Negação sentencial e o sistema CP (parte 3) - Adjuntos e escopo negativo

July 24, 2017 | Autor: R. Cavalcante de ... | Categoria: Semantics, Syntax, Negation, Adjuncts
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Negação sentencial, adjuntos e escopo negativo1 Rerisson Cavalcante (USP, FAPESP, CAPES) Curso: Negação sentencial e o sistema CP. PPGLL-UFBA, 15 de dezembro de 2011 1. Ambigüidade de escopo negativo Sentenças com adjuntos causais: (i) negação do predicado (N-Pred) ou (ii) negação do adjunto (N-Adj). (1)

a. Maria num foi promovida porque é negra.

(Nega-Pred ou N-Adj)

b. ‘Maria não foi promovida e o motivo disso foi ser negra’.

(N-Pred)

c. ‘Não foi por ser negra que Maria foi promovida’.

(N-Adj)

N-Pred: duas curvas prosódicas distintas. N-Adj: curva prosódica única. Com adjuntos finais: (2)

a. O BC num baixou os juros para combater a inflação.

(N-Pred ou N-Adj)

b. ‘O BC não baixou os juros e o objetivo foi combater a inflação’

(N-Pred)

c. ‘O BC baixou os juros, mas o objetivo não foi combater a inflação’ (N-Adj) Com adjuntos temporais (especialmente durativos): (3)

a. Ele num dormiu por três horas.

(N-Pred ou N-Adj)

b. ‘Foi por três horas que ele não dormiu’.

(N-Pred)

c. ‘Não foi por três horas que ele dormiu’.

(N-Adj)

No inglês (Lasnik 1972): (4)

a. George doesn’t beat his wife because he loves her. G.

(5)

AUX-NEG

(N-Pred ou N-Adj)

bater sua esposa porque ele ama ela

b. ‘George não bate na esposa e o motivo disso é porque ele a ama’

(N-Pred)

c. ‘George bate na esposa, mas não porque a ama’

(N-Adj)

a. I didn’t attend the scheduled lectures on many ocasions.

(N-Pred ou N-Adj)

eu AUX-NEG comparecer DET programadas palestras em muitas ocasiões b. ‘Em muitas ocasiões, eu não compareci às palestras’.

(N-Pred)

c. ‘Eu compareci às palestras, mas não em muitas ocasiões’.

(N-Adj)

Na lógica: lei de Morgan: (6)

Lei de Morgan a. Representação lógica: ¬ (A ∪ B) = (¬ A) ∩ (¬ B) Representação textual:

1

não (A e B) = (não A) ou (não B)

Este handout corresponde a uma versão resumida do contéudo do capítulo 4 da minha tese de doutorado, intitulada Derivação de construções negativas pós-XP no português brasileiro, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Semiótica e Lingüística Geral da USP, com financiamento da FAPESP (processo número 2008/00073-0).

1

b. Representação lógica: ¬ (A ∩ B) = (¬ A) ∪ (¬ B) Representação textual:

não (A ou B) = (não A) e (não B)

Ambigüidade com quaisquer marcadores pré-VP: marcadores pré-Iº (português, espanhol, italiano) e marcadores pós-Iº (inglês, alemão, holandês, francês). (7)

a. Jean ne parle pas à cause de son ami. J.

NEG

(Hagemeijer & Santos 2003)

fala NEG por causa de seu amigo

b. ‘É por causa de seu amigo que o João não fala’

(N-Pred)

c. ‘Não é por causa de seu amigo que o João (não) fala’

(N-Adj)

Comportamento distinto em línguas com [Neg VP Neg]: (8)

a. João num falou (a verdade) por causa do seu amigo.

(Ambígüa: N-Pred ou N-Adj)

b. ‘João não falou a verdade e o motivo disso foi o seu amigo’ (N-Pred)

(9)

c. ‘João falou a verdade, mas não por causa do seu amigo’

(N-Adj)

a. João num falou (a verdade) não, por causa do seu amigo.

(Não-ambígüa: N-Pred)

‘João não falou a verdade e o motivo disso foi o seu amigo’ b. João num falou (a verdade) por causa do seu amigo não.

(Não-ambígüa: N-Adj)

‘João falou a verdade, mas não por causa do seu amigo’ 2. Análises prévias para a ambigüidade de escopo negativo 2.1. Transformação Not Shift e Regra prosódica Lasnik: discussão de duas propostas Alternativa I: Determiner Theory: negação gerada: (i) diretamente sob a categoria de Aux(iliar); (ii) ou como modificador do adjunto. No caso (ii), há transformação Not Shift para deslocar a negação para Aux. (10) a. I don’t attend class often.

(N-Pred ou N-Adj)

eu AUX-NEG assistir aulas freqüentemente b. ‘Freqüentemente, eu não assisto as aulas’

(N-Pred)

c. ‘Eu assisto as aulas, mas não freqüentemente’

(N-Adj)

Lasnik (1972: 60): (11) a.

b.

2

(12) a. George doesn’t beat his wife because he loves her.

(N-Pred ou N-Adj)

Estrutura profunda de N-Pred: [S [NP George ] [VP not Aux beat his wife ] [AdvP because... ] ] ] ] Estrutura profunda N-Adj:

[S [NP George ] [VP Aux beat his wife ] [AdvP [Det not ] because... ] ] ] ]

Problemas da determiner theory: (i) a interpretação é definida apenas em DP, não é afetada pelo movimento; (ii) não consegue explicar as diferenças prosódicas; as regras prosódicas se aplicam após Not Shift, quando as estruturas sintáticas são idênticas Alternativa II: Pre-S Theory. Negação pode ser gerada (i) sob Aux; (ii) em posição pré-sentencial, com fronteamento do adjunto do VP e regra de reajuste para a negação ser interpretada como modificadora do adverbial. (13) a. Not often does John pass a test.

(Lasnik 1972: 33)

b.

c

Pre-S Theory gera (14), que não são ambíguas, e (15), que são ambígüas, mas não explicita a ambigüidade. (14) a. Not often does John pass a test.

(N-Adj)

b. Not often do I cut astronomy class.

(N-Adj)

(15) a. John didn’t pass a test often.

(N-Pred ou N-Adj)

b. I don’t cut astronomy class often.

(N-Pred ou N-Adj)

Lasnik (1972): postulação de regra prosódica que atribuiria à sentença contornos entonacionais diferentes, resultando, assim, em diferentes interpretações semânticas. Regra fonológica com repercussões semânticas. 2.2. Escopo negativo, ordem linear e c-comando Huang (1982): diferenças de escopo no chinês como conseqüência de diferença na ordem e no c-comando. (16) Chinês (Huang 1982: 111-112) a. Zhangsan meiyou [ yínwei tá pioliang ] jiehum. Z.

NEG

porque ela linda

(N-Adj)

casar

‘Zhangsan se casou, mas não por ela ser linda’ b. Zhangsan [ yínwei tá pioliang ] meiyou jiehum. Z.

porque ela lindaNEG

(N-Pred)

casar

‘Zhangsan não se casou e o motivo foi ela ser linda’

3

Huang (1982): no inglês, diferenças de c-comando apesar da ordem idêntica. (17) a. John didn’t show up always. J.

AUX-NEG

(N-Pred ou N-Adj)

(Huang 1982: 145)

aparecer PART sempre

b. John [ [ didn’t [ show up ] ] always ]

(N-Pred)

‘Sempre, John não aparece’ c. John [ didn’t [ [ show up ] always ] ]

(N-Adj)

‘Nem sempre João aparece’

Proposta semelhante: Takubo (1985) sobre as diferenças entre o japonês e o inglês quanto ao escopo negativo. Questão: mas que razão haveria para considerarmos que o adjunto está realmente em posições diferentes. Considere-se o LCA (Kayne 1994). 4.2.3. C-comando e adjunção ao VP ou ao TP Johnston (1994): because sentences podem se adjungir livremente ao VP ou ao IP. (18) a. Marty didn’t sell his bike because the gears were broken. (N-Pred ou N-Adj) ‘Marty não vendeu sua bicicleta porque a marcha estava quebrada’ b. Negação de adjunto

c. Negação de predicado

‘Marty vendeu sua bicicleta, mas não porque a marcha

‘Marty não vendeu sua bicicleta e o motivo foi porque a

estava quebrada’

marcha estava quebrada’

Johnston (1994): três argumentos I) Quando o adjunto ocorre à esquerda da sentença, N-Pred é permitida. (19) Because the gears were broken, Marty didn’t sell his bike.

(N-Pred)

‘Porque a marcha estava quebrada, Marty não vendeu sua bicicleta’ II) Em elipse de VP, o adjunto pode ser apagamento junto com o VP ou deixado intacto. (20) a. If Marty sold his shares because the Market was unstable, then Leopold did. ‘Se Marty vendeu suas ações porque o mercado estava instável, então Leonard também (vendeu).

4

b. If Marty sold his shares because the market was unstable, then Leopold did because the profits were high. ‘Se Marty vendeu suas ações porque o mercado estava instável, então Leonard vendeu porque os lucros estavam elevados’ III) Adição de uma tag question (formadas por elipse de VP) forçam leitura N-Adj. (21) a. Marty didn’t sell his bike because the gears were broken, did he?

(N-Adj)

b. Marty didn’t [VP sell his bike because the gears were broken], did he [ VP sell his bike because the gears were broken]? 3. Problemas para a análise de (ausência de) c-comando 3.1. Licenciamento de anáforas em adjuntos Anáforas no adjunto são licenciadas nas duas leituras. O adjunto deve ser c-comandado pelo sujeito. (22) a. Theyi didn’t do this because of each otheri. Theyi did it despite each otheri.

(N-Adj)

‘Eles não fizeram isso por causa um do outro. Eles fizeram isso apesar um do outro’

b. Theyi didn’t do this because of each otheri. They gave up in the last minute.

(N-Pred)

‘Ele não fizeram isso por causa um do outro. Eles desistiram no último minuto’ Possível objeção: a depender da noção de c-comando, o sujeito em Spec,TP c-comanda um adjunto do TP. 3.2. Línguas em que NegP domina TP A análise de Huang (1982) e Jonhston (1994) pressupõe que a negação não esteja em posição mais alta que Iº/Tº. Laka (1990): parametrização na seleção das projeções funcionais. TP/IP domina NegP em inglês; NegP domina IP/TP em basco. Previsão: línguas com [NegP [ TP]] não apresentariam ambigüidade. A previsão falha. (23) a.

b.

Mioto (1992) e Namiuti (2008): em PB, NegP domina IP/TP. Martins (1994), E. Martins (1997) e Fonseca (2004): TP domina NegP; mas ΣP/PolP) domina TP.

Mioto (1992): três argumentos: (i) quantificador/advérbio negativo pré-verbal dispensa o marcador pré-verbal; (ii) e pode licenciar NPIs pós-verbais; (iii) TP pode ser elidido em PB com preservação da negação.

5

(24) a. Ninguém (*não) comprou nada. b. Nada (*não) aconteceu. c. Ele nunca (*não) foi à Bahia. (25) a. Pedro agrediu João, mas Paulo não agrediu João.

(elipse de TP)

b. Pedro não agrediu João e Paulo também não agrediu João.

(elipse de TP)

c. Mary bought a book and Peter didn’t buy a book.

(elipse de VP)

d. * Mary has bought a book and Peter has not buy a book.

(elipse de TP)

Previsão: (26) não deveria ser ambígüa, mas é. (26) a. Maria num foi promovida porque é negra. b.

(N-Pred ou N-Adj) c.

Uma chance para a análise de c-comando: duas soluções possíveis: (i) Mioto (1992), Namiuti (2008) etc estão errados: em PB, TP domina Neg assim como em inglês; (ii) NegP domina TP, mas o adjunto se adjunge a uma categoria mais alta (a NegP ou a CP). Veremos os problemas das duas soluções. 3.3. Sujeitos negativos Mesmo que TP domine NegP, um sujeito negativo em Spec,TP teria escopo sobre o adjunto. Ambigüidade não deveria ocorrer. (27) a. Ninguém saiu por sua causa.

(N-Pred ou N-Adj)

b. ‘Foi por sua causa que ninguém saiu’

(N-Pred)

c. ‘Não foi por sua causa que (eles) saíram’

(N-Adj)

(28) a. No student left because of the test. b. ‘Foi por causa do teste que nenhum estudante saiu’.

(N-Pred ou N-Adj) (N-Pred)

c. ‘Não foi por causa do teste que os estudantes saíram’ (N-Adj) E se NegP domina TP, mas o adjunto é adjungido a NegP, há a mesma previsão (incorreta). Sobre apenas a alternativa de adjução ao CP. Veremos o problema dessa última solução.

6

3.4. Controle em adjuntos PRO precisa ser c-comandado pelo licenciador. Se um PRO ligado ao sujeito ocorre no adjunto, o a adjunto precisa ser c-comandado. Previsão (incorreta): adjuntos em CP não licenciariam PRO. (29) a. Negação de predicado

b. Negação de adjunto

PRO em adjuntos ligado ao sujeito (30) a. I1 gave Scruffy a biscuit (in order) __1 to keep him quiet. eu deu S.

um biscoito em ordem para manter ele quieto

‘Eu dei um biscoito a Scruffy para mantê-lo quieto’ b. Calvin1 braced himself before/after __1 racing down the hill. C.

abraçar ele.mesmo antes/depois descer abaixo ladeira

‘Calvin preparou-se antes/depois de descer ladeira abaixo’ (van Urk 2010: 41) Em sentenças negativas, ambigüidade permanece. (31) a. I1 didn’t give him a biscuit (in order) __1 to keep him quiet (N-Pred ou N-Adj) eu AUX-NEG dar ele um biscoito em ordem para manter ele quieto ‘Eu dei não um biscoito a ele e o motivo foi para mantê-lo quieto’

(N-Pred)

‘Eu dei um biscoito a ele, mas o motivo não foi para mantê-lo quieto’ (N-Adj) b. Calvin1 didn’t braced himself before __1 racing down the hill. (N-Pred/N-Adj) C.

AUX-NEG

abraçar ele.mesmo antes descer abaixo ladeira

‘Antes de descer ladeira abaixo, Calvin não se preparou’

(N-Pred)

‘Calvin preparou-se, mas não antes de descer ladeira abaixo’

(N-Adj)

No PB: (32) a. Maria1 num foi promovida porque __1 é negra. b. Maria1 num foi promovida por __1 ser negra.

(N-Pred ou N-Adj) (N-Pred ou N-Adj)

(Cf. Ferreira (2000; 2004), Rodrigues (2004) e Nunes (2008, 2010) sobre o sujeito nulo de sentenças encaixadas finitas do PB se comportar como PRO controlado).

7

Além do controle em adjuntos, licenciamento de anáforas em adjuntos também é argumento contra adjunção ao CP. Mais uma chance: afrouxamento do requerimento de c-comando para licenciamento de anáforas e PRO. 3.5. Outras formas negativas acima de TP Dois casos em que um item negativo é gerado acima de toda a sentença I) Inversão negativa (negação no Spec,CP): (33) a. Never has Mary got a promotion because she is black. (N-Pred ou N-Adj) nunca AUX M. conseguir uma promoção porque ela é negra ‘Mary nunca ganhou uma promoção e o motivo foi por ela ser negra’ (N-Pred) ‘Ser negra nunca foi a causa para Maria ganhar promoções’

(N-Adj)

b. Never has Mary got a promotion because of her father. (N-Pred ou N-Adj) nunca AUX M. conseguir uma promoção porque de seu pai ‘Mary nunca ganhou uma promoção e o motivo foi o seu pai’

(N-Pred)

‘O pai de Maria nunca foi a causa para ela ganhar promoções’

(N-Adj)

No PB e PE: (34) a. Nunca teriam os meninos feito isso por sua causa.

(N-Pred ou N-Adj)

b. ‘Os meninos nunca fariam isso e a causa disso é você’.

(N-Pred)

c. ‘Você nunca seria a causa para os meninos fazerem isso’.

(N-Adj)

II) Coordenação com conjunções negativas: (35) Negação de predicado ou negação de adjunto a. Neither did John leave because of you nor did Mary come because of me.

(N-Pred ou N-Adj)

b. Neither John left because of you nor did Mary come because of me2.

(N-Pred ou N-Adj)

‘Foi por sua causa que John não saiu; e foi por sua minha causa que Mary não veio’ ‘Não foi por sua causa que John saiu; e não foi por minha causa que Mary veio’

(N-Pred) (N-Adj)

Em português: (36) Negação de predicado ou negação de adjunto a. Nem João saiu por minha causa nem Maria ficou por sua causa.

(N-Pred ou N-Adj

b. ‘Não foi por minha causa que João saiu; não foi por sua causa que Maria ficou’

(N-Adj)

c. ‘Foi por minha causa que João não saiu; foi por sua causa que Maria não ficou’

(N-Pred)

(37) a. Nós não deveríamos ter vindo. Nem João saiu, por MINHA causa, nem Maria ficou, por SUA causa. Nós só fizemos atrapalhar os planos deles. (N-Pred) b. Pare de ficar se culpando. Nem João saiu por minha causa, nem Maria ficou por sua causa. Eles já tinham planejado e queriam fazer isso independentemente da nossa presença. 2

(N-Adj

Há falantes que preferem a inversão do auxiliar apenas na segunda sentença da coordenação, mas não na primeira.

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4. Línguas com marcadores de negação pós-VP Com [Neg VP Neg], o adjunto pode preceder ou seguir o segundo marcador e isso determina o escopo. (38) a. Maria num foi promovida porque é negra.

(N-Pred ou N-Adj)

b. Maria num foi promovida não, porque é negra.

(N-Pred)

‘Maria não foi promovida e o motivo disso foi por ela ser negra’ c. Maria num foi promovida porque é negra não.

(N-Adj)

‘Maria foi promovida, mas não por ela ser negra’

O mesmo ocorre em outras línguas com [Neg VP Neg], como o são-tomense. (39) a. Zon na Z.

ka tlaba

NEG APS

fa tudu plaman.

(N-Pred)

trabalhar NEG toda manhã

‘Toda manhã, Zon não trabalha’. b. Zon na Z.

ka tlaba

NEG APS

tudu plaman fa.

(N-Adj)

trabalhar toda manhã NEG

‘Nem toda manhã Zon trabalha’ (Hagemeijer 2007: 232-233)

(40) a. Zon na ka fla fa plôvya migu



(N-Pred)

Z. NEG ASP falar NEG porque amiga POSS ‘Zon não fala por causa da amidg dela’ b. Zon na ka

fla [plôvya tudu inen kwa se] fa

(N-Adj)

Z. NEG ASP fala porque todo DEM coisas NEG ‘Não é por causa de todas essas coisas que ela não fala’3. (Hagemeijer 2007: 236) Mesmo em [Neg VP Neg], permanece a relação entre prosódia e escopo: (i) duas curvas entonacionais com N-Pred e (ii) uma curva única com N-Adj. Contra análise de regra fonológica determinando semântica independentemente da estrutura sintática (cf. Lasnik 1972). Proposta: sintaxe determina prosódia e semântica. Questões com relação ao escopo em [Neg VP Neg]: (41) a. O que determina as ordens [Neg VP Adj Neg] e [Neg VP Neg Adj]? b. Qual a relação entre a posição do não pós-VP e o escopo?

3

Hagemeijer (2007) aponta que, diferentemente de outras línguas, em são-tomense, uma sentença como (80)b, com um adjunto causal, não possui a leitura de negação exclusiva do adjunto, mas apenas a de negação simultânea do adjunto e do predicado. Nisso, é possível considerar que as sentenças causais do são-tomense diferem das sentenças com outros adjuntos, pois os exemplos em (78) e (79) permitem a leitura de negação do adjunto com exclusão do predicado.

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5. Concatenação, adjunção e rotulação Na Teoria de Regência e Ligação, o principal instrumento para gerar as diferenças de escopo era a postulação de diferenças nas relações estruturais de c-comando e de dominância (cf. Huang (1982) e Johnston (1994)). No modelo atual, temos outras alternativas. Proposta de Hornstein & Nunes (2008) e Hornstein (2009) sobre adjunção sem rótulo. Objetivo: capturar a distinção entre argumentos e adjuntos na teoria de Bare Phrase Structure (doravante BPS). Na teoria X-barra clássica: adjuntos não modificam o nível barra, argumentos modificam. (87) [XP adjunto [XP adjunto [XP argumento [X’ adjunto [X’ adjunto [X’ X compl. ] ] ] ] ] ] Chomsky (1995): condição de inclusividade e teoria X-barra em termos de Bare Phrase Structure. (88) [X adjunto [X adjunto [X argumento [X adjunto [X X compl. ] ] ] ] Não há mais meios adequados de distinguir adjuntos e argumentos.

Hornstein & Nunes (2008): inversão da pressuposição de que o licenciamento de adjuntos seja estruturalmente mais complexo do que o de argumentos: a adjunção é a operação mais simples do sistema computacional, sujeita a menos requerimentos. Hornstein & Nunes (2008): decomposição da operação de merge em: (i) concatenação (concatenate) e (ii) rotulação (labeling). Argumentos exigem concatenação e rotulação. Adjuntos exigem apenas concatenação. Seqüência concatenada X^Y não é um objeto atômico e não está acessível às demais operações computacionais. (89) a. Concatenar X a Y b. X^Y Rotulação torna X^Y um objeto atômico, acessível às demais operações computacionais. (90) a. Concatenação: X^Y b. Rotulação: [X X^Y] Em (91), o constituinte [X X^Y] é acessível a outras operações computacionais, mas seqüência [ X X^Y]^Z não é acessível, pois não é um constituinte. (91) [X X^Y]^Z Vantagens: explica movimento opcional de adjuntos com o predicado modificado. Exemplo: movimento de VP. (92) a. John could [ eat the cake in the yard ] and [ eat the cake in the yard ] he did. b. John could [ eat the cake in the yard with a fork ] and [ eat the cake in the yard with a fork ] he did. c. John could [ eat the cake in the yard with a fork in the afternoon ] and [ eat the cake in the yard with a fork in the afternoon ] he did. d. It was [ kick Fred in the yard ] that John did.

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e. It was [ kick Fred in the yard at noon ] that John did. (exemplos adaptados de Hornstein & Nunes 2008) (93) a. John could [ eat the cake in the yard ] and [ eat the cake ] he did [ in the yard ]. b. John could [eat the cake in the yard with a fork ] and [ eat the cake in the yard ] he did [ with a fork] c. John could [ eat the cake in the yard with a fork in the afternoon ] and [ eat the cake in the yard with a fork ] he did [ in the afternoon ]. d. It was [ kick Fred ] that John did [ in the yard ]. e. It was [ kick Fred in the yard ] that John did [ at noon ]. (exemplos adaptados de Hornstein & Nunes 2008) As sentenças em (93) e (94) são problemáticas para a teoria do movimento e para as análises sobre adjunção . Violam princípio A sobre ª Adjunção a outras categorias não dá conta de (94). (94) a. John ate the cake in the yard with a fork in the afternoon, and [ eat the cake in the afternoon ], he should have in the kitchen, with a spoon. b. John ate the cake in the yard with a fork in the afternoon, and [ eat the cake with a fork ], he should have in the kitchen in the morning. (adaptado de Hornstein & Nunes 2008: 74-75) Hornstein & Nunes (2008): (95) a. John could eat the cake in the yard with a fork in the afternoon. b. [V eat^the-cake ]^in–the–yard ^with–a–fork ^in–the–afternoon Adjungos “carregados” com o VP estão concatenados e rotulados. (96) a. [V [V eat^the-cake ]^in-the-yard ] b. [V [V [V eat^the-cake ]^in-the-yard ]^with-a-fork ]

(= (92)a) (= (92)b)

c. [V [V [V [V eat^the-cake ]^in-the-yard ]^with-a-fork ]^in-the-afternoon ] (= (92)c) d. [V [V kick^Fred ]^in-the-yard ]

(= (92)d)

e. [V [V [V kick^Fred ]^in-the-yard ]^at-noon ]

(= (92)e)

Adjuntos “deixados para trás” estão apenas concatenados, sem rotulação. (97) a. [V eat^the-cake ]^in-the-yard b. [V [V eat^the-cake ]^in-the-yard ]^with-a-fork

(= (93)a) (= (93)b)

c. [V [V [V eat^the-cake ]^in-the-yard ]^with-a-fork ]^in-the-afternoon (= (93)c) d. [V kick^Fred ]^in-the-yard

(= (93)d)

e. [V [V kick^Fred ]^in-the-yard ]^at-noon

(= (93)e)

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6. Derivando as possibilidades de escopo negativo 6.1. Sentenças com negação pré-VP A proposta de Hornstein & Nunes (2008) sobre a opcionalidade na atribuição de rótulo ao resultado da operação de adjunção pode ser adotada para explicar a ambigüidade de escopo negativo em sentenças com adjuntos verbais. Assim como a rotulação torna um adjunto visível para operações gramaticais como movimento, pronominalização e elipse, ela também tornaria o adjunto visível para o escopo negativo. (100) a. Maria num foi promovida por ser negra.

(N-Pred ou N-Adj)

b. Maria num foi [VP promovida ]^por-ser-negra.

(N-Pred)

c. Maria num foi [VP [VP promovida ]^[PP por^ser^negra ] ]

(N-Adj)

A proposta dá conta dos casos problemáticos apresentados anteriormente. Sentenças com sujeitos negativos são ambígüas por causa da presença ou ausência da rotulação, independentemente do c-comando. (101) a. Ninguém saiu por sua causa.

(N-Pred ou N-Adj)

b. Ninguém saiu [VP saiu ]^por-sua-causa c. Ninguém saiu [VP [VP saiu ]^por-sua-causa ]

(N-Pred) (N-Adj)

Casos de itens negativos acima de toda a sentença, como casos de inversão negativa também são ambígüas por causa da presença ou ausência da rotulação, independentemente do c-comando. (102) a. Never has Mary got a promotion because she is black. (N-Pred ou N-Adj) b. Never has Mary [VP got a promotion ]^because-she-is-black

(N-Pred)

c. Never has Mary [VP [VP got a promotion ]^because-she-is-black ] (N-Adj) Não é necessário postular adjunção a diferentes projeções funcionais. Adjuntos causais e finais podem ser regularmente gerados no VP (i.e. vP), o que é compatível com a idéia de que o Vº mais alto (i.e. o v-zinho) introduz argumentos com a função de agentes e “causadores”. Os casos de elipse de VP com apagamento opcional dos adjuntos, apresentados por Johnston (1994) como argumento para adjunção ao VP ou ao TP, podem ser derivados pela presença ou ausência do rótulo a integrar o adjunto ao VP. (103) a. If Marty sold his shares because the Market was unstable, then Leopold did. b. If Marty sold his shares because the market was unstable, then Leopold did because the profits were high. (104) If Marty [V [V sold his shares ]^because-the-Market-was-unstable ], then... ... Leopold did [V [V sell his shares ]^because-the-Market-was-unstable ] ]. (105) If Marty [V sold his shares ]^because-the-Market-was-unstable, then... ... Leopold did [V sell his shares ]^because-the-profits-were-high.

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Análise da elipse de VP em termos da opcionalidade da rotulação faz previsão correta quanto a N-Adj em sentenças negativas com tag questions (geradas por elipse de VP) só poderem ter N-Adj. (106) a. Marty didn’t sell his bike because the gears were broken, did he?

(N-Adj)

b. Marty didn’t [VP [VP sell his bike ]^because-the-gears-were-broken ] ... ... did he [VP sell his bike]^ because the gears were broken]? Mais argumentos para a análise do escopo definido pela rotulação: topicalização de VP com o adjunto: N-Adj. (107) a. Ser demitido por falar a verdade, você num vai.

(N-Adj)

b. ‘Falar a verdade não será motivo para você ser demitido’

(N-Adj)

c. # ‘Falar a verdade será o motivo para você não ser demitido’ (N-Pred) (108) a. Ganhar a eleição por ser bonita, ela num vai.

(N-Adj)

b. ‘Ser bonita não será a causa para ela ganhar a eleição’

(N-Adj)

c. ‘Ser bonita será a causa para ela não ganhar a eleição’

(N-Pred)

Johnston (1994) cita (110), com o adjunto à esquerda e leitura única N-Pred, como argumento para adjunção ao TP.. Isso prevê (incorretamente) ambigüidade se o sujeito for negativo. (110) Because the gears were broken, Marty didn’t sell his bike.

(N-Pred)

‘Porque a marcha estava quebrada, Marty não vendeu sua bicicleta’ (111) a. Because the gears were broken, nobody sold his bike.

(N-Pred)

b. Because of the test, nobody / no student left the room.

(N-Pred)

c. Por causa dos grevistas, ninguém entrou na FFLCH.

(N-Pred)

d. Para agradar à professora, ninguém saiu mais cedo.

(N-Pred)

Proposta: em (110)-(112), o adjunto foi topicalizado e está no CP, fora do escopo negativo. (112) [CP [PP Por causa dos grevistas ] [TP ninguém entrou [VP entrou na FFLCH tVP ] 6.2. Sentenças com [Neg VP Neg] Ordem [Neg VP Neg Adj] é gerada por movimento da sentença para Spec,AstP a partir de estrutura sem rotulação do adjunto, que é “deixado para trás”. (114) a. [Neg VP Neg Adj]

b. Maria num foi promovida não, por ser negra.

c. [Ast’ não [CP/TP Maria num foi [VP promovida

(N-Pred)

]] ^por-ser-negra.

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d.

Ordem [Neg VP Adj Neg] por movimento da sentença para Spec,AstP a partir de estrutura com rotulação do adjunto, que é “carregado” junto com a sentença. (115) a. [Neg VP Adj Neg] b Maria num foi promovida porque é negra não.

(N-Pdj)

c. [X não [ Maria num foi [VP [VP promovida ]^por-ser-negra ] d.

Conseqüencia: o escopo é definido antes mesmo do movimento. A rotulação do adjunto o coloca sob o escopo da negação pré-verbal (pré-Iº). Vantagens: (i) a proposta consegue explicar a relação biunívoca entre as ordens [Neg VP Neg Adj] e [Neg VP Adj Neg] e as leituras N-Pred e N-Adj, respectivamente; (ii) a proposta trata uniformemente a definição do escopo negativo em sentenças ambígüas com [Neg VP] e em sentenças não-ambígüas como [Neg VP Neg]; (iii) a prosódia e a interpretação semântica são derivadas da estrutura sintática.

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