Natal volta a ter Carnaval: o “Carnaval Multicultural” e o retorno dos festejos de Momo à Cidade do Sol

June 24, 2017 | Autor: C. Rn | Categoria: Ciências Sociais, Ciencias Sociales, Economia Criativa, Economia Creativa
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Natal volta a ter Carnaval: o “Carnaval Multicultural” e o retorno dos festejos de Momo à Cidade do Sol Amanda Medeiros, Graduanda de Gestão de Políticas Públicas (UFRN) Ildegarde Alves, Graduanda de Gestão de Políticas Públicas (UFRN) Keila Costa, Graduanda de Gestão de Políticas Públicas (UFRN) Orientador: Dr. Fernando Cruz, DPP/UFRN

RESUMO Em meados do século XX, a capital potiguar era conhecida por sua tradição em blocos de rua durante o Carnaval, tradição essa que durou até a década de 1980, quando um acidente durante o período carnavalesco, no ano de 1984, matou 19 pessoas e feriu várias outras em um dos blocos mais tradicionais da cidade. A partir daquele ano, as tradições carnavalescas da cidade diminuíram consideravelmente, reduzindo-se a certos núcleos. Criou-se a tradição de que não havia carnaval em Natal, sendo comum muitos residentes da cidade se deslocarem para outras cidades (no próprio estado ou em outros) para as comemorações dos festejos de Momo. Sendo Natal uma cidade turística, tal “fama” causava prejuízos no período em questão, pela baixa procura dos turistas, que, na maioria, optavam por destinos mais badalados. O projeto “Carnaval Multicultural”, iniciado no ano de 2013, visa, dentre outros elementos, criar uma nova tradição carnavalesca na cidade, capaz de atrair não só os moradores da cidade a permanecerem no período, como atrair turistas. Neste trabalho, buscaremos entender o impacto dessa política na vida cultural e econômica da cidade durante os festejos carnavalescos, bem como a construção de uma nova identidade carnavalesca para a cidade. INTRODUÇÃO A história das comemorações carnavalescas no Brasil perpassa por longos períodos históricos, desde a Colônia até à República, cada período com suas respectivas especificidades oriundas do contexto à qual estavam inseridas. O carnaval brasileiro é historicamente marcado por ser heterogêneo e pelas diversas influencias que recebeu ao longo da história. É também marcado pelas relações sociais e de poder nele estabelecido. Cada região brasileira possui características distintas, que atravessaram séculos e hoje caracterizam cultural e simbolicamente os festejos de Momo nesses territórios. Na região Nordeste, notadamente ao longo do século XX, o chamado “Carnaval de Rua”, nas capitais nordestinas, foi uma das formas comemorativas mais presentes e acabou por ser assimilada a cultura regional. O carnaval na cidade do Natal, durante muitas décadas, seguiu a característica dos comemorações de rua no período carnavalesco. Blocos tradicionais cortavam o centro da cidade e davam cor ao carnaval natalense. No entanto, um grave acidente, conhecido como “Tragédia do Baldo”, marcou de forma traumática os festejos na cidade. Em 1984, em pleno carnaval, um dos blocos mais tradicionais da cidade no período, o “Bloco dos Puxa-Sacos”, foi surpreendido por um ônibus desgovernado, que feriu gravemente um número significativo de foliões. A partir daquele momento, o “Carnaval de Rua” perdeu força na capital potiguar, e passou a resistir em pontos isolados da cidade. Durante muito tempo, a expressão “Não há carnaval em Natal” foi uma constante. No período carnavalesco, a cidade esvaziava-se. Grande parte da população se descolava para cidades do interior potiguar ou para os estados vizinhos. Sendo Natal uma capital turística, tal fato era prejudicial ao setor de serviços da cidade. Passou-se então, a buscar alternativas capazes de reavivar o Carnaval em Natal.

A experiência do “Carnaval Multicultural de Natal” vem sendo exitosa em relação às metas estabelecidas. O investimento em divulgação; a valorização do artista local aliada à vinda de grandes nomes do cenário musical nacional; o apoio aos blocos, escolas de samba e tribos de índios; o investimento em segurança no período e a democratização do acesso aos festejos fizeram a cidade criar uma nova tradição no carnaval. A edição do evento no ano de 2015 trouxe importantes marcas para o município. Pela primeira vez em anos toda a rede hoteleira da cidade foi ocupada totalmente no período, aquecendo o setor de serviços e gerando ampliação nos setores de emprego e renda no município. O “Carnaval Multicultural de Natal” surge como uma importante ferramenta da Gestão Pública para viabilizar não apenas o resgate histórico e cultural da data, como também promover uma maior dinamização econômica no município.

CONCLUSÃO Ao longo do trabalho, buscamos compreender a importância histórica, cultural e econômica do carnaval na realidade brasileira. O caso natalense possui peculiaridades no tocante aos festejos de Momo. Após anos de esvaziamento da cidade no dito período, a criação do “Carnaval Multicultural de Natal” no ano de 2013 começou a alterar o quadro carnavalesco na capital potiguar. Organização e investimento nesse evento de grande porte tem oferecido o retorno esperado, cultural e financeiramente. Natal volta a ter Carnaval.

Neste trabalho, analisaremos o projeto “Carnaval Multicultural de Natal”, iniciado no ano de 2013, que tem por intuito dinamizar as comemorações carnavalescas na cidade, visando ampliar o turismo e o setor econômico no período carnavalesco. Buscaremos ainda entender a importância desse evento em vias econômicas e sociais.

Ônibus envolvido na “Tragédia do Baldo”, em 1984.

Fonte: Nominuto

METODOLOGIA Para a elaboração deste trabalho, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, visando a compreensão de conceitos basilares para a elaboração do trabalho e coletas de dados primários e secundários em meios digitais.

Blocos de Rua em Natal

Fonte: Canindé Soares

Fonte: Eros Sena

Fonte: Substantivo Plural

DISCUSSÃO O carnaval é um dos principais eventos da agenda cultural do Brasil. Todos os anos, milhares de turistas se deslocam para os principais destinos turísticos em busca dos festejos carnavalescos. O apelo turístico do evento, unido ao apelo cultural, faz desse uma das maiores datas para a rede de turismo no Brasil. Nesse sentido, promover um evento capaz de atrair investidores e turistas para determinadas áreas durante o período torna-se um elemento relevante para a gestão pública, notadamente em cidades onde o turismo é uma das principais atividades econômicas, como no caso da capital do Estado do Rio Grande do Norte, Natal. Durante muito tempo, houveram variadas tentativas por parte da gestão municipal da cidade do natal para promover o resgate dos festejos carnavalescos. No entanto, apenas recentemente, no ano de 2013, foi criado um projeto, chamado “Carnaval Multicultural de Natal”, que, seguindo o exemplo do modelo recifense, apresenta a estruturação do evento em polos divididos pela cidade, visando a democratização do acesso, valorização do artista local e valorização da história carnavalesca da cidade.

Carnaval Multicultural 2015

Fonte: Emanuel Amaral

Fonte: O Natalense

BIBLIOGRAFIA BRASIL. Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 a 2014. 1ª ed. Brasília: Ministério da Cultura. 2011. CALEBRE. Lia. Políticas Culturais: teoria e práxis.. – São Paulo: Itaú Cultural; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2011.145 p. _______. Políticas Culturais no Brasil: balanço e perspectivas. Trabalho apresentado no III ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, realizado entre os dias 23 a 25 de maio de 2007, na Faculdade de Comunicação/UFBa, Salvador-Bahia-Brasil. CHAUI, Marilena. Cultura e democracia. En: Crítica y emancipación : Revista latino americana de Ciencias Sociales. Año 1, no1 (jun. 2008- ). Buenos Aires: CLACSO, 2008- . --ISSN 1999-8104 CRUZ, Fernando Manuel Rocha da. Ambiente Criativo: Estudo de caso na cidade de Natal/RN. Natal: UFRN. 2014. SANTOS, Fernando Burgos Pimentel dos. Estado, política cultural e manifestações populares: A influência dos governos locais no formato dos carnavais brasileiros. São Paulo: FGV, 2007. Disponível em: http://www.academiadosamba.com.br/monografias/FernandoBurgos.pdf. Acesso em 10 de Outubro de 2015.

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