Museu de Leiria: breve história, museologia e museografia

June 5, 2017 | Autor: Micael Sousa | Categoria: Historia, Museología, Museografia, Colecionismo, Museu de Leiria
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MUSEU DE LEIRIA BREVE HISTÓRIA, MUSEOLOGIA E MUSEOGRAFIA

Mestrado em Estudos do Património Unidade curricular: Colecionismo e Museologia Professor Doutor Paulo Oliveira Ramos Autor: Micael Sousa Aluno nº: 1100043

ÍNDICE 1. 2. 3. 4. 4.1. 4.2. 5. 5.1. 5.2. 5.3. 5.4. 5.5. 5.6. 6. 6.1. 7. 8.

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 1 METODOLOGIA ................................................................................................................................... 1 MUSEUS COMO CONSTRUTORES DA IDENTIDADE E DESENVOLVIMENTO LOCAL .............................. 1 UMA BREVE HISTÓRIA DO MUSEU DE LEIRIA .................................................................................... 2 BREVE DA HISTÓRIA DOS MUSEUS REGIONAIS EM PORTUGAL .......................................................... 2 BREVE HISTÓRIA DO MUSEU DE LEIRIA ............................................................................................ 2 QUESTÕES MUSEOLÓGICAS E MUSEOGRÁFICAS GERAIS................................................................... 6 AS TENDÊNCIAS E FUNÇÕES DOS MUSEUS .......................................................................................... 6 DECISORES POLÍTICOS, CULTURAIS E TÉCNICOS ............................................................................... 7 NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (NTIC) E MARKETING CULTURAL...... 7 OS MUSEUS E A INCLUSÃO .................................................................................................................. 9 A SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA DOS MUSEUS .............................................................................. 9 A SOBRE AS INFRAESTRUTURAS MUSEOLÓGICAS ............................................................................ 10 O PROJETO MUSEOLÓGICO DO MUSEU DE LEIRIA ......................................................................... 11 DO PROJECTO À MUSEOGRAFIA DO MUSEU DE LEIRIA .................................................................. 11 CONCLUSÃO ...................................................................................................................................... 13 BIBLIOGRAFIA................................................................................................................................... 14

1. INTRODUÇÃO Dois meses depois do Museu de Leiria ser inaugurado, após quase 100 anos de peripécias, avanços e recuos, apresenta-se o presente trabalho como um breve estudo da história do museu, dos seus princípios museológicos e da museografia hoje concretizada na prática.

2. METODOLOGIA Do ponto de vista historiográfico não será de ignorar também a obras de Acácio de Sousa (2015), que em tratado o tema da história do museu em várias obras formais (Sousa & Vinagre, 1997; Sousa, 2015) e informais. Cruzando esses textos com as informações da documentação interna do município, os Anais do Município de Leiria (Cabral, 1993) e a documentação primária do museu, disponível no centro de documentação do Museu de Leiria (CML, 1908?, 1918?, 1961?), foi possível fazer uma breve descrição da muito atribulada história deste espaço. Apesar de estar já aberto ao público, depois de contactar os serviços municipais, obteve-se a informação que o projecto museológico não estava ainda encerrado, pelo que não eram públicos os documentos finais de projecto. Assim, os registos e descrições do museu têm por base a análise dos documentos de deliberação da adjudicação dos projectos e visitas ao local.

3. MUSEUS COMO CONSTRUTORES DA IDENTIDADE E DESENVOLVIMENTO LOCAL A museologia propõe-se a identificar e analisar o comportamento individual e/ou colectivo do homem frente ao seu património, tal como, desenvolver processos técnicos e científicos para que dai surja a relação do património e herança cultural com a construção identitária (Bruno, 1996). Um museu será o edifício, os seus objetos, mas também o território da sua influência (Nabais, 2008). Assim os museus são instituições de salvaguarda do património e criadores de identidade (Cândido, 2010). Podem ser espelhos onde a população se reveja, tal como referia Henri Riviére (1989), mas para tal os projetos museológicos associados não lhes podem ser estranhos. Para isso os museus devem atrair audiências da comunidade, localidade ou grupo que representam (ICOM, 2004). Isto porque a cultura ou o património não existem sem que exista e intervenha uma mediação humana (Duarte, 2010), dai os museus se centrarem, cada vez mais, nos visitantes e utilizadores. Os museus, especialmente os museus regionais e locais, são espaços de cultura, pelo que deverão ocorrer neles esse tipo de atividades. A agregação territorial dos museus em zonas culturais de proximidade tem um impacto positivo na produção cultural local, gerando um potencial acrescido para as indústrias criativas e outros serviços e comércios. Os próprios habitantes podem beneficiar dos efeitos indirectos são positivos (Amazonas & Lima, 2010), especialmente quando os museus se situam nos centros históricos, onde 1

já existe uma tendência para a visita turística. No entanto, existem potenciais efeitos negativos, especialmente quando leva à gentrificação, à expulsão dos habitantes locais (Paiva & Aguiar, 2006). Por outro lado, se se conseguirem evitar esses fenómenos sociais negativos, os museus podem ser espaços de inclusão social, de redução da desigualdade e assimetrias culturais e económicas (Poulot, 2009).

4. UMA BREVE HISTÓRIA DO MUSEU DE LEIRIA 4.1. BREVE DA HISTÓRIA DOS MUSEUS REGIONAIS EM PORTUGAL O regime republicado deu um importante ímpeto aos museus regionais. Em 1911, o decreto-lei n.º1 definia uma divisão administrativa do território em três circunscrições artísticas, e atribuía aos museus o papel de complemento ao ensino artístico e geral. Referia até que a educação do povo só teria a lucrar com a implementação destes museus, tal como se gerava um importante atrativo para o “touriste” nacional e estrangeiro (Ramos, 2008). O decreto n.º 3553, de 1911, vem criar, nessa senda, o Museu Regional de Leiria (CML, 1908?). A Lei de Separação do Estado e da Igrejas, de 1911, outras normas sobre a propriedade, encargos dos edifícios e bens religiosos, a lei sobre as expropriações por utilidade pública e urgente, de 1912, foram especialmente importantes para a implementação de museus, bibliotecas e das medidas de salvaguarda do património artístico. No entanto, também haveriam de surgir daí dificuldades. No caso de Leiria, Tito Larcher terá tido dificuldades em adquirir património religioso para o museu de Leiria devido à lei de separação entre Estado e Igreja (Sousa & Vinagre, 1997). Também o Município terá tentado e aprovado várias expropriações com fins de salvaguarda e instalação do museu mas que nunca avançaram (Cabral, 1993), provavelmente por falta de dotação financeira. Ao seu jeito o Estado Novo dedicou alguma atenção aos museus. Luís Chaves terá apresentado, em 1939, um plano para criar em cada capital de província, museus de etnografia (Ramos, 2008). Esta motivação poderá estar ligada à ideologia tradicionalista que se se queria incutir e preservar. 4.2. BREVE HISTÓRIA DO MUSEU DE LEIRIA Será impossível começar a traçar uma breve história do Museu de Leiria sem referir a obra e acção de Tito Larcher. A vinda de Tito Larcher para a região de Leiria coincide com o início das intenções de levantar um Museu Regional, uma Biblioteca Erudita e um Arquivo distrital em Leiria. Larcher terá nascido em Braga, a 25 de Setembro de 1860. Em 1895 foi enviado para Porto de Mós,

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assumindo as funções de escrivão-tabelião (Sousa, 2015). Desde logo se mostrou um activo defensor e promotor do estudo histórico e desenvolvimento da cidade de Leiria e sua região1. Sem saber ao certo o que teria motivado esta intenção, em 9 de outubro de 1895, a vereação da Câmara Municipal de Leiria acorda “em que se dirigisse a sua majestade uma representação a favor do estabelecimento de um museu arqueológico no Castelo desta cidade oferecendo a câmara um auxílio pecuniário em harmonia com as forças do município” (Cabral, 1993). De notar que a essa data o castelo era uma ruina, pois os primeiros estudos de reconstrução de Ernesto Korrodi são de 1898 (Korrodi, 2009) Larcher terá enviado, em 1908, uma carta a solicitar à Real Associação de Architectos e Archeólogos do Reino a classificação da Igreja de S. Pedro como monumento nacional e a reparação da igreja de N.ª Senhora da Pena para instalação de um Museu (Sousa & Vinagre, 1997). Mas só após a implantação da República houve novos desenvolvimentos. Tito Larcher tutou com as armas que tinha contra a conjuntura instalada que contribuía para a destruição, alienação e desintegração do património da região, especialmente das peças e artefactos móveis. Acácio de Sousa (2015) lembra o caso dos ouros fundidos e vendidos em 1880, provenientes de peças locais, dois anos antes da extinção da diocese de Leiria, que só viria a ser restituída em 1918. Para além disso muitas outras peças teriam sido levadas para Coimbra e Aveiro, muitas vendidas em hasta pública. Em 1911, a Câmara resolveu ceder as salas do antigo Paço Episcopal, consideradas necessárias para “ali arrecadar alguns objectos de valor arqueológico… para… o… Museu, por ter deliberado aquela comissão um Museu Distrital, aproveitando para isso os despojos das extintas casas religiosas do Distrito de Leiria” (Cabral, 1993). Tentando responder a esta urgência Tito Larcher não desistia de conseguir instalar um Museu Regional de Leiria, por isso insistiu ser nomeado seu conservador, a título gratuito. Assim, em 1912, a câmara designa Larcher curador do museu (Cabral, 1993), tendo decidido no mesmo ano que o museu artístico e arqueológico fosse estabelecido na igreja e anexos de Santo Estevão. Para além de ter pago do seu bolso muitos transportes de espólios para Santo Estevão, chegou mesmo a licitar, às suas expensas, peças que se encontravam em hasta pública para assim as poder incluir no futuro museu (Sousa & Vinagre, 1997). Consta que terá conseguido salvar a livraria e colecção numismática do convento de Sant ‘Ana após várias petições à Comissão Jurisdicional dos Bens das Extintas Congregações Religiosas. Apesar de tudo não conseguiu evitar o desaparecimento de bens valiosos2. Por essa altura terá renunciado ao seu emprego de escrivão de notário (Sousa, 2015). 1

Começava assim um dos seus textos de opinião, publicados no jornal O Distrito de Leiria: “Leiria precisa progredir, engrandecer-se, se não deixa de ser sede de distrito. Necessita de embelezar-se, melhorar as suas condições higiénicas, chamar a atenção de visitantes que por aqui passam para as belezas que encerra, tanto na cidade como nos arredores.” (Ramos, 1970). 2 Entre eles um tapete persa com valor de 700 escudos.

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Seria só em 1916 que a câmara cabimentaria dotação orçamental para a instalação do Museu Regional e asseguraria a transferência do espólio reunido para o antigo Paço Episcopal. Mas Larcher continuava sem ajudas financeiras, nem para seu sustento nem para os custos inerentes às suas deslocações constantes a Lisboa para reunir com a Comissão Nacional de Arte e Arqueologia, nem para a execução dos seus planos de trabalho3 (Sousa, 2015). Consta que terá pago também do seu bolso alguns dos trabalhos de melhoramento das salas no antigo Paço Episcopal (Sousa & Vinagre, 1997). Apesar de tudo o museu continuava por abrir. Só em 1917, através do Decreto n.º 3553, de 15 de Novembro, se criava então oficialmente o Museu Regional de Obras de Arte, Arqueologia e Numismática de Leiria (CML, 1918?), subordinado à dupla tutela da administração central, por ser um museu regional, e do município, cabendo ao último o apoio logístico e financeiro. Tal decreto não impediu a destruição e perda de património local. O atribulado e turbulento nascimento do museu, os transportes, o abandono e estado precário em que foram armazenadas nos locais temporários tiveram os seus efeitos. Algumas peças partiram-se, outras terão sido abandonadas e vendidas (Sousa, 2015). Em 1919 Larcher, sentindo-se impotente e injustiçado, solicitou a Augusto Gil, responsável pela Direcção Geral dos Serviços Artísticos, uma remuneração ou o fecho do Museu e a sua transferência para o claustro de Alcobaça (CML, 1908?). As queixas de Larcher continuaram. Em 1922 voltou a reclamar ao Município e ao Ministro da Instrução e do Interior pelas peças destruídas pelos militares, vizinhos contíguos às instalações que abrigavam o museu. Para além dos conflitos com o comandante do quartel, incompatibilizou-se também com a Liga de Amigos do Castelo de Leiria. Mesmo em conflito permanente com quase todos, Larcher tentou ainda instalar o museu na Rua Tenente Valadim, nas casas do Dr. João Verde, mas esse insucesso levou-o depois a solicitar à Comissão de Iniciativa e Turismo de Leiria, em 1931, a transferência do museu para as dependências da Sé, local onde se encontrava o Arquivo Distrital e a Biblioteca Erudita, sendo que a direção de todas essas instituições sempre fora assegurada por direcção única. Tal só viria a acontecer em 1933, no ano seguinte à morte de Tito Larcher (Sousa, 2015). Seguiram-se anos de degradação, até que, por fim, em 1948, Alfredo Carvalho, diretor responsável, justifica o encerramento do museu, por grande parte do seu espólio se ter perdido. De notar que nas actas do município, já em 1932, se considerava estar o valioso espólio do museu em mau estado, junto ao quartel de artilharia. Mas que também o arquivo distrital, que se situava nas traseiras da Sé, se estava a degradar, considerando-se necessário encontrar novo ou renovado espaço para ambos (Cabral, 1993). 3

Larcher refere que terá perdido obras de arte no valor de 2000 escudos por não ter conseguido 150 escudos para o transporte das mesmas (Sousa, 2015)

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Em 1951 a vereação mostra alguma vontade em reorganizar o museu, deliberando inscrever anualmente em orçamento verba para a valorização do museu (Cabral,1993), mas em 1958 continuava encerrado (Sousa & Vinagre, 1997). Em 1952 a câmara pediu a inventariação e a relação entre os registos do museu e as notas de envio, verificando terem desaparecido 120 peças diferentes, terem sido cedidas ou emprestadas 72 peças a igrejas da cidade e outras 30 peças não terem registo. Outras peças não foram consideradas nessas listas “…ou se encontram completamente destruídas ou não têm, segundo o seu entender, qualquer valor de interesse museológico.” (Cabral, 1993). Somente em 1961 o Município volta a abrir museu, depois de autorização da Direção Geral de Belas Artes (CML, 1961?). A organização coube ao novo curador, o professor Agostinho Tinoco (Sousa, 2015). Mas logo em 1968, depois da saída de Tinoco, o museu degenera e o interesse do municio e tutela central desaparece novamente. Em inícios dos anos 80 o museu apenas contava com uma “encarregada do museu”, neta do seu fundador, que era assalariada do município. Gabriela Larcher lamentava, abertamente, a situação do museu junto da Câmara e do IPPC (Sousa, 2015). Acabaria por ser encerrado, coincidindo o estado de abandono e degradação com os comentários negativos que os visitantes (CML, 1961?). Em 1984 técnicos estagiários inventariaram as peças, enquanto o museu permanecia encerrado. É por essa altura que surgem pedidos ao IPPC para a celeridade dos trabalhos de reabilitação do Convento de St.º Agostinho, por se considerar um bom local para instalar o museu (Sousa, 2006). A decisão do IPPC surge em 1986, ao nomear uma comissão reorganizadora do Museu de Leiria, constituída por Carlos Jorge, Amério Ferreira, Mário Moutinho e António Nabais, que indica como espaço ideal para o museu o castelo. À conta disso todo o espólio foi transferido para o castelo em 1987. Apesar desse avanço a comissão sessou funções em 1992, o IPPC extinguiu-se e foi absorvido pelo IPPAR. Em 1993 nomeou-se nova comissão instaladora, contando com o vereador Vitor Lourenço, mantendo-se António Nabais e surgindo o novo coordenador José Vitorino Guerra. Em 1995, o levantamento do novo coordenador apontoava para a alta degradação, fazia algumas recomendações e proposta4 (Sousa, 2015). Mas em 1996 a câmara adjudica a Filipa Nogueira o trabalho de conceção do Museu de Leiria, que dividia o museu em dois núcleos, no castelo e em St.º Agostinho. As intervenções e musealização da torre de menagem, datadas de 1998 (Nabais et al, 2001), não permitem instalar ai um museu de âmbito regional. O novo projeto do museu continua a avançar lentamente. Em 2006 foi assinado o protocolo entre o Município de Leiria e o IPM que permitia à Câmara a gestão e recuperação do convento para 4

Apontava para um novo projeto museográfico onde se incluía a introdução da memória da imprensa judaica como alavanca e potenciador da escala nacional do museu.

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instalação do museu, mas sob a condição de ser dedicado à arqueologia (Sousa, 2015). Passados mais 8 anos, em 2014 é assinado novo protocolo. O edifício do convento foi cedido por 30 anos ao município que ficou responsável pelos estudos museológicos e conteúdos a integrar no Museu de Leiria, que deixava então de ser exclusivamente dedicado à arqueologia. Por fim os projetos museológicos são adjudicados à empresa Arqueohoje, Lda. e acompanhados pelos técnicos do município (CML, 2014). Apesar de todas as peripécias, o Museu de Leiria foi inaugurado em 15 de Novembro de 2015 (Silva, 2015).

5. QUESTÕES MUSEOLÓGICAS E MUSEOGRÁFICAS GERAIS 5.1. AS TENDÊNCIAS E FUNÇÕES DOS MUSEUS Longe vão os tempos dos tesouros medievais, dos gabinetes de curiosidades e dos museus que vão surgindo com o iluminismo, alguns apelidados de museus depósito ou armazém. Desde então, especialmente após a II Guerra Mundial, as sociedades, e os museus em particular, democratizaramse. (Mendes, 2013) Os museus passaram a ser mais interpretativos, mais direccionados para o visitante, auxiliando-o a melhor interagir e desfrutar das exposições por si só. Nos anos 80, do século XX, surge o termo “Nova Museologia” (Poulot, 2009), que levou à criação de centros interpretativos mais arrojados e ecomuseus. Os museus extravasaram as suas paredes e reinventaram-se, pelo menos alguns. Independentemente disso o ICOM (2004) é bastante claro “As instituições devem ter políticas de gestão, aquisição, inventário, catalogação, armazenamento e manutenção, manuseamento, transporte e exposição do acervo.” Ou seja, os museus devem estabelecer programas para cumprir todas essas funções. Em 2007, o ICOM seguia no mesmo sentido, ainda que referindo-se também as funções lúdicas e de lazer (Desvallées & Mairesse, 2010). Os museus justificam-se pelos seus objectos, mas detê-los por si só não garante também um museu de sucesso. Se a humanidade consegue obter significados através dos objectos, nem toda a humanidade entende os objectos da mesma maneira e nem todos os objectos são facilmente percecionados. Os objectos, por si só podem não comunicar, pelo que importa contextualiza-los. O próprio contexto pode ser mais importante que o objecto exposto (Herrenan, 2004). Uma exposição deve conseguir dar ênfase aos objectos, contextualiza-los, despertar a curiosidade e garantir uma experiência agradável aos visitantes. Deve evidenciar as várias características dos objetos, físicas e etnológicas, atendendo também ao valor da raridade e autenticidade (Rocha-Trindade, 2008). Para além dos museus, os próprios edifícios, a sua arquitetura e espaços que criam, são parte integrante e umbilical das exposições, na mesma medida em que as réplicas expostas, suportes de apresentação,

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divisórias, informações, textos, filmes, sinalização e afins também são componentes da exposição (Desvallées & Mairesse, 2010). Tornaram-se habituais as dinâmicas de aproximação aos visitantes, tais como visitas guiadas e exposições temporárias (Marecos, 2009) que pretendem incentivar o voltar ao museu como um hábito cultural. No entanto, as exposições temporárias podem fazer acrescer significativamente os custo do museu (Câmara, 2010). Para além disso surgiram nos museus serviços complementares, salas dedicadas a investigação, atividades lúdicas, preservação dos espólios e outras. O próprio ICOM (2004) assume que os museus devem ter esses papéis.

5.2. DECISORES POLÍTICOS, CULTURAIS E TÉCNICOS Hoje os museus inserem-se nestas dicotomias, entre a compatibilização das funções tradicionais e as novas possibilidades que se abrem. Os próprios profissionais dos museus têm sentido a necessidade de adaptação a estes novos desafios e realidade. Com a secundarização, em alguns tipos de museus, dos objectos expostos, são os próprios profissionais e especialistas no tema que perdem reconhecimento e autoridade simbólica (Faria, 2004). Talvez isto justifique incompreensões entre os grandes públicos e a visão de quem trabalha e desenvolve investigações nos museus. Também os responsáveis políticos entram nesta equação, pois nem sempre detêm conhecimentos diretos nestas áreas. Isso gera conflitos o entre os profissionais dos museus e as acções políticas direccionadas para visões mais populares. Margarida Faria (2004) vai ainda mais longe, ao referir, citando Vincent Dubois, que “os profissionais da cultura vêem os governantes como incompetentes. Estes, por sua vez interiorizam, embora inconscientemente, a sua situação de incompetência o que os fragiliza no exercício da autoridade governativa”. Os museus de âmbito local estarão, com certeza, sujeitos a estas vicissitudes. Tendo em conta o processo conturbado do Museu de Leiria, esses conflitos podem ter condicionado muito a lentidão, constantes reformulação e entraves do projeto. A solução poderá passar pelo envolvimento de todas a comunidade local, políticos, especialistas e técnicos nas abordagens museológicas e museográficas.

5.3. NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (NTIC) E

MARKETING

CULTURAL

Na era das sociedades em rede (Castells, 2002) dificilmente se poderá ignorar as novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC). Os museus estão igualmente a ser influenciados por essas mudanças e a aproveitar essas novidades para captar novos públicos. A dimensão sensorial que justifica a existência dos museus está a ser aumentada e potenciada pelas NTIC (Muchacho, 2004). 7

No entanto, o recurso às NTIC não deve comprometer a qualidade, preservação e conservação do acervo (ICOM, 2004). Quando a capacidade expositiva e descritiva, baseada nas peças originais, ficar em causa é a própria identidade dos museus que também pode soçobrar (Poulot, 2009). O novo pensamento museológico incide mais fortemente no modo como se realizam as exposições, de modo a comunicar mais e melhor com os seus públicos. Tornou-se então incontornável usar o marketing como ferramenta de apoio a gestão de um museu (Mork, 2004), tanto para fazer face a algumas funções dos museus como para garantir a sua sustentabilidade. Assim a comunicação do museu terá de chegar aos visitantes, de tal modo que estes conheçam as características do museu, o perfil das exposições, investigações, acessibilidades, horários, preços e outras atividades que lá se realizem (Mork, 2004). Os espaços dos museus devem ser atractivos, numa fusão entre entretenimento e informação (Muchacho, 2004), sendo que não se devem descurar as restantes dimensões e funções. Segundo esta nova abordagem museológica o visitante deixa de ser um sujeito passivo, passando a ser incentivado a participar e interagir com a exposição. Isto será facilitado pelo uso das novas NTIC e design de interiores, orientados para os novos métodos expositivos. Podem assim ser assegurados vários percursos expositivos em simultâneo ou apenas um flexível. Ao aplicarem-se as NTIC surgem automaticamente novas oportunidades para que os museus possam ser também locais de salvaguarda do património imaterial cultural (Carvalho, 2011). Esta abordagem holística patrimonial sai mais fortalecida nos museus de âmbito local. Por outro lado, os museus devem ser igualmente acessíveis para investigadores e académicos, devendo disponibilizar-se sistema de consulta dos acervos e documentação (Roberts, 2004). Para isso é de extrema importância a normalização da documentação e informação (Matos, 2010), tendo também importância para a gestão do próprio museu. A sua conjugação com as NTIC permite responder aos vários desafios e funções dos museus. Dentro das NITC, a internet é uma poderosa ferramenta de auxílio à actividade museológica, pois será um modo de comunicar e atrair novos públicos, tal como ficarem acessíveis a mais investigadores externos (Gallego-Casilda Benitez, 2010). Mas a utilização das NTIC não está isenta de problemas. Por exemplo, Mikel Ascensio Brouard e Elena Asenjo Hernanz (2010) são bastante críticos das novas tendências quando utilizadas de forma irrefletida. Referem que não devem ser os conteúdos a adaptarem-se às NTIC, mas o inverso. Continuam, dizendo que será desonesto utilizar mecanismos informatizados e interactivos simplesmente para criarem uma fala ideia de modernidade. Criticam também o marketing aplicado aos museus sem conjugação com o conhecimento patrimonial de especialidade. Referem um estudo do Milwaukee Public Museum que concluiu que os expositores baseados na NTIC eram os menos

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vistos. Mas também consideram que as NTIC podem ser positivas, quando devidamente aplicadas. Referem o caso dos audioguias e PDAs que podem ter efeitos positivos, tanto para a valorização das exposições como para a experiência dos visitantes. Ou seja, as NTIC, só por si, e apesar de muitos museus estarem a aplicar técnicas de marketing (Marecos, 2009), não garantem o sucesso de um museu, pois devem ser bem desenhadas e adaptadas aos contextos de cada caso (Ascensio Brouard & Asenjo Hernanz, 2010). Também Dominique Poulot (2009) avisa para o perigo da banalização dos patrimónios associados aos museus quando se exagera nas NTIC. Assim os museus são cada vez mais avaliados pela sua capacidade de captação e fidelização de público, tal como pela diversidade dos seus produtos, serviços e programas (Semedo & Ferreira, 2011). Um desses produtos será a aprendizagem que possibilitam, tanto para o ensino formal como para a aprendizagem ao longo da vida e desenvolvimento cívico. Na demanda por fidelizar dos públicos é muito importante a estratégia de comunicação, recorrendo a publicações periódicas de especialidade, a jornais e revistas culturais, meios de comunicação formais e redes sociais. Outras estratégias mais agressivas e originais têm efeitos positivos comprovados.

5.4. OS MUSEUS E A INCLUSÃO Também a acessibilidade a pessoas com deficiência tem sido considerada nos museus atuais. Mas somente a acessibilidade não será suficiente para públicos com determinadas deficiências. A realidade aumentada, multissensorial, será necessária para tornar os museus mais inclusivos. Mesmo para públicos sem deficiências, a realidade aumentada e sensorialmente manipulada pode gerar experiências diferentes e únicas aos visitantes, contribuindo para fazer crescer os seus públicos (Neves, 2010).

5.5. A SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA DOS MUSEUS Se o visitante ganha cada vez mais um papel ativo, ganha-o também como consumidor (HooperGreenhill, 1992). Essa tendência leva a que se tente, cada vez mais, rentabilizar os espaços dos museus com lojas, cafetarias, restaurantes, espaços que possam ser alugados, especialmente quando se tenta que os museus sejam auto-sustentáveis. Nas lojas podem ser vendidos produtos associados à identidade do museu, contribuindo para atrair pessoas e gerar receitas. Mas estas opções comerciais e de marketing cultural exigem estudos de mercado que podem ser dispendiosos (Marecos, 2009). Somente com esse conhecimento poderão as opções de venda de produtos do museu gerar mais-valias positivas para a instituição, tanto em receitas como em captação de novos públicos. De notar que os consumidores deste tipo de lojas, procuram, habitualmente, produtos de 9

qualidade, réplicas fidedignas, livros de especialidade com conteúdos credíveis e outros produtos de design. A qualidade dos produtos pode levar a que os visitantes queiram voltar (Marecos, 2009). Se, por um lado, os museus tentam garantir sustentabilidade financeira, de modo a potenciarem a valorização do seu património, têm igualmente de garantir que o seu próprio acervo, o seu património, é preservado. Caso contrário é o próprio museu que fica em causa. Uma vez que os recursos são escassos e limitados, cada museu terá de fazer a selecção do que pode e deve ser preservado, tendo em conta os recursos disponíveis (Michalki, 2004). Ainda do ponto de vista económico os museus devem atender às necessidades especiais dos turistas, na medida em que são parte significativa dos visitantes dos museus (Desvallées & Mairesse, 2010). Alguns operadores turísticos pretendem visitar os mais reputados museus no menor espaço de tempo possível. Outros preferem programas mais especializados e direccionados para determinadas temáticas, onde estão disponíveis a gastar mais dinheiro. Por isso é muito importante proporcionar comunicação certa e direcionada (Mork, 2004), tal como disponibilizar, abertamente, aos turistas as informações que procuram. As questões turísticas não são de ignorar, uma vez que o paradigma turístico está a mudar. Cada vez mais o turismo cultural, e toda a sua cadeia de valor, crescem de importância (Queirós, 2010). Este crescimento é reforçado pela capacidade de criar rotas integradas dos vários patrimónios, quer sejam materiais ou imateriais, quer sejam tipos diferentes de museus, espaços culturais e sítios arqueológicos ou de outra natureza. Mas os efeitos do turismo cultural não são apenas económicos. Este tipo de turismo reforça o multiculturalismo, que tende a fomentar tolerância e cooperação geral (Mendes, 2013).

5.6. A SOBRE AS INFRAESTRUTURAS MUSEOLÓGICAS As questões ao nível da gestão de projectos e das infraestruturas assuem também muita importância num museu. A própria arquitetura do museu deve ser estabelecida com conhecimento profundo das coleções e programa museológico. O espaço do museu deve proporcionar espaços sóbrios sem excessos de cenografia, não demasiado extensos, que tenham circuitos claros e permitam pausas, quebras, sóbrios e sem descurar a receção, pois será onde os visitantes têm o primeiro impacto e são recebidos (Ribeiro, 2008). As regras dos terços são habitualmente bons princípios, distribuindo equilibradamente (Ribeiro, 2008): galerias das exposições permanentes; receção, conservação, espaços de investigação, reservas e serviços administrativos; Animação, exposições temporárias, cafetaria e restaurante. De preferência, deverá ser possível ampliar o museu. O controlo e gestão ambiental e elementos que se presenciam num museu têm muita importância na conservação e experiência de interação com os acervos e exposições. Existem diversos requisitos de temperatura, qualidade do ar, humidade relativa, proteção aos raios U.V., controlo de parasitas, 10

segurança contra roubos, acidentes, vandalismo e incêndios (Casanovas, 2008). Todas estas exigências geram custos consideráveis, pelo que atualmente se tenta optar por medidas passivas mais sustentáveis e económicas (Ribeiro, 2010). No entanto será imperativo deter mecanismos e medidas de contingências ativas. 6. O PROJETO MUSEOLÓGICO DO MUSEU DE LEIRIA O Museu de Leria é museu local de âmbito não especializado (Nabais, 2008b), ainda que detendo partes significativas de arqueologia e arte. Do ponto de vista das obras de arte, esta fusão poderá ser vantajosa, pois permite construir a envolvente e contextualização histórica (Pereira, 2008).Por outro lado, do ponto de vista dos museus de arqueologia, a autenticidade não fica em causa, pois não se trata de uma exposição de mero colecionismo (Raposo, 2008), pois as peças arqueológicas enquadram-se nas obras de arte e os demais enquadramentos museográficos. Será, no entanto, de evitar o excesso de tornem a interpretação confusa ou excessivamente direcionada (Poulot, 2009). Do ponto de vista arqueológico, os museus, mais do que respeitar o âmbito das divisões administrativas, devem referir-se às delimitações geográficas de significado paleontológico, histórico ou arqueológico (Raposo, 2009).

6.1. DO PROJECTO À MUSEOGRAFIA DO MUSEU DE LEIRIA Com este museu, que deixa de ser o grande museu regional pensado por Tito Larcher, ainda se evidenciam as marcas de Leiria e sua região, mas trata-se, acima de tudo, de um museu concelhio. Criou-se um museu de proximidade, com itinerários simultâneos pedagógicos e cronológicos, uma mescla entre museu tradicional e centro interpretativo (Sousa, 2015). O espaço tem cerca de 650 m2 de espaço expositivo efectivo, sendo que mais de metade da área do edifício reabilitado é dedicado aos restantes usos, quer seja a acessos e áreas técnicas, oficinas, espaços polivalentes, laboratórios, salas de investigação, depósito, oficinas, serviços administrativos e outras funções auxiliares do museu, tais como cafetarias (CML, 2014). De notar a área considerável do claustro com uma área livre interior de perfaz, em área, um quadrado ede planta de 400 m2, tal como as arcadas envolventes. Assim o Museu cumpre o critério dos terços das áreas de utilização (Ribeiro, 2008) e tem infraestruturas preparadas para cumprir as várias funções que os museus devem assegurar (ICOM, 2004; ICOM, 2007). A exposição permanente do Museu de Leiria está repartida em três partes distintas: Leiria: a origem; Leiria: a região e a cidade; Leiria: o Futuro (CML, 2015). Nesses três eixos podemos encontrar conteúdos e espólio referente a: as origens geológicas, paleontológicas e os primeiros habitantes da região; O período histórico, das antiguidade romana, passando pela Idade Média, até à 11

época moderna e contemporânea; por fim, o futuro de Leiria é ensaiado através dos recursos audiovisuais que introduzem ao desenvolvimento socioeconómico da região. Desses temas destacase a primeira parte da exposição, dedicada à pré-história, origens geológicas e riqueza paleontológica local, incluindo réplicas de vários fósseis descobertos na região, mas que se encontram em museus nacionais da especialidade5. Sobre o “menino do lapedo” existe um vídeo de reconstituição dos cerimoniais e réplicas dos achados6. De interesse a reconstituição gráfica de uma vila romana, situada na freguesia de Caranguejeira7. A parte mais arrojada, que prima pela originalidade, mas que pode também gerar algum tipo de controvérsia museológica, pois se tratar de uma cenografia, será aquela que pretende representar o Pinhal de Leiria através de ripas de pinho ao alto8. Esse pinhal simbólico é atravessado por um corredor onde estão suspensos nomes de ilustres leirienses, simulando as folhas dos pinheiros. Esta parte pode ser entendida como uma zona de transição, expectável num museu (Ribeiro, 2008), que gera curiosidade e surpresa. Mas pode gerar também confusão, pois está muito próxima e envolve de peças da exposição. De um modo geral, a exposição, e sua disposição, despertam os sentidos, com boa iluminação e conjugação cromática que valoriza o acervo. Existem textos descritivos, grafismo e imagens de enquadramento. Na primeira parte, dedicada à paleontologia local, podemos experimentar sons de enquadramento. Recorre-se às NTIC para enquadramento do espólio e aprofundamento da informação9. Na secção dedicada ao futuro está um vídeo em constante exposição, permitindo apresentação de novos conteúdos à medida que forem produzidos. Ter-se implementado o museu num edifício que impedia alterações e modificações, devido ao seu próprio valor patrimonial histórico, poderá ter condicionado o espaço disponível para a exposição, pelo que a área da exposição permanente não se pode considerar extensa. Entre as três separações temáticas nem sempre espaço desafogado10, e dificilmente poderá ser expandido sem ampliações do edifício existente. Quanto à localização e efeito de rede abrem-se boas possibilidades para o museu, uma vez que se situa no centro da cidade e ganha escala pela proximidade ao castelo, museu da imagem em movimento, moinho de papel, ao centro histórico de leiria, rio lis e demais espaços patrimoniais e atividades económicas urbanas. Quanto às delimitações territoriais, o espaço geográfico territorial liga-se ao concelho, no entanto, a dimensão regional, especialmente nas perspetivas históricas, geológicas e paleontológicas fariam mais sentido (Raposo, 2008). Do ponto de vista arquitetónico,

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Ver figura 5 dos anexos. Ver figura 6 dos anexos. 7 Ver figura 8 dos anexos. 8 Ver figuras 9 e 10 dos anexos. 9 Ver exemplo de consola interativa da figura 7 dos anexos. 10 Ver figura 15 dos anexos. 6

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foi distinguida a parte museográfica da parte ainda em uso religioso. O antigo convento, onde se encontra o museu foi reabilitado e pintado de azul vivo, a restante igreja de St.º Agostinho contínua inalterada e sem intervenção11. Ainda não existe sítio da internet institucional próprio (CML, 2016), nem previstas atividades complementares. A loja poucos produtos tem para venda, e ainda está por desenvolver uma gama de produtos com imagem e design de marca, embora o museu tenha adotado já uma iconografia/logótipo/lettering inspirados na epigrafia romana local12. Também o espaço cafetaria está por dinamizar13. Os serviços de documentação e investigação estão em funcionamento, tendo sido um local importante de acesso à informação e estudo, tal como o apoio prestado pelos recursos humanos do museu. O museu disponibiliza, gratuitamente, tablets que complementa a exposição com conteúdos áudio, imagens e texto14. Existem também um pequeno folheto15 e alguns vídeo promocionais no sítio da internet do município de Leiria (CML, 2016). O Museu está aberto todos os dias, das 9h00 às 17h30, com um custo de entrada de 5€, havendo vários descontos.

7. CONCLUSÃO O processo de instalação do Museu de Leiria foi conturbado, ilustrativo de algumas das dificuldades da museologia em Portugal, especialmente de projectos mais locais e regionais. Demonstra as dificuldades de cariz político, administrativo e cultural, num país que sempre teve dificuldades em gerir as suas instituições e compatibilizar tutelas administrativas, onde os orçamentos para a cultura sempre foram escassos, que muito património se terá perdido a partir do século XIX e onde arrancou tarde a educação da população em geral. O Museu de Leiria foi sinónimo de todas essas dificuldades, tendo sofrido muitas redefinições e superado as constantes indecisões e vazios de sentido estratégico, especialmente importantes numa cidade, concelho e distrito que sempre teve ambições de impor a sua identidade no território que lhe cabia. Ainda hoje essa afirmação pela identidade continua a ser perseguida, tanto pelos movimentos culturais, económicos e políticos. Talvez o museu de Leiria, mesmo sendo de âmbito concelhio, possa contribuir para esse desígnio territorial político e administrativo, através da cultura e do património. Só o futuro o dirá, pois o museu tem inegável potencial físico real, tal como se comprova pelo levantamento documental, fotográfico e de outras informações in loco. Resta saber se será desenvolvido em todo o seu potencial local. 11

Ver figuras 27 e 28 dos anexos. Ver figura 27 dos anexos. 13 Ver figuras 19 e 25 dos anexos. 14 Ver figuras 3 e 4 dos anexos. 15 Ver figuras 29 e 30 dos anexos. 12

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8. BIBLIOGRAFIA AMAZONAS, Archimedes Ribas & LIMA, Carmen Lúcia Castro. Museu e desenvolvimento local: território e comunidade. In SEMEDO, Alice & NASCIMENTO, Elisa Noronha (Coord.) Actas do I Seminário de Investigação em Museologia dos Países de Língua Portuguesa e Espanhola. Volume 1. Porto: Universidade do Porto, 2010. ASCENSIO BROUARD, Mikel & ASENJO HERNANZ, Elena. Lazos de Luz Azul: Del Controvertido uso de las TICS en Museus. In SEMEDO, Alice & NASCIMENTO, Elisa Noronha (Coord.) Actas do I Seminário de Investigação em Museologia dos Países de Língua Portuguesa e Espanhola. Volume 3. Porto: Universidade do Porto, 2010. BRUNO, Cristina. Museologia e Comunicação. Cadernos de Sociomuseologia. Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, vol.9, n.º 9 (1996). CABRAL, João. Anais do Município de Leiria. Vol. II. Segunda edição revista e aumentada. Leiria, Câmara Municipal de Leiria, 1993. CÂMARA, Inês de Almeida de Bettencourt da. O museu como instituição social e os seus públicos. In SEMEDO, Alice & NASCIMENTO, Elisa Noronha (Coord.) Actas do I Seminário de Investigação em Museologia dos Países de Língua Portuguesa e Espanhola. Volume 2. Porto: Universidade do Porto, 2010. CÂNDIDO, Manuelina Maria Duarte. Diagnóstico museológico: estudos para uma metodologia. In SEMEDO, Alice & NASCIMENTO, Elisa Noronha (Coord.) Actas do I Seminário de Investigação em Museologia dos Países de Língua Portuguesa e Espanhola. Volume 3. Porto: Universidade do Porto, 2010. CARVALHO, Ana. Os museus e o património cultural imaterial. Estratégias para o desenvolvimento de boas práticas. Lisboa, Edições Colibri, CIDEHUS - Universidade de Évora, 2011. CASANOVAS, Luís Efrem Elias, Conservação e condições ambiente. In ROCHA-TRINDADE, Maria Beatriz (Coord.) Iniciação à Museologia. 4.ª edição. Lisboa: Universidade Aberta, 2008. CASTELLS, M. A era da informação: economia, sociedade e cultura. Sociedade em Rede. volume I. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002. CML, Museu de Leiria, Centro de Documentação, Livro de Correspondências 1 e 2, Regional de Leiria, 1908?. CML, Museu de Leiria, Centro de Documentação, Livro de Visitantes, Regional de Leiria, 1918?. 14

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ANEXOS

FOTOGRAFIAS DO MUSEU DE LEIRIA NA ATUALIDADE

Figura 1 – Receção do Museu.

Figura 2 – Receção do Museu.

Figura 3 – Tablet interativo de apoio à visita.

Figura 4 – Folhetos explicativos.

Figura 5 – Expositores de temas paleontológicos com réplicas extas dos fósseis originais.

Figura 6 – Expositor e vídeo de rescrições de cerimoniais sobre “Menino do Lapedo.

1

Figura 7 – Expositor/consola interativa de explicação de peças arqueológicas.

Figura 8 – Reconstituição de Vila Romana de Caranguejeira e acervo arqueológico romano.

Figura 9 – Composição/cenografia alusiva ao Pinhal de Leiria.

Figura 10 – Composição/cenografia alusiva ao Pinhal de Leiria com pormenor alusivo a ilustres personalidades locais que simulam as folhagens do Pinhal de Leiria.

Figura 11 – Pinturas na secção da exposição permanente do período medieval e moderno.

Figura 12 – Estatuária, cerâmica e porcelana, expostos em vitrina na secção da exposição permanente do período medieval e moderno.

2

Figura 13 – Panorama Secção da exposição permanente do período medieval e moderno.

Figura 14 – Pinturas na secção da exposição permanente do período contemporâneo.

Figura 15 – Pormenor da transição entre secções da exposição permanente.

Figura 16 – Secção da exposição, com zona de exibição de vídeos, dedicada a Leiria e o futuro.

Figura 17 – Panorama exposição temporária, achados da antiguidade e períodos anteriores.

Figura 18 – Panorama exposição temporária, achados associados ao castelo de Leiria.

3

Figura 19 – Panorama da zona de cafetaria junto ao

Figura 20 – Zona ampla do claustro.

claustro.

Figura 21 – Sala polivalente.

Figura 22 – Panorama do claustro com Igreja de St.º Agostinho ao fundo, contígua ao museu.

4

Figura 23 – Panorama do pavimento do claustro.

Figura 24 – Panorama dos produtos expostos para venda.

Figura 25 – Panorama da cafetaria.

Figura 26 – Panorama da saída que coincide com a receção.

5

Figura 28 – Panorama do complexo arquitetónico do convento/museu e Igreja de St.º Agostinho a partir do jardim de St.º Agostinho. Figura 27 – Entrada do Museu de Leiria (pormenor do lettering de inspiração em epigrafia romana.

Figura 29 – Frente do tríptico/folheto do Museu de Leiria

Figura 30 – Frente do tríptico/folheto do Museu de Leiria

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