Museus escolares em Porto Alegre: relações com o ensino e a memória

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ANAIS 2014 20º Encontro da Associação Sul-Rio-Grandense de Pesquisadores em História da Educação

Coordenação geral Maria Stephanou (UFRGS) Dóris Bittencourt Almeida – (UFRGS) Natália de Lacerda Gil – (UFRGS) Comissão organizadora Ana Carolina Gelmini – (UFRGS) Celine Almeida – (UFRGS) Claudemir de Quadros – (UFSM) Joseane El Hawat – (UFRGS) Lucas Grimaldi – (UFRGS) Maria Helena Camara Bastos – (PUCRS) Mariana Venafre – (UFRGS) Marlos Mello – (UFRGS) Micheli Souza – (UFRGS) Nara Witt – (UFRGS) Rita Magueta – (UFRGS) Roberta Barbosa dos Santos – (UFRGS) Valeska Alessandra de Lima – (UFRGS) Apoio Elza Lopes – (UFRGS) Comitê científico Alessandro Carvalho Bica – (UNIPAMPA) Carla Gastaud – (UFPel) Giani Rabelo – (UNESC) Larissa Camacho – (UCS) Luciane Grazziotin – (UNISINOS) Maria Helena Camara Bastos – (PUCRS) Patrícia Weiduschadt (UFPel) Vanessa Teixeira – (UFRGS) Zita Possamai – (UFRGS) Promoção Associação Sul-Rio-Grandense de Pesquisadores em História da Educação – ASPHE Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação – UFRGS Apoio Institucional PUCRS/UFRGS/UFSM

ASPHE Diretoria Presidente: Claudemir de Quadros (UFSM) Vice-presidente: Maria Stephanou (UFRGS) Secretária-geral: Terciane Ângela Luchese (UCS) Conselho fiscal Elomar Tambara (UFPel) Beatriz Fischer (UNISINOS) Maria Helena Camara Bastos (PUCRS)

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20º Encontro da ASPHE - História da Educação e Imagem 3 a 5 de dezembro de 2014 Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação Universidade Federal do Rio Grande do Sul

ISBN : 978-85-88667-68-6

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MUSEUS ESCOLARES EM PORTO ALEGRE: RELAÇÕES COM O ENSINO E A MEMÓRIA Nara Beatriz Witt Mestranda em História da Educação/Programa de Pós Graduação em Educação Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected] Zita Rosane Possamai Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected]

Resumo O presente estudo aborda os museus escolares existentes em Porto Alegre no estado do Rio Grande do Sul. Tem como objetivo apresentar os espaços que vem sendo criados, voltados para a memória da instituição escolar, considerados aqui, museus escolares de História e memoriais escolares. O trabalho é resultado de um mapeamento realizado no âmbito da cidade, que buscou identificar museus, memoriais e acervos da cultura material escolar. Destaca a importância da aproximação entre Educação e Museologia na perspectiva da História da Educação para compreender esses espaços através do patrimônio educativo. Aponta para novas possibilidades de investigações a partir do levantamento realizado, indicando a relevância da cultura material escolar para a história do ensino e dos museus no âmbito da História da Educação. Palavras-chave: História da Educação, Museologia, museus escolares, cultura material escolar, patrimônio educativo.

Introdução Esta comunicação é fruto da participação no projeto denominado “Museu no espaço escolar: de laboratório de aprendizagem à musealização contemporânea (Rio Grande do Sul, século XX)”, coordenado pela Profª. Drª. Zita Rosane Possamai, o qual consiste no levantamento e pesquisa histórica dos museus em espaço escolar do estado do Rio Grande do Sul. Os museus escolares, embora importantes para a história do ensino e dos museus, ainda são pouco conhecidos no âmbito da Museologia, suscitando a emergência de pesquisas. Como forma de contribuir para o seu estudo, o tema também foi escolhido para o Trabalho de Conclusão de Curso em Museologia, defendido na Universidade Federal do Rio Grande do Sul no ano de 2013, intitulado “Ensino ou Memória: (In) visibilidades dos museus escolares em Porto Alegre/RS”, com orientação da mesma professora. O trabalho partiu do objetivo de identificar o maior número de espaços museológicos e acervos históricos em guarda nas escolas no âmbito da cidade de Porto Alegre. Contatos 1000

com as instituições escolares, visitas e entrevistas com os responsáveis pelos espaços e acervos tornaram possível mapeá-los e caracterizá-los, avaliando de que maneira vinculam a memória e o ensino em suas práticas e nas da escola. O mapeamento resultou na identificação de museus existentes, atualmente, observando-se museus escolares de Ciências e museus escolares de História. Com essa perspectiva, considerou-se como museu escolar o espaço da escola que guarda, conserva, pesquisa e expõe materiais diversos utilizados para o ensino e, ainda, artefatos, imagens e documentos históricos, que além de serem aplicados ao ensino, guardam materiais relacionados à memória da instituição. Os espaços que vêm sendo criados mais recentemente, denominam-se também memoriais escolares. Com essa abrangência, faz-se necessário um diálogo entre a Educação e a Museologia na perspectiva do ensino e da memória, da história da educação e dos museus, fundamental para abordar a cultura material escolar na esfera dos museus escolares. Cabe ressaltar que a pesquisa se caracteriza como um levantamento inicial dos museus escolares, constituindo o primeiro mapeamento dos museus escolares realizado no âmbito da cidade de Porto Alegre. Esse trabalho expõe parte dessa busca e na primeira abordagem, como referência para o objeto de estudo, apresenta antecedentes que contemplam a relação histórica dos museus escolares com o ensino. Na segunda abordagem, dentre os resultados da pesquisa, exibe as decorrências encontradas para uma das tipologias542 de museus escolares - os museus escolares de História.

A relação histórica entre museu e ensino nos museus escolares Para pensar a relação entre museu, inovação pedagógica e a cultura material escolar, o estudo parte de um referencial teórico e histórico. Em um cenário mundial e local de transformações, os museus escolares podem ser inseridos em um movimento de criação de museus no Brasil e na emergência de um novo método de ensino e no que isso repercutiu. O termo museu escolar é designado no Dicionário de Buisson, edição de 1911, como um conjunto de objetos que o professor usa no processo de ensino, conhecido por leçons de choses, para propiciar às crianças ideias claras e exata sobre tudo o que as cercava (FELGUEIRAS, 2011). 542

A outra tipologia é o museu escolar de Ciências.

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No âmbito da Educação, os museus escolares passam a ser constituídos como recurso pedagógico no final do século XIX. Como antecedentes podem ser considerados: a renovação no método de ensino com a utilização de Lições de Coisas ou Método intuitivo (VIDAL, 1999, 2012; POSSAMAI, 2012a); a realização das grandes exposições mundiais (KUHLMANN JR., 1996; VIDAL, 2012) e o desenvolvimento de um mercado de produtos escolares (GARCIA, 2007; FELGUEIRAS, 2011; VIDAL, 2012). No âmbito da Museologia se originam no contexto de criação dos primeiros museus brasileiros de Ciências Naturais (LOPES, 1997; SCHWARCZ, 2012). Esse cenário, apontado por Diana Gonçalves Vidal (1999) é constituído pela formação do Museu Nacional (1808), do Museu Paranaense Emílio Goeldi (1866) e do Museu Paulista (1894). Dessa forma, ocorre uma aproximação da escola com novos padrões científicos em que “Os métodos intuitivos e os estudos na natureza deslocavam para o ‘observar’ a antiga arte do ouvir e repetir [..].” (VIDAL, 1999, p. 111). Vidal (2012) ressalta que as feiras no século XIX celebravam o gênio humano e o poderio político, industrial e econômico “[..] que tornava a escola um mercado aberto à produção industrial, enlaçando governos e empresa em ações comuns sobre o educativo.”(VIDAL, 2012, p. 200). Como vitrine de exibição das maravilhas da indústria, as exposições universais contemplam o contexto econômico que se une à educação nos produtos apresentados para o ensino (KUHLMANN JR., 1996). A origem dos museus escolares, relacionada às exposições universais e à indústria, parece ter se dado entre a Exposição Universal de Viena (1873) e a Exposição Universal de Paris (1878), onde aparecem “museus” constituídos pelos professores e alunos ao lado de outros produzidos pela indústria (FELGUEIRAS, 2011). Com o sucesso das exposições universais (KUHLMANN JR., 1996) é criado no Brasil o museu pedagógico, denominado Pedagogium (1890-1919), inserindo o país no movimento dos museus de educação que estavam sendo criados na Europa e Américas (BASTOS, 2002). Diferente dos museus escolares, funcionava como um centro de formação de professores, também promovendo a organização de museu nas escolas, que “[...] deveria ser uma simples coleção de objetos naturais e industriais destinados a dar à criança ideias exatas e claras de tudo que a cerca.” (BASTOS, 2002, p. 295). Os museus escolares seriam utilizados para uma nova concepção vinculada às mudanças no ensino elementar brasileiro, como a promovida ainda no Império pela Reforma da Instrução Pública de 1879, a qual incluiu pela primeira vez Lições de Coisas para as 1002

escolas oficiais, contemplando uma educação laica e científica (VIDAL, 2012).

Esse

imbricamento da História da Educação com a Museologia pode ser observado no Rio Grande do Sul, por meio do Museu do Estado (1903), denominado posteriormente como Museu Julio de Castilhos. Conforme estudos de Zita Rosane Possamai (2012a), o Museu colaborava formando coleções de ciências naturais para utilização nas escolas no exercício do método intuitivo, fornecendo matérias necessários ao ensino. Lição de coisas, como disciplina do currículo e como perspectiva de ensino, perpassava as diferentes áreas do conhecimento, fundamentado na observação e na experiência, sendo valorizado pela emergência da modernização pedagógica e da sociedade (POSSAMAI, 2012a). Cabe ressaltar que o museu escolar possuía mais de uma configuração para guarda e utilização dos materiais, pois poderia ocupar um armário de vidro (PETRY, 2013); uma parte da sala de aula, utilizando as paredes para colocar os objetos, como os quadros murais (Figura 1); ou, ainda, ocupar uma sala própria. Cada museu poderia ser diferente quanto à aquisição do acervo, ao local para a guarda dos objetos e ao próprio espaço destinado ao museu (POGGIANI, 2011a). Figura 1 Antigo quadro mural fabricado e comercializado pela empresa Maison Deyrolle.

Fonte:

1003

Assim, além do que a escola produzia de materiais no seu cotidiano, a grande quantidade de objetos fabricados na indústria e os confeccionados na escola para os museus escolares passam a contribuir para a constituição da materialidade da cultura escolar, a partir do século XIX. Esses museus escolares, que adquiriram diferentes formatos entre o final do século XIX e primeiras décadas do século XX, paulatinamente foram desaparecendo do cenário escolar. Poucos vestígios de sua materialidade permaneceram, exigindo um esforço de investigação para verificar sua relevância naquele contexto histórico. Entretanto, se esses primeiros museus escolares não mais existem em presença material, observa-se recentemente o surgimento de espaços de características distintas daquelas experiências.

A relação entre escola e memória nos museus escolares de Porto Alegre No final do século XX a preocupação com a memória e a preservação da cultura escolar provoca uma atenção ao patrimônio educativo. Nos anos de 1970 ocorre uma explosão na Europa de museus para salvaguardar os mais diversos conteúdos; e, nos anos de 1980 há um florescimento de museus e coleções escolares como forma de mostrar e analisar o passado educativo das comunidades (FELGUEIRAS, 2011). A escola se insere em um conjunto de funções e relações, em que os objetos e documentos são condição para perceber a herança educativa, a qual partilhamos (FELGUEIRAS, 2005) e cujo exercício pode ser tomado como um processo de questionamento (FELGUEIRAS, 2011). Dessa forma, o patrimônio é pertinente para as investigações em História da Educação a partir do patrimônio como documentos históricos (POSSAMAI, 2012b). Pode-se refletir por meio da cultura material escolar sobre a conformação dos museus escolares, seus usos e suas relações com as práticas e os sujeitos da escola. Nessa perspectiva foi realizado um mapeamento dos museus escolares nas escolas da cidade de Porto Alegre, para que pudessem se tornar mais visíveis, também contribuindo para pesquisas.Para identificar esses espaços foram realizados contatos com as escolas, resultando na localização de espaços considerados museus escolares, conforme o que considera esse estudo.

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De acordo com o levantamento realizado para essa pesquisa, entre os museus escolares existentes, estes se originaram em dois momentos. O primeiro momento contempla o contexto de mudanças que ocorre a partir do século XIX no âmbito da Educação e da Museologia, apresentado anteriormente. Conforme os museus mapeados, estes foram criados na cidade a partir do início do século XX, configurados atualmente como museus escolares de Ciências543. O segundo momento contempla um período mais recente, com museus escolares criados a partir do final do século XX, configurados em museus escolares voltados para a memória. Cabe destacar que nesse trabalho são apresentados os resultados para os museus voltados para a memória, considerados na pesquisa como museu escolar de História ou memoriais escolares544, conforme apresenta-se a seguir com a respectiva escola mantenedora, rede de ensino e a data de criação dos espaços e das instituições escolares.

Tabela 1 Museus escolares de História/memoriais, instituições escolares e rede de ensino. Museus escolares de História e memoriais

Data

Instituições escolares

Data

de

de

criação

criação

Pública

Privada

Museu Professora Roma

1993

Colégio Estadual Júlio de Castilhos

1900

Memorial Sévigné

2000

Colégio Bom Jesus Sévigné

1900

X

Memorial do Deutscher Hilsverein ao Colégio Farroupilha

2002

Colégio Farroupilha

1886

X

X

543

Alguns como laboratórios de Ciências. Nesse trabalho não será contemplada a apresentação dos museus escolares de Ciências e dos acervos históricos localizados nas escolas, constituindo um recorte para os museus escolares de História e memoriais escolares.

544

1005

Museu Metodista de Educação Bispo Isac Aço – MMEBI545

Colégio Metodista Americano

1885

X

(1994)

Memorial São Francisco

2012

Instituto de Educação São Francisco

1962

X

“Memorial”

2012

Escola Técnica Estadual Irmão Pedro

1962

Memorial do Colégio Bom Conselho

2013

Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho

1905

X

Memorial do Centenário

2013

Colégio La Salle Santo Antonio

1913

X

2010

Total

8

Subtotal

X

2

6

Fonte: Dados da pesquisa

Na tabela 1 acima, pode-se verificar alguns aspectos. Foram localizados 8 espaços, sendo 2 denominados museus e 6 denominados memoriais pelas escolas. Observa-se que a maior parte das escolas mantenedoras de museus escolares de História localizadas no mapeamento, foram criadas entre o final do século XIX e o início do século XX, no período de 1885 a 1913, as quais são as seguintes: o Colégio Metodista Americano (1885), o Colégio Farroupilha (1886), o Colégio Bom Jesus Sévigne (1900), o Colégio Estadual Júlio de Castilhos (1900), o Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho (1905) e o Colégio La Salle Santo Antônio (1913). Ressalta-se que esse período corresponde à utilização no ensino do Método intuitivo ou Lições de Coisas e à criação dos primeiros museus escolares no Brasil, por isso o destaque para as escolas mais antigas.A ênfasepara a rede de ensino da escola se dá, pois entre as primeiras instituições escolares, das que foram localizadas nesse mapeamento, a maioria pertence à categoria do ensino privado. Esse aspecto éabordado no estudo, uma vez que no século XIX eram poucas as escolas públicas, iniciando-se em meados do mesmo século a

545

O Museu Metodista de Educação Bispo Isac Aço – MMEBIé resultado de uma fusão, que ocorreu em 2010, do Museu de Ciências, criado em 1931 com o Museu Histórico criado em 1994. Atualmente possui essa denominação e é constituído pelos dois núcleos, o de Ciências e o de História, funcionando em espaços diferentes na escola.

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vinda de congregações estrangeiras para o Brasil, uma vez que não havia um quadro suficiente de professores (LEONARDI, 2009). As escolas particulares também se identificavam com as novas propostas de ensino, visto que muitos dos professores estrangeiros trabalhavam com o Método intuitivo, como no Colégio Farroupilha e no Colégio Americano (MENEZES; TELLES, 2012), ambos criados ainda no século XIX. Nesse levantamento, a maioria das escolas pertence ao ensino privado, com exceção de duas: o Colégio Estadual Júlio de Castilhos e a Escola Técnica Estadual Irmão Pedro. O Colégio Estadual Júlio de Castilhos (1900), entre as escolas mapeadas é a mais antiga da rede pública e primeira a constituir um museu escolar de História. Isso ocorre no início da década de 1990, em 1993, quando o “Museu Professora Roma do Colégio Estadual Júlio de Castilhos”. O outro espaço constituído ainda na mesma década de 1990, foi o “Museu Histórico Metodista de Educação Bispo Isac Aço – MMEBI” (atualmente denominado “Museu Metodista de Educação Bispo Isac Aço – MMEBI), criado pelo Colégio Metodista Americano, em 1994. Entre todas essas instituições escolares, esta é a mais antiga, fundada em 1885. Quanto aos museus escolares de História levantados em Porto Alegre na pesquisa, percebe-se que começam a ser criados na década de 1990, período que coincide com o movimento que gerou realizações no Brasil com a criação de museus, memoriais e centro de referências e de memórias em educação, segundo Felgueiras (2011). Nesse âmbito, aponta-se, atualmente, uma multiplicação de experiências que buscam preservar a cultura escolar (POGGIANI, 2011b), bem como os museus escolares relacionados à memória (PETRY, 2013). Para Viñao (2012), os museus educacionais, os quais se preocupam com a conservação, catalogação e estudo do patrimônio material e imaterial da educação, precisam ser estudados como um fenômeno acadêmico e social. Nesse contexto, observa-se que na década de 1990 foram criados dois museus escolares de História. Nas décadas seguintes foram criados somente memoriais escolares: na década de 2000 foram criados 2 memoriais escolares e na década de 2010, 4. Assim, na década de 2000 o Colégio Bom Jesus Sévigné cria o “Memorial Sévigné”, no ano de 2000, e o Colégio Farroupilha, o mais antigo entre todas essas instituições escolares, cria o “Memorial do Deutscher Hilsverein ao Colégio Farroupilha”, no ano de 2002. Na década de 2010, em 2012, o Instituto de Educação São Francisco cria o “Memorial São Francisco” e a Escola Técnica Estadual Irmão Pedro cria o “Memorial”. Em 2013, o

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Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho cria o “Memorial do Bom Conselho” e o Colégio La Salle Santo Antonio cria o “Memorial do Centenário.” Cabe destacar a mudança na denominação de museu para memorial e, ainda, que algumas escolas musealizam seu acervo no ano que completam o centenário. É o que ocorre no “Memorial Sévigné”, criado no ano de 2000, pelo Colégio Bom Jesus Sévigné (1900); e no “Memorial do Centenário”, criado em 2013, pelo Colégio La Salle Santo Antônio (1913). O cinquentenário também é comemorado em duas escolas, com a criação em 2012 do “Memorial São Francisco” pelo Instituto de Educação São Francisco (1962) e do “Memorial” pela Escola Técnica Estadual Irmão Pedro (1962). Percebe-se nesse aspecto os museus escolares como lugares de memória, que nascem e vivem do sentimento, em que é preciso organizar celebrações (NORA, 1993).O museu escolar se torna um meio no presente para uma busca sobre a educação escolar no passado como práticas históricas na produção de formas de pensar, sentir, atuar e ver (POPKEWITZ et al., 2003). É importante ressaltar que esses museus e memoriais utilizados como forma de preservar vestígios, ligados à memória da instituição, também são utilizados como recurso para o ensino. A cultura material escolar, conforme Felgueiras (2011), nos propõe o desafio de ser interpretada para que nos leve dos signos aos significados, produzindo conhecimento. A maioria desses museus escolares levantados, além de receber alunos e professores da escola, recebem público externo, entre eles, alunos e professores de outras escolas, exalunos da instituição e pesquisadores que trabalham com história da educação. Pode-se, portanto, apontar a aproximação da História da Educação com o museu escolar, pois este pode contribuir para pensá-la historicamente através dos bens culturais (ESCOLANO, 2010), construindo, conforme destaca Nóvoa (2003), um diálogo entre a cultura material escolar e os estudos da educação. Possamai (2012b) destaca que a constituição desses espaços tem uma historicidade que merece ser pesquisada, pois expressa a relação da escola e dos sujeitos envolvidos com o seu passado e com o passado da educação, além de preservarem traços prosaicos do cotidiano escolar que podem dar a ver aspectos não perceptíveis nos documentos administrativos correntes das instituições escolares. Assim, o patrimônio educativo, fruto da produção e utilização de materiais pela escola, torna-se acervo. No entanto, a simples guarda e exposição dessa materialidade pouco pode dizer sobre o passado educativo sem investigação. Desse modo, os museus escolares, como os museus históricos, devem se voltar para os problemas históricos e não 1008

para os objetos históricos (MENESES, 1992), contribuindo para conhecer a história da educação e dos museus. Enquanto lugares de memória, os museus escolares de História ou memoriais preservam os bens culturais escolares, permanecendo vinculados ao ensino como os primeiros museus escolares que foram constituídos, agora conectados com as atividades da escola, mas também com a memória e, reforçando a relação que se dá entre memória, história e educação.

Considerações finais

Para realizar essa pesquisa, buscou-se localizar espaços museológicos na cidade de Porto Alegre, tendo como objetivo principal encontrar o maior número de museus e acervos escolares. Embora o estudo tenha sido concluído, apresenta-se aqui parte dos resultados dessa procura com os museus escolares de História e os memoriais escolares, assim denominados nessa investigação. A pesquisa teórica possibilitou verificar a vinculação dos museus escolares com novas ideias pedagógicas que ocorreram no século XIX e com a criação dos primeiros museus brasileiros, voltados para as Ciências. Tornou possível, ainda, compreender como se dá a preocupação da escola com o patrimônio educativo e a relação entre memória, história e educação com os museus escolares. Destaca-se que no percurso do museu escolar estão presentes o ensino e a memória, permanecendo como recurso pedagógico e como fonte de pesquisa. Por meio das visitas foram apreendidas especificidades de cada espaço, porém não puderam ser exploradas nesse estudo. Dessa forma, percebeu-se um grande potencial de pesquisa, desde a formação das coleções à história dos museus. Ressalta-se que o mapeamento não se esgotou, cabe continuar a busca, principalmente nas escolas da rede de ensino público, uma vez que não foram o foco nesse levantamento. Portanto, o estudo dos museus escolares oferece uma gama de questões relacionadas à cultura material, tomando o patrimônio educativo para as investigações. Assim, o mapeamento realizado é uma importante contribuição, para dar visibilidade aos acervos e espaços museológicos constituídos nas escolas, no âmbito da Museologia ainda pouco

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conhecidos, e, para demonstrar a pertinência e a necessidade de ampliar e aprofundar o estudo no âmbito da História da Educação.

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