NERO: BOM OU MAU IMPERADOR? RETÓRICA, POLÍTICA E SOCIEDADE EM TÁCITO (54 a 69 d.C).

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Nero: Bom ou Mau Imperador? Retórica, política e sociedade em Tácito (54 a 69 d.C).

Ygor Klain Belchior

Este livro é dedicado à minha esposa, Maria Tereza Belchior.

Agradecimentos Gostaria de iniciar meus agradecimentos fazendo mais uma vez referência à minha esposa, Maria Tereza Belchior. Sou muito grato a ela por todo amor e apoio compartilhado em muitos momentos que antecedem este livro. Por isso, sou enfático em dizer que este trabalho não sairia dos meus delírios sem a contribuição dela para minha vida e em meu dia-a-dia. Muito obrigado por tudo! Também gostaria de dedicar umas palavras para agradecer meus pais, Elisete e Luis Antônio, por todo apoio que recebi para ser um historiador e pelo reconhecimento que eles têm para com a importância de uma pesquisa nesta área e da atividade de um Professor em um país como o Brasil. Além deles, também gostaria de lembrar todo o carinho que recebi de meus irmãos, Raissa, Natasha e Yan, e também de outros familiares, como minhas lindas avós, Isa e Dita, e meu tão controverso avô, Etvaldo Klain. Já que sou de uma domus de italianos e alemães, resumo o resto da enorme e divertida família em meu afeto aos tios, primos, primas, agregados e animais domésticos de diversas espécies. Essa infinidade de pessoas e de animais que aqui estão escondidas na multidão de minhas palavras contribuiu para este livro de alguma forma e fica aqui meu agradecimento por isso. Gostaria também de direcionar palavras de muito afeto para Samuel de Souza Neto e Aurora Garcia Neto, meus segundos pais, e que foram essenciais para que eu tivesse condições de pesquisar e de me dedicar ao que gosto. Não tenho nem palavras para descrever quem vocês são, o que significam para mim e o tanto que agradeço a vocês por me aceitarem como filho. Além deles, agradeço a

amizade sempre presente do Pedro Augusto de França Souza, dos meus não tão nobres amigos Lucas e Epaminondas Rocco e demais amigos de Rio Claro que sempre estiveram ao meu lado. Também aproveito aqui para manifestar minha eterna gratidão à cidade de Mariana, sua paisagem, seus morros, suas igrejas, seus botecos e pelas pessoas que conheci nesse lugar. Se meus sonhos de criança fossem perfeitos, não passariam perto daquilo que isso tudo me proporcionou. E os culpados disso tudo foram também os meus grandes amigos: Fabio Jabour, Fábio Oliveira Araújo, Humberto José Bis, Lucas Rocha, Marcelo Sena, Pedrão Eduardo, Ricardo Ribeiro Coelho, Robson Cruz, Rodrigo Araújo, Tércio Veloso e todos que habitaram a República Orfanato, muito, mas muito obrigado. Além deles, gostaria de destacar meu carinho especial pela Cida, nossa “cumadre” em dias passados, mas que hoje é uma amiga de longa data e que sempre terá meu afeto. No âmbito institucional, gostaria de destacar o imenso carinho e apreço que possuo pelo Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto. Este lugar foi por sete anos a minha casa! Sempre serei grato por ter estudado nesse lugar lindo e que sucessivamente me encantou com todo o seu charme e com a capacidade de produção e de pensamento em História que pude ali vivenciar. E o que dizer dos professores? Pessoas tão dedicadas aos estudantes e ao Instituto que fica difícil para um ex-aluno não se confundir em emoções diversas e agradecimentos extensos. Assim, gostaria de agradecer a todos os decentes que me acompanharam desde o início da minha graduação até o final desse mestrado e que hoje são amigos de profissão. Dentre todos, gostaria de demonstrar minha sincera gratidão aos Professores Alexandre Agnolon,

Álvaro Antunes, Celso Taveira, Fábio Faversani, Fábio Duarte Joly e Valdei Lopes de Araújo, pois são pessoas que sempre se posicionaram de maneira solícita para auxiliar na minha formação e sempre se colocaram como amigos. E aos outros Professores não mencionados, também fica aqui meu apreço por todo o conteúdo e crítica que aprendi com vocês ao longo dos anos. Também gostaria de destacar a oportunidade que me foi concedida pela CAPES de ter completado meus estudos de mestrado com uma bolsa de estudos. Foi uma oportunidade única. É claro que não poderia faltar um sincero agradecimento a um lugar que criou uma identidade muito própria e que também me ajudou a repensar a minha vida e meus trabalhos. Por isso, agradeço em especial aos membros desse lugar: o Laboratório de Estudos sobre o Império Romano (LEIR), pela oportunidade de vivenciar intensas e novas discussões. Cabe destacar que falo aqui deste grupo em âmbito nacional, pois a atuação e a dedicação de seus coordenadores foram imprescindíveis e sempre presentes no desenvolvimento de cada trabalho que foi desenvolvido por mim e pelos meus colegas. Por isso, gostaria de agradecer as professoras Ana Tereza Marques Gonçalves e Margarida Maria de Carvalho, os Professores Carlos Augusto Machado, Fábio Duarte Joly, Gilvan Ventura da Silva, Alex Degan, Fabio Morales e, em especial, o Professor Norberto Luiz Guarinello, meu atual orientador, e o Professor Fábio Faversani, aquele que me orientou neste trabalho. Além deles, quero registrar meu carinho especial para com a Sarah Fernandes Lino de Azevedo, minha amiga, madrinha de casamento e companheira de conversas sobre Tácito.

“A tirania é uma coisa instável; muita gente a adora” (Heródoto. Histórias. III, 53).1

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Tradução de Gama Kury.

Prefácio Prof. Dr. Fabio Faversani.2

O que faz um bom ou um mau governo? Essa pergunta ganha especial relevância no contexto da recente democracia brasileira. As variações atestadas em pesquisas de opinião pública feitas para os diversos presidentes do Brasil recente desafiam os analistas. Os exemplos são muitos, mas destacamos alguns como notáveis. Lembramos a avaliação muito positiva de José Sarney da época dos “fiscais do Sarney”, seguida pela derrubada abissal quando houve crise de desabastecimento e retorno de uma hiperinflação ainda mais aguda que aquela anterior ao congelamento de preços e salários. Outro caso interessante é o de Fernando Collor, eleito e com início de governo agitado com o confisco da poupança e, logo a seguir, escândalos de corrupção que levaram a seu “impeachment”. O longo duplo mandato de Fernando Henrique Cardoso foi marcado por uma popularidade variável, mas que se tornou particularmente baixa no final de seus oito anos como mandatário. Essa baixa popularidade de Fernando Henrique foi seguida por índices de popularidade no geral mais altos de mais um longo duplo mandato de Luís Inácio Lula da Silva, que elegeu sua sucessora, Dilma Rousseff que a exemplo dos dois presidentes anteriores obteve também a reeleição. Após um primeiro mandato com popularidade ainda mais alta do que a de Lula, especialmente no início do primeiro governo, a atual presidente abriu seu segundo mandato com índices de aprovação em queda livre, atingindo, no momento que 2

Professor Adjunto do Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto.

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escrevo esse texto, números nos patamares de Collor do impeachment. Sarney fez um bom governo e foi vítima de falta de apoio de empresários gananciosos que sabotaram seu plano de estabilização da economia, ou suas medidas eram equivocadas e levaram a um fracasso inevitável, que demorou a se revelar por conta uma confiança extraordinária da população? Collor era o produto de uma imprensa conservadora que o elegeu para evitar a vitória do PT e o derrubou para dar lugar a um novo (e fraco) governo ou era um governante louco e descontrolado pelo poder que recebeu inesperadamente – e para o qual não estava preparado? Fernando Henrique fez um mau governo por desconsiderar os mais pobres ou por fazer um governo elevado não foi compreendido pelos mais pobres em seus objetivos de melhoria da situação geral da população através de uma política macroeconômica robusta? Inversamente, Lula fez um bom governo, atendendo às demandas da população mais pobre ou ele (e Dilma do primeiro mandato) foram governantes demagogos, que gastaram as reservas criadas pelo governo anterior com políticas de alcance curto? Muitas centenas de milhares de reais são gastos para produzir pesquisas quantitativas e qualitativas com o objetivo de compreender o que faz as pessoas pensarem o que é um bom governo e o que pode levá-las a mudar de opinião para pensar que um bom governo se tornou mau e vice-versa. Não faltam documentos e medidas, mas pouco se sabe ainda sobre como muda o humor da população em relação a um governo e, especialmente, como se constrói uma memória (ou recall) dessa avaliação positiva ou negativa. Podemos considerar os governos de Sarney e Collor como maus governos porque acabaram mal? Sarney não foi eleito presidente, saiu como “mau governante”, mas seguiu sua carreira sendo eleito sucessivamente para o Senado, onde exerceu a presidência e teve enorme influência em todos os governos que se 12

seguiram ao seu “mau governo”. Collor foi eleito com uma boa margem, mas depois que foi derrubado foi tomado (quase) consensualmente como mau governante, sendo até mesmo raro encontrar alguém que assumisse ter votado nele. Após um período de relativo ostracionismo, Collor alcançou uma vaga no Senado e figurou em atividades de Estado na condição de ex-presidente, ao lado de Sarney, FHC e Lula. Fernando Henrique, apesar da avaliação negativa que acumulou e que foi fundamental para que as três eleições seguintes fossem vencidas por seus adversários, seguiu atuando na cena política e sendo respeitado pelos grupos de oposição. Do mesmo modo Lula, muito bem avaliado, seguiu sem mandato, como FHC, mas sendo nome influente no campo governista. FHC foi mal avaliado e se manteve influente com um setor político; Lula foi bem avaliado e seguiu esse caminho pelo grupo rival. Ser bem ou mal avaliado não interfere, pelo que se vê, no fato do governante manter a sua influência na esfera pública ou não. Pode ser que essa influência seja mais delimitada (a um campo oposicionista minoritário, no caso de FHC, ou institucionalparlamentar, no caso de Sarney – ou em menor medida, Collor). O desempenho da economia se mostra um importante preditor para a popularidade dos presidentes. Eventos específicos (como escândalos de corrupção ou declarações especialmente infelizes dos governantes) também geram frequentemente efeitos nas avaliações de governos. Mudanças em tempos posteriores podem afetar a avaliação de governos já encerrados. Esse é o caso claro que temos com a queda de popularidade de Dilma levando a uma reavaliação do governo de Lula. Mas não se trata de exemplo único a ser percebido pelas pesquisas de opinião modernas. Outro caso muito claro desse fenômeno foi a derrocada de Maluf como força eleitoral majoritária após seu sucessor 13

Celso Pitta ter colecionado impressionantes índices de rejeição. No entanto, como se repete muitas vezes, a economia pode ir mal e isso não atinge a popularidade do governante, podendo inclusive estimular uma postura mais conservadora da população e aprovação do governo como uma opção pela “segurança” da continuidade. Do mesmo modo, escândalos por vezes atingem os governos e por outras vezes em nada interferem na avaliação do governo; como ficou muito claro ao longo desses 13 anos de governos petistas sempre marcados por escândalos amplificados ao máximo pela imprensa. A verdade é que os analistas políticos contemporâneos, com todo seu arsenal de informação (e orçamentos generosos para gerar mais e mais informação) tem tanta capacidade para efetivamente prever o que afetará a popularidade dos governos quanto os sismólogos para prever terremotos: ou seja, quase nenhuma. Os analistas descrevem mais os movimentos já percebidos para cima ou para baixo na popularidade, associando-os com eventos específicos, do que são capazes de antecipar como esses movimentos ocorrerão em razão de algum episódio novo. No caso brasileiro, com sua democracia muito recente, partidos pouco consolidados e uma vida político-institucional muito frágil, esse fenômeno da arbitrariedade do que sejam bons e maus governos na opinião da população e, ainda mais, na interpretação dos analistas se torna bastante particular e notável. Se é correto se pensar que o historiador coloca questões para o passado a partir de sua própria realidade – e me parece que esse é uma axioma que pode ser adotado com tranquilidade –, seria de esperar que um brasileiro que se dedicasse a estudar esse tema para a Antiguidade estaria muito atento a aspectos e dinâmicas bem originais com relação àqueles que caracterizam a larga historiografia já estabelecida para o tema, proveniente sobretudo de países 14

com democracias consolidadas, sistemas partidários robustos e onde, portanto, a dinâmica de constituição de opinião acerca do que sejam bons e maus governos e a elaboração de uma memória sobre essa avaliação a partir de eventos novos é totalmente diferente daquela que se observa no Brasil, que poderia ser resumida pela excepcional existência do onipresente e “onigovernista” PMDB. A contribuição que esse livro traz para a reflexão sobre o mundo antigo não se liga a esse cenário contemporâneo em que cresceu o jovem autor de forma direta ou proposital. Mas ficará claro pela leitura das páginas que se seguem que a busca de caminhos alternativos àqueles já estabelecidos para se pensar o governo de Nero decorrem de uma forma diversa e inovadora de ver o mundo antigo. Essa forma nova, que se afasta de avaliar o imperador Nero como distante dos preceitos do mos maiorum (que estão longe de ser claros e inequívocos) e, por essa razão, enfrentando a oposição senatorial, não se dá fortuitamente, contudo. Certamente está influenciada pelo contexto em que o autor vive – e que exige uma visão mais complexa do que seja um bom ou um mau governante. Outro aspecto que marca a obra com relação a seu contexto de produção é que ela surgiu de um grupo de pesquisa: o Laboratório de Estudos sobre o Império Romano, da Universidade Federal de Ouro Preto (LEIR-UFOP). Nesse grupo, outros pesquisadores também se interessam por esse problema, garantindo ao autor um diálogo intenso com esses mesmos pesquisadores e também com aqueles estudiosos do Brasil e do exterior que visitavam esse centro de pesquisa ao qual esteve vinculado para apresentar resultados de suas pesquisas e debater aquilo que estava sendo produzido localmente. Assim, esse estudo não é apenas o resultado da leitura de determinada bibliografia, mas também de um diálogo efetivo com ela. Isso permite que o livro trate não apenas dos estudos que estavam 15

já feitos e publicados, mas também daqueles que estavam ainda em progresso, sendo pensados e discutidos antes de ganharem a forma de publicação de seus resultados finais. Entre o presente em que esse livro foi produzido e o passado que ele estuda, as diferenças são enormes e bastante evidentes. Sendo assim, o desafio que o historiador se coloca não é o da aplicação da ciência política contemporânea para refletir sobre a avaliação do governo de Nero, mas sobretudo o estudo de um instrumento importante para construir essa imagem de bom ou mau governo de Nero em um momento determinado: a retórica. O estudo se concentra na construção dessa imagem do governante por parte de um autor excelente, Tácito. Trata-se, junto com Suetônio, do autor que mais influenciou as visões que foram se constituindo acerca de Nero ao longo de muitos séculos. Tácito, contudo, não escreveu na mesma época do governo de Nero, mas bastante depois, passadas dezenas de anos e com uma guerra civil e uma dinastia de imperadores separando o tempo da escrita e o tempo de governo de Nero. É na confluência de tradições que chegaram até Tácito desde a época de Nero (e anteriores também, que lhe davam sentido) e aquelas que se constituíram a partir da obra de Tácito e sua época (incluindo o Nero “anti-Cristo”, o pop star do cinema e também aquele que batizou a loja de material hidráulico no interior do Brasil, que menciona Ygor Klain Belchior nas primeiras páginas de seu livro...) que se pode pensar esse livro. Ele reflete sobre tradições construídas em diferentes temporalidades e em diálogo que produzem muitos bons e maus governos de Nero que se misturam e se recombinam. Ao fazer isso, não só estuda Nero, mas o reinventa e propõe que nós leitores também o façamos. Sendo assim, boa leitura e prepare-se para fazer o seu bom ou mau Nero. Ele não está pronto. Pelo contrário, o bom ou mau governo de Nero segue sendo feito e desfeito a cada vez que refletimos sobre ele e construímos e 16

compartilhamos novas referências a partir dele... como a loja de material hidráulico ou um software para “queimar” CDs ou... esse livro.

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Sumário Introdução ........................................................................................ 20 Capítulo I Nero ................................................................................. 33 1.1 – Fontes sobre Nero .......................................................... 37 1.2 – O Principado de Nero em Tácito .................................... 52 1. 3 – Nero e a Historiografia .................................................. 64 Capítulo II ......................................................................................... 76 Tácito e a sua Historiografia ............................................................. 76 2.1 – Biografia e obras de Tácito............................................. 80 2. 2 – Tácito entre a atuação política e a literatura ................ 85 2.3 – O gênero historia na Antiguidade .................................. 99 Capítulo III ...................................................................................... 123 O Principado e a “Ordem” Imperial................................................ 123 3.1 – O Principado na Historiografia moderna: a busca pela “ordem” Imperial ...................................... 134 3.2 – Tácito, Nero e o Principado................................. 150 3.3 – “Ordem” e “(des)ordem” no Principado............. 169 Capítulo IVRetórica, Política e Sociedade em Tácito ..................... 201 4. 1 – A formação do Orador................................................. 209 4.2 - Tácito, retórica e o Principado ...................................... 218 18 Ygor Klain Belchior

4.3 - O historiador orador: a guerra civil na política ............. 233 Conclusão ....................................................................................... 250 Anexo.............................................................................................. 256 Referências Bibliográficas.............................................................. 294 Edições das Obras de Tácito ................................................. 294 Autores Antigos..................................................................... 294 Bibliografia ............................................................................ 296

Nero: Bom ou Mau Imperador? 19

Introdução “Viveu ele quieto e sossegado, sabendo que no tempo de Nero, o que era ajuizado era não fazer nada” (Tácito. Vida de Agrícola. 6).3 “Dispus-me a escrever a respeito da clemência, ó Nero César, para que eu, de certa forma, desempenhasse a função de espelho” (Sêneca. Tratado sobre a Clemência. I, 1).4

Certa vez, quando este autor andava pelas ruas de sua cidade natal, ele se deparou com um estabelecimento que fornecia peças para manutenção hidráulica e que chamou muito a atenção por estar diretamente relacionado com esta pesquisa. O estabelecimento em si aqui é irrelevante, construção em forma de barracão, enorme amostragem de canos, e era em si uma loja convencional, daquelas que um senhor muito simpático sempre atende, usando as mesmas roupas e o mesmo bigode. Na verdade, esse jeito encanador italiano - um estereótipo construído aqui retoricamente-, pode se tornar cada vez mais interessante ao informarmos ao leitor que o real motivo do interesse nessa loja era quanto ao seu nome: ela se chamava “Nero”. E, para um jovem estudante, que estava se debruçando sobre a vida desse personagem, e ávido em responder ser Nero era bom ou mau Imperador, essa ambiguidade atingiu o maior nível dos possíveis e realizáveis exageros retóricos pessoais. Pois chegava a ser cômico pensar que alguém, conhecido por ser 3 4

Tradução de Agostinho da Silva. Tradução de Ingeborg Baren.

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autor de um dos maiores e mais famosos incêndios da história da humanidade, e também herdeiro de um estereótipo construído retórica e historicamente - possa hoje dar nome a instrumentos de manuseio de água. Afinal, era uma loja de hidráulica! Nero queima de alegria com a lembrança. Na verdade, e fora o tom de humor, essa história inicial tem a função de demonstrar algo que é muito comum ao pesquisador que se debruça sobre a vida de Nero: tudo sobre ele é sempre muito ambíguo. Mesmo quando adotamos o estereótipo dominante quanto ao seu comportamento e sua insanidade. Para adiantar esse raciocínio, é possível afirmar que Nero, na historiografia e na biografia clássicas, fontes que alimentam o legado que temos sobre ele, foi construído retoricamente como uma persona, um personagem, que sempre foi trabalhado dentro de diversas ambiguidades. Afinal, era assim que os escritores antigos trabalhavam, ou seja, era importante que se atentasse para a construção de personagens e de suas atitudes, como um mau Imperador. Isso mesmo se fazendo uma obra do gênero historia e visando a imparcialidade. E, como tal, como um gênero discursivo, essas narrativas respondiam a um conjunto de “normas” de composição, dentro de seus determinados gêneros literários, que é possível não só extrair e interpretá-las como exercícios, mas também relacionar as atitudes do Imperador personagem com uma perspectiva histórica e científica sobre suas políticas enquanto governante. Sendo assim, ao olharmos para Nero e seu governo, sempre será possível tecer não só interpretações diversas, como também critérios de julgamentos positivos ou negativos sobre as mais diversas ações deste Imperador. Por fim, sabemos muito bem que mesmo nos dias de hoje, com todas as ações governamentais sempre sendo expostas e colocadas à crítica pela mídia, e com debates muito embasados em pautas reais e comprováveis, é impossível tecermos apenas Nero: Bom ou Mau Imperador? 21

um critério de julgamento sobre qualquer um deles. O que estamos tentando dizer é: se determinado governo é bom, ele pode ser bom em determinadas coisas e em outras, não. Não pode? Aliás, quando lidamos com política, é necessário pensar que os interesses são distintos para classes ou grupos distintos. Ou seja, ao olharmos para os mais diversos critérios de julgamento que podem ser usados para analisar um governante, se ele for um mau, será possível afirmar que ele pode carregar essa alcunha por ser um mau gestor financeiro, mas ótimo em outros quesitos, como o social. E o mesmo vale para a quantidade inumerável de relações que podemos fazer para avaliar um governo, até mesmo no plano moral. Bill Clinton que o diga. Deste modo, uma política que atenda uma elite, como os Senadores (patres), poderia muito bem ser nociva para a plebe e para o próprio Estado, já que teria que arcar com a alimentação de mais pessoas que passariam a viver na cidade. Ou, pensando nos irmãos Graco, uma política de distribuição de terras poderia vir a ferir os interesses dos latifundiários ou dos grupos que tinham no colonato a sua maior fonte de mão-de-obra. E o mesmo vale para o governante do Principado. Conhecido por nós apenas como Imperador, o princeps nunca foi de fato um Rei ou um monarca constitucional, mesmo concentrando muitos poderes e distinções sociais. Vale dizer também que Roma, durante o período do alto Império (31 a.C – 69 d. C), nunca foi reconhecidamente, ao menos pelos seus escritores e políticos mais célebres, uma forma de governo regida por uma constituição monárquica: ela ainda era chamada de respublica. E, mesmo com a posição do princeps (o primeiro entre os iguais) muitas vezes sendo o centro das ações e monopolizando a política, ainda era necessário que este governante tivesse o apoio do Senado e dos mais diversos grupos que habitavam o Império, como os Equestres, os 22 Ygor Klain Belchior

Plebeus e todas as populações estrangeiras. E, em todos os casos, os interesses que motivavam as críticas, muitas vezes traduzidas em grupos formais de oposição, inclusive militar, são evidências de que um consenso entre todos os grupos era impossível, mesmo sob a tutela de um ótimo Imperador, como Augusto. Constatamos então que é muito difícil avaliar um governo sobre as mais diversas óticas. Todavia, ainda é preciso dizer que esta dificuldade se torna especialmente rara quando lidamos com governos muito antigos, onde os critérios de julgamentos e os interesses dos grupos eram muito distintos daqueles que temos hoje enquanto sociedade capitalista (consumista), ocidental (cristã), democrática (no discurso) e multicultural (pós-moderna). Enfim, mesmo embora a humanidade tenha mudado muito desde os dias de Nero, deste raciocínio é possível extrair algumas questões que serão essenciais para um tratamento mais cético quanto à imagem que temos sobre o Imperador Nero e do seu governo. Pois ele, como sabemos, é para a história da humanidade um louco afeminado, teatral e um tirano. Uma imagem, ou estereótipo, muito bem consolidado. Assim, para um historiador, que no caso é o autor deste livro, cabe dizer que um olhar mais crítico sobre esse governo, no intuito de colocá-lo dentro de uma perspectiva histórica e contextual do Principado, se faz necessária para que o outro lado também seja visto e revisitado. Porém, cabe aqui também dizer que este livro não é endereçado a defesa deste Imperador e interessado apenas em ser um best-seller pela polêmica. Não, não é o intuito aqui o de defender Nero, e nem o de responder a todas as acusações feitas sobre ele. Pelo contrário, este trabalho acadêmico será traçado como um estudo de História e com o objetivo de entender o governo deste Imperador historicamente e criticamente, mesmo sendo guiados por uma pergunta até certo ponto Nero: Bom ou Mau Imperador? 23

infantil e que dá título a este texto. Para tanto, o processo de confecção empregado perpassou pela análise e crítica das fontes que serviram como base para a construção de uma memória sobre Nero e de suas atitudes como governante. E, neste processo, foi possível apontar a então ambiguidade que perpassa a barreira da simples loja de hidráulica e começa a ser colocada como evidência histórica. Um exemplo disso, são as duas passagens que foram expostas como epígrafes desta introdução e que alertam para o fato de que sim, é possível tecer diversas interpretações sobre o seu governo, mesmo tendo apenas dois referenciais, como a qualidade de “bom” ou de “mau” governo. De tal modo, ainda neste espaço, convém dizer que a concepção deste livro surgiu fruto de uma pesquisa de Mestrado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto, sob a orientação do Professor Dr. Fábio Faversani, e é o resultado de inúmeras reflexões que este autor teve desde sua primeira bolsa de iniciação científica na área, em 2007 até o ano de 2012. Estas reflexões, portanto, acarretaram no depósito da dissertação intitulada “Tácito e o Principado de Nero”, uma pesquisa que mudou muito ao longo de seu processo de confecção, e que está exposta aqui em quase sua totalidade, com exceção da ordenação dos capítulos e seu eixo central, que foram modificados não só pelas necessidades de um livro. Além disso, cabe dizer que as críticas feitas pela banca que aprovou este trabalho, composta pelos Professores Dr. Norberto Luiz Guarinello (USP) e Dr. Fábio Duarte Joly (UFOP), foram incrementadas neste livro e representam em si o amadurecimento de uma ideia que tentava responder muitas perguntas sem o devido

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eixo central em sua análise.5 A possibilidade, portanto, representa uma nova análise daquilo que foi pensado anteriormente enquanto trabalho e até mesmo enquanto compreensão do mundo antigo, em especial, o governo de Nero. Outro ponto importante que cabe destacar é que esse tipo de reflexão e discussão sobre o caráter e os critérios de julgamento de determinados governos se tornou mais importante com o passar dos anos e com os atuais acontecimentos políticos no Brasil, após as jornadas de julho de 2013 e 2014, além daquelas que levaram a direita brasileira às ruas em março e abril de 2015. O que é possível observar disso tudo, pelo menos no plano que interessa a esse livro, é que os critérios de julgamento dos determinados governos podem ser facilmente alterados e manipulados para servirem a oposição ou a defesa do governo, desgastando ao máximo as pessoas que discutem dia-a-dia sob os mais determinados aspectos. Além disso, é possível apontar que o ato de fazer política e construir uma imagem como governo e como governante são atos pensados e patrocinados por partidos e a mídia que concordam que não é possível fazê-lo usando os mesmos parâmetros, políticas e linguagem que atendam às necessidades de toda uma população e dos seus inúmeros representantes políticos. É claro que vivemos em uma democracia e que nossa sociedade é bem diferente da romana durante o governo de Nero. Deste modo, é preciso partir do princípio que uma sociedade como a nossa não é parâmetro para compreendermos totalmente a outra, afinal elas são muito diferentes e inseridas em contextos históricos e ideológicos 5

Cabe menção especial para os membros da banca de qualificação deste trabalho: o Prof. Dr. Gilvan Ventura da Silva (UFES) e Carlos Augusto Machado (Unifesp).

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muito diferentes entre elas. Ou seja, esses novos acontecimentos no Brasil claramente influenciaram na reformulação de ideias e de hipóteses pesquisadas e que podem revelar aspectos ainda não pensados para o mundo antigo, mas que para serem descobertos e estudados, devem primeiramente atender as necessidades deste mundo estudado. Sendo assim, ainda nesta introdução é preciso reformular a pergunta inicial deste livro, não a alterando completamente, mas completando esta indagação com uma delimitação muito específica: Nero era um bom ou mau Imperador para Tácito? Afinal, a História enquanto ciência é feita através de fontes. E, em uma pesquisa de Mestrado, a limitação pelo tempo é enfática em destacar que um recorte bem específico deve ser realizado. Sendo assim, o recorte específico deste trabalho irá se resumir a análise sistemática de duas obras do historiador Públio Cornélio Tácito, os Anais e as Histórias, tendo como o principal objetivo responder à questão inicial já exposta. A hipótese principal deste livro, portanto, será a de que é possível responder a essa pergunta de uma maneira afirmativa e também negativa. Ou seja, Nero, de uma maneira geral, é representado por Tácito como um mau governante, mas também possui os seus momentos de bom governo. Por quê? Seria por causa de políticas governamentais, econômicas, sociais ou um julgamento pessoal de Tácito? Esses acontecimentos narrados podem representar uma “verdade” sobre como o seu governo deve ser visto e julgado? Ou seria apenas mais um governo dentro de um plano maior, ou seja, dentro de um contexto histórico de mudanças profundas em Roma e que apenas são refletidos no caráter dos governantes? A tese aqui é que sim. Pelo menos para a última pergunta feita no parágrafo anterior. Afinal, é preciso pensar o governo de Nero dentro de contextos maiores, como o 26 Ygor Klain Belchior

Principado e as transformações decorrentes desta nova estrutura de poder. Porém, também é preciso indagar quanto à própria pessoa e as obras de Tácito. Este, por fim, também um personagem desta história e que é muito importante para compreendermos quem era Nero. Assim, também cabe apontar que esse tipo de reflexão leva a proposição de outros objetivos, os secundários, que serão focados no estudo do Principado, enquanto forma de governo e de sociedade, no estudo sobre o governo de Nero e dos seus principais eventos, no estudo das obras de Tácito e de sua composição, como o sistema retórico, e, por fim, na compreensão do modelo de análise empregado por este historiador em suas obras e na própria organização deste material. Para tanto, a divisão deste livro será feita em quatro capítulos distintos e que irão contemplar todas essas discussões e objetivos propostos, sendo, por fim, acompanhados de uma conclusão que será marcada pela então resposta à pergunta principal que se encontra em nosso título. O primeiro capítulo, intitulado “Nero”, irá tratar especificamente da vida deste Imperador, tendo como ênfase as leituras modernas que foram realizadas trazendo ele como foco. Desta maneira, o capítulo irá contemplar a discussão de produções historiográficas recentes, através de um diálogo com produções de outros gêneros ou mídias, como as produções cinematográficas e musicais, mas sempre mantendo contato com o subsídio fornecido pelas fontes do período para que todas essas visões sejam sustentadas ou até mesmo relevadas. Nesse sentido, um diálogo entre todas as fontes que temos sobre esse Imperador será imprescindível para apontarmos as ambiguidades que temos a respeito de Nero e também para pontuarmos os principais acontecimentos e personagens de seu governo. Ao final deste capítulo, nossa narrativa se concentrará na discussão sobre as fontes que temos sobre este Imperador, tais como Suetônio, Nero: Bom ou Mau Imperador? 27

Dião Cássio e Sêneca, e o que podemos extrair de subsídio sobre esse contexto literário e o próprio personagem Nero para fundamentar a nossa análise das obras de Tácito. O Capítulo 2, intitulado “Tácito e a sua historiografia”, terá como objetivo o de delimitar o debate anterior dentro das obras taciteanas, em especial as duas escolhidas para a realização deste trabalho. A saber novamente, os Anais e as Histórias. Nesta etapa, o leitor encontrará um estudo sobre a biografia do historiador latino, seguida de uma apresentação de todas as suas obras e de uma discussão sobre a organização deste material, seu conteúdo e também a forma pela qual foi composto. Ou seja, será imprescindível também apresentar qual era o sistema de pensamento e de escrita de uma obra do gênero historia e o que significava para um político, tal como Tácito, o ato de compor tal discurso e de legar tal versão sobre os fatos passados. Para tanto, este capítulo será finalizado com uma discussão sobre a retórica e como as leituras modernas, sobre a natureza do fazer história, ou historiografia, podem auxiliar na compreensão de uma nova forma de se ler os acontecimentos do Principado neroniano e também a forma pela qual o caráter dos governantes antigos era construído. Já, o Capítulo 3, intitulado “O Principado e a Ordem Imperial”, será dedicado ao estudo do contexto histórico em que o governo de Nero está inserido: o Principado. Esta etapa será composta de observações acerca da ordenação social e política durante os primeiros cem anos do Principado romano através de um debate, tão caro a historiografia do mundo antigo, e que consiste em sua partida desde os primitivistas, passando pelos modernistas, pela Escola de Cambridge, e a sua visão da atuação do Imperador como principal patrono do Império, até a visão mais recente, defendida pelo Professor Alloys Winterling, que retoma a noção de diarquia, tal como proposta por Mommsen no século XIX. Essas visões serão 28 Ygor Klain Belchior

colocadas em debate através de um diálogo com as obras de Tácito junto a um eixo de análise que consistirá na formulação daquilo que chamamos de “Ordem Imperial”. Afinal, havia uma “ordem” no Principado e esta “ordem” nem sempre advinha do consenso universal entre as pessoas, mas através de um jogo político que pode ser extraído de uma perspectiva histórica. Desta forma, passaremos para a última etapa deste capítulo que será a de compreender como esta “Ordem Imperial” pode ser usada para entendermos os inúmeros conflitos descritos por Tácito ao longo de toda a sua narrativa sobre esse período específico. É aqui que a “ordem” e a “(des)ordem” política entrarão em cena enquanto um modelo para se ver o passado. Por fim, o Capítulo 4, intitulado “Retórica, Política e Sociedade em Tácito”, terá como principal objetivo o de reunir as reflexões anteriores dentro de um mesmo modelo de análise. Desta maneira, ao analisarmos um historiador que vivenciou este período e que buscou atribuir um sentido para praticamente um século de história, através do relato em duas obras do gênero historia, será possível indagar neste último capítulo, a respeito do modelo de análise que o historiador latino emprega para descrever os acontecimentos da dinastia Júlio-Claudia, sempre mantendo o foco nos conflitos internos e nas conspirações. Além disso, com o desencadeamento dos conflitos civis, originados com a queda de Nero, em 68 e 69, e o consequente interesse de Tácito neste período de quatro Imperadores e a entrada de uma elite de novi homines no centro da política Imperial (interpretação de Sir. Ronald Syme), temos um prato cheio para analisarmos o que levou a queda deste Imperador, mas também a formação de muitos grupos de oposição e de apoio ao seu governo. Para tanto, será imprescindível trabalhar com os temas relacionados à historiografia antiga, como a retórica Nero: Bom ou Mau Imperador? 29

e oratória, no intuito de analisar como os contextos históricos ao qual Nero governou e aquele que Tácito escreveu, podem ser entendidos dentro da proposta historiográfica que vai remeter à noção de que os conflitos internos ao Principado podem ter uma função muito maior do que a de descrever ou apresentar bons ou maus Imperadores. Por fim, o livro terminará com a sua “Conclusão final” onde serão retomadas as reflexões realizadas anteriormente, só que no intuito específico de responder a nossa então pergunta inicial de uma maneira que seja possível não só afirmar, mas também justificar tal afirmação. Como já foi dito, esta pergunta inicial já pode ser prontamente respondida, mas nesse processo de organização do raciocínio para sua resposta, exposto aqui em nossos quatro longos capítulos, nossa conclusão mostrará que o fato de ser impossível precisar uma só alternativa pode ser imensamente revelador para a compreensão de aspectos importantes do Principado de Nero para além da sua própria conduta individual como Imperador. Afinal, ele também está inserido em um processo histórico que é bem distinto daquilo que foi construído retoricamente sobre ele ou aquilo que realmente representou o seu comportamento. As relações políticas e sociais, neste caso, são muito mais complexas do que o caráter e a conduta do próprio governante. Ao final deste livro, na parte de anexos, o leitor encontrará uma extensa lista de nomes de todas as personagens que aparecem na obra Anais. Estes nomes serão acompanhados de uma pequena descrição contendo elementos biográficos e políticos, também extraídos da obra Anais e da historiografia que lidou com esses personagens e que se encontra na parte destinada para bibliografia estudada. Ao lado destes breves verbetes, será possível também encontrar as respectivas passagens onde aparecem na narrativa. Esse instrumento possibilitará uma compreensão 30 Ygor Klain Belchior

mais geral da obra em questão e também servirá como guia para que os leitores possam também investigar outras aparições dos personagens desta narrativa em outros governos ou em outras tramas. Principalmente, quando o leitor for estudar nosso terceiro capítulo. Além disso, a leitura deste material, quando somada à conclusão da leitura deste livro, permitirá ao leitor uma compreensão mais aguda dos acontecimentos que marcaram as disputas políticas estudadas. Isso facilitará na noção de que não devemos apenas olhar para um critério de julgamento apenas de Nero, mas para o Principado como composto de diversos conflitos que poderiam alterar a “ordem” vigente. Além disso, cabe destacar que, como este trabalho lida com a análise de um autor antigo que produziu em latim, foi possível optar pela tradução de algumas passagens que se encontram indicadas em notas de rodapé, mas também foi imprescindível manter as reflexões sempre em diálogo com diversas edições das obras de Tácito e também de traduções de pesquisadores brasileiros, dentre eles as ótimas traduções feitas pelo Professor Dr. Fábio Duarte Joly. Desta maneira, optamos por conservar também, no corpo da citação, as passagens originais em latim ao lado da citação destacada, isso no intuito de também permitir a um leitor mais especializado a sua própria tradução da obra. Assim, para este livro foram lidas as edições publicadas na internet pela Latin Library (http://thelatinlibrary.com), as traduções para o inglês, realizadas por A.J Woodman (Anais) e por Kenneth Wellesley (Histórias), além dos livros taciteanos que foram editados pela Les Belles Lettres. Somado a essas versões em língua estrangeira das obras historiográficas de Tácito, ainda foi possível consultar na Biblioteca de Obras Raras da Universidade Federal de Ouro Preto a primeira tradução para o português dos Anais, realizada por José Liberato Freire de Nero: Bom ou Mau Imperador? 31

Carvalho, e que foi reeditada pela coleção “Clássicos Jackson” (Vol. XXV), no ano de 1952. Ainda antes de terminarmos com essa introdução, convém dizer que as todas as fontes históricas aqui citadas serão assim indicadas através da forma autor, obra, livro e versículo. Os nomes das obras serão colocados em português, ao contrário do que formalmente é exigido, mas com o objetivo de conservar o título da obra na mesma língua que esta aparecerá no corpo do texto. Este é um livro para futuros estudantes da área e que precisarão de leituras em Português. Da mesma forma, optamos por conservar os nomes das pessoas que aparecerão em nossa análise e em nossa tabela também nesta língua, excetuando-se alguns casos onde a forma latina também é indicada. E, para finalizar, convém ainda dizer que neste livro não empregaremos referenciais temporais, tais como a. C e d. C, pois todas as datas são depois da era cristã. Caso haja alguma exceção, esta será indicada ao lado dos numerais correspondentes. Como disse certa vez Cervantes, a nosso “desocupado leitor” uma boa leitura!

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Capítulo I Nero

“From our history books we all learned Nero fiddled while Rome was burned. Ain’t that just like a woman? Ain’t that just like a woman? Ain’t that just like a woman? They’ll do it every time”.6

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“Em nossos livros de história todos nós aprendemos que Nero tocava cordas enquanto Roma queimava. Não é como uma mulher? Não é como uma mulher? Não é como uma mulher? Eles vão fazer isso o tempo todo”. Trecho da música lançada em 1946, intitulada “Ain’t That Just Like a Woman (They’ll Do It Every Time)” de autoria de Louis Jordan, Claude Demetrius e Fleecie Moore.

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