sociais  rurais  contemporâneos  demanda  a  adoção  de  uma  perspectiva que conjugue essa noção  ampliada  de  espacialidade  às  suas  consequências  em  termos  de  criação  de  formas  de  ação  e  geração  de  novos  conhecimentos.  Um  exemplo  é  o  próprio  conceito  político  de  Soberania,  o  qual,  no  processo  de  intercâmbio  transnacional  que  forjou  a  conceituação  de  Soberania  Alimentar,  foi  sociologizado  e deixou de  representar  o  direito  de  um  Estado  exercer domínio sobre as suas fronteiras territoriais, passando a legitimar  o   direito   dos   povos   sobre   os   seus   territórios   materiais   e  imateriais.  É  importante  ressaltar,  como  adverte  Bringel  (2015),  que  os  padrões  de  interação  transnacional  e de  internacionalização  dos  movimentos  variam  enormemente  no  tempo,  no  espaço  e  de  acordo  com  os  diferentes  tipos de sujeito coletivo. No caso da Via Campesina, costuma haver uma diferenciação feita, pelos  próprios  movimentos  seus  constituintes,  entre  redes  de  alianças  táticas  e  redes  de  alianças  estratégicas  (Bringle  e  Falero,  2008;  Bringel,  2014).  Conforme  tive  chance  de  verificar  em  conversas  com  dirigentes  e  intelectuais  do  MPA,  essa  categorização  foi  trazida  de  Lênin  e  serve  para  diferenciar  entre  os  tipos  de  alianças  estabelecidas  entre  os  movimentos  sociais  e  outros  atores.  Os  critérios  definidores  dessas  redes  de  alianças  não  são  a  escala  de  ação  e  nem  a  sua  composição,  mas  o  interesse que une os atores na rede ser de  longo   prazo   ou   pontual,   o  que   coincide   com   a  existência   ou   não   de   uma   identidade   coletiva   forte.  As  alianças  táticas  são  pontuais  e  mais  fáceis  de  serem  construídas,  porque  articulam  organizações,  pessoas,  ONGs  e  instituições  que  não  compartilham,  necessariamente,  as  mesmas  crenças  e  ideais  e  nem  sempre  defendem  os  mesmos  interesses,  e  as  inúmeras  redes  formadas  em  torno  da  Soberania  Alimentar  servem  de  exemplo.  Dentre  estas,  podemos  citar  as  campanhas  “Sementes”,  “Combat  Monsanto”,  “OMC  fora  da  Agricultura”  e  “Ban  terminator”,  a  coalizão  transnacional  “O  nosso  mundo  não  está  à  venda”  (Our  world  is  not  for  sale),  o  boletim “Nyeleni" e a plataforma global “International Planning Committe for Food  Sovereignity”   (IPC).  Já  as  alianças  estratégicas  são  mais  duradouras  e  difíceis  de  serem  construídas,  porque  implicam  na  existência  de  alto  grau  de  capital  social  compartilhado  —  normas,  confiança,  emoção  e  quadros  interpretativos  —  e  no  desenvolvimento  ou  pré­existência  de  uma  identidade  coletiva  comum.  Embora  a  identidade  coletiva  não  seja  essencial  e  esteja  sempre  em  construção,  para  que  haja  um movimento social é  necessário  que  se  conforme  uma  subjetividade  coletiva  sustentada  não  apenas  pelo  reconhecimento  de  um  inimigo  comum,  mas  também  pela  existência  de  uma   necessidade  comum  compartilhada  pelo  conjunto  de  atores envolvidos. Esta  necessidade tem natureza material (e simbólica) e está associada à posição dos atores  nas  suas  respectivas  sociedades,  mas  não  pode  ser  resumida  a  uma  noção  simplista  de classe social, porque  as  fronteiras  de  ação do capitalismo ampliaram­se, gerando novas possibilidades de espoliação da natureza e  novas  formas  de  opressão  social  que  estimularam  a  formação  de alianças originais e inesperadas tanto entre  opressores  como  entre  oprimidos.  No  marco  da  Soberania  Alimentar  e  em  nível  transnacional,  a única rede  12 

de  alianças  estratégicas  que  reconhecemos  é  a  Via  Campesina,  que  acolhe  uma  diversidade  de  culturas,  origens   sociais   e  procedências   sob   a  identidade   coletiva   comum   de   Camponês.   

Considerações   finais  Este  trabalho  deriva  da  minha  tese  de  doutorado,  na  qual  busquei  realizar  uma  análise  multidimensional  e  multiescalar  da  Soberania  Alimentar,  entendida  como  uma  forma  de  conhecimento  prático,  tendo  como  foco  o  Movimento  dos  pequenos  Agricultores  (MPA)  e  a  sua  contribuição  para  este  processo.  Neste  artigo,  optei  por  priorizar  o  debate  teórico,  em  detrimento  da  análise  empírica,  porque  reconheço  uma  carência  de  esforços  neste  sentido,  no  estudo  de  movimentos  sociais  no  Brasil,  e  reconheci  este  encontro  como  uma  oportunidade  para  o  dialogo  e  o  consequente  avanço  da  compreensão  sobre  a  relação   entre   movimentos   sociais   e  produção   de   conhecimento.  A  proposta  de  uma  abordagem  cognitiva  e  epistêmica  sobre  movimentos  sociais  implica em colocar  o  foco  de  atenção  nos  processos  e  não  nos  resultados.  É  na  dinâmica  de  sua  práxis  que  os  movimentos  sociais  constroem  a  sua  ideologia  própria,  constituem­se  como  sujeito  coletivo,  produzem  conhecimento  social  e  exercem  o  seu  papel  como  “intelectuais  coletivos  da  classe”,  na  disputa  pela  construção  da  hegemonia.  Esses  processos  não  se  resumem  a  discursos  ou  atos  de  fala,  englobam  ainda  conhecimento  técnico,  manifestações  artísticas  e  sistemas  organizacionais.  Tampouco  são  exclusivamente  cognitivos, pois  aspectos   emotivos,   normativos   e  expressivos   também   os   influenciam.  O  produto  derivado  dessas  dinâmicas  está  registrado  em  discursos  textuais  e  imagéticos,  vídeos,  livros,  performances,  poesias,  técnicas  e  tecnologias,  etc.,  o  que  permite  a  realização  de  uma  análise  retrospectiva  da  trajetória  do  movimento  social,  como  sugerem  Eyerman  e  Jamison  (1991).  No  entanto,  nestes  produtos  não  é  possível inferir toda a significação da construção coletiva do processo, o que demanda  ir  além  e  entender  o   processo  em  processo ,  mediante  uma  pesquisa  de  viés  etnográfico,  como  proposto por  Casas­Cortés,  Osterweil  e Powell (2008). Também é importante reconhecer a natureza reticular, multiescalar  e  transnacional  dos  movimentos  sociais  contemporâneos  e  a  consequente  necessidade  de  realização de uma  análise   que   integre   essas   diferentes   dimensões,   como   sugere   Bringel   (2014).  O  percurso  teórico  aqui  apresentado  foi  o  caminho  traçado,  quando  da  realização  da  minha  tese  de  doutorado,  onde  mobilizei  esse  conjunto  de  teorias  e  ferramentas  em uma análise sobre movimentos sociais  e  produção  de  conhecimento,  a  partir  de  um  estudo  sobre  a  contribuição  do  Movimento  dos  Pequenos  Agricultores   (MPA)   para   o  desenvolvimento   teórico   e  prático   da   Soberania   Alimentar.   Um  dos  objetivos  da  referida  pesquisa  foi  investigar  as  principais  influências  teóricas  e  ideológicas  na  formação  do  MPA,  bem  como  identificar  as  dinâmicas  dos  seus  processos  de  formação  política  e  a  evolução  de  suas  ideias,  ideologia  e  identidade  enquanto  sujeito  coletivo.  Influenciada  por  Eyerman  e  Jamison  (1991),  busquei  recuperar  aspectos  da  trajetória  da  praxis  cognitiva  do  MPA,  dedicando­me  a  13 

identificar,  ler  e  analisar  as  principais  obras  que  influenciaram  a  formação  do  pensamento  crítico  do  movimento  social,  além  de  acessar  e  analisar  os  principais  manuais,  livros,  campanhas,  entre  outros  materiais  textuais  e  imagéticos  produzidos  coletivamente  pela  organização  ou  individualmente  por  seus  intelectuais   e  membros.   Na  sequencia,  reconheci  a necessidade de localizar a minha pesquisa no tempo e no espaço, de forma  a poder analisar o MPA como um espaço de conhecimento­prático. Este interesse levou­me ao extremo oeste  de  Santa  Catarina,  onde  passei  quarenta  dias  acompanhando  o  cotidiano  do  projeto  de  recuperação,  massificação  e  preservação  de  sementes  crioulas  protagonizado  pelo  MPA  em  São  Miguel  do  Oeste  e  Anchieta.   Nesta  ocasião,  também  tive  oportunidade  de  confirmar  que  o  global  e  o  local,  além  de  não  serem  instâncias  excludentes,  influenciam­se  mutuamente.  Os  investimentos  do  MPA  no  desenvolvimento  do  modo  de  produção  camponês,  a  nível  local  e  nacional,  ganharam  notoriedade  na  Via  Campesina  Internacional  e  motivaram  que  organizações  camponesas  de  outros  países  buscassem  o  estabelecimento  de  parcerias  com  o  movimento  social  brasileiro.  Durante  a  realização  da  minha  pesquisa,  o  MPA  não  só  fazia  parte  de  brigadas  internacionalistas  da  Via  Campesina,  como  tinha  relações  de  colaboração  direta  com  movimentos  sociais  em  Moçambique  e  no  Paraguai.  Não  por  coincidência, os técnicos e dirigentes do MPA  deslocados  para  estes  países  partiram  de  São  Miguel  do  Oeste  e  eu  pude  acompanhar  o  seu  trabalho  à  distância,  mantendo  contato  através  das  mídias  sociais.  O  objetivo  destes  intercâmbios  foi  o  desenvolvimento  da  Soberania  Alimentar  nestes  outros países, através do resgate das sementes crioulas e do  conhecimento  tradicional  local  e  do  desenvolvimento  de  novas  tecnologias  produtivas,  em  diálogo  com  a  Agroecologia.  De  acordo  com  os  registros,  o  MPA  contribuiu  com  os  seus  conhecimentos  e  experiências  pregressas,  mas  as  soluções  foram  definidas  de  comum  acordo,  através  do diálogo e da tradução de práticas  e   de   saberes,   e  as   experiências   validadas   na   prática.   Nesses  processos  relacionais,  a  Soberania  Alimentar  vai  sendo  enriquecida  com  novos  sentidos  e  práticas  e  se  constituindo  como  uma  forma  de  produção  social  de  conhecimento,  onde  a  práxis  teórica  é  mobilizada   politicamente   e  a  práxis   produtiva   transformada   em   estratégia   de   resistência   social. 

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