Mundo do trabalho na área de Engenharia Sanitária e Ambiental: Uma análise na perspectiva de gênero

July 9, 2017 | Autor: L. Moraes | Categoria: Job Turn Over, Job Market
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XIX Exposição de Experiências Municipais em Saneamento De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG

MUNDO DO TRABALHO NA ÁREA DA ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL: UMA ANÁLISE NA PERSPECTIVA DE GÊNERO Amanda Farias Pedreira(1) Graduanda em Engenharia Sanitária e Ambiental (EP/UFBA) Juliane Figueredo Souza de Araújo Graduanda em Engenharia Sanitária e Ambiental (EP/UFBA) Patrícia Campos Borja Engenheira Sanitarista e Ambiental (EP/UFBA). M.Sc. em Arquitetura e Urbanismo (FA/UFBA). Dra. em Arquitetura e Urbanismo (FA/UFBA). Realizou estágio pós-doutoral na Universitat Autònoma de Barcelona-Espanha. Professora Adjunto do Mestrado em Meio Ambiente, Águas e Saneamento da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia. Virgínia Silva Neves Engenheira Sanitarista e Ambiental (EP/UFBA). MSc. Em Engenharia Ambiental Urbana (EP/UFBA). Professora do Departamento Acadêmico de Construção Civil do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA). Luiz Roberto Santos Moraes Engenheiro Civil (EP/UFBA) e Sanitarista (FSP/USP). M.Sc. em Engenharia Sanitária (IHE/Delft University of Technology). Ph.D. em Saúde Ambiental (LSHTM/University of London). Realizou estágios pós-doutoral na Universidade do Minho-Portugal e na Universitat de Barcelona-Espanha. Professor Titular em Saneamento e Participante Especial do Mestrado em Meio Ambiente, Águas e Saneamento da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia. Renavan Andrade Sobrinho Engenheiro Civil (EP/UFBA). Engenheiro Sanitarista e Ambiental (EP/UFBA). MSc. em Meio Ambiente, Águas e Saneamento (EP/UFBA). Engenheiro da Embasa. Endereço(1): Rua Aristides Novis, 2, 4º. Andar, sala 11 – Federação – Salvador – Bahia – CEP: 40.210-630 - Brasil - Tel: +55 (71) 3283-9783 - e-mail: [email protected]. RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo ampliar o conhecimento sobre o mundo do trabalho na área de Engenharia Sanitária e Ambiental (ESA) e a questão de gênero, de forma a contribuir para uma melhor participação da mulher nesse campo profissional, quantitativa e qualitativamente. O estudo restringiu-se ao estado da Bahia e envolveu 296 egressos de universidades públicas federais que receberam questionários por e-mail, respondidos por 198 (66,9%) deles. A pesquisa ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento

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revelou uma grande participação da mulher na ESA no Estado da Bahia, principalmente, nas áreas de meio ambiente e de saneamento, bem como na área de resíduos sólidos e na vigilância sanitária, com constante crescimento de sua atuação inclusive em cargos diretivos das empresas públicas e privadas. Em relação à questão salarial os dados confirmam uma desigualdade no mundo do trabalho na ESA, onde as mulheres percebem valores mensais menores, que pode se dar pela faixa etária mais baixa das entrevistadas do sexo feminino. Palavras-chave: Mercado de trabalho; mulher; Engenharia Sanitária e Ambiental.

INTRODUÇÃO/OBJETIVOS

A engenharia moderna começou nas academias militares diante dos interesses dos EstadosNação em manter e ampliar a sua capacidade coercitiva e sua hegemonia, ou, ainda, de promover a proteção de seus territórios frente aos possíveis ataques, o que exigia investimentos em ciência e tecnologia. No entanto, essa origem explica em parte a forte presença masculina na engenharia ao longo de várias décadas. Essa realidade só pode ser explicada em sua totalidade pela análise da estrutura social e do processo histórico que delineou o mundo do trabalho na sociedade capitalista ao longo dos anos. Tal análise permite contatar que não só os processos culturais e sociais, mas também econômicos e políticos moldaram o mundo do trabalho e o maior protagonismo masculino, sendo reservada à mulher posição subalterna, embora as modificações na estrutura social do capitalismo fordista tenha exigido a necessidade da inserção gradativa da mulher nas atividades produtivas. Esse contexto histórico refletiu na ampliação mais recente da inserção da mulher na engenharia, mesmo que de forma diferenciada em cada modalidade. No Brasil, desde o século XIX, já existiam escolas de engenharia. Entretanto, o acesso ao ensino superior era reservado às classes de renda mais alta e o fato de se considerar a engenharia uma profissão exclusivamente masculina dificultava a inserção da mulher, cujo papel estava mais fortemente vinculado aos cuidados com o lar e a família (LOMBARDI, 2004). À medida que a participação da mulher no mundo do trabalho se amplia e a partir da criação de novas engenharias, com perfil mais desvinculado das atividades masculinas, abre-se espaço para uma maior participação da mulher na engenharia, especialmente nas engenharias química e ambiental. O espaço da mulher no mundo do trabalho é contraditório. Por um lado é uma conquista de direitos e por outro é o resultado de transformações no modo de produção capitalista que passou a exigir a incorporação da mulher na força de trabalho. Apesar dos avanços conquistados ao longo dos anos, na sociedade, na política e no mundo do trabalho, as atribuições femininas na reprodução social ainda se vinculam sobremaneira às atividades domésticas. Mesmo no mundo ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento

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do trabalho, o estímulo desde a primeira infância para as meninas exercerem funções que exige cuidado e organização, enquanto para os meninos associa-se a atributos de força e raciocínio, afloram o lado materno das mulheres e protetor dos homens. A partir de então, forja-se aptidões, como a facilidade com cálculos, artes, criações, entre outros, características que auxiliam na escolha da profissão. A questão do gênero na área da engenharia no Brasil é pouco estudada, de modo que uma investigação específica no campo da Engenharia Sanitária e Ambiental (ESA) envolve um esforço adicional, embora necessário. O presente trabalho se insere nesse esforço e tem como objetivo ampliar o conhecimento sobre o mundo do trabalho na ESA e a questão de gênero, de forma a contribuir para uma melhor participação da mulher nesse campo profissional, quantitativa e qualitativamente. O estudo restringiu-se ao estado da Bahia e envolveu egressos de universidades públicas federais.

O ENGENHEIRO SANITARISTA E AMBIENTAL NA SOCIEDADE

O Engenheiro Sanitarista e Ambiental tem um papel de destaque frente a sua área de atuação. Além de ser um Engenheiro na concepção da palavra “engenhar”, essa profissão apresenta uma característica singular que é ser um “Engenheiro com atuação social”. Essa atuação singular do Engenheiro Sanitarista e Ambiental junto a sociedade permite a participação do mesmo no exercício profissional das quatro componentes do saneamento básico (abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem e manejo de águas pluviais), além de atividades relacionadas ao meio ambiente, pois cada vez mais forte é a relação entre o saneamento, o meio ambiente e a saúde, caracterizando o que se denomina atualmente de saneamento ambiental. Pode-se destacar também outras áreas de atuação como no controle ambiental de vetores, recursos hídricos, produção mais limpa, prevenção e controle da poluição e gestão ambiental. De forma mais prática, na vertente do saneamento básico o engenheiro projeta, constrói e gerencia a operação de sistemas de captação, tratamento e distribuição de água, de coleta e tratamento de esgoto e de manejo adequado de resíduos sólidos. Também atua na manutenção das redes de distribuição de água e coletora de esgoto. Destaca-se também na construção, operação e manutenção de sistemas de drenagem urbana e, mais recentemente, no manejo de águas pluviais em áreas urbanas e rurais. Uma forma mais moderna de enxergar as correntes de água em uma cidade é gerenciando as águas urbanas de forma conjunta (água potável, esgotos sanitários e águas pluviais). Do ponto de vista ambiental a profissão é habilitada para propor soluções socialmente justas e ecologicamente corretas para os problemas ambientais como ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento

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poluição dos rios, do ar, do solo, aquecimento global, dentre outras. O profissional da engenharia sanitária e ambiental pode ser contratado pelos órgãos públicos, pela iniciativa privada e terceiro setor. Pode trabalhar em órgãos e secretarias municipais, estaduais e federais e também no setor industrial. Também pode atuar na área de consultoria, com assessoramento, gerenciamento e fiscalização de projetos e obras. Também pode-se destacar um crescimento da participação dos engenheiros sanitaristas e ambientais no setor privado, principalmente o industrial, com maior destaque para indústrias petroquímicas e alimentícias.

METODOLOGIA

Após a revisão bibliográfica foi realizada uma pesquisa gerando dados primários por meio da aplicação de um questionário junto aos egressos das Universidades Federais da Bahia ( UFBA), do Oeste da Bahia (UFOB) e do Recôncavo da Bahia (UFRB). Os questionários foram disponibilizados para 296 graduados que possuíam contato por e-mail, e, destes, obteve-se 198 respostas (66,9%). O questionário foi estruturado visando conhecer as características socioeconômicas, área de atuação, inserção em cargos de gestão, faixas salarias, vínculos empregatícios, dentre outros. A larga faixa etária dos respondentes, entre 23 e 62 anos, possibilitou uma melhor visão do mundo do trabalho e o número de respondentes permitiu identificar as características socioeconômicas dos engenheiros respondentes. Devido ao menor número de engenheiras formadas, esperava-se uma participação masculina mais significativa, entretanto houve pouca diferença entre a quantidade de participantes de cada gênero.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa, como referido anteriormente, visa uma maior compreensão do mundo do trabalho na ESA e a questão de gênero. A princípio, um dos mais importantes questionamentos era o conhecimento da área de atuação dos profissionais da Engenharia Sanitária e Ambiental, segundo o gênero. Dos respondentes 105 foram do gênero feminino e 93 do masculino.

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Figura 1 – Comparação entre as áreas de atuação, destacando a questão do gênero Os resultados apresentados na Figura 1 mostram que o grande destaque foi a inserção dos profissionais pesquisados nas áreas de Abastecimento de água e Esgotamento sanitário, a prevalência feminina na área de Gestão e planejamento ambiental e Política e gestão de saneamento e a grande incidência de homens graduados que não atuam na área. Nota-se que os campos do esgotamento sanitário e do abastecimento de água são de longe aqueles de maior atuação dos profissionais, tanto para os homens como para as mulheres. Isso certamente tem vínculos pela maior demanda dos prestadores de serviços e empresas de consultoria por profissionais desse campo. Pode-se observar ainda a grande presença da mulher no campo da Gestão, política e planejamento, achado compatível com de outros estudos. A Figura 2 mostra um significativo número de profissionais trabalhando no setor público, e havendo nele um equilíbrio entre os gêneros. As oportunidades para o profissional que lida com as questões sanitárias e ambientais são maiores no setor público, principalmente, no que diz respeito ao setor de prestação de serviços. Isso pode ser comprovado pelo levantamento

do

Sistema

Nacional

de

Informações de Saneamento (SNIS) onde apesar de termos quase 100% dos núcleos Figura 2 – Vínculo empregatício dos profissionais da ESA associados à questão do gênero

urbanos com água tratada, existe um grande défícit no saneamento rural que abrange, principalmente, as regiões Norte e Nordeste do

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País, pouco mais da metade dos municípios brasileiros tem esgotamento sanitário com rede coletora e quase 40% deles ainda despejam os esgotos sanitários à céu aberto, além da problemática dos resíduos sólidos onde menos de 40% dos municípios brasileiros contam com aterros sanitários para disposição de seus resíduos sólidos, estando esses quase em sua totalidade nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. O setor público é assim um dos principais empregadores, principalmente, nos prestadores de serviços municipais e estaduais de água e esgoto e resíduos sólidos, como mostra a Figura 2, em que 35% dos respondentes trabalham em instituições públicas, destes 51% são mulheres. Na área ambiental destacam-se as secretarias de meio ambiente, órgãos e agências ambientais. Os órgãos e empresas públicas têm ampliado sua preocupação com a sustentabilidade de seus processos e o profissional geralmente indicado para atuar nessas situações é o engenheiro sanitarista e ambiental. Também pode-se destacar um crescimento da participação dos engenheiros sanitaristas e ambientais no setor privado, principalmente o industrial, com maior destaque para indústrias petroquímicas e alimentícias. Merecem destaque a atuação em recuperação de áreas degradadas e as ações de sustentabilidade ambiental, cobradas com ênfase cada vez maior das indústrias. Também grandes construtoras e empresas de energia demandam os profissionais da engenharia sanitária e ambiental, visando avaliar e prevenir o impacto ambiental nas obras e manutenção das operações de extração de petróleo, hidrelétricas, termelétricas e eólicas, dentre outras, e, mais recentemente, na operação de serviços públicos de saneamento básico, mais especificamente em abastecimento de água e esgotamento sanitário. Todavia, as posições mais bem remuneradas do mercado de trabalho ainda se encontram, em sua maioria, com os homens. A Figura 3 mostra que quanto ao nível de formação/ titulação o número de engenheiras com mestrado (14) foi igual ao de engenheiros e com doutorado 4, enquanto apenas 3 engenherios tem está titulação. Com apenas graduação são 76 engenheiras e 66 engenheiros, enquanto com outro (aperfeiçoamento, Figura 3 – Nível de formação dos engenheiros sanitaristas e ambientais

especialização) esses números são 11 e 10, respectivamente.

Apenas 33% das mulheres já exerceram cargos de chefia, enquanto esse percentual atinge a 59% para os homens. “Constata-se que elementos discriminatórios entre os sexos ainda fazem o pano de fundo na hora de seleção para o ingresso no mercado de trabalho e as promoções a cargos hierárquicos mais elevados” (MARQUES, 2005, p.4). Porém, este quadro apresenta alterações ao decorrer dos anos. Segundo pesquisa apresentada pela Maria Rosa Lombardi (2006), doutora da ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento

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Unicamp, observa-se no rendimento médio anual dos engenheiros brasileiros entre os anos de 1985 e 2002 uma “diminuição da diferença entre a remuneração dos dois sexos no decorrer dos anos”. No entanto, para ela estas informações poderiam implicar “de um lado, do aumento dos valores recebidos pelas engenheiras e, de outro, da diminuição do rendimento dos engenheiros” (LOMBARDI, 2006). A questão do salário das mulheres também foi um ponto estudado na pesquisa. A Figura 4 apresenta os resultados do salário bruto dos profissionais da ESA pesquisados -198 engenheiros, sendo 105 mulheres e 93 homens. As análises permitem verificar que um pequeno percentual de profissionais percebe mensalmente mais que 20 salários mínimos – SM, 7 pessoas, sendo que apenas uma mulher encontrava-se nesta faixa salarial. No universo feminino, 64% (67) recebem salário mensal inferior a 8,5 SM, enquanto entre os homens, 52 (56%) recebem acima deste valor. Em meio a essas profissionais, 63 (60%) possuem idade igual ou inferior a 30 anos; por sua vez, entre os engenheiros da mesma faixa etária, 25% (24) já percebem salário mensal acima de 8,5 SM.

Figura 4 – Faixas de salário mensal (em SM) por gênero Um total de 24% das mulheres informou que vivenciaram situações de preconceito em seu ambiente de trabalho, o que aconteceu com 18% dos homens. Cerca de 18% dos respondentes realizaram cursos de pós-graduação, sendo 18 engenheiras e 17 engenheiros, apresentando um equilíbrio, como mostrado na Figura 4. Muitos dos relatos de preconceitos descritos pelas mulheres apresentavam origem na questão do gênero, entretanto, não só elas, mas também os homens recém-graduados indagaram sobre a insegurança de contratá-los. Em vista disso, realizar

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um curso de especialização pode ser a melhor

solução

encontrada.

Setores

voltados à tecnologia e sustentabilidade ainda são os mais procurados.

Aproximadamente 89% dos engenheiros entrevistados atuam no estado da Bahia. Destes, apenas 18% atuam no interior do estado, sendo 8% mulheres e 10% homens, enquanto mais de 70% dos engenheiros formados pela UFBA, UFOB e UFRB exercem sua profissão em Salvador ou em sua região metropolitana (Figura 5). A maior disponibilida-de de emprego para o engenheiro sanitarista e ambiental ocorre nas capitais e cidades de médio porte, ainda com uma carência desse profissional nos municípios menores de 50 mil habitantes, que representam maior parte das cidades baianas e brasileiras. Isto porque os grandes centros visam um maior cresimento e estrutura adequada para que haja o melhor desenvolvimento, enquanto as pequenas cidades pouco investem neste tipo de serviço. A participação em associações e entidades de classe baixa é cada vez mais frequente para o engenheiro sanitarista e ambiental. Até mesmo pelo fato de ser um engenheiro que atua em contato direto com as comunidades, vivenciando os problemas enfrentados pelas mesmas e buscando as soluções mais ambientalmente adequadas, isso torna a participação dessa profissão mais presente em entidades com o seu viés mais amplo como as Organizações Não Governamentais (ONGs). Os engenheiros e demais profissionais da engenharia sanitária e ambiental inseridos nessas organizações da sociedade civil têm papel fundamental para a superação dos desafios nos campos do saneamento e do meio ambiente. A atuação do engenheiro sanitarista e ambiental na área de saneamento era considerada até pouco tempo essencialmente masculina, com grande participação dos homens na prestação dos serviços, principalmente, em atividades relacionadas a operação e manutenção. As mulheres estavam mais presentes nos setores de projeto e aqueles que não exigiam atividades de campo. ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento

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Já na área ambiental a presença da mulher era maior, até mesmo, pelo caráter ecológico, que impunha a profissão. Dentre os fatores que podem ser destacados como justificativa destes aspectos, pode-se citar a maior mobilidade no mundo do trabalho e a necessidade de manutenção de vínculos empregatícios mais seguros frente à condição de provedor, dentre ouros. Uma hipótese defendida por Carvalho (apud BAHIA, 2011) é que esta engenharia está mais associada à gestão, estudos e atividades em laboratórios, ao invés das ligadas a obras – mais afeta à engenharia civil, adquirindo, assim, maior apreço do gênero feminino que do masculino.

CONCLUSÃO

Na direção das considerações de Yannoulas (2003), a divisão de gênero do mundo do trabalho foi engendrada na estrutura social e no processo histórico, que é marcado por uma divisão horizontal e vertical. A primeira está associada à destinação às mulheres a cargos considerados femininos, geralmente voltados às funções de reprodução ou a características como paciência, docilidade e outras, desenvolvidas desde a primeira infância. No âmbito vertical, há a participação da mulher em postos de trabalho que não alcançam os mesmos salários dos homens. A presente pesquisa revelou que na Engenharia Sanitária e Ambiental no Estado da Bahia existe uma grande participação da mulher. Dentre as áreas de atuação destaca-se uma maior participação da mulher nas áreas de meio ambiente e de saneamento. Também percebe-se uma forte atuação na área de resíduos sólidos e na vigilância sanitária. Destaca-se uma maior participação masculina nas áreas que envolvem maior atividade de campo/obras. No que diz respeito à questão salarial os dados confirmam uma desigualdade no mundo do trabalho na ESA no estado da Bahia, onde as mulheres percebem valores mensais menores, que pode se dar pela faixa etária mais baixa das entrevistadas do sexo feminino. Uma possível solução encontrada por estas engenheiras é a busca em realizar um curso de especialização. Ainda assim, nota-se que esse quadro vem sendo revertido nos últimos anos. O curso de engenharia sanitária e ambiental concentra maior número de mulheres, com constante crescimento de sua atuação inclusive em cargos diretivos das empresas públicas e privadas (como mostrado na Figura 2). De uma forma geral é crescente a participação feminina na ESA, que foi comprovado nessa pesquisa, com a inserção cada vez maior da mulher nas diversas áreas que compõem essa área da Engenharia. A busca feminina cada vez maior pela especialização também é um fator importante, que inflencia no desenvolvimento da sociendade ao seu redor. Apesar dessa nova realidade, infelizmente ainda existem obstáculos que precisam ser vencidos como o menor número de engenheiras ocupando cargos de chefia e percebendo o equivalente a ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento

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tal posto. Além disso, a quebra do preconceito é essencial para que haja um crescimento social adequado ao tempo atual.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAHIA, M.M. (2011) A Participação da mulher em áreas específicas da engenharia. Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia. Patologia do trabalho. Santa Catarina, p.6. Acesso em: 31 jan. 2015. LOMBARDI, M. R. (2004). Engenheiras brasileiras: Inserção e limites de gênero no campo profissional. Caderno de Pesquisa – I Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos. < http://www.scielo.br/pdf/cp/v36n127/a0836127.pdf> Acesso em: 25 abr. 2015.

LOMBARDI, M. R. (2004). Perseverança e resistência: a engenharia como profissão feminina. 292f. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas. MARQUES, Elisabeth Kurtz. Mulheres mais escolarizadas num mercado de trabalho que ainda reproduz o modelo da família tradicional. Mulher e trabalho, Rio Grande do Sul, v. 5, p. 149-159, 2005. Disponível em: Acesso em: 22 abr. 2015

YANNOULAS, Silvia Cristina (2007). Mulheres e ciência. Série Anis, Brasília, 47:1-10.

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