No Hall dos Estudos Culturais no Brasil

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Universidade Federal de São Carlos – UFSCar Centro de Educação e Ciências Humanas – CECH Departamento de Sociologia – DS

Erik Wellington Barbosa Borda

NO HALL DOS ESTUDOS CULTURAIS NO BRASIL

São Carlos 2015

Erik Wellington Barbosa Borda

NO HALL DOS ESTUDOS CULTURAIS NO BRASIL

Monografia apresentada junto ao Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos como requisito parcial a obtenção do título de Bacharel. Financiamento: FAPESP. Orientador: Valter Roberto Silvério

São Carlos 2015

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Para Stuart Hall...

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Agradecimentos Foram muitos àqueles a quem deve este trabalho, tanto no que concerne a suas motivações quanto a sua própria elaboração. Gostaria antes de tudo de agradecer a meu orientador, professor Valter Roberto Silvério, principalmente por ter me ensinado a trilhar um caminho livre por dentro da academia e da pesquisa científica, mas sem nunca deixar de lado o comprometimento político. Este trabalho também não teria sido realizado sem as contribuições de inúmeros pesquisadores e entusiastas da temática de Stuart Hall e Estudos Culturais, grande parte dos quais, por serem de outros lugares, apenas o puderam fazer virtualmente. Desse modo, destaco aqui a contribuição dos debates no grupo do Facebook “Stuart Hall y estudios culturales”, em especial as contribuições do professor Eduardo Restrepo, cujos escritos e reflexões sustentam grande parte desta investigação. Agradeço também à FAPESP pelo financiamento concedido, vital para a própria existência da pesquisa. Por fim agradeço a Arthur Yamada, amigo que compartilhou o aprendizado das Ciências Sociais e sem o qual seguramente muito do que conquistei seria apenas uma utopia.

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“The task of socialism is to meet people where they are…” Stuart Hall

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Resumo: Os Estudos Culturais surgem na Grã-Bretanha do pós-guerra como um movimento intelectual que buscava tratar de um novo modo a “cultura”. Entre os principais autores que se encontravam na formação desse movimento está o jamaicano Stuart Hall. Quais são os temas privilegiados em sua obra? Quais suas preocupações intelectuais? Este trabalho tem como meta responder essas perguntas, ao mesmo tempo em que visa a lançar uma perspectiva sobre a apropriação da obra do autor pelas áreas da Sociologia e Antropologia no Brasil. É apresentado, nesse sentido, em primeiro lugar uma leitura de seus escritos com o fim de se identificar e dar inteligibilidade aos temas aos quais o autor se dedicou durante sua carreira, com especial ênfase às temáticas de raça e etnicidade. Em segundo lugar, volta-se para a análise das apropriações da obra deste autor por parte da Sociologia e Antropologia brasileiras que se dedicam à pesquisa de problemáticas étnico-raciais a partir de uma análise quantitativa da produção acadêmica de tais áreas. Palavras-chave: Stuart Hall; Estudos culturais; Estudos pós-coloniais; Raça e etnia.

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Abstract: The Cultural Studies emerge in postwar Britain as an intellectual movement that sought a new way to treat “culture”. Among the main authors one can find at the formation of this movement there is the Jamaican Stuart Hall. What are the privileged themes on his work? What are his intellectual concerns? This work has as a goal to answer these questions, at the same time that aims to launch a perspective on the appropriation of the author’s work by the areas of Sociology and Anthropology in Brazil. It is presented, therefore, in a first place a reading of his writings in order to identify and give intelligibility to the themes the author dedicated himself during his career, with a special emphasis to the thematic of race and ethnicity. In a second place, it turns to the analysis of the appropriations of this author’s work by part of the Brazilian Sociology and Anthropology that are dedicated to the research of ethnical and racial issues, and that’s made by a quantitative analysis of the academic production in these areas. Keywords: Stuart Hall; Cultural Studies; Postcolonial Studies; Race and ethnicity.

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Sumário Introdução......................................................................................................................................................... 1 1. Que Hall é esse na Teoria Cultural?....................................................................................................... 6 1.1 A primeira fase............................................................................................................................................ 7 1.2 A segunda fase......................................................................................................................................... 10 1.3 A terceira fase........................................................................................................................................... 15 1.4 Sobre o levantamento da obra de Hall............................................................................................... 17 2. No Hall de raça e etnicidade................................................................................................................. 27 2.1 Prisma de formação caribenha............................................................................................................ 27 2.2 A fase imigrante..................................................................................................................................... 30 2.3 A fase negra............................................................................................................................................. 32 2.4 A fase diaspórica.................................................................................................................................... 36 3. Stuart Hall no Brasil................................................................................................................................ 41 3.1 Metodologia............................................................................................................................................. 41 3.2 Apresentação dos dados obtidos....................................................................................................... 42 3.3 Discussão dos dados obtidos.............................................................................................................. 63 Bibliografia..................................................................................................................................................... 66 Anexo I – Lista de obras de Stuart Hall sobre raça e etnicidade...................................................... 70 Anexo II – Bibliografia dos grupos de pesquisa analisados............................................................... 75

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Introdução Em abril de 1994, enquanto visitava um velho amigo de faculdade na Universidade de Princeton, fui à conferência “Race Matters”, feita para marcar a saída de Cornel West a Harvard. A conferência era um verdadeiro “quem é quem” da academia afro-americana, do próprio West a Toni Morrison, Manning Marable, Patricia Willians e Angela Davis. Ao fim da mesa de abertura, abriu-se para questões e comentários. O primeiro comentador se moveu através da audiência lotada até o microfone e calmamente se apresentou: “Stuart Hall, da Open University”. A sala explodiu em aplauso. Foi a única vez que eu testemunhei alguém receber 1 aplausos de pé pelos simples fato de dizer seu nome. (ALEXANDER,

2009. p. 457)

A morte de Stuart Hall, dia dez de fevereiro de 2014, foi acompanhada por uma explosão de textos em sua homenagem, tal como se espera acontecer com qualquer intelectual que tenha tido um impacto significativo no mundo ou na teoria social. Porém, assim como os aplausos que nos fala Claire Alexander na passagem acima, esses textos aparentam se voltar e ser motivados por um tom particularmente pessoal2, pelo que Stuart Hall representou e representa para inúmeros intelectuais nos mais variados campos, inclusive fora do âmbito acadêmico3. Trata-se de um estilo de postura intelectual que se volta principalmente ao mundo e sua transformação. Hall, antes de tudo, revela-nos o tipo de comprometimento político que os “novos tempos” invocam dos intelectuais. Daniel Mato recorda uma experiência pessoal com Hall que é elucidativa sobre o tema.

Uma noite durante o jantar, eu pedi a ele [Hall] para participar do livro escrevendo um ensaio sobre Estudos Culturais e a importância da prática. Ele deu uma resposta surpreendente, que ficou presa em mim até hoje pois a achei pessoalmente iluminadora e inspiradora: “olha, Daniel, eu não estou mais escrevendo sobre Estudos Culturais, eu estou dedicado a fazer Estudos Culturais” (grifo meu). Claro que imediatamente perguntei o que ele estava 1

“In April 1994, while visiting an old college friend at Princeton University, I attended the Race Matters conference, held to mark the (as it turned out, comparatively short-lived) departure of Cornel West to Harvard. The conference was a veritable Who’s Who of the African-American Academy _ from West himself, to Toni Morrison, Manning Marable, Patricia Williams and Angela Davis. At the end of the opening panel, the floor was opened to questions and comments. The first speaker moved through the crowded audience to the microphone and quietly introduced himself _ ‘Stuart Hall, The Open University’. The room exploded into applause. It was the only time I have ever witnessed someone getting a standing ovation for simply saying their name.” 2 “When I remarked on this later to Cornel West, he told me _ ‘The thing you have to understand, Claire, is that we all grew up reading Stuart. We wouldn’t be here without him. We all stand on his shoulders ’.” (ALEXANDER, 2009. op. cit. p. 457) 3 “Policing the Crisis, for many Hall’s most remarkable published project, does not just appear on the bibliographies of cultural studies courses across the world, it also appears in the bibliography of the official enquiry into the Brixton riots of 1981.” (PROCTER, 2004. p. 1)

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fazendo a respeito disso, e ele me disse que estava envolvido em um debate público sobre raça e racismo na Grã-Bretanha.4 (MATO, 2014. pp. 202-

203.)

Essa atenção ao “fazer Estudos Culturais”, de intervir ativamente na sociedade britânica e global, é uma das grandes marcas de Hall e que não pretendo negligenciar neste trabalho. Desse modo, do que foi dito acima se desprende uma consideração fundamental sobre a obra de Stuart Hall que é extremamente relevante para se compreender o caráter que assumiu esta pesquisa. Destaco que o tipo de postura intelectual de Hall se deu através de um comprometimento com o conjuntural e o presente, o historicamente específico, o “não garantido”, e a teoria como política. Muitos autores tocam nesse fato, como Restrepo (2010; 2014), Alexander (2009, op. cit.), Mato (2014, op. cit). Grossberg (2006; 1985), Procter (2004) e o próprio Hall (2009a; 2007).

o pensamento de Hall pode ser considerado um pensamento “sem garantias”, ou seja, uma forma de analisar a realidade social fora das estabilizações derivadas pelos determinismos estabelecidos e sem as violências epistêmicas feitas em nome das idealizações morais ou políticas. Nesse sentido, seu método é o do “contextualismo radical”, isto é, uma opção que enfatiza a compreensão das conjunturas. Trata-se, de fato, de um pensamento historicizante que mostra a contingência do presente, uma vez que a realidade pôde sempre ter adquirido outra forma e porque destaca que sempre pode ser transformada.5 (RESTREPO et al, 2010. p. 10)

Por consequência, nota-se que estamos diante de um tipo de trabalho intelectual que se nega a assumir um corpo fechado, o que explicaria em certo sentido o caráter difuso de sua obra, majoritariamente composta por artigos. Inclusive, segundo James Procter, esse caráter difuso é uma estratégia de seu modo de teorização, “que o permite constantemente revisar, atualizar, retratar, trabalhar sobre suas ideias e intervir nos assuntos correntes e eventos”6 (PROCTER, 2004. p. 8). 4

“Thus, one evening at dinner, I asked him to take part in the book by writing an essay on Cultural Studies and the importance of practice. He had a surprising response that has stuck with me to this day because I found it personally illuminating and inspiring: “Look, Daniel, I am not writing on Cultural Studies any more, I am dedicated to doing Cultural Studies.” Of course, I immediately asked him what he was doing in that regard, and he told me he was involved in a public debate on race and racism in Great Britain.” 5 “Por tanto, el de Hall puede considerarse como un pensamiento “sin garantías”,vale decir, una forma de analizar la realidad social fuera de las estabilizaciones derivadas por los determinismos establecidos y sin las violencias epistémicas hechas en nombre de idealizaciones morales o políticas. En ese sentido, su método es el del “contextualismo radical”, es decir, una opción que enfatiza la comprensión de las coyunturas. Se trata, en efecto, de un pensamiento historizante que muestra la contingencia del presente, en tanto la realidad pudo siempre haber adquirido otra forma, porque subraya que siempre puede ser transformada” 6 “It allows him to constantly revise, update, retract and elaborate upon his ideas and to intervene in current issues...”

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Diante desse fato fundamental emergiu uma questão: como lidar, tratar e interpretar a obra de Hall? Optei por tratar desse aparente problema de forma que, suponho, estaria em perfeita concordância com o estilo intelectual de Hall, a partir de dois elementos importantes do autor que remetem ao “caráter contextualista” de sua obra que tangenciei acima: tratam-se das noções de política da localização e articulação. Tive, pois, em primeiro lugar, que me conscientizar do lugar de onde falo e escrevo, é o conceito de Hall de política da localização – politics of location. Julgo-o útil pois nos chama a atenção ao fato de que sempre o pensamento está, em alguma medida, sujeito a um grau de posicionalidade. No caso, há o interesse claro de captar as intervenções7 de Hall a partir da temática de raça e etnia e as apropriações do caso brasileiro. Em segundo lugar considerei a articulação, em estreita relação com a política da localização, que implica em pensar todo e qualquer trabalho intelectual como uma união momentânea de elementos distintos, uma unidade diferenciada, sobredeterminada, e que “faça a diferença no mundo” – no primeiro capítulo esse tema será melhor discutido. Esses interesses da pesquisa, por sua vez, moldam um Stuart Hall específico. Um Stuart Hall do qual destacarei duas premissas fundamentais para o andamento do que se segue. Que sempre teve o pensamento marcado por um “prisma de formação caribenha” (HALL, 2007. op. cit.) e do qual se é possível isolar raça e etnicidade como temáticas autônomas para fins analíticos. O prisma de formação caribenha de Hall nos lembra que seu pensamento sempre esteve, de alguma forma, ligado à experiência colonial, e isso desde o começo de sua carreira: “até 1954 mergulhei na política dos caribenhos expatriados.. [...] Éramos apaixonados pela questão colonial. [...] Descobrimos, pela primeira vez, que éramos West Indians, caribenhos.“ (HALL, 2009b. p. 395) É importante ter isso de maneira muito clara porque uma atenção especial sobre esse ponto nos faz considerar, em primeiro lugar, que as reflexões sobre raça precedem em muito tempo os trabalhos finais de Hall, em especial aqueles que versam sobre o pós-colonialismo e identidade – mais lidos no Brasil –, e em segundo lugar nos faz questionar proposições como a de Helen Davis que apontam raça como algo momentâneo e final na obra de Hall. Davis diz que “Hall não começou seu trabalho com considerações sobre etnia e raça”8 (DAVIS, 2004. p. 3), uma posição coerente por um lado mas que por outro não capta, justamente, o que chamo aqui a partir do próprio Hall, de prisma de formação caribenha, essa questão da diferença que

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Scott diz que “Stuart Hall é menos autor de livros do que autor de intervenções” (SCOTT apud ALEXANDER, 2009. op. cit. p. 459 – tradução livre) 8 “Hall did not begin his work with considerations of ethnicity and race.”

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escapa, dos limites que perturbam, algo que se faz presente a intelectuais coloniais nos centros metropolitanos, e que no caso de Hall, mostra-se de forma manifesta na colocação de raça, etnicidade e diferença como variáveis relevantes para a compreensão do presente e da história, como também mostra-se de maneira latente na preocupação em não dar uma garantia ou determinação final ao pensamento. Penso, pois, raça e etnicidade em Hall não apenas como um tema ao qual o autor se dedica, mas como uma metonímia do tipo de trabalho intelectual de Hall, uma régua de suas intervenções, na medida em que insere no interior de todas as teorias que Hall deglute o “elemento negligenciado”. O primeiro capítulo se voltará à análise justamente desse ponto, de que Hall passa por inúmeros temas em sua vida que se articulam de diferentes maneiras, conforme o momento histórico e teórico-biográfico do autor. Discutir-se-á os principais temas pelos quais passa a obra de Hall, que foram sintetizados em uma tipologia esquemática, oriunda principalmente da tentativa de rastrear raça e etnicidade no autor como aspectos isoláveis. Como se verá, essa última empreitada mostrou-se não-factível, e aí jaz o porquê do esquema típico-ideal criado para balizar as intervenções de Hall. Assim, no primeiro capítulo, discutir-se-á a maneira que utilizei para dar inteligibilidade a Hall e como se moldou o “meu Stuart Hall”, ou seja, aquele que permitiu o avanço das problemáticas dos outros dois capítulos. O segundo capítulo versará mais especificamente sobre a temática de raça e etnicidade em Stuart Hall, lançando luz sobre ela partir dos deslocamentos observados em seus tratamentos do tema. O objetivo será menos o de explicar esses deslocamentos, seja em termos biográficos ou históricos, do que simplesmente apresentar as mudanças conforme aparecem em seus escritos. Esse capítulo não pretende se passar por um momento de “cesura”, final e definitivo, sobre a temática de raça em Stuart Hall, mas está ele também situado e em concordância com os propósitos mais amplos desta pesquisa, deste Stuart Hall situado. O terceiro e último capítulo discutirá as apropriações feitas da obra de Stuart Hall no Brasil a partir de uma análise dos grupos de pesquisa e programas de pós-graduação nas áreas de Ciências Sociais. Esse capítulo permitiu a percepção de tendências na apropriação da obra do autor em nosso contexto nacional, como os trabalhos que são privilegiados e os moldes nos quais se dão essa predileção. As tendências observadas são também discutidas nesse capítulo à luz das observações sobre a obra de Hall, com ênfase sobre a temática de raça e etnicidade, desenvolvidas nos capítulos anteriores, e assim indicando a forma que assume o tratamento da obra de Stuart Hall no país. Cabe, por fim, uma nota sobre a estética do trabalho. Como se pôde notar, a pesquisa foi redigida em primeira pessoa, algo que, também em consonância com Stuart Hall, serve

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para escapar do que poderia aparecer como uma “fala autorizada”. Hall sugeriu que, “paradoxalmente, [...] terei que falar de um ponto de vista autobiográfico , se quiser fugir ter a última palavra no assunto.” (HALL, 2009a. op. cit. p. 188). A autobiografia passa a ser assim um método. James Procter aponta que “Hall repetidamente usou a autobiografia como uma estratégia para teorizar, não para apresentar o que ele chama (em tom de ironia) de ‘o eu verdadeiro’, mas para explorar a identidade como um conceito descentrado.”9 (PROCTER, 2004. op. cit. p. 4) Com isso gostaria de ressaltar que a presente investigação é um modo de pensar sobre a obra de Hall, e que quer justamente evitar a impressão de uma pseudocoerência interna a esse conjunto de intervenções descontínuas que podem ser interpretadas e agrupadas de diferentes maneiras igualmente válidas, conforme a política da teoria e o lugar de onde falamos. Insisto, pois, que não se trata aqui de uma visão definitiva do trabalho de Stuart Hall, até porque, se há o objetivo de ser fiel a suas propostas, qualquer pretensão de atingir um objetivo do tipo deve ser imediatamente descartada. A escrita em primeira pessoa, pois, permite situar esta pesquisa em uma conjuntura política, teórica, histórica e institucional.

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“Hall repeatedly used autobiography as a strategy for theorizing, not to present what he calls (tongue-incheek) ‘the real me’ but in order to explore identity as a de-centred concept.”

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1. Que Hall é esse na Teoria Cultural? Stuart Hall nasce em Kingston na Jamaica em 1932, três tons mais escuro que o resto de sua família, de acordo com o próprio autor. “Etnicamente, a família era bem mista – composta de africanos, indianos, portugueses e judeus.” (HALL, 2009b. op. cit. p. 385.) A experiência do hibridismo no interior do núcleo familiar, aliada justamente às contradições decorrentes de tal fato, são fundamentais para se compreender a trajetória de Hall. Quando ele completa dezessete anos sua irmã tem um colapso nervoso, do qual nunca mais se recupera. Ela começa um relacionamento com um estudante de medicina de Barbados, negro, que imediatamente foi negado pelos pais de Stuart Hall. Foi um momento chave:

De repente me conscientizei da contradição da cultura colonial, de como a gente sobrevive à experiência da dependência colonial, de classe e cor e de como isso pode destruir você, subjetivamente. [...] Aprendi, em primeiro lugar, que a cultura era algo profundamente subjetivo e pessoal, e ao mesmo tempo, uma estrutura em que a gente vive. [...] Desde então, nunca mais pude entender por que as pessoas achavam que essas questões estruturais não estavam ligadas ao psíquico – com emoções, identificações e sentimentos, pois para mim, essas estruturas são coisas que a gente vive. [...] Eu não ia ficar lá. Eu não seria destruído por aquilo. Tinha que sair de lá. Senti que nunca mais deveria voltar para lá, pois seria destruído. (id. ibid.

pp. 390-391)

É nessa tentativa de fuga dos impactos perversos das estruturas sociais sobre os indivíduos que Hall migra para a Inglaterra, onde permaneceu até sua morte, dia 10 de fevereiro de 2014. Não que essa façanha já não estivesse dada para ele e muitos outros de sua geração, mas o que Hall não esperava era não voltar. Ao chegar a Oxford, Hall se deu conta das contradições inerentes à situação colonial e, por mais que ele conhecesse a cultura britânica mesmo antes de chegar à Inglaterra e ‘já soubesse o nome de todas as flores da “pátria-mãe”’ (2005), deu-se conta de que nunca poderia ser inglês. Aos poucos começou a se envolver de forma cada vez mais ativa com a política britânica. Os eventos na década de 1950 foram importantes tanto para a trajetória de Hall quanto para a história da Inglaterra e da esquerda, e aqui darei destaque a um evento – ou seriam dois? – em especial. O círculo social de Hall nesse período passou a incluir figuras importantes da teoria social do século XX, como Raymond Willians e E P Thompson, ambos autores que posteriormente, junto com Hall, seriam reconhecidos como formadores dos Estudos Culturais. Mas antes, devemos reconhecer que um dos precursores políticos dos

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Estudos Culturais foi o reconhecimento da complexidade do mundo no pós-guerra, marcado em 1956 pelas intervenções franco-britânicas em Suez e soviéticas na Hungria, trata-se do surgimento da Nova Esquerda10. Em resposta aos eventos, dois periódicos correntes do momento, o Universities and Left Review e The New Reasoner, condensaram-se e em 1959 fazendo surgir a New Left Review, com Stuart Hall na direção. A questão principal era manter uma postura crítica que fizesse jus à complexidade do mundo contemporâneo mas que, ao mesmo tempo, se distanciasse da política do partido comunista. 1.1 A primeira fase É desse período que emergem os primeiros trabalhos de Stuart Hall, do qual destacarei aqui A sense of classlessness. Para explicar o porquê vou dizer antes de tudo que, metodologicamente, operarei neste texto com uma periodização da obra de Hall levada a cabo por Eduardo Restrepo (2014. op. cit.). Segundo o autor, a obra de Hall passa por quatro momentos. O primeiro, que compreende o começo dos anos 1950 até o começo dos 1970, tratase do que Restrepo chama de uma teorização materialista da cultura, e tem como elemento principal a preocupação de Hall com o reducionismo de classe e as concepções elitistas de alta cultura. O segundo, que Restrepo chama de inflexão gramsciana, localiza-se no final dos anos setenta e a década de 1980 e tem como evidência às reflexões sobre hegemonia e o thatcherismo. O terceiro momento, localizado no final dos anos 1980, é caracterizado pela aproximação de Hall do pós-estruturalismo, ilustrada pelas apropriações de Hall de postulados foucaultianos sobre o discurso e de Derrida sobre a differánce É a ênfase pósestruturalista. O quarto e último momento é reconhecido nas reflexões de Hall sobre o póscolonialismo, e compreende meados dos anos 1990 até a morte do autor – para fins analíticos, situarei dentro de um mesmo momento o terceiro e quarto momentos, uma vez que dentro de uma perspectiva que enfoque raça e etnicidade, a divisão não se faz tão relevante em termos de fundamentação teórica. Há, contudo, uma ressalva importante de Restrepo: “não se devem entender (esses deslocamentos) como rupturas absolutas, mas sim como ênfases diferentes que têm como fio condutor um único estilo de trabalho intelectual que se mantém através do tempo”11 (idem. p. 36). Além disso, cabe ressaltar o que dissemos sobre as opções do tratamento da obra de Hall. Restrepo 10

Para um análise detalhada da primeira Nova Esquerda ver: Jacob Thurman (2011); Michael Kenny (1995). “Estos desplazamientos no deben entenderse como rupturas absolutas, sino más bien como énfasis diferenciales que tienen como hilo conductor un único estilo de trabajo intelectual que se mantiene a través del tempo” 11

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dá especial atenção aqui aos deslocamentos teóricos da obra de Hall, e por isso o invoco como ferramenta metodológica. Não obstante, é necessário reter o que foi dito sobre o estilo intelectual específico de Hall pois é justamente da ideia de que, apesar de deslocamentos, podem-se traçar padrões, que esta pesquisa se desenvolveu. Isso significa dizer que, embora haja mudanças na forma de tratamento dos temas, pode-se afirmar que alguns deles não demonstrem tamanha mutabilidade. Ou que, por outro lado, a forma de posicionamento perante esses temas é a mesma. Em todo caso, operarei com a periodização acima para tratar brevemente da obra de Hall neste capítulo e no próximo, acerca de raça e etnicidade. De volta ao A sense of classlessness. Publicado na Universities and Left Review em 1958, é significativo do primeiro momento pois trata, fundamentalmente, de uma rejeição à noção de cultura marxista, como secundária, um mero reflexo, e nos chama a atenção para seu caráter constitutivo do social. Hall estabelece sua posição através de um debate sobre as mudanças no seio da classe trabalhadora inglesa durante o boom econômico do pós-guerra. Aos poucos os prédios de tijolos dickensianos do século XIX no sul de Londres começaram a ser substituídos por novos edifícios de aço e vidro. Para as classes trabalhadoras, isso significou o acesso a novos padrões de consumo. Para os marxistas, discussões polêmicas sobre as velhas noções de classe, discussões assombradas por um sentimento de ausência de classe (classlessness). O principal argumento de Hall no texto é que as transformações observadas não implicaram na desaparição das diferenças de classe, como se supunha, e para prová-lo vai problematizar as maneiras como se costumava pensar os vínculos entre base e superestrutura na teoria marxista. O problema central diz respeito aos diferentes fatores objetivos que moldaram e foram, por sua vez, moldados e humanizados por uma classe trabalhadora industrial, as formas subjetivas pelas quais esses fatores chegam à consciência nas mentes e vidas das pessoas trabalhadoras, e o grau no qual esses fatores formadores mudaram ou estão em processo de mudança. Juntá-los como “a base econômica” não é suficiente, apesar de que a formulação é verdadeira como proposição, entendida sobre um período comparativamente longo da história. Mas nós precisamos cindir a “base econômica” em seus fatores constitutivos, permitindo um jogo muito mais livre de nossa interpretação entre “base” e “superestrutura”.12 (HALL,

1958a. p. 27) 12

“The central problem concerns the different objective factors which shaped and were in turn shaped and humanized by an industrial working class: and the subjective ways in which these factors grew to consciousness within the minds and lives of working people : and the degree to which these shaping factors have changed or are in process of changing. To lump these together as " the economic base " is not enough, though that formulation is broadly true as a proposition, understood over a comparatively long period of history. But we need to break the " economic base" down into constituent factors, permitting a much freer play in our interpretation between " base" and "superstructure.”

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O ponto de Hall é que o sentimento de falta de classe é um efeito ideológico da nova cultura de consumo, “o trabalhador se vê muito mais como um consumidor do que um produtor: os preços agora aparentam ser uma forma mais limpa de exploração do que os salários”13 (idem. pp. 28-29), e o propósito da publicidade passa a ser condicionar o trabalhador a novas possibilidades consumo, quebrar as resistências de classe que outrora foram parte da consciência da classe trabalhadora (id. ibid. p. 29). É interessante reter desse texto, assim como outros do período, o esperneio de Hall em meio ao marxismo, algo que o persegue durante sua formação intelectual. O autor inclusive diz que a única teoria que vale a pena ser mantida é aquela contra a qual sempre lutaremos, e não aquela que falamos com fluência (HALL, 2009a. op. cit.), e que no seu próprio caso o marxismo ocupa essa posição. Hall e outros autores da Nova Esquerda trabalharam “na vizinhança do marxismo, sobre o marxismo, contra o marxismo, com ele e para tentar desenvolvê-lo.” (idem. p. 191) Isso significou, como pôde ser constatado na classificação de Restrepo que utilizo, a busca de uma “teorização materialista da cultura”, com romper com os limites do que está dado. Assim, A sense of classlessness capta esse sentimento que, de alguma forma, marca o estilo intelectual de Hall ao mesmo tempo em que simboliza o primeiro momento da vida intelectual do autor. Outros textos que podemos destacar e que tangenciarei rapidamente desse primeiro período da vida de Hall são The Popular Arts e A ‘reading’ of Marx’s introduction to the Grundrisse. Escolho o primeiro aqui pois, assim como o texto que discutimos no parágrafo anterior trata de um debate com o marxismo, este traz uma discussão sobre as noções elitistas de alta cultura também. O segundo texto, pois na minha visão parte do projeto teórico de Hall pode ser apreciado na leitura que ele faz da introdução aos Grundrisse de Marx. Durante o período do fim de 1950 e começo de 1960, Hall e seu amigo Paddy Whannel – coautor de The Popular Arts (1964) – exerceram cargos de professor de ensino médio, o que os levou de alguma forma a se depararem diretamente com as contradições da cultura popular em meio à juventude da classe trabalhadora. Segundo os autores, a mídia estava mudando o mundo de formas importantes o suficiente para um estudo dessas mudanças fazer parte da educação formal, e assim, faziam-se necessárias formas distintas de teorizar as novas produções culturais no rádio, na televisão e etc. O principal mérito dessa obra está na tentativa de avançar para além dos binarismos rígidos entre alta/baixa cultura, comuns no 13

“The worker knows himself much more as consumer than as producer : prices now appear a cleaner form of exploitation than wages.”

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cenário britânico, e abrirem as portas para discussões importantes dos estudos culturais em gestação. Isso implicava em levar a sério o que era produzido pela mídia e pelas classes populares, não como algo de menor importância ou inferior. Para Hall e Whannel, não teria sentido comparar uma música de Bach com uma dos Racionais porque ambas respondem a diferentes tipos de propósitos. Não é possível usar a alta cultura – ou simplesmente cultura, que dentro da tradição leavisiana de ‘cultura e civilização’ traz apenas essa conotação – como medida para avaliar toda a produção cultural de uma sociedade, e portanto, é plenamente possível acrescentar ao termo “arte” o adjetivo “popular” e analisá-lo criticamente. A leitura que Hall (1973) se propõe com A ‘reading’ of Marx’s introduction to the Grundrisse é interessante principalmente por revelar o interesse mais profundo de Hall de encontrar formas alternativas de pensar a questão da determinação. Em confronto direto com interpretações correntes do marxismo, o texto tenta encontrar nos próprios escritos de Marx elementos para propor uma “unidade diferenciada”, uma “determinação não determinista” (RESTREPO, 2014. op. cit.). Ao mesmo tempo em que este texto se encontra no que pensamos como ‘a primeira fase’ do autor, o fato de ser escrito em 1973 o põe no limite, e aqui no sentido mais pós-estruturalista possível, ou seja, não onde algo acaba mas o ponto onde algo começa a se fazer presente. Quero realçar aqui que a tentativa de problematizar os vínculos entre ideias sociais, condições materiais e a esfera política ganha especial desenvolvimento na fase seguinte da obra de Hall a partir do momento em que Gramsci passa a ser mais lido e Althusser rompe o cenário com sua noção de sobredeterminação. Por fim, devemos dizer que é nesse primeiro período que assistimos a criação do CCCS (Centre for contemporary cultural studies) de Birmingham, em 1964, do qual Hall foi diretor durante sua fase mais produtiva – 1968 a 1979. O centro havia sido criado com a proposta de estudar as novas formas, práticas e instituições culturais, e com o sucesso de The Popular Arts, Hall foi apontado como pesquisador membro por Richard Hoggart, criador e então diretor do centro, logo no momento de seu surgimento. Apesar da escassez de pessoal, muitos comentadores apontam que a produção do centro no período que Hall ocupou sua direção teve e continua a ter um enorme impacto no desenvolvimento do campo na Inglaterra e no resto do mundo (PROCTER, 2004. op. cit. p. 36), o que leva em alguma medida a fazer com que Stuart Hall seja considerado por excelência um “tableau vivant” (HALL, 2009a. op. cit.) dos Estudos Culturais. 2.2 A segunda fase

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A partir da segunda metade dos anos 1970, a obra de Hall passa por deslocamentos significativos, e isso não por quaisquer motivos. Do ponto de vista histórico social, a Inglaterra passava por uma crise hegemônica – que discutiremos adiante – e também por uma crise econômica, que teve especial impacto sobre as populações trabalhadoras negras. Um evento, em específico, desencadeará uma série de reflexões de Hall e de outros membros do Centro de Birmingham. Do ponto de vista teórico, assistimos a interrupção ou perturbação do projeto do centro a partir de duas problemáticas fundamentais, a entrada do feminismo e das questões de raça. Esse(s) deslocamento(s) que discutirei, como bem aponta Restrepo, pode(m) ser apreciado(s) na inflexão ou virada a Gramsci como forma de lidar com o presente que vemos em Stuart Hall nesse momento. É possível dizer, também, que entrada em cena de Gramsci consegue dar uma resposta teórica e intelectual a certos embates que agitavam os Estudos Culturais no período, como aquele da dicotomia entre culturalismo e estruturalismo que descreve Hall em Estudos Culturais: dois paradigmas (2009c). Sem entrar nos detalhes dessa discussão, cabe um comentário de Hall sobre o tema: Enquanto no “culturalismo” a experiência era o solo – o terreno do “vivido” – em que interagiam a condição e a consciência, o estruturalismo insistia que a “experiência”, por definição, não poderia ser o fundamento de coisa alguma, pois só se podia “viver” e experimentar as próprias condições dentro e através de categorias, classificações e quadros de referência da cultura. Essas categorias, contudo, não surgiram a partir da experiência mas a experiência era um “efeito” dessas categorias. (HALL, 2009c. p. 138)

Disse que Gramsci consegue dar uma resposta intelectual a certos embates porque, na visão do próprio Hall, “é a vertente de Estudos Culturais que tentou pensar partindo dos melhores elementos dos paradigmas culturalista e estruturalista, através de alguns conceitos de Gramsci, a que mais de aproxima das exigências desse campo de estudo.” (id. ibid. p. 147) Gramsci aparece de muitas formas em Stuart Hall, mas convém falar que nesse período são centrais as questões da articulação – fortemente influenciada pelo trabalho de outros teóricos marxistas – e a da hegemonia, embora Gramsci apareça como um deslocamento muito mais amplo na obra de Hall do que esses dois conceitos conseguem capturar. Para o andamento do que se segue, é importante dar atenção às possibilidades analíticas que hegemonia deu a Hall, em especial para analisar a “crise” britânica e o Thatcherismo, e também ao papel chave que a articulação joga na obra do autor, na busca daquilo que discutimos na seção anterior como a ‘determinação não determinista’ e da identificação dos

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elementos – como raça – que gozam de uma “relativa autonomia”. Nesse sentido, alguns dos textos desse período que captam essa inflexão gramsciana são Policing the crisis e A relevância de Gramsci para o estudo de raça e etnicidade. Antes de nos voltarmos aos textos devemos descrever brevemente a interrupção do feminismo e da temática de raça nos Estudos Culturais para o andamento da obra de Hall. O feminismo “rompeu, fez um barulho inconveniente, aproveitou o momento, cagou na mesa dos estudos culturais.” (HALL, 2009a. op. cit. p. 196) Tal barulho inconveniente reorganizou o campo dos Estudos Culturais, segundo Hall, de cinco maneiras concretas. Em primeiro lugar, ao colocar o pessoal como político. A segunda maneira, ao expandir a noção de poder, que costumava sempre ser pensada de maneira íntima com a ideia de público. A terceira, pela centralidade das questões de gênero e sexualidade para a compreensão daquele próprio poder. A quarta maneira, pela abertura à temática pantanosa do subjetivo e do sujeito para os Estudos Culturais, algo que desde então se tornou uma das marcas do campo. E por último, pela reabertura da “fronteira fechada” entre teoria social e psicanálise (idem). Para Hall, isso significou uma alteração profunda em seu trabalho, que já não podia de forma alguma continuar do mesmo modo, afinal até em sua própria casa seu casamento estava sendo renegociado! (STUART HALL PROJECT, 2013). A questão racial nos Estudos Culturais, por outro lado, foi, segundo Hall, uma ferrenha luta teórica que apenas aparece no projeto, e de maneira já tardia, no livro Policing the crisis. Esse livro marcou uma profunda virada no trabalho teórico e intelectual do CCCS – e também de Hall, embora raça e etnia já se fizessem presentes anteriormente –, e resulta de um longo e amargo combate contra um silêncio inconsciente. Na leitura que Hall faz de Gramsci, segundo Restrepo (2014. op. cit.), a hegemonia introduz um matiz de sentido crucial entre consenso e consentimento. Diferentemente da teoria marxista corrente, Gramsci dava especial atenção à sociedade civil como centro da luta ideológica, e a hegemonia seria um processo no qual se produziriam sujeitos políticos não preexistentes. Muito mais do que mera coerção ou consenso, a hegemonia é uma luta por consentimento. Isso por sua vez se liga a outra importante metáfora de Gramsci a qual Hall retorna incessantemente em seus escritos, aquela da passagem de uma guerra de manobras a uma guerra de posições. Segundo Gramsci (1990), ao contrário da guerra de manobras (e do ataque frontal), que no período atual é causa somente de derrotas, a guerra de posições trata de conquistar posições decisivas no interior da sociedade civil para a direção da mudança histórica. No período contemporâneo, assim, necessitam-se de outras estratégias para conduzir a luta política, na qual o conceito de hegemonia como “articulação (grifo meu) da

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diferença e definição do próprio terreno das disputas e do dissenso”14 (RESTREPO, 2014. op. cit. p. 39) responde de maneira satisfatória. A problemática da hegemonia aparece de maneira forte em Policing the crisis. Em 1972, após sair de um pub em Handsworth, um trabalhador irlandês foi abordado por três jovens de diferentes etnias, espancado e roubado. O crime ganhou grande repercussão da mídia e teve igual impacto na sociedade britânica. Algo que chamou a atenção Hall e outros membros da New Left, contudo, foi a alta pena que receberam os jovens – 40 anos de prisão somados. Policing the crisis foi escrito como uma resposta ao clima tenso da Inglaterra da década de 1970, no qual a população imigrante era acusada, em especial os jovens, dos problemas que assolavam a formação social inglesa. Como ficou claro, é central nesse texto a temática racial, e por isso deixarei um maior desenvolvimento dessa parte para o segundo capítulo. Um dos traços de grande relevância desse texto é que ele abre as portas para as discussões posteriores de Hall sobre o Thatcherismo e o populismo autoritário. O argumento principal de Policing the crisis é que o pânico moral dos anos 1970 tinha pouco a ver efetivamente com as atividades criminais – que os autores do livro inclusive viam como uma forma de resistência – dos jovens negros ou imigrantes, mas eram deslocamentos de uma crise muito maior que abalava a sociedade britânica no pós-guerra, uma crise – e aqui entra Gramsci pela porta da frente – de hegemonia. Nesse sentido, o livro, “é uma intervenção 15– mas uma intervenção no campo de batalha das ideias.” (HALL et all, 1978. p. x) Além disso, Policing the crisis é

um texto que combina, e gira em torno de, uma série de escritos de Hall através de diferentes áreas: é, por exemplo, uma extensão de seu trabalho sobre mídia (mais notavelmente a peça seminal “Codificação e decodificação”, primeiro rascunhado como um working paper em 1973), e pode ser fecundamente lido junto com o anteriormente coeditado Resistance through rituals (Hall & Jefferson, 1976), o qual partilha das preocupações com a juventude e pânico moral, com formações subculturais e a resistência, e com a passagem de uma sociedade definida pelo consenso a outra estruturada 16 pela crise e a coerção. (ALEXANDER, 2009. op. cit. p. 471)

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“la articulación de la diferencia y la definición del terreno mismo de las disputas y el disenso.” “as an intervention – albeit an intervention in the battleground of ideas” 16 “Policing the Crisis is a text which brings together, and pivots on, a range of Hall’s writing across different areas; it is, for example, an extension of his work on media (most notably the seminal piece ‘Encoding and decoding’ first drafted as a working paper in 1973), and can be fruitfully read alongside the earlier co-edited Resistance through Rituals (Hall & Jefferson 1976) which shares the concerns with youth and moral panics, with subcultural formation and resistance and with the shift from a society defined by consensus to one structured by crisis and coercion.” 15

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A articulação, por sua vez, para Hall, implica uma unidade momentânea de elementos diversos, que não necessariamente deveriam estar juntos, como por exemplo, os níveis de uma formação social – o ideológico, o político, o econômico. O termo entra na esteira de discussões de Hall que buscavam uma forma não reducionista de pensar as relações sociais.

Uma articulação é, então, a forma de conexão que pode criar uma unidade de dois elementos diferentes, sob determinadas condições. É uma ligação que não necessariamente é determinada, absoluta e essencial durante todo tempo. [...] A assim chamada “unidade” do discurso é realmente a articulação de elementos distintos, diferentes que podem ser rearticulados de diferentes maneiras porque não têm um “pertencimento” necessário.17 (HALL, 2010a.

p. 85)

A articulação é um conceito central para se compreender o tipo de trabalho intelectual de Hall e que garante seu espírito de falta de garantias. Para se pensar de maneira problemática as relações entre cultura, poder, economia e outras dimensões da vida social, sem que nenhuma tenha primazia sobre outra, é necessário refletir sobre suas interações no seio de uma dada formação social, algo que tal conceito possibilitou de forma excepcional. Sobre o papel da articulação com relação a Gramsci na obra de Hall, não podemos deixar de lado o texto A relevância de Gramsci para o estudo de raça e etnicidade. Como sugere o título, o trabalho se foca nas contribuições que Gramsci pode dar para se refletir de maneira problemática as relações entre classe, raça, cultura e poder, garantido pelo esforço do autor de escapar ao reducionismo econômico do marxismo ortodoxo. Hall vê na afirmação de Gramsci de que “o relacionamento entre ‘estruturas’ e ‘superestruturas’, ou a ‘passagem’ de qualquer movimento histórico orgânico por toda formação social, desde a ‘base’ econômica até a esfera das relações ético-políticas, situa-se no âmago de qualquer movimento histórico orgânico” (HALL, 2009d. p. 289) uma referência clara à questão da articulação dos níveis de uma formação social, tal como fora desenvolvido por Althusser e outros. Temos também que Gramsci, embora nunca tenha falado de raça, nas discussões sobre a questão do sul italiano teorizou de maneira avançada os vínculos entre campo e cidade, norte e sul, e como as diferenças de classe eram cortadas por (ou articuladas a) diferenças regionais. Assim, nessa fase dos escritos de Hall, o tema da articulação aparece

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“Una articulación es entonces la forma de conexión que puede crear una unidad de dos elementos diferentes, bajo determinadas condiciones. Es un enlace que no necesariamente es determinado, absoluto y esencial por todo el tiempo. [...]La así llamada ‘unidad’ de un discurso es realmente la articulación de elementos distintos, diferentes que pueden ser rearticulados de diferentes maneras porque no tienen una necesaria ‘pertenencia’”

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incessantemente, e no segundo capítulo o discutiremos à luz da problemática específica de raça e etnicidade. 1.3 terceira fase A terceira fase, chamada por Restrepo de ‘ênfase pós-estruturalista’, marca a aproximação e apropriação de Hall de alguns dos postulados de Foucault e Derrida sobre o discurso e a différance respectivamente. Entretanto, “este momento de seu trabalho intelectual deve ser compreendido mais como uma confluência do que uma ruptura.”18 (RESTREPO, 2014. op. cit. p. 42) Isso porque, ao se deparar com o pensamento crítico de matriz francesa, Hall não abandona muitas de suas influências teóricas anteriores, e tampouco a leitura de Hall desse movimento se choca com seus pressuspostos anteriores. Há uma curiosa relação de complementaridade entre os dois projetos, além de uma apropriação seletiva por parte de Hall dos postulados pósestruturalistas. Por exemplo, embora Hall a partir dessa fase passe a reconhecer que a realidade é estruturada como e pelo discurso, ele discorda que o único existente é o discurso – e aqui está uma das principais confusões sobre a obra de Hall, que é o fato de ele ser supostamente um pós-moderno. A crítica às determinações não implicaram na visão de que não existe nenhuma determinação e um jogo livre da realidade, e podemos até afirmar o contrário, uma vez que Hall, embora não acredite “no fechamento do pensamento”, considera “que a política não é possível sem o que [ele] denomin[a] de ‘clausura arbitrária’; sem o que Homi Bhabha chamou de agência social como clausura arbitrária” (HALL, 2009a. op. cit. p. 189). Devemos ressaltar que a relação de apropriação seletiva de Hall, que por sinal está em perfeita sintonia com a visão do autor da teoria como uma “caixa de ferramentas”, uma prática que busca fazer a diferença no mundo (idem), pode de maneira semelhante ser notada em uma série de estudos que marcam essa fase da obra do autor sobre a questão da representação, afinal, a filosofia da diferença não “se oporia” à representação? Como poderia Hall escrever sobre tal tema a partir de outro lugar? Fica, pois, claro o modus operandi intelectual de Hall, que combina diferentes elementos, às vezes até aparentemente conflitivos, em uma intervenção contextualizada. Conceitualmente, é importante nesta fase a noção, que Hall pega de Derrida, de différance. A ideia central desse conceito da desconstrução é sinalizar que a pretensão estruturalista de isolar todas as diferenças no interior de um sistema é impossível de ser concretizada, pois há sempre algo que escapa. Quando Saussure propõe a linguagem como um 18

“El énfasis posestructuralista en Hall en este momento de su labor intellectual amerita ser comprendido como una confluencia antes que como una ruptura.”

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sistema, do qual o significado dos signos apenas é extraído de suas diferenças para outros signos, ele comete o equívoco de considerar que existe um significado final que está ali e que pode ser imediatamente acessado. Para Derrida, o significado desliza em uma cadeia significante, é adiado em um texto, não está em nenhum lugar exato. Assim, para além da diferenciação interna dos signos, há também os limites que operam perturbando esses próprios signos e alterando o sistema de diferenças do qual são oriundos. Trazendo isso para o social, Hall consegue pensar a temática da identidade, por exemplo, nessa direção, como algo nunca fixo, uma sutura instável entre discurso e subjetividade constantemente perturbada por diversos outros elementos discursivos e extra-discursivos. Não é à toa que Hall vê a identidade como um conceito – e aqui outra influência de Derrida – que deve operar “sob rasura”, ou seja, que é inadequado para se pensar em sua forma tradicional mas sem o qual uma série de problemáticas não podem ser avançadas. Podemos destacar dessa fase os escritos de Hall sobre, como disse, representação e identidade, tais como The work of representation e A questão da identidade cultural – ou A identidade cultural na pós-modernidade. Seleciono-os aqui porque, em primeiro lugar, ambos foram escritos como introdutórios, sendo o primeiro de uma das apostilas da Open University – dentro daquele projeto político-pedagógico de Hall. Em segundo lugar, pois compreendem dois temas que mais ocupam Hall nessa fase. O terceiro motivo diz respeito ao caráter do segundo texto, que, como se verá no terceiro capítulo desta pesquisa, é o mais lido, ou pelo menos mais citado, texto de Hall no país dentro dos grupos de pesquisa de raça e etnicidade em Antropologia e Sociologia. The work of representation, ou o trabalho da representação, foi escrito como uma introdução à questão da representação, e trata de uma discussão geral sobre o conceito. Segundo Hall, a “representação conecta o sentido à linguagem e à cultura” (HALL, 2010b. p. 447), ou seja, ela “é uma parte essencial do processo mediante o qual se produz sentido e se intercambia com os membros de uma cultura.”19 (idem) Com base nisso, Hall tenta responder uma questão muito simples: como a representação consegue conectar sentido, linguagem e cultura? Interessa-nos que o texto se trata de um balanceamento bibliográfico que dá especial ênfase ao papel que as teorias do discurso – e em especial Foucault – têm para o estudo da representação. Para Hall, existem três principais teorias ou enfoques para o estudo da representação, a reflexiva, a intencional e a construcionista. Foucault e outros autores estruturalistas se encontram nesse terceiro grupo de teorias, que após uma análise crítica de Hall, são consideradas como a 19

“La representación conecta el sentido al lenguaje y a la cultura” […] “La representación es una parte esencial del proceso mediante el cual se produce el sentido y se intercambia entre los miembros de una cultura.”

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melhor forma para se pensar a questão. Desse modo, o texto enaltece esse giro no trabalho de Hall que é o encontro com o pós-estruturalismo, Assim como Gramsci, Foucault o faz se reposicionar no campo. A identidade cultural na pós-modernidade – na tradução brasileira, o original se chama The question of cultural identity – foi escrito para uma coletânea sobre modernidade como uma introdução ao tema. O centro do argumento de Hall é que na modernidade tardia passamos de uma concepção de sujeito dotada de um núcleo estável a outra que ele chama de sujeito pósmoderno, descentrado e que não possui uma identidade fixa. O texto teve grande impacto no Brasil, com sua tradução de 2000, como A identidade cultural na pós-modernidade, o que possivelmente pode ter levado a uma interpretação errônea de Stuart Hall como um pósmoderno. Restrepo apresenta uma última fase da obra de Hall que se volta principalmente à questão do pós-colonialismo. Como está em estreita relação com a temática racial, discutirei com mais atenção no segundo capítulo. Em todo caso, cabe dizer que a temática do póscolonialismo na obra de Hall se mistura de maneira intensa com o último momento citado, e podemos até dizer que desde um ponto de vista teórico o tratamento dado ao tema segue o mesmo modelo. As reflexões sobre identidade e representação, assim, vinculam-se estreitamente às discussões sobre pós-colonialismo e eurocentrismo do autor, sendo talvez a fase mais difícil, dentro do esquema de Restrepo, de ser separada de sua antecessora. Por isso, para fins analíticos as tratarei como uma única fase, embora concorde com os princípios que levam Restrepo a separá-las. 1.4 Sobre o levantamento da obra de Hall Para o andamento dessa investigação, eu realizei um levantamento em diferentes bases de mais de 317 de trabalhos de Hall, os quais eram demasiados dispersos e a maior parte não consegui acesso. Inicialmente me voltei aos livros publicados no Brasil, para com eles, chegar à fonte original de alguns dos artigos de Hall. Tratam-se aqui da coletânea Da Diáspora, organizada por Liv Sovik, do livro A identidade cultural na pós-modernidade, traduzido por Tomás Tadeu da Silva, do livro organizado por este mesmo autor , livro este que contém o artigo de Hall ‘Quem precisa de identidade?’, e três artigos de Hall publicados em periódicos nacionais, Identidades mínimas, A centralidade da cultura e Identidade cultural e diáspora. Além disso, há um artigo do autor intitulado O interior da ciência: ideologia e sociologia do conhecimento, publicado em

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um livro do Centro de Estudos Culturais Contemporâneos e traduzido ao português em 1980. Apesar de abrangerem cerca de 20 trabalhos de Hall publicados no Brasil, estão muito longe de corresponderem a toda a amplitude bibliográfica depois observada em minha pesquisa. Posteriormente, assim, recorri a uma lista publicada por Kuan-Hsing Chen em 1986 e atualizada no livro Critical Dialogues in Cultural Studies (1996a), que também recebe uma nota de Chen a respeito do mesmo problema com o qual nos deparamos aqui, que: “A natureza incompleta de alguns dos verbetes (entries), e da bibliografia como um todo, é devido ao fato que Hall publicou em lugares muito diversos, e eu apenas fui capaz de consultar as fontes disponíveis neste país ”20 (CHEN, 1986. p. 129). De qualquer maneira, ambas as listas – a original e a atualizada – permitiram um panorama mais abrangente dos escritos de Hall. Assim, à minha primeira lista foram acrescentados alguns dos trabalhos levantados por esses outros autores. Havia ainda o problema de se encontrar alguns textos posteriores ou anteriores ao período abrangido pelas listas consultadas. Para isso contei com a ajuda e contribuições do professor Eduardo Restrepo, da Pontificia Universidad Javeriana, na Colômbia, que por ser um estudioso de Stuart Hall também realiza o levantamento de todas as obras do autor, originais e traduções, assim como também recorremos à lista das obras de Hall construída pela University of West Indies. O resultado do cotejamento das diferentes listas mencionadas resultou num conjunto de 317 trabalhos21 listados, dos quais selecionei aqueles cujos temas eram relativos a raça e etnicidade, como corresponde. Os trabalhos, em seguida, passaram por uma breve análise. Disse no projeto desta pesquisa de iniciação que “o levantamento da obra de Hall consiste em uma pesquisa bibliográfica, embora não tenha como meta este projeto a leitura da extensa obra do autor”. Mas como é possível observar, mostrou-se a necessidade de se debruçar minimamente sobre os escritos de Stuart Hall, evidentemente, os que consegui acesso. No entanto, devido ao grande número de obras e o tempo limitado, trabalhei com um tipo específico de leitura, que aparece na seguinte tipologia apresentada por Marconi e Lakatos (2011), a partir de Harlow:

1.1.5.1 SCANNING – procura de um certo tópico da obra, utilizando o índice ou a leitura de algumas linhas, parágrafos, visando encontrar frases ou palavras-chave. 20

“The incomplete nature of some of the entries, and of the bibliography as a whole, is due the fact that Hall has published in very diverse places, and I have only been able to consult sources available in this country.” 21 Claire Alexander (2009. op. cit. p. 461) também cita a mesma cifra, embora não saiba ao certo quais foram os trabalhos encontrados: “The UWI Mona Library website (www.mona.uwi.edu/library/stuart_hall) lists, chronologically from 1957 to 2004, (an acknowledgedly incomplete) 317 separate publications, reflecting the broad span of Hall’s career”.

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1.1.5.2 SKIMMING – captação da tendência geral, sem entrar em minúcias, valendo-se dos títulos, subtítulos, ilustrações (se houver). Leitura dos parágrafos, tentando encontrar a metodologia e a essência do trabalho. 1.1.5.3 DO SIGNIFICADO – visão ampla do conteúdo, principalmente do que interessa, deixando de lado aspectos secundários, lendo tudo de uma vez, sem voltar atrás. 1.1.5.4 DE ESTUDO – absorção mais completa do conteúdo e de todos os significados, devendo ler, reler, utilizar o dicionário e fazer resumos. 1.1.5.5 CRÍTICA – estudo e formação do ponto de vista sobre o texto, comparando declarações do autor com conhecimentos anteriores. Avaliação dos dados quanto à solidez da argumentação, a fidedignidade e atualização. Se são corretos e completos. (HARLOW apud MARCONI et

LAKATOS, 2011. pp. 20-21)

Neste trabalho, tratando-se de uma iniciação científica, operei com o primeiro tipo de leitura listado por Harlow, adequado aos propósitos mais amplos deste texto. Assim, em oposição ao plano inicial, que previa operar a partir de palavras-chave para a seleção dos textos referentes à raça e etnicidade – eram elas race (raça), ethnicity (etnia), black (negro), identity (identidade) e racialization (racialização), – optei por uma leitura de scanning sobre os escritos do autor. Descartei o projeto inicial porque imediatamente se percebeu os limites daquela abordagem, uma vez que observado durante o processo de investigação que raça e etnicidade nunca aparecem de forma isolada na obra de Stuart Hall, estando sempre vinculadas a outras reflexões do autor. O que significa, de certa forma, que a identificação dos temas teria necessariamente de passar por uma elaboração, com fins analíticos, de um esquema que sistematizasse eventuais tendências, e isso foi feito a partir do tipo específico de leitura que propiciasse a empreitada. Além disso, parti do pressuposto de que há um estilo intelectual que marca Stuart Hall apesar dos deslocamentos em sua obra. Em 1996, Hall publica um interessante texto no livro The fact of blackness, no qual ele discute uma polêmica teórica acerca da obra de Frantz Fanon. Trata-se de uma discussão acerca das apropriações contemporâneas da obra desse autor, polêmica à qual Hall se posiciona com suspeita, em concordância com Henry Louis Gates Jr acerca do caráter contraditório e disperso daquelas. Mas principalmente, Hall afirma sobre a obra de Fanon algo que pode ser trazido quase que mecanicamente a minha investigação, apenas trocando “Fanon” por “Hall”. “Eu voltarei à proposição dúbia de algumas rupturas sintomáticas finais entre o trabalho inicial de Fanon e o trabalho final, assim como voltarei à questão de como devemos reler a multivocalidade de Pele negra, máscaras brancas.”22 (HALL, 1996b. p. 16) Para afirmar 22

“I will come back to the dubious proposition of some final symptomatic breaks between Fanon’s early and late work , as well as to the question of how we are to re-read the multi-vocality of Black Skins, White Masks.”

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isso sobre o trabalho de Fanon, Hall recorre a observação de que Fanon possui três diálogos inconclusos ao longo de sua vida intelectual, isto é, temáticas que persistem em todos os seus textos e que garantem uma coerência à leitura de sua obra como um todo. O diálogo com a psiquiatria francesa, o diálogo com Sartre, ou melhor, com Hegel através de Sartre e o diálogo com o movimento da negritude, ou simplesmente a concepção da cultura negra como um ponto positivo de identificação. (id. ibid. pp. 26-35) Esses diálogos são, obviamente, interrelacionados e não descartam as viradas que aconteceram em sua obra. Desse modo, uma tarefa inicial análoga a de Hall pode e será realizada aqui a respeito de seu próprio trabalho, levando em conta a proposta inicial de mapear sua obra. Este exercício, que chamarei aqui metaforicamente de ‘topografia intelectual’, permite enxergar em bloco e de forma simultânea corpos de conhecimento que são sempre construídos dispersa e cronologicamente. É um exercício que, é claro, não diz respeito apenas à obra de autores como Stuart Hall, e consiste em combinar reflexões separadas no tempo e no espaço de maneira a ilustrar momentaneamente uma pretensa coerência, com fins puramente analíticos. A tipologia que se seguirá, desse modo, deve ser encarada como “típica ideal” no sentido weberiano, que visa, pois, a dar conta da amplitude temática que observei durante a tarefa de listagem e identificação dos temas tratados por Hall em sua carreira intelectual – os que conseguimos acesso, evidentemente. Escolhi essa opção no momento em que me deparei, como foi dito, com a dificuldade de se selecionar textos de Hall que tratem de temas exclusivamente das temáticas de raça, etnicidade, identidade e diferença, estando estas sempre ligadas, ou melhor, “articuladas” a outras reflexões do autor, e foi justamente refletindo sobre tal ocorrência investigativa que recorri à centralidade da ideia de articulação para Hall apresentada na seção anterior. Como a articulação envolve também a pretensa “unidade do discurso” teórico, o próprio ato de teorização levado a cabo por Hall pode ser considerado em si como uma ‘articulação’, uma ‘sutura’ temática. É muito difícil, pois, isolar cada uma das reflexões que listamos. Sempre se faz necessário verificar as maneiras, “que não têm um pertencimento necessário”, em que os temas se articulam. A tipologia de temas elaborada compreende os seguintes verbetes: cultura popular, mídia e representação, questões de análise cultural, raça e etnicidade e política e hegemonia. Tais tendências, insisto, estão intimamente vinculadas entre si. - (CP) Cultura popular: abrange muito dos textos que versaram sobre culturas juvenis, como The hippies, an American Moment, Developments in British youth culture, Resistance through rituals e etc. Articulam-se também nesta tendência muitas das reflexões sobre identidades realizadas no

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final da vida de Hall e aquelas da sua segunda fase. Este diálogo inconcluso talvez apareça de forma mais bem marcada pela primeira vez no livro Popular arts, escrito em coautoria com P. Whannel, e de maneira revisada em Notes on deconstructing “the popular”. - (MR) Mídia e representação: Fortemente ligada à anterior, esta tendência inclui debates clássicos como o próprio Popular arts, Encoding and decoding, The determination of news photographs e até textos mais recentes como The work of representation. Tratam-se de debates acerca de filmes, televisão, fotografia e representações – como o que liga coisa, conceito e signo (HALL, 2010b). Stuart Hall tem alguns de seus trabalhos mais importantes para o desenvolvimento dos estudos culturais, precisamente, dentro desta macrotendência temática. - (QC) Questões de análise cultural: Voltada principalmente a discussões de matriz mais teóricas, essa tendência inclui escritos sobre metodologia e epistemologia da análise cultural, os debates com o marxismo, assim como contribuições conceituais ou intelectuais de autores ou movimentos teóricos para o desenvolvimento dos Estudos Culturais, que por sinal, muitas das discussões também podem entrar nesta tendência. São textos como Encoding and decoding, Signification, representation, ideology: Althusser and the post-structuralist debates, Gramsci’s relevance for the study of race and ethnicity, A ‘reading’ of Marx’s 1857 introduction to the Grundrisse e etc. - (RE) Raça e etnicidade: Foco desta pesquisa, a temática de raça e etnicidade emerge de diferentes formas ao longo da obra de Stuart Hall. Desde as primeiras reflexões sobre os imigrantes caribenhos na Inglaterra até os debates mais contemporâneos sobre diáspora, identidades, pós-colonialismo e a África no mundo. Assim, entram na esteira deste diálogo inconcluso: Black Britons, Gramsci’s relevance for the study of race and ethnicity, What is the black in black popular culture?, New ethnicities, The spetacle of the other e etc. - (PH) Política e hegemonia: Entram aqui trabalhos não apenas, em sentido estrito, sobre a Grã-Bretanha, isto é, aquelas que dizem respeito aos famosos escritos de Hall sobre o governo Thatcher e políticas trabalhistas, mas também questões sobre o desarmamento nuclear e alguns trabalhos sobre o caribe. Não raras vezes tais trabalhos se aproximam de uma ‘sociologia política’, refletindo sobre democracia e as transformações do Estado na GrãBretanha do pós-guerra. Incluem-se aqui, assim, textos iniciais como The new conservatism and the old, as famosas reflexões sobre thatcherismo como Thatcherism: a new stage?, The hard road to renewal e, entre outros, textos menos próximos do contexto britânico como Notes on the cuban dilemma e etc. Para melhor demonstrar a simultaneidade de todos esses diálogos inconclusos e evidenciar as maneiras como diferentes textos se articulam, elaborei um esquema gráfico.

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Como pode se notar abaixo, este esquema delimita um terreno intelectual sobre o qual os textos de Stuart Hall podem ser posicionados, conforme se articulem os diálogos mencionados.

Figura 1

Como exercício selecionei os textos contidos no livro Da diáspora para situá-los neste esquema. Este livro não foi escolhido à toa, considerando o eixo da pesquisa que se volta ao caso brasileiro. Dá diáspora está presente em processos de seleção para programas de pósgraduação, tais como o mestrado em Estudos Culturais, do EACH-USP, do PPCULT da UFF, do PPGS da UFSCar entre outros – no terceiro capítulo voltarei a esse ponto. Além disso, trata-se do segundo mais citado trabalho de Hall no Brasil, segundo as bases analisadas. Ao todo são catorze textos organizados por Liv Sovik em cinco partes; controvérsias, marcos para os estudos culturais, cultura popular e identidade, teoria da recepção e uma última parte, Stuart Hall por Stuart Hall, que contém apenas uma entrevista do autor concedida a KuanHsing Chen. A primeira parte contém os seguintes textos de Hall: Pensando a diáspora, A questão multicultural e Quando foi o pós-colonial?. A segunda, por sua vez, inclui: Estudos culturais: dois paradigmas, Significação, representação e ideologia: Althusser e os debates pós-estruturalistas, Estudos Culturais e seu legado teórico e Para Allon White: metáforas de transformação. Para fins de organização estética deste trabalho, tratarei em primeiro lugar estes sete primeiros textos,

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correspondentes às duas primeiras partes do livro Da diáspora, em seguida dos sete restantes das últimas três partes dentro do esquema tipológico proposto. - (PD) Pensando a diáspora: reflexões sobre a terra no exterior: Trata-se de uma palestra realizada na ocasião quinquagésimo aniversario de fundação da Universidade das Índias Ocidentais. Aqui, Stuart Hall discute, basicamente, as transformações que uma experiência diaspórica gera nas reflexões sobre identidades culturais e nacionais. Ao mesmo tempo em que há esse enfoque étnico-racial na situação dos caribenhos, Hall debate também formas como devemos interpretar teoricamente a própria questão da diáspora, e dessa forma, articula neste texto com maior intensidade dois diálogos de nossa tipologia – RE e QC. - (QM) A questão multicultural: Neste texto Hall discute com parte da Teoria que tenta fixar um sentido ao termo multiculturalismo, e o faz chamando atenção para o caráter multifacetado do conceito. Quando discute tais problemas teóricos, Hall não deixa – tampouco poderia – de falar sobre raça e etnicidade, assim como, é claro, discutir a dimensão inerentemente política dos debates sobre multiculturalismo. Articulam-se, pois, aqui três diálogos – QC, RE e PH. - (QPC) Quando foi o pós-colonial?: pensando no limite: Como um texto voltado especialmente a problemas teóricos, Hall discute em grande medida as interpretações e polêmicas que envolvem o termo “pós-colonial”, que em sua visão, muito mais do que descrever uma situação histórica indica uma atitude revisionista dos paradigmas interpretativos do pensamento ocidental, uma vez que todos os conceitos trabalhados no póscolonialismo estão “sob-rasura”. Não obstante, falar sobre pós-colonialismo necessita, ainda que tangencialmente, discutir problemas de raça e etnicidade. Assim, envolvem dois diálogos – QC e RE. - (DP) Estudos Culturais: dois paradigmas: Aqui Hall debate sobre tendências interpretativas dentro dos Estudos Culturais, identificando uma culturalista e outra estruturalista. Articula, essencialmente, um diálogo – QC. - (SRI) Significação, representação e ideologia: Althusser e os debates pósestruturalistas: Analisa as contribuições de Althusser para escapar das concepções marxistas clássicas acerca de ideologia e do próprio culturalismo em voga em parte dos trabalhos do Centro de Estudos Culturais Contemporâneos. Essa revisão sobre o problema da ideologia, também, leva Hall a discutir brevemente sobre Estado e política, o que em alguma medida também envolve um segundo diálogo – QC e PH. - (LT) Estudos Culturais e seu legado teórico: Debate as transformações que os Estudos Culturais geraram no campo teórico e uma narrativa histórica de sua formação. Termina por

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destacar a vocação iminentemente política dos estudos culturais e o que significa realizar um trabalho teórico sério. Articulam-se, assim, dois diálogos – QC e PH. - (MT) Para Allon White: metáforas de transformação: Discute o valor analítico e imaginativo que algumas metáforas proporcionam e necessidade de criação de uma nova metáfora para dar conta dos novos tempos, discussão essa que se encontra no livro de Peter Stallybrass e Allon White – que fez seu mestrado no CCCS à época que Stuart Hall lá se encontrava. QC. A imagem que se segue ilustra esses sete textos mencionados dentro do esquema tipológico. As linhas de diferentes cores indicam as articulações que cada texto traz das macrotendências temáticas de Hall, seus diálogos inconclusos, e a posição de cada texto dentro da figura indica a proximidade ou afastamento de cada um desses diálogos articulados – para fins puramente didáticos.

Figura 2

A terceira parte do livro, Cultura popular e identidade, abrange os seguintes textos: Notas sobre a desconstrução do popular, O problema da ideologia, A relevância de Gramsci para o estudo de raça e etnicidade e Que negro é esse na cultura negra?. A quarta parte inclui textos sobre mídia: Reflexões sobre o modelo codificação/decodificação e Codificação/decodificação. Por fim, a última parte, que traz a entrevista de Hall intitulada A formação de um intelectual diaspórico.

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- (NDP) Notas sobre a desconstrução do popular: Discute alguns problemas que emergem do conceito de ‘cultura popular’ na análise cultural. Afirma a ‘cultura popular’ como um terreno de contradições, não garantido, e locus privilegiado de luta. QC e CP. - (PI) O problema da ideologia: o marxismo sem garantias: Analisa as transformações e revitalizações que aconteceram e que podem acontecer no interior do marxismo devido a reformulações do conceito de ideologia. Hall encara este conceito como um problema geral, ou seja, que envolve questões teóricas e políticas. QC e PH. - (RG) A relevância de Gramsci para o estudo de raça e etnicidade: Este texto se foca nas contribuições que Gramsci pode dar para se refletir de maneira problemática as relações entre classe, raça, cultura e poder, garantido pelo esforço de Gramsci de escapar ao reducionismo econômico do marxismo ortodoxo. Há, assim, uma discussão sobre raça e etnicidade, mas também sobre epistemologia – levando em consideração que o texto explicita seu posicionamento gramsciano, que projeta conceitos para trabalharem em níveis mais baixos de concretude histórica (contextualismo) – e sobre política e, é claro, hegemonia. QC, RE e PH. - (QN) Que negro é esse na cultura negra?: Trata, principalmente, dos problemas subjacentes aos essencialismos quando se pensa a cultura popular negra e a própria concepção de identidade negra não intercruzada com outras diferenças, ao mesmo tempo em que reforça a concepção do popular como um local de luta, não binário e contraditório. CP, QC, RE. - (RCD) Reflexões sobre o modelo de codificação/decodificação: uma entrevista com Stuart Hall: Discute o esquema codificação/decodificação de Stuart Hall, cerca de dez anos após sua escrita. Nesse balanço Hall esclarece algumas interpretações “equivocadas” de seu modelo, assim como critica as apropriações que dele foram feitas. QC e MR. - (CD) Codificação/decodificação: Neste seminal escrito, Hall estabelece um debate com formas dominantes na pesquisa de comunicação de massa e propõe um modelo analítico próprio para pensar a produção e transmissão de mensagens, análogo ao esqueleto marxista exposto nos Grundrisse. MR e QC. - (FID) A formação de um intelectual diaspórico: uma entrevista com Stuart Hall, de KuanHsing Chen: Com foco especialmente na questão racial, fala sobre a formação pessoal e intelectual de Stuart Hall, de sua trajetória dentro dos Estudos Culturais e do surgimento da New Left. RE e PH.

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Figura 3

Este esquema que elaborei foi pensado apenas para os fins deste eixo da pesquisa, ou seja, que me permitiu identificar textos que tratem de raça e etnicidade na obra de Stuart Hall. Este procedimento – cujos gráficos foram desenhados com fins mais didáticos – indicam o procedimento que foi adotado para a seleção dos textos de Hall que tratam de raça e etnicidade – contidos no primeiro anexo desta pesquisa. Convém fazer uma observação de que o aparente caráter vicioso dos textos enquadrados no gráfico – por exemplo a presença quase que massiva do tipo QC (questões de análise cultural) – é tanto resultado do sistema que elaborei quanto, propriamente, dos tipo de textos de Hall compilados na obra Da diáspora. Sobre o segundo ponto, isso se dá pois a maior parte desses textos correspondem ao que Restrepo (2014. op. cit.) classificou como o final da segunda e a terceira fase de Stuart Hall, ou seja, aquelas que dizem respeito às inflexões gramscianas e os diálogos com o pósestruturalismo, elementos que expressam com mais facilidade a proximidade de Hall com os grandes debates teóricos do período. Em segundo lugar, há também possivelmente a opção de tratar no livro das reflexões de Hall que mais podem contribuir como solo analítico de futuras pesquisas no Brasil.

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2. No Hall de raça e etnicidade Este capítulo se propõe a apresentar uma leitura da temática étnico-racial em Stuart Hall a partir dos deslocamentos observados em seus tratamentos do tema. Como foi dito no capítulo anterior, é difícil garantir uma coerência ou mesmo unidade ao pensamento de Stuart Hall que não seja momentânea e orientada por algum aspecto que se pretenda privilegiar. Aqui, nosso aspecto são mudanças observadas na dimensão teórica do trabalho de Hall. Em consonância com o primeiro capítulo desta pesquisa, o fato do trabalho de Hall ser marcado por uma preocupação com o historicamente situado e o cronologicamente contingente faz com que suas intervenções acompanhem, logicamente, as flutuações do momento em que foram escritas e, portanto, qualquer trabalho que tente levar adiante a tarefa de qualificar os deslocamentos em sua obra deve estar especialmente atento a esse aspecto. Além disso, raça em Hall está intimamente ligada a sua própria experiência como imigrante das Índias Ocidentais na Inglaterra e, desse modo, também acompanha, para além do conjuntural, o processo de autodescobrimento do autor como “West indian” (HALL, 2009a. op. cit.), caribenho e diaspórico. Tendo isso em mente, não é meu objetivo aqui explicar as mudanças em seus textos, seja em qualquer um dos termos propostos acima, biográficos ou históricos, mas sim apresentar essas mudanças tal como elas podem aparecer nos escritos. 2.1 Prisma de formação caribenha Não se pode subestimar, como aparenta parte da literatura, a relevância que a origem caribenha de Hall teve no seu trabalho. De modo geral, os comentários de Hall sobre a interrupção que a questão de raça e do feminismo trouxe ao trabalho que se fazia no Centro (CCCS) foi lido dentro de um quadro de confusão entre vida do autor e trajetória institucional, e portanto, sendo interpretado como uma interrupção também na própria vida intelectual de Hall. Contudo,

a história de Hall não é a mesma do Centro. É possível que só até os anos 1970 se encontre o ponto de intersecção com seus interesses sobre raça e racismo e seu trabalho no centro, mas sua carreira esteve sempre ligada de maneira consistente a questões de raça e racismo. [...] As questões sobre raça e racismo eram, afinal de contas, parte vital da crítica da Nova Esquerda ao 23 marxismo. (GROSSBERG, 2006. op. cit. p. 50) 23

“Pero la historia de Hall no es la misma del Centro. Es posible que sólo hasta los setenta encontrara el punto de intersección con sus intereses sobre la raza y el racismo y su trabajo en el Centro, pero su carrera ha estado

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O que chamo a partir do próprio autor de “prisma de formação caribenha” é esse fantasma da diferença, da “outridão”, que permeia seu trabalho de muitas formas. Desde as críticas ao marxismo ortodoxo, por negligenciar o jogo complexo da cultura, até as reflexões mais recentes e evidentes sobre diáspora.

Eu devo dizer que, apesar de em muitos momentos da minha vida eu estar pensando sobre o que muitas pessoas no Caribe pensariam como outros problemas, outros lugares, outros dilemas, parece-me que eu sempre o fiz através do que posso chamar de o prisma de minha formação caribenha.24

(HALL, 2007. op. cit. p. 271) Pode ser que essa seja uma posição dita após uma vida examinada desde um ponto específico no tempo, um olhar ao passado biográfico do próprio autor. Em todo caso, tal preocupação com os caribenhos retorna de maneira insistentemente suficiente nas autonarrativas para ser negligenciada.

E quando em meados de 1950 [...], no começo da imigração massiva do Caribe para a Inglaterra, eu conheci homens e mulheres caribenhos negros procurando por trabalho e lugar para viver nas cinzentas, molhadas e inóspitas ruas de Londres [...], eu resolvi voltar, ler, ler sobre, tentar entender e fazer parte de mim a cultura que me fez e da qual eu nunca poderia – e já 25 não mais desejava – escapar. (id. ibid. p. 274)

Nesse sentido, é arriscado afirmar que a preocupação com a diáspora é um tema recente no autor pois sempre as reflexões sobre a Terra foram feitas do exterior. “Tudo isso, sem dúvida, explica como minha perspectiva sobre ‘ser um intelectual caribenho’ e minha conceptualização sobre ‘cultura’ adquiriu desde o primeiro momento uma inflexão interrompida e diaspórica.”26 (idem) ligada de manera consistente a cuestiones sobre raza y racismo. [...] Las cuestiones sobre raza e imperialismo eran, después de todo, parte vital de la crítica de la Nueva Izquierda al marxismo.” 24 “I have to say that, although in many moments of my life I have been thinking about what many people in the Caribbean would think of as other problems, other places, other dilemmas, it seems to me I have always been doing so through what I can only call the prism of my Caribbean formation.” 25 “And when in the mid-1950s after the Empire Windrush and the beginning of mass migration to England from the Caribbean, I met black Caribbean men and women looking for work and a place to live in the grey, wet and inhospitable London streets - one more turn in the story of the Middle Passage and a critical moment in the formation of another displaced black diaspora - I resolved to go back, to read, read about, try to understand and to make a part of me the culture which had made me and from which I could never - and no longer wished to escape.” 26 “All this no doubt explains how my perspective on 'being a Caribbean intellectual' and my conceptualization of 'culture' acquired from its earliest point so disrupted and diasporican inflexion.”

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A implicação desse quadro para minha pesquisa adquiriu uma influência de cunho epistemológico. Como foi dito no capítulo anterior, raça e etnicidade em Hall não podem – a não ser com sacrifícios teóricos – ser separados tematicamente pelo fato de se articularem a outros temas nas intervenções do autor. Os textos de Hall são infinitas negociações móveis de conceitos e temas na produção de algo momentâneo que capture a complexidade histórica do presente, produção essa que se converte em mais um eixo das articulações futuras, que aparecerão conforme se desloquem as conjunturas. “As posições teóricas de Hall são resultado da rearticulação de conceitos desenvolvidos em outras partes.”27 (GROSSBERG, 2006. op. cit. p. 48) Retorno a esse ponto ao longo do trabalho para sempre recordar dialeticamente do tipo de trabalho intelectual de Hall, e quando se trata se raça e etnicidade, outro ponto central que se soma à articulação temática que discuti é, segundo Lawrence Grossberg (2006. op. cit.), que esses são temas não apenas indissociáveis de outros temas, mas indissociáveis também do caráter contextualista dos textos do autor. Tal ressalva leva Grossberg a defender que a leitura comum, para bem ou para mal, que separou raça e etnicidade em Hall diz respeito ao cenário norteamericano – em especial pela relação entre os estudos negros e afro-americanos com os estudos culturais. Com o que foi dito acima em mente, meu objetivo é trabalhar a partir do prisma de formação

caribenha

como

um

pressuposto

epistemológico

que

visa

a

separar

metodologicamente, para dar conta de um contexto específico, raça e etnicidade em Hall, exatamente ao sinalizar que essas temáticas não podem ser separadas. Isso porque essa separação neste capítulo não ganha o tom de uma mera separação temática, mas tem principalmente o objetivo de verificar os intercâmbios que se desenham entre o trabalho geral de Hall e as questões de raça e etnicidade, só que ao invés de discutir as influências daquele sobre este, o alvo passa a ser verificar em que medida o prisma de formação caribenha em sentido amplo é indicativo e influente do próprio estilo de trabalho intelectual de Hall e de seus debates sobre os limites da teoria. Assim, apresentarei os deslocamentos no trabalho de Stuart Hall no que toca à questão racial, tendo como pressuposto de que, para além de um simples tema, é um dos pontos cruciais do estilo de trabalho intelectual do autor. Utilizarei, assim como no capítulo anterior, a mesma periodização de Restrepo, só que as fases ganharão nomes distintos: a fase imigrante, a fase negra e a fase diaspórica. Como se verá, os nomes foram escolhidos para marcar também as flutuações no próprio senso de si que Hall teve ao longo de sua vida, 27

“Las posiciones teóricas de Hall suelen ser resultado de la rearticulación de conceptos desarrollados en otras parte”

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conforme ele foi encarnando, assumindo e investindo nos diferentes discursos que o classificavam. 2.2 A fase imigrante Stuart Hall tem grandes mudanças em sua vida no que diz respeito ao seu próprio senso de si, tal como se fosse a expressão viva de sua teoria, a qual não poderia deixar de acompanhar as flutuações de sua biografia. Em Negociando identidades caribenhas, Hall diz que as identidades que assumiu sempre lhe foram oferecidas por outros, antes que ele pudesse ter qualquer tipo de identificação. Certa feita, quando visitava sua família na Jamaica pela primeira vez, em meados dos anos 1960, seus pais lhe disseram: “Espero que por lá não pensem que você seja um desses imigrantes.” (HALL, 2010c. p. 410) Ao que Hall comenta: “O engraçado é que eu nunca antes tinha me chamado de imigrante, ou me pensando como um imigrante. Mas tendo sido chamado ou interpelado, o aceitei imediatamente: é isso o que sou. Nesse momento, migrei.”28 (idem) É nesse momento que temos o que chamo esquematicamente de a fase imigrante de Stuart Hall. Não são muitos textos dessa fase do trabalho de Hall sobre raça, sendo considerados os principais The Young Englanders (1967) e Black Britons (1970). São textos de difícil acesso, e por isso aqui os tratarei via a citação de outros autores. Sobre essa primeira fase da obra racial de Hall é central seu engajamento com os problemas subjacentes à integração dos imigrantes das Índias Ocidentais na sociedade britânica do pós-guerra. Em Young Englanders, Hall lança luz sobre as dificuldades enfrentadas pelos por jovens imigrantes nessa sociedade, os quais têm que negociar seu território e sua tradição cultural com as da terra que os recebe e as novas experiências oriundas do contato.

Raça é um conceito coletivo. Essencialmente, relações raciais são mais relações entre grupos de pessoas do que indivíduos; relacionamentos nos quais as trocas entre indivíduos são mediadas e afetadas por todo o corpo de atitudes e crenças estereotipadas que existem entre um grupo e outro... O jovem imigrante já está tentando cobrir o espaço que há entre a GrãBretanha e seu lar.... Há a identidade que pertence a parte dele como West Indian, ou paquistanês, ou indiano... Mas há também a identidade do “jovem britânico” (young englander), a qual toda nova experiência se dirige... de alguma forma, ele tem que aprender a reconciliar suas duas identidades e fazer delas uma. Mas muitas das avenidas para a sociedade mais ampla estão

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“Y lo gracioso es que yo nunca antes me había llamado a mí mismo, o pensado acerca de mí mismo como un inmigrante. Pero habiendo sido llamado o interpelado, lo acepté inmediatamente: eso es lo que soy. En ese momento migré.”

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fechadas para ele.... A rota para trás está fechada, mas também está a rota para frente.29 (HALL apud ALEXANDER, 2009. op. cit. p. 470_

Esse senso de deslocamento ganha sentido na obra posterior de Hall como a experiência pósmoderna por excelência. Em Minimal Selves (1988a), Hall discute esse ponto de maneira curiosa:

Pensando sobre meu próprio senso de identidade, dei-me conta que sempre dependeu do fato de ser um migrante, de estar na diferença do resto de vocês. Assim, uma das coisas fascinantes sobre essa discussão é me encontrar finalmente centrado. Agora, na era pós-moderna, que vocês se sentem tão dispersos, eu me torno centrado.30 (HALL, 1988a. p. 44)

E o mesmo, de alguma forma, vale para os jovens negros e imigrantes ao qual dedicou as páginas de Young Englanders, que engatinhavam seu caminho em meio à sociedade britânica com a “dupla consciência” de serem jovens britânicos e negros caribenhos.

Eu fiquei intrigado pelo fato de jovens negros em Londres serem hoje marginalizados, fragmentados, não-emancipados, desfavorecidos e 31 dispersos. Ainda assim, eles agem como se fossem donos do lugar. (idem)

Como há o foco de Hall no contextual, não é de se surpreender que as discussões sobre o mesmo fenômeno ganhem diferentes significados em diferentes conjunturas. Em Black Britons e Young Englanders, Hall preocupa-se em mostrar nesses escritos, que partem de suas experiências nas décadas de 1950 e 1960, que há uma população britânica e negra que deve ser considerada, uma população que não é simplesmente de “fora”, mas que ao mesmo tempo veio

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“Race is a collective concept. Essentially, race relations are relations between groups of people rather than

individuals; relationships in which the personal exchanges between individuals are mediated through and affected by the whole body of stereotyped attitudes and beliefs which lie between one group and another . . . Already the young immigrant is trying to span the gap between Britain and home . . . There is the identity which belongs to the part of him that is West Indian, or Pakistani or Indian . . . there is also the identity of ‘the young Englander’ toward which every new experience beckons . . . somehow he must learn to reconcile his two identities and make them one. But many of the avenues into wider society are closed to him . . . The route back is closed. But so too is the route forward.” 30 “Thinking about my own sense of identity, I realised that it has always depended on the fact of being a migrant, on the difference from the rest of you. So one of the fascinating things about this discussion is to find myself centred at last. Now that, in the postmodern age, you all feel so dispersed, I become centred.” 31 “I’ve been puzzled by the fact that young black people in London today are marginalized, fragmented, unenfranchized, disadvantaged and dispersed. And yet, they look as if they own the territory.”

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para ficar, que coloca seus filhos nas escolas inglesas, que frequenta os mesmos hospitais que a população local. É o que Hall chama em uma entrevista (2005. op. cit.) de o momento póscolonial por excelência, a explosão da diferença que estava nas margens para dentro do centro. O deslocamento do Império. O problema da diáspora, nesse sentido, embora ganhe sistematização na última fase da vida de Hall, aparece de forma latente nesses primeiros escritos sobre a questão racial – ainda que consideremos que Hall nunca tenha trabalhado com raça enquanto uma subcategoria, mas sempre tratando toda uma formação social que está racializada (GROSSBERG, 2006. op. cit). Outro ponto é que nessa primeira fase aparecem de maneira incipiente os germes de uma discussão sobre raça e racismo que ganhará certa coerência e sistematização a partir da fase seguinte, quando raça emerge no projeto do Centro para ficar e passa por uma vital reformulação na obra de Hall, como um mecanismo central para a compreensão da sociedade contemporânea. A atenção sobre a fase imigrante de Hall, pois, serve-nos para mostrar que o mínimo de consciência do deslocamento sempre esteve presente no autor, que desde o começo teve problemas com o pronome “nós”.

Eu tinha uma perspectiva diaspórica sobre minha posição na Nova Esquerda. Mesmo que eu não estivesse escrevendo sobre diáspora, ou sobre política negra (não havia ainda muitos imigrantes negros morando na Grã-Bretanha), eu via o cenário da política britânica muito mais como alguém que tinha uma formação diferente. Sempre tive consciência dessa diferença (grifo meu); sabia que vinha da periferia daquele processo, que eu o encarava de um ponto de vista diferente. (HALL, 2009b. op. cit. pp. 397-398)

Esse ponto de vista diferente é o prisma de formação caribenha. Desse modo, o encontro do autor com os caribenhos expatriados precede em muito sua intervenção em Policing the Crisis (ALEXANDER, 2009. op. cit.), tal como costumam pensar alguns comentadores de sua obra. 2.3 A fase negra A fase negra de Hall se confunde com a virada à Gramsci, à teoria, com o trabalho desenvolvido no CCCS, naquilo que poderíamos qualificar como o momento mais acadêmico de Stuart Hall. Após a viagem do qual volta com o senso de si como imigrante, Hall retorna à Jamaica pouco tempo depois para mais deslocamento identitário, que será aqui a marca do tipo de intervenção do autor na segunda fase. Dessa vez, o que seus pais disseram foi: “Existe toda essa consciência negra, esse movimento negro nos Estados Unidos; espero que não esteja tendo muita

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influência por lá”. Ao que Hall comenta: “me dei conta que acabava de mudar de identidade outra vez. Confessei uma vez mais e disse: ‘na verdade, sou exatamente o que na Grã-Bretanha estamos começando a chamar de ‘negro’”32 (HALL, 2010c. op. cit. p. 410) O contexto em que se desenvolve a segunda fase de Hall é o da publicação de Policing the Crisis que falamos no primeiro capítulo. Além disso, globalmente do ponto de vista racial, o clima da década de 1960 e 1970 foi perpassado pelo movimento por direitos civis nos EUA e pelas lutas de descolonização em África, que tiveram influência nas intervenções da Nova Esquerda no período subsequente. O livro multi-autoral Policing the Crisis, assim, foi uma intervenção no discurso racial desse período, embora não tenha sido esse seu objetivo inicial. “O livro começou com assaltos (mugging), mas terminou em outro lugar”. A grande preocupação dos autores era verificar as formas em que certos problemas sociais mais gerais se condensavam na forma do “mugging”. Nós estamos preocupados com os assaltos – mas como fenômeno social, ao invés de uma forma particular de crime de rua. Nós queremos saber quais são as causas sociais do assalto. Mas isso é apenas metade – ou menos da metade – da história do assalto. Mais importante é porque a sociedade britânica reage ao assalto de forma tão extrema, nessa conjuntura história específica – o começo dos anos 1970”.33 (HALL et al. 1978. op. cit. p. vii) A conclusão que chegam os autores é que os “temas de raça, crime e juventude – condensados na figura do ‘assalto’ – servem como articulador da crise, seu condutor ideológico. [...] Essas são algumas das coisas que querem dizer por “assalto” como um fenômeno social. Esse é o porquê do estudo do assalto os ter levado inevitavelmente à crise de hegemonia geral da Grã-Bretanha dos anos 1970.”34 (id. ibid. p. viii) Policing the Crisis foi fundamental para deslocar, segundo Alexander (2009. op. cit), o trabalho do CCCS para longe dos estudos sobre assimilação, integração e o “problema do imigrante”, em direção ao reconhecimento do papel do discurso, da representação e de suas implicações para a sociedade de lei e ordem (law and order) emergente. Stuart Hall vê essa 32

“Así que no fue hasta mediados de los años sesenta, en otra visita a casa, que mis padres me dijeron: ‘Existe toda esta consciencia negra, este movimiento negro en los Estados Unidos; espero que no estés teniendo mucha influencia por allá’, y me di cuenta que acababa de cambiar de identidad otra vez. Confesé una vez más y dije: ‘En realidad, yo soy exactamente lo que en Gran Bretaña estamos empezando a llamar negro’.” 33 “This book started out with 'mugging', out it has ended in a different place […]We are concerned with 'mugging' - but as a social phenomenon, rather than as a particular form of street crime. We want to know what the social causes of 'mugging' are. But we argue. that this is only half - less than half - of the 'mugging' story. More important is why British society reacts to mugging, in the extreme way it does, at that precise historical conjuncture - the early 1970s.” 34 “It tries to examine why and how the themes of race, crime and youth - condensed into the image of 'mugging' - come to serve as the articulator of the crisis, as its ideological conductor. […]These are some of the things we mean by 'mugging' as a social phenomenon. It is why a study of 'mugging' has led us inevitably-to the general 'crisis of hegemony' in the Britain of the 1970s.”

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obra como exemplar do que é fazer estudos culturais, ou em suas palavras, “trabalho intelectual sério”, da qual um dos traços foi não isolar raça como um simples problema negro:

Se só tivessem tomado raça como um problema negro, teria visto o impacto da lei e das políticas da ordem nas comunidades locais, mas nunca teriam visto até que ponto os problemas de raça e do delito eram um prisma de uma crise social muito maior. Não teriam visto a imagem maior. Teriam escrito um texto negro, mas não teriam escrito um texto sobre estudos culturais, porque não teriam visto essa articulação para acima dos políticos, nas entidades judiciais, até abaixo, no caráter popular da gente, na política, assim como na comunidade, na pobreza e na discriminação para com os negros.35 (HALL apud GROSSBERG, 2006. op. cit. pp. 55-56)

Logo, o ponto importante de raça na segunda fase de Hall, que acompanha o surgimento de sua identidade racial de “negro” – que não foi meramente uma descoberta de uma base epidérmica sempre presente, mas apenas pôde surgir em um contexto histórico-social específico –, é o tratamento dessa variável como um elemento central para a análise crítica das formações sociais. Gramsci e Althusser, como disse no primeiro capítulo, são grandes influências aqui, em especial para apontar o papel que têm o Estado e a Mídia na produção e propagação de ideologias e na construção de uma hegemonia, no caso analisado em Policing the Crisis, o pânico moral ao redor dos assaltos. No entanto, do ponto de vista étnico-racial, a leitura de outro autor se torna marcante nessa obra, e que persegue o trabalho de Hall até suas intervenções posteriores. Frantz Fanon foi um psiquiatra martiniquenho negro, conhecido principalmente por seus trabalhos em torno dos problemas psíquicos decorrentes da situação colonial e por seus escritos políticos, importantes para a luta anticolonial. Em 1961, o autor publica o polêmico livro Os Condenados da Terra, pouco antes de morrer de leucemia no mesmo ano. Um dos pontos centrais e foco de grandes debates no texto de Fanon girou em torno do tema da violência, um elemento constantemente invocado aos discursos que tratavam do fenômeno dos assaltos na Inglaterra dá década de 1970, principalmente pelo Estado e pela mídia. Ao pensar a relação dos jovens negros com os assaltos, Hall e os outros autores sublinharam que a classe trabalhadora negra na Grã-Bretanha é constituída por duas histórias diferentes e 35

“Si sólo hubieran tomado la raza como un problema negro, habrían visto el impacto de la ley y las políticas del orden en las comunidades locales, pero nunca han visto hasta qué grado los problemas de la raza y el delito eran un prisma de una crisis social mucho mayor. No habrían mirado la imagen mayor. Habrían escrito un texto negro, pero no habrían escrito un texto sobre estudios culturales porque no habrían visto esta articulación hacia arriba de los políticos, en las entidades judiciales, hasta abajo del carácter popular de la gente, en la política, al igual que en la comunidad, en la pobreza y en la discriminación hacia los negros.”

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interssecionadas: a do trabalho no Caribe e a história da classe operária britânica. Esse último elemento é importante, de acordo Hall e os outros autores, porque a “conexão com o terceiro mundo coloca a relação entre desemprego, marginalidade e crime em uma nova perspectiva.”36 (HALL et al, 1978. op. cit. p. 381) Se for verdade que há essa dimensão negligenciada, o caráter imperial e colonial que também faz parte da relação dos jovens negros e imigrantes na Inglaterra, Fanon pode dar uma resposta relevante à questão da violência – deve-se ter claro que os autores não louvam o assalto ou a figura do assaltante como aquele que reverterá os males do racismo –, sendo ela, assim, a expressão de um inconsciente político, um “retorno do reprimido”. “Fanon deu um destaque particular à solução violenta (como oposta à puramente militar) para a questão da opressão colonial, uma vez que a prática da violência coloca o colonizado ‘junto como um todo’, assim como, individualmente, libera o ‘nativo de seu complexo de inferioridade e de seu desprezo e inação’”.37 (id. ibid. p. 384) A relação entre os assaltos e os trabalhadores colonizados negros, pois, se torna evidente. Outro texto da fase negra de Hall e que captura isso que julgo central nessa fase, a tentativa de pensar raça como estruturante de formações sociais, é Race, articulation and societies structured in dominance. O texto tenta principalmente questionar paradigmas interpretativos hegemônicos no tratamento da questão racial em vista de apresentar uma nova perspectiva, altamente influenciada por Gramsci, que vê questões de raça e etnicidade como uma articulação complexa entre bases materiais e fenômenos culturais, e claro, ao mesmo tempo estruturantes da própria realidade social. Segundo Hall (1980), as duas tendências dominantes no tratamento de raça e etnicidade podem ser chamadas de a “econômica” e a “sociológica”, as quais como muitas vezes ocorre a paradigmas rivais, terminam por parecer reflexos invertidos uma da outra. A primeira “toma as estruturas e relações econômicas como dotadas de um efeito completamente determinante sobre as estruturas sociais de tais formações [racialmente estruturadas].”38 (idem. p. 306) Os autores da segunda, a sociológica, “embora difiram internamente [...] concordam com a autonomia e o não-reducionismo de raça e etnicidade como aspectos sociais.”39 (idem)

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“the Third World connection puts the relationship between unemployment, marginality and crime in a new perspective.” 37 “Fanon laid particular stress on a violent (as opposed to purely military) solution to the question of colonial oppression, since the practice of violence binds the colonized ‘together as a whole’, as well as, individually, freeing ‘the native from his inferiority complex and from his despair and inaction’” 38 “they take economic relations and structures to have an overwhelmingly determining effect on the social structures of such formations.” 39 “however they differ internally, the contributors to the sociological tendency agree on the autonomy, the nonreductiveness, of race and ethnicity as social features.”

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Para Hall, a primeira tendência está certa por um lado em nos chamar a atenção para o fato que as estruturas raciais não podem ser entendidas sem remeter, em algum nível, aos conjuntos de relações econômicas. Por outro lado, a segunda está correta também quando aponta para a especificidade e autonomia de raça como traço sociológico. Com o conceito de articulação, Hall destaca a complexidade necessária de qualquer formação social. Raça, certamente, possui sua especificidade enquanto traço social, mas deve ser tratada em relação direta às estruturas econômicas de uma dada sociedade. A articulação, que discutimos no primeiro capítulo, visa assim a vincular diferentes níveis de uma formação social em um todo analítico momentâneo. O fenômeno do racismo, para Hall, não deve ser tratado como um traço geral das sociedades humanas, mas como formas historicamente específicas. A atenção deve se voltar à diferença, à especificidade, ao invés de qualquer pretensa estrutura universal e trans-histórica. O racismo varia no tempo e no espaço, e deve ser analisado dessa forma.

2.4. A fase diaspórica A fase diaspórica de Hall é assim classificada porque sua experiência passa a ser vista através desse conceito. É nessa fase que reflexões anteriores são reavaliadas à luz de transformações do final do século XX e da apropriação por parte de Hall de novos postulados teóricos, em geral oriundos da teoria pós-colonial e do pós-estruturalismo. Diferentemente das fases anteriores, não é resultada de uma interpelação direta, mas de um longo processo de autodescobrimento que começa a fazer sentido nesse momento. É apenas agora que Hall consegue dar voz a certos sentimentos de longa data que não conseguiam expressão de maneira adequada com outros conceitos e em outras conjunturas. Como ressaltei, o prisma de formação caribenha, a origem deslocada, cindida, dupla, e por que não, diaspórica, sempre esteve presente em Hall desde que chegou à Inglaterra. No entanto, essa experiência ganha um significado novo nessa fase especificamente. Do ponto de vista de seu trabalho, há o descobrimento crítico das relações históricas dos imigrantes caribenhos com África, com o passado colonial, assim como a leitura de todos esses processos como indissociáveis. As identidades de Hall, suas “fases”, seu pensamento, não foram – isso é importante – simplesmente trocadas ou descartadas, mas muito mais sobrepostas, articuladas na composição de algo novo, uma “nova etnicidade”. O que chamo de fase diaspórica é essa problematização no trabalho de Hall das antigas posições, simboliza a (re)emergência da identidade na política e na análise cultural de maneira deslocada – em grande parte pelas

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reconceptualizações do termo pelo feminismo e a psicanálise –, revelando as formas complexas de construção de nós mesmos. Hall passa a ver a si próprio e os outros imigrantes, por exemplo, a partir da constatação que eles sempre estiveram na Inglaterra:

Pessoas como eu que vieram para a Inglaterra nos anos cinquenta estiveram aqui durante séculos; simbolicamente estivemos aqui durante séculos. Eu estava voltando para casa. Sou o açúcar no fundo de uma xícara de chá inglesa. Sou a debilidade pelo doce, as plantações de açúcar que apodreceram gerações de dentes de meninos ingleses. Existem muitos de outros além de mim que são a xícara de chá em si, não é verdade? Por que não cultivam em Lancashire, não é verdade? Não existe uma só plantação de chá no Reino Unido. Esta é a simbolização da identidade inglesa, ou seja, o que sabe qualquer pessoa do mundo sobre um inglês além do fato de que não pode passar um dia sem uma xícara de chá? E de onde vêm? Ceilão, Sri Lanka, Índia. Essa é a história de fora que está dentro da história dos ingleses. Não há história inglesa sem essa outra história.40 (HALL, 2010d.

p. 321) A entrevista de Hall concedida a Kuan Hsing Chen, publicada em 1996, inicia de maneira sintomática com o comentário de Chen sobre a obra de Hall:

Em seu último trabalho sobre raça e etnia, a diáspora parece ter se tornado uma figura central – um dos pontos críticos sobre o qual a questão da identidade cultural é articulada; em certos momentos, fragmentos de sua própria experiência diaspórica foram narrados de forma impactante, para abordar problemáticas políticas e teóricas. (HALL, 2009b. p. 385)

Essa passagem é de particular importância pois destaca um elemento que causa uma relativa confusão na interpretação dos escritos de Hall dessa fase, o da pretensa dissociação de raça e etnicidade da discussão do autor sobre identidade cultural. Na verdade, o tema da identidade aparece de forma intimamente vinculada à raça e etnicidade, e provavelmente emerge da atenção sobre essas questões e suas transformações no final do século XX. Quase uma década antes das intervenções mais conhecidas de Hall sobre identidade, tais como: A identidade

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“Personas como yo que vinieron a Inglaterra en los años cincuenta han estado aquí durante siglos; simbólicamente, hemos estado aquí durante siglos. Yo estaba regresando a casa. Soy el azúcar en el fondo de una taza de té inglesa. Soy la debilidad por el dulce, las plantaciones de azúcar que pudrieron generaciones de dientes de niños ingleses. Hay miles de otros aparte de mí que son la taza de té en sí, ¿no es cierto? Porque no lo cultivan en Lancashire, ¿no es cierto? No existe una sola plantación de té en el Reino Unido. Ésta es la simbolización de la identidad inglesa, o sea, ¿qué sabe cualquier persona del mundo acerca de un inglés salvo que no puede pasar el día sin una taza de té? ¿De dónde viene? Ceilán, Sri Lanka, India. Esa es la historia de afuera que está dentro de la historia de los ingleses. No hay historia inglesa sin esa otra historia.”

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cultural na pós-modernidade e Quem precisa de identidade?, o autor publica em Minimal Selves (1988, op. cit) uma breve discussão sobre identidades justamente a partir da experiência dos jovens negros, e dois anos após esse texto, aparece Cultural identity and diaspora, no qual Hall tenta debater a questão da identidade cultural a partir de algumas lições que o Caribe pode nos dar, decorrentes da formação diaspórica dessa parte de mundo. É como se a diáspora inserisse no processo de construção de identidades uma interrupção, que opera no caso das identidades negras do Caribe por dois eixos de vetores simultâneos, centrípetos e centrífugos, um de “similaridade e continuidade” e outro de “diferença e ruptura” (HALL, 2010e. p. 352). A conclusão que Hall retira do Caribe é que

as identidades culturais são pontos de identificação, os pontos instáveis de identificação ou sutura, que são feitos dentro dos discursos da história e da cultura. Não são uma essência mas um posicionamento. Assim, sempre há políticas da identidade, políticas de posição, que não têm garantia total em uma “lei de origem” transcendental e não problemática.41 (idem)

Assim, a visão de identidade como ponto de sutura, uma contribuição importante de Hall, aparece fortemente ligada à discussão sobre raça, etnicidade e diáspora, antes de seu desenvolvimento mais elaborado em Who needs “identity”?, de 1996. As identidades são construídas processualmente em meio a um jogo de forças complexo entre subjetividade e cultura, passado e futuro, diferença e similaridade. Em Old and New Identities, Old and New Ethnicities, de 1991, essa concepção alargada do que é etnicidade para Hall, em estreita conexão com a identidade, se torna evidente. As antigas identidades e etnicidades, para o autor, eram muito baseadas em uma concepção de similaridade, de que existe em algum ponto do passado algo que faz de todos nós, apesar das diferenças, um. Para Hall, nos novos tempos surgem novas concepções de identidade e etnicidade, que vivem “através da diferença. É a política de reconhecer que todos estamos compostos de múltiplas identidades sociais, e não uma. Que todos fomos construídos de maneira complexa, através de diferentes categorias [...] e que todas podem ter o efeito de nos localizar socialmente em múltiplas posições de marginalidade”42. (HALL, 2010d. op. cit. p. 328) Para os debates de nossa pesquisa, essa 41

“Las identidades culturales son puntos de identificación, los puntos inestables de identificación o sutura, que son hechos dentro de los discursos de la historia y de la cultura. No son una esencia sino un posicionamiento. Así, siempre hay políticas de identidad, políticas de posición, que no tienen garantía total en una “ley de origen” transcendental y no problemática.” 42 “Eso es la política de vivir la identidad a través de la diferencia. Es la política de reconocer que todos nosotros estamos compuestos por múltiples identidades sociales, y no por una. Que todos fuimos construidos de manera

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concepção de etnicidade traz, além da óbvia relação entre raça, etnicidade, identidade e poder na obra de Hall, outra implicação fundamental. Ela afasta Hall da interpretação de que sua concepção de identidade/etnicidade teria vindo da Antropologia, e que seria “pouco original”, como se defende na passagem a seguir:

O fato é que o conceito de cultura antropológico perde espaço sistemático para um conceito de identidade. [...] Entram em campo, então, concepções de identidade que muito devem à antropologia, mas que pouco reconhecem este fato. A noção de identidade de Stuart Hall, por exemplo, tem grande influência sobre a produção da escrita antropológica, ocupando o lugar de destaque em vários textos recentes. É como se tratasse de uma grande novidade. (MACHADO, 2004. p. 21)

A interpretação equivocada que vincula a perspectiva de Hall a outras anteriores ignora o que há de radicalmente transgressor em sua proposta, que é o jogo complexo e intercruzado de diferenças operando na construção de identificações politicamente relevantes. Não se trataria, assim, de uma releitura da noção de etnicidade para Fredrik Barth (1997), por exemplo, mas de uma nova intervenção. As novas etnicidades, para Hall, não são resultado de uma mera posição analítica com relação a uma problemática, mas bem mais uma resposta política aos dilemas do mundo globalizado:

Ao final do meu discurso tive que formular a pergunta de se há uma política, na verdade, uma contrapolítica do local. Se estão em funcionamento novos globais, novos locais, quem são os novos sujeitos dessa política de posição? Em que identidades concebíveis poderiam aparecer? Pode a própria identidades se repensar e se reviver na diferença e através dela?43 (HALL,

2010d. op. cit. p. 315

Do ponto de vista da questão racial é também importante sinalizar que as leituras pósestruturalistas da fase diaspórica de Hall trouxeram uma problematização significativa das políticas de identidade e de representação. Em outro trabalho, New Ethnicities [1989], Hall marca o deslocamento das políticas de identidade através da discussão da produção cultural

compleja, a través de diferentes categorías, diferentes antagonismos, y éstas pueden tener el efecto de localizarnos socialmente en múltiples posiciones de marginalidad y subordinación, pero que todavía no actúan sobre nosotros de exactamente la misma manera.” 43 “Al final de mi discurso, sin embargo, tuve que formular la pregunta de si hay una política, en realidad, una contra-política de lo local. Si están em funcionamiento nuevos globales y nuevos locales, ¿quiénes son los nuevos sujetos de esta política de posición? ¿En qué identidades concebibles podrían aparecer? ¿Puede la identidad misma repensarse y revivirse, en la diferencia y a través de ella?”

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negra. Como nosso foco aqui é a teoria, é relevante nesse texto que o autor vê os diferentes momentos da política cultural negra por ele identificados como extremamente baseados em tipos específicos de análise cultural e política (HALL, 2010f), e que a emergência das “novas etnicidades” ao final do século XX, que discutimos acima, remete a um deslocamento nesses tipos de análise cultural – que bem poderia ser metaforizado pela passagem da guerra de manobras à guerra de posições. O pós-estruturalismo e o pós-colonialismo foram centrais para a elaboração original de Hall da política de localização. Esses dois movimentos intelectuais que marcam a fase diaspórica aparecem de maneira interligada em sua obra. Para Hall, o pós-colonial, longe de simbolizar um período histórico, é um gesto desconstrutivo, no sentido derridiano, que coloca “sob rasura” as narrativas eurocentradas. “Por trás do termo [póscolonial] há uma escolha mais profunda de epistemologias: entre uma lógica racional e sucessiva e outra desconstrutora.” (HALL, 2009e. p. 114) Nessa epistemologia, diáspora e raça jogam papel central, revelam a história oculta, negra, da história inglesa. A leitura pós-estruturalista e póscolonial revelam que o ocidente e o resto são dois lados da mesma moeda, que a Europa está sujeita à política de localização assim como os indivíduos e enuncia seus discursos desde essa posição específica. Na fase diaspórica, pois, debates e preocupações anteriores voltam e são reorganizados a partir de novas premissas e temas.

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3. Stuart Hall no Brasil Nos dois capítulos anteriores me voltei a apresentar de maneira geral a obra de Stuart Hall. O foco era mostrar o que marcava o estilo intelectual do autor, a que temas se dedicou, e como raça e etnicidade apareciam em sua obra. Com isso, esperava preparar o terreno para apresentar as formas como esse pensamento foi apropriado por grupos de pesquisa nas áreas de Antropologia e Sociologia no Brasil que se voltaram ao estudo de raça e etnicidade. Nesse sentido, apresentarei a seguir como se deu o encaminhamento metodológico desse eixo da pesquisa e, após isso, a apresentação e discussão dos dados obtidos.

3.1 Metodologia A verificação da recepção da obra de Stuart Hall no Brasil se deu sobre duas amostragens; os grupos de pesquisa em Sociologia e Antropologia e os programas de pósgraduação nessas mesmas áreas. O intuito era verificar se Stuart Hall aparecia nesse cenário e como. Para isso, a métrica escolhida foram citações da obra do autor, uma vez que elas permitiam indicar tendências pela capacidade de serem manipuladas quantitativamente, como se verá mais adiante. Uma consideração importante sobre essa escolha metodológica desponta do caráter de iniciação científica desta investigação, o que impediu uma análise bibliográfica e qualitativa da produção dos grupos de pesquisa e dos programas de pósgraduação levantados. Assim, apesar de serem indicadas as obras que estão sendo “apropriadas”, ou simplesmente citadas, pouco se pôde discutir acerca do modo como tais obras são apropriadas/citadas. Em todo caso, acredito que os dados recolhidos indicam tendências e permitem debates relevantes sobre a recepção da obra de Stuart Hall no Brasil. Em primeiro lugar, o levantamento dos grupos de pesquisa se fez na plataforma do CNPQ, a partir das seguintes palavras-chave: Estudos Culturais; Stuart Hall; Relações raciais; Relações étnico-raciais; Diáspora; Pós-colonial. Foram selecionados para avaliação e verificação aqueles grupos que pertenciam às áreas de Sociologia ou Antropologia, excetuando-se apenas a busca com a palavra-chave Stuart Hall – que apenas identificou dois grupos de pesquisa considerando todas as áreas disciplinares. A escolha das palavras-chave foi feita com o objetivo de abranger não apenas os grupos que tratam diretamente de relações raciais/étnico-raciais, como estava previsto no projeto, mas como outros que potencialmente lidariam com a obra de Hall. A área de Estudos Culturais, do qual Hall é um dos fundadores,

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foi considerada, assim como as reflexões sobre diáspora e pós-colonialismo – que como foi explicitado no segundo capítulo desta pesquisa, tomou parte significativa das reflexões maduras de Stuart Hall. Foram levantados e analisados 78 grupos de pesquisa. Ainda sobre os grupos de pesquisa, devem ser destacadas duas ocorrências investigativas de grande significância. A primeira delas é que o uso das palavras-chave trouxe grupos que não aparentam necessariamente se dedicar a análises de problemáticas étnicoraciais, tais como os de religião ou violência. Em outros casos, alguns dos grupos não estavam atualizados na base de dados do CNPq. Por motivos de praticidade metodológica, optou-se por considerá-los de igual maneira, levando-se em consideração apenas o fato de terem sido invocados pelas palavras-chave usadas na busca. A segunda ocorrência diz respeito mais diretamente às palavras-chave utilizadas, que podem não ter sido suficientes para abarcar todo o amplo espectro de grupos que voltam à questão racial de alguma maneira. Logo, os grupos levantados devem ser retidos como indicativos de tendências que aqui serão identificadas e desenvolvidas. O levantamento das obras (produção dos grupos de pesquisa) realizado para esta investigação se fez sobre duas bases de dados: a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) e o Scielo (Scientific eletronic library). Como era necessário avaliar as citações de Hall nos grupos de pesquisa, procuramos bases de dados que pudessem compreender tanto os trabalhos dos líderes dos grupos quanto de seus alunos, e tal pôde ser apreciado nessas duas bases de dados, respectivamente BDTD e Scielo. O único empecilho metodológico dessa escolha é que nem sempre as teses e dissertações orientadas podem estar vinculadas à BDTD, assim como trabalhos de líderes dos grupos poderiam não estar em periódicos indexados pelo Scielo. Isso limita, por um lado, os trabalhos que foram levantados, e grupos que poderiam às vezes ter algum diálogo com Hall não entraram nessa categoria pela escolha dessas bases de dados. Em todo caso, a análise da produção dos grupos de pesquisa a partir das bases mencionadas, de um ponto de vista qualitativo, permitiu identificar, para além do número de citações da obra de Hall, se o autor estava sendo lido ou não, o que já é por si importante pois muitos dos dados foram organizados a partir dessa presença ou ausência da Hall – independente da quantidade. Hall foi citado em 94 trabalhos analisados. As obras de Hall, por sua vez, foram buscadas nas bibliografias dos trabalhos encontrados, ou seja, aqueles orientados por algum dos líderes dos grupos de pesquisa levantados ou dos próprios líderes. Para fins metodológicos, cerca de três textos que citavam capítulos em específico do livro Da Diáspora foram considerados como citações da própria coletânea, e não parciais. A escolha de se fazer isso jaz em dois motivos fundamentais, o

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primeiro é o fato de que citar um artigo do livro já revela o conhecimento do autor que fez a citação de que, logicamente, o livro existe – e portanto, demonstra os contatos tidos com as obras de Hall –, e apenas optou-se por utilizar aquilo que era mais útil. Em segundo lugar, pois o número pequeno de ocorrências do tipo, em relação ao total de citações de Da Diáspora de modo integral, não justificava a alocação desses textos como uma categoria separada na análise quantitativa. Sempre que encontrar Da Diáspora, pois, estar-se-á incluindo também as citações de apenas alguns dos textos da coletânea. Por fim, sobre a análise dos programas de pós-graduação, há que destacar que se tratou do ponto menos problemático desta fase da investigação. Foram analisadas as bibliografias dos editais mais recentes de seleção de todos os programas de pós-graduação incluídos pela CAPES nas áreas de Antropologia (27 programas de pós-graduação) e Sociologia (52 programas). O mais importante aqui é a comparação possível de se estabelecer entre os programas de pós-graduação e os grupos de pesquisa, com o fim de verificar diferenças ou semelhanças no tratamento da obra de Hall.

3.2 Apresentação dos dados obtidos Abaixo os grupos levantados. Aqueles que possuem o nome de algum de seus líderes em vermelho indica que Hall foi encontrado ou nos trabalhos de tal líder ou em orientações. Os trabalhos que se encontram citados podem ser consultados na bibliografia em anexo (anexo II) ao fim deste relatório. Além disso, em alguns dos grupos, fizemos breves comentários acerca da seção “repercussões do grupo” ou outro traço que seja digno de nota, para além da identificação das citações.

Grupos com a palavra chave: estudos culturais (sociologia e antropologia) 1) Grupo de pesquisa: CRISOL - Grupo de Pesquisas e Estudos Culturais Instituição: UFMA Líder(es): Alexandre Fernandes Corrêa e Adalberto Luiz Rizzo de Oliveira Área: Antropologia

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Nas teses dissertações orientadas pelos dois líderes do grupo, apenas uma citava Stuart Hall (CARVALHO, 2012), a obra A identidade cultural na pós-modernidade. Sobre as produções dos líderes, Hall foi apenas identificado na tese de Alexandre Corrêa (2001), que cita mesmo livro mencionado 2) Grupo de pesquisa: DIADORIM - Núcleo de Estudos de Gênero e Sexualidade Instituição: UNEB Líder(es): Osvaldo Francisco Ribas Lobos Fernandez e Zuleide Paiva da Silva Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas por parte tanto dos líderes quanto dos trabalhos orientados. 3) Grupo de pesquisa: Arte.com Instituição: UFMT Líder(es): Laudenir Antonio Gonçalves e Thaís Leão Vieira Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas por parte tanto dos líderes quanto dos trabalhos orientados. 4) Grupo de pesquisa: Estudos Culturais sobre classe, gênero e raça Instituição: IFB Líder(es): Glauco Vaz Feijó e Suselaine Serejo Martinelli Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas por parte tanto dos líderes quanto dos trabalhos orientados, apesar do grupo de propor a realizar estudos culturais com um dos enfoques especiais sobre relações étnico-raciais. 5) Grupo de pesquisa: GEC - Grupo de Estudos Culturais Instituição: UFPB Líder(es): Maria Patricia Lopes Goldfarb Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas por parte tanto dos líderes quanto dos trabalhos orientados. 6) Grupo de pesquisa: Grupo de Estudos Culturais (GRUESC) Instituição: UERN Líder(es): Eliane Anselmo da Silva e José Glebson Vieira Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas por parte tanto dos líderes quanto dos trabalhos orientados. 7) Grupo de pesquisa: Grupo de Estudos Culturais, Identidades e Relações Interétnicas (GERTS) Instituição: UFS Líder(es): Frank Nilton Marcon e Hippolyte Brice Sogbossi Área: Antropologia Foram encontradas obras de Hall nas dissertações orientadas pelos dois líderes do grupo. Dos 13 trabalhos orientados, 8 dissertações tinham obras de Stuart Hall em suas bibliografias. Quatro sob a orientação de Frank Marcon (SILVA, 2010; ALMEIDA NETO, 2012; PIRES, 2010; BEZERRA, 2011) e quatro sob a orientação de Hyppolyte Sogbossi (JESUS, 2012;

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OLIVEIRA, 2012; TORRES, 2012; SANTOS, 2009). Os trabalhos citados foram os seguintes: A identidade cultural na pós-modernidade (5 ocorrências); Da diáspora (3 ocorrências); Quem precisa de identidade? (2 ocorrências). 8) Grupo de pesquisa: Instituto de Estudos de Gênero Instituição: UFSC Líder(es): Miriam Pillar Grossi e Zahide Lupinacci Muzart Área: Antropologia Foi encontrada uma tese (OLIVEIRA, 2009) que cita a obra de Stuart Hall Quem precisa de identidade?, dos três trabalhos orientados por Miriam Pillar Grossi. Quanto a segunda líder do grupo, não foram encontradas nenhuma obra de Hall citada, tanto em trabalhos orientados quanto produzidos pela autora. 9) Grupo de pesquisa: Laboratório de Estudos da Oralidade Instituição: UFC Líder(es): Alexandre Fleming Câmara Vale e Elba Braga Ramalho Área: Antropologia Uma das linhas de pesquisa do grupo é, precisamente, Estudos Culturais e pós-coloniais. Não obstante, não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 10) Grupo de pesquisa: Núcleo de Estudos de Gênero/Raça/Etnia - GERE Instituição: MACKENZIE Líder(es): Rosana Maria Pires Barbato Schwartz e Mirtes de Moraes Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas por parte tanto dos líderes quanto dos trabalhos orientados. 11) Grupo de pesquisa: Núcleo de Estudos do Brasil Meridional Instituição: IF-Catarinense Líder(es): Fernando José Taques Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas por parte tanto do líder quanto dos trabalhos orientados. 12) Grupo de pesquisa: Saberes tradicionais e subalternidade Instituição: IFBA Líder(es): Erahsto Felício de Sousa Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas por parte tanto do líder quanto dos trabalhos orientados. 13) Grupo de pesquisa: Centro Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa do Imaginário Instituição: UNIR Líder(es): Valdir Aparecido de Souza e Edinaldo Bezerra de Freitas Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas por parte tanto dos líderes quanto dos trabalhos orientados. 14) Grupo de pesquisa: Cultura e Sustentabilidade

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Instituição: UNIVILLE Líder(es): Mariluci Neis Carelli e Euler Renato Westphal Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas por parte tanto dos líderes quanto dos trabalhos orientados. 15) Grupo de pesquisa: Diálogo: Grupo Interdisciplinar Instituição: UniCEUB Líder(es): José Bizerril Neto Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas por parte tanto dos líderes quanto dos trabalhos orientados. 16) Grupo de pesquisa: Mulheres e Produção Cultural Instituição: UFPR Líder(es): Meryl Adelman e Anna Beatriz da Silveira Paula Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas por parte tanto das líderes quanto dos trabalhos orientados. 17) Grupo de pesquisa: Sociedade Brasileira Contemporânea: cultura, democracia e pensamento social Instituição: UFPE Líder(es): Eliane Veras Soares e Remo Mutzenberg Área: Sociologia Hall foi encontrado em trabalhos orientados por Remo Mutzemberg, em três dissertações (TEIXEIRA, 2008; CAVALCANTI, 2007; MUNIZ, 2008). Os trabalhos citados foram: Da diáspora (2 ocorrências); A identidade cultural na pós-modernidade (2 ocorrências); Quem precisa de identidade? (2 ocorrências). 18) Grupo de pesquisa: Sociologia da Arte Instituição: UNIFESP Líder(es): Marina Soler Jorge Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas por parte tanto da líder quanto dos trabalhos orientados. Grupos com a palavra-chave: Stuart Hall (qualquer área) 19) Grupo de pesquisa: GEPAC- Grupo de Estudos e Pesquisas em Antropologia Contemporânea Instituição: UNESP Líder(es): Ana Lúcia de Castro e Renata Medeiros Paoliello Área: Antropologia Na seção “Repercussões dos trabalhos do grupo” se coloca a relevância de Stuart Hall para a discussão “sobre processos culturais na contemporaneidade”. Apenas foi encontrada uma citação, na tese de Ana Lúcia de Castro (2001), da obra A identidade cultural na pós-modernidade (1).

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20) Grupo de pesquisa: Grupo de Estudos Culturais na Amazônia - GECA Instituição: UFPA Líder(es): Agenor Sarraf Pacheco e Jerônimo da Silva e Silva Área: História Segunda conta nas “repercussões dos trabalhos do grupo”, reúnem-se quinzenalmente para discutir teóricos dos Estudos Culturais, entre eles, Stuart Hall. Há, além disso, uma linha de pesquisa intitulada “Migrações, Diásporas e Etnicidades”, diretamente remetendo à obra do autor. Apesar disso, não foram encontradas nas plataformas pesquisadas nenhum trabalho que fizesse menção à obra de Hall. Grupos com a palavra-chave: relações raciais (Sociologia e Antropologia) 21) Grupo de pesquisa: Antropologia, Relações Raciais e Gênero Instituição: UFPA Líder(es): Maria Angelica Motta Maués Área: Antropologia Uma dissertação (LIMA, 2006) orientada cita Da diáspora. Além disso, não foram encontrados outros sinais de apropriação. 22) Grupo de pesquisa: Arte, Cultura e Poder Instituição: UERJ Líder(es): Myrian Sepúlveda dos Santos Área: Sociologia Foram encontrados nas plataformas cinco trabalhos orientados. Obras de Hall foram encontradas em três deles, duas dissertações (MATTOS, 2006; SILVA E SOUSA, 2008) e uma tese (SALADINO, 2010). Os textos eram Da diáspora (1 ocorrência); Quem precisa de identidade? (1 ocorrência); A identidade cultural na pós-modernidade (3 ocorrências). Em um artigo da líder do grupo também se cita A identidade cultural na pós-modernidade. 23) Grupo de pesquisa: ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS E RELAÇÕES RACIAIS Instituição: UEL Líder(es): Maria Nilza da Silva Área: Sociologia Dos cinco trabalhos orientados, há apenas um (CALDAS, 2012) que cita obras de Stuart Hall. São elas O interior da ciência: ideologia e sociologia do conhecimento; A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais de nosso tempo; Da diáspora; Quem precisa de identidade; A identidade cultural na pós-modernidade. Não foram encontradas menções em publicações da líder do grupo. 24) Grupo de pesquisa: Etnicidade e Religião Instituição: UERJ Líder(es): Marcia de Vasconcelos Contins Gonçalves e Edlaine de Campos Gomes Área: Antropologia Dos três trabalhos levantados, orientados por Marcia de Vasconcelos Contins Gonçalves, um cita Stuart Hall; A identidade cultural na pós-modernidade. Por sinal, trata-se da tese escrita pela outra líder do grupo, Edlaine de Campos Gomes (2004). Não foram encontradas outras ocorrências.

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25) Grupo de pesquisa: GEPEGRES - Grupo de Estudos e Pesquisas de Gênero: relações sociais, representações e subjetividades Instituição: UFU Líder(es): Maria Lucia Vannuchi e Márcio Ferreira de Souza Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas por parte tanto dos líderes quanto dos trabalhos orientados. 26) Grupo de pesquisa: GRAFITE - Grupo de Pesquisa sobre Ação Afirmativa e Temas da Educação Instituição: UNEMAT Líder(es): Paulo Alberto dos Santos Vieira Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas por parte tanto do líder quanto dos trabalhos orientados nas plataformas pesquisadas. 27) Grupo de pesquisa: Grupo de Estudos sobre Raça e Ações Afirmativas Instituição: UFMS Líder(es): Priscila Martins Medeiros Área: Sociologia Na tese da líder do grupo (2009) se encontram citadas obras de Hall: A identidade cultural na pós-modernidade e Da Diáspora. 28) Grupo de pesquisa: Grupo de Estudos sobre Violência e Administração de Conflitos Instituição: UFSCAR Líder(es): Jacqueline Sinhoretto Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas por parte tanto da líder quanto dos trabalhos orientados. 29) Grupo de pesquisa: Grupo de Pesquisa em Ideologias Políticas e Movimentos Sociais Instituição: UNISINOS Líder(es): Nadir Lara Junior Área: Sociologia Foi encontrado em um artigo do líder do grupo (LARA JR, 2009) uma obra de Hall citada; Quem precisa de identidade?. 30) Grupo de pesquisa: História Social da Imigração e do Trabalho Instituição: UFSCAR Líder(es): Oswaldo Mario Serra Truzzi e Karl Martin Monsma Área: Sociologia Apesar da extensa quantidade de trabalhos orientados e da temática de imigração, Hall foi apenas encontrado em dois trabalhos (ANGELIN, 2012; TEIXEIRA, 2011) orientados por Oswaldo Truzzi, a obra citada nos dois trabalhos é A identidade cultural na pós-modernidade. Nos trabalhos orientados por Karl Martin Monsma se encontra o mesmo padrão, dos trabalhos que conseguimos acesso dois citam Hall (FERREIRA, 2004; DATRINO, 2005), a mesma obra; A identidade cultural na pós-modernidade. (4) 31) Grupo de pesquisa: LACED - LABORATÓRIO DE PESQUISAS EM ETNICIDADE, CULTURA E DESENVOLVIMENTO

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Instituição: UFRJ Líder(es): Antonio Carlos de Souza Lima e Joao Pacheco de Oliveira Filho Área: Antropologia Em um trabalho orientado (CONTRERAS, 2008) por João Pacheco de Oliveira Filho se encontra Da Diáspora citado. 32) Grupo de pesquisa: Negritude e Cearensidade - Identidades Étnicas e Relações Raciais no Ceará Instituição: UFC Líder(es): Bernadete de Lourdes Ramos Beserra Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas por parte tanto da líder quanto dos trabalhos orientados. 33) Grupo de pesquisa: Núcleo Brasileiro, Latino Americano e Caribenho de estudos em relações raciais, gênero e movimentos sociais Instituição: UFC Líder(es): Joselina da Silva e Modesto Leite Rolim Neto Área: Sociologia Hall aparece citado em dois trabalhos (SOUSA, 2010; SILVA, 2012) orientados por Joselina da Silva e em um de seus artigos (2003), as obras: A identidade cultural na pós-modernidade (2); Da Diáspora. 34) Grupo de pesquisa: Núcleo de Estudos das Religiões Populares Instituição: UFPE Líder(es): Roberto Mauro Cortez Motta e Roberta Bivar Carneiro Campos Área: Antropologia Hall foi encontrado em trabalhos orientados por Roberta Bivar Carneiro Campos, sendo eles quatro dissertações (SILVA, 2008; MATOS, 2008; ARAÚJO, 2006; FARIAS, 2004). As obras de Stuart Hall citadas foram: Quem precisa de identidade? (2); A identidade cultural na pósmodernidade (4). 35) Grupo de pesquisa: Núcleo de Estudos Fronteiriços Instituição: UNIFESP Líder(es): José Lindomar Coelho Albuquerque e Valeria Mendonça de Macedo Área: Sociologia Apesar de na seção Repercussões dos trabalhos do grupo estar apontado que as pesquisa se voltam a “relações raciais e identidades pós-coloniais”, não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. A isso se acrescenta o fato de que o grupo é composto, de modo geral, por alunos de graduação. 36) Grupo de pesquisa: ORITÁ - Espaços, Identidades e Memórias Instituição: UNILAB Líder(es): Rodrigo Ordine Graça e Vera Regina Rodrigues da Silva Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 37) Grupo de pesquisa: Programa A Cor da Bahia - Programa de Pesquisa e Formação sobre Relações Raciais, Cultura e Identidade Negra na Bahia. Instituição: UFBA

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Líder(es): Paula Cristina da Silva Barreto e Jocélio Teles dos Santos Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 38) Grupo de pesquisa: Programa de Pesquisa, Ensino e Extensão em Relações Étnicas e Raciais do Departamento de Sociologia da USP Instituição: USP Líder(es): Antonio Sérgio Alfredo Guimarães e Marcia Regina de Lima Silva Área: Sociologia Em uma dissertação orientada por Marcia Regina de Lima Silva (CUSTÓDIO, 2011) se encontra citado Da Diáspora. 39) Grupo de pesquisa: Programa de Pesquisas sobre Povos Indígenas do Nordeste Brasileiro - PINEB Instituição: UFBA Líder(es): Maria Rosário Gonçalves de Carvalho e Pedro Manuel Agostinho da Silva Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 40) Grupo de pesquisa: Programa Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-Brasileiros NEIAB Instituição: UEM Líder(es): Marivânia Conceição de Araujo e Ana Lúcia da Silva Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 41) Grupo de pesquisa: Redes, Sociabilidades e Poder Instituição: UFPE Líder(es): Breno Augusto Souto Maior Fontes e Liana Lewis Área: Sociologia Hall foi encontrado em três teses orientadas (RODRIGUES, 2009; SCOGUGLIA, 2003; SOUZA, 2004) por Breno Fontes, as obras. A identidade cultural na pós-modernidade (1); Da Diáspora (1); Quem precisa de identidade? (1). 42) Grupo de pesquisa: Relações Raciais: Memória, Identidade e Imaginário Instituição: PUC/SP Líder(es): Teresinha Bernardo e Regimeire Oliveira Maciel Área: Antropologia Apesar de não se ter acesso a todos os trabalhos orientados por Teresinha Bernardo disponíveis na BDTD, o número encontrado (OLIVEIRA, 2008; VIEIRA, 2012; CORREA, 2014; OLIVEIRA, 2006; MUNHOZ, 2006; CORRÊA, 2001; SANTOS, 2007; PEREIRA, 2008; SILVA, 2006; OLIVEIRA, 2011; PREVITALLI, 2012) mostrou-se suficiente para indicar a apropriação da obra de Hall. Os trabalhos citados foram: A questão da identidade cultural (1): Quem precisa de identidade? (1); A identidade cultural na pós-modernidade (8); Da Diáspora (6). 43) Grupo de pesquisa: Trabalho, Trabalhadores e Reprodução Social Instituição: UFBA Líder(es): Maria da Graça Druck de Faria e Iracema Brandão Guimarães Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas.

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Grupos com a palavra-chave: relações étnico-raciais (Sociologia e Antropologia) 44) Grupo de pesquisa: Cosmologias, lógicas de ação e manifestações expressivas de grupos afrodescendentes Instituição: UFPEL Líder(es): Rosane Aparecida Rubert Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 45) Grupo de pesquisa: CPEI - Centro de Pesquisa em Etnologia Indígena Instituição: UNICAMP Líder(es): José Maurício Paiva Andion Arruti e Antonio Roberto Guerreiro Júnior Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 46) Grupo de pesquisa: Grupo de Estudo da Cultura Afrobrasileira Instituição: UFRPE Líder(es): Maria Auxiliadora Gonçalves da Silva Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 47) Grupo de pesquisa: GRUPO DE ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS E CULTURAIS GEABRAC Instituição: IFMA Líder(es): Gerson Carlos Pereira Lindoso e Christiane de Fatima Silva Mota Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 48) Grupo de pesquisa: Grupo de Estudos sobre Raça e Temas Educacionais Instituição: UFT Líder(es): Karina Almeida de Sousa Área: Sociologia Na tese da líder (SOUSA, 2012) do grupo se encontram citados A centralidade da cultura; A identidade cultural na pós-modernidade; Quem precisa de identidade; Da Diáspora. 49) Grupo de pesquisa: Grupo de Trabalho do NUPE-FCL-ARARAQUARA-CLADINLEAD Instituição: UNESP Líder(es): Dagoberto José Fonseca e Rafael Alves Orsi Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 50) Grupo de pesquisa: Guetu - Grupo de Pesquisa em Etnografias Urbanas Instituição: UFPB Líder(es): Marco Aurélio Paz Tella e Luciana Maria Ribeiro de Oliveira Área: Antropologia

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Na tese de Marco Aurélio Paz Tella (2006) se encontra citado A identidade cultural na pósmodernidade. 51) Grupo de pesquisa: Tradição e Modernidade Instituição: IFS Líder(es): Cristiane Montalvão Guedes Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 52) Grupo de pesquisa: Programa multidisciplinar de pesquisa em relações étnico-raciais e estudos africanos Instituição: UFBA Líder(es): Livio Sansone e Maria Rosário Gonçalves de Carvalho Área: Antropologia What is Black in Black Popular Culture, citado em um artigo de Livio Sansone (2002). 53) Grupo de pesquisa: REALIDADE BRASILEIRA E EDUCAÇÃO PROFISSIONAL Instituição: IFPB Líder(es): Gekbede Dantas da Silva e Adolfo Wagner Área: Sociologia Na tese de um dos líderes (SILVA, 2006) cita-se Da Diáspora. 54) Grupo de pesquisa: Relações de gênero, Direitos Humanos, Raça/Etnia Instituição: FCC Líder(es): Fúlvia Maria de Barros Mott Rosemberg e Maria Rosa Lombardi Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 55) Grupo de pesquisa: Religiões e Sociedade Instituição: UNISINOS Líder(es): José Ivo Follmann e José Rogério Lopes Área: Sociologia Nos trabalhos orientados por José Ivo Follmann, Hall é citado em quatro deles (PINHEIRO, 2011; COSTA, 2011; BENITES, 2008; LEISTNER, 2009), e nos trabalhos orientados por José Lopes, três deles (GARCES, 2012; SILVA, 2008; SILVA, 2012). Há, além desses, em um artigo de José Lopes (2006) uma citação a Hall. A obras foram: A identidade cultural na pós-modernidade (7); Da Diáspora (2); A centralidade da cultura (1); Quem precisa de identidade? (1). 56) Grupo de pesquisa: Sociabilidades e as dimensões do simbólico: cultura, educação, saúde e religiosidades Instituição: UEL Líder(es): Fabio Lanza e Claudia Neves da Silva Área: Sociologia Hall foi encontrado apenas em uma dissertação (MORAIS, 2013) orientada por Fabio Lanza. A obra citada foi A identidade cultural na pós-modernidade. Grupos com a palavra-chave: diáspora (Sociologia e Antropologia)

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57) Grupo de pesquisa: Afrobrasilidade e Diásporas Instituição: UCAM Líder(es): Nanci Valadares de Carvalho Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 58) Grupo de pesquisa: Centro de Estudos de Migrações Internacionais Instituição: UNICAMP Líder(es): Bela Feldman-Bianco e Michael Mcdonald Hall Área: Antropologia Nos trabalhos orientados por Bela Feldman Bianco, Stuart Hall aparece em seis trabalhos (SANSURJO, 2007 e 2013; GIMENO, 2009; SILVA, 2003; MAHER, 2005; FORTES, 2004). Nos trabalhos orientados por Michael Mcdonald Hall, Hall foi encontrado em apenas um (ROVINA, 2012). As obras citadas foram: Identidade cultural e diáspora (3); Da Diáspora (2); A questão da identidade cultural (2); A identidade cultural na pós-modernidade (1). É interessante notar que os trabalhos orientados por Bela Feldman-Bianco optam por trabalhar não com a tradução hegemônica, A identidade cultural na pós-modernidade, mas com outra versão, da própria UNICAMP. 59) Grupo de pesquisa: Enfoques Antropológicos Instituição: UNESP Líder(es): Andreas Hofbauer Área: Antropologia Nas bases consultadas foram apenas encontradas trabalhos do líder do grupo, embora se tenha claro que Hofbauer é um dos autores-chave nas discussões sobre pós-colonialismo no Brasil, e portanto o resultado poderia ser bem maior. Hall aparece em dois artigos do autor (HOFBAUER, 2006 e 2011). As obras citadas foram: Da diáspora (2); Old and new identities, old and new ethnicities (1); When was 'the postcolonial'? thinking at the limit (1); The West and the rest: discourse and power (1); Quem precisa de identidade (1); A identidade cultural na pós-modernidade (1). 60) Grupo de pesquisa: Fluxos Transnacionais e Construção de Identidades: etnografia de diásporas e redes médio-orientais no Brasil e no Oriente Médio Instituição: UFF Líder(es): Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 61) Grupo de pesquisa: INTELIGÊNCIA COLETIVA INTERDISCIPLINAR DE ESTUDOS EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO: TRADIÇÃO E CULTURAS AFRICANAS BRASILEIRAS Instituição: UESB Líder(es): Maria das Graças de Santana Rodrigué Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 62) Grupo de pesquisa: LEC - Laboratório de Estudos Avançados de Cultura Contemporânea Instituição: UFPE Líder(es): Antônio Carlos Motta de Lima e Peter Schröder Área: Antropologia

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Hall foi encontrado em trabalhos (ASSIS, 2007; VIEIRA, 2006; ARAÚJO, 2006; PEREIRA, 2004) orientados por Antônio Carlos Motta de Lima. A obra citada foi: A identidade cultura na pós-modernidade (4). 63) Grupo de pesquisa: Museu Pedagógico: África e Brasil, saberes e práticas Instituição: UESB Líder(es): Itamar Pereira de Aguiar e Marise de Santana Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 64) Grupo de pesquisa: Núcleo de Antropologia e Cidadania - NACI Instituição: UFRGS Líder(es): Claudia Lee Williams Fonseca e Denise Fagundes Jardim Área: Antropologia Hall aparece em dois trabalhos orientados por Claudia Fonseca (BÁLSAMO, 2009; RICHTER, 2012) e outros três orientados por Denise Jardim (SALAINI, 2012; LÓPEZ, 2009; KANAAN, 2008). As obras citadas foram: A identidade cultural na pós-modernidade (1); Da Diáspora (4). 65) Grupo de pesquisa: Núcleo de Estudos Arte, Cultura e Sociedade na América Latina e Caribe (MUSA) Instituição: UFSC Líder(es): Rafael José de Menezes Bastos e María Eugenia Domínguez Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 66) Grupo de pesquisa: Núcleo de Estudos de Identidades e Relações Interétnicas Instituição: UFSC Líder(es): Ilka Boaventura Leite e Augusto Marcos Fagundes Oliveira Área: Antropologia Hall aparece na dissertação de um dos líderes (OLIVEIRA, 2002). A obra citada foi Quem precisa de identidade?, 67) Grupo de pesquisa: Núcleo de Estudos em Transculturação, Identidade, Reconhecimento - NETIR Instituição: UFES Líder(es): Adelia Maria Miglievich Ribeiro e Luís Fernando Beneduzi Área: Sociologia Hall pôde ser encontrado em um artigo de Luís Fernando Beneduzi (2013) e na tese do autor (2004), assim como em uma dissertação (COUTINHO, 2007) orientada por Adelia Miglievich-Ribeiro. As obras citadas foram: Da Diáspora (2); The Rest and the West: discourse and power (1). 68) Grupo de pesquisa: NUPE Instituição: UNESP Líder(es): Claude Lepine e Dagoberto José Fonseca Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas.

55

69) Grupo de pesquisa: Religião, Política e Globalização Instituição: UFSCAR Líder(es): Paul Charles Freston Área: Sociologia Hall é citado em uma tese (CASTRO, 2007) orientada pelo líder do grupo. A obra: A identidade cultural na pós-modernidade. 70) Grupo de pesquisa: Sociabilidades e conflitos contemporâneos Instituição: UFCG Líder(es): Vanderlan Francisco da Silva e Ronaldo Laurentino de Sales Júnior Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. Grupos com a palavra-chave: pós-colonial (Sociologia e Antropologia) 71) Grupo de pesquisa: Centro de Estudos de Migrações Internacionais Instituição: UNICAMP Líder(es): Omar Ribeiro Thomaz e Sebastião Nascimento Área: Antropologia Hall pôde ser encontrado em trabalhos (SILVA, 2008; BRICHTA, 2012; ALFONSO, 2006; HERNÁNDEZ, 2011; SANTOS, 2006) orientados por Omar Thomaz: as obras citadas foram: A identidade cultural na pós-modernidade (3); Da Diáspora (1); A questão da identidade cultural (1); Ideologie, Identität, Repräsentation (1); Cultural Studies: ein politisches theorieprojekt (1). 72) Grupo de pesquisa: ECOA - Etnologia em Contextos Africanos Instituição: UNB Líder(es): Juliana Braz Dias e Andrea de Souza Lobo Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 73) Grupo de pesquisa: Epistemologias Fronteiriças e Conexões Sul-Sul Instituição: UNB Líder(es): María Eloísa Martín e Alain Pascal Kaly Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 74) Grupo de pesquisa: Grupo de Estudos e Pesquisas em Antropologia e Cinema - GEPAC Instituição: UFMS Líder(es): Esmael Alves de Oliveira Área: Antropologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 75) Grupo de pesquisa: Grupo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros Instituição: UNIVASF Líder(es): José Jaime Freitas Macedo Área: Sociologia Na tese do líder (MACEDO, 2008) é citado um artigo de Hall: Identidade cultural e diáspora.

56

76) Grupo de pesquisa: NUCEM / Núcleo de Cidadania, Exclusão e Processos de Mudança Instituição: UFPE Líder(es): Paulo Henrique Novaes Martins de Albuquerque e Breno Augusto Souto Maior Fontes Área: Sociologia Hall foi encontrado em três teses orientadas (RODRIGUES, 2009; SCOGUGLIA, 2003; SOUZA, 2004) por Breno Fontes e uma tese (FREITAS, 2005) e dissertação (LIMA, 2004) orientadas por Paulo Albuquerque. Obras: A identidade cultural na pós-modernidade (3); Da Diáspora (1); Quem precisa de identidade? (1). 77) Grupo de pesquisa: Núcleo de Estudos e Pesquisas Regionais e do Desenvolvimento - D &R Instituição: UFPE Líder(es): Marcos Ferreira da Costa Lima Área: Sociologia Não foram encontrados sinais de apropriação da obra de Stuart Hall nas bases pesquisadas. 78) Grupo de pesquisa: Núcleo sobre Epistemologias do Sul Global Instituição: UFPE Líder(es): Paulo Henrique Novaes Martins de Albuquerque e Josimar Jorge Ventura de Morais Área: Sociologia Hall foi encontrado em dissertação (MELO, 2007) orientada por Josimar Morais e dois trabalhos (FREITAS, 2005; LIMA, 2004) orientados por Paulo Albuquerque. A obra citada foi A identidade cultural na pós-modernidade (3).

57

Figura 4: Dispersão geográfica dos grupos no país. (Fonte: elaborado pelo autor a partir de imagem do Google Earth)

A partir da observação dos grupos, os dados obtidos foram os seguintes:

Palavrachave

Número de grupos

Porcentagem

18

Grupos em que Hall foi encontrado 4

Estudos Culturais Stuart Hall

2

1

50%

Relações raciais

23

13

56,5%

Relações 13 étnico-raciais

6

46,1%

Relações 36 Raciais (raciais + étnico-raciais

19

52,7%

22%

58

Diáspora

14

7

50%

Pós-Colonial

8

4

50%

No total

78

35

45%

Tabela 1

Em média, 45% dos levantados continham pelo menos uma citação de Hall nos trabalhos tanto dos líderes quanto orientados por estes. Como se pode notar, a média de “apropriação” de Stuart Hall manteve-se mais ou menos a mesma entre os grupos levantados a partir de palavras-chave que remetam às relações raciais, sendo o único caso desviante, justamente, os de Estudos Culturais – acrescentados no levantamento para fins comparativos. Começarei pela quantidade de citações de cada obra em particular encontrada nos grupos. Salta à vista, imediatamente, que a obra A identidade cultural na pós-modernidade lidera a lista de citações, algo que se reproduz quando se consideram as palavras-chave em sua particularidade. Considerando a totalidade dos trabalhos consultados, A identidade cultural na pós-modernidade corresponde a 56 das 125 citações, ou seja, cerca de 44,8% do total. Quando se considera a área de relações raciais especificamente, que metodologicamente é a soma das palavras-chave relações raciais + relações étnico-raciais, observa-se que essa obra corresponde a 36 das 69 citações, 52,17%. É interessante também notar que nesse primeiro panorama, Da Diáspora aparece com cifras muito parecidas, tanto do ponto de vista geral quanto de relações raciais, correspondendo a 27,2% e 26% do total de citações, respectivamente.

59

Quantidade de citações 60

56

50 40

34

30 20 10

16

4

4

3

6

Quantidade de citações

2

0

Gráfico 1

Como se poderá comprovar nos gráficos a seguir, o padrão nas citações encontrado em âmbito geral e particular, ou seja, nas relações raciais, também se manifesta quando se consideram outras variáveis, como a dispersão cronológica das citações de Hall nas fontes pesquisadas.

60

Quantidade de citações - Relações raciais 40 35 30 25 20 15 10 5 0

36

18 9 1

3

2

Gráfico 2

Trabalhos que citam Hall por ano 20 15 10

Série 1

5 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Gráfico 3

Trabalhos que citam Hall por triênio 35 30 25 20 15 10 5 0

Série 1 Polinômio (Série 1)

2001 - 2003 Gráfico 4

2004 - 2006

2007 - 2009

2010 - 2014

61

Trabalhos que citam Hall por ano - Relações raciais 10 9 8 7 6 5

Série 1

4 3 2 1 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Gráfico 5

Dos gráficos acima se podem desprender algumas observações. Em primeiro lugar, observa-se, como foi dito, que considerando-se os grupos de pesquisa, as obras mais trabalhadas são, de longe, A identidade cultural na pós-modernidade e Da Diáspora. Em segundo lugar, que existem certos padrões que se reproduzem nas palavras-chave no tocante à apropriação de Hall, como por exemplo, quando considerados em triênios, as citações mostram uma tendência de crescimento em seu número, ainda que seja irregular. Diante desses padrões, pois, é necessário se perguntar se as áreas disciplinares jogam algum papel importante. Há diferença no tratamento dado a obra de Hall por parte da Antropologia e da Sociologia nas bases pesquisadas? Na tabela abaixo (2) se pode ver que, do ponto de vista geral, o número de grupos de estudo em Antropologia e Sociologia que trabalham com a obra de Hall é praticamente o mesmo.

Área

Sem Stuart Hall

Total de grupos

Antropologia

Com Stuart Hall 17 (44,7%)

21 (55,3%)

38

Sociologia

18 (46,1%)

21 (53,9%)

39

Tabela 2

62

No entanto, quando nossa atenção se desloca às relações raciais especificamente, os números são radicalmente distintos, e revelam que, pelo menos dentro desse escopo, a Sociologia tende a operar mais com a obra de Stuart Hall.

Área

Sem Stuart Hall

Antropologia

Com Stuart Hall 6 (37,5%)

10 (62,5%)

Total de grupos em relações raciais 16

Sociologia

12 (60%)

8 (40%)

20

Tabela 3

Na tabela abaixo (4) temos a relação das obras mais citadas pelos grupos em Antropologia e Sociologia. Ao todo foram 122 citações, sendo 57 por parte da Sociologia e 65 por parte da Antropologia. Como corresponde, em ambos os casos a obra mais citada foi A identidade cultural na pós-modernidade, com cifras próximas nas duas disciplinas.

Obra

Antropologia

Sociologia

A identidade cultural na pósmodernidade Da Diáspora

28 (43%)

28 (49,2%)

20 (30,7%)

14 (24,5%)

Quem precisa de identidade? A centralidade da cultura A questão da identidade cultural Identidade cultural e diáspora Outros

6 (9,2%)

9 (15,7%)



3 (5,3%)

3 (4,7%)



3 (4,7%)

1 (1,75%)

5 (7,7%)

2 (3,55%)

Tabela 4

Sobre os programas de pós-graduação, como dissemos, foram verificados todos nas duas áreas pesquisadas, Sociologia e Antropologia. Dos 52 programas em Sociologia, 6 deles selecionaram alguma das obras de Stuart Hall para o processo de seleção dos alunos.

63

- PPCIS - Ciências Sociais = UERJ (Da Diáspora) - POSCS - Ciências Sociais = UNESP – Marília (A identidade cultural na pósmodernidade) - MAPPS - Políticas públicas e sociedade = UECE (A identidade cultural na pósmodernidade) - PGSOCIO - Sociologia = UFPR (Da Diáspora) - PPGS - Sociologia = UFSCar (Da Diáspora)

Na área de Antropologia, por sua vez, são 27 programas listados, dos quais 3 continham obras de Hall na bibliografia do processo seletivo.

- PPGA - Antropologia = UFBA (Da Diáspora) - PPGAS - Antropologia = USP (A identidade cultural na pós-modernidade) - PPGAN – Antropologia = UFMG (A identidade cultural na pós-modernidade)

3.3 Discussão dos dados obtidos Dos dados expostos na seção anterior se podem retirar algumas considerações fundamentais, das quais darei destaque aqui a duas. Em primeiro lugar, temos que a apropriação de Hall se dá de maneira seletiva. Não só A identidade cultural na pós-modernidade e os textos contidos em Da Diáspora ocupam a maior parte das citações nas bases consultadas, como foi dito, mas são em grande parte também expressivos de um momento específico da obra de Hall, não compreendendo a variabilidade que acompanha sua obra. No Brasil assistimos a um fenômeno, pois, muito similar ao que comenta Claire Alexander sobre as apropriações de Hall no contexto anglófono. Segundo a autora, muitas vezes a visão de Hall da teoria como uma “caixa de ferramentas” influenciou a forma em que se deu sua apropriação, mas não sem problemas:

A visão da teoria como uma caixa de ferramentas é talvez refletida no modo como o trabalho de Hall tem sido utilizado: muitos de nós saqueamos esses insights teóricos e os aplicamos a nossas próprias agendas empíricas ou conceituais, nossos espaços e questões. Por um lado isso deu origem a um trabalho inovador e importante que levou os insights de Hall a novos tempos, lugares e pessoas, mas por outro lado muitas vezes esse processo extirpou a profundidade e complexidade dos originais, reduzindo-os a uma

64

forma de atalho conceitual ou conveniência...44 (ALEXANDER, 2009. op.

cit. p. 459)

No caso brasileiro somado a essa observação temos o fato de que, de modo geral, os trabalhos de Hall apropriados são muito limitados por suas traduções. No levantamento realizado, apenas 6 trabalhos de Hall não estavam em língua portuguesa. Em certo sentido, tal consideração pode servir para problematizar a hipótese de Liv Sovik acerca do sucesso de Da Diáspora, a qual afirma que “talvez seja porque as temáticas que Hall trabalhava a partir de meados dos anos 80 dizem respeito à vida cultural brasileira que Stuart Hall teve tanta ressonância aqui, pois a partir dessa época ele se preocupou explicitamente com questões identitárias negras.” (SOVIK, 2014. p. 12) Contrariamente ao exposto, é possível que a ressonância tenha se dado não por uma afinidade temática (ou pelo menos não só), mas pelo fato de terem sido aqueles textos que foram traduzidos e não outros, uma vez que diversos outros textos importantes sobre identidades negras não estão disponíveis em língua portuguesa. Além disso, é possível se questionar os modos como se deu tal ressonância, sendo ela muito mais marcada por uma apropriação ambivalente e que seleciona principalmente um momento específico da obra de Hall, aquele de, em nossa classificação, sua última fase. Nas leituras brasileiras perdem-se de vista muitas das contribuições anteriores do autor que são centrais para se compreender seu tipo de trabalho intelectual e o lugar de onde surgiram, de fato, as intervenções mais conhecidas no caso nacional. Apesar de a primeira tradução de um texto de Hall ao português datar de 1980, O interior da ciência: ideologia e sociologia do conhecimento, esse texto apenas foi citado uma única vez em nosso levantamento. Fica evidente, pois, uma opção tácita de selecionar um momento e um tipo de reflexão de Hall, embora em Da Diáspora alguns textos de momentos anteriores sejam incluídos, como os de reflexão sobre mídia. Mas tratando-se de raça e etnicidade, foco desta pesquisa, os textos traduzidos e citados correspondem ao que foi classificado como a terceira fase da obra de Hall – com a única exceção de A relevância de Gramsci para o estudo de raça e etnicidade –, e portanto, não abrangem o desenvolvimento do tema no autor. Como não foi possível se verificar as formas em que se deu as apropriações, de Hall, ou seja, a leitura dos trabalhos levantados nos grupos de pesquisa não é possível saber que tipo de leitura está sendo feita, e nesse sentido contamos aqui apenas 44

“This view of theory as a toolbox is perhaps reflected in the way in which Hall’s work itself has been used: many of us have raided these theoretical insights and applied them to our own empirical or conceptual agendas, spaces and questions. While this has given rise to innovative and important work that has taken Hall’s insights to new times, places and people, too often this process has stripped the depth and complexity of the originals, reducing them to a form of conceptual shorthand or convenient, oft rehearsed and repeated epigrams that substitute for rigorous analysis _ more a store cupboard than a toolbox.”

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com hipóteses um tanto esquemáticas sobre a questão a partir das tendências que revelam os dados. Por exemplo, devemos considerar que a tradução de Tomás Tadeu de A identidade cultural na pós-modernidade pode implicar na leitura equivocada do autor como um pósmoderno, e do restante de sua obra a partir dessa intervenção. Em todo caso, necessitam-se mais estudos para verificar esse ponto. A segunda consideração, por sua vez mais evidente, que se pode retirar a partir dos dados é que há, de fato, uma apropriação em curso da obra de Hall no Brasil, apropriação essa que aparenta ser crescente. Ainda que tal se dê de maneira seletiva, escritos de Stuart Hall já se fazem presentes em editais de seleção de programas de mestrado e doutorado país afora. No que concerne aos grupos pesquisados, vimos que quase metade (45%) deles lida de alguma maneira com a obra Hall, o que significa confirma a hipótese implícita no projeto de que Hall está tem um impacto relevante nas Ciências Sociais brasileiras, em especial nas áreas que se dedicam ao estudo de raça e etnicidade. Digo Ciências Sociais brasileiras – desse modo, amplo – pois, como se pôde notar no mapa (figura 4), a dispersão dos grupos levantados e que trabalham com a obra do autor não é orientada por nenhuma fundamentação geográfica ou institucional. Tampouco as áreas disciplinares jogam um papel determinante na leitura/tipo de leitura que é feito de Stuart Hall, ainda que a Sociologia se mostre relativamente mais simpática do que a Antropologia. Como esse projeto não tinha como meta analisar a recepção da obra do autor, não podemos ter uma ideia do posicionamento geral de cada disciplina com relação à obra de Stuart Hall, embora ao que tudo indique, isso seja mais ambivalente que aparenta– sobre a Antropologia apenas tive contato com o de Igor Machado (2004. op. cit.), cujo posicionamento foi apresentado no capítulo anterior. Como resultado do segundo eixo da pesquisa, assim, constatei que a partir das bases analisadas, a obra de Hall tem despertado um interesse crescente por parte da Antropologia e Sociologia brasileiras, em especial no tocante às intervenções acerca das temáticas de raça etnicidade. Nesse interesse, são privilegiados textos posteriores da vida do autor, principalmente suas traduções. Com relação ao primeiro eixo da pesquisa, pôde-se observar que as obras correspondem a mais ou menos 6,3% dos escritos ao autor, considerando as 20 traduções ao português em relação aos 317 trabalhos levantados.

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Bibliografia ALEXANDER, C. Introduction. In: Stuart Hall and Race. London and New York: Routledge, 2011. BARTH, F. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: Teorias da etnicidade. São Paulo: Editora UNESP, 1997. CHEN, K. A working bibliography: writings of Stuart Hall. In: Journal of Communication Inquiry. June, 10, 125-129, 1986. DAVIS, H. Understanding Stuart Hall. London and New York: Routledge, 2004. GRAMSCI, A. Gramsci: sobre poder, política e partido. São Paulo: Editora Brasiliense, 1990. GROSSBERG, L et SLACK, J. An Introduction to Stuart Hall's Essay. In: Critical Studies in Mass Communication, 2, 87-90, 1985. GROSSBERG, L. Stuart Hall sobre raza y racismo: estudios culturales y la práctica del contextualismo. In: Tabula Rasa. Bogotá - Colombia, No.5: 45-65, julio-diciembre 2006. HALL, S. A sense of classlessness. In: Universities and left review. ULR 5, 1958a. __________. The New Conservatism and the old. In: Universities and left review. ULR 1, 1958b. __________. The Young Englanders. In: National Committee of Commonwealth Immigrants, London: 1967. __________. The Hippies, an American Moment. In: Student Power. London: Merlin Press Popular Press and Social Change, 1969. __________. Black Britons. In: Community, 1, No's 2 e 3, 1970. __________. A ‘reading’ of Marx’s 1857 introduction to the Grundrisse. stencilled paper no. 1. Birmingham: CCCS, 1973a. __________. Encoding and Decoding in the Media Discourse. stencilled paper no. 7, Birmingham: CCCS, 1973b. __________. Developments in British youth culture. In: Teaching London Kids. no 10, 1977. __________. Race, Articulation, and Societies Structured in Dominance. In: Sociological Theories: Race and Colonialism, Paris: UNESCO, 1980. __________. Thatcherism - A New Stage?. In: Marxism Today, February, pp. 22-27, 1980. __________. O interior da ciência: ideologia e sociologia do conhecimento. In: CCCS. Da Ideologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1980. __________. Signification, Representation, Ideology: Althusser and the Post-Structuralist Debates. In: Critical Studies in Mass Communication, vol. 2, no. 2, pp. 91-114, 1985.

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Anexo I - 3. Lista de obras de Stuart Hall sobre raça e etnicidade.45

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Foram desconsiderados textos publicados mais de uma vez nesta lista, e obras de Hall escritas em coautoria foram incluídas como apenas “Stuart Hall”, para facilitar a visualização. É necessário dizer também que tal lista não compreende todas as obras do autor sobre o tema, sendo que algumas não puderam ser verificadas pela metodologia utilizada.

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__________. Minimal Selves. In: Identity: the real me. ICA Documents 6. London: Institute of Contemporary Arts. 1988 __________. Migration from the English-Speaking Caribbean to the UK, 1950-80. In: International Migration Today, vol.1: Trends and Prospects. UNESCO (Paris) University of Western Austalia, 1988. __________. New Ethnicities. In: Black Film, British Cinema. British Film Institute/Institute for Contemporary Arts, Document 7, 1988. __________. Introduction' to Forty Years On: Memories of Britain's Postwar Caribbean Immigrants. Lambeth Council, 1988. __________. Cultural Identity and Cinematic Representation. In: Framework, 36, pp.68–82, 1989. __________.C.L.R. James: The Life of a Carribean Historian. In: New Statesman and Society, pp.21– 27, 9 June 1989. __________. Sons and Daughters of the Diaspora. In: Ruler of Armet Francis’ Children of the Black Triangle, Artrage (Spring) p.46–47. __________. The Whites of Their Eyes. In: The Media Reader. pp.7–23, 1990. __________. Cultural identity and Diaspora. In: Identity. pp.222–237, 1990. __________. Reconstruction Work: Images of Post-war Black Settlement. In: Family Snaps: The Meaning of Domestic Photography. Virago, pp.152–164, 1991. __________. You Can’t Go Home Again: Review of Rushdie’s Imaginary Homelands. In: Sight and Sound, July, 1991. __________. The Local and the Global: Globalization and Ethnicity. In: Culture Globalization and the World System. Macmillan, pp.19–40, 1991. __________. Old and New Identities, Old and New Ethnicities. In: Culture, Globalization and the World System. Macmillan, pp.41–68, 1991. __________. Europe’s Other Self. In: Marxism Today, August, 1991. __________. The Rest and the West: Discourse and Power. In: Formations of Modernity. Polity Press, pp.275–332, 1992. __________. et BAILEY, D. (Orgs.) The Critical Decade: Black Photography in the 1980. Vol? no.3 of Ten 8 , Birmingham, pp.1–159, 1992. __________. The Vertigo of Displacement: Shifs within Bleak Documentary Practices. In: The Critical Decade: Black Photography in the 1980, pp.14–23, 1992. __________. Identity and the Black Photographic image. In: The Critical Decade: Black Photography in the 1980, pp.24–31, 1992. __________. Race, Culture and Communications. In: Rethinking Marxism, Vol. 5, No. 1, Spring, pp.10-18, 1992.

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__________. What Is the ‘Black’ in Black Popular Culture?. In: Black Popular Culture. Seattle: Dia Centre for the Arts, NYet The Bay Press, 1993. __________. Vanley Burke and The Desire For Blackness. In: Vanley Burke: A Retrospective. 1993. __________. Culture, Community, Nation. In: Cultural Studies, vol.7 no.3, pp.349–363, 1993. __________. The New Europe. In: Disrupted Borders. London: Rivers Oram Press, 1993. __________. Jamaica in England’s Standpoints. In: The Jamaican Speech Issue. Centre National de Documentation Pedagogue, Paris, No.30, Nov–Dec, pp.28–35, 1993. __________. Negotiating Caribbean Identities. In: New Left Review, no. 209, January-February, pp. 3-14, 1995. __________. Myths of Caribbean Identity. In: The Walter Rodney Memorial Lecture, New Left Review, 1995. __________. Fantasy, Identity, Politics. In: Cultural Remix: Theories of Politics and the Popular. (ed.) London: New Formations and Lawrence and Wishart, 1995. __________. Black and White in Television. In: Remote Control: Dilemmas of Black Intervention in British Film and TV. London: British Film Institute, 1995. __________. Not A Postmodern Nomad: A Conversation with Stuart Hall. In: Arena New Series, No.5. pp.51–70. North Carlton, Australia. 1996. __________.The Question of Cultural Identity. In: Modernity: An Introduction to Modern Societies. Hoboken: Wiley-Blackwell, 1996 __________. The after-life of Frantz Fanon: Why Fanon? Why now? Why Black skin, white masks? In: The fact of blackness: Frantz Fanon and visual representation. Seattle: Bay Press, 1996. __________. Interview with Roger Bromley. In: A Cultural Studies Reader, 1996 __________. Response to Saba Mahmood. In: Cultural Studies, Vol. 10 No.1, Jan, pp.12–15. 1996. __________. When Was The Post-Colonial?. In: The Post-Colonial Question. London e New York: Routledge, 1996. __________. The Spectacle of the Other. In: Representation: Cultural Representations and Signifying Practices. Sage and the Open University, 1997. __________. The Centrality of Culture: Notes On The Cultural Revolution Of Our Times. In: Media and Cultural Regulation. Sage and The O.U, 1998. __________. Rivers of Racism: Enoch Powell Thirty Years On. In: New Statesman,17th April 1998 __________. Aspiration and Attitude: Reflections on Black Britain in The Nineties. In: New Formations, No 33, Spring, 1998. __________. Subjects in History: Making Diasporic Identities. In: The House That Race Built, New York: Vintage,1998.

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__________. There’s No Place Like Home. In: Financial Times. 13/14 June, 1998. __________. Identidades Mínimas. In: Nuestra America, No 13, 1998. __________. Breaking Bread With History: C.L.R. James and The Black Jacobins. In: History Workshop Journal, Autumn, 1998. __________. Cultural Identity and Racism. In: Resssismus in der Diskussion. Berlim: Elefanten Press, 1999. __________. Re-inventing Britain: Opening and Closing Statements. In: Wasifiri, No.29, Spring, 1999. __________.Thinking the diaspora: home-thoughts from abroad. In: Small Axe, v6, pp. 1-18, set, 1999. __________. Cultural composition: Stuart Hall on ethnicity and discursive turn. In: Race, rethoric, and the postcolonial. New York: Sunny, 1999. __________. The Multi-Cultural Question. In: Un/Settled Multiculturalisms. London: Zed Books, 2000. __________. Multi-cultural citizens, monocultural citizenship?. In: Tomorrow’s Citizens. London, IPPR: 2000. __________. A European Perspective on Hybridity. In: Hermes. No 28. Issue on Latin America: Culture and Communication. Paris: CHRS Editions, 2000. __________. The Anti-Apartheid Movement and the Race-ing of Britain. In: Symposium Report, The AAM: A 40 Year Perspective. South Africa House. London, 2000. __________. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2000. __________. Frontlines, Backyards: The Terms of Change. In: Black British Culture and Society: A Reader. Routledge, 2000. __________. et SEALY, M. Different: a historical context: contemporary photographers and black identity. London: Phaidon Press, 2001. __________. Political Belonging in a World of Multiple Identities. In: Conceiving Cosmopolitanism. Oxford University Press, 2002. __________. Maps of Emergency: Fault Lines and Tectonic Plates. In: Fault lines: contemporary African art and Shifting landscapes. London: Institute of International Visual Arts (Iniva), 2003. __________. Da diáspora: Identidades e Mediações Culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. __________. Créolité and the Process of Creolization. In: Créolité and Creolization. Hatje Cantz Publishers, Germany, 2003. __________. Creolization, Diaspora and Hybridity in: Creolite and Creolization. Hatje Cantz Publishers, Germany, 2003. __________. Preface. In: Black Britain: a photographic history. Saqi Books, 2007

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__________. Epilogue: through the prism of an intellectual life. In: Culture, politics, race and diaspora. Kingston: Ian Randle Publishers, 2007.

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