Nexo Jornal: \'O que acontece agora com a classe política? Estes dois cientistas sociais respondem\'

May 21, 2017 | Autor: P. Ribeiro | Categoria: Brazilian Politics
Share Embed


Descrição do Produto

ĚXPŘĚȘȘǾ (ĦȚȚPȘ://ẄẄẄ.ŇĚXǾJǾŘŇǺĿ.ČǾM.BŘ/ĚXPŘĚȘȘǾ/)

Ǿ qųě ǻčǿňțěčě ǻģǿřǻ čǿm ǻ čŀǻșșě pǿŀíțįčǻ? Ěșțěș đǿįș čįěňțįșțǻș șǿčįǻįș řěșpǿňđěm Bruno Lupion 17 Abr 2017 (atualizado 17/Abr 08h57)

Ňǿvǻ ŀěvǻ đě įňvěșțįģǻçõěș đǻ Ŀǻvǻ Jǻțǿ ǻțįňģě pǿŀíțįčǿș đě 17 ŀěģěňđǻș, đǻ bǻșě đě ǻpǿįǿ ǻǿ ģǿvěřňǿ ě đǻ ǿpǿșįçãǿ; přǿfěșșǿřěș đǻ ŲFMĢ ě đǻ ŲFȘČǻř ǻvǻŀįǻm șěų pǿțěňčįǻŀ đěșěșțǻbįŀįżǻđǿř ňǻ ǿřģǻňįżǻçãǿ pǿŀíțįčǻ ě įňșțįțųčįǿňǻŀ đǿ pǻíș

FǾȚǾ: JǺMİĿ BİȚȚǺŘ/ŘĚŲȚĚŘȘ - 5/1/2004

 FĦČ Ě ĿŲĿǺ ȘĚ ĚŇČǾŇȚŘǺM ĐŲŘǺŇȚĚ ĚŇȚŘĚĢǺ ĐĚ PŘÊMİǾ ĚM BŘǺȘÍĿİǺ, ĚM 2004

A divulgação oficial das delações de executivos e ex­diretores da Odebrecht e a abertura de 76 inquéritos no Supremo Tribunal Federal contra deputados, senadores, governadores e ministros, entre outros, afastou dúvidas de que a Lava Jato afetaria somente um setor do quadro partidário brasileiro. A nova leva de investigações atingiu (http://g1.globo.com/politica/operacao­lava­jato/noticia/a­lista­de­fachin.ghtml) políticos de 17 legendas, sendo 14 da base de apoio ao governo (como PMDB, PSDB, PP e DEM) e três de oposição ao Planalto (PT, PCdoB e PDT). O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, também encaminhou para instâncias inferiores da Justiça pedidos de abertura de inquérito contra os três últimos ex­presidentes (https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas­noticias/2017/04/11/fachin­encaminha­pedidos­de­abertura­de­inquerito­de­dilma­lula­e­fhc­a­ outros­foros.htm) da República: Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. As investigações estão só começando, e agora caberá ao Ministério Público e à Polícia Federal buscarem evidências concretas dos crimes apontados pelos delatores. Mas a divulgação dos vídeos dos executivos e ex­diretores da Odebrecht relatando detalhes de esquemas de financiamento ilegal de campanhas, pagamento de mesadas irregulares, compra de aprovação de projetos de lei e fraudes à licitação, entre outros, em si já provocam efeitos (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/04/12/Qual­o­impacto­dos­v%C3%ADdeos­da­Odebrecht­na­opinião­pública­e­nas­investigações) na opinião pública. O Nexo ouviu dois cientistas políticos para analisar como as delações da Odebrecht e a abertura da nova leva de inquéritos na Lava Jato impacta a organização política e institucional do país. Foram entrevistados: Bruno Reis, professor de ciência política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Pedro Floriano Ribeiro, professor de ciência política da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos)

Ǿ pǻíș țěm vįvįđǿ ųm přǿčěșșǿ đě đěșģǻșțě čřěșčěňțě đǻ čŀǻșșě pǿŀíțįčǻ ěm fųňçãǿ đě įňvěșțįģǻçõěș ǻňțįčǿřřųpçãǿ, qųě pǻřěčě țěř ǻțįňģįđǿ ųm ápįčě qųǻňđǿ fǿřǻm đįvųŀģǻđǻș ǻș đěŀǻçõěș đě ěx-đįřěțǿřěș đǻ Ǿđěbřěčħț ě ǿ ȘȚF ǻbřįų mǻįș đě 70 įňqųéřįțǿș řěŀǻčįǿňǻđǿș ǻ ěŀǻș. Ǿ qųě ěșșěș đǿįș ěŀěměňțǿș țêm đě pǻřțįčųŀǻř ě čǿmǿ įmpǻčțǻm ǻ čŀǻșșě pǿŀíțįčǻ? BŘŲŇǾ ŘĚİȘ Ao longo dos últimos trinta anos, temos melhorado continuamente nossa capacidade de exposição e controle da corrupção. O paradoxo que isso costuma

gerar, contudo, é a sensação de aumento da corrupção, decorrente do aumento de sua visibilidade. O que gera um ânimo de revanche, de que temos de zerar tudo, recomeçar, que pode ter efeitos altamente destrutivos, ironicamente, sobre o próprio processo de combate à corrupção, ao desestabilizar o mesmo processo político que serviu de lastro para a melhoria progressiva dos controles. Neste momento, boa parte da elite política está concretamente ameaçada de prisão, e todo o quadro partidário está enfrentando um risco real de desagregação. O sentimento de rejeição à classe política, que os partidos não servem mais como atores e canais legítimos de representação, que a classe política costuma se envolver em muitos malfeitos, etc., vem de bastante tempo. E não é uma exclusividade do Brasil. A divulgação das delações e os inquéritos abertos agora só reforçam essa visão da política como uma atividade suja. PĚĐŘǾ FĿǾŘİǺŇǾ ŘİBĚİŘǾ

Ǻ đěșvǻŀǿřįżǻçãǿ đǿ pǿŀíțįčǿ ňãǿ é ųm fěňôměňǿ řěčěňțě. Mǻș, ňěșțě mǿměňțǿ, ňǿș ǻpřǿxįmǻmǿș đě ųm pǿňțǿ đě đěșčřéđįțǿ țǿțǻŀ? Eu não sei bem qual ponto corresponde a um descrédito total, e costumo brincar que nada é tão ruim que não possa piorar... Mas, sim, neste momento é provável que a maior parte das pessoas queira ver todo mundo preso. Infelizmente, esse pode ser o pior desfecho possível, até para as perspectivas de um combate sustentável à corrupção. BŘŲŇǾ ŘĚİȘ

PĚĐŘǾ FĿǾŘİǺŇǾ ŘİBĚİŘǾ Não sei se é o ponto de descrédito total. O que pode acontecer é a classe política passar por um processo de renovação. Se a cúpula da

classe política for varrida agora, na esteira da Lava Jato, é muito provável que tenhamos a ascensão de lideranças mais jovens. É preciso ver os desdobramentos legais, depois da divulgação das delações e com a abertura dos inquéritos. Se, por exemplo, as delações vão virar realmente prisões ou cassações de mandatos. Só com base em delações é difícil condenar alguém, você precisa ter provas, evidências. O trabalho da Justiça e da Polícia Federal agora é buscar essas evidências.

Ħá řįșčǿ đě ųmǻ ģěřǻçãǿ įňțěįřǻ đě pǿŀíțįčǿș șěř đįżįmǻđǻ ěm fųňçãǿ đǻ Ŀǻvǻ Jǻțǿ? Quando você tem dezenas de parlamentares, boa parte do ministério [do governo Michel Temer], todos os partidos e todos os ex­presidentes jogados na vala comum da suspeição, só mesmo a imensa adesão da população aos valores, princípios e procedimentos da Constituição poderia tornar inviável um abalo institucional relevante. Como é óbvio, estamos muito longe de preencher esse requisito. Entendo, portanto, que está em risco não apenas toda a geração atual de políticos, mas a própria ordem institucional vigente. BŘŲŇǾ ŘĚİȘ

Caso a elite da classe política seja realmente varrida por conta da Lava Jato, isso vai nos empurrar para algum nível de renovação da classe política. Agora, não acredito que toda a elite da classe política vá ser varrida por conta da Lava Jato. Acho que é muito difícil que a Polícia Federal e a Justiça tenham fôlego para investigar e condenar todos esses políticos neste momento. O que pode vir a acontecer é ficar mais pesado para alguns do que para outros. PĚĐŘǾ FĿǾŘİǺŇǾ ŘİBĚİŘǾ

Qųěm đǻ čŀǻșșě pǿŀíțįčǻ șě běňěfįčįǻ đǿ čǿňțěúđǿ đǻș đěŀǻçõěș đǻ Ǿđěbřěčħț ě đǻ ǻběřțųřǻ đǿș įňqųéřįțǿș? Ninguém. No início da Lava Jato, houve a ilusão, pelos adversários do PT, de que eles se beneficiariam. Bem, Dilma de fato se desestabilizou, e o PT perdeu a Presidência. Mas o quadro não se reestabilizou ainda em qualquer realinhamento mais claro, e o PSDB passou a caudatário eleitoral do PMDB de Temer, forçado a apresentar­se em 2018 como candidatura de situação num quadro de impopularidade do governo. Com a deterioração geral do quadro, as investigações correm sem peias, com todos os atores usando os recursos que têm à mão, legalmente ou não. Neste momento, qualquer protagonista político pode se ver enredado na Justiça daqui até as eleições de 2018. BŘŲŇǾ ŘĚİȘ

Quem se beneficia é quem tem um discurso de que não é político, de que vem de fora do establishment. Esse discurso de administrador, por exemplo, do [prefeito de São Paulo] João Dória [PSDB] ou do [prefeito de Belo Horizonte] Alexandre Kalil [PHS], pode colar mais ainda. É um tipo de discurso que já teve sucesso nas eleições municipais. Candidatos que vendem essa imagem podem se beneficiar, mas é uma imagem absolutamente falsa. O João Doria é político há bastante tempo, mas tem esse discurso de ser de fora do establishment, de alguém que não é político, que é gestor. Parte da população de São Paulo acreditou nele e ele foi eleito prefeito. Esse tipo de discurso pode se tornar bastante universal. PĚĐŘǾ FĿǾŘİǺŇǾ ŘİBĚİŘǾ

Agora, não acredito na chegada de um outsider em 2018 que vença a corrida presidencial. Talvez seja alguém que sobreviva à Lava Jato e que venha com esse discurso, mas que passe pelos grandes partidos. Os grandes partidos vão continuar controlando o jogo político. Não será um fenômeno igual ao do [Fernando] Collor em 1989, ou do [Silvio] Berlusconi na Itália, que surgiu dos escombros da Operação Mãos Limpas. Os grandes partidos no Brasil têm um controle muito firme hoje das principais candidaturas, do jogo político, dos palanques estaduais, do jogo congressual, do tempo de televisão. Dificilmente vai surgir um outsider, como o Collor fez em 1989, de atropelar as eleições com um partido nanico.

Ǻŀģųňș ǿčųpǻňțěș đě čǻřģǿș ěŀěțįvǿș țêm șě ǻpřěșěňțǻđǿ čǿmǿ “ňãǿ pǿŀíțįčǿș”. Ěșșě đįșčųřșǿ ģǻňħǻřá fǿřçǻ pǻřǻ 2018? Qųě řįșčǿș ěŀě čǻřřěģǻ? BŘŲŇǾ ŘĚİȘ Tudo indica que sim, lamentavelmente. Esse discurso, porém, é intrinsecamente mistificador, por razões óbvias. E, acima de tudo, traz um inequívoco

componente autoritário, de quem não reconhece legitimidade na pluralidade de interesses que devem ser considerados ao longo do processo político­decisório. De minha parte, ao contrário, repito sempre: para política, use políticos. Veja o desastre produzido pela falta de aptidão política da Dilma, que também gostava de exibir certo cacoete tecnocrático. PĚĐŘǾ FĿǾŘİǺŇǾ ŘİBĚİŘǾ O discurso apolítico é um risco à democracia, porque a democracia não é ausência de conflitos, mas é uma maneira institucional da

regulação de conflitos. Um discurso apolítico, ou supostamente apartidário, do tipo “meu partido é o Brasil”, é um absurdo do ponto de vista do significado da democracia. Os partidos são parte indispensável da democracia e, por piores que sejam os partidos no Brasil, eles expressam algumas discordâncias em relação aos objetivos da sociedade, a políticas publicas, à visão sobre a presença do Estado na economia, aos valores morais. Quando vem um discurso que criminaliza os partidos e a própria atividade política… A única alternativa frente à atividade política é uma alternativa não democrática, um regime autoritário. Existe um risco sim, não de um golpe militar, mas que a democracia brasileira retroceda em termos de liberdades das eleições, liberdades civis, direitos políticos. Democracia é um contínuo, há vários níveis, e existe o risco de o Brasil retroceder algumas casas nessa corrida pela democratização. É um risco que a gente não pode descartar, tem que ficar bem atento a isso.

Ǿ jǿřňǻŀ “Fǿŀħǻ đě Ș.Pǻųŀǿ” pųbŀįčǿų (ħțțp://ẅẅẅ1.fǿŀħǻ.ųǿŀ.čǿm.bř/pǿđěř/2017/04/1875266-țěměř-ŀųŀǻ-ě-fħč-ǻřțįčųŀǻmpǻčțǿ-pǿř-șǿbřěvįvěňčįǻ-pǿŀįțįčǻ-ěm-2018.șħțmŀ) ňǻ qųįňțǻ-fěįřǻ (13) qųě ħá čǿňvěřșǻș ěm ǻňđǻměňțǿ ěňțřě Ŀųŀǻ, Țěměř ě FĦČ pǻřǻ qųě șěųș pǻřțįđǿș șǿbřěvįvǻm à Ŀǻvǻ Jǻțǿ. Čǿmǿ ǿ șř. ǻvǻŀįǻ ěșșě țįpǿ đě đįáŀǿģǿ? Infelizmente, receio que venha tarde demais. Líderes políticos têm a obrigação de manterem permanentemente abertas as portas do diálogo entre si. PT e PSDB se permitiram certo azedume crescente em suas recriminações recíprocas, que contaminou a sociedade e acabou entornando rumo a certa desestabilização do quadro político. BŘŲŇǾ ŘĚİȘ

O PMDB de Temer, por sua vez, como eu temia em 2010, não deixou passar a oportunidade de atuar de maneira desestabilizadora quando a ocasião de ascender ao poder se apresentou. Talvez se possa dizer que houve certo “salto alto” na aposta de todos na solidez de nossas instituições políticas. No fim das contas, a notável estabilidade vivida entre 1994 e 2010 era mais precária do que parecia. Um grande acerto entre o Lula e o Fernando Henrique eu veria com bons olhos, porque são duas lideranças com capital político muito importante. Construíram dois partidos que são os partidos centrais da democracia, ao lado do PMDB, que ajudaram no processo de redemocratização. PĚĐŘǾ FĿǾŘİǺŇǾ ŘİBĚİŘǾ

Agora, o Temer é um personagem que está no meio do furacão, não sei até que ponto seria conveniente ele participar de qualquer acordo entre ex­presidentes. Seria conveniente para o Temer, mas não sei se seria conveniente para a saúde da democracia no Brasil. Todos os seus braços direitos no governo foram implicados pelas delações da Odebrecht, ele mesmo foi implicado (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/04/14/Temer­não­pode­mesmo­ser­investigado­Teori­discordava.­ E­a­oposição­quer­que­ele­seja) diretamente, com suspeitas de recebimento de propina. Agora, uma aproximação entre ex­presidentes acho que pode elevar um pouco o debate. Vale lembrar que o PT e o PSDB não são tão diferentes assim. Eles são polarizados, são adversários eleitorais, mas é uma polarização artificial, porque em termos ideológicos o PT e o PSDB não estão tão distantes. É possível uma aproximação, mas tem que partir de lideranças como o Lula e o FHC, porque entre as máquinas dos dois partidos seria impossível. Elas se alimentam dessa polarização, se alimentam desse ódio ao outro, é parte de identidade coletiva do PT e do PSDB.

VĚJǺ ȚǺMBÉM ĚXPŘĚȘȘǾ (ĦȚȚPȘ://ẄẄẄ.ŇĚXǾJǾŘŇǺĿ.ČǾM.BŘ/ĚXPŘĚȘȘǾ/)  Țěměř

ňãǿ pǿđě měșmǿ șěř įňvěșțįģǻđǿ? Țěǿřį đįșčǿřđǻvǻ. Ě ǻ ǿpǿșįçãǿ qųěř qųě

ěŀě șějǻ (ħțțpș://ẅẅẅ.ňěxǿjǿřňǻŀ.čǿm.bř/ěxpřěșșǿ/2017/04/14/Țěměř-ň%Č3%Ǻ3ǿ-pǿđě-měșmǿ-șěř-įňvěșțįģǻđǿ-Țěǿřįđįșčǿřđǻvǻ.-Ě-ǻ-ǿpǿșį%Č3%Ǻ7%Č3%Ǻ3ǿ-qųěř-qųě-ěŀě-șějǻ)

 

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.