NO PRELO - Extensão em Foco (2016) | Cidades Educadoras: uma perspectiva a partir do Desenvolvimento Sustentável

May 27, 2017 | Autor: Maria Laís Leite | Categoria: Desenvolvimento Sustentável, Cidades Educadoras, Extensão Universitária, Campo de Públicas
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Extensão em Foco

Cidades Educadoras: uma perspectiva a partir do Desenvolvimento Sustentável

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Bruno Basilio da Silva Sales [email protected] Maria Laís dos Santos Leite [email protected]

INTRODUÇÃO

O conceito de cidades educadoras (CE) orienta-se em práticas educativas que acontecem dentro e fora das instituições escolares, não-escolares. Apresentando o território da cidade – seja ele urbano ou não – como um espaço vivo de educação. É com base neste paradigma que o Programa de Extensão Paidéia Cidade Educadora guia suas ações. O Programa Paidéia Cidade Educadora nasce da convicção de que a Educação é elemento fundamental para sustentar a transformação cultural, econômica e de modo de vida que precisamos para enfrentar a crise de modelo de desenvolvimento contemporâneo e também a certeza de que a educação que conhecemos e, na maioria dos casos, praticamos é profundamente inadequada e está dramaticamente aquém das exigências do nosso presente e futuro (GIANNELLA; LEITE, 2014). O conceito de Cidades Educadoras muito se distingue da ruptura entre espaços de aprendizagem escolares de ensino e a educação, como é notável no conceito de ‘desescolarização’, pelo contrário, o que se busca é a ampliação destes espaços, o reconhecimento de outras dinâmicas de aprendizagem que ultrapassem os muros formais da escola e vivenciem um modelo de aprendizagem paralelo a uma educação holística, está sim, além das instituições. Este conceito é, oportunamente, atribuído também a um programa internacional de ação política atrelado a Associação Internacional de Cidades Educadoras. Algumas cidades brasileiras integram esta rede, como: Belo Horizonte – MG, Cuiabá – MT, Porto Alegre – RS, entre outras. O espaço da cidade é visto de maneira ampliada como um local de ações sociais, políticas, poéticas, culturais, de procedimentos de resistência e de criatividade, de relação entre espaços de circulação, de encontro, de vivência, fruição, que coloca em contato diferentes formas de pensar, sentir, agir e se colocar dos grupos sociais, fruto de seus repertórios e contextos culturais. (FERNANDES, 2009) 1

Caderno de Experiências

Ainda de acordo com Fernandes (2009) a cidade disponibiliza uma infinidade de equipamentos e instituições organizadas e estruturadas com meios para diferentes fins que funcionam e exigem normas, parâmetros e condutas diferenciadas para os variados espectadores e público. Isso implica em formas variadas de inter-relação e interação entre os sujeitos, promoção de sociabilidades e socializações, entre o que está disponibilizado para consumo e para desfrute, entre o que exige participação e produção mais ou menos ativa e dinâmica, em uma infinidade de estímulos e motivações. Desse modo, centros cívicos, zoológicos, bibliotecas, centros culturais e recreativos, museus, praças, parques, shoppings, monumentos, arquitetura, escolas de samba, movimentos populares e de rua ligados a música, a dança, as artes... podem ser espaços ou locais de promoção e geração de educação para públicos de diferentes idades, grupos sociais, etnias etc.

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EM QUE CONSISTE A PRÁTICA A SER RELADA

Esta produção deseja a partir do relato de uma oficina elaborada pelo Programa Paidéia Cidade Educadora para o II Encontro Regional dos Estudantes do Campo de Públicas – ERECAP na cidade de Crato – CE, refletir sobre o entrelace conceitual entre Educação e Desenvolvimento Regional. A oficina foi realizada como parte da programação do II Encontro Regional dos Estudantes do Campo de Públicas Nordeste – ERECAP sediado no Instituto Federal do Ceará – IFCE – Campus Crato durante os dias 21 a 24 de abril de 2016. A oficina proposta norteia-se nos conceitos e referenciais que serão apresentados ao longo deste relato e buscou promover um espaço de troca com os participantes do Campo de Públicas a partir destes conceitos.

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CONTEXTO

O II Encontro Regional dos Estudantes do Campo de Públicas – ERECAP Nordeste nasce da mobilização dos estudantes da região que, ao longo dos últimos quatro anos têm presença crescente nos fóruns e encontros promovidos pelo Campo. O Programa Paidéia ao longo do seu processo de atuação nos últimos anos sempre manteve um contato frequente com o curso de Administração Pública da Universidade Federal do Cariri, nossas atividades dialogam com a concepção que orienta a formação em gestão pública e gestão social no curso. A oportunidade de ofertar uma oficina para estudantes de Administração Pública e pares de todo o Nordeste foi recebida com entusiasmo pelos integrantes, o desejo pela realização deste espaço de troca com estes estudantes influenciou os resultados alcançados.

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A QUE PÚBLICO SE DIRECIONA

O Campo de Públicas (CP) é formado por um grupo de atores universitários, professores, gestores acadêmicos e estudantes de várias regiões do Brasil que há mais de uma década “realizam atividades comuns para tratar de temas científicos, organizacionais, de regulação e avaliação educacional, a partir de diferentes fundamentos epistemológicos, compondo um espaço multifacetado, aqui considerado uma área de conhecimento multidisciplinar embrionária”1. Os cursos de graduação Gestão Pública, Gestão de Políticas Públicas, Políticas Públicas, Gestão Social e Administração Pública compõe esta rede acadêmica e profissional representados pelos Centro Acadêmicos (CAs) e Diretórios Acadêmicos (DAs) do corpo discente e estudantes em geral, pela Federação Nacional dos Estudantes do Campo de Públicas – FENEAP, que congrega uma rede de CAs e DAs filiados por todo o país, e pelo Fórum de Professores e Coordenadores dos Cursos do Campo de Públicas. Ademais o CP mobiliza-se na fundação da Associação Nacional dos Egressos do Campo de Públicas, que deve ser formalizada em assembleia no XV Encontro Nacional dos Estudantes do Campo de Públicas – ENEAP e objetiva militar pela qualidade do serviço público, melhoria do processo de seleção e recrutamento via concursos públicos e pela qualificação e profissionalização da gestão pública.

5 METODOLOGIA Para a construção deste relato, nós utilizamos da pesquisa bibliográfica, além do processo de sistematização das vivências obtidas durante a atividade realizada. A nossa própria experiência foi suporte para desencadear um processo reflexivo; ao nos aproximarmos da construção prática carregamos conosco não só a idealização do que pode ser feito, mas o reconhecimento do alcance de nossas ações. Além da utilização de etnografia o referencial das Metodologias Integrativas2 nos orienta e ampara não apenas ao longo da prática, mas também para a interpretação dos processos e comportamentos observados durante o processo. Autores como Sachs (2008), com o Desenvolvimento includente nos permitem identificar um novo paradigma de sustentabilidade, o conceito de Cidades Educativas (FERNANDES, 2009) e nos auxiliaram na construção de um espaço de troca com o Campo de Públicas do Nordeste.

PIRES, Valdemir.; et. Ali. Dossiê - Campo de Públicas no Brasil: definição, movimento constitutivo e desafios atuais. Administração Pública e Gestão Social, v. 6, p. 110-126, 2014. 2 As Metodologias Integrativas, assumindo um pensamento pós-positivista buscam proporcionar a produção de conhecimento interativo, valorizar as competências dos sujeitos envolvidos, a valorização de sensibilidades e emoções, e buscam isso a partir do estímulo a capacidade criativa, reprimida e posta de lado pelo tecnicismo e ciência positivista. Ver GIANNELLA (2014) e GIANNELLA (2008). 1

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6 RESULTADOS ALCANÇADOS COM A PRÁTICA Participaram da oficina 28 estudantes, sendo maioria da Universidade Federal do Ceará – UFC (13), graduandos em Gestão de Políticas Públicas, seguido pela Universidade Federal do Cariri – UFCA (6), graduandos em Administração Pública, Universidade Federal de Campina Grande – UFCG (5), graduandos em Gestão Pública, Universidade Federal da Paraíba – UFPB (4), também graduandos em Gestão Pública. O roteiro proposto previu seis horas de atividades, inicialmente houve uma breve apresentação dos participantes que foram convidados a compartilhar o local de origem e a instituição que representava. Após este momento foram apresentados os proponentes da atividade e o conceito de Cidade Educativas: (...) contempla um universo ampliado de práticas educativas que acontecem dentro e fora das instituições escolares e não-escolares, nesse caso, envolvendo equipamentos e instituições sociais, artísticas, culturais e de lazer e espaços públicos disponíveis no espectro da cidade, em seus centros urbanos e periféricos. (FERNANDES, 2009, p. 59).

Conjuntamente apresentávamos o Desenvolvimento Sustentável (DS) como um conjunto de práticas que almejam a transformação social de um território, promovendo equilíbrio cultural, ambiental, social e econômico. Para isso Grangeiro elucida que “para alcançar modelos de desenvolvimento que se pretendam sustentáveis é necessário lutar pela construção de uma sociedade igualmente sustentável, constituída por seres humanos capazes de pensar e agir de maneira sustentável” (2013, p. 36). Foi apesentando também o Programa Cidades Sustentáveis (PCS), que em uma busca de sair da teoria à prática, reúne uma série de ferramentas que vão contribuir para que governos e sociedade civil promovam o desenvolvimento sustentável nos municípios brasileiros. Uma realização da Rede Nossa São Paulo, da Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis e do Instituto Ethos, o programa oferece uma plataforma que funciona como uma agenda para a sustentabilidade, incorporando de maneira integrada as dimensões social, ambiental, econômica, política e cultural e abordando as diferentes áreas da gestão pública em 12 eixos temáticos. Os futuros gestores públicos, após a apresentação conceitual foram seccionados em grupos que integravam um mesmo município, região ou estado, com a premissa de que assim, compartilhando do mesmo pertencimento e reconhecimento das particularidades de suas regiões pudessem, a partir de experiências presentes neste território ou de possibilidades, convidados a resolver uma atividade prática que

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fomentava a elaboração de um plano de melhorias para o território escolhido. Considerando além do referencial das cidades educadoras o desenvolvimento sustentável (DS) destes municípios ou região. Desde as discussões e conceituação do DS, percebeu-se a necessidade da complexidade de variáveis necessárias para sua efetivação, os “Pilares do Desenvolvimento

Sustentável”:

um

conjunto

de

ações

que,

progredindo

simultaneamente são capazes de conduzir a evolução do DS (SACHS, 2008).

Fonte: Elaborado pelos autores com base em Sachs (2008).

O pilar social abrange a visão de que as más situações sociais podem estar relacionadas ao descaso das autoridades, frente à desigualdade social. A questão ambiental tem dupla importância, fornece os recursos para a sustentação da vida e é o agente recebedor dos resíduos. O pilar territorial está ligado à distribuição espacial de recursos naturais, da população e das atividades desenvolvidas. A questão econômica viabiliza o acontecimento dos fatos, alertando-se a dar ênfase em critérios macrossociais e a amplitude social dos benefícios. E por fim, o político, um governo democrático é de extrema importância para viabilizar os acontecimentos (SACHS, 2008). A atividade prática consistia na resolução de cinco questionamentos: i.

Como o Programa Cidades Sustentáveis pode ajudar a avaliar a situação geral do município, superar desafios e identificar caminhos que o levem na direção de um futuro desejado?

ii.

De que forma a divulgação do Programa Cidades Sustentáveis pode ajudar a mobilizar a administração do município e a sociedade em geral?

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iii.

Haverá uma equipe responsável pela elaboração do diagnóstico inicial, do planejamento, da implementação e do monitoramento do programa?

iv.

A equipe de governo está alinhada aos compromissos assumidos e disposta a utilizar as ferramentas oferecidas pelo Programa Cidades Sustentáveis?

v.

Que tipo de parcerias, apoios e convênios externos seriam necessários para desenvolver o programa?

Os estudantes após a resolução destes foram convidados, caso quisessem, para um momento de partilha de impressões da atividade propiciada, os estudantes compartilharam experiências locais de inovação. Foi perceptível a ânsia por mudança na fala dos participantes, característica, afortunadamente, presente nos estudantes do campo que pensam a transformação a partir das políticas públicas. Ladislau Dowbor (2006), professor ativo no Campo de Públicas, pondera bem a importância destes estudantes: A ideia da educação para o desenvolvimento local está diretamente vinculada a esta compreensão, e à necessidade de se formar pessoas que amanhã possam participar de forma ativa das iniciativas capazes de transformar o seu entorno, de gerar dinâmicas construtivas. (...) A educação não deve servir apenas como trampolim para uma pessoa escapar da sua região: deve dar-lhe os conhecimentos necessários para ajudar a transformá-la. (p. 2).

7. O QUE SE APRENDEU COM A EXPERIÊNCIA O Programa Paidéia Cidade Educadora pretende contribuir para a construção de um novo modelo de desenvolvimento regional sustentável a partir da concepção de uma educação pautada no território, que transita além dos muros das salas de aulas e que se firma como itinerante nos diversos espaços educativos presentes na cidade. Entender esta educação como práxis necessária na construção do desenvolvimento sustentável tem, ao longo dos anos, norteado nossas ações como extensionistas e alicerçado estes valores em nossas formações profissionais e humana. A oficina em Cidades Educadoras em uma concepção orientada no DS e no Desenvolvimento Local a partir do Programa Cidades Sustentáveis intencionou demonstrar o entrelace conceitual e de prática para os participantes e futuros gestores: ao compreendermos o desenvolvimento sustentável como um conjunto de práticas que almejam a transformação social e de um território, promovendo

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equilíbrio cultural, ambiental, social e econômico perceberíamos um entrelace destes víeis com as características que conjuntamente compreendem práticas educativas. A concepção de um gestor capaz – ou sensível à tentativa – de estabelecer estes vínculos no campo social é o repensar a ótica racionalista e o refazer do gestor tradicional.

REFERÊNCIAS DOWBOR, Ladislau. Educação e Desenvolvimento Local. Revista Municípios, Rio de Janeiro, v. 1, p. 1-16, 2006. FERNANDES, Renata S. A cidade educativa como espaço de educação não formal, as crianças e os jovens. Revista Eletrônica de Educação. São Carlos, SP: UFSCar, v.3, no. 1, p. 58-74, mai. 2009. Disponível em . Acesso em 03 de jun. 2016. GIANNELLA, Valeria; LEITE, M. Lais. Programa Paidéia Cidade Educadora 2015-2016. Projeto de extensão encaminhado ao Programa Nacional de Extensão Universitária – Proext/MEC e à Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Cariri-UFCA. 2014. GIANNELLA, Valeria. Base teórica e papel das metodologias não convencionais para a formação em gestão social. In: CANÇADO, A. C. et al. (org). Os desafios da formação em gestão social. Anais no II ENAPEGS, Provisão: Palmas/TO 2008. GIANNELLA, Valeria. Metodologias Integrativas. In: BOULLOSA, Rosana de Freitas (org). Dicionário para a formação em gestão social. Salvador: CIAGS/UFBA, 2014 p. 112114. GRANGEIRO, Mano. (Francisco Grangeiro Tavares Neves) (2013). Ação cultural para o desenvolvimento sustentável: trajetórias e percursos na região do Cariri. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional Sustentável (PRODER), da Universidade Federal do Ceará, Campus do Cariri. SACHS, Ignacy. Desenvolvimento includente, sustentável, sustentado. Rio de Janeiro: Garamond, 2008. Sachs I (2000) Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. Coleção Idéias Sustentáveis. Garamond, Rio de Janeiro. PIRES, Valdemir.; et. Ali. Dossiê - Campo de Públicas no Brasil: definição, movimento constitutivo e desafios atuais. Administração Pública e Gestão Social, v. 6, p. 110-126, 2014.

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AGRADECIMENTOS A esta universidade, seu corpo docente, direção е administração que oportunizam um horizonte superior por meio do conhecimento. A Pró-Reitoria de Extensão, seu corpo técnico, por estar presente e apoiar as ações do Cidade Educadora. Aos integrantes do Programa e projetos parceiros e que de alguma forma contribuíram na construção desta e de outras atividades. Ao Centro Acadêmico do Curso de Administração Pública da Universidade Federal do Cariri, que junto à Comissão Organizadora do II ERECAP Nordeste proporcionaram este espaço de troca com os estudantes do campo.

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