Música no Ceará: construção intertextual à luz do arquivo da banda de música da Polícia Militar

June 13, 2017 | Autor: Inez Martins | Categoria: Musicología histórica, Nordeste do Brasil, História Do Ceará
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MÚSICA NO CEARÁ: CONSTRUÇÃO INTERTEXTUAL À LUZ DO ARQUIVO DA BANDA DE MÚSICA DA POLÍCIA MILITAR Inez Beatriz de Castro Martins* RESUMO: Os textos e as pesquisas enfocando os músicos cearenses do passado, particularmente os que viveram ou nasceram nos períodos anteriores ao século XIX, ainda são raros. Deste período conhecem-se apenas os textos de Gondim (1903) e Veríssimo (1954) sendo eles os únicos autores a fazerem um relato sobre os músicos e sobre o ambiente musical no Ceará do passado. Na leitura de livros dos memorialistas cearenses, observou-se, entretanto, a existência de outras pessoas que também fizeram música no Ceará nesses períodos. Constatou-se, na realidade, uma dispersão das informações musicais nos livros desses memorialistas e historiadores. O presente artigo propõe uma compilação inicial dessas informações por meio do cruzamento dos dados colhidos em quatro livros. Este estudo foi motivado pela pesquisa em andamento realizada pela autora e por sua equipe no arquivo da Banda de Música da Polícia Militar do Ceará, cujo objetivo é catalogar as partituras lá preservadas nos anos de 1854 a 1954 com o intuito de favorecer futuras pesquisas históricas e musicológicas que tomem por base esse acervo. Neste arquivo foi localizada uma partitura manuscrita de 1897 (Corporação de Euclides Paiva), considerada até o momento como a mais antiga composição musical registrada em partitura do Ceará. A pesquisa realizada na Banda de Música da Polícia Militar e a realização desta compilação bibliográfica justificam-se por essa rarefação de textos específicos que abordem o tema musical no Ceará, bem como na possibilidade de contribuir com a musicologia local e com sua inserção às pesquisas musicológicas brasileiras. Palavras-chaves: músicos, biografia, banda de música, acervo. ABSTRACT: The texts and researches focusing on the “cearenses” musicians in the past, particularly those who were born or lived in periods prior to the nineteenth century, are still very rare. From this period are only known the texts written by Gondim (1903) and Veríssimo (1954). They are the only authors to make a report about the musicians and the musical environment of the past in Ceará. In reading “cearenses” memorialists we observed, however, that there are other people that also did music in Ceará in those periods. We found that, in reality, a dispersion of musical information in those memorialists and historic texts. This paper proposes an initial compilation of the information through the intersection of the data collected in four books. This study was motivated by the ongoing research conducted by the author and her team in the archive of the Military Police Band of Music whose goal is to catalog the scores preserved there, in the period of 1854 to 1954, with the aim of encouraging further historical and musicological researches by taking base this collection. In this archive we located a manuscript score of 1897 (Corporação by Euclides Paiva), considered until now as the oldest score of Ceará. The research conducted at the archive of Police Band and the realization of this compilation in the books justified by this rarefaction of specific texts that address the theme music in Ceará and the possibility of contributing to musicology and its insertion into musicological research in Brazil. Key-words: musician, biography, band of music, archive.

INTRODUÇÃO:

O conhecimento sobre o passado musical cearense, particularmente no que se refere aos anos anteriores ao século XIX, é ainda bastante obscuro. Mesmo com o crescimento nos últimos dez anos de estudos que tratam da história da música no Ceará

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Universidade Estadual do Ceará.

no século XX entre os professores-pesquisadores das universidades cearenses1, a história musical nesse estado é um campo a ser desbravado e revelado. As informações sobre os músicos cearenses do passado, de uma maneira geral, estão dispersas nos livros dos memorialistas e historiadores locais. O texto mais abrangente enfocando os músicos foi escrito pelo dentista Pedro Veríssimo2 e publicado na Revista do Instituto Histórico do Ceará no ano de 1954. Nele, o autor faz um levantamento dos nomes de músicos e de grupos artísticos do fim do século XIX até 1950. Outro texto igualmente importante e interessante é o de Gondim3. Escrito em 1903 em comemoração ao tricentenário da chegada dos portugueses no Ceará, o autor propõe uma “singela apreciação sobre o progresso” da música no Brasil, incluindo os músicos cearenses4. Afora esses dois autores, não se conhecem nenhum outro texto ou livro que abordem especificamente o tema da música e dos músicos no Ceará nos períodos anteriores ao início do século XX. Para a elaboração deste texto, tomou-se por base o levantamento e o cruzamento das informações expressas principalmente em quatro livros5. A escolha deles foi baseada basearam-se em suas características em comum de cunho biográfico e informativo. A motivação do tema partiu da pesquisa em andamento que está sendo realizada pela autora no acervo da Banda de Música da Polícia Militar (PM) do Ceará6 sediada na cidade de Fortaleza. A investigação neste arquivo tem apontado para o conhecimento de um número bastante significativo de compositores, arranjadores e copistas do período compreendido entre 1897 a 1954 ainda desconhecidos ou pouco comentados na história musical do estado.

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A pesquisa histórica musical no Ceará tem abordado temas como coral, piano, violão, modinhas cearenses, principalmente no período do século XX. 2 VERÍSSIMO, Pedro. A música na Terra de Iracema. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Ceará. Fortaleza, t. 68, p.149-154, 1954. 3 GONDIM, Zacharias. Traços ligeiros sobre a evolução da música no Brasil em especial no Ceará In: Commemorando o Tricentenário do Ceará. Fortaleza: Typographia Minerva, 1903. 4 Id., 1903, p.5. 5 AZEVEDO, Miguel Ângelo de (NIREZ). Índice Analítico e Iconografia da Cronologia Ilustrada de Fortaleza: roteiro para um turismo histórico e cultural. Fortaleza: Banco do Nordeste, 2001. 2v./ GIRÃO, Raimundo; MARTINS FILHO, Antônio. O Ceará. 2 ed. Fortaleza: Editora Fortaleza, 1945./GONDIM, Zacharias. Traços ligeiros sobre a evolução da música no Brasil em especial no Ceará. In: Commemorando o Tricentenário do Ceará. Fortaleza: Typographia Minerva, 1903./ STUDART, Guilherme. Dicionário Bio-bibliográfico Cearense. Facsimilar. Fortaleza: Edições UFC, 1980. 3v. 524p., 430p, 325p. 6 No texto, ao grafarmos “Banda de Música” com letras maiúsculas estaremos nos referindo à Banda de Música da Polícia Militar. Ao escrevermos “bandas de música” com letras minúsculas, às bandas de música de uma maneira geral.

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O presente texto pretende colaborar com um estudo mais amplo que proporá a formulação de uma narrativa histórica e musical da cidade de Fortaleza no período anterior as primeiras décadas do século XX à luz da documentação encontrada nos registros dos livros dos autores memorialistas cearenses e no acervo da Banda de Música da Polícia Militar do Ceará.

OS PRIMEIROS MÚSICOS

O conhecimento sobre a vida artística e musical do Ceará até o fim do século XVII é praticamente inexistente. A informação mais remota data do começo do século XIX. Dos três primeiros séculos pós-descobrimento, o que se sabe é que a música acontecia no interior das igrejas, nas vozes dos sacerdotes cantando o cantochão nos ofícios divinos e no coro dos mestiços que aprendiam as ladainhas ensinadas pelos jesuítas7. O músico mais antigo que se tem conhecimento no Ceará é Joaquim Bernardo de Mendonça Ribeiro Pinto. Sabe-se que nasceu na segunda metade do século XVIII, em Aracati, pois existem registros de sua estada em Fortaleza como professor no ano de 1810. Segundo Kiefer8, “tornou-se músico pernambucano por transferência, formação e atividade”. Em 1810 foi admitido pela Irmandade de Santa Cecília de Recife. Foi compositor de músicas sacras, exerceu atividades musicais como mestre de capela, organista, professor primário e empresário. Consta que foi discípulo de Luís Álvares Pinto. Morreu em Recife em 1834. Joaquim Bernardo não era douto; entretanto pode-se afirmar que tinha algum cultivo intelectual, e conhecia bem a língua latina; se não frequentou escolas europeias, teve por mestre pessoa competente em música. É assim que se nota em suas composições sacras um certo cuidado na forma, procurando sempre dar à musica a tradição da palavra, do texto, enfim. Adepto da escola italiana, tinha um estilo ameno, agradável; suas melodias, se lhes faltava originalidade em todo o caso agradavam muito pela sua singeleza e facilidade de execução, que muito convinha, para a vulgarização delas, como sucedeu9.

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Op. cit, 1903, p.24. KIEFER, Bruno. História da Música Brasileira: dos primórdios ao início do século XX. 4. Ed. Porto Alegre: Movimento, 1977, p. 24-25. (Coleção Luís Cosme, v. 9). 9 Op. cit, 1903, p.24. 8

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Veríssimo10 também confirma essa observação quanto ao esmero na forma de compor e no estilo baseado na escola italiana. Nos três textos estudados sobre a vida Joaquim Bernardo, existe uma aparente inexatidão quanto à data da mudança do compositor para Recife. Gondim11 afirma que Joaquim Bernardo foi nomeado professor de primeiras letras em Fortaleza em 13 de setembro de 1808, permanecendo no cargo até 1811. Veríssimo12 confirma a presença do músico em Fortaleza informando que ele é o músico mais antigo presente na província cearense no ano de 1811. Contudo, Kiefer diz que ele se torna um compositor pernambucano argumentando que sua projeção como compositor se dá em 1809, induzindo o fato de que isso ocorre por causa de sua transferência para esta cidade e pela formação que recebe por lá. Além disso, ele confirma essa proposição dizendo que J. Bernardo assinou como membro da Irmandade de Santa Cecília no ano de 1810. Ora, mas como poderia isso acontecer, se Gondim relata que a nomeação de outro professor para o cargo acontece apenas no ano de 1811? Considerando que todas as informações são verdadeiras, propomos uma explicação para essa aparente contradição de datas. A hipótese é que Joaquim Bernardo tenha se transferido definitivamente para Recife apenas em 1812. Até o fim do ano de 1811 ainda estaria em Fortaleza, porém mantendo viagens periódicas à capital pernambucana. Em um desses momentos teria assinado sua entrada na Irmandade de Santa Cecília e teria feito contato (ou mesmo iniciado seus estudos) com o próprio Luís Álvares Pinto. Quanto a ser cearense ou pernambucano, compreendemos que, se todo artista que se transferisse para outra cidade deixasse de ser natural de sua cidade de origem somente porque estudou naquela cidade, trabalhou ou tenha realizado qualquer outra atividade, os pesquisadores teriam de pensar em reformular toda a história da música, não só brasileira, mas ocidental também! Joaquim Bernardo é músico cearense. Sobre as obras desse compositor existem apenas duas referências aos títulos das peças: a primeira é dada pelo padre Jaime Diniz, que encontrou uma cópia de uma partitura datada de 1897 e assinada com J. Bernardo, em que se pressupõe que é o compositor cearense13; a segunda, por ocasião das comemorações do tricentenário da vinda dos portugueses ao Ceará (1903) quando aconteceu uma missa na catedral de 10

Op.cit, 1954, p.150. Op. cit, 1903, p.24. 12 Op.cit, 1954, p.150. 13 Op.cit., 1977, p.25. 11

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Fortaleza onde foram tocadas obras de compositores cearenses, entre elas o Tantum Ergo de Joaquim Bernardo Ribeiro14. No seu texto sobre “Música Popular no enfoque”, Nirez15 afirma que o compositor cearense mais antigo que se tem conhecimento é Sátiro Lopes de Alcântara Bilhar, compositor de modinhas nascido em Baturité no ano de 1860 e falecido no Rio de Janeiro no dia 23 de outubro de 1926, aos 46 anos de idade16. Era tio da compositora Ana Bilhar. Teria Nirez desconhecimento do texto de Veríssimo ou estaria fazendo uma distinção entre música popular e música erudita? A segunda hipótese parece ser a mais plausível, afinal o título do capítulo propõe isso. Dessa maneira, Sátiro Bilhar seria o compositor popular mais antigo e Joaquim Bernardo, o compositor erudito mais antigo.

MÚSICOS NO CEARÁ NOS SÉCULOS XIX E NO INÍCIO DO XX

Antes de 1824 existia uma pequena orquestra em Russas ou em Aracati dirigida pelo mestre Boaventura José de Aragão, violoncelista - não se sabe se era compositor. Participava dessa orquestra o parente de Aragão, Felix José de Valois, que acrescentou o nome Areré posteriormente. Areré mudou-se para a cidade de Quixeramobim e lá passou a ensinar música. Foi preso e transferido para Fortaleza por ter participado da Revolução de 1824. Nessa cidade, perdoaram sua pena e sentaram-lhe praça de soldado de 1ª linha (regimento da Infantaria). Passando para oficial de milícias dos pardos, ficou responsável pela música no batalhão. Mesmo sem ser um bom músico, pois segundo Gondim era “melhor alfaiate que músico”, este autor o cita apenas por ter tido o mérito de ser o primeiro a organizar uma pequena orquestra em Fortaleza onde tocava violoncelo17. Joaquim Manuel Borges nasceu em Aracati em 16 de novembro de 1827. Foi professor de piano18.

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STUDART, Guilherme. Dicionário Bio-bibliográfico Cearense. Facsimilar (1915). Fortaleza: Edições UFC, 1980, v.3, p.122. As outras músicas foram o Veni Sancte Spiritu de Galdino José Gondim, O Salutaris Hostia de Simplício Montezuma, Te Deum de Zacharias Gondim; na sessão literária foi tocado o hino do Ceará de Alberto Nepomuceno e Thomas Lopes; na Avenida 07 de setembro, a música Marandadyba de Zacharias Gondim. 15 AZEVEDO, Miguel Ângelo de (NIREZ). Música Popular no Enfoque. In: Gylmar Chaves, Patrícia Veloso, Peregrina Capelo (org). Ah! Fortaleza. 2 ed. Fortaleza: Terra da Luz Editorial, 2009. p. 149. 16 AZEVEDO, Miguel Ângelo de (NIREZ). Índice Analítico e Iconografia da Cronologia Ilustrada de Fortaleza: Roteiro para um turismo histórico e Cultural. Fortaleza: Banco do Nordeste, 2001, p.119. 17 Op. cit., 1903. p.24-25. 18 GIRÃO, Raimundo; MARTINS FILHO, Antônio. O Ceará. 2 ed. Fortaleza: Editora Fortaleza, 1945, p. 69.

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Francisco Inagcio foi músico em Icó, surgido em época anterior a 1830. Tinha “excelente voz de baixo” e montou uma orquestra nessa cidade. Não se tem referência quanto às composições escritas por ele19. Simplício Delfino Montesuma20 nasceu em Icó no início das primeiras décadas do século XIX. O livro “O Ceará” informa que morreu em 1793. Na realidade, o ano informado está errado, sendo apenas um erro de digitação (ao invés de “8” foi escrito “7”)21. Ao discorrer sobre a biografia José Avelino Gurgel do Amaral, nascido no ano de 1843, Studart22 comenta que seus estudos preparatórios foram dados sob a direção de Montesuma. Conferindo a biografia de Simplício Montesuma no mesmo livro23, o autor nos informa o ano de 1893 como sendo o de sua morte, ou seja, cem anos a mais em relação à data informada no livro “O Ceará”. Discípulo de Francisco Inagcio de quem assumiu a orquestra organizada por seu mestre, Montesuma foi professor de latim, violoncelista e compositor de música profana e, especialmente, sacra. Gondim faz críticas às composições dele, embora o considere como um apaixonado pela arte, possuidor da bossa da música, “mas seria notável se tivesse tido escola”24. Galdino José Gondim tocava vários instrumentos, era professor de música, maestro e compositor de músicas sacras. Nasceu em Canindé em 22 de novembro de 1829. Foi contratado pelo Major Ângelo para promover o estudo de canto e de piano na cidade de Sobral, transferindo-se para esta cidade em 1848. Faleceu a 08 de novembro de 1915 deixando uma numerosa descendência de músicos. Chegando a Sobral, encontrou músicos do Rio Grande do Norte (um violinista, um violoncelista e um cantor). Com eles, “organizou uma orquestra muito regular para a época e não inferior à de outras localidades”25. Foi proprietário de fábrica de cigarros e de pólvora e agente dos Correios. Em 1879 passou a direção da “banda” para seu filho Zacharias, mas continuou a auxiliá-lo com o canto por ocasião das missas cantadas e novenas26. Zacharias Tomaz da Costa Gondim nasceu em Sobral à rua do Apollo em 29 de dezembro de 1851. Aprendeu música com o pai, Galdino José Gondim e o auxiliava em 19

Op. cit., 1903. p.26. O sobrenome deste músico é grafado com as letras “s” e “z” nos diferentes livros consultados. Optamos por escrever “s” pois aparece mais vezes e com autores diferentes. 21 Op. cit., 1939, p.213. 22 STUDART, Guilherme. Dicionário Bio-bibliográfico Cearense. Facsimilar (1913). Fortaleza: Edições UFC, 1980, v.2, p.74. 23 Op. cit., 1915, p.122. 24 Op. cit., 1903, p.26. 25 FROTA, José Tupinambá da. Bandas de Música In: História de Sobral. 2 ed., Fortaleza: Editora Henriqueta Galeno, 1974.p. 412. 26 Id., p. 413. 20

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uma pequena orquestra que ele regia. Zacharias aprendeu a tocar nessa orquestra e também auxiliou outros no aprendizado musical. Em 1879 recebeu de seu pai a incumbência de dirigir a “banda”27. Foi advogado, eleito deputado provincial em 1888, “orador muito apreciado”28. Deu aulas particulares de música em Sobral e, em Fortaleza, foi professor vitalício de música do Liceu do Ceará por ocasião da reforma do ensino secundário feito pelo presidente José Bezerril Fontenelle29. Foi regente do coral da Escola Normal na capital, grupo que cantou o hino do Ceará em 1903 por ocasião das festividades de tricentenário da vinda dos primeiros portugueses ao Ceará30. De próprio punho diz que não saiu do estado para estudar música e aprendeu “consultando os grandes mestres” no seu gabinete durantes as horas vagas31. Era compositor, mas Studart32 afirma que suas obras não foram publicadas. Menciona apenas os títulos: Hymno a D. Joaquim José Vieira; Hymno a N. S. de Lourdes; grande missa solene, em sol, a 4 vozes; um Te-Deum, em sol a 4 vozes; dois outros Te-Deum breves; vários Tantum Ergo e motetos; dois Regina Coeli, sendo um a grande coral; ladainhas e música ligeira de dança. Publicou os seguintes textos: “Música e danças indígenas”, “Traços ligeiros sobre a evolução da música no Brasil”; música popular ou nacional, apreciação ao hino do Ceará; origem dos instrumentos musicais e uma série de artigos sobre o modo de entender e sobre as prescrições contidas no Moto-proprio de S.S. Pio X quanto à música sacra. Morreu em 13 de dezembro de 1907 em Fortaleza33. Raimundo Donizetti Gondim, irmão de Zacharias Gondim, foi funileiro, fogueteiro, cigarreiro, padeiro, encadernador de livros e professor de piano. Quando Zacharias mudou-se para Fortaleza em 1891, Donizetti passou a dirigir a “banda” organizada por seu pai. Regeu-a até o ano de 1916 quando “desapareceu a tradicional banda do “Sr Galdino”. Morreu a 15 de outubro de 1941 em Sobral com 88 anos de idade34.

O termo “orquestra” e “banda” eram empregados com uma conotação mais livre do que hoje empregamos. Em muitos textos, os termos usados não trazem clareza quanto aos instrumentos implícitos associados aos seus significados: o uso da palavra “orquestra” sugere um conjunto musical formado por instrumentos de cordas friccionadas; a palavra “banda” sugere um conjunto normalmente composto por instrumentos de sopros - madeiras e metais - e percussão. 28 Op. cit., 1939, p.408. 29 Op. cit., 1915, p.221. 30 Op. cit., 2001, p.73. 31 Op. cit., 1903, p.5. 32 Op. cit., 1915, p. 222. 33 Op. cit., 2001, p. 78. 34 Op. cit, 1974, p. 413. 27

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Mozart Donizetti Gondim nasceu em Sobral e foi compositor de valsas, de músicas sacras e profanas35. Victor Augusto Nepomuceno (Victor Nepomuceno), natural de Pernambuco, nascido por volta de 1840, pai de Alberto Nepomuceno, foi compositor, maestro, pianista, organista da antiga catedral de Fortaleza, professor de música do Atheneu Cearense36. Organizou uma orquestra regular em Fortaleza, que foi desativada quando se mudou para Recife com o objetivo de trabalhar em um teatro maior37. Foi ex–músico da banda do Corpo Policial (atual Polícia Militar do Ceará) com a qual se apresentava nas solenidades e nas procissões religiosas38. Morreu em Recife no dia 21 de junho de 1880, aos 40 anos39. Manoel Magalhães foi professor de violino e piano, compositor de músicas profanas e de algumas sacras. Mesmo estudando na Alemanha, seu estilo estava voltado à escola italiana. Discípulo de Victor Nepomuceno, fundou a sociedade musical Santa Cecília e reorganizou a orquestra dirigida anteriormente por seu mestre. A orquestra não era numerosa, mas pouco a pouco foi diminuindo o número de integrantes até que, em 1888, foi necessário completar os músicos com os batalhões de linha e da polícia. Dirigiu também a música do Corpo Policial e da Filarmônica do comércio40. Sérgio Pinto de Pontes Pereira nasceu em Várzea Alegre em 13 de janeiro de 1862. Foi cantor barítono e compositor de música religiosa e profana. Faleceu em 02 de abril de 189441. Joaquim Lopes de Alcântara Bilhar nasceu no Crato, foi jurista, músico, membro da Academia Cearense de Letras e professor da Faculdade de Direito. Morreu em 09 de maio de 1905 em Fortaleza42. Alberto Nepomuceno é, sem dúvida, o músico mais conhecido e de maior projeção nacional e internacional da história do Ceará. É também o que apresenta o maior número de informações em todos os livros pesquisados. Nasceu em Fortaleza em 06 de julho de 1864 em uma casa da rua Senador Pompeu, no centro da cidade. Mudou-

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Op. cit, 1939, p.407. HOLANDA, João Xavier de. Banda de Musica Major Xavier Torres - 150 anos - 1854-1954. Fortaleza: Edição do autor, 2004, p.29. 37 Op. cit., 1903, p.30. 38 Op. cit., 2004, p.29. 39 Op. cit., 2001, p.48. 40 Op. cit., 1903, p.30-31. 41 Id., p.465. 42 Op. cit., 2001, p.75. 36

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se para Recife em 1872 e retornou para Fortaleza em 188443. Um dado relevante neste momento do seu retorno à cidade natal é que Nepomuceno foi professor de música em Fortaleza e empreendeu concerto no Clube Iracema44. Alberto Nepomuceno é o autor da música do hino do Ceará, cuja letra é do bacharel em direito Thomas Pompeu Lopes Pereira45. O hino do Ceará foi cantado pela primeira vez em 31 de julho de 1903 pelo coro das alunas da Escola Normal acompanhadas pela Banda de Música da Polícia Militar (à época chamada de Corpo de Segurança Pública do Estado) por ocasião das festividades de tricentenário da chegada dos portugueses na província46. Um dia após sua morte, em 17 de novembro de 1920, Fortaleza celebrou solenes exéquias em homenagem ao compositor. Existe em Fortaleza uma estátua do maestro, inaugurada no dia 31 de março de 1976, de autoria do escultor Leão Veloso, na avenida que leva seu nome47. Jorge Vitor era professor de piano em Fortaleza e suas alunas tocavam no Clube Iracema (fundado em 28 de junho de 1884), espaço que serviu como centro para os movimentos da abolição dos escravos e da proclamação da República e local onde aconteciam festas musicais e literárias48. Carlos Severo de Souza Pereira nasceu em Fortaleza no dia 04 de novembro de 1864 em Fortaleza, filho de Miguel de Souza Pereira e Cândida Julieta de Souza Pereira. Escreveu para vários jornais do Ceará, Amazonas e do Pará. Era considerado pintor e músico amador, sem conhecimento teórico. Seu instrumento predileto era o piano. Compunha mentalmente e depois pedia para alguém escrever suas peças. Dentre as peças para piano registradas citam-se Mironi, Ceo do norte, A lagrima dôce e Muricy, todas no estilo schotisk (=schotish). Escreveu também Cecy, uma valsa para banda marcial, uma música para coro, um tango e um solo de soprano. Escreveu o vaudeville Os dous irmãos em três atos, que foi encenado pelo Grêmio Thaliense de Amadores, com música de vários autores. Foi encenado no Teatro Iracema por duas vezes no ano de 1899 “com muito sucesso”49.

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Op. cit., 2001, p. 99. STUDART, Guilherme. Dicionário Bio-bibliográfico Cearense. Facsimilar (1910). Fortaleza: Edições UFC, 1980, v.1, p.18. 45 Op. cit., 1915, p.50-151. 46 Op. cit., 2001, p.73. 47 Id., p.312. 48 Op. cit., 1939, p.88. 49 Op. cit., 1910, p. 192, 337. Este é o único músico considerado amador que destacamos por apresentar o maior número de informações entre os pesquisados. 44

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Frederico Severo nasceu em Fortaleza e faleceu no Rio de Janeiro em 11 de maio de 1906. Foi major honorário do Exército, poeta, tribuno e autor das operetas De Baturité à Lua, em 3 atos, e Sinos de Corneville em Arronches, apresentado no Teatro São José de Fortaleza. É irmão de Carlos Severo50 Raymundo Ramos nasceu em 1871 e morreu em 191651. Foi pintor, poeta e músico. Assinava Ramos Cotoco em suas obras pela falta do braço direito. Publicou o Cantares Boêmios em 1906, por que continha letra e música das suas modinhas52. As pinturas internas do Teatro José de Alencar foram feitas por Ramos Cotoco e J. Paula Barros. Existia, no salão principal na Sociedade de São Vicente de Paulo, uma alegoria pintada por ele, mas que hoje se encontra desaparecida53. Morreu em 1916. João Quintino foi poeta e compositor, nasceu no Ceará, em Uruburetama, por volta de 1872 e faleceu aos 32 anos de idade no Amazonas. Era irmão do escritor e poeta Quintino Cunha54. Henrique Jorge Ferreira Lopes nasceu em 1872 e faleceu em 09 de outubro de 1928 em Fortaleza. Foi responsável juntamente com Paurillo Barroso por fundar a Escola de Música Alberto Nepomuceno, ainda em atividade. Tocava violino, era compositor e maestro, tendo regido várias orquestras55. Foi membro da Padaria Espiritual com o pseudônimo de Sarasate Mirim. Pai de Paulo Sarasate e João Jacques56. Antônio Sobreira Lima era conhecido pelo apelido de Suduca. Nasceu em Missão Velha em 1880, filho do professor público Francisco Gonçalves Dias Sobreira e de Francisca Xavier Sobreira. Aperfeiçoou seus estudos musicais em Milão, Itália, custeados pelo governo do Amazonas. A ajuda financeira foi ofertada também pelo governo do Pará, a qual recusou. Foi diretor do Conservatório de Música de Manaus57. Alberto Jacques Klein nasceu em Aracati em 23 de maio de 1891. Pai do pianista Jacques Klein. Foi presidente da Sociedade de Cultura Artística do Ceará e diretor do Conservatório de Música desse estado58.

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Op. cit., 1910, p. 337. Op. cit. 2009, p. 149. 52 Op. cit., 1915, p. 78. 53 Op. cit., 2001, p.80-81. 54 Id., p. 74. 55 Op. cit., 2009, p.149 e op. cit., 2001, p. 127. 56 Op. cit., 2001, p.127. 57 Op. cit., 1939, 292 e op. cit., 1910, p.134. 58 Op. cit.,1910, p. 67. 51

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Branca Bilhar nasceu em Guaramiranga entre os anos de 1886 e 1896. Foi compositora e pianista, estudou na Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro onde também deu aulas de piano. Foi a primeira diretora do Conservatório de Música Alberto Nepomuceno59. Sobre seu falecimento existem duas datas escritas. Para Nirez60, Branca Bilhar morreu no dia 22 de dezembro de 1928 aos 42 anos de idade, enquanto que Girão informa o ano de 193661. Euclides Silva Novo nasceu em Santana do Ipanema em Alagoas, por volta do ano de 1889. Foi professor de música de várias escolas de Fortaleza entre elas o Grupo Escolar Visconde do Rio Branco62 e o Colégio Cearense, fundado em 1913, onde regia o Orfeão Carlos Gounod. Este coral cantou no Teatro José de Alencar por ocasião do centenário Carlos Gomes e na inauguração da Assembléia Constituinte do Ceará a convite do então presidente César Cals63. Foi também maestro da banda do Colégio Militar do Ceará. Musicou o hino do Centro Artístico Cearense, que foi cantada em festa realizada na agremiação. Recebeu o título de Cidadão Cearense outorgado pela Câmara Municipal de Fortaleza no dia 21 de agosto de 1969. Morreu em 01 de março de 1970, no Rio de Janeiro, aos 80 anos64. Frederico Ribeiro Monteiro nasceu em Cascavel. “Grande maestro”, assim como seu filho Gentil Homem Ribeiro Cavalcante. Não se tem registro das datas de nascimento e de morte de ambos, mas faleceram antes de 1910 em Teresina conforme a informação apresentada no dicionário bio-bibliográfico de Studart65. José Pedro de Alcântara foi músico, regeu a Banda Euterpe Sobralense a partir dos anos de 1900 até quando morreu em 30 de março de 194166. Acácio Alcântara era compositor, nasceu em Sobral em 07 de setembro de 1899 e faleceu na mesma cidade aos 81 anos. Pertencia a uma família de músicos cujos pais eram José Pedro de Alcântara e Maria José Alcântara67.

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Op. cit., 2001, p.96. Id. p.127. 61 Op. cit., 1939, 156. 62 Op. cit., 2001, p. 96, 281. 63 Op.cit., 1939, p.268. 64 Op. cit., 2001, p. 103, 279, 281. 65 Op. cit., 1910, p. 338. 66 Op., cit., 1974, p.416. 67 MONT’ALVERNE, José Ronaldo. A Vida social em Sobral. In: Antônio Guarany Mont’Alverne (1912-1978): o homem e sua época. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora. 2012, p.79. 60

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Antônio Moreira, Moreirinha, foi compositor, maestro e professor de canto orfeônico no Liceu do Ceará por volta do ano de 1939. Era responsável juntamente com Edgar Nunes pelo Orfeão Liceal e o Conjunto Liceal desse colégio68. Edgar Nunes foi maestro e professor de canto orfeônico no Liceu do Ceará por volta do ano de 193969 no mesmo período de Antônio Moreira. Hilda Marçal Matos foi compositora, escreveu o tango argentino Alma Dilacerada, op.1 com música sua e letra de Júlio Sobreira, editada para canto e piano pela Casa Editora Ceará Musical70. J. Perboyre Quinderé escreveu o fox-trot O Banco em homenagem aos frequentadores do banco da avenida 07 de setembro (atual praça do Ferreira)71. Estefânia Pastor foi professora de piano cujas alunas tocavam no Clube Iracema. Neste mesmo clube, apresentaram–se também Artur Napoleão; Dalmou, considerado “um genial violinista”; Galiani, contrabaixista; e Ladário Teixeira72. Roberto Xavier de Castro foi compositor da modinha A pequenina cruz do teu rosário73. De Castro e Sousa, compositor, escreveu o fox-trot Garça Branca op.9, editado em 1924 e oferecido à Candinha Martins74. Alguns outros nomes mencionados: Ester Salgado da Fonseca, pianista75; Diva Câmara, compositora, regeu a orquestra das peças teatrais de Carlos Câmara76; Américo Lima, compositor77; e Ladário Teixeira, saxofonista cego78.

BANDA DE MÚSICA DA POLÍCIA MILITAR DO CEARÁ

A Banda de Música da Polícia Militar (PM) do Ceará é considerada a banda militar mais antiga do estado, criada pela Lei n° 688 de 28 de outubro de 185479.

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Op. cit.,1939, p. 177-178. Id. p.177. 70 Op. cit.,2001, p. 111. 71 Id., p. 114. 72 Op. cit.,1939, p. 88. 73 Op. cit.,2001, p. 76. 74 Id., p. 111. 75 Ibid, p. 113. 76 CÂMARA, Carlos Torres. Teatro: Obra Completa. Fortaleza: Academia Cearense de Letras, 1978, p.219. 77 Op. cit.,1910, p. 42. 78 Op. cit., 2001, p. 111. 79 RODRIGUES, Abelardo. Resumo Histórico da Polícia Militar (1835-1955). Fortaleza: Imprensa Oficial, 195-. p. 46. 69

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Preserva em sua sede um importante acervo de partituras, material iconográfico com fotos de época sobre a banda e um livro que conta a história de sua formação e da corporação militar. Em seus 158 anos de atuação musical quase que ininterrupta na cidade de Fortaleza, a Banda da PM influenciou o surgimento de novas bandas na cidade, participou de importantes eventos históricos, políticos e artísticos, bem como ajudou a divulgar o repertório característico dessa formação. Um dos maiores eventos da história do Ceará, a abolição dos escravos que aconteceu quatro anos antes - 25 de março de 1884 - de todo o Brasil, foi saudada pela Banda da PM com uma alvorada musical80. Se, por um lado, essa banda estava presente em atividades sociais, políticas e artísticas da sociedade fortalezense da época, ela também era solicitada para animar tradicionais momentos religiosos como as procissões católicas81. Ainda hoje o repertório das bandas contempla, não somente os dobrados característicos, mas também os hinos religiosos das padroeiras das cidades das quais as bandas de música pertencem. Há, portanto, uma convivência pacífica entre esses dois mundos aparentemente antagônicos. Essa falsa oposição proposta na origem dos termos sacro e profano, militar e civil, popular e erudito, convergem pacificamente no interior da banda de música. Essa fronteira, mais do que uma linha de separação, pode ser entendida como uma zona de contato82 facilmente ultrapassada pela banda. A flexibilidade na constituição de sua formação instrumental permite que as bandas circulem por diversos espaços artísticos culturais, do teatro à praça pública. Sua diversidade de nomenclatura - banda sinfônica, banda de música, marching bands, bandas de concerto, big bands - reflete sua riqueza e variedade artística. A existência de um número elevado de bandas de música no estado do Ceará 202 bandas em atividade - é conseqüência não apenas do incentivo político por parte do governo do estado por meio de legislação própria, mas, principalmente, de uma tradição que se iniciou com a criação e com a influência que as bandas militares exerceram e continuam a exercer sobre o contexto musical cearense. A hierarquia funcional entre o que era ser músico militar e civil não era rígida no passado. Por ocasião da criação da

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MARTINS, José Murilo; FIÚZA, Regina Pamplona. A Academia Cearense de Letras e o Palácio da Luz. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2011, p. 59. 81 Op. cit. 2004, p. 29. 82 A definição de fronteira como linha, zona de contato entre dois territórios é proposto pelo geógrafo Cássio Hissa (HISSA, 2002, p. 19 apud MENESES, 2011, p. 63).

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Banda da PM, o maestro e alguns músicos não eram militares 83. E aqueles que eram músicos militares não atuavam apenas em suas corporações, mas tocavam também nos mais diferentes conjuntos musicais civis ou exerciam a função de professores na cidade. Dessa Banda já saíram muitos compositores e instrumentistas que fizeram - e ainda fazem - a história musical do Ceará, como Victor Nepomuceno, Luigi Maria Smido, Euclides Silva Novo, Júlio Marinho, Cleóbulo Maia, Manuel Ferreira entre outros. A Banda de Música da PM preserva em sua sede em torno de mil84 partituras entre aquelas consideradas de uso frequente e as de arquivo permanente. A existência desse importante acervo musical aliado à possibilidade de encontrar alguma partitura musical do século XIX motivou-me a iniciar um projeto de pesquisa envolvendo o acervo dessa Banda. Atualmente está em andamento o projeto de iniciação científica “Catalogação do Acervo da Banda de Música da Polícia Militar do Ceará” que tem como objetivo catalogar as partituras do arquivo da banda da Polícia Militar do Ceará no período de 1854 a 1954. A fase inicial do trabalho começou com a limpeza, organização prévia das partituras seguindo a metodologia de catalogação já adotada pela arquivista da Banda em relação às outras composições. Essa fase já foi finalizada bem como o registro fotográfico das partituras selecionadas85. O recorte temporal escolhido baseou-se no ano de criação da Banda, e no ano em que ela recebeu um nome particular do restante da corporação: Banda de Música Major Xavier Torres. A obra mais antiga localizada neste arquivo está datada de 1897. É uma marcha intitulada Corporação do compositor Euclides Paiva86. Existem três copistas dessa peça: Raymundo Egydio de Lima e Martinho Jozé Pereira de 1897 e Pedro Domingues, que copiou as partes em 1928. A obra possui um condutor, partes separadas e não possui a partitura do maestro. A instrumentação de 1897 era requinta, 1°, 2° e 3° clarinetes, saxofone soprano, 1° e 2° bombardino, barítono em sib, baixo em Mib, 1° trombone. Em 1928 Domingues copiou algumas partes e acrescentou outras: condutor, 1°, 2° e 3° clarinetes, saxofone alto e tenor, 1°, 2° e 3° piston, 1°, 2° e 3° trompa em mib, 2° e 3° trombone, baixo em mib, baixo em sib, pancadaria. Ao escrever novas partes, normalmente as anteriores eram usadas. Elas somente não seriam utilizadas se a 83

Op. cit. 2004, p. 28-30. Esse valor é estimado, pois nem todas as partituras estão catalogadas, particularmente as mais antigas. Mesmo tendo finalizado a fase de limpeza e organização das partituras estas ainda não receberam a numeração de catalogação do arquivo. 85 A equipe do projeto foi composta pela arquivista da banda Joiânia Marques, pela bolsista de Iniciação Científica (UECE) Kamila Serpa, e os bolsistas de Iniciação Artística (UECE) Mônica Laurentino, Marcilane Cruz, Glauber Pereira e Willian Ciriaco. As fotografias foram tiradas pela Kamila Serpa. 86 Não existem informações sobre quem é esse compositor. 84

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Banda não tivesse o instrumento específico. Além do repertório de marchas e dobrados existem, relacionadas neste arquivo, muitas aberturas de óperas, valsas e composições de autores cearenses desconhecidos.

Figura 1: Imagem da parte de baixo em Mib, Corporação - Foto Kamila Serpa.

Figura 2: Imagem da data de cópia da peça Primeira página da partitura. Fortaleza, 14 de junho de 1897. Foto: Kamila Serpa.

Kiefer87 informa em seu livro que o musicólogo Jaime Diniz localizou na exEscola Nacional de Música um Liberame de Pernambuco para coro e orquestra do compositor Joaquim Bernardo, cópia datada de 1897. Para esse pesquisador, é possível que a composição seja de Joaquim Bernardo de Mendonça Ribeiro Pinto. Como cópia, ela pode ter sido escrita antes dessa data e seria considerada a partitura mais antiga de um compositor cearense. Contudo, a obra Corporação é a partitura mais antiga encontrada em arquivos no Ceará até o presente momento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse panorama ainda é uma proposta inicial de estudo para a formulação de uma narrativa histórica e musical da cidade de Fortaleza nos períodos anteriores ao início do século XX. Pretendemos incluir as informações de artistas de outras linguagens, com exceção da literatura cearense, pois existem muitos trabalhos publicados na área; os músicos amadores não mencionados aqui; bem como ampliar as biografias apresentadas - e não apresentadas também - dando continuidade ao cruzamento das informações em outros livros a serem pesquisados.

87

Op. cit., 1997, p. 25.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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STUDART, Guilherme. Dicionário Bio-bibliográfico Cearense. Facsimilar (1913) Fortaleza: Edições UFC, 1980. 3v. v.2. 430p. STUDART, Guilherme. Dicionário Bio-bibliográfico Cearense. Facsimilar (1915). Fortaleza: Edições UFC, 1980. 3v. v.3. 325p. VERÍSSIMO, Pedro. A música na Terra de Iracema. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Ceará. Fortaleza, t. 68, p.149-154, 1954.

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