Natureza e implicações da música para a adoração

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Apesar do grande respaldo biblico e extrabiblico para o uso da mrisica no louvor e na adoragio, ao longo dos s6culos, ela tem sido um ponto de disc6rdia na rgreja crist6.2 Ao nos aproximarmos da metade da segunda d6cada do s6culo 21, esse ponto tem produ ztdo cada vez mais polari zaql,o entre grupos que dqfendem formas, gdneros e estilos, e que nio necess ariamente discutem com o objetivo de compreender como podemos melhorar o uso da mrisica na adoraqio. Tenho observado e participado ao longo de mais de 20 anos de minist6rio musical a maneira como a igrejatrata seus mirsicos: ora com profunda admiragao e idolatria; ora com repugnAncia, e at6 mesmo 6dio. Em muitas situag6es, fica a impressio de que o mais importante 6 a mfsica e nio as pessoas. E como se |esus Cristo tivesse morrido para salvar "a mrisicd',e nio os seres humanos. H6 um nitido desejo de que um grupo ou outro "venqa'i No entanto, quando isso ocorre, a tgreja 6 "derrotaddi

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Doutor em Artes Musicais, Regdncia e Literatura Musical pela University of Ilinois, graduado em Musica pela Andrews University e mestre em Mrisica, Regdncia e Musicologia pela mesma universidade. 2 Por exemplo, as reclamaq6es sobre mfsica no Concilio de Trento (1545-1563): espirito "secular" da mfsica usada na igreja, missas parodiadas de chansons (mrisica secular), excessivo uso de instrumentos na igreja, pronfncia pobre dos cantores, comportamento irreverente dos cantores/coristas. A discussio sobre musica n6o foi um tema principal do Concilio de Trento. Mesmo assim, nenhum aspecto t6cnico foi restringindo, nem mesmo o uso de fontes seculares para a mrisica da missa. A recomendaqio final sobre mrisica pode ser resumida nestas palavras: tudo que seja impuro ou lascivo deve ser evitado para que a Casa de Deus possa realmente ser uma casa de oraqio. Para um relato mais detalhado ver Monson (2002).

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Cada vez mais temos eviddncias de que a segunda volta do Senhor |esus Cristo 6 iminente. Isso significa, dentre outras coisas, eue as verdades biblicas ganham maior dimensio e relevd.ncia. Creio que n6o houve nenhum outro momento na hist6ria humana de maior necessidade de unidade na igreja. Assim, o tema do uso da mirsica e a controv6rsia que este tema tem gerado ganha importAncia renovada, pois tem contribuido justamente para a divis6o. Os conselhos biblicos para a unidade do corpo de Cristo sio muitos: 'bra, o Deus da pacidncia e da consolagio vos conceda o mesmo sentir de uns para com os outros, segundo Cristo fesus, para que concordemente e a uma voze a umavozglorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor |esus Cristo" (Rm 15:5-6). Essapassagem indica que o espirito de unidade 6 um fator importante para que exista sintonia no louvor e adoragS,o a Deus. Novamente, o ap6stolo Paulo exorta pela unidade: "rogo-vos, irm6os, pelo nome de nosso Senhor |esus Cristo, eue faleis todos a mesma coisa e que n6o haja entre v6s divis6es; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposigao mental e no mesmo parecer" (1Co 1:10). Nossa busca por unidade no corpo de Crisfo nao implica no abandono do estudo, oll seja, o di6logo e at6 mesmo a discussio de temas controversos. No entanto, precisamos aprender urgentemente a realizar tats atividades com um verdadeiro espirito cristio: "sede todos de igual Animo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes" (1Pe 3:B). Nessa perspectiva, ataques pessoais em nada contribuem. "Irmios, nio faleis mal uns dos outros" (Tg 4:1 1a). O tema de louvor e ador agdo 6 um dos mais relevantes para o momento no qual vivemos, especialmente quando consideramos as Trds Mensagens Ang6licas. A primeira e a terceira delas apresentam dois tipos de adoraqilo, uma verdadeira e outra falsa. "Temei a Deus e dai-lhe gloria, pois 6 chegada a hora do juizo; e adorai aquele que fez o c6u, e a terra, e o mar, e as fontes das 6guas" (Ap A:7b). "seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dtzendo, em grand e yoz: Se algudm adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mio, tamb6m esse beber6 do vinho da c6lera de Deus" (Ap 14:9-10a). Este verso deveria ser suficiente incentivo para que dedic6ssemos muito estudo com o objetivo de alcangar uma melhor compreensdo de como podemos adorar a Deus, e tamb6m de como podemos, inadvertida ou conscientemente, adorar a besta. N6s, que recebemos a maravilhosa graga salvrfica de |esus Cristo, precisamos ter o compromisso de continuar 'trescendo na gragd'. Acreditamos ser "arrogAncia espiritual" o pensamento de que j5 alcangamos a plenitude

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do conhecimento e crescimento na graga. Esse fator nio 6 compativel com o principio de que Deus tem se revelado de maneira gradativa. Alguns importantes principios biblicos que podem ser aplicados ao uso da mfsica no louvor e ador agio exigem amadurecido discernimento espiritual. Consideremos, por exemplo, dois principios apresentados por Paulo: "todas as coisas sio licitas, mas nem todas convdm; todas sio licitas, mas nem todas edificam" ( l Co 10:23-24). E, ainda: "vede, por6m, eue esta liberdade n6o venha, de algum modo, a ser tropego para os fracos" (lCo B:9). Se estes dois principios fossem aplicados as nossas escolhas musicais, para o louvor e adorag6o, muitos dos problemas que temos enfrentado nio existiriam. Quando ougo coment6rios de que a mrisica sacra 6 uma questdo de gosto pessoal, uma questio apenas cultural, de que a letra sacralizaa mrisica ou de que a mfs rca e amoral, sou levado a pensar na ingenuidade em nosso meio. Precisamos continuar 'trescendo na gragd'. "Para que nio mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astfcia com que rnduzem ao erro" (Ef 4:14). A Biblia nos orienta ao crescimento espiritual continuo: "quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti dbs coisas pr6prias de menino" (1Co 13:11). "Irm6os, n6o sejais meninos no juizo; na malicia, sim, sede crianqas; quanto ao juizo, sede homens amadurecidos" ( l Co 14:20). "Mas o alimento solido 6 para os adultos, para aqueles gue, pela pritrCa, tdm as suas faculdades exercidas para discernir nio somente o bem, mas tamb6m o mal" (Hb 5:I4). Sem este crescimento espiritual n6o h6 conhecimento humano por si s6 que possa nos guiar nas escolhas musicais, no louvor e na adoragio. Antes de focar nossa atengio em alguns aspectos da nature za da mrisica, gostaria de recordar duas passagens biblicas: "ora, 6 necess6rio que o servo do Senhor nio viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente, disciplinando com mansidio os que se op6e, na expectativa de que Deus thes conceda nio s6 o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas tamb6m o retorno e sensatez, livrando-se eles dos lagos do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade" (2Tm 2:24-26). "Com toda oragio e stiplica, orando em todo o tempo no Espirito e para isto vigiando com toda perseveranga e sriplica por todos os santos" (Ef 6:18). E necess6rio, assim orar pelos mtisicos de nossa tgreja.

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A musica n6o 6 um objeto. Ela n6o 6 uma'ioisdl A mirsica n6o 6 um CD; nio uma partitura. A mirsica "d' somente quando executada,apresentada. Ela n6o foi antes e n6o ser6 depois. Da mesma maneira que uma foto n6o 6 "vocd] mas apenas uma "representagio" sua; a gravagio de uma mirsica n6o 6 a mirsica, mas apenas 6

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uma representagdo da mrisica. Esta caracteristica etlrea da mfsica 6 um tanto dificil de ser compreendida, mas 6 fundamental se realmente desejamos interagir de maneira mais inteligente e proveitosa com essa forma de arte. Muitas concepg6es distorcidas sobre a mirsica s6o oriundas do seu tratamento como objeto. This concepg6es deturpam a sua essdncia b6sica. Quando algudm dtz que a mfsica 6 "amoral" e a compara a uma faca ou um revolver, est6 tratando a mrisica como um objeto inanimado. Veremos a seguir que a mirsica est6 longe de ser um objeto inanimado. Ela 6 um fendmeno acristico percebido somente no c6rebro.3 Fomos "projetados" para reconhecer as diferentes alturas e notas musicais. Nossa habilidade de reconhecer diferentes notas ou alturas 6 fisiol ogLca. A membrena basilar do ouvido interno possui cilios que sio acionados em resposta a determinadas frequdncias. Isto 6 chamado de "mapa tonot6pico' e funciona como um teclado de piaflo, com registros grave, m6dio e agudo (BONALDI,2004; NISHIDA, 2012).

Figura

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Sem um aparelho auditivo e o c6rebro n6o hii mirsica e nem mesmo som. H6 apenas o deslocamento de particulas de ar.

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O c6rtex auditivo tamb6m possui mapas tonot6picosa. Diferentes 6reas do c6rebro respondem a diferentes notas, alturas. E possivel colocar eletrodos numa pessoa e saber exatamente quais notas ela est6 ouvindo apenas analisando a atividade cerebral. A esse respeito, vale destacar: se colocarmos eletrodos no c6rtex visual e mostrarmos, por exemplo, uma pdra verde, nio h6 grupos de neur6nios que tornam os eletrodos verdes. "No entanto, quando colocamos eletrodos no c6rtex auditivo e tocamos uma nota pura a 440 Hz, h6 neurdnios no c6rtex auditivo que ir6o disparar exatamente nesta mesma frequdncia, fazendo o eletrodo emitir atividade el6trica a 440 Hz em termos de notas, o que entra pelo ouvido sai no c6rebro!" (LEVITIN ,2007, p.29, tradugio livre).t Figura 2: cortex auditivo, mapa tonot6pico

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Fonte: Adaptado de

Essa aql,o direta da mrisica no c6rebro ajuda a explicar o interessante fen6meno do "encantador de bufalos". O criador de bufalos Antdnio Carlos Trierweiler, do municipio de General CAmara (RS), descobriu, por acaso, que poderia controlar seus enormes animais apenas tocando seu violino. Curiosamente os bufalos reagem de maneira muito direta quando ouvem a melodia do conhecido hino Amazing Grace de |ohn Newton. Basta Trierweiler comeg ar a tocar o hino ao violino que os bufalos vio se aproximando, e o

a Pesquisas feitas com exames de ressondncia magn6tica demonstram a precisio e a complexidade dos mapas tonotopicos no c6rtex auditivo. Ver Saenz e Langers (2014). 5 " But if I put electrodes in your auditory cortex and play a pure tone in your ears at 440 Hz, there are neurons in your auditory cortex that will fire at precisely that frequency, causing the electrode to emit electricql activity at 440 Hz for pitch, what goes into the ear comes out of the brain". Yer

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tamb6m: Oxenham, Bernstein e Penagos (2004); Shamma (2004).

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seguem para onde quer que v6. Nio 6 mais necessdrio cavalos para conduzir o rebanho, apenas a mrisica (MENDES, 20I0).u A experidncia do encantador de bufalos serve para ilust rar, de maneira prattca o que 6 um "processo cibern6tico". Processos cibern6ticos sio caractertzados por uma relagio direta de estimulo e resposta, sem que haja qualquer tipo de mediagio reflexiva ou significado (ECO, 2008, p.4). Naturalmente, brifalos s6o animais irracionais, incapazes de uma "medi aqdo reflexivdi Quando recebem o estimulo, respondem com obediOncia, seguindo o som da mrisica. De alguma maneira, ela estimula o aparato neurol6gico dos bffalos, e estes apenas se rendem a este estimulo sem "pensar" no que estio fazendo. Seres humanos tamb6m sio afetados fisiologicamente e psicolo-

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gicamente pela mrisica e pelo som. A musicoterapia 6 baseada justamente nessa possibilidade. Usando uma combinagio de mirsica sem puls aql,o e sem mudangas de dinAmica e timbre com ondas sonoras de baixa frequdncia, a musicoterapia vibroacristi ca 6 usada para pro duzrr relaxamento fisico e mental em pacientes com dor cr6nica, reduzindo a frequOncia cardiorrespirat6ria e a pressio arterial, produzindo sensagio de bem estar e afetando positivamente o estado de humor (CARRER, 2007; CARRER, s.d.; WIGRAM; GROCKE,2007; WIGRAM; PEDERSEN; BONDE,2002).7 Mas a mrisrca pode ser usada para pro duzrr um efeito oposto, causando excitabilidade e aumentando a frequdncia cardiorrespirat orra (SIBLEY-SCHWARTZ, 201 1). Professores de hidrogin6stica e academia em geral sabem muito bem que a mtisica de ritmo r6pido e constante eleva a frequdncia cardiorrespirat6ria com o objetivo de melhorar o desempenho no exercicio. O efeito produzido. n6o 6 somente fisiol6gico, rnas tamb6m psiquico, causando um estado de excitamento e euforia (SOllZA; SILVA,2010). Ao contr6rio de bufalos, seres humanos s6o animais racionais e capa zes de mediagio reflexiva. Mas a "racionalidade" e a capacidade "reflexiva" nio sio absolutas ou constantes, elas dependem de diversos fatores como, por exemplo, de um bom desenvolvimento cognitivo e emocional. Al6m disso, dois fatores importantes s6o o livre arbitrio e a competdncia comunicativa.B

6 Ver "Pecuarista usa o som do violino para atrair brifalos no vale do rio pardo'] disponivel em: http:l lbit.IyllhfX3XL. Acesso em 15 abr. 20t4. 7 Muito antes de existir uma ci0ncia da musicoterap ra, a mirsica ja erausada com fins terapduticos, como na conhecida historia de Saul e Davi (1Sm l6:14-23).

8 Competdncia Comunicativa pode ser definida como a capacidade de se usar um sistema linguistico adequadamente em diferentes situag6es, levando em conta as fung6es e

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Mtisica nio e uma linguagem universal como muitos proclamam romanticamente. Alguns at6 mesmo questionam se a mfsica pode ser considerada uma linguagem (BORGES, 2005). De qualquer forma, utthzamos a mrisicapara comunicar ideias e expressar sentimentos. A ideia de que a mfsica causa um estado geral de excitamento ao inv6s de emog6es especificas explica parcialmente porque ela tem sido usada para acompanhar t6o grande variedade de atividades

humanas, incluindo marcha, seren ata, adoragio, casamentos, funerais e trabalho manual. A mirsica estrutura o tempo. Ao impor

ordem, a mfsica assegura que as emog6es provocadas por um evento particular alcancem o auge no mesmo momento (STORR, 1993, p. 30, tradugio livre).e

Alguns t€m enfatizado esta inespecificidade linguistica da mtisica para justificar que qualquer tipo de mtisica pode ser usada no louvor e adoragio. No entanto, estes ignoram alguns dos aspectos mais bfsicos e naturais da mrisica. |ustamente "por nio necessitar de codificaqao linguistica, [a mfsica] tem acesso direto e afetividade, irs 6reas limbicas que controlam nossos impulsos, emoq6es e motiv agio" (SOU ZA; SILVA , 2010, p. 35).

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Vamos examinar, brevemente, alguns usos, fung6es e manifestag6es da

mrisica na sociedade. Esses aspectos ser6o titeis na compreensio de como esta arte 6 dinAmica e como pode possuir diferentes perspectivas em diferentes situag6es e pessoas, a16m de como pode influenciar nossas escolhas musicais para o louvor e adoragdo.

variedades da linguagem, bem como as situaq6es socioculturais em que se manifestam. Ver Hymes (1972) e Almeida (2010). e "The idea that music causes a general state of arousal rather than specific emotions partly explains why it has been used to accompany such a wide variety of human activities, including marching serenading worship, marriages, funerals, and manual work. Music structures times. By imposing order, music ensures that the emotions aroused by o particular event peak at the same moment".

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O primeiro uso ou fungao da mfsica que apresento demonina-se "mnem6nico" por sua ligagao com a mem6ria. Todos n6s conhecemos a mrisica com esta fung6o, desde melodias para mem orLzar o alfabeto, tabuada ou versos biblicos, passando por melodias/letras usadas para lembrar o nome de um determinado produto e at6 cang6es futeis e muitas vezes imorais, ouvidas uma rinica yez e memorizadas imediatamente. Este riltimo exemplo demonstraa capacidade de "impregnabilidade" da mirsica (SNYDER, 2001). E como

literalmente, possuisse a pessoa. A mfsica possui uma incrivel capacidade de associaqio com palavras, assim como ideias e eventos. Do ponto de vista da experiOncia de vida, nossa hist6ria tamb6m 6 muito marc ada por associag6es musical. A maioria daqueles que se converteram a Cristo a partir da adolescdncia possuem lembrangas de sua experi€ncia religiosa associada i mirsica. Pode ser o primeiro hino congregacional cantado, a canglo de apelo no momento de entrega ou um hino na ocasiio do batismo. A associagio da mfsica a eventos tdm a tend6ncia de despertar fortes emog6es e ativar todo o sistema limbico que processa as emog6es e controla a mem6ria (IANCKE, 2008). Por isso, pode-se mold ar a interagio com uma determinada mtisica. Vou exemplificar isto com uma experidncia pessoal: na trilha sonora do video de meu casamento foi usada uma cangio romAntica americana que n6o faz parte do meu gosto pessoal. No entanto, passei a gostar desta mirs rca atravds de sua associ agl,o com um dos eventos mais significativos de minha vida. Neste caso, o significado desta cangio para mim nio est6 em si mesln&, mas na sua associagio com um evento. se ela,

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Um grande nfmero de pessoas que jd passaram dos 35 anos de idade lembra-se, com certo saudosismo, das mrisicas do auge de sua juventude (1325 anos). Simplesmente porque foi uma fase de grandes descobertas pessoais, normalmente associadas a momentos felizes, assim, o significado da mfsica n6o est6 em si mesffio, mas na associagio com momentos marcantes da juventude. Ou seja, de certa forma, ela tem uma funqio autobi ogrfufica.

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Um dos atributos mais importantes que nos separa dos animais 6 a capacidade de louvar o nosso Criador. Outra caracteristica relacionada com

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a primeira, 6 o sentido est6tico. De toda a crLaq6o, somente o ser humano 6 capaz de apreciar um belo pdr-do-sol ou combinar cores no vestudrio. Mes-

mo em algo t6o

por exemplo, a alimentagio, o lado est6tico nos leva a procurar alimentos n6o somente nutritivos, mas tambem agradileis ao paladar e aos olhos. Em suas v6rias formas, ? experidncia est6tica est6 sempre ao nosso redor. Deus, o autor do belo, encheu os c6us e a terra com aquilo que 6 belo. Ellen G. White diz: 'tomo o Autor de toda a beleza, sendo Ele proprio amante do belo, Deus proveu o necess Srto para satisfazer em seus filhos o amor do belo" (WHITE, 2003,p.4L). A fungaolmanifestaqio "est6tici' da mfsica 6 o segundo item destacado, de um ponto de vistapr6trco.t0 Por uma variedade de raz6es achamos a mrisica "bonitdi Naturalmente nio concordamos com aquilo que 6 bonito na mtisica, assim como n6o concordamos com o que 6 bonito em outros assuntos. Alguns sio fascinados pelo timbre de um determinado instrumento ou da voz de um cantor. Outros acham grande beleza na harmonia vocal, seja esta dissonante ou consonante. H6 ainda aqueles parc quem a mfsica sem instrumentos de percussio e sem vivacidade ritmica 6 sem atrativos. Independentemente do que consideramos bonito na mirsic a,ha sempre algo nela que desperta o "fascinio est6tico". necess drno ir existdncia como,

Cremos que Deus 6 o autor de toda beleza, mas nem toda beleza e apropriada para ser utihzada em um culto de louvor e adoragio a Ele. Vou ilustrar com duas historias o tema do fascinio est6tico musical e como ele pode comprometer nossas escolhas no louvor e adoragio. H6 alguns anos eu estava levando minha mie para uma consulta m6dica. Na mesma 6poca, estava preparando as aulas de regdncia coral que

iria lecionar na pos-graduaqio do Unasp no

mOs seguinte. Coloquei no

CD player do carro a mtistca O schiine nacht ("6 bela noite") de |ohannes Brahms, para coro misto e piano. Para minha surpresa, minha m6e ouviu atenta ir mirsica e, depois, quebrou o sildncio alegando que havia se sentido na presenga de Deus. Digo isto por saber que a letrarr cantada em alemio fala de uma "bela noite" para o despertar do amor entre adolescentes, e aparentemente n6o tem nada que ver com temas espirituais! Por6m, n6o para r0 N6o cabe neste texto uma discussio filosofica sobre est6tica musical. Recomendo,

aos que desejarem um aprofundamento no assunto, as obras de Scruton (1999) e Busoni(L962). I Minha traduqio: "O bela noite! No c6u a lua brilha fabulosamente em todo seu esplendor; ao seu redor, a adordvel companhia de pequenas estrelas. O bela noite! O orvalho brilha na haste verde da grama; o rouxinol canta com energia no arbusto da flor lil6s. C) garoto se arrasta gentilmente para a sua amada. O linda noite!"

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minha mie! Para ela o fator mais importante era o que percebia de beleza na mfsica sem nenhuma preocupagio com o significado pretendido nela. E claro que h6 algo de divino na bel eza do amor puro, mas nio 6 disso que estamos falando (ver ANTUNES, 2010). Vamos examinar outra historia igualmente curiosa, mas que pode ilustrar de maneira ainda mais direta como o fascinio estdtico pode interferir em nossas escolhas musicais parao louvor e adoragdo. Em certa ocasiao eu estava lecionando um semindrio de p6s-gradu agdo em regdncia coral. Estdvamos trabalhando na mrisica Sleep de Eric Whitacre, paracoro a cappella. Essa mtisica descreve o processo de se cair no sono de uma maneira muito grdfica.t' Sem duvida 6 uma mrisica muito bonita e se tornou muito popular entre os corais atuais. Depois de trabalharmos algum tempo com ela e conseguirmos uma performance artistica, um dos alunos pediu a palavra e disse que seria muito bom se fizessemos uma letra sacra para a mtisica e a usdssemos na igreja! Perguntei, ent6o, no aluno a razd,o para se fazer isso. Sua resposta: "porque a mtisrca e muito bonital' Novamente o fator decisivo foi a beleza. E, neste caso, o aluno conhecia o significado da letra e devia ter alguma compreensio da estreita relagio criada pelo compositor ehtre letra e mfsica. A ideia de se fazer uma parodia religiosa n6o 6 novidade.l3 Por6m, mesmo se um a parodia n6o 6 feita, podemos ter tal fascinio estdtico por certos elementos musicais, copi6-los e uttltzS-los na mtisica religiosa sem uma compreensio do seu significado, mas apenas por ach6-los bonitos. Entendo que os estimulos recebidos pela sociedade nos educaram a responder sensorialmente de form a ripida e superficial, como no processo cibern6tico. Mas creio 12 Traduqdo da letra: 'A noite aguarda abaixo da lua, um lio prateado sobre uma duna enegrecida. De olhos fechados e cabega reclinada; eu sei que o sono estd chegando. Sobre meu travesseiro, a salvo na cama, mil imagens enchem minha cabega, n6o posso dormir, minha mente est6 aflita; e ainda meus bragos parecem de chumbo. (SAT) Se h6 barulhos pela noite, uma sombra assustadora, luz Cintilante; (B) Se h6 barulhos pela noite, na noite entio eu me rendo a dormir, onde nuvens de sonho d6o outra visio. O que sonhos venham se tornar, tanto escuros quanto profundos- (SA) de asas que voam e crescente subida? -Enquanto eu me rendo a dormir.(3x) (TB)-escuro e profundo (3x) t...] escuridi.o, no sono Sono (Repetida pelo menos 10x)." - exemplos t3 Um dos mais curiosos 6 a par6dia religios a O lesu mea vita do madrigal secular Si ch'io vorrei morire de Claudio Monteverdi (L567 -1643| A letra original dizque "vou morrer se nio tiver teus beijos, tua boca, tua lingua'] uma descrigio muito grfufica do amor carnal. Aquilino Coppini (?- L629), mfsico e letrista, especialista emfazer parodias religiosas (contrafacta) de madrigais seculares, transformou a letra carnal de Monteverdi em "|esus minha vida"! Um exemplo contempordneo de par6dia religiosa de mrisica secular 6 a versao religiosa do Pe. Antonio Maria da mris ica Festa, de Ivete Sangalo.

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que a experidncia espiritual n6o pode ser predominantemente constituida de respostas riryidas e superficiais, que muitas vezes nio passam da percepgao do belo. Sinto-me um tanto frustrado quando fugo alguma apresentaqio musical na igrej & e , posteriormente, algu6m comenta comigo: "foi lindo i ou, "estava t6o bonito", sem dizer algo que revele a compreensdo da mensagem e significado da mirsica. Neste caso, posso drzer que 'b belo e a ferdl Podemos nos tornar inebriados pela beleza de tal forma que nio seremos mais capa zes de perceber significados mais profundos nas manifestag6es artisticas.la

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A mfsica possui uma presenga social muito forte, principalmente atrav6s do entretenimento midi6tico. E praticamente impossivel pensar em alguma forma de entretenimento que nio tenha mtisica. No entanto, quero desta car outro aspecto social proporcionado pela mfsica: o de afirmagio social/ou afirmagio do ego. Neste caso, existem duas vertentes b6sicas. A mfsica pode servir como chave de acesso a um determinado grupo social, assim como tamb6m pode dar destaque social a pessoa que a pratica, contribuindo para autoafirmagio. Um adolescente timido muda db cidade. Chega i. nova escola sem conhecer ningu6m. Entra para o coral da escola e, em pouco tempo , j6 faz novos amigos. Sua inclusio no novo grupo social foi facilitada pela mfsica. A mrisica coral, em particular, possui uma fungSo social acentuada, nio somente em escolas, mas em todas as suas manifestag6es, seja em igrejas, empresas ou outras entidades. A ligagao entre mrisica coral e atividades sociais para os membros de um coral 6 muito comufir, e em alguns casos, fi,ca a dtivida de qual e a prioridade, se a mrisica ou a interaqio social. De qualquer forma, a mirsica proporciona a possibilidade das pessoas se aproximarem uma das outras. Em uma determinada tgreja, a irmi Carmem (nome ficticio), casada,

mie de tr€s filhos, um pouco acima do peso, dona de casa, passa basicamente despercebida na con gregagio, exceto por seu circulo de amigas mais intimas. O que ningu6m sabe d que a irmi Carmem tem uma bela voz. Atd que um dia, por consequOncia de uma s6rie de fatores, ela canta em um culto. Todos na congregagio ficam surpresos com o talento musical de Carmem. Daquele dia

t4 O exemplo mais dram6tico disto 6 a queda de Lircifer. Esta criatura, dotada de beleza estupenda, perdeu seu pr6prio sentido de ser em sua pr6pria beleza. Leia o relato da queda de Lircifer e a relagao da beleza neste processo em White (1947).

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em diante ela nio 6 mais uma desconhecida na igreja, mas 6 a"Carmem que canta'i E fscllperceber no brilho dos olhos de Carmem a mudanga de status que a mtisica trouxe para sua vida e, em especi aI, para sua auto-afirmagio. Todo ser humano precisa de aceitag6o social e afirmagio como individuo. Nessas duas situag6es a mfsica n6o desempenha primordialmente uma fungdo artistica, mas promove duas fung6es de aceitagao social e autoafirmaq6o de uma maneira muito sutil e eficaz. Naturalmente, h6 inumeras outras atividades que desempenham fungio similar, mas nosso foco 6 a mrisica. A mrisrca e tamb6m um fator de identidade social, especialmente dentro daquilo que 6 chamado de "neo-tribalismo'i que afeta, em particulat os adolescentes (MAFFESOLI, 1998; MAFFESOLI ,2007; FEIXA-PAMPOLS, 2004; SOUTO,20t3; MARCON; BORTOLAZZO, 2013). Um determinado repert6rio, estilo ou gdnero musical, pode servir tanto como fator que aproxima as pessoas, que criam e aceitam uma determinada identidade social, como tambdm um fator que impele um jovem ou adolescente a adotar determinado repert6rio, estilo ou gdnero musical para ser aceito por uma determinada "tribo", assumindo, inclusive, estilo de vida, valores, associados a esta "tribo".

Enquanto a mfsica tem importarfte papel na autoafirm aqio e na acei50

tagio social, essa n6o deve ser sua funqio primordial na igreja. A mfsica na igreja n6o deve ser us ada primordialmente para beneficio pr6prio. Vamos considerar o chamado de Abrado: "de ti farei uma grande naql,o, e te abengoarei, e te engrandecerei o nome. Sd tu uma bdngao! Abengoarei os que te abenqoarem e amaldigoarei os que te amaldiqoarem; em ti ser6o benditas todas as familias da terra" (Gn L2:2-3). N6o recebemos bdngios apenas para uso pr6prio, e muito menos para us6-1as como algo que nos diferencia de outras pessoas em um gesto opressor. A verdadeira religiio 6 pautada por ag6es al6m ego.O uso da mirsica no louvor e adoragl,o implica em considerar o outro e nio somente as minhas necessidades.

&rffm s$m:fuffi1$ mm O principal ponto de discordia entre as vis6es tradicional e pos-moderna sobre mfsica sacra passa pelo conceito de mtisica como arte simb6lica. A visio tradicional 6 que a mfsica pode possuir um significado simb6lico em si, ou seja, uIrI significado intrinseco. Do outro lado da moeda est6 um extremo da visio p6s-moderna, incorporada no cristianismo nas palavras de Rick Warren: "N6o existe tal coisa como mfsica tristd; s6 existe letra crist6.

Natureza e impticaq6es da musica para a adoraqio

E a letra que torna uma cangio sacra, n6o a melodia.

Nio existem melodias

espirituais" (WARREN, 2002, p. 43, traduqio livre)." Essa postura descarta por completo a possibilidade de qualquer tipo de rela gdo entre letra e mirsica, al6m de distorcer o conceito do que constitui sacralidade e como isso pode ser alcangado. Dtz ainda que n6o 6 possivel que a mfsica puramente instrumental possa ser usada para crrar uma determinada atmosfera ou contribuir paraum estado de espirito. Para averiguar a veracidade ou n6o destas posig6es teremos que explorar quais as possibilidades da mirsica atuar como arte simb6lica.

Quando apresentamos uma mtisica em publico, esse 6 um ato de comunicag6o. A mirsuca e um meio de comunicagio, uma forma de discurso. H6 mirsica que comunica a necessidade de fazer algo ou a chegada de um determinado momento, seja com o toque militar de trompete ou com a mrisica de abertura de um programa de TV. Quando ouvimos a Marcha I{upcial sabemos que chegou o t6o esperado momento da noiva entrar na igreja. A mrisica pode evocar, sugerir, descrever e representar. A mrisica tamb6m pode ser encarada como uma esp6cie d. jogo de construgSo, na manipulaglo de seus elementos. Podemos passar horas tentando entender como estes elementos musicais foram trabalhados na construgio de uma determinada pega de mrisica. Quando estamos emocionalmente abatidos e ouvimos uma mrisica para levantir o Animo, ou quando jovens se reirnem em uma festa ou danceteria para dangar freneticamente com o intuito de se sentirem alegres, o mirsica est6 sendo usada como uma forma de terapia ou droga que desperta o prazer (STEFANI, 1989, p. 15-16). Para que exista uma comunicagio eficiente 6 necess6rio que todos os envolvidos no processo tenham alguma fludncia no sistema complexo de linguagem que est6 sendo usado. Posso ouvir mandarim e achar bonito, mas como nio tenho qualquer conhecimento desse idioma, n6o vou entender nada; no mdximo posso achar que os sons s6o bonitos. Ao mesmo tempo, hA outros 1s "There is no such thingas'Christian'music; there are only Cltristianlyrics. It is the words that make a song sacred, not the tune. There are no spiritual tunes." De certa forma, ecoando Warren, mas com maior elaboraqdo,ver na autora adventista Doukahn (2010, p. 46) afirmag6es como: " there is no such thing as a sacred style per se - it varies from one cultural setting to anotLter, from one musical language to another." A citaqio tem como premissa que o assunto de mrisica sacra 6 exclusivamente uma questio cultural, ignorando outros aspectos que estamos examinando neste texto, alem de novamente ignorar a essdncia do que torna uma atividade sacra ou secular. E mesmo do ponto de vista exclusivamente cultural, os que vivem no mundo ocidental e globalizado, possuem uma boa ideia de estilos musicais que sdo claramente seculares. No entanto, alguns est6o justamente utilizando o fraco argumento de que mirsica sacra 6 uma questio cultural paru trazer para a igreja estilos seculares.

5T

Bases Bfblicas da Adoraqio

elementos que contribuem para que haja comunicaqdo, a16m da linguagem verbal. Mesmo sem entender mandarim, posso entender alguma coisa, dependendo do contexto e da linguagem corporal, como gestos e express6es faciais. Mesmo assim, minha compreensdo 6limitada. Meu interlocutor chinds poder6 ter toda a intengio de me comun rcar algo, mas se eu nio falo o seu idioma, nio h6 como compreend er a totalidade de sua mensagem. Neste momento, vamos transpor essa situaqio i mrisica. Muitos esperam compreender toda a mensagem da mrisica sem jamais ter aprendido qualquer coisa sobre esta forma de comunicagio.l6 A verdade 6 que existem diferentes niveis e graus de compreensio do significado da mrisica. Quanto mais conhecimento sobre a mtisica em geral, e sobre a mfsica em questio, melhores sio as chances de se compreender o seu significado intrinseco. Mas a mirsica possui um potencial de significado mesmo sem exigir muito conhecimento sobre ela mesr1&, atrav6s de suas fungoes e relag6es, criando, assim, um significado extrinseco. Isto se aplica a qualquer tipo de mfsica, seja esta chamada de erudita ou popular.

Podemos ainda ter significado na pr6pria forma, e nio no conterido. Vamos ver de maneira mais pritrca como isto pode aconte cer na mtisica. Podemos ter representaq6es mais pr6kimas do natural (signa naturalia)

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e representaq6es convencionadas (signa data). Na primeira categorra, por exemplo, a mrisica pode imitar o som de uma tempestade. Neste caso, o significado na mrisica estd no poder da mirsica de sugerir peso, espago, temPo e fludncia virtuais (SWANWICK,2003, p. 34). Murray Schafer (1991), compositor e educador musical, explica isso de maneira muito diddtica em di6logos com alunos de escolas. Ele dtz que os extremos de caracteristicas musicais podem ter um efeito sobre nossas emog6es. Schafer (1991, p. 45-47) propoe que estes valores do vocabulfrio musical sejam colocados como opostos, da seguinte maneira:

AGUDO

GRAVE

FORTE

SUAVE

16 Nikolaus Harnoncourt, falecido maestro e pensador musical, aponta que, at6 o inicio do s6culo 19, aformaqao musical era voltada para uma compreensio do significado da mrisica. Criticando, ele drz: "A partir do momento em que a mrisica deve ser dirigida a todos, que o ouvinte nio precisa mais compreender nada da mrisica, torna-se necess6rio eliminar qualquer discurso que exija compreensio; o compositor precisa escrever uma musica que, da forma mais ficll e acessivel possivel, se dirija diretamente i sensibilidade do priblico (Os filosofos dizem a este respeito: quando a arte nada mais faz do que agradar, ela serve apenas paraignorantes.)" (HARNONCOURT, 1998,p. 30).

Natureza e implicaq6es da musica para a adoraqio

CURTO

LONGO

RAPIDO

LENTO

"O compositor usa valores b6sicos como esses para crrar uma compoum cariter especifico. O que eu quero que vocds observem 6 que esses valores t0m o poder de afetar o ouvinte de muitas maneiras diferentes'l Para ilustrar isso, Schafer ( I 991) usa as mtisicas instrumentais Prelildio para a tarde de um fauno, de Claude Debussy, e I'{oite em um monte descalvado, de Modest Mussorgsky.l' Cadauma das pegas cria um clima bem definido, o que 6 possivel restringindo-se a valores musicais especificos. A mrisica de Debussy 6 caracterizada pelos valores musicais "grave, longo e lento'l projetando um clima tranquilo, enquanto que a mfsica de Mussorgsky 6 caracterizada pelo "agudo, forte, curto e r6pido", com um clima tenso e agitado (SCHAFER, 1991, p. 45-47). Como podemos facilmente perceber nesses exemplos, a mfsica puramente instrumental consegue projetar um estado de espirito. Sendo assim, a mrisica nio 6 "neutrdi Nao hd como associar tranquilidade a uma mfsic a agrtada, e vice versa, nio hd como criar um clima de agitagio com uma mirsica est6tica, que nio possui muita atividade ritmica. Tranquilidade envolve frequdncia cardiorrespirat6ria mais baixa enquanto que o contrarto est6 relacionado a um estado de agitagio. Hd uma relagdo natural entre o estado de espirito e os valores musicais escolhidos. Existem tamb6m as conveng6es musicais. Estas podem ser clichdsl8 de como se terminar uma mti.sica, como "esticar" um cangio atrav6s de mudangas de tom, como ctrar expectativa com um "ta-dt' ou como criar um clima romAntico para uma cena de filme.te H6 conveng6es musicais curiosas, como o famoso sinal da cruz usado por Bach em sua Paixao Segundo Sao Mateu.s. Nas duas fugas para dois coros dos nos 45b e 50b, LolS ihn kreuzigen,Bach cria um desenho mel6dico para representar o sinal gr5fico da cruz quando as vozes cantam a palavra "kreuzrgei'(crucifique-O), como no exemplo abaixo. sigao com

t7 "Prelude to the

afternoon of a faun' e "Night on a bald mountain'. 18 Novamente, cliches musicais n6o fazem distingao e est6o presentes na mtisica pop comercial, popular e erudita. Ver o interessante post de Freed e Salgado "l0 unavoidable musical clich6s", disponivel em: http:l lbit.lyi 1nLW8S1. Acesso em: 14 abril de2014.. te Ver o elucidante trabalho de Franco (2011), representaqio do amor na trilha musical do cinema. Ver tamb6m Carrasco (2006).

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Bases Bfblicas da Adoraqio

Figure 3: sinal da cruz de Bach

Lass

ihn

=

kreu

Muitas conveng6es da mfsica ocidental foram desenvolvidas ao longo do s6c. L7, dentro daquilo que 6 conhecido como "ret6rica musical'l Inicialmente, isso se manifestou na mrisica vocal com uma transposigio de diversas ideias do discurso oral para a mrisica. Foram importadas desde concepg6es

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da estrutura de um discurso at6 figuras ret6ricas, como por exemplo, iteratio, ou repetigio paradar 6nfase. Na fala isso ocorre com aumento de intensidade e, frequentemente, com a artrculagdo da repetigio em uma altura mais elevada. Naturalmente, intensidade e altura sio elementos facilmente replicfveis na mfsica (BURMEISTER, 1993).'o V.ja o exemplo abaixo da mrisica Vitoriosa de Ivan Lins e Vitor Martins na qual o texto "e i? al6rn' 6 repetido, sendo cantado em uma altura mais aguda, mas com o mesmo contorno mel6dico. 20 Os principais tratados do s6culo 16 sobre ret6rica musical foram: |oachim Burmeister Hycomnematum Musicae Poeticae (Restock, 1599); Burmeister Musica austoschediastike (Restock, 1601); Burmeister Musica poetica (Restock, 1606); Jobannes Lippius Dispositio musica tertia sincerae synopticae (Erfurt, L6I4); Johannes Nucius Musices Poeticae t...] Praecentiones absolutissimae (Neisse, L613); Thuringus Opusculum bipartitum (1625); |ohann Andreas Herbst Musica poetica (Ni.irnberg, 1643); Athanasius Kircher Musurgia Universalis (Rorr?, 1650); Christoph Bernhard Tractatus compositionis augmentatus; Bernhard Von der Singe-Kunst over Manieq Bernhard Ausfuhrlicher Bericht von dem Gebrauche der Consonanzel und Dissonanzien: Elias Walther (Caldenbach) Dissertatio musica (Tiibigen, L664); Wolfgang Caspar PrintzPhrynis Mitilenaeus oder Satyrischer Componist (Dresden e Lerpzig, 1696); Johann Georg Ahle Musikalische Friihlings-, Sommer-, Herbst- und Winter-Gesprdche (Miihlhausen, 1695-1701); Thomas Balthasar ]anowka Clavis ad Thesaurum magnae artis musicae (Praga, l70I); Iohann Gottfried Walther Praecepta der Musicalischen Composition (1708 - ms, Landesbibliothek, Weimar); Walther Musikalisches Lexicon (Leipzig, 1732); Johann Kuhnau Texte zur Leipziger Kirchen-Music (1709); Mauritius Vogt Conclave Thesauri magnae artis (Praga , 17l9); Johann David Heinichen Der General-Bass in der Composition (Dresden, 1728); Johann Adolph Scheibe Der critische Musicus (Hamburgo, I73B); Johann Matheson Der vollkommene Capellmeister (Hamburgo, 1739); Meinrad Spiess Tractatus musicus compositoriopracticus (Augsburg, 1745). Fica evidente com esta longa lista que o assunto foi muito estudado e difundido. Esta lista foi extraida de anotag6es de aula baseadas em: Arnold Schmitz"Frguren, musikalisch-rhetorische", Die Musik in Geschichte und Gegenwart. V. 4 (Kassel, 1955).

Natureza e implicaqoes da musica para a adoraqio

Figure 4: retorica musical em Ivan Lins

'lr

u

Eir

elr

lSrn.

A ret6rica musical do s6culo 17 ndo

restringiu

l6m.

mfsica vocal

logo, as mesmas conveng6es estavam sendo usadas na mfsica instrumental com as mesmas inteng6es e efeitos. Muitas das conveng6es da ret6rica musical do s6culo 17 transpuseram ao tempo, e se tornaram parte da pr6tica musical at6 os nossos dias. Como vimos, convenq6es musicais est6o presentes em todos os tipos e estilos de mrisica, e podem se manifestar tamb6m em aspectos perform6ticos. Em uma conven g6o, 6 comum em grandes shows a banda parar de toc ar e deixar o publico cantar a cappella um trecho de uma cangio conhecida. Isto produz o efeito emocional de participagdo e pertencimento. Na aldeia globalizada na qual vivemos, a midia tdm um papel preponderante no estabelecimento e difusio de muitas das atuais conveng6es musise

ir

e,

cais. A associagio de imagem a mfsi ca crtaum forte vinculo, e contribui para

o desenvolvimento de muitas dhs relagoes de sentido musical vigentes. Embora tenha um papel importante, a midia imag6tica n6o e a vnica envolvida neste processo. Os simbolos e as conveng6es de qualquer tipo de linguagem s6o em grande parte arbitririas. Dai a importdncia da interagio social neste processo de aquisi gao e troca (TOMASELLO, 2008). Falando especifi.camente de um possivel processo de significagio na mfsica como forma de discurso simb6lico, Swanwick (20A3, p. 22-23) apresenta a seguinte sequOncia: Internamente representamo s, n6s imaginamos; Identificamos e fazemos relaq1es entre essas imagens; lJtrltzamos sistemas de sinais, vocabuldrios compartilhados; Negociamos e trocamos nossas ideias com outros.

Em grande parte, o processo de signlficaqio 6 possivel atrav6,s daquilo que 6 chamado de schema (singular) e schemata (plural). Schemata, ou "mapas cognitivos", formam a estrutu ra para compreendermos v6rias situag6es comuns, umas em referdncia is outras . Schemata s6o estruturadas a partir de contextos culturais jd existentes, nio sendo assim criag6es irnicas ou individuais. Nossa vis6o de mundo depende de nossas schemata.

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Bases Bfblicas da Adoraqao

Todas essas experidncias ficam armazenadas n6o somente em nossa mente, mas tamb6m em nosso corpo. Quantas vezes a simples lembranqa de um estado de me do faz com que o corpo se enrij ega, ou quando vamos fazer uma prova dificil, sentimos o est6mago embrulhar. H6 tamb6m schemata musicais, que sio estruturadas e re-estruturadas cada vez que ouvimos mfsica. Todos n6s que vivemos na cultura glob alizada ocidental estamos acostumados ao schema tonal dos modos maior e menor. Quando algudm ouve uma mrisica feita fora do sistema tonal e acha isto estranho, 6 porque o schema tonal j6 est6 formado em sua mente de tal forma que qualquer mfsica fora dele 6 inicialmente considerada "intrusa'] nio pertencente ao corpo de experidncias j6 registradas na mente. Schemata s6o formadas sobre gdneros e estilos musicais; assim podemos reconhecer e diferenciar um samba de um rock, e assim por diante . Schemata s6o extens6es da mem6ria

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(SWANWICK,2003,p.34,35; LEVITIN ,2007,p. 115-119; NARMOUR, 1 999). A arte music al e feita em uma relagilo de referdncia, continuidade ou reaqS,o ao que jd existe: "nada vem do nada. Para ningu6m, nem mesmo para Tom |obim." E,ste comentdrio foi feito sobre a conhecidissima canqao de Tom Iobim Aguas de marqu indicartdo suas fontes no poema "O cagador de esmeraldas", de Olavo Bilac, que descreve o findar das chuvas no mds de margo, e um ponto de macumb a, gravado por I. B. de Carvalho, que drz: "E pau, 6 ped ra, 6 seixo mirido, roda a baiana por cima de tudo." Iobim combina Bilac e macumba, transformando-os em sua pr6priu poesia e mrisica (NESTROVISKI , 2004, p. 36). Tamb6m para o ouvinte a arte music aI e percebida em uma relagio de referdn cia, continuidade ou reagio ao que j6 existe, tanto em termos musicais como sociais, oS schemata. E,ste 6 um ponto muito interessante, pois 6 reconhecido que pode haver diferentes niveis de compreensio do que "ja extste". Novamente, quanto mais conhecimento sobre a mirsica em quest6o, e sobre mirsica em geral, melhores as chances de compreender seu significado amplo. Vimos que a mtisica e uma arte simb6lica, mas que seu significado nio 6 apenas intrinseco . H6 inrimeras quest6es, como fung6es, associag6es e usos da mtisica, que contribuem para a construgio e compreensio de seu significado, tanto intrinseco como extrinseco. De maneira geral, a mfs rca e capaz de sugerir estados de espirito e emoq6es sem podermos drzer que estes s6o especificos a uma ou outra situ aqao especifica. A mirsica pode pro duzir um estado de espirito de medo, mas nio comunica o porqud desse medo. No entanto, compositores e arranjadores s6o capazes de manipular os valores/ elementos musicais para produ zLrem nos ouvintes um efeito previsivel.

Natureza e implicaq6es da musica para a adoraqio

Durante uma de minhas palestras sobre mfsica, usei como exemplo o "Forroztrd', um forr6 gentilmente gravado por Matheus Rizzo, especialmente paraeste evento. Pedi que os ouvintes reagissem i mtisica da maneira como sentissem que deveriam reagir. Quando ouvimos um forr6, temos vontade de dangar, n6o somente porque fatores culturais determinam isto, mas porque tamb6m h6 naturalidade de movimento na mrisica. Portanto, isto nio 6 apenas uma convenqio cultural. Tamb6m mencionei durante essa minha apresentagio o fascinio que tenho pelos profetas do AT. De maneira particular, estremego quando leio o chamado do profeta Isaias. Fico imaginando como seria estar no lugar de Isaias e sentir a presenga da santidade de Deus. Vamos recordar: No ano da morte do reiUzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto,

com duas cobria os seus p6s e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo 6 o Senhor dos Ex6rcitos; toda a

terra est6 cheia da sua gloria. As bases do limiar se moveram a voz do que clamava, € n casa se encheu de fumaga. Entio, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de l6bios impuros, habito no meio de um povo de impuros l6ios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Ex6rcitos! Entio, um dos serafins voou para

mim, trazendo na m6o

uma brazaviva, que tirara do altar com uma tenaz (Is 6: I-7).

Fizemos, ap6s a leitura do texto de Isaias, um segundo experimento, no qual foi tocado o "Forrozio Santo'i de Matheus Carrijo e Banda. Na realidade, esta mirsica 6 o mesmo forr6 j6 mencionado, s6 que desta vez cantado com uma letra extraida do texto de Isaias. Apesar disso, o efeito da mrisica continua basicamente o mesmo, fora certo desconforto e estranhamento causado pela presenga da letra sacra. Por6m, vamos considerar que por algum motivo descuidado ou perverso comeg6ssemos a usar este forr6 cantado em nossas igrejas. Isto mudaria alguma coisa? Diz Harold Best: "Quanto mais uma pega music aI e repetida no mesmo contexto, mais ela vai comeg ar a 'ser' aquele contexto"2' (BEST, L993, p. 54). Esse fendmeno nos faz recordar o prov6rbio

2t

" The

more a piece of music is repeated in the same context, the more it will begin to 'meAn' that

" Esta afirmaqao indica o processo de massificagao musical t6o comum na sociedade e tamb6m nas igrejas. A massificaqio musical religiosa merece um estudo cuidadoso, pois o

context

gosto pode estar sendo manipulado de maneira deturpada.

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Bases Bfblicas da Adoraqio

popul at: "agua mole em pedra dura, tanto bate, at6 que fural' Uma mentira repetida passa a ser aceita como verdadeira. No entanto, ela continua sendo

mentira. O que muda

6 apenas nossa

percepgio desse fato.

Krtffmrprmffm%ffi ffi w Krxffmrprmffm rxffm O controverso pensamento de |ean-|acques Nattiez (1990) sobre semiologia musical parece ter sido de alguma forma incorporado a pr6tica musical religiosa contempori.nea. Em sintese, Natti ez drz que mesmo aquilo que pode ser chamado de mrisica 6 o que as pessoas escolhem reconhecer como tal, e seus

significados s6o constituidos por um processo interpretativo aberto (BOWMAN, 1998, p.201). Alguns tdm se apropriado desta ideia paru drzer que qualquer tipo de mrisica pode ser usado na igreja, j6 que seu significado depende do individuo e n6o h6 nada na mfsica em si que possa sugerir um significado mais especifico. Dessa forma, o significado da mtisica seria totalmente subjetivo.

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Nattiez faz uma aplicagao e mrisica da teoria semi6tica tripartida de Charles Peirce. Nesta teoriahi trds elemetrfos: signo - interpretante "signo 6 uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. - objeto. Ele s6 pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma outra coisa diferente dele" (SANTAELLA, 1983, p. 53) .la o interpretante 6 definido como o efeito interpretativo produzido pelo signo na mente humana. Santaella apresenta trds niveis b6sicos de interpretantes, que considera fundamentais para que haja uma interpretagio. O primeiro nivel 6 um "interpretante interno" ao signo, seu potencial interpretativo ainda em um nivel abstrato. O segundo 6 o do "interpretante dinAmico", o efeito do signo em um int6rprete. O interpretante dinAmico tem uma dimensio psicol ogrca, e pode ser dividido em trds niveis: emocional, energ6tico e 16gico. O terceiro nivel 6 o "interpretante final", que seria o resultado interpretativo. Este resultado interpretativo 6 considerado como teortz6vel, mas nio inteiramente alcang6vel, pois depende dos interpretantes dindmicos do signo sejam levados ao seu limite irltimo, o que nio 6 possivel (SANTAELLA , I9B3; 2004a; 2004b). Um dos principais problemas da teoria de semiologia musical de Nattiez 6 com relagio ao interpretante. Na visdo de Nattiez h6 infinitos interpretantes musicais e, consequentemente, infinitos significados possiveis. Mas h6 outros pontos muito controversos em Nattiez como, por exemplo, sua afirma qeo de que "semiologia nio 6 a cidncia da comunicagio"

Natureza e implicaq6es da musica para a adoraqio

(NATTIEZ, 1990, p. 15). Se isso for verdade, especialmente com relagl,o ir mtisica sacra, tudo o que resta 6 apenas um ritual subjetivo. Voltando ao assunto do interpretante, 6 importante esclarecer que o interpretante nio 6 o significado ou a rcfer,0ncia. O interpretante n6o 6 o int6rprete e nio 6 a interpretagio. "O interpretante 6 aquilo que garante a validade do signo ainda que na ausdncia do int6rpretd' (ECO, 2008, p. I7).Downirg oferece o seguinte exemplo did6tico para compreendermos melhor o que 6 o interpretante. Imagine um le6o em um zoologico; o le6o 6 um objeto e o simples fato de estar em um zoologico significa que ele 6 signo de algo, caso contr6rio, nio haveria necessidade de coloc6-lo ali. Alguns veem o le6o como uma imagem inspiradora de dignidade; outros veem o 1e6o como um grande gato, fofinho; e ainda hd os que veem o leio como um predador feroz. Isto n6o significa que cada pessoa escolhe interpretar o leio de maneira diferente. Quer drzer que cada pessoa v0 o signo de maneira diferente. Novamente, o interpretante ndo 6 "interpretagdo" nem "int6rprete" (DOWNING,2012,p.200). David Lidov faz uma dura critica i recusa de Nattie z ao reconhecer gu€, frequentemente, partilhamos estrat6gias de interpret agdo e que temos experiOncias comuns mesmo com obras de arte de dificil compreensdo (LIDOV 1999, p. 64-65).Isto est6 relacionado ao que Eco (201 I,p. 31-82) dtz sobre -d. aspectos b6sicos e universais trorsa capacidade perceptiva e interpretativa: Estou, no entanto, convencido de que certamente existem nog6es comuns a todas as culturas, € que todas elas referem-se ds posigdes de nosso corpo no espago. Somos animais de postura ereta, por isso 6 cansativo permanecer muito tempo de cabega para baixo e, portanto, temos uma nog6o comum de alto e baixo, tendendo a privilegiar o primeiro sobre o segundo. Igualmente temos noq6es de direita e esquerda, do estar parado e do caminhar, do estar em p6 ou deitado, do arrastar-se e do saltar, da vigilia e do sono. Como todos temos membros, sabemos o que significa bater em uma mat6ria resistente, penetrar uma substincia mole ou liquida, esmagar, tamborilar, amassar, chutar, talvez at6 dan gar.A lista poderia continuar indefinidamente e compreender o ver, o ouvir, comer ou beber, ingurgitar ou expelir. E certamente todo homem tem nog6o do que significa perceber, recordar, sentir desejo, medo, tristeza ou alivio, prazer ou dor, e emitir sons que exprimam estes sentimentos. Portanto (e ja entramos na esfera do direito), temos concepgdes universais acerca

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Bases Bfblicas da Adoraqao

do constrangimento: n6o desejamos que algu6m nos empega de faIar, ver, ouvir, dormir, engolir ou expelir, tr para onde quisermos; sofremos se algu6m nos amarra ou nos mant6m segredados, nos bate, fere ou mata, nos sujeita a torturas fisicas ou psiquicas que diminuam ou aumentem nossa capacidade de pensar.

60

Vamos consid erar a seguinte hist6ria: em um ambulat6rio estd sendo usada mrisica cl6ssica instrumental de andamento lento paraajudar a acalmar pacientes que v6o fazer exames invasivos, exames que normalmente geram ansiedade. A estr ategia est6 dando bons resultados, at6 que uma paciente ouvindo a mfsica em meio a um procedimento tem uma crise nervoso, € toda a equipe m6dica 6 chamada de forma emergencial para tentar conter a situagao. A paciente ainda chora e est6 um pouco desconsertada, mas o risco de um AVC j6 passou. Quando a equipe m6dica pergunta d paciente o que aconteceu, sua resposta surpreende a todos. Ela dtz que a mfsica que ouviu fez com que se lembrasse de seu falecido pai, que gostava muito de ouvir este tipo de mrisica. Neste caso, a lembranga que a mrisica trouxe do falecido pai atuou como um poderoso interpretante. Mesmo assim, oas caracteristicas musicais n6o foram alteradas e n6o podemos afirmar que a experidncia vivida por esta paciente invalida toda pesquisa que jifoifeita sobre o uso terapdutico da mfsica.

Da mesma forma ococorre na igreja. A experidncia de conversio 6 comumente formada por um conjunto de eventos dramSticos, que podem envolver tamb6m a mrisica. Muitas vezes a mirsica em questio pode nio ter as melhores caracteristicas, mas como a mirsica possui uma forte capaqdade associativa pode marcar a experidncia de convers6o. Isto tamb6m nio invalida aquilo que j6 sabemos sobre as propriedades musicais. E curioso notar que muitos dos que defendem a neutralidade moral da mtisica s6o os primeiros a drzer que sua mrisica converteu algu6m. Tal afirmagao 6 incoerente e mal informada. De certa forma, isto seria o mesmo que ter a expectativa de que jumentas v6o sempre falar, como na hist6ria de Balado (Nm 22:2L-35). Nao podemos limitar o poder e a vontade de Deus. Deus 6 livre para fazer o que quiser, e h6 hist6rias muito curiosas sobre conversdes em situag6es inusitadas, incluindo mirsicas que ningu6m imagin arra que poderiam ser usadas na conversdo de qualquer pessoa. No entanto, nio podemos esquivar-nos de fazer escolhas coerentes.

n importante ressaltar que Nattie z tem interessantes e proveitosas colocag6es tamb6m. Uma dessas 6 que o discurso music aI e uma metalinguagem. Como a mirsica n6o 6 um objeto, geram-se algumas das dificuldades

Natureza e implicaq6es da musica para a adoraqio

de examin6-1a em termos semi6ticos. Por6m, essa dificuldade n6o pode ser motivo suficiente para simplesmente n6o se fazer nada; ou pior, apenas usar os sentimentos e a intuiqao parafazer escolhas de mrisicapara a igreja. "Ora, o fim de todas as coisas est6 pr6ximo; sede, portanto, criteriosos e s6brios e bem das vossas oraq6es" ( l Pe 4:7).

ffi qffiffi tmpffirffm ffiffi ffiffisffm Em tempos recentes,

se

tornou popular a ideia de que o que importa 6 o

gosto pessoal em relagio a musica da igreja.Isso 6 um tanto subjetivo, pois o argu-

mento de que uma pessoa convertida tem um gosto musical santificado 6 muito frigl. Sabemos que cada um de n6s que aceitou a |esus Cristo como salvador pessoal est6 em uma determinada etapa da caminhada cristi, e certamente nenhum de n6s ji alcangou tal nivel de purific aqdo como aconteceu com Enoque, visto que 'hndou Enoque com Deus e j6nio era,porque Deus o tomou para si" (Gn 5:24). A caminhada do cristio tamb6m nio 6 uma linha reta em constante ascensSo. Todos possuem altos e baixos. "Porque nem mesmo compreendo o meu pr6prio modo de agir, pois nio fugo o que p{efiro, e sim o que detesto' (Rm 7:I5). Vamos examinar alguns dos motivos de as pessoas gostarem tanto de mtisica. Em primeiro lugar, gostamos do que nos 6 familiar. E,sta familiaridade com a mrisica 6 especialmente formada na infAncia e adolescdncia. Mesmo no ritero da m6e o feto 6 influenciado pela mfsica que ouve. O sistema auditivo do feto est6 amplamente desenvolvido em apenas 20 semanas. Um experimento demonstrou que criangas reconhecem e preferem a mrisica que ouviram enquanto estavam no irtero da mie (LEVITIN, 2007, p. 223224). Portanto, se eu controlo o que voc6 ouve, posso influenciar o seu gosto ou atd mesmo controlar e manipular o seu gosto musical. Por exemplo, na igreja adventista v6rias quest6es controversas sobre estilos musicais e uso de instrumentos, como a bateria, foram primeiramente aceitas e praticadas em produg6es musicais para criangas. Esse fator, naturalmente, tem uma forte influOncia em determinar o gosto musical das criangas que ouviram estas produg6es musicais e se tornaram jovens e adultos. O segundo ponto 6 que gostamos daquilo que temos acesso. Aqui, estamos falando de nivel de acesso ir educagio e cultura (SEREN, 2011, p. 57-5S). Uma pesquisa recente reahzada pelo Ibope indicou quais os estilos musicais mais ouvidos no r6dio. A16m de indicar que o estilo musical mais ouvido no Brasil 6 o sertanejo, ? pesquisa revelou que os estilos gospel e funk sio mais

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ouvidos pelas classes sociais C, D e E, apontando que h6 uma relaqio entre gosto musical e classe social e, por consequ€ncia, o acesso d educ aq6o e a cultura. O estudo aponta que 3\o/o dos que ouvem funk tamb6m ouvem mirsica gospel, enquanto os ouvintes de mfsica gospel, apena s 22o/o ouvem funk. "Para 43o/o dos funkeiros, diz a pesquisa, o presente 6 o mais importante, nio se planejando tanto parao futuro" (FOLHA DE S. PAULO, 2013)." Nio vou me deter na curiosa relagdo de gosto musical apontada por esta pesquisa entre os estilos gospel e funk. Meu objetivo 6 destacar como o acesso ao bem cultural pode determinar n6o s6 o gosto, mas um modo de vida com s6rias implicag6es morais. Vamos considerar garotas adolescentes de uma 'tomunidade" qu. gostam de funk. O funk, em grande parte, trata a mulher como um objeto de prazer sexual do homem. Por qual raz\,o garotas adolescentes iriam consumir este tipo de mtisica e aceitar esse tratamento desumano? A antropologa britAnica Mary Douglas, autora do livro O Mundo dos Bens (1990), afirma que'b consumo 6 nada mais que um ritual, pois pode fixar significados. [. . .] os rituais t€m o papel de perpetuar as condutas sociais por um determinado tempo ou, pelo menos,trazer estabilidade e permandncra a elas" (SEREN,2011,p.56). Novamente, S€ 6 po$sivel controlar o acesso das pessoas aos bens culturais, 6 possivel n6o somente controlar seu gosto musical, mas em grande parte moldar seu comportamento. "Deixem-me escrever as cang6es de um a naq6o, € nio me importarei com quem escreve suas leis"'3 nacionalista irlandds (1775-1847). - Daniel O'Connell, Gostamos daquilo que n6o nos incomoda. Afinal de contas, ningu6m gosta de ter seus pecados repreendidos. Tamb6m gostamos daquilo que agrada ao paladar, o "doce'1 E, mais factl, exige menos, gostar de uma mirsica que nio requer uma mediagao reflexiva, que n6o exija algum conhecimento previo para compreend6-1a. E, mais ficrl gostar de coisas de consumo imediato (OLNEIRA, 20L2).'o E mais fdcil gostar de uma mfsica alegre que diga que 22 Ver "Rock e MPB s6o estilos de classes A e B; funk e gospel, de C, D eE, diz Ibope'] disponivel em: . Acesso em 7 nov. 2014. 23 "Let me write the songs of a nation, and I care not who makes its laws." Esta citaqao tem sido atribuida a diferentes autores, como, por exemplo, Andrew Fletcher (1655-I716), ativista politico escoc€s. Independentemente de quem disse esta frase, ela revela um interessante insight sobre a capacidade da mirsica em influenciar o comportamento humano. 24 Ver meu texto: "Massificaqio musical e a perda da individualidade: implicaq6es para a educagio musical" (OLIVEIRA, 2012). Nesse artigo, destaco como a simplificaqao musical encomendada pela Revolugio Francesa pode ser considerada um importante exemplo de massificaql,o musical/cultural ocorrida muito antes que houvesse midia de massa. A ideia era justamente de uma mirsica que nio exigisse nada do ouvinte para consumi-la.

Natureza e implicaqdes da musica para a adoraqao

eu sou importante do que de uma que nos faqarefletir acerca da realidade de nossa condigio espiritual e moral. E mais agradavel pensar no c6u do que na Cruz. Mas nio hd c6u sem Cruz.

Gostamos daquilo que nos traz aceitagio social. Um determinado esti1o musical 6 muitas vezes consumido nem tanto pela mirsica em si, mas pelo estilo de vida associado a este estilo musical que oferece status e permite acesso a um determinado grupo, em um processo chamado neotribalismo, intimamente associado e criagdo de identidades midi6ticas (SEREN, 20II, p. 52). Carvalho (L999) aponta que a questio da massificagao musical midiStrca tem implicag6es n6o somente musicais, mas apresenta em seu discurso extramusical uma sedugao nas imagens publicitdrias e cinem atogrSficas que cria a ilusdo do ouvinte poder'tompartilhar uma vida em comunidade com pessoas que sio a cada dia menos acessiveis". "Nota-se que n6o se trata, em exclusividade, do consumo de determinado estilo musical, mas do estilo de vida, o caminho identitdrio que constr6i novas redes de sociabilidade" (SEREN, 2011, p. 52). 'At6 certo ponto, nos entregamos i mfsica quando a ouvimos - nos permitimos confiar nos compositores e mfsicos com uma parte de nosso coraql,o e espirito; permitimos que a mtisica nos leve a um lugar fora de n6s mesmos" (LEVITIN, 2007, p. 2a2, tradugao hvre). tt Finalmente, gostamos daquifo que nos d6 prazer. Pesquisadores, a exemplo de Levitin (2007), colocam grande dnfase neste aspecto, afirmando que gostamos de mrisica justamente por que ela nos confere prazet Uma batida ritmica previsivel (regular) contribui para envolver fisicamente e emocionalmente o ouvinte. Em v6rios estilos de mfsica o sentido ritmico que faz com que a cangio tenha dinamismo 6 chamado de"groove"'6. O groove e a maneira como os ritmos s6o subdivididos e acentuados. E,stil relacionado com o int6rprete e a performance, n6o com o que est6 escrito na partitura. Aquilo que 6 chamado de emogio musical depende muito de se saber qual e a pulsagio. A parte do c6rebro intimamente relacionada com a coordenaqio motora do movimento do corpo e com o processo de temporruageo (medida de tempo) 6 o cerebelo (LEVITIN, 2007,p. 170-L74). O cerebelo fazparte do que 6 popularmente conhecido como "c6rebro reptiliano", que juntamente com o sistema limbico form a o clrebro "emocional", em contrapartida com o 2s "To a certain extent, we surrender to music when we listen to it - we allow ourselves to trust the composers and musicians with a part of our hearts and our spirits; we let the music take us somewhere outside of ourselves." 26 O groove nl,o 6 algo limitado bateria e acontece tambem em outros instrumentos. No entanto, a bateria como essencialmente ritmica tem uma naturalidade para fazer groove.

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Bases Bfbljcas da Adoraqao

neoc6rtex que forma o c6rebro "racional". Estudiosos do comportamento humano, muitas vezes se referem ao c6,rebro emocional como "acelerador" e ao c6rebro racional como "freio'l E interessante destacar que o centro da raz\,o, o c6rebro racional, s6 alcanga seu desenvolvimento pleno entre os 19-30 anos de idade (SOWE,LL, 1999). Portanto, adolescentes com toda sua carga de horm6nios possuem muito "acelerador" e pouco "freio". Pois bem, o ouvido interno possui filamentos que o conectam diretamente ao cerebelo, sem passar pelo c6rtex auditivo. Isso est6 relacionado ao nosso sistema de orientagio baseado em estimulos sonoros. Esses pontos do cerebelo conectados diretamente ao ouvido interno tamb6m t€m projeg6es para o 16bu-

lo frontal. Resumindo, ouvir mris ica, especialmente mfsica de ritmo intenso, mant6m atividade continuada no cerebelo e na gAnglia basal, ativando o centro do sistema de recompensa do c6rebro, que tem um importante papel no prazer e no vicio/depend0ncia, com a liber aqdo do neurotransmissor dopamina. Nossa resposta emocional ao groove acontece via ouvido - cerecircuito limbico ao inv6s de ser via nucleus accumbens belo

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clrcuito do c6rtex auditiv6. Nossa resposta ao groove 6 em grande parte pr6-consciente ou inconsciente, porque o groove passa diretamente para o cerebelo e nio pelo lobulo frontal (LEVITIN ,2007, p. 189- 192, traduqio livre).27

ouvido

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-

Seria a isto que Ellen G. Whttefazreferdncia quando falado envolvimento jovens com a mrisica? "Os jovens tdm um ouvido apurado para a mrisica,e dos Satan6s sabe quais 6rgios excitar paru animar, absorver e encantar a mente de maneira tal que Cristo nio 6 desejado' (WHITE, 1948a, p. 497 , tradugio livre)." O groove 6o sentido ritmico total da canq6o, mas 6 em grande parte comandado pela percussio e especialmente pela bateria. Fica evidente que um estimulo musical que desperta nossas emog6es, mas que 6, "pr6-consciente" ou "inconsciente'i pois n6o 6 mediado pelo centro da raz6o, deveria despertar no minimo alguma precaugio em n6s. Thmb6m precisamos levar em consideragdo como isso afetaos jovens e adolescentes que ainda n6o t6m pleno desenvolvimento do 27 "This emotional response to groove occurs via the ear - cerebellum - nucleus accumbens auditory cortex circuit. Our response to groove is largely Iimbic circuit rather than via the ear pre- or unconscious because it goes throwgh the cerebelum rather than the frontal lobes." 28 "They [the youth] have a keen ear for music, and Satan knows what organs to excite to animate, engross, and charm the mind so that Christ is not desired. The spiritual longings of the soul for divine knowledge, for a growth in grace, are wanting."

Natureza e implicaq6es da mf sica para a adoraqio

centro da razdo. Vejamos como

apegam a certos estilos musicais, e se estivessem viciadas. O con'quanto selho biblico 6: aos moqos, de igual modo, exorta-os para que, em todas as coisas, sejam criteriosos" (Tt 2:6). Nio estamos encorajando nossos jovens a serem prudentes quando dtzemos que tudo n6o passa de uma questio de cultura, de gosto, que tudo 6 v6lido, que o uso da bateria 6 apenas uma questio visual.2e Isto, ern um primeiro momento, pode ser ingenuidade, mas se torna perversidade, com o acariciamento da ignorAncia. Os inrimeros usos, fung6es, manifestag6es e efeitos da mrisica na sociedade e no ser humano 6 uma das principais justificativas para a educagio musical. Vivemos rodeados por mrisica; os jovens, principalmente, passam horas e horas a cada dia ouvindo mfsica. Atualmente, mais do que em quals6o incapazes de

as pessoas se

ouvir qualquer outra coisa, como

quer outro tempo, temos grande acessibilidade

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mfsica.

E esta ficll acessibilidade e mrisica que torna imperativa uma orientageo educacional que seja dada aos jovens para ajudf-los na formulagio de um julgamento com relagio ao uso e qualidade da mri.sica. A musica serve muitas fung6es e 6 somente atrav6s da edu-

cagio que uma perspectiva pode ser desenvolvida para capacitarnos a avaliar a mrisica q". ouvimos dentro de uma variedade de situaq6es e condigoes (ABELES, L984, p. 95). Se isso 6 verdade dentro de um contexto secular, e muito mais importante e relevante dentro do contexto da religiio. Nio existe um atalho para alcangarmos uma melhor compreensdo sobre a mirsica e como us6-la de maneira proveitosa. A igreja tambdm deve ser um lugar de educagio musical. Com esse

pensamento, ofereqo minha definigdo de mirsica: a mrisrca e um fen6meno acristico percebido somente no c6rebro. Ela pode ser usada para expressar sentimentos e ideias e tem efeitos neurol6gicos, psicol6gicos e fisiol6gicos.

&pffmm pffirffi f,mxffir d$sff$m%ffiffi O mundo no qual vivemos nio 6 puramente fisico, mas simbolico. O simbolico envolve todo processo cultural humano, incluindo a arte e a religiao. 2e Recentemente, visitei uma igreja adventista na qual a bateria 6 usada dentro de um "aqu6rio" de vidro espelhado. Assim, ningu6m vd o instrumento.

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Bases Bfblicas da Adoraqio

De maneira muito peculiar a religiao apresenta diversos simbolismos: o sdbado, o santu6rio, a noivo, o dragao, nS profecias, dentre muitos outros. Se nio tivermos compreensio destes simbolismos, eles n6o ter6o significado paran6s, e passamos a viver uma religiao de

ritual subjetivo, de sentimento e intuigio.

Assim como na religiio, "precisamos saber o que a mtisica quer drzer, para compreender o que n6s queremos dizer atravls dela. O saber deve agora preceder o puro sentimento e a intuiqio' (HARNONCOURT, 19g8, p.2B). Somos convidados a aprender a fazer distingio: "E nio vos conformeis com este s6culo, mas transformai-vos pela renovagio da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradilvel e perfeita vontade de Deus" (Rm L2:2). "Provando sempre o que e agraddvel ao Senhor" (Ef 5:10). Ellen G. White tem s6rias considerag6es sobre isso: Quando o Senhor exige que sejamos distintos e peculiares, como podemos desejar popularidade ou querer imitar os costumes e

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prdticas do mundo? [...] Nao devemos elevar o nosso padrio apenas um pouco acima do padrdo do mundo, mas devem os fazer esta distingio decididamente Sparente. A raz|,o pela qual temos tdo pouca infludncia sobre nossos familiares e colegas 6 por que existe tao pouca diferenga entre nossas pr6ticas e as do mundo

(WHITE, 1948c, p. 1 43 e r46-L47, tradugio livre).3.

Como fazer, contudo, essa distingio na mrisic a? Dizem que nio existe tal coisa como um "estilo sacro em si" (DOUKHAN, 2010, p. 46). Ent6o, n6o poderiamos simplesmente usar qualquer mirsica? Vamos examinar alguns aspectos que contribuem para a santificagio ou sac rahzaqd,o. Consideremos primeiramente o que torna o s6bado um dia santo. Naturalmente h6 o mandamento biblico dado pelo proprio Deus: "Lembra-te do dia de sdbado, para o santifi car t. . .] porque, em seis dias, fez o Senhor os c6us e a terra, o mar e tudo o que neles hd e, ao s6timo dia, d.escasou; por isso, o Senhor abengoou o dia de s6bado e o santificou" (8" 20:8, ll). p.rguntamos: existe algo no dia de sdbado em si que o torna diferente e distinto dos outros seis dias? H6 mais de 24 horas no s6bado? O sol nasce de outra 30 "When the Lord requires us to be distinct and peculiar, how can we crave popularity or seek to imitate the customs and practices of the world? [...] We are not to elevate oir standard just a little above the world\ standard, but we are to make the distinction decidedty apparent. The

reLson we have had so little influence upon unbelieving relatives and associates is that there has been so little decided diference between our practices and those of the worldl'

Natureza e implicaq6es da musica para a adoraqio

cor neste dia sagrado? A resposta para estas perguntas 6 um simples "nio'1 Nas 24 horas deste dia nio h6 nada diferente das 24 horas dos outros dias da semana. Na essdncia do mandamento somos convidados a lemb rar do s6bado e a santificd-lo. S5.o nossas escolhas que ir6o santificd-lo ou n6o. S5o as escolhas de pensamentos, conversas e comportamentos gu€, na pratica, santificam o s6bado. Elas s6o pautadas em grande parte no contraste entre o que fazemos nos outros seis dias. Para que o s6bado seja santo e especial, escolhemos fazer neste dia diferente o que nio fazemos nos outros dias. Na inauguragio do templo feito por Salomdo, a Biblia nos drz que'bs sacerdotes estavam nos seus devidos lugares, como tamb6m os levitas com os instrumentos mfsicos do Senhor, que o rei Davi tinha feito para deles se utilizar nas aq6es de gragas ao Senhor" (2Cr 7:6, it6licos acrescentados). A lista de instrumentos musicais feitos por Davi inclui: liras, harpas, cimbalos sonoros, cornetas e trombetas3l (1Cr 15:16-28).32 Nenhum destes instrumentos musicais, mesmo na lingua original, tem em seu nome qualquer indrcagio de serem diferentes de outras liras, harpas, cimbalos sonoros, cornetas e trombetas. N6o temos informag6es especificas sobre isso, por exemplo, se Davi realmente mandou fazer instrumentos musicais para serem usados exclusivamente na mtisica sacra. Essa 6 uma possibilidade. Por6m, o mais plausivel 6 considerar que a maneira como od instrumentos eram tocados na mirsica sacra era diferente de como eram tocados na mrisica secular. Os mrisicos levitas participavam de todo ritual de purrficaqao e santificagio pelo qual passavam os sacerdotes (2Cr 29). Certamente, isso os colocava em uma posiqio privilegiada de discernimento espiritual. Pergunto: como tratamos, atualmente, o preparo para a participagao da mfsica na igreja? Temos feito esforgo suficiente para estar aptos a possuir tal discernimento espiritual? Ou confundimos euforia e 0xtase com o espiritual e sagrado? Ellen G. White alega o seguinte sobre o processo de santificagio: 'A santificagao biblica nio consiste em forte emogio. Aqui est6 um ponto no qual muitos s6o levados ao erro. Eles fazem dos sentimentos seu crit6rio. Quando se sentem exultantes e alegres, eles proclamam que est6o santificados" (WHITE, L965, p. 10, tradug6o livre).33 31 "Cornetas" e "trombetas" nio s6o instrumentos feitos por Davi, sendo instrumentos para uso dos sacerdotes, constando em todas as listas de instrumentos musicais pr6prios para uso no templo.

32 H6 uma ausdncia peculiar nesta lista quando comparada com a lista de instrumentos da

primeira tentativa de levar a arca para |erusal6m: "tamborins" (lCr 13:8). Isto pode ser relevante ou nio. Leia uma possivel aplicagio em Dorneles (2003, p. I92-L93). 33 " Bible sanctification does not consist in strong emotion. Here is where many are led into error. They make feelings their criterion. When they feel elated or happy, they claim that they are sanctifedl'

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Bases BfbLicas da Adoraqio

Podemos ficar alegres por diversa s raz6es. Ficamos alegres quando nosso time de futebol vence um campeonato importante; quando recebemos um elogio; quando conquistamos um objetivo dificil. Grande parte da populaqio brasileira fica muito alegre durante o carnaval. Minha pergunta 6: a alegria da

salvagio em |esus Cristo 6 a mesma alegria do carnaval, uma conquista esportiva, profissional ou acadOmica? Para qualquer um que possui um minimo de compreensio do que signifi ca a salvagio em |esus Cristo, a resposta 6 um retumbante "nio"! Entio, de si consci€ncia, eu n6o posso oferecer a Deus um culto no qual minha alegria pela salvagio em fesus Cristo 6 expressa da mesma maneira que a alegria por outras coisas, mesmo que essas outras coisas sejam boas, e nem sempre este 6 o cas o. Eu preciso fazer esta diferenciaqio. A16m disso, se existe um conceito desgastado atualmente-,|justamente o conceito de amor. De qualquer forma, amamos nossos c6njuges e nossos filhos. Sei que o amor de minha esposa por mim 6 muito mais do que sentimento. Estamos juntos h6 mais de 20 anos e j6 enfrentamos muitos desafios juntos; sem o apoio de minha esposa sei que n6o seria possivel superar tantos

6B

desafios. Por mais que o amor entre esposo e esposa possa refletir o amor de Deus por n6s, nio 6 a mesma coisa. Sendo hssim, nio seria justo com a minha esposa ou com Deus se eu expressasse meu amor e gratiddo por ambos

da mesma forma. Vamos passar a eternidade estudando e tentando compreender este amor que se fez carne parahabitar entre n6s, morreu e ressuscitou paranos conceder salvagio. Algo t6o especial e importante merece cuidadosa atengao em nossas representag6es musicais. O ponto principal 6 compreender que somos o sujeito das escolhas musicais feitas paru a igreja. Nio adianta tentar encontrar um "D6" santo em si mesmo. Alguns pensam gue, como n6o existe um "D6" intrinsecamente santo, podem usar o conjunto de conveng6es musicais que caracterLzam um estilo musical qualquer de maneira indistinta na igreja. Isso 6 uma grande distorgio. Somos convidados a fazer distinqio. 56o nossas escolhas que revelam nossa compreensio do principio da santificagio. Da mesma maneira que escolhemos tornar o s6bado um dia distinto, nossas escolhas musicais devem ser diferentes da mirsica secular que nos rodeia. "Nunca deveri a a marca de distingio en-

tre os seguidores de |esus e os seguidores de Satan6s ser obliteradd' (WHITE,

p.602,tradugio livre).to Quando nossa mrisica tem o mesmo som que a mrisica secular, nio h6 distingio entre o sacro e o profano.

1948b,

34 "l,{eyer should the mark of distinction between the followers of lesus and the followers of Satan be obliterated".

Natureza e implicaq6es da musica para a adoraqio

Vimos como a mrisica pode ter significado intrinseco e extrinseco e como compositores e arranjadores podem manipular os valores musicais para criar um efeito previsivel. Vimos tamb6m que a mirsica, especialmente alguns tipos de mrisica, afeta de maneira direta aquilo que 6 chamado de c6rebro emocional, dando no ouvinte um sentido de prazer, muitas vezes comparado iquele produ ztdo por um bolo de chocolate ou narc6tico. Essa 6 uma porta aberta para uma religiio do ego, do mevprazer e do meu sentimento. Baseados nas informag6es que examinamos aqui, e essas nio sdo as irnicas, pois h6 muito mais que poderiamos examinar, 6 possivel trilhar um caminho que eduque nossas escolhas musicais paraaLgreja muito al6m de apenas basear as escolhas em sentimento, intuigdo ou informag6es distorcidas.

tmms{dmrmqffiffis ft mm$s Creio que temos colocado excessiva dnfase na mfsica como veiculo de adoragio. Posso dtzer isso por ser mfsico. Amo a mirsica de tal maneira que me dediquei profissionalmente a ela. No entanto, meu compromisso com |esus Cristo 6 maior que meu compromisso com a mfsica. N6o estou dizendo que a mirsica 6 menos importante. Apetrui estou dtzendo que h6 um desvio de foco.tt A Biblia tem inirmeras referdncias ao uso da mfsica no louvor e adoragio, mas em nenhum lugar da Biblia Deus drz que deseja mfsica ou "bajulaqaci'como expressio de louvor e adoraqdo. Muito pelo contr6rio, Ele dtz: Aborreqo, despre zo as vossas festas e com as vossas assembleias solenes nio tenho nenhum prazer. E, ainda que me oferegais holocaustos e vossas ofertas de manjares,

nio me agradarei

deles, nem

atentarei para as ofertas pacificas de vossos animais cevados. Afas-

ta de mim o estrdpito dos teus cknticos, porque ndo ouvirei as me-

3s Neste sentido, Rick Warren est6 certo quando

dLZ: "Worship is far more than music. For many people, worship is just a synonym for music. t. . .] This is a big misunderstandin{' (WARREN, 2002, p. 42). No entanto, o mesmo autor apresenta um pensamento circular impreciso quando alega que: "God loves all kinds of music because he invented it all-fast and slow, loud and soft, old and new. You probably don't like it all, but God does!" (WARREN, 2002,p.42). Nio podemos concordar com tal afirm aql,o quando sabemos que a mrisica 6 muito mais do que apenas estilo e cultura, tendo efeitos neurol6gicos, psicol6gicos e fisiol6gicos. Warren mistura

o conceito p6s-moderno de diversidade com a religiio. No entanto, mesmo Deus sendo o Deus da diversidade, nem toda diversidade 6 de Deus.

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Bases Bfblicas da Adoraqio

'::::#"f :i'#::-t,*;';i:;;,ffi :"',"ill:.ffi :1,:'""isa' Citando Isaias, fesus disse: "Este povo honra-me com os l6bios, mas o seu coraqlo est6 longe de mim. E em vio me adoram, ensinando doutrinas que s6o preceitos de homens" (Mt I5:7 -9). Deus fala novamente: Seria este o

jejum que escolhi, que o homem um dia aflija a sua alma,

incline a sua cabega como o junco e estenda debaixo de si pano de saco e cinza? Chamarias tu a isto de jejum e dia aceitSvel ao Senhor? Porventura, n6o 6 este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfagas as ataduras da servidio, deixes liwes os oprimidos e despedaces

todo jugo? Porvenfura, nio 6 tamb6m que repartas o teu pao com

o faminto, e ecolhas em casa os pobres desabrigados, e, se vires o nu, o cubras, e

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nio

te escondas do teu semelhante? (Is 58:5-7).

A par6bola das ovelhas e bodes relatada em Mateus 25:31-46 fala do julgamento final, 'quando vier o Filho do Homerh na sua majestade". Nesse evento dramitico est6 a essdncia da verdadeira religiao e da verdadeira adorag6o. |esus n6o drz "vinde, benditos de meu Pai!" aos que fizeram as mitsicas mais bonitas. Na realidade, a tem6ti ca da mrisica nem 6 mencionado aqui. A essdncia do louvor e ador aqio 6 seguir o modelo de |esus, fazendo o que Ele fez quando esteve nesta terra. "Por meio de |esus, pois, oferegamos a Deus, sempre, sacrificio de louvor, que 6 o fruto de l6bios que confessam o seu nome. N6o negligencieis, igualmente, a pritrca do bem e a mritua cooperag6o; pois, com tais sacrificios, Deus se compraz" (Hb 13:15-16). So podemos usar a mirsica de forma apropriada no louvor e adoragao se primeiramente cumprirmos as orientagOes da verdadeira religiio. Caso contr6rio, nossas escolhas redundario no prazff egoista. A mtisica em si n6o 6louvor e adoragao. A mfsica 6 apenas um veiculo para expressarmos nossa adoragao e nosso louvor a Deus. 56 podemos expressar aquilo que vivemos. Caso contr6rio, estaremos apenas "honrando a Deus com os l6bios". O discernimento espiritual para nossas escolhas musicais passa por uma vida dedicada a Deus, uma vida que 6 em si "louvor" e "adorag6o". Se nio vivermos na prSttca a religiio biblica, rlossos esforgos para usar a mrisica de maneira apropriada no louvor e adora gao ser6o

sempre insuficientes. Acredito que esse 6 um elemento importante no reavivamento e reforma de nossos cultos. E, nossa responsabilidade como

Natureza e implicaqoes da

m

usica para a adoraqio

rgreja que proclama as Tr€s Mensagens Ang6licas compreende r cada vez mais o que significa louvar e adorar a Deus na beleza da sua santidade. Nio precisamos temer, nem viver apenas pela intuigao e sentimento. Deus nos prometeu luz. Precisamos esfudar com mais afinco e fervorosa orag6o36 a Bfblia, os escritos profeticos de Ellen G. \Mhite e o que tem sido descoberto sobre a mirsica.

"Todo aquele que acredita de coragdo na palawa de Deus terifome e sede por um conhecimento de sua vontade. Deus 6 o autor da verdade. Ele ilumina a compreensio escurecida e concede a mente humana poder para alcangar e compreender as verdades que Ele revelou" (WHITE, 1965,p. 49,tradug6o liwe).3t

Nio podemos nos acomodar ou nos contentar com o que temos alcangado. Hd muito ainda o que ser descoberto. Fico imaginando a musica na eternidade. "Nem olhos viram, errr ouvidos ouviam, nem jamais penetrou em coagio humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam" ( l Co 2:9). Este processo de descoberta comega aqui na Terra. Vamos usar a mrisica com inteligdncia espiritual para suavizar e alegrar nossa jornada nessa vida passageira; vamos cantar com o espirito, mas tambdm com o entendimento (lCo 14:15); vamos memorLzar a Palavra de Deus atravls da mrisica; vamos usar a mfsica para dominar nossa nature za grosseira e inculta (WHITE, 2003, p. 167); e vamos continuar crescendo na Graga do Senhor |esus Cristo.

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