Narração Audiodescritiva e a experiência de pessoas com deficiência visual em estádios de futebol

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE TERAPIA OCUPACIONAL

Narração Audiodescritiva e a experiência de pessoas com deficiência visual em estádios de futebol Mauana Simas de Meira Leite

RIO DE JANEIRO 2016 1

MAUANA SIMAS DE MEIRA LEITE

Narração audiodescritiva e a experiência de pessoas com deficiência visual em estádios de futebol

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Especialização em Acessibilidade Cultural da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro como requisito ao título de Especialista

Professor orientador: Francisco Nilton Nunes Gomes De Oliveira

Rio de Janeiro 2016 2

Banca Examinadora:

___________________________________________________________ Profº(ª): Vera Lúcia Vieira de Souza

___________________________________________________________ Profº Francisco Nilton Gomes de Oliveira

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Agradecimentos

Essencial e indispensável agradecer aos que acompanham todo nosso caminho, nos bons e maus momentos, seja lá como for. Minha maravilhosa Mãe, Vitoria Simas, e meu amado Pai, Ricardo Meira Leite, essa dupla que, cada um à sua maneira, dedicou tudo de si para mim. Fred e Dodô, meus dois mosqueteiros, que nem precisariam de laços sanguíneos para serem os amores da minha vida. Gabriel Mayr, Anderson Dias e Marcos Lima, três dos fundadores da Urece Esporte e Cultura e companheiros profissionais que tanto admiro e respeito. Fizeram tudo ser possível com determinação e muita força de vontade, abrindo caminho para muito do que faço hoje. Joyce Cook e Ângela Patrícia Reiniger, grandes musas profissionais que me ensinaram da melhor forma possível a acreditar em um mundo mais inclusivo e justo. Meu querido orientador Nilton, pela paciência, disposição e afeto dedicados. Ao Clube de Regatas Vasco da Gama e ao Juninho Pernambucano, que despertaram meu amor pelo Futebol.

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Lista de Imagens

Figura 1 – Representação gráfica sobre os parâmetros de linguagem da Narração Audiodescritiva.

Figura 2 - O corte de cabelo de Ronaldo na Copa do Mundo de Futebol de 2002 (http://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/2014/06/capa-derevista-neymar-relembra-o-penta-cortei-cabelo-igual-ao-ronaldo.html)

Figura 3 - Comemoração do jogador Bebeto em homenagem ao filho na Copa do Mundo

de 1994

(http://copa.imguol.com/2010/copadomundo/2010/02/12/atacante-

bebeto-do-brasil-comemora-o-segundo-gol-feito-contra-a-holanda-pelas-quartas-definal-da-copa-do-mundo-de-1994-nos-estados-unidos-brasil-ganhou-por-3-a-21266001050855_956x500.jpg)

Figura 4 - A famosa comemoração de Pelé na Copa do Mundo de 1970. (http://www.blogdosarafa.com.br/wp-content/uploads/2009/06/pelecopa70.jpg)

Figura 5 - Falta cometida por Zinedine Zidane na final da Copa do Mundo de 2006 (http://multimedia.iol.pt/backoffice/oratvi/multimedia/imagem/id/7401035/390)

Figura 6 - Estádio Jornalista Mário Filho, Maracanã, visto pela Tribuna de Imprensa (Foto de Arquivo Pessoal)

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Lista de Siglas

AD

Audiodescrição

CAFE

Centre for Access to Football in Europe (“Centro de Acesso ao Futebol

na Europa”) FIFA

Fédération

International

de

Football

Association

(“Federação

Internacional de Futebol) ONG

Organização Não-governamental

ONU

Organização das Nações Unidas

PUC-Rio

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

UFRJ

Universidade Federal do Rio de Janeiro

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Resumo

De acordo com o Censo de 2010 do IBGE, no Brasil há mais de 6 milhões de pessoas com deficiência visual. Um público enorme que, grande parte das vezes, não participa de atividade sócio-culturais. A partir de um projeto pioneiro implementado durante a Copa do Mundo de Futebol do Brasil de 2014, a Narração Audiodescritiva, uma transmissão radiofônica voltada para melhorar a experiência de torcedores com deficiência visual nos estádios, este trabalho pretende sistematizar as boas práticas para implementação e fruição deste serviço, compreendendo a relevância cultural do esporte. Neste guia, desenvolvido para o Curso de Especialização em Acessibilidade Cultural, o conceito de cultura não se limita ao universo das artes e, para isso, busca traçar paralelos sobre a influência do Futebol na construção do repertório sócio-cultural dos brasileiros. Este trabalho foi desenvolvido com a metodologia de investigação-ação utilizando as experiências anteriores para desenvolvimento do guia para formação de narradores audiodescritivos de futebol. Palavras-chave: Narração Audiodescritiva, Futebol, Cultura, Acessibilidade Cultural, Deficiência Visual

Abstract

According to the 2010 National Census, there are more than 6 million people with visual disability in Brazil. A huge group that, most of the time, is not included in social and cultural activities. Since a pioneer project implemented during the Brazilian Football World Cup in 2014, the Audio descriptive commentaries, a special radio transmission focused on providing a better experience for blind and partially sighted fans in stadia, the following work was developed to systematize good practices to implement the service, understanding the cultural relevance of football. On this Guide, created for the Cultural Accessibility Specialization Course, the concept of culture is not only associated with Arts. It intends to draw parallels between Football and its cultural impact to the Brazilian society. The methodology used on this paper is “investigation7

action” based on the previous experiences to develop a Training Guide for new Audio descriptive Commentators. Key-words: Audio-descriptive commentaries, Football, Culture, Cultural Accessibility, Visual Disability

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Sumário

1. Introdução 1.1 Copa do Mundo do Brasil de Futebol e os projetos de acessibilidade .........12 1.2 Relevância desta discussão para pessoas com deficiência visual e outros públicos ...............................................................................................................13 2. Objetivo e contextualização do objetivo do estudo ............................................14 3. Fundamentação teórica 3.1 Inclusão de pessoas com deficiência: ainda um desafio ...............................17 3.2 Audiodescrição e Narração Audiodescritiva ................................................18 3.3 Futebol e acesso à cultura ............................................................................ 18 4. Método 5. Dados apresentados 5.1 Seleção de narradores: um perfil específico ................................................ 25 5.2 O processo de formação do narrador audiodescritivo ................................. 26 5.2.1 Formação teórica da Narração Audiodescritiva ............................ 26 5.2.2 Normas da Audiodescrição aplicadas à Narração Audiodescritiva ................................................................................................................ 27 5.2.3 Formação prática da Narração Audiodescritiva ............................ 30 5.2.4 A hora do gol ................................................................................. 32 5.3 Transmissão da Narração Audiodescritiva 5.3.1 Qualidade técnica .......................................................................... 34 5.3.2 Dinâmica de Narração ................................................................... 34 5.4 Feedback dos usuários ................................................................................. 36

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6. Conclusão ...........................................................................................................36 Referências ...............................................................................................................38 Anexos: Modelo de Formulário para teste de recepção ...........................................40

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1. Introdução

Em 2009, em minha primeira experiência profissional extra-universitária, fui escalada para fazer parte da equipe do Programa Especial, revista eletrônica semanal dedicada à inclusão de pessoas com deficiência, exibido pela TV Brasil. Era a primeira vez desde o jardim de infância que eu convivia de perto com cadeirantes, cegos, surdos, pessoas com realidades físicas diferentes e, teoricamente, distantes de mim. À medida que me aproximei desse universo, fui percebendo que o que me distanciava dele era apenas um sentimento pretensioso de pena. Essas pessoas se tornaram colegas de trabalho, referências profissionais e, eventualmente, grandes amigos. Também tive acesso ao dado que mais me supreendeu: de acordo com a ONU, os indvíduos com deficiência são a maior minoria do mundo, ultrapassando o impressionante número de 1 bilhão de pessoas (1). A experiência com o Programa Especial foi intercalada por um curto intercâmbio de seis meses na Itália, onde fui voluntária de uma cooperativa dedicada à inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Percebe-se , então, que a realidade dos indivíduos com deficiência em um país considerado de primeiro mundo como a Itália não destoava muito da brasileira. O acesso à educação e à cultura ainda era primário, um projeto a ser conquistado, aumentando ainda mais as barreiras para que pessoas com deficiências estivessem incluídas e integradas à sociedade. O tema começou a me despertar muita curiosidade. E muitas dúvidas começaram a aparecer. No que afeta, para as pessoas com deficiência, a falta de acesso? Não existem recursos tangíveis para que as barreiras de acesso sejam rompidas? Se já existem, por que não é de interesse implementá-los? Que tecnologias podem facilitar um universo mais acessível para essa enorme parcela da população mundial? Eram algumas das perguntas questionadoras durante essas vivências. Com tais questionamentos, busquei pesquisar sobre o acesso ou a falta dele, especificamente para pessoas com deficiência auditiva, em meu trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social da PUC-Rio. O fruto desta pesquisa foi o documentário “Silêncio a Cores: Os surdos e o audiovisual”, que busca investigar qual o impacto da falta de acesso ao audiovisual em 11

suas diversas formas: telejornais, filmes, telenovelas, seriados etc. Neste documentário, através de depoimentos bastante diversos, percebe-se o impacto social e educativo que a comunicação bem feita pode causar – tal qual o gap que a falha dela pode causar no processo de inclusão de indivíduos com deficiências.

1.1 Copa do Mundo de Futebol do Brasil e os projetos de acessibilidade Em 2013, fui convidada pela ONG carioca Urece Esporte e Cultura para coordenar um projeto pioneiro no país, que aconteceria durante a Copa do Mundo de Futebol no ano seguinte. Até então, o nome, apenas em inglês, não demonstrava o quanto “Audio-descriptive commentaries” – ‘Narração Audiodescritiva’ na tradução que demos para o serviço em português – teria um impacto tão positivo. O objetivo da Narração Audiodescritiva era oferecer uma experiência mais completa e inclusiva para os torcedores com deficiência visual. A metodologia utilizada para a implementação do projeto foi criada pela ONG britânica CAFE (Centre for Acess to Football in Europe) e desenvolvida em totalidade em 2012 durante a EuroCopa da Polônia e da Ucrânia. O formato do projeto que foi implementado no Brasil era, portanto, europeu. E coube à Urece Esporte e Cultura, aparar as arestas e dar forma e jeito brasileiros para essa modalidade de narração. O serviço de narração audiodescritiva foi oferecido para quatro estádios-sede da Copa do Mundo: Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. O público-alvo era, justamente, pessoas com deficiência visual. Através do programa de responsabilidade social da FIFA, Football for Hope, a Urece recebeu ingressos para as vinte e seis partidas em que a narração audiodescritiva seria transmitida. As vinte e seis partidas da Copa do Mundo em que a Narração Audiodescritiva foi oferecida, incluiam a maioria dos jogos importantes e decisivos, como a abertura, as semi-finais, a disputa de terceiro lugar e a grande final. Através dos ingressos de cortesia que foram oferecidos para os espectadores com deficiência visual, a Urece avaliou o serviço chegando ao índice de aprovação de 82%. Durante e após a experiência da Copa do Mundo de 2014, fui treinada pelo CAFE na sede da ONG em Londres para liderar a formação de outros narradores da modalidade para atuarem no Brasil e levarem informação e inclusão para um número cada vez maior de pessoas com deficiência visual. 12

1.2 Relevância desta discussão para pessoas com deficiência visual e outros públicos Ir ao estádio é uma das atividades mais populares e democráticas do país. O Futebol, mais do que qualquer outro esporte no Brasil e na maior parte do mundo, une pessoas de diferentes classes sociais, religiões e posicionamentos políticos. A vivência do futebol transcende a paixão pelo esporte em si. No Brasil, futebol é parte da cultura e se reflete em nossos filmes, músicas, livros, artes visuais. O escritor José Miguel Wisnik, em seu livro “Veneno Remédio: O Futebol e o Brasil”, defende a expressividade cultural desse esporte. “O futebol abre-se a uma margem narrativa que admite o épico, o dramático, o trágico, o lírico, o cômico, o paródico”. E completa “A margem flutuante de acontecimentos que não se contabilizam, mas que são inerentes à trama continuada da partida, constitui-se nele, numa sobra significativa que amplia o alcance dos seus efeitos”. Para o cronista italiano Pier Paolo Pasolini, o futebol é linguagem. Em suas palavras “O Futebol é um sistema de sinais, isso é, uma linguagem. Ele tem todas as características fundamentais de uma linguagem por excelência, como aquilo que nós colocaríamos imediatamente em termos de comparação, a linguagem escrita-falada”. Apropriando-nos do termo dado por Pasolini, o futebol é uma linguagem e, uma linguagem essencialmente visual. O esporte é o objeto principal, mas todos os elementos externos contribuem para a construção de experiência coletiva e expressão cultural, além de garantir o direito à informação e ao lazer, ambos garantidos pela Constituição Brasileira nos atigos 4º e 5º, dos Direitos e Garantias Fundamentais (5). É para auxiliar o público com deficiência visual a construir esse repertório de informações essencialmente visuais que existe o recurso da narração audiodescritiva. Essa ferramenta tem por objetivo, de forma bastante genérica, oferecer uma experiência mais completa para espectadores com deficiência visual.

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2. Objetivo e contextualização do objetivo do estudo

Este trabalho tem como objetivo principal gerar um guia de suporte para narradores audiodescritivos de futebol, analisando as relevâncias culturais e sociais do esporte no país. A importância do futebol no Brasil é amplamente discutida e já foi tema central de diversos produtos culturais. O futebol está na música, no cinema, no teatro, na dança, na literatura e até mesmo no vocabulário dos brasileiros. Somos parte de uma sociedade intensamente influenciada por esse esporte. A percepção do impacto e relevância cultural do acesso total ao futebol e outros esportes pode ajudar a orientar novas propostas de acessibilidade em estádios e outros espaços esportivos, proporcionando experiências mais completas para o público com deficiência visual. É preciso destacar, especialmente, o contexto em que esse trabalho se desenvolve: cidade do Rio de Janeiro, sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. Em termos mais amplos, este estudo também busca compreender o impacto do esporte na construção da identidade social coletiva, o sentimento de pertencimento a um grupo, na contra-mão dos discursos sobre marginzalização e exclusão de pessoas com deficiência. Muito importante destacar também a relevância institucional para a ONG Urece Esporte e Cultura para Cegos, que atende diretamente mais de 50 (cinquenta) atletas com deficiência visual e que completou dez anos em 2015, com o objetivo de se tornar instituição referência em acesso ao esporte e às práticas esportivas. Sou colaboradora da Urece desde 2011, e um dos objetivos da participação no curso de especialização em Acessibilidade Cultural é poder implementar novas propostas inclusivas e acessíveis na instituição da qual faço parte. Nesta trajetória desejada para implementar novas propostas de acessibilidade, iniciamos em parceria com o estádio do Maracanã em agosto de 2015, o treinamento de 12 (doze) novos narradores para implementar a narração audiodescritiva no maior estádio do país. 14

Um aspecto indireto porém também relevante para esse trabalho e sua divulgação em prol do fortalecimento do serviço de narração audiodescritiva é oferecer a profissionais de jornalismo uma nova possibilidade de carreira. É importante destacar que o ofício de jornalista está cada vez mais restrito e com menos ofertas de trabalho.

3. Fundamentação teórica

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização das Nações Unidas de 2008 - o Brasil é um dos países signatários - define que a deficiência de um indivíduo está na interação com ambientes que não proporcionem a integração. Quando não há barreiras físicas, comunicacionais ou atitudinais, o indivíduo é capaz de interagir e participar, efetivamente, da sociedade e seus espaços. A Convenção também recomenda a utilização do termo Pessoa com Deficiência – não mais Portadores de Necessidades Especiais, Portadores de Deficiência ou semelhantes. Seguindo esta orientação, utilizarei neste trabalho “Pessoa com deficiência visual”. Desde a Antiguidade, pessoas com deficiência visual são retradas nas artes e na literatura. Às vezes, mostradas como pessoas tristes e incapazes de participar da sociedade, outras vezes, como pessoas que, ao perderem a visão, viraram superherois com outros sentidos ultra-aguçados. A verdade é que ninguém se torna incapaz ou super herói ao ficar cego. Estima-se que 70% das informações percebidas pelos seres humanos venham através da visão (9). Um sentido potencialmente opressor em relação aos demais. Ao perder a visão, ou nascer sem ela, o indivíduo tende a utilizar mais e com mais eficácia os outros sentidos, especialmente a audição e o tato. Através de outras referências, de estímulos e boa orientação, uma pessoa cega ou com baixa visão tende a desenvolver ou aprimorar diversas habilidades e potencialidades. No Brasil, a população que se declara com deficiência visual representa um número bastante significativo. De acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, de 2010, no país 6,5 milhões de cidadãos têm deficiência

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visual severa, e dentre eles 506 mil declaram-se totalmente cegos. Esse número é duas vezes maior que a população total do Uruguai, por exemplo.

3.1 Inclusão de pessoas com deficiência: ainda um desafio Em 2008, o Brasil assinou, ratificou e deu força de lei à Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU. Um passo extremamente importante para reforçar a necessidade latente de proporcionar acesso para esse grupo, reconhecido pela própria ONU como a maior minoria do mundo (1). Seis anos antes da Convenção, o Brasil havia oficializado o compromisso com a acessibilidade e os direitos das pessoas com deficiência pela Lei de Acessibilidade de 2002 (2), em que oficializa, por exemplo, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como segunda língua oficial do país. Em 2015, mais um importante passo na política fortaleceu o movimento das pessoas com deficiência. A Lei 13.146/2015, chamada Lei Brasileira de Inclusão, “destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania” (3). Em todos os textos de leis relacionadas aos cidadãos com deficiência, “acessibilidade” é a palavra-chave. Através de projetos e estratégias de promover o acesso físico ou social, é possível possibilitar autonomia, direito de escolha, cidadania. De acordo com a definição da ONU, através de sua Divisão para Desenvolvimento Social de Pessoas com Deficiência, a UN Enable (1), a deficiência está na interação com meio. Quando o mesmo é acessível, a deficiência está neutralizada e o indivíduo pode relacionar-se com o meio e com outros indivíduos de forma igualitária. Entre muitas áreas em que a acessibilidade tem gerado bastante debate está a cultura. Para a Museóloga Viviane Sarraf, revisitada no site Acessibilidade Cultural do Instituto Mara Gabrilli, a definição de Acessibilidade Cultural pode ser definida em: “A acessibilidade nos espaços culturais pressupõe que as exposições, espetáculos, acervos, apresentações artísticas, cursos, oficinas, espaços de convivência e todos os demais serviços básicos e eventuais oferecidos devem estar ao alcance 16

de todos os indivíduos, perceptíveis a todas as formas de comunicação e com sua utilização de forma clara, permitindo o conforto, a segurança e a autonomia dos usuários.” (SARRAF, 2012) A acessibilidade cultural, tratando-se de algo muitas vezes subjetivo, torna-se um desafio bastante complexo para profissionais da área. A cultura transcende normas ou padrões, não se baseia em fórmulas ou parâmetros fixos e universais. Somente a acessibilidade física ou arquitetônica de insitutições culturais, por exemplo, não garante a fruição total daqueles bens. Para a acessibilidade cultural, também é preciso adaptar ou criar novas linguagens. E, para isso, é indispensável que os próprios sujeitos com deficiência participem como protagonistas desta construção. Neste trabalho enfrento este desafio. Embora o Curso de Especialização em Acessibilidade Cultural da UFRJ, curso para qual este trabalho foi desenvolvido, seja destinado, principalmente, ao pensamento da cultura relacionada ao universo da acessibilidade nas artes, para esta pesquisa, o conceito de cultura será abordado pelo aspecto antropológico, de conhecimento e relacionamento entre diferentes grupos e contextos humanos, como a definição de Bauman em “É ao mesmo tempo uma entidade feita pelo homem e uma entidade que faz o homem; submete-se à liberdade humana e restringe essa liberdade”. 3.2 Audiodescrição e Narração Audiodescritiva Um dos recursos mais indicados para propostas de acessibilidade cultural para pessoas com deficiência visual, mas não só utilizado em instituições culturais, é a Audiodescrição (AD). Trata-se de uma modalidade de tradução formalmente conhecida como intersemiótica, que traduz conteúdo não-verbal para verbal. A AD pode ser utilizada em espetáculos teatrais, filmes, museus, dança, artes visuais, basicamente, adaptável a qualquer expressão artística. O audiodescritor estado-unidense Joel Snyder, um dos precursores da Audiodescrição, define o recurso como “uma versão verbal de imagens”. A audiodescrição tem como objetivo, portanto, proporcionar ao público não-vidente uma experiência sócio-cultural equivalente à de quem enxerga. O primeiro registro oficial de 17

um evento cultural audiodescrito foi em 1981, em Washington DC, nos Estados Unidos da América, na exibição de um espetáculo teatral. Recursos como a Audiodescrição auxiliam na compreensão global daquela obra, facilitando que a narrativa se complete e que a experiência do espectador com ou sem deficiência seja a mais próxima possível. O objetivo de igualar ou aproximar as experiências e oportunidades é a base para a inclusão. Especificamente, no caso da Narração Audiodescritiva de Futebol, o objetivo é o direito à fruição legítima de um bem imaterial de grande relevância coletiva. 3.3 Futebol e acesso à cultura “Pisar na bola”, “jogar para escanteio”, “ficar no banco de reservas”, “dar um balão” são algumas das expressões populares que já revelam a influência desse esporte para a sociedade brasileira. Mesmo aqueles brasileiros que nunca assistiram à uma partida entendem e reproduzem essas expressões em diálogos sobre qualquer outro assunto que não futebol. Além do repertório verbal, o Futebol também invade o repertório imagético dos cidadãos brasileiros. Quantas vezes já não se viu o soco no ar de Pelé em 1970, a comemoração de Bebeto homenageando seu recém-nascido filho em 1994 ou até mesmo o corte de cabelo inusitado de Ronaldo em 2002? Essas e muitas outras imagens fazem parte da história brasileira, registradas em reportagens, documentários, filmes e em livros escolares de História ou outras disciplinas.

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Figura 2 – Ronaldo e o corte “cascão”

O jogador Ronaldo e seu corte inusitado de cabelo é um dos exemplos que podem ser citados quando pensa-se em imagens marcantes de Copas do Mundo de Futebol. O corte de cabelo, até então bastante inusitado, marcou uma geração de crianças e jovens na Copa do Mundo de Futebol de 2002, em que a seleção do Brasil se tornou penta-campeã. Para Wisnik, 2008 “a memória coletiva brasileira é demarcada e compartilhada, no século XX, mais do que por qualquer outra coisa, pelas Copas do Mundo de Futebol”. Trata-se de um esporte transversal à língua, às linguagens e ao repertório de um país inteiro. “Uma cultura em que o jogo tem um papel exponencial, como a instância capaz de catalisar a experiência coletiva e dar-lhe um foco. Ao fazer isso, o futebol concentra questões que envolvem o cerne recorrente das interpretações do Brasil, e que se manifestam, de múltiplos modos e perspectivas, no ensaísmo, na ficcção, na música”. (WISNIK, 2008, p. 175)

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O Futebol, devido, prioritariamente, à sua história ligada às camadas mais populares da Inglaterra no século XVIII, quando iniciou-se o processo de formalização do jogo com o estabelecimento de regras de conduta, e o princípio do que chama-se atualmente ‘Futebol Moderno’, liga a sociedade ao esporte de formas que outras poucas atividades sócio-esportivas o fazem. É essencial entender, também, que, ao dar forma lúdica ao mito da concorrência universal, o Futebol criou o campo simbólico onde essa concorrência muda de sentido – tanto socialmente, já que apropriada por agentes que não teriam oportunidade no campo da competição ecônomica (operários ingleses

ou

brasileiros

pobres,

por

exemplo),

quanto

simbolicamente, já que a concorrência se dá em código corporal e não-verbal”. (WISNIK, 2008, p. 75) Pode-se entender, portanto, que a relevância do Futebol para a sociedade envolve mais que somente uma competição esportiva. A concorrência que acontece em campo pode simbolizar, relacionando à História da Sociedade, à luta de classes, a disputa por equidade econômica. Para se compreender o impacto desse esporte para a sociedade brasileira, no caso deste estudo, é preciso também relacionar o Futebol ao fenômeno de construção de identidades coletivas. (BAUMAN, 1925) “Nos primeiros momentos, quando os ingleses “batiam” bola, já estava patente que o futebol seria um elemento de identificação nacional, que estabeleceria uma sensação de pertecimento. Isso fica muito claro quando observamos o caso dos imigrantes que jogaram o futebol aqui na América do Sul, por exemplo: rapidamente identificaram a sociabilidade que o jogo podia oferecer, uma forma de retorno às suas origens”. (AGOSTINO, in Melo & Peres; 2005, p. 33) O Futebol, desde sua formalização, traz consigo uma carga histórica de acesso às minorias excluídas e valorização de indivíduos anteriormente sub-negados que, 20

inevitavelmente, faz com que sua História esteja intimamente ligada aos sentimentos de pertencimento e inclusão. Um dos maiores exemplos dessa ligação entre Futebol e acesso é a inclusão de jogadores negros nas primeiras equipes brasileiras. Às vezes, literalmente, maquiados para clarear a pele, os primeiros jogadores negros do Brasil abriram espaço para a valorização e o protagonismo dos negros através de desempenhos heróicos em campo. “Mas sua estrutura coletiva (...) que faz do Futebol, mais do que nenhum outro esporte, uma movimentada batalha dos gêneros narrativos, e um teatro inédito para o desfile polêmico e não verbal das gestualidades, das disposições mentais, das potencialidades criativas”. (WISNIK, 2008, p. 103)

Relacionando o acesso aos jogadores negros ainda nos anos de 1930, busca-se aqui, abordar a inclusão de outro grupo da população historicamente marginalizado. Tratando-se, particularmente, da população com deficiência, o Futebol se apresenta também como ferramenta poderosa de aceitação e

formação de identidade social

coletiva. Bauman, quando explicita a relação entre cultura, aceitação e identidade pessoal e social diz: “A identidade pessoal confere significado ao “eu”. A identidade social garante esse significado e, além disso, permite que se fale de um “nós” em que o “eu”, precário e inseguro, possa se abrigar, descansar em segurança e até se livrar de suas ansiedades. O “nós” feito de inclusão, aceitação e confirmação é o domínio da segurança gratificante, desligada do apavorante deserto de um lá fora habitado por “eles”. (BAUMAN, 1925, p. 46) A frase da torcedora britânica em depoimento ao documentário “Todos os corações do mundo” (Salles, 1995) “Não é o jogo, são as pessoas” (It’s not the game, it’s the people”) é bastante simbólica para a discussão proposta neste trabalho. O Futebol confere ao coletivo um poderoso sentimento de pertencimento. Utilizando a 21

comparação de Bauman, no Futebol o “eles” é o distante e a força de atração conferida ao “nós” é capaz de derrubar barreiras sociais, econômicas etc. Retomando a definição do cronista italiano Pasolini, citada na introdução deste trabalho, o Futebol é um espetáculo essencialmente visual (Wisnik, 2008), em suas palavras, uma linguagem não-verbal. Este trabalho, portanto, busca abordar o que é visto e não dito sobre o Futebol nesta linguagem não-verbal que distancia o acesso total à informação por parte dos espectadores com deficiência visual. A Narração Audiodescritiva busca tornar mais acessível o Futebol, a medida que objetiva fornecer informação verbal para referências majoritariamente visuais, fotalecendo, assim, o acesso e o empoderamento de torcedores com deficiência visual, promovendo diálogo, acesso à informação e à culturas como estratégia de inclusão deste público. A modalidade de narração foi pensada, em sua concepção inicial, para ser oferecida exclusivamente dentro dos espaços esportivos. No caso do Futebol, dentro de estádios. O principal objetivo dessa concepção é incentivar que os torcedores com deficiência frequentem e se apropriem dos espaços públicos. O público-alvo do projeto é um grupo que, em sua maioria, não participa frequente e fisicamente de atividades sócio-culturais. Por isso, acredita-se na importância deste serviço ser oferecido dentro dos locais coletivos, estimulando assim, a presença e a participação de pessoas com deficiência visual. Para concluir este capítulo de embasamento do trabalho, retornando a um dos pontos importantes sobre a democratização da cultura, destaco um trecho de Bauman, 1925 sobre a importância do acesso à cultura e a promoção do diálogo para uma sociedade mais inclusiva, plural e democrática: “Por mais de um século, as culturas foram definidas basicamente como tecnologias de discriminação e distinção, fábricas de diferenças e oposições. Mas o diálogo e a negociação também são fenômenos culturais – e como tal ganham, em nossa era de pluralidade, uma importância crescente, talvez decisiva”. (BAUMAN, 1929, p.81) 22

4. Método

Este estudo cinge-se dentro de uma perspectiva prática que, segundo a literatura, as pesquisas que desenvolvem um produto são denominadas para [Quintas & Caetano, 1998] como metodologia de investigação-ação. O produto a ser desenvolvido é um guia prático para formação de novos narradores audiodescritivos de futebol, levando-se em consideração o impacto cultural do esporte para a socidade brasileira. Este trabalho foi elaborado a partir de experiências práticas de treinamento e execução do serviço de Narração Audiodescritiva durante a Copa do Mundo de Futebol do Brasil, em 2014, como também da continuação desse trabalho no estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, em 2015. Como estratégia de legado da Copa do Mundo da FIFA de 2014, a Urece desenvolveu em parceria com o estádio do Maracanã o curso de formação para Narração Audiodescritiva de Futebol. Neste treinamento, que também serve de fonte para o desenvolvimento deste trabalho, foram formados dez novos narradores aptos para oferecer o serviço no estádio. O treinamento foi finalizado em setembro de 2015, mas, devido a questões econômicas e políticas do estádio, o projeto não pode ter prosseguimento. O trabalho desenvolvido nas duas ocasiões citadas acima teve como base a metodologia de formação de narradores da modalidade criada pelo CAFE (Centro de Acesso ao Futebol na Europa) e implementada durante a EuroCopa da Polônia e da Ucrânia em 2012. No total de doze páginas, este guia inclui instruções práticas sobre processo de seleção de narradores, formação de profissionais – destacando a importância de aulas teóricas e práticas -, transmissão efetiva da narração e a essencial avaliação dos usuários. O desenvolvimento deste trabalho foi feito em ordem cronológica, indicando, deste modo, os processos e etapas que futuros executores do projeto podem seguir para iniciar o serviço de Narração Audiodescritiva.

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É importante destacar que como um serviço novo e ainda de caráter experimental, a Narração Audiodescritiva tem uma linguagem ainda em construção. Portanto, este guia não tem a pretensão de apresentar fórmulas e soluções engessadas, mas sim, compartilhar conhecimentos e experiências adquiridos em práticas, promover o serviço e sua relevância, bem como buscar o aprimoramento do recurso. Este guia foi realizado na Cidade do Rio de Janeiro entre dezembro de 2015 e março de 2016, com informações registradas em 2015 e 2014.

5. Dados apresentados

A Narração Audiodescritiva é uma modalidade de locução idealmente transmitida via rádio – por Frequência Modulada – e diretamente dentro dos estádios. A transmissão via rádio possibilita que não exista um número máximo de usuários nem delimitação de área de cobertura, como acontece com a utilização de sistemas fechados de rádio, e que não haja atraso na transmissão. Isso possibilita que os usuários possam escolher de onde querem assistir à partida e que possam interagir com o jogo e os outros torcedores no mesmo momento em que as ações acontecem. O serviço de Narração Audiodescritiva já é uma realidade em alguns países da Europa, como a Alemanha e a Áustria. Nesses países, as Federações Oficiais de Futebol e grande parte dos clubes aderiram ao serviço como estratégia de “Hospitality”, termo em inglês para o departamento responsável pela recepção dos torcedores. A Narração Audiodescritiva é oferecida, na Alemanha, através de rádio transmissores em circuito fechado disponíveis para assentos limitados e pré-determinados. Nos estádios alemães, o serviço é patrocinado pela Bundesliga, Liga Profissional de Futebol do país. Na Áustria, os narradores utilizam a transmissão via Frequência Modulada (FM) e a narração pode ser ouvida em qualquer lugar dos estádios, sem número limite de usuários pois não é necessário um aparelho receptor específico. Uma das primeiras perguntas associadas à Narração Audiodescritiva é o que a torna diferente de uma transmissão convencional de rádio comercial (para a grande maioria das pessoas) e da Audiodescrição (para pessoas já familiarizadas com recursos

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de acessibilidade comunicacional). Uma boa definição para essa dúvida pode ser representada pela imagem abaixo:

Narração Audiodescritiva

Rádio convencional

Audiodescrição

Figura 1 – Representação de linguagem para a Narração Audiodescritiva

Como a representação exemplifica através da imagem - trata-se de um meiotermo entre essas duas referências de linguagem. A prática adequada da Narração Audiodescritiva tem elementos tanto da transmissão convencional de rádio quanto da Audiodescrição. Exemplifico ao longo deste guia tais parâmetros que são utilizados de cada linguagem da qual a Narração Audiodescritiva se apropria.

5.1 Seleção de narradores: um perfil específico

Para que a Narração Audiodescritiva seja praticada de forma satisfatória, é importante que o narrador tenha algumas habilidades e características específicas. Ter amplo conhecimento sobre futebol é a primeira delas. É preciso que o candidato a narrador conheça a história do esporte, para que seja capaz de entender rivalidades, traçar paralelos e propôr comparações com outras situações anteriores. Tendo familiaridade com o histórico do futebol, o narrador tende a desenvolver outra habilidade indispensável: o repertório vocabular. Os fãs do esporte demandam que o narrador futebolístico conheça as expressões particulares do futebol, os nomes das jogadas, do espaço geográfico do estádio. É indispensável que o candidato tenha intimidade com esses termos e os utilize em seus contextos adequados. A última, porém mais importante, habilidade desejável ao narrador é o domínio da língua portuguesa. A Narração Audiodescritiva tem compromisso educativo e informacional e, para tanto, os narradores devem utilizar corretamente o português. 25

5.2 O processo de formação do narrador audiodescritivo Após a seleção dos futuros narradores, baseada nos critérios mencionados acima, recomenda-se que o processo de formação desses candidatos seja dividida em duas etapas: teórica e prática. Dessa forma, os conceitos que serão descritos abaixo tendem a ser absorvidos com mais eficácia.

5.2.1 Formação teórica da Narração Audiodescritiva O primeiro contato com a proposta de narrar uma partida de futebol é, em geral, confortável para candidatos a narradores no perfil disposto acima. Mas a tendência é que, instintivamente, se reproduza o modelo padrão de narração exaustivamente transmitido em rádios e televisões. Portanto, para iniciar a formação de narradores audiodescritivos, o primeiro passo é distanciá-los do senso comum e da reprodução automática de expressões e jargões. Neste primeiro momento, é essencial compreender que esse modelo adotado pela grande mídia é pensado para e por pessoas sem deficiência visual e, naturalmente, utiliza o ponto de vista de usuários que enxergam. Esse é o momento em que se torna necessário rever certos conceitos e se distanciar do que for considerado “óbvio”. Como o público da Narração Audiodescritiva são espectadores com deficiência visual, é preciso sempre manter em mente que o que é óbvio para um indivíduo que está vendo aquela ação pode não ser tão explícito para aqueles que não enxergam. A participação de um consultor com deficiência visual neste processo de desconstrução é extremamente valioso para que os alunos compreendam que não se trata de incapacidade ou qualquer questão cognitiva. São parâmetros e repertórios diferentes. Um exemplo de rápida associação é a famosa comemoração do jogador Bebeto após o gol marcado na partida contra a Holanda na Copa do Mundo de 1994, como mostra a figura abaixo:

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Figura 3: Comemoração do jogador Bebeto

Trata-se de uma imagem exaustivamente reproduzida e icônica para o Futebol. A comemoração é uma homenagem ao filho recém-nascido e simula o ninar do bebê. Para o exercício de desconstrução de modelo de narração, busca-se escapar das convencionais narrações e encontrar uma possibilidade descritiva. Para este exercício, recomenda-se a utilização tanto de imagens mais conhecidas e reproduzidas como também situações menos famosas para que os narradores possam experimentar a não-referência imediata, ou seja, para que os alunos não façam associações automáticas com referências de seu repertório. Em termos práticos, essa dinâmica propõe que eles narrem tanto imagens que já assistiram quanto imagens pouco divulgadas, que ainda não tenham sido vistas. Para essa experiência pode ser bastante funcional que os narradores revezem-se na utilização de vendas, experimentando ouvir as descrições sem vê-las.

5.2.2 Normas da Audiodescrição aplicadas à Narração Audiodescritiva Como citado anteriormente, a Narração Audiodescritiva também tem como norte orientador alguns preceitos da Audiodescrição (AD). Bendt Benecke, audiodescritor alemão, definiu um conjunto de normas que padronizam e orientam a AD. “Não resumir, não interpretar e não antecipar informações” Benecke, 2007. Para a Narração 27

Audiodescritiva, a não antecipação de informações não é uma orientação na qual iremos nos estender, afinal grande parte da magia do Futebol envolve a imprevisibilidade, mas as duas primeiras normas são altamente importantes para a experiência e a autonomia do público-alvo. É indispensável, para entender estas normas, colocar-se no lugar do indivíduo com deficiência visual. Imagine-se sem enxergar, por exemplo, na final da Copa do Mundo de 2006, na disputa entre as seleções da França e da Itália. O clima no estádio é de extrema tensão, o jogo está em prorrogação após o empate no tempo regulamentar, e em uma disputa, o capitão da equipe francesa, Zinédine Zidane, em sua partida de despedida da seleção, comete uma falta no adversário italiano. O narrador diz “Zidane dá uma cabeçada feia em Materazzi”. Como imaginar essa falta? Essa informação bastaria para compreender a complexidade daquela ação? Ver figura abaixo:

Figura 5: Cabeçada de Zidane na Copa de 2006

A simplificação de “Zidane dá uma cabeçada feia em Materazzi” consegue alcançar a dimensão da falta e a complexidade daquela ação, especialmente, dentro do contexto em que foi executada?

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A “cabeçada de Zidane”, como ficou conhecida a falta, é uma das imagens de Copa do Mundo mais reproduzidas da história e, de tão icônica, virou uma estátua de bronze de cinco metros que foi exibida por cidades da França. Para um espectador cego, fã de futebol, é indispensável que as ações sejam detalhadas, destrinchadas, narradas com riqueza de detalhes, munindo, assim, o usuário com as informações visuais para que ele mesmo possa chegar às suas conclusões. Para entender a intensidade e a complexidade daquele momento, o narrador precisaria incluir em sua descrição, por exemplo, a localização da falta, que neste caso era próxima ao meio-campo, reduzindo o perigo de gol. Importante destacar, também, que nenhum dos jogadores envolvidos na situação da Figura 5 tinha a posse de bola, a falta ocorreu onde não havia jogada em disputa. Outra orientação que a Narração Audiodescritiva herda da Audiodescrição é uma indicação para a ordem de apresentação espacial do estádio. De acordo com a norma, utilizar a estratégia do maior para o menor. Transferindo para o exemplo do estádio e exemplificando com a imagem abaixo, a recomendação é que, antes da partida, o narrador descreva a estrutura de fora (Se há luzes acesas com as cores dos times que disputam aquela partida, por exemplo, na área 1), na sequência descrever como são e o que acontece nas arquibancadas (Há grandes bandeiras? Os torcedores fazem alguma ação especial? Área 2). E, por fim, chegar ao gramado e às ações que ali acontecem (Área 3).

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Figura 6: Áreas internas do estádio do Maracanã

Uma característica da Narração Audiodescritiva que tanto a Audiodescrição quanto o Jornalismo Esportivo apresentam em comum é a utilização padronizada dos verbos no tempo presente. Por exemplo, “Neymar cruza a bola para Lionel Messi, que chuta direto para o gol”.

5.2.2 Formação prática da Narração Audiodescritiva

Após entender normas básicas e desconstruir os modelos convencionais de narração, os alunos são direcionados à parte prática da formação. Para garantir a formação de narradores qualificados para prestar o serviço de narração audiodescritiva, é necessário garantir que eles experimentem, ao menos uma vez, a locução de uma partida ao vivo.

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Mais uma orientação que segue os preceitos do jornalismo esportivo é a apuração prévia, que envolve: estudar o histórico dos times que se enfrentam, conhecer e reconhecer os jogadores e equipes técnicas, dominar o vocabulário e as regras do Futebol e avaliar as relevâncias daquela partida para um contexto específico (Classificação ou eliminação de um Campeonato, por exemplo). A preparação da voz também é uma etapa importante para os narradores. É essencial que as cordas vocais estejam aquecidas antes da narração e que os narradores mantenham-se hidratados durante a transmissão. Isso garante a saúde vocal e o bemestar dos profissionais, como também auxilia na manutenção do ritmo de narração. Baseando-se nos preceitos que já foram expostos de referências geográficas, retornamos o assunto para falar sobre a estratégia do narrador em localizar seu posicionamento dentro do estádio. Posição esta que vai determinar todas as demais referências do estádio. Para que o ouvinte tenha todos os pontos de localização de um campo (Laterais, Meio de campo, gols etc), o narrador precisa deixar claro qual o seu referencial. No exemplo do estádio do Maracanã, como na Figura 6, a Tribuna de Imprensa localiza-se acima da entrada do túnel dos jogadores (referência 1), na linha do meio de campo (referência 2) e próximo ao Setor Sul do estádio. Além de facilitar a compreensão das referências, o espectador poderá associar a narração aos outros sons espontâneos do estádio. Como, por exemplo, os gritos da torcida, vaias etc. A atmosfera do Futebol é extrememente rica e vibrante, portanto, a Narração Audiodescritiva não pode, em momento algum, ignorar este contexto. Pelo contrário, precisa utilizar os recursos sonoros orgânicos para enriquecer ainda mais a experiência destes usuários. Para a narração audiodescritiva, o timing é imprescindível. Sem que o narrador acompanhe a jogada no momento em que ela acontece, não é possível que o torcedor com deficiência visual que está no estádio tenha a experiência próxima a que o espectador que enxerga. Os estádios e ginásios esportivos sempre proporcionam uma enorme quantidade de informações visuais. A torcida, os telões, bandeiras, chamam muita atenção e são elementos essenciais para que aquela experiência esteja completa e que seja singular. Mas, apesar da riqueza de detalhes, as pessoas frequentam os estádios de Futebol com uma principal finalidade: assistir ao jogo. Portanto, a ação prioritária a ser descrita é a própria partida.

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Um grande desafio para o narrador é ter a percepção e a sensibilidade para escolher o momento certo de abrir mão da narração esportiva e descrever outras ações. Reforça-se para orientar esta escolha que o público-alvo dessa modalidade de narração está dentro desses locais e, por isso é essencial que ele possa compreender todas as reações dos torcedores ao redor. O papel do narrador é garantir que esses torcedores tenham informações imediatas e que possam vibrar, comemorar, lamentar, chorar, reclamar, questionar o árbitro etc no mesmo momento em que os outros torcedores. Com este objetivo, entende-se, também, melhor a função da dupla de narradores. Enquanto um pode focar-se nas jogadas em campo, o outro observa as reações extrabola e reveza-se com seu companheiro para descrever as ações ou reações da torcida, dos outros jogadores, dos árbitros etc. A hierarquização das informações sempre será um desafio para os narradores, especialmente, em partidas em que a torcida for volumosa e a propabilidade de se perder o tempo de uma jogada é grande, porém, uma estratégia que auxilia na fidelização dos ouvintes é a correção de erros. Caso o narrador perca o timing de uma jogada, poderá corrigir-se e buscar recuperar o ritmo da narração reconstruindo a jogada em questão. Essa correção, geralmente, passa confiança e segurança ao ouvinte.

5.2.4 A hora do gol

O momento do gol é o momento mais mágico e mais aguardado do Futebol. É com os gols que a história do esporte é escrita, o gol proporciona a surpresa, a imprevisibilidade que define grande parte da emoção desse esporte.

“Dizia Pasolini, o delírio do gol é puramente poético, chegue-se a ele por uma via ou por outra, e como tal, é o momento e o lugar em que a diferença entre prosa e poesia se desfaz, já que “todo gol é sempre uma invenção, é sempre uma subversão do código: todo gol é inexorabilidade, fulguração, estupor, irreversibilidade”. (WISNIK, 2008, p. 117) 32

Para esse momento em especial, a Narração Audiodescritiva é definitiva. O jornalismo esportivo convencional consagrou os longos gritos de gol acompanhados por jargões personalizados pelos narradores, mas enquanto os locutores celebram com longos “gooooools”. Embora a emoção de um gol entusiasme ao ponto máximo os torcedores, é no momento do gol que muitas ações visuais acontecem dentro de um estádio e, para um espectador com deficiência visual, o acesso à essas informações é restrito. Para tanto, o papel do Narrador Audiodescritivo na hora do gol é dosar a emoção do momento do gol – e os usuários demandam que exista essa vibração – com as informações que acontecem naquele momento de celebração, questionamento etc. Importante ressaltar que os narradores precisam estar atentos às sinalizações dos árbitros para que a informação chegue corretamento aos usuários. Isso porque é comum no Futebol que os torcedores celebrem gols anulados por impedimento, por exemplo. Para ilustrar essa situação, pode-se resgatar novamente o exemplo da comemoração do gol de Bebeto (Figura 3), em 1994, e a força de seu gesto para a compreensão daquele momento e de todos os comentários e resenhas oficiais sobre a partida. Pode-se também exemplificar com outra imagem icônica de Copa do Mundo de Futebol em 1970, tornou-se um gesto corriqueiro no universo do esporte, como ilustra a Figura 4.

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Figura 4: Comemoração de Pelé

A comemoração de Pelé, um dos mais famosos jogadores do mundo, após seu gol, se tornou símbolo para muitas gerações. O “soco no ar”, em que o jogador salta com os dois pés fora do chão e ergue o punho direito como se socasse o céu, é uma das celebrações de gol mais conhecidas do planeta.

5.3 Transmissão da Narração Audiodescritiva

5.3.1 Qualidade técnica

Para que a Narração Audiodescritiva chegue ao usuário com alta qualidade de som, é indicado que um profissional técnico se responsabilize por certificar que a transmissão esteja alcançando todo o raio do estádio, a fim de garantir que o torcedor receba o sinal independentemente do setor em que estiver. Além da certificação do alcance de sinal, os profissionais técnicos precisam garantir que a transmissão tenha o volume necessário para que possa sobrepor o som natural do estádio (gritos de torcida, por exemplo), bem como certificar que a transmissão tenha a devida licença formal. A equipe técnica, portanto, é responsável pela instalação, testes e adequação legal da transmissão. Além disso, também é responsabilidade dessa equipe garantir que os narradores tenham uma área reservada para utilização na tribuna de imprensa, setor dos estádios em que, normalmente, a vista do campo é ampla e sem barreiras.

5.3.2 Dinâmica de Narração

Como a Narração Audiodescritiva exige dos narradores um intenso ritmo de fala, recomenda-se que as transmissões sejam feitas por duplas. Essa estratégia permite não só que os narradores descansem e recuperem a voz como mutuamente se auxiliem na identificação de ações relevantes para a narração que não estejam acompanhando a bola. 34

Antes de iniciar as transmissões, os narradores devem se apresentar, apresentar os números da partida como, por exemplo, a rodada do Campeonato bem como fornecer a escalação das equipes que disputam aquela partida. Em geral, nas tribunas de imprensa, as assessorias dos clubes distribuem materiais impressos com essas informações para os jornalistas. O entrosamento entre os narradores é decisivo para o bom andamento da transmissão. Como a Narração Audiodescritiva pretende descrever o maior número possível de ações, a dupla de narradores deve praticar antes bem como estabelecer uma “deixa”, ou seja, um sinal de que o narrador da vez vai parar de descrever e seu companheiro deverá assumir imediatamente sem que a transmissão tenha pausas. A cooperação e coordenação entre os narradores garante o ritmo que a Narração Audiodescritiva busca alcançar. Outra estratégia de fidelização do espectador que a Narração Audiodescritiva utiliza é a informação frequente sobre placar e tempo corrido de partida. A segurança dessas informações passa ao ouvinte a sensação de que não é necessário buscar outras fontes para compreender riscos de jogadas e perigos de virada de placar. Por fim, mas nem ao longe menos importante, está uma das estratégias que se pretende utilizar para diferenciar a Narração Audiodescritiva do Jornalismo Esportivo convencional. Trata-se da prestação de serviços especificamente voltada para os espectadores daquele local, no caso, daquele estádio. Após o apito final da partida e o encerramentos das descrições daquele jogo, recomenda-se que os narradores forneçam informações relevantes sobre saídas mais próximas e orientações para, por exemplo, utilização de transporte público. Mantendo a utilização do estádio do Maracanã como exemplo deste trabalho, segue uma possível sugestão para encerramento de transmissão de partida com prestação de serviço ao espectador: Indico que para os ouvintes que utilizarão o metrô na volta para casa, a saída do estádio mais próxima à rampa de acesso às catracas é pelo Setor Oeste. A forma mais segura de conduzir-se até a saída pelo Setor Oeste é pelo próprio arco do estádio, a parte interna.

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5.4 Feedback dos usuários

Após a transmissão de cada jogo, é indispensável que os narradores e a equipe técnica tenham acompanhamento e avaliações da transmissão pelos torcedores que utilizaram o serviço na partida em questão. É indispensável que exista esta constante avaliação tanto dos aspectos técnicos quanto da linguagem e aspectos mais subjetivos do serviço, que tendem a variar tanto com relação aos parâmetros pessoais dos espectadores quanto em relação ao estilo dos narradores.

Esta avaliação pode ser tornar um desafio durante as primeiras partidas pois alcançar o público após o jogo tende a ser complexo, porém, uma estratégia que pode ser utilizada é a abertura de um canal de comunicação entre a equipe da Narração Audiodescritiva e os torcedores, como por exemplo um email, a ser divulgado na própria transmissão, incentivando que os usuários participem do processo de aprimoramento do serviço.

O Anexo1 apresenta um exemplo de Formulário de Avaliação do serviço, que pode ser utilizado como base para feedback de usuários pós-partidas.

6. Conclusão

Para que a Narração Audiodescritiva se torne, efetivamente, um recurso de excelência na qualidade, é indispensável que todo o processo seja ativamente acompanhado por consultores e usuários com deficiência visual. Como no lema do movimento, criado na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, “Nada sobre nós sem nós”, que defende o protagonismo, é essencial compreender que produtos ou recursos pensados para pessoas com deficiência precisam da participação ativa desses usuários, caso contrário, a qualidade, a usabilidade e a fidelização tendem a ser fragéis. 36

Para que se entenda a potencialidade e a relevância cultural do serviço de Narração Audiodescritiva, é preciso que torcedores com deficiência visual, jornalistas esportivos, audiodescritores e outros agentes envolvidos dialoguem em busca de uma linguagem dinâmica, sedutora, de excelência na informação e, efetivamente, inclusiva. Com isso, a tendência é que até mesmo outros usuários previamente não alcançados se tornem adeptos. Por fim, o envolvimento institucional de estádios, Federações e clubes de Futebol nas propostas de acessibilidade é essencial para que a experiência dos usuários com deficiência visual seja boa de fato. Isso porque o recurso da Narração Audiodescritiva não pode ter seu contexto considerado como algo isolado. É importante que a estrutura física seja acessível, que os funcionários e os serviços como venda de ingressos, recepção dos torcedores e hospitalidade também recebam o treinamento adequado, tornando, assim, o projeto de acessibilidade uma estratégia transversal. Visando a disseminação da Narração Audiodescritiva por todo o país, este trabalho busca colaborar para o fortalecimento de políticas públicas e privadas para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Este guia tem o compromisso de valorizar a autonomia e o protagonismo deste público tão representativo no Brasil, promovendo não só a existência de serviços desenvolvidos para e por pessoas com deficiência visual como também a valorização da diversidade. É essencial que iniciativas como a Narração Audiodescritiva se multipliquem pelo país para que a sociedade esteja, de fato, preparada para incluir cidadãos com deficiência e oferecer espaços físicos e metafóricos que valorizem as potencialidades em vez das deficiências.

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Referências

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em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm, Acessado em 12 de Janeiro de 2016. 4. Censo Demográfico 2010 Brasil. Rio de Janeiro: IBGE. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/caracteristicas_re ligiao_deficiencia/default_caracteristicas_religiao_deficiencia.shtm

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6. Sarraf, Viviane. Acessibilidade Cultural. Site Acessibilidade Cultural do Instituto

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7. Wisnik, José Miguel Veneno Remédio: o futebol e o Brasil/ José Miguel Wisnik - Companhia das Letras, São Paulo, 2008. 38

8. Bauman, Zygmunt, 1925 - Ensaios sobre o conceito de cultura/ Zygmunt Bauman; tradução Carlos Alberto Medeiros – Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

9. Sant´Anna, Laercio, 2010. A Importância da Audiodescrição na Comunicação das Pessoas com Deficiência. In: Audiodescrição : transformando imagens em palavras / Lívia Maria Villela de Mello Motta, Paulo Romeu Filho, organizadores. -- São Paulo:Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, 2010.

10. Merieb, E. N. & Hoehn, K. (2007). Human Anatomy & Physiology 7th Edition, Pearson International Edition.

11. Agostino, Carlos Gilberto Werneck. Futebol e Identidade Nacional. In: Melo, Victor Andrade de; Peres, Fabio de Faria (orgs.), O esporte vai ao cinema. Editora Senac Nacional, Rio de Janeiro, 2005.

12. Audiodescrição: Fenômenos de Sequenciamento de Informações. Bernd Benecke,

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15. Quintas, F. & Caetano, M. (1998), Construir la animación sociocultural. Amarti Ediciones, Espanha, 2013.

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Anexo

Modelo de Formulário de Avaliação pós-partida: Divide-se a dinâmica em quatro grupos para que cada dupla possa praticar a narração por, pelo menos, 25 minutos.

Dupla 1

Dupla 2

Dupla 3

Dupla 4

Apresentação: Os narradores se apresentaram? Os narradores descreveram a atmosfera do estádio? Os narradores descreveram as cores dos uniformes? Os narradores passaram frequentemente placar e tempo de jogo? A velocidade da fala dos narradores é rápida? A velocidade da fala dos narradores é lenta? Os narradores descreveram a partida com riqueza de detalhes? Os narradores passaram emoção durante a narração? Os narradores encerraram a narração passando instruções de saída?

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