Nada começa se tudo se acaba.doc

May 22, 2017 | Autor: Danillo Macedo | Categoria: Poetry, Poesía
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Nada começa se tudo se acaba

Le silence éternel de ces espaces infinis m'effraie
– Carlos Drummond de Andrade –

Morre um pouco de nós
Perdoe-me a autodepreciação
O que me sobrou de resiliência
Não existe certo nem errado
Mas, falso ou verdadeiro
(Por que, pois, sempre erramos?)
Há muitas perguntas
Nenhuma resposta

Sabe mais quem sabe menos
Mais fundo e mais lento
Caminho para a água e para o fogo
Somos quentes e frios
Por isso a Eternidade nos vomita

Não sei se há memória na alma
O coração inane, fatigado, sente o peso da carne
Não sei que fome sente o espírito
Não sei que comida há para tanta fome
Quando penso demais até esqueço que tenho coração
Tudo meio fraco e meio forte

Queria, por um só instante, ser eu mesmo
Quando tivesse ou não vontade de sê-lo
Sei que pareço contraditório

Triste ver a máscara decompor meu rosto
E ter vivido menos para mim mesmo
Adornando a fealdade das coisas
À sensação de não ter vivido nada

A felicidade é uma entrega
Não paramos de buscá-la
Quanto mais soubermos que não chegamos a lugar algum
Mas, arrastamo-nos para nos sentirmos grandes
E nos debatemos na própria pequenez
Patéticos
Mesmo quando tentamos diminuir os outros
E mais patética a cena
O nosso orgulho escondendo lágrimas
Até o próximo espelho verter pó e restolho

Quis muito fazer pelos outros
Porém, hipócrita, fazia por mim mesmo
Andamos em círculos
Viemos do nada, iremos para o nada
Mesmo assim, não aprendemos nada
E matamos uns aos outros
Para sermos menos ainda
Quando podíamos, ao menos, ter vivido um filme bom
Até atravessarmos o muro que nos separa
Vendo cair o véu que cobre nossa consciência

Tudo acaba e parece óbvio
Acho que nada acaba
Quando o grito ecoa até o infinito

Quis aproveitar cada segundo
Sem saber que não precisava ter pressa
Na fruição do término-sempiterno
Das coisas que nunca começam
Conquanto sempre se acabam
Muito embora os segundos fugissem

A vida é um arlequim que tenta apanhar o vento

Não sei mais que idade tenho

Perdi a vida contemplando a amplidão das coisas perenes
Não sei em que ponto do tempo parei para escrever
Meus últimos versos
Porque são sempre os últimos
Tudo o que existe só existe por último
Emerge na superfície das coisas
E, logo, se afunda no nada mais profundo

Tudo existe e se acaba, ao mesmo tempo
Existe neste estapafúrdio instante à frente de tudo
Que logo dá lugar a outro ente que o anula
A existência aniquila para existir
Como um corpo faminto
Que se autodestrói
No expirante tentame
De não se destruir

Todo tempo é o último tempo
O tempo todo
E tudo está acabado
O tempo todo

Vagueio no Tempo: um átomo errante no Cosmo
Acossado n'algum recanto do Universo
Às vezes, sou guiado pelos trilhos d'alguns devaneios

Se tudo termina, o que começou?
Se tudo começa, o que acabou?

E assim, desejo que sejam meus últimos versos
(ou serão os primeiros?)

Nada começa se tudo se acaba



- Danillo Macedo -
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