Nāgārjuna – Versos fundamentais do Caminho do Meio (Mūlamadhyamakakārikā): Tradução anotada e comentada

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Nāgārjuna foi um monge budista indiano que viveu, provavelmente, no século II d. C. Pouco se sabe sobre sua vida. Ele sistematizou o budismo mahāyāna, sendo considerado um dos fundadores dessa vertente. É tido por algumas correntes do budismo como o “segundo Buda”. Sua interpretação da palavra do Buda e suas críticas às ontologias das escolas da fase Abhidharma (ou pré-Mahāyāna) são a base da escola Madhyamaka (Caminho do Meio) e constituem a contribuição filosófica mais relevante do movimento Mahāyāna. Fora da Índia, o ensinamento de Nāgārjuna influenciou de forma decisiva os desenvolvimentos tibetano, chinês, japonês e coreano do budismo. Conhecido há mais de um século no Ocidente, o pensamento de Nāgārjuna foi estudado abundantemente, e frequentemente é comparado às ideias de filósofos como Pirro de Élis, Hume, Kant, Hegel, Wittgenstein, Derrida, entre outros. Giuseppe Ferraro é doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também fez Pós-doutorado, e tem Graduação e Mestrado em Filosofia e em Ciências Políticas pela Universidade “La Sapienza” de Roma. Autor de várias publicações dedicadas principalmente ao pensamento de Nāgārjuna. Professor de Filosofia no Liceu Científico Internacional “Fundação Torino” de Belo Horizonte, MG.

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Na mesma época em que Parmênides de Eleia, ao rejeitar qualquer exploração do “não-ser”, enveredava o pensamento Ocidental na senda do “ser”, o Buda Siddhārtha Gautama ilustrava aos seus discípulos a “doutrina mediana”: quem quiser compreender a realidade em si e, com isso, o sofrimento intrínseco à sua existência deve abster-se não apenas do “não-ser”, mas também do “ser”. É justamente esse o “caminho do meio”, ao qual Nāgārjuna dedica os versos aqui traduzidos e comentados: o caminho da sabedoria suprema é o que evita tanto a senda filosófica do “é” como a do “não é”. Ao recuperar a vertente antimetafísica presente no magistério do Buda, Nāgārjuna retoma o sentido instrumental da especulação filosófica, a necessidade de que ela seja apenas um meio e nunca um fim: a razão, no Madhyamaka (e, mais em geral, no Budismo Mahāyāna), é, de fato, uma “razão soteriológica”.

Versos fundamentais do Caminho do Meio (Mūlamadhyamakakārikā)

Nāgārjuna

Tradução, comentários e notas: Giuseppe Ferraro

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Na tradição budista, o embate filosófico em torno do problema da impermanência se consolida, em sua forma mais radical, com os escritos de Nagarjuna, o mais importante filósofo budista indiano, que viveu por volta do século II de nossa era. A redação dos Versos fundamentais do Caminho do Meio, principal obra de Nagarjuna, marca a consolidação do budismo mahāyāna com suas veementes objeções lógicas aos pressupostos ontológicos das escolas budistas “adversárias”, principalmente dos sarvāstivādins, que defendiam a substancialidade última dos dharmas, a existência de um “ser próprio” inerente a todos os entes. Ao afirmar que todas as coisas são destituídas de uma substancialidade última, ao afirmar seu caráter de vacuidade (sunyata) e que tal constituição é correlativa à cooriginação dependente (pratityasamutpada), Nagarjuna define o caráter de reciprocidade entre nirvaṇa e saṃsara, apontando, dessa forma, uma perspectiva antimetafísica de abordagem do problema da origem do sofrimento. Esta obra é uma “monumental desconstrução” de todas as possíveis afirmações metafísicas sobre as questões centrais da história do pensamento filosófico, tais como: o tempo, o eu, o movimento, a ação, o sofrimento etc. Tais questões e a sistematização do budismo mahāyāna, empreendidos por Nāgārjuna, além de marcarem decisivamente várias tradições distintas do budismo, vão estabelecer, de forma decisiva, as bases indianas do Zen-budismo que surge na China e posteriormente migra para o Japão e a Coreia. Estamos, portanto, diante de um pensador central e de uma obra fundante do budismo mahayana. Esta tradução é a primeira versão do sânscrito para o português de Versos fundamentais do Caminho do Meio e traz as notas e os comentários minuciosos de Giuseppe Ferraro, que nos apresenta detalhadamente o vasto universo interpretativo tanto clássico quanto contemporâneo/ocidental desta importante obra. Sem dúvida alguma, esta é uma das mais importantes contribuições para o debate filosófico sobre a relação entre Ocidente e Oriente na Filosofia brasileira. Antonio Florentino Neto (Brasil/China- Unicamp)

12/04/2016 14:30:35

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