Nao e coisa da sua cabeca e racismo

May 18, 2017 | Autor: Viviana Santiago | Categoria: Racismo y discriminación, Anti-racismo
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Não é coisa da sua cabeça, é racismo.

- Toda vez que eu entro, eu tenho a impressão que elas seguram a bolsa com mais força.
-Quando eu estou na academia, parece que as pessoas não querem usar os equipamentos depois que eu termino de usar,
-Comigo, parece que a exigência sempre é maior. Não importa o quanto eu me esforce, nunca é o bastante, sempre tenho eu fazer mais.
-Fui jantar fora com meu filho e fiquei com a sensação que o meu pedido demorou mais do que o das outras pessoas e chegou um pouco frio,
- Toda vez que eu tento apresentar uma nova idéia no trabalho as pessoas sempre dizem que não é bem assim", mas depois quando outra pessoa repete tudo que eu disse a ideia é bem aceita
- Pode ser coisa da minha cabeça, mas eu sinto como se meu chefe tivesse a necessidade de me provar o tempo inteiro que eu estou errada, que eu não sei o que fazer,
- O tempo inteiro eu fico com a impressão que as pessoas sempre são mais hostis comigo do que seriam se eu não fosse negra
Pode ser coisa da minha cabeça, mas....
Mulheres e meninas negras ao longo de sua vida, vão conviver com situações de violência em relações de afeto, trabalho, moradia, compra. O tempo inteiro será retirado de um lugar de dignidade em processos sutis – ou não tão sutis- mas realizados de maneira recorrente e sem que gere incômodo nas outras pessoas não-negras presentes nessas relações, dessa maneira percebendo-se alvo de atitudes odiosas, persecutórias mas que parece que só são percebidas por elas mesmas, as meninas e mulheres negras começam a duvidar: Como poderia algo que lhes provoca tanta dor não ser percebido por outras pessoas? Então duvidarão de si mesmas, e iniciarão um processo de questionar suas habilidades, direitos, percepções culminando com o questionamento acerca de sua sanidade.
As declarações acima, seguramente já foram ouvidas ou pronunciadas por cada uma de nós mulheres negras, agora e quando fomos meninas, é a violência racista que estando capilarizada por todos os espaços da vida em sociedade determina formas de tratamento e construção de expectativas sob a vida, afetos, e competências das mulheres negras na sociedade. Dizendo e tentando empurrá-las para aquilo que o pensamento racista imagina que elas devem ser e ter.
Em restaurantes e lojas ou serão mal servidas ou tratadas com intimidade desrespeitosa , na academia serão seguidas por olhares maldosos, seus cabelos constantemente observados como se quem os olha acreditasse que estão cheio de piolhos, seu suor aparentemente é tóxico pois a recusa das pessoas em utilizarem os equipamentos depois de seu uso grita isso
Na Academia e no mundo do trabalho serão tuteladas, destituídas de sua voz, inferiorizadas e perseguidas, nenhum trabalho será o bastante, o tributo do negro será cobrado e o reconhecimento quase nunca chegara, o tempo inteiro suas ideias serão atribuídas a outras pessoas sua autoria sempre negada;
Para as mulheres, de maneira geral, ser competentes, autônomas, críticas e inteligentes se torna um fardo, são características que se afastam do modelo de mulher insistentemente alardeado pela sociedade patriarcal, para as mulheres negras se torna um duplo fardo, uma vez que na percepção racista sobre o ser negra não é mais que ser a carne mais barata do açougue, o corpo para o sexo, a faxina garantida;
Esses são conteúdos da vida de todas as mulheres negras, mesmo daquelas que se aliando ao discurso liberal de faça-você-mesmo acreditam nunca os ter vivido (estão lá, talvez apenas tenha lhes faltado a capacidade de enxerga-los ou nomeá-los), e precisamos falar mais sobre cada um deles, para que diante desse assédio, dessa violência, nunca mais uma mulher negra duvide de si mesma, mas que tenha a certeza de que não é coisa da sua cabeça, é racismo.
Mulheres negras precisam contar suas histórias, precisam se reconhecer nas histórias umas das outras para que possam se fortalecer e enfrentar espaços, situações e pessoas racistas de frente. Deixando-ás perceber que nós não duvidamos de nós mesmas e sabemos sim, nomear o racismo em nossas vidas.





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