NEOPLATONISMO COMO EXPRESSÃO DO HERMETISMO: Uma chave para novos paradigmas

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NEOPLATONISMO COMO EXPRESSÃO DO HERMETISMO:
Uma chave para novos paradigmas

Filipe Alberto da Silva[i]

Para que a alma se torne numa coisa bela e boa, tem de se tornar igual a
Deus, porque do divino provém todo o Bem e toda a Beleza.
Plotino, Enéada I, 6.



RESUMO

Este artigo tem por objectivo assinalar uma nova leitura do Neoplatonismo.
É reconhecida, por autores como André Chastel, na obra Marcile Ficin et
L'art (1954), entre outros, a importância que teve o neoplatonismo do
Renascimento na formação artística de figuras como Leonardo, Miguel Ângelo
e Boticelli, entre outros. O que não é tão conhecido é o facto de o
neoplatonismo conter na sua filosofia elementos do hermetismo. Deste modo,
é legítimo falar num "neoplatonismo como expressão do hermetismo". Este
texto vem colmatar uma lacuna: a influência que o hermetismo teve no
pensamento da Antiguidade e do Renascimento e o seu contributo para a
criação de novos paradigmas na arte europeia do renascimento, o Maneirismo.


Palavras-Chave: Hermetismo, Neoplatonismo, Arte, Marsílio Ficino, Prisca
teologia


1. Introdução ao Hermetismo como advento de novos paradigmas

A passagem, da autoria de Plotino, que apresentamos na introdução
deste artigo: "Para que a alma se torne numa coisa bela e boa, tem de se
tornar igual a Deus, porque do divino provém todo o Bem e toda a
Beleza[1]", não deixa de evocar uma passagem hermética: "Se não te fizeres
igual a Deus, não poderás compreendê-lo: porque apenas o semelhante
compreende o semelhante[2]". É a similitude entre estas duas correntes de
pensamento que proponho desenvolver neste texto.


O filósofo e historiador Eugenio Garin vê no hermetismo o advento do
Renascimento. Para ele, é graças ao Hermetismo que a transformação de uma
concepção do mundo e do Homem foi possível. No Do Discurso sobre a
Dignidade do Homem (1480), Giovani Pico della Mirandola (1463 - 1494) cita
uma passagem do corpus hermeticum[3]: "Certamente, Asclepio, gran milagre
he o homem[4]". Trata-se de uma "viragem filosófica", uma mudança no
sistema de pensamento a que os historiadores denominaram de
"Renascimento[5]". Essa viragem também se deu de igual modo nas artes.
Procurou-se por um lado a afirmação do estatuto do artista enquanto Homem
capaz de compreender os fundamentos da natureza, e por outro a idealização
da natureza através da interpretação pessoal do artista[6].
O filósofo Theodor W. Adorno (1903 – 1969), na sua Teoria Estética
(1968), utiliza o termo "hermético" para designar o carácter da arte como
uma "renúncia de qualquer utilidade ou mesmo de qualquer sublimação do
significado humano[7]". A Arte hermética é. para o filósofo, o que está
"inteiramente envolvido na lógica intrínseca da imagem e que rigorosamente
exclui qualquer utilidade social". Continua afirmando que o comum da arte
hermética é a sua obscuridade, a sua ininteligibilidade. Esta
característica não é para Adorno uma fraqueza, mas, antes, uma força.
Quando a arte renuncia aos mecanismos da estrutura social, cria uma força
para a crítica, um estímulo para a mudança social: "Os trabalhos herméticos
trazem mais crítica social em relação àqueles que silenciosamente
compactuam com a indústria cultural florescente[8]". Adorno valoriza assim
o hermetismo como força para a crítica social e cultural, salientando o seu
potencial revolucionário. Citamos o filósofo para sustentar a ideia que o
hermetismo promove uma mudança de paradigma.
Gerin e Adorno concordam com o facto da filosofia hermética criar as
condições para uma mudança de paradigma. Ela afasta-se da dicotomia entre
"bem" e "mal"; privilegia um profundo optimismo nos poderes latentes do
Homem; promove a concordância entre diferentes sistemas de pensamento; e
obriga a um reajuste constante do seu próprio sistema pela aglomeração de
outros. Em suma, a filosofia hermética tem muitos ingredientes para
contribuir para uma mudança de paradigma[9].

2. Fontes dos textos herméticos


A figura mítica de Hermes Trismegisto e os textos que lhe são
atribuídos são o produto do sincretismo da filosofia da natureza Helénica
(nomeadamente o Aristotelismo, o Platonismo, o Estoicismo e as doutrinas
Pitagóricas) com a mitologia Egípcia. Parece impossível distinguir de forma
sistemática e concreta um conteúdo doutrinal de acordo com a origem do
hermetismo, e assim identificar a sua essência filosófica e teológica. Todo
o clima intelectual do período intelectual helénico era caracterizado por
uma atitude de "vale tudo[10]". Para ilustrar esta ambiência, apresento uma
passagem da carta do imperador Adriano (76 – 138) para o seu cônsul Lucius
Iulius Ursus Servianus (46/47 - 136), relativa às terras de onde os textos
herméticos eram originários:

Aqui, [Egipto do século II] os servidores de Serapis são
cristãos, e aqueles que se auto-denominam bispos cristãos também
servem Serapis. Aqui não existe nenhum líder de uma sinagoga,
Samaritano ou presbítero cristão que não seja também um astrólogo, um
adivinho e um charlatão[11].


Na filosofia hermética, a unidade do espírito divino deixou a sua
pegada na multiplicidade dos fenómenos terrestres; como resultado, todos os
fenómenos que aconteciam na esfera celeste e na esfera terrestre eram
percebidos como estando interligados. O célebre adágio hermético "o que
está em baixo é como o que está em cima, o que está em cima é como o que
está em baixo[12]" é disso mesmo expressão viva.
Contudo, esta doutrina de correspondência entre dois mundos não era
exclusiva dos hermetistas. Estas ideias circularam de facto no pensamento
do Antigo Egipto, mas também na filosofia grega da natureza, e encontramo-
la de forma sistemática e elaborada, por exemplo, no conceito estóico da
simpatia universal e na cosmologia neoplatónica[13]. Embora, como já vimos,
a origem dos escritos herméticos seja controversa, um grande estudioso do
corpus hermeticum, o padre dominicano André-Jean Festugière (1898 – 1982)
chega a conclusão que os textos são uma articulação de ideias gregas e
helénicas, surgida num meio intelectual neoplatónico, considerando os
elementos egípcios meramente decorativos. Opondo-se a Festugière, o
egiptólogo B. H. Stricker (1910-2005) afirma que os textos herméticos são
na verdade egípcios no seu conteúdo, mas com uma forma exterior grega[14].
Por outro lado, Jean Pierre Mahé (1944 - ) acredita que os textos
herméticos são um conjunto de máximas aglomeradas fora do pensamento
egípcio[15].
A procura de uma única fonte para os textos herméticos é, como vimos,
uma tentativa condenada ao fracasso. O carácter intrinsecamente sincrético
destes escritos, fruto de um processo de fusão intelectual (paradigma comum
no Egipto Greco-romano), torna difícil a tarefa de extrair uma única forma
de pensamento. Não obstante, uma pesquisa detalhada poderá isolar uma
influência Iraniana, Judaica, Gnóstica, Neoplatónica e Egípcia[16]. Defendo
a ideia que grupos de intelectuais do mundo helénico, enraizados na
tradição platónica, utilizaram os textos herméticos como exercício e
desenvolvimento das suas doutrinas. Jâmblico é uma dessas figuras[17].
.


3. Neoplatonismo e Hermetismo na Antiguidade

O texto da Antiguidade De Mysterii, de Jâmblico (245 - 325), filósofo
fundador da escola neoplatónica Síria, é um bom exemplo da mistura de
várias correntes filosóficas: neste caso, caldeia, egípcia e grega. Neste
esforço sincrético, existe um paralelo evidente entre o platonismo, a
teologia caldeia e o hermetismo. Na introdução da tradução espanhola (Sobre
Los Misterios Egipcios, 1997), o investigador Enrique Ángel Ramos Jurado
salienta a heterogeneidade de uma filosofia sincrética que procura uma
unidade de pensamento na diversidade da forma: "Esta obra é uma sábia
combinação de platonismo, teologia caldeia e fundamentalmente de teologia
egípcia[18]".
Hermes Trismegisto é, para Jâmblico, o detentor da sabedoria do Antigo
Egipto[19], o guardião do conhecimento do primeiro povo que dialogou com os
deuses. De facto, ele era considerado como o "único protetor da verdadeira
ciência dos deuses[20]". Jâmblico relembra que os grandes nomes da
filosofia grega, como Pitágoras, Platão, Demócrito, Eudoxo e muitos outros,
foram todos iniciados na antiga sabedoria egípcia. Na tradição do diálogo
grego entre mestre e discípulo, neste caso entre as personagens de Abamon e
Anebo, Jâmblico, associado ao personagem de Abamon, responde aos seus
discípulos: "Se propões alguma questão filosófica, também esta ser-te-á
interpretada, de acordo com as antigas estelas de Hermes[21], que o próprio
Platão e antes dele, Pitágoras, estudaram minuciosamente na sua totalidade
para criar a sua filosofia[22]".
Em resposta ao seu discípulo face a uma questão sobre o livre
arbítrio, Jâmblico inspira-se numa passagem do Poimandres[23] sobre a
duplicidade do Homem[24]:

Pois bem, dizes que a "maioria dos egípcios fazem depender o nosso
livre arbítrio do movimento dos astros". Devo explicar-te em mais
detalhe este conceito, tomando por base as concepções herméticas. O
homem segundo estes escritos tem duas almas: uma deriva da causa
primeira inefável, que também participa do poder do demiurgo, e a
outra, engendrada a partir dos movimentos dos corpos celestes, na qual
penetra a alma que contempla a divindade [25].


De Mysterii é um bom modelo da integração da filosofia hermética na
doutrina neoplatónica. Neste texto, percebe-se a elevada importância
atribuída a Hermes Trismegisto. Segundo Jâmblico, Hermes é identificado com
a divindade egípcia Thot[26], ou Tahuti, deus da medicina e do
conhecimento. Thot era o escriba, aquele que registava todas as acções dos
mortos e dos vivos para que pudessem ser julgados segundo os seus registos.
Também era o revelador da vontade divina ao Homem, isto é, o intermediário
entre os homens e os deuses, atributo que o Hermes grego também partilha.




4. Controvérsia das Fontes dos textos herméticos e o seu platonismo

A filosofia hermética era tida como uma antiga teologia inspirada pelo
Espírito Santo. Hermes Trismegisto era considerado pelos renascentistas
como uma figura contemporânea de, ou mais antiga ainda que, Moisés. Hermes,
embora pagão, gozava de grande prestígio no seio do Humanismo cristão. Era
considerado o anunciador da vinda de Cristo, a figura pagã que anunciava o
fim do politeísmo e o início do monoteísmo cristão. Esta ideia é
essencialmente sustentada pela autoridade dos pais da Igreja como Clemente
de Alexandria (150 – 215), Lactâncio[27] (240 – 320) e Santo Agostinho (354
– 430). Estudar os textos herméticos era estudar a origem e a fonte do que
viria a ser o cristianismo para os eruditos do Renascimento Italiano.
Entre 1612 e 1614, o erudito helenista Isaac Casaubon[28] (1559 -
1614) prova que os textos herméticos não poderiam provir do Egipto e serem
anteriores ou contemporâneos de Moisés. O surgimento de nomes como o
escultor Fídias, muito posterior a Moisés, e de outras obras posteriores
são para ele argumentos seguros para a datação dos textos herméticos[29]. A
partir dessa data, o Hermetismo perde a sua autoridade enquanto texto
antigo, mas continuará a gozar de um forte interesse por parte de
esoteristas e eruditos até à actualidade[30].
Casaubon provou, através da análise linguística, que os textos
atribuídos a Hermes Trismegisto não eram do tempo da sabedoria dos faraós,
mas uma congregação de conceitos platónicos e cristãos escrita depois da
vinda de Cristo. Ele mostrou uma forte influência neoplatónica nos textos
herméticos. É exemplo disso a questão da essência de Deus[31]: "Se você se
refere à matéria, ao corpo ou essência, já sabe que são energias de Deus, e
que a energia da matéria é a materialidade, e a energia do corpo é
corporalidade, e a energia da essência é a essencialidade[32]". Casaubon
reconhece nesta passagem a obra De divinis nominibus (Dos nomes
divinos, sec. V ou VI) de Pseudo-Dionísio, o Areopagita, onde "a infinita
essência transcende a essência[33]".
O erudito helenista demonstra ainda um paralelo entre a passagem do
Timeu de Platão: "Ele era bom, e naquele que é bom não se gera em momento
algum inveja alguma, relativamente a coisa alguma. Sendo desprovido de
inveja, quis que todas as coisas geradas fossem o mais possível semelhantes
a ele[34]"; e a passagem do corpus "se Deus não concedeu a todos o
Nous[35], não foi por ter ciúme dos homens, pois o ciúme não vem do Alto".
Hermann Conring (1606 – 1681), intelectual alemão que também se debruçou
sobre estas questões, defende uma multiplicidade de autores, de influências
platónicas e cristãs, sem esquecer que o próprio Platão foi iniciado na
sabedoria egípcia, tal como os seus antecessores[36].


É claro que os textos de Marsílio Ficino (…) com a denominação de
Poimandres são um conjunto de textos de qualidades diferentes escrito
por diversos autores. Alguns dos textos parecem ter sido inventados e
falsamente atribuídos a Hermes pelos cristãos e outros por platónicos;
contudo, muito poucos emitem o cheiro da antiga doutrina egípcia. É
verdade, Platão pode dever a sua teologia aos egípcios. . . mas a
religião egípcia apresenta um bom número de pontos com os quais ele
aparentemente não concordaria. Até aqueles poucos trechos que dissemos
serem mais egípcios do que os restantes, não são do Hermes original ou
de qualquer escritor antigo. Todas as secções do trabalho de Casaubon
estão muito correctas[37].


Ralph Cudworth (1617-1688), filósofo inglês, membro da Royal Society
e líder dos Platónicos de Cambridge, está de acordo com Casaubon quanto ao
facto de certos textos do corpus hermeticum necessitaram de uma nova
datação, mas não concorda com ele na origem do conteúdo, pois os
platonistas e os pitagóricos, isto é, os gregos na sua generalidade,
derivam a sua doutrina do Egipto. A historiografia e crítica de Casaubon
podiam, segundo Cudworth, ser invertidas da seguinte maneira:

Devemos primeiro considerar que o pitagorismo, o platonismo e a
doutrina grega no geral eram em grande parte provenientes da sabedoria
egípcia; assim, não podemos concluir de ânimo leve que isto ou aquilo
era platónico ou grego, e por isso não era egípcio[38].


O filósofo inglês aceita os argumentos filológicos de Casaubon;
percebe o corpus hermeticum como um aglomerado de materiais díspares, sendo
alguns genuinamente egípcios. Ao contrário de Conring, é para ele possível
distinguir os textos originais provenientes do Egipto e fazer os paralelos
com a obra de platónica. Por fim, o filósofo chega à conclusão da
impossibilidade de provar que um texto tem uma influência directa ou
indirecta egípcia. Sabemos, através de Jâmblico, que Platão concebeu a sua
doutrina a partir do conhecimento que bebeu no Egipto[39].


5. Neoplatonismo e Prisca Theologia

Marsílio Ficino (1433-1499), filósofo italiano e eminente figura do
Quattrocento italiano, foi o primeiro tradutor da obra completa de Platão
(428 – 347 a. C.) para latim, em 1484. No entanto, a disponibilidade de
toda a obra platónica não significava que os renascentistas regressassem à
forma original do puro platonismo. Platão continuava a ser lido pelos olhos
dos neoplatónicos. O filósofo grego era tido em conta como um dos sábios da
Prisca Theologia (a Antiga teologia). O conceito de teologia Antiga
desenvolvida por Ficino consistia na crença que o Espírito Santo comunicava
a Revelação na multiplicidade das formas ao longo dos tempos. Para ele,
quanto mais antiga era a Revelação, mais próxima estava da fonte do
Espírito Santo. Esta doutrina desenvolveu-se pela leitura de autores
neoplatónicos como Plotino (205 – 270), Jâmblico (245 – 325) e Proclo (412
- 485)[40]. Todos esses autores convergiam na cosmovisão dos textos
atribuídos a Dionísio, o Areopagita[41]. Deste modo, Ficino pôde construir
o conceito de Prisca Theologia, cujo primeiro teólogo era Hermes
Trismegisto.
Isto explica a relevância do mosaico de Hermes Trismegisto, deus
pagão, à entrada da Catedral de Siena (Fig. 1). A sua teoria justificava a
utilização dos elementos pagãos, pois as virtudes bíblicas poderiam ser
encontradas também nos escritos clássicos. Tratava-se de uma genealogia da
sabedoria antiga que ia desde o Antigo Testamento, passando por Jesus
Cristo, que encarnava a verdade absoluta, até aos sábios pagãos que tiveram
revelações parciais desta verdade nas figuras de Hermes Trismegisto, Orfeu,
Pitágoras e Platão[42].
Ficino exaltou a figura de Hermes no texto hermético Poimandres[43]
(1463). Mais tarde, na sua profissão de fé para ser ordenado sacerdote,
renova a sua exortação ao primeiro teólogo no Chrisiana religione (1574):

A Prisca Theologia dos Gentis, lugar onde se juntam Zoroastro,
Mercúrio[44], Orfeu, Aglaephemus e Pitágoras, encontra-se por inteiro
nos livros do nosso divino Platão. Nas suas cartas, Platão anuncia que
passado vários séculos esses mistérios poderão ser revelados aos
homens […] quanto a mim, os maiores mistérios de Numénio, Fílon,
Plotino, Jâmblico e Proclo foram tratados por João, Paulo, Jeroteo de
Atenas e Dionísio o Areopagita[45].


6. Neoplatonismo e o Hermetismo no Renascimento

Seguindo os passos dos platonistas dos séculos XII, o jovem Ficino
deixara-se fascinar pela definição atribuída a Hermes Trismegisto de Deus
como "circunferência que está em toda a parte e o centro em lugar
algum[46]". Serviu-se da doutrina hermética para conciliar a ideia cristã
da criação divina com o Hermetismo e o conceito platónico do demiurgo
presente no Timeu, um esforço que por si só trai a influência de um dos
mestres platonistas da escola de Chartres, Guilherme de Conches (1080 –
1150), famoso pelos seus comentários ao Timeu.
A ligação entre o Renascimento Neoplatónico e o Hermetismo é tão
significativa que os esforços de introduzir o neoplatonismo e a filosofia
hermética nos ensinamentos da Igreja Católica Romana por Ficino e Pico
della Mirandola, seu discípulo, foram recentemente avaliados em termos de
"Reforma Hermética[47]". De certa maneira, é forçado, se não mesmo
artificial, falar do Renascimento Neoplatónico separadamente do Hermetismo
Renascentista. Seguindo Lactâncio, entre outras fontes antigas, todos os
neoplatonistas do Renascimento subscreveram o conceito da Prisca Theologia.
Assim, o corpus hermeticum, conjunto de textos atribuídos a Hermes
Trismegisto e traduzidos pela mão de Ficino para o Latim, era considerado a
mais antiga e venerável fonte de sabedoria a que se poderia ter acesso.
Segundo o investigador Cees Leijenhorst e seguindo esta ordem de ideias da
importância atribuída aos textos herméticos, seria mais justificado falar
de Hermetismo renascentista[48] em vez dos habituais Platonismo e
Aristotelismo renascentistas.
Para o historiador Eugenio Garin, a existência de traços platónicos é
bem real e evidente nos textos herméticos, "pois a recente descoberta de
certos papiros, para além de enriquecer os nossos conhecimentos das antigas
fontes herméticas, também mostrou uma indiscutível presença do texto de
Platão[49]".
Pseudo-Dionísio, o Areopagita, era para Ficino o culminar do
platonismo, por um lado, e o santo encontrado por São Paulo no Areópago de
Atenas por outro. A visão das nove hierarquias angelicais de Pseudo-
Dionísio, aceites sem qualquer restrição pelo frade dominicano Tomás de
Aquino (1225 – 1274), era parte integrante da doutrina cristã[50]. Sabemos
hoje que o Areopagita não era na verdade a pessoa convertida por São Paulo,
mas um desconhecido que escreveu As Hierarquias Celestes sob uma forte
influência neoplatónica. Nesta obra, relatam-se as nove ordens
angelicais[51] de natureza celestial agrupadas em tríades, representando
cada tríade uma das figuras da Trindade. Frances Yates (1899 – 1981) nota
que, embora essas nove esferas sejam de natureza celestial e não
configurem, por assim dizer, uma religião cosmológica, "toda esta ideia de
ordem não deixa de nos fazer recordar a religião gnóstica do cosmos, isto
é, uma experiência religiosa inerente à criação das ordens cósmicas[52]". O
gnosticismo encontra de facto paralelos com o hermetismo; o investigador
René Roques chama a atenção, no seu L'univers dionysien (1954), para esses
agrupamentos do misticismo dionisiano por um lado, e o gnosticismo,
sobretudo o gnosticismo de tipo hermético, por outro, sugerindo uma
influência do Hermetismo na concepção das hierarquias[53].
Pseudo-Dionísio, o Areopagita, será um marco para o esforço de
síntese do Renascimento pela sua utilização da teologia negativa. Para além
da sua descrição positiva da divindade e da sua relação com as nove
hierarquias de anjos e a Trindade, Dionísio expõe uma via negativa: não
existe nenhum nome para definir Deus na sua real essência. Portanto, e
seguindo esta ordem de ideias, só é possível definir a divindade por aquilo
que não é; Deus não é beleza, nem bondade, nem verdade, nada que possamos
traduzir por palavras[54].
A teologia negativa, ou a ideia da via negativa, chega ao
conhecimento de Ficino não só através da doutrina de Pseudo-Dionísio, mas
também pelo cardeal Nicolau de Cusa (1401-1464), homem que Ficino muito
admirava, considerando-o mesmo um elo na cadeia dos grandes platónicos[55].
Ficino faz uma nova tradução dos Nomes Divinos de Pseudo-Dionísio, na
qual várias passagens são dedicadas à teologia negativa, e portanto a Deus,
como algo que está para além do todo o conhecimento. Deus, diz-nos o Pseudo-
Dionísio, está acima da Beleza, da Essência, da Vida, e da Verdade, acima
de todos estes nomes, de maneira que não tem qualquer nome[56]. Ficino
comenta esta passagem fazendo uma referência a Hermes: "Estes mistérios de
Dionísio são confirmados por Hermes Trismegisto, quando diz que Deus não é
nada e no entanto é Tudo. Ele não tem nome, mas tem todos os nomes[57]". O
filósofo florentino alude à passagem do Asclépio onde Hermes proclama:

... não há esperança para que o criador da majestade do Todo, o pai e
o senhor de todos os seres, possa ser chamado por um só nome, ou mesmo
por uma multiplicidade de nomes; Deus não tem nome, ou melhor, tem-los
todos, porque ele é ao mesmo tempo o Uno e o Todo, de maneira que é
preciso nomear tudo pelo seu nome ou dar-lhe o nome a todas as coisas…
No entanto, a sua vontade é, toda ela, bondade, e esta beleza que
também existe em todos os seres, provem naturalmente da divindade de
Deus…[58]

Esta passagem é seguramente muito próxima dos escritos neoplatónicos
de Pseudo-Dionísio, o Areopagita, e é muito perceptível o entusiamo de
Ficino pelo modo como Hermes Trismegisto é referido para validar os
ensinamentos do autor neoplatónico desconhecido dos Nomes divinos.
Ficino continua dizendo que Proclo é idêntico ao Areopagita, estando
inserido numa unidade de sistema de pensamento, numa tradição religiosa que
nunca foi desmentida, e da qual todas as ideias, até as mais audazes,
continuam a ser conservadas e a circular. Em 1489 surgem os seus três
livros De Vita, sendo o terceiro, totalmente impregnado de hermetismo - o
Vita Coelitus Comparada -, não sem razão acusado de magia[59].























Considerações Finais

Através do estudo comparado das religiões, Ficino e o seu discípulo
Pico, embora com uma cronologia errada, têm o mérito de fazer confluir as
similitudes entre o sistema de pensamento do Hermetismo e o do cristianismo
neoplatónico de Pseudo-Dionísio e outros autores. O conjunto de textos
herméticos e neoplatónicos traduzidos e comentados por Ficino, posto
rapidamente em circulação na Itália e na Europa, eram na verdade uma
mensagem que visava o apelo à reforma lançada pelo movimento cultural que
caracteriza a segunda metade do Quatrrocento florentino, embebido de
hermetismo e de neoplatonismo[60].
Deixei indicações no início do artigo que o sistema de pensamento
hermético contém em si os ingredientes para uma reforma do pensamento
dominante. Este factor irá conduzir a uma construção de novos paradigmas,
como é o caso, no campo das artes visuais, do Maneirismo. Longe de poder
fechar o assunto sobre a importância do neoplatonismo e a sua estreita
relação com hermetismo, este artigo contribui para o desenvolvimento de uma
questão ainda em aberto.





Fig. 1 - Hermes Trismegisto no pavimento da Catedral de Siena.

Os dois homens, um velho de turbante e outro com véu, tipificam talvez os
homens cultos do Oriente e do Ocidente. Este admirável projeto foi colocado
na Catedral de Siena em 1488, sob a direção de Alberto Aringhieri.
Cavaleiro de São João de Jerusalém e de Rhodes, estaria muito provavelmente
familiarizado com as teorias místicas e preferências daqueles que se
esforçaram para trazer a aprendizagem, a sabedoria e a arte dos ideais
pagãos em concordância com os dogmas e da fé Cristã. A autoria do painel é
atribuída a Giovanni di Maestro Stefano (1443 – 1506)[61].


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-----------------------
[1] Plotino, Enéada I, 6

[2] Segundo Livro: Poimandres a Hermes. Trad. do autor a partir da versão
de Copenhaver.
[3] O corpus hermeticum é um conjunto de textos atribuídos à figura mítica
de Hermes Trismegisto, associado ao deus egipcio Thot. Consiste
essencialmente numa filosofia sincrética proveniente do Egipto, mas não do
Egipto dos faraós: aparece entre os séculos II e III da nossa era, período
em que aí conviviam gregos, romanos, judeus e egípcios. COPENHAVER, Brian
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English translation, with notes and introduction, Cambridge University
Press, Cambridge, 1992, p. 11.

[4] José V. de Pina Martins, Pico della Mirandola e o humanismo italiano
nas origens do Humanismo português, separata de Estudos italianos em
Portugal, nº23, Lisboa, 1964, p.125.

[5] GARIN, Eugenio; L'ermetismo del Rinascimento (1988), Trad. Bertrand
Schefer, Hermétisme et Renaissance, Editions Allia, Paris, 2001, p. 88.

[6] O Neoplatonismo, pela primazia que dá à ideia em detrimento da forma,
vai ser o movimento filosófico predilecto dos maneiristas: não procuram a
forma natural, mas uma forma mais próxima de uma ideia individual.

[7] Citado por EBELING, Florian; 2007, Op. Cit., p. 136.

[8] Ibidem: Teoria Estética, p. 145. Trad. do autor.

[9] Cfr. AA.VV.; Dictionary of Gnosis & Western Esotericism, Leiden, edited
by Wouter J. Hanegraaff, 2005, pp. 537-544.

[10] EBELING, Florian; Das Geheimnis des Hermes Trismegistos (2005), Trad.
David Lorton, The Secret History of Hermes Trismegistus, Cornell University
Press, U.S.A., 2007, p. 9.

[11] Citado por Ebeling na obra de Bernard Dietrich Haage, Alchemie im
Mittelalter (Darmstadt and Zürich, 2000), p. 63.

[12] Tábua Esmeralda. Trad. do autor a partir da versão do corpus
hermeticum de Copenhaver.

[13] EBELING, Florian; Op. Cit., 2007, p. 27.

[14] EBELING, Florian; Op. Cit., 2007, p. 30.

[15] Cfr. MAHE, Jean-Pierre, Hermès en Haute-Egypte, Les Presses De
L'Université Laval, Quebec, 1982.

[16] EBELING, Florian; Op. Cit.,., 2007, p. 31.

[17] Festugière, na introdução e no primeiro capítulo do La Révélation
d'Hermès Trismégiste III: Les Doctrines de l'Âme, Les Belles Lettres,
Paris, 1990, refere similitudes entre as doutrinas dos neoplatónicos
Numénio de Apameia (século II), Plotino (205 - 270), Porfírio de Tiro (234
— 304/309) e Arnóbio de Sica (284 - 330). Apenas referimos o caso de
Jâmblico por fazer referências directas a Hermes.

[18] JÂMBLICO; Sobre Los Misterios Egipcios, Introducción, Traducción y
Notas de Enrique Ángel Ramos Jurado, Editorial Gredos, Madrid, 1997, pp.
28.

[19] No capítulo VIII, Jâmblico refere a importância de Hermes como
guardião do conhecimento conservados em 20 mil livros, como registou
Seleuco, e trinta e seis mil e quinhentos e vinte e cinco livros, segundo
Mâneton. O número 36525 é curioso, provavelmente remetendo para os 365 dias
do ano.

[20] JÂMBLICO; Op. Cit., 1997, pp. 41.

[21] As estelas, ou tabuletas, de Thot, se por um lado parecem ser uma
simples expressão figurativa, relembramos, por outro, que as pirâmides
antes de serem pilhadas, estavam cheias de tábuas de pedra gravadas em
escrita hieroglífica. JAMBLIC; Theurgia or The Egyptian Mysteries By
Iamblichus Reply of Abammon, the Teacher To The Letter of Porphyry to Anebo
together with Solutions of the Questions Therein Contained, Translated from
the Greek by Alexander Wilder, M.D. F.A.S., The Metaphysical Publishing,
New York, 1911, Livro I, nota 6.

[22] JÂMBLICO, Op. Cit., 1997, pp. 43.

[23] Poimandres é o nome que Marsílio Ficino deu ao primeiro livro do
conjunto dos textos herméticos que ele próprio traduziu do grego para o
latim.

[24] Citação do livro I do corpus hermeticum: Poimandres. Trad. do autor a
partir da versão de Copenhaver. É por isso que, dentre todas as criaturas
da natureza, só o homem é dual, isto é, mortal segundo o corpo e imortal
segundo a alma.

[25] JÂMBLICO, Op. Cit., 1997, p. 209.

[26] O termo Thot significa "três vezes grande" ou "muito grande", ou
Trismegistos em grego. Para mais detalhes sobre esta questão, ver:
JAMBLIC; Theurgia or The Egyptian Mysteries By Iamblichus Reply of Abammon,
the Teacher To The Letter of Porphyry to Anebo together with Solutions of
the Questions Therein Contained, Translated from the Greek by Alexander
Wilder, M.D. F.A.S., The Metaphysical Publishing, New York, 1911, Livro I,
nota 1.

[27] Mercurius (Hermes) [...] foi um homem, todavia, muito antigo e muito
instruído em todo género de doutrina, que, por causa da ciência de muitas
coisas e artes, foi-lhe dado o cognome Trismegisto. Ele escreveu muitos
livros pertinentes a afinidade das coisas divinas, nos quais semeia a
majestade de um deus supremo e singular e o chama pelos mesmos nomes que
nos chamamos: Senhor e Pai. Lactâncio, Divinae Institutiones, VI.6.3-4.

[28] Anthony Grafton . Protestant versus Prophet: Isaac Casaubon on Hermes
Trismegistus:, Journal of the Warburg and Courtauld Institutes, Vol. 46
(1983), pp. 78-93.

[29] Causabon, grande conhecedor da literatura grega, encontra no corpus
hermeticum paralelos directos com o Timeu de Platão, passagens de Pseudo-
Dionísio, o Génesis e uma referencia à doutrina judaica em que o
Tetragramaton não pode ser pronunciado. Op. Cit. Anthony Grafton, 1983, p.
81.

[30] Para um aprofundamento sobre esta questão, ver: AA.VV.; Dictionary of
Gnosis & Western Esotericism, Leiden, edited by Wouter J. Hanegraaff, 2005,
p. 537.

[31] Anthony Grafton. Op. Cit., (1983), pp. 78-93.

[32] Corpus hermeticum. Cap. XII. Trad. do autor a partir da versão do
corpus de Copenhaver.

[33] Citado por Anthony Grafton. Op Copenhaver.

[34] Citado por Anthony Grafton. Op. Cit., (1983), pp. 78-93.

[35] PLATÃO; Τίμαιος, (IV a.C.), trad. Maria José Figueiredo, Timeu,
Instituto Piaget, Lisboa, 2003, 29e.

[36] Frequentemente traduzido pelo termo "Mente" para ser referir a uma
Mente divina, ou um intelecto superior, não comum a todos os homens, mas
fruto de um dom divino.

[37] Os sacerdotes Egípcios, detentores de grande sabedoria, iniciaram
personagens como Orfeu, Pitágoras e Platão. A tradição grega de procurar
conhecimentos no Egipto foi interrompida a partir do discípulo de Platão,
Aristóteles. É só séculos mais tarde, com o filósofo Ammonius Sakkas (175-
242), fundador da escola neoplatónica, que a antiga sabedoria hermética - o
conhecimento vindo do Egipto - ganha novo impulso. Cfr. EBELING, Florian;
2007, Op. Cit., p. 69.

[38] H. Conring, De Hermetica Aegyptiorum vetere et Paracelsicorumn ova
medicinal iber unus, Helmstadii 1648, cap. v, p. 46. Trad. do autor a
partir do texto de Anthony Grafton: Op. Cit., 1983, p. 88-89.

[39] CUDWORTH, Ralph; The true Intellectual System of the Universe ,
(1678), Stuttugart-Bad Cannstatt, London, 1964, p. 326. Trad do autor.

[40] Anthony Grafton. Op. Cit., (1983), pp. 78-93.

[41]O interesse de Ficino pelas obras platónicas e neoplatónicas estava
essencialmente limitada aos ensinamentos que concordavam com o
cristianismo. Cfr. AA.VV.; Dictionary of Gnosis & Western Esotericism,
Leiden, edited by Wouter J. Hanegraaff, 2005, pp. 841-844.

[42] Na realidade, sabe-se hoje que seria muito provavelmente um monge
sírio do século V ou VI de forte inspiração neoplatónica, nomeadamente de
Proclo. Era tido em grande consideração no Renascimento, acreditando-se que
seria o primeiro discípulo de Paulo, convertido ao cristianismo no
Areópago. Para mais detalhes sobre esta questão, ver KOCH, Hugo; Pseudo-
Dionysius Areopagita in seinen Beziehungen zum Neuplatonismus und
Mysterienwesen, Kirchheim, Mainz, 1900.

[43] Na época onde nasce Moisés brilhara Atlas o astrólogo, irmão de
Prometeu o físico, avô materno de Mercúrio o Antigo, cujo neto foi Mercúrio
Trismegistos. Este foi o primeiro dos filósofos que passou pela física e
pelas matemáticas para a contemplação do divino, o primeiro a tratar da
majestade de Deus, da hierarquia dos demónios, das metamorfoses da alma.
Ele é portanto o primeiro teólogo; depois dele, Orfeu obteve o segundo
lugar na teologia antiga; Aglaephemus foi iniciado no culto de Orfeu; o
teólogo seguinte foi Pitágoras cujo discípulo foi Filolau, mestre do nosso
divino Platão. Assim, uma única seita unânime da antiga teologia foi
formada pela ordem admirável destes seis teólogos, começando por Mercúrio e
terminando no divino Platão. FICINO, Marsílio, Opera, II, 1386.

[44] Trata-se do nome que Ficino deu ao primeiro livro do conjunto dos
textos herméticos que ele traduziu do grego para o latim.

[45] Mercúrio é o termo latinizado do Hermes grego.

[46] Citado por GARIN, Eugenio; Op.Cit., 2001, p. 22-23.

[47] Liber viginti quattuor philosophorum, defs. 1-2.

[48] Cfr. HEISER, James D.; Prisci Theologi and the Hermetic Reformation in
the Fifteenth Century, Repristination Press, Texas, 2011.

[49]AA.VV.; Dictionary of Gnosis & Western Esotericism, Op. Cit., 2005, pp.
841-844.

[50] Ibidem, p. 27. Trata-se dos famosos papiros encontrados em Nag Hammadi
no Egipto em 1945 por dois camponeses.

[51] YATES, Frances A; Giordano Bruno and the Hermetic Tradition, (1964),
Trad. Marc Rolland, Giordano Bruno et la Tradition Hermétique, Dervy,
Paris, 1996, p. 147. Yates refere que no seu comentário ao Liber de
Trinitate de Denys, p. 1013, que o Aeropagita era para Ficino não só o
"culmen", o culminaar do platonismo, mas também o "columen", o pilar da
teologia cristã.

[52] Obra que irá inspirar os nove níveis do Inferno da Divina Comédia de
Dante.

[53] YATES, Frances A; Op. Cit., 1996, p. 148.

[54]ROQUES, René ; L'Univers dionysien : structure hiérarchique du monde
selon le Pseudo-Denys, Aubier, Paris, 1954, pp. 240 ss.

[55] YATES, Frances A; Op. Cit.,, 1996, pp. 154-155.

[56] KLIBANSKY, R.; The continuity of the Platonic Tradition, Warburg
Institute, Londres, 1939, pp. 27, 42.
[57] Pseudo-Dionísio, Nomes Divinos, I.

[58] FICINO, p. 1034.

[59] C.H., II, p. 321 (Asclépio, 30). Trad. do autor a partir da citação de
Frances Yates.

[60] GARIN, Eugenio; Op.Cit., 2001, p. 22-23.

[61] GARIN, Eugenio; L'ermetismo del Rinascimento (1988), Trad. Bertrand
Schefer, Hermétisme et Renaissance, Editions Allia, Paris, 2001, p. 21
[62] HOBART CUST, Robert H.; The Pavement Masters of Siena: 1369 – 1562,
George Bell and Sons, London, 1901, pp- 20-23.


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[i] Doutorando em História de Arte pela Universidade Nova de Lisboa. Mestre
em Desenho pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa e Investigador da Linha
de Investigação da área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona:
Núcleo de Estudos de Filosofia, Si-*+,LMdefgklo ¶êÿ [ii]
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