MULHERES MULTIFUNCIONAIS: MERCADO DE TRABAHO E DILEMAS FAMILIARES

May 27, 2017 | Autor: R. Periódico dos ... | Categoria: Mulher, Discriminação, Mercado De Trabalho, Múltiplas Jornadas
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FOCO:  Revista  de  Administração  da  Faculdade  Novo  Milênio.  

MULHERES MULTIFUNCIONAIS: MERCADO DE TRABAHO E DILEMAS FAMILIARES Aline de Andrade Ramalho1 Izabela Delfino de Figueiredo2

RESUMO O presente artigo tem como objetivo discutir sobre as mudanças na vida das mulheres e no âmbito familiar a partir da sua entrada no mercado de trabalho, bem como, as dificuldades de ascensão profissional devido à discriminação e os desafios enfrentados por essas mulheres em seu cotidiano. Para tanto, adotamos a pesquisa qualitativa, fazendo uma revisão bibliográfica a respeito da temática em questão. Dentre as categorias em destaque na análise, destaca-se a função materna da mulher, seus conflitos de valores e suas consequências. Mesmo assumindo jornadas árduas de trabalho, percebemos que a sociedade e a própria mulher continuam atribuindo as responsabilidades domésticas e os cuidados com os filhos a elas, assim, apesar do cansaço, para muitas, isto ainda é motivo de realização. PALAVRAS - CHAVE: Mulher. Mercado de Trabalho. Discriminação. Múltiplas Jornadas.

MULTIFUNCTION WOMEN: TRABAHO MARKET AND FAMILY DILEMMAS

ABSTRACT This article aims to discuss the changes in the lives of women and the family as they enter the labor market, as well as the difficulties of career advancement due to discrimination and the challenges faced by these women in their daily lives. Therefore, we adopted the qualitative research, making a literature review about the topic in question. Among the categories highlighted in the analysis, there is the maternal role of women, their value conflicts and their consequences. Even assuming arduous journeys to work, we realized that the society and the women continue assigning household responsibilities and child care to them as well, despite the fatigue, for many, this is still a matter of realization. KEYWORDS: Women, labor market discrimination, multiple journeys, family.                                                                                                                         1

  Graduanda em administração de empresas pela Universidade Federal de Campina Grande. E-mail: [email protected]   2   Graduanda em administração de empresas pela Universidade Federal de Campina Grande. E-mail: [email protected]  

“Estou cansada. Meu cansaço vem muito porque sou pessoa extremamente ocupada: tomo conta do mundo”. (Clarice Lispector) 1. INTRODUÇÃO No século XX, muitas mudanças ocorreram na sociedade. A inserção da mulher no mercado de trabalho foi um dos fatos marcantes, o que provocou uma transformação social, como o aumento do nível de instrução das mulheres, redução das taxas de fecundidade nas famílias, participação masculina nas tarefas domésticas, antes desempenhadas exclusivamente pelas mulheres, entre outros. Apesar das muitas conquistas, o trabalho feminino ainda sofre bastante discriminação e desvalorização, embora contribua significativamente com a renda familiar. Mesmo tendo ganhado espaço no mercado de trabalho, ocorre que, a mulher, tem dificuldade em separar a vida familiar da vida laboral, o que gera muitos conflitos internos e familiares, tendo ela, que se desdobrar para conciliar seus múltiplos papeis na sociedade, tentando desempenhá-los da melhor maneira possível. Embora seja uma jornada árdua, as mulheres conseguem assumir diversas responsabilidades, seja pela pressão da sociedade que impõe a elas diversas funções ou mesmo porque para muitas, não significa um fardo e sim um prazer.

2. INCERSÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO Antigamente, somente os homens trabalhavam fora de casa. Hoje, esse paradigma mudou. Um imenso número de mulheres deixou seus papeis domésticos para entrarem no mercado de trabalho. Essa mudança se deu lentamente, porém, as conquistas foram muitas. As mulheres começaram a participar do mercado de trabalho através das I e II guerras mundiais. Enquanto os homens batalhavam, as mulheres precisavam assumir o papel masculino na família e na economia da casa. Quando acabaram as Vol.6.  nº  1,  Novembro  de  2013.  

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guerras, muitos deles haviam morrido. Devido a essa situação, houve a necessidade de as mulheres passarem a fazer o trabalho que antes cabia somente aos homens. (PROBST, 2003). Desde o início do processo de inserção da mulher no mercado de trabalho, ela sofre bastante discriminação e preconceito, enfrentando diversos desafios. Por isso, até nos dias atuais as mulheres lutam por igualdade de direitos. Apensar das dificuldades enfrentadas, também há muitas conquistas alcançadas por elas. Há muitos anos as mulheres caminham para provar competência e capacidade de que são capazes de assumirem responsabilidades fora do lar. No século XIX, com a revolução industrial, a sociedade passa por uma grande transformação. As fábricas passam a utilizar a mão de obra feminina, que por sua vez, necessitam de instrução escolar intermediária que antes lhe era negada. Através do acesso à educação, as mulheres foram tomando consciência do seu papel na sociedade. Estas, também passam a ser vistas como consumidoras, passando a contribuir para a expansão da economia. A mulher trabalhadora foi um produto da revolução industrial, não tanto porque a mecanização tenha criado para ela postos de trabalho onde antes não existiam, mas porque no decurso da mesma ela se tornou uma figura perturbadora e visível (SOUSA, 2001, p. 15).

Antes da industrialização, algumas mulheres já desempenhavam algumas funções para ajudar nos rendimentos da família, porém, todas as atividades eram essencialmente domésticas. Trabalhos de costureira, fiandeira, criada doméstica, eram algumas das funções exercidas por elas. Entretanto, após a saída das mulheres do ambiente familiar para as fábricas, há um processo de reformulação familiar, possibilitando que a mulher tenha outras aspirações e visões. O sistema familiar tradicional começa a se romper e traz grandes repercussões para a nova estrutura familiar. Agora, além de mãe e esposa, a mulher passa a se preocupar com a sua satisfação pessoal e o seu sucesso profissional.

   

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Simões (2012), ao citar Diniz (1999), destaca que trabalhar fora de casa pode contribuir para aumentar a auto-estima e o senso de confiança da mulher, contribuindo de forma satisfatória para o desempenho das funções familiares. Este sentimento de utilidade e independência das mulheres trabalhadoras, á levaram a lutarem contra o poder patriarcal dos homens e a reivindicarem igual espaço no mercado de trabalho. Apesar de as corporações terem resistido em abrir espaço para as mulheres, elas garimparam seu ingresso á custa de um empenho que chegou às raias do heróico. (SINA, 2005, p.7). Sina apud SOITHET, 2005 afirma que o preconceito contra o trabalho feminino vai longe. A filosofia considerava que a inferioridade da razão entre as mulheres era fato incontestável, cabendo a elas, apenas cultivá-las na medida necessária ao cumprimento de seus deveres naturais: obedecer ao marido e cuidar dos filhos. Ao discorrer sobre as galhofas em torno da emancipação da mulher no início do século XX, ela afirma que os criminalistas e médicos “alertavam para o perigo das mulheres intelectualizadas”. Para grande parte dos estudiosos em comportamento da época, essas mulheres, eram mau exemplo para as outras, pois, poderiam pensar que podiam sobreviver sem o auxílio do marido, e como não podia ser diferente, essas mulheres de comportamento diferenciado eram alvo de todos os flagelos sociais. Preconceitos não desaparecem como um passe de mágica. Para que as mulheres chegassem onde estão, foram muitas lutas. As mulheres até podiam ousar, desde que, pagassem o preço. Renúncias, como ao amor e a maternidade talvez? Naquela época os homens esperavam que suas esposas fossem exemplares donas de casa, sempre prontas para agradá-los a qualquer hora (SINA, 2005). Foi a partir da década de 60 que se deu uma grande transformação, através de novos contextos sociais e econômicos. Conforme Simões (2012) apud Araújo (1993), o movimento feminista ao defender a liberdade e igualdade entre os sexos, lutando pela redefinição do papel da mulher na sociedade, foi fundamental para a transformação e modernização da família. Simões ainda cita o mesmo autor dizendo que: a reivindicação da igualdade, direito á liberdade sexual, fim do padrão moral da sociedade, controle da função produtiva e o fim da autoridade exclusiva do homem na família, gradativamente causaram mudanças em função dos novos padrões. Vol.6.  nº  1,  Novembro  de  2013.  

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Desta forma, o conceito de família evoluiu com o tempo, na atualidade, a maioria das mulheres trabalha fora de casa para ajudar no orçamento familiar. Elas conquistaram e ainda vem conquistando novos espaços e assumindo novas funções, sendo inegável sua ascensão no mercado de trabalho e na vida intelectual. A globalização dos anos 90, também foi um fenômeno que trouxe ao mundo corporativo o perfil feminino. Foi um marco profundo no final do século XX, que influenciou decisivamente a oferta de trabalho. A princípio, as mulheres tiveram que simplesmente igualar-se aos homens na luta pelo poder, usaram inclusive as mesmas armas. Certamente o preço foi muito alto (SINA, 2005).

3 O PREÇO DA CONQUISTA Diversos fatores influenciaram e impulsionaram a entrada da mulher no mercado de trabalho. Entre outros motivos, podemos destacar a necessidade econômica, o desejo de libertação da submissão aos homens, a conquista de sua independência financeira e novas necessidades de consumo. Apesar da discriminação e preconceitos sofridos pela mulher nas relações de trabalho, ela conquistou seu espaço. Segundo Simões (2012), acontecimentos como a urbanização das cidades e mudanças econômicas da sociedade foram os contribuintes para o processo de autonomia da mulher perante os homens, como também mudanças nos costumes e valores da família. O sistema familiar tradicional, na sociedade ocidental judaico-cristã, sempre foi uma estrutura a ser preservada e seguida. Tal configuração familiar era pautada por uma clara e rígida divisão do trabalho com papéis sociais e culturalmente estabelecidos; o pai como único provedor e responsável por desbravar o mundo e a mãe como a única responsável pelas tarefas domésticas e pelas necessidades da prole (SIMÕES, 2012, p. 7).

Enquanto os homens trabalhavam fora de casa para trazer o sustento da família, a mulher preocupava-se com os afazeres domésticos e a educação dos filhos. Desta forma, como afirma Simões (2012): Essa estrutura familiar facilitava a transmissão da cultura da continuidade da espécie.    

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Devido á saída da mulher do seu papel doméstico e ingresso no campo profissional, várias mudanças sociais foram percebidas ao logo do tempo, sendo cada vez mais expressiva a participação das mulheres no trabalho remunerado e no provimento financeiro do lar, passando por muitas vezes a ser a única mantenedora da casa. Esse ingresso no mercado de trabalho por muitas vezes se dá ainda na adolescência, como revela o estudo realizado por França e Schimanski (2009), essa pesquisa levou á reflexão sobre o que leva crianças e adolescentes entrarem precocemente no mercado de trabalho para ajudarem na renda familiar. A principal consequência disto está no baixo índice de escolaridade destas mulheres. Em épocas passadas, o estudo não era muito valorizado para as mulheres, pois naquele tempo, o casamento era a ideologia dominante. O anseio da maioria das mulheres era constituir uma família. Com a reestruturação da sociedade as aspirações agora são outras. As mulheres modernas se preocupam em primeiro lugar com sua carreira profissional e sua qualificação intelectual. A fim de conseguir ascensão no mercado de trabalho, as mulheres começam a se preocupar mais com os estudos para competir de forma igual com o gênero masculino. Uma pesquisa realizada por Magalhães e Silva (2010), aponta que apesar da relação entre a escolaridade e a participação das mulheres no mercado de trabalho ser intensa e mudanças significativas tenham sido impulsionadas pelo aumento do nível de instrução das mulheres, que possibilita um grande crescimento da participação feminina no mercado de trabalho, a melhora no nível de qualificação não melhorou de forma satisfatória a posição das mulheres nesse mercado. Magalhães e Silva apud RICHARD (2003), explicam a circunstancia pelo fato de o aumento da formação das mulheres ter ocorrido dentro de limites do caráter sexuado das carreiras. Assim, podemos perceber que os trabalhos femininos são menos valorizados, havendo ainda muita resistência á mudança da cultura do trabalho masculino. A pesquisa revela também que referente ao assalariamento, as mulheres recebem salários mais baixos que os homens, acarretado pelo preconceito e discriminação de gênero. Outra dificuldade que interfere na ascensão profissional da mulher é a sua função materna. Mulheres sofrem dificuldades em encontrar um emprego por algo que é de Vol.6.  nº  1,  Novembro  de  2013.  

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sua natureza. Muitas vezes deixam de ser contratadas porque podem engravidar um dia. A possibilidade de engravidar também levava as mulheres a serem preteridas na

batalha por um emprego. Acrescido do fato de que, caso viesse a se casar,

nunca

passaria pela cabeça dos homens dividirem tarefas domésticas com a

mulher, nem

o cuidado com os filhos – uma razão a mais para que as corporações

tivessem tal

atitude excludente com relação ás mulheres. As corporações temiam

a abstinência no

trabalho e não queriam ter de ficar sem a contratada no

amplo período pós-parto

(SINA, 2005, p.49).

Apesar de ser uma citação referente ao contexto dos anos 60, atualmente, mesmo após inúmeras conquistas e avanços, existe esse tipo de preconceito, geralmente na ocupação de funções de liderança. Um grande aliado na expansão dos horizontes para as mulheres foi o surgimento da pílula anticoncepcional. O medicamento foi um poderoso instrumento para a verdadeira revolução de costumes que se seguiu. Foi o passaporte para a liberdade sexual feminina. Desde então, engravidar passou a ser uma questão de escolha, permitindo que houvesse mais argumentos na luta por um posto no mercado de trabalho. Sina (2005) comenta sobre o livro: O segundo sexo, da francesa Simone de Beauvoir, denominado a bíblia feminina, que apesar de lançado em 1949, alcançou maior repercussão no bojo da polêmica feminista. Ela defendia o fim do mito do “eterno feminino”. Para ela, as vocações independem do sexo e devem ser vividas em sua plenitude. Muitas mulheres renunciaram ao casamento ou desfizeram seus laços afetivos pelas

carreiras. Outras deixaram para adiante o sonho da maternidade,

porque este sempre

foi apontado pelas empresas como o grande empecilho para

que deslanchassem

realmente em suas trajetórias. Não havia como, no princípio,

reunir as duas

competências: disponibilidade todo o tempo no cargo e

gravidez e suas

consequências (SINA, 2005, p.63).

Ainda comentando as ideias de Sina (2005), no início do século XX, a maior parte das mulheres, viam o casamento, como forma de emancipação, por sair da casa dos pais. Mas, na verdade, o casamento significava apenas mudança de submissão. A    

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liberdade feminina só acontece quando a mesma assume a responsabilidade familiar, através da separação ou desemprego do marido. Devido às necessidades dos novos tempos, as grandes famílias foram substituídas pelas menores, por vários motivos, inclusive econômicos. Gradativamente o numero de filhos foi sendo reduzido, seja pelo fator econômico, ou porque as mulheres não ficam mais em casa para dedicar-se à criação dos mesmos. Entretanto, da mesma forma, existem mulheres que mantém sua independência sem abrir mão do casamento e da maternidade. Porém, hoje há um receio em ter filhos, ou ao menos, tê-los muito cedo. Diferentemente do passado, hoje, casar e ter filhos é uma questão de escolha. As mulheres não querem mais se prender à vida do lar, querem novas oportunidades e desafios. Porém, como comenta Simões (2012), aquelas que decidem por constituir uma família, têm tendência a priorizarem as questões relacionadas à valorização da vida emocional e afetiva de seus membros. Para que a mulher de classe média possa sair para trabalhar é necessário que outra pessoa exerça seu papel no lar, além de uma babá para cuidar dos filhos, o que dificulta bastante sua vida. Em uma entrevista realizada por França e Shimanski (2009), indica que conforme observado na maioria das mulheres entrevistadas, por um lado entrar no mercado de trabalho trouxe muitos avanços para o mundo feminino, por outro lado ocorre que, sobretudo referente aos filhos, a ausência nos cuidado dos mesmos tende a gerar um sentimento de abandono e descuido. Para essas mulheres e na concepção social, isto provoca uma educação insuficiente, fazendo-as sentir que não estão cumprindo com o seu dever materno. Um grande exemplo disso é o período de amamentação, as mulheres reduzem o tempo de amamentação para não correrem o risco de perderem o emprego. Isto causa impacto sobre mãe e filho. O que percebemos é que mesmo nos dias atuais, a mulher ainda carrega consigo antigos valores, onde lhes é cobrada a maior parte da responsabilidade nos cuidados com os filhos. A mulher ainda guarda para si as tradições do lar. Mesmo assumindo outros papéis na sociedade, sentem-se no dever de cuidar dos trabalhos domésticos. “Apesar das evoluções pelas quais o mundo feminino vem passando Vol.6.  nº  1,  Novembro  de  2013.  

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nas ultimas décadas, o fato é que o padrão tradicional, ainda se mantém na maioria das mulheres pesquisadas” (FRANÇA E SCHIMANSKI, 2009, p.75). Em uma pesquisa da companhia de recrutamento Catho, indicou que 53% das profissionais que têm filhos deixam o mercado de trabalho para se dedicar à criança. Destas, 18,6% não voltam ao mercado de trabalho. Um quarto das profissionais 25,8%, leva entre um e dois anos para retomar a vida corporativa. O levantamento ouviu 53,6 mil profissionais de 1.677 cidades do país, entre fevereiro e março deste ano (Correio da Paraíba, 2013). Um dos grandes desafios para a mulher envolve o imperativo de conciliar as funções afetivas, profissionais, familiares, acadêmicas e ainda continuar cuidando da organização da casa e da educação dos filhos. (SIMÕES, 2010, p.11). O fato é que, nas últimas décadas as mulheres vêm pagando um alto preço, tentando conciliar todas as demandas que lhes são atribuídas. Por esta razão, hoje, é fácil vermos homens ajudando nas tarefas antes ditas femininas. Tarefas referentes á família estão sendo compartilhadas entre pais e mães, em especial os cuidados com os filhos, porém, há resistência masculina em aceitar a divisão das tarefas domésticas devido à insignificância com que essa é tratada socialmente. Na concepção de Sina (2005, p. 105), “a estrutura familiar tem de ser mais flexível, até mesmo nos papeis desempenhados quando adotado o formato tradicional de família. O pai tem que exercer funções antes tidas como essencialmente femininas”. Mesmo assim, a maior parcela de responsabilidade continua a ser da mulher. As mulheres sofrem mais do que os homens com o estresse de uma carreira, pois as pressões do trabalho fora de casa se duplicaram. As mulheres dedicam-se tanto ao trabalho quanto o homem e, quando voltam para casa, instintivamente dedicam-se com a mesma intensidade ao trabalho doméstico. Embora alguns homens ajudem em casa, não chegam nem perto da energia que a mulher tende a dar (PROBST, 2013, p.4).

A tendência de os homens co-participarem na arena das responsabilidades domésticas, porém, não significa que eles aceitem – de maneira incondicional – a dedicação exclusiva de sua esposa a uma empresa (SINA, 2005, p.123).

   

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Podemos dizer que o peso das responsabilidades assumidas pela mulher atrapalha nas possibilidades de crescimento profissional destas, pelo fato de que é muito mais difícil para elas assumirem integralmente tarefas profissionais e em igualdade de condições de trabalho, diferentemente dos homens. França e Schimanski (2009, p.73), conforme Guérim (2003) chama esses obstáculos de desigualdade intrafamiliar. Neste cenário, obrigações familiares, como o cuidado de crianças e idosos e obrigações domésticas ainda são predominantemente femininos. O desdobramento da mulher para conciliar seu duplo papel é uma tarefa árdua, pois além de trabalhar fora de casa, ainda precisa executar seu papel de esposa, mãe e dona de casa. Desta maneira, as demandas familiares interferem na vida profissional, porém, acontece com maior frequência a interferência da vida familiar pelas demandas profissionais. Desta forma, o bem estar da família pode estar mais comprometido do que a qualidade do desempenho profissional, é o que destaca Simões (2010) segundo Faria e Barham (2004). Neste contexto, voltamos a falar da redução dos membros da família. Uma importante característica das mudanças familiares após a inserção da mulher no mercado de trabalho é a redução do número de filhos, realidade que pode ser facilmente percebida nos últimos tempos. No Brasil, segundo resultado da amostra do senso demográfico 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que, o número médio de filhos tidos nascidos vivos por mulher ao final de seu período fértil, foi de 1,90 filho. Diminuição de 69,2% em relação ao valor de 1940, que era de 6,16 filhos. Além da diminuição do número de filhos, as mulheres estão engravidando cada vez mais tarde. A pesquisa mostra que a fecundidade das mulheres menores de 30 anos representava 72,4% da fecundidade total em 2000. Em 2010, esta participação foi 68,6%. Isto implica dizer que muitas mulheres estão adiando a maternidade, sem sombra de dúvidas, a carreira profissional é um dos principais motivos. Podemos ser levados a seguinte reflexão: Se por um lado o trabalho significa independência financeira, por outro, pode não garantir a realização. As mulheres admitem a dificuldade de conciliar o trabalho com aspectos da vida pessoal. “Uma Vol.6.  nº  1,  Novembro  de  2013.  

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das grandes questões que a mulher enfrenta no dia-a-dia é a dos papeis múltiplos que é obrigada a assumir. A palavra parece forte, mas é essa mesmo: obrigada. E por quê? Há uma pressão da sociedade para que ela seja, ainda, esposa e mãe” (SINA, 2005, p.127). Podemos nos perguntar: será que as mulheres estão conseguindo cumprir seus diversos papeis? A s mulheres tem uma grande capacidade de sustentarem suas múltiplas funções e também de serem grandes líderes. As mulheres possuem maior visão do todo e da parte, por isto, conseguem ser ao mesmo tempo mulher, mãe, filha, profissional, dona-de-casa, esposa, dentre outra funções ou papéis. As mulheres são capazes de trabalharem profissionalmente e ao mesmo tempo administrarem suas casas, seus filhos, estudos, estudos dos filhos, lição de casa, prova, relacionamento afetivo, conjugal, maternidade, dentre outros, buscando mesmo com dificuldades, sustentarem esse todo, observando cada situação e todas elas ao mesmo tempo (ARANY, [s.d]).

Como percebemos no pensamento da autora, mesmo sendo muito desgastante, elas conseguem assumir ao mesmo tempo inúmeras tarefas. Podemos deduzir que para muitas pode até significar um fardo, mas para outras tantas, essa rotina exaustiva é motivo de realização. Além dos tantos deveres assumidos pelas mulheres, elas ainda têm que se preocupar com sua feminilidade e aparência. Existe uma tendência social de cobrar da mulher que ela se mantenha sempre jovem, bonita, magra e atraente, assim, a mulher além de exercer várias funções, ainda é pressionada para que se mantenha com a imagem física que a sociedade impõe como ideal. Fato este, que para os homens não tem tal peso quanto para as mulheres. Por todos os papéis e desafios assumidos e enfrentados pelas mulheres podemos assim dizer: “Toda mulher que trabalha é uma guerreira forte e merece respeito” (SINA, 2005, p.11).

4. CONCLUSÕES O que se conclui com o estudo sobre mulheres multifuncionais e os dilemas familiares é que atualmente o perfil das mulheres é bem diferente das do início do século XX. Apesar da evolução das mulheres no desempenho de atividades públicas, antes exclusivamente masculinas, elas ainda se prendem às atividades    

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domésticas, sendo obrigadas a assumirem inúmeras responsabilidades, esquecendo muitas vezes delas próprias. O grande desafio das mulheres dessa geração é tentar reverter, ainda hoje, antigos valores sociais, onde a mulher é a única ou principal responsável pelas tarefas domésticas. Da mesma maneira que elas já provaram conseguir assumir diversos papéis e além de ótimas donas de casa também podem ser, e são, ótimas profissionais, não deixando a desejar por homem algum, eles, também precisam assumir responsabilidades do lar e lidar com isso com naturalidade. Os padrões familiares estão mudando, o mercado de trabalho também e as mulheres estão cada vez mais independentes. É verdade que a educação patriarcal as afetou e algumas preferem ficar onde estão, mas, é preciso renegociar. As mulheres assumiram múltiplos papéis por anos, é necessário explorar o caminho inverso, buscar a realização de maneira diferente, e buscar a igualdade na vida profissional e nas tarefas do lar. Desta maneira não há sobrecarga, diminui-se o estresse e ambos podem ser mais felizes.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ARANY, Ramy. Mulheres multifuncionais e a feminilidade. Instituto KVT. São Paulo. [s.d.]. Disponível em : Acesso em 01 Jul. 2013 CORREIO DA PARAIBA, João Pessoa, 26 de Agosto de 2013. Ano LX nº 022. FRANÇA, Ana Letícia de; SCHIMANSKI, Édina. Mulher, trabalho e família: uma análise da dupla jornada de trabalho feminina e seus reflexos no âmbito familiar. Ponta Grossa: Emancipação, 2009. Disponível em: Acesso em 01 Jul. 2013

IBGE. Censo Demográfico 2010, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2011. MAGALHÃES. B; SILVA. G. A mulher no trabalho, na família e na universidade. Revista Eletrônica Arma da Crítica, ano 2, n. 2, Março. 2010. Disponível em: Acesso em 01 Jul. 2013 PROBST, E. R. A evolução da mulher no mercado de trabalho. Disponível em: Acesso em 20 ago. 2013. SIMÕES, F. I. W; HASHIMOTO, F. Mulher, mercado de trabalho e as configurações familiares do século XX. Revista Vozes dos Vales: Publicações Acadêmicas: Universidade Federal dos Vales dos Jequitinhonha e Mucuri, Minas Gerais, ano 1, n. 2, Outubro. 2012. Disponível em: Acesso em 01 Jul. 2013 SINA, Amália. Mulher e trabalho: o desafio de conciliar diferentes papéis na sociedade. São Paulo: Saraiva, 2005. SOUSA, Mirian Chaves de. A mulher no mercado de trabalho. Rio de janeiro. 2001. Disponível em: Acesso em 20 ago. 2013.

   

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