Nonsense em português

June 2, 2017 | Autor: Conceição Pereira | Categoria: Nonsense, Literatura Portuguesa
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Conceição Pereira, 2013, “Nonsense em português”, De Lisboa para o mundo: ensaios sobre o humor luso-hispânico, Laura Areias e Luís da Cunha Pinheiro (organização), Lisboa: CLEPUL, pp. 129-144. http://en.calameo.com/read/001827977423ad3a47b61

Nonsense em português Conceição Pereira CLEPUL - FLUL

Resumo O nonsense, muitas vezes associado a um tipo de humor especificamente britânico, pode ser considerado um género universal, cultivado por autores de todas as línguas e culturas, por isso extensível a textos e autores portugueses. No entanto, os textos classificáveis como nonsense em português provavelmente são insuficientes para poder reconhecer-se a existência de uma tradição. Tem havido, sim, produções esporádicas, sendo Poema Pial de Fernando Pessoa um texto exemplar do nonsense escrito em língua portuguesa. Poema Pial foi enviado por Pessoa a Ofélia Queirós na última carta que lhe dirigiu, tendo o poema sido acompanhado por uma breve carta onde o poeta explica a sua génese e fornece instruções de leitura. O poema, embora escrito em português, não é mais do que uma counting rhyme inglesa e a carta referida assenta numa lógica típica do nonsense. Embora não tenha sido escrito para crianças, este poema viria a fazer parte de duas coletâneas de poemas de Fernando Pessoa para crianças e foi igualmente publicado num volume único com ilustrações de Manuela Bacelar. A relação entre o nonsense e a literatura infantil é, aliás, uma relação antiga, como está bem patente em Book of nonsense de Edward Lear, primeiro livro que ostenta a palavra nonsense no título e que visava um público infantil. Nesta comunicação pretendo refletir sobre algumas produções de nonsense em português, nomeadamente o poema de Pessoa referido, e também poemas de autores de literatura infantil, como Luísa Ducla Soares, José Jorge Letria e Manuel António Pina que cultivam o nonsense nalguns dos seus textos. Estabeleço igualmente uma ligação à poesia oral tradicional, terreno fértil para o nonsense, e abordarei ainda três autores do século XX, 1

Mário-Henrique Leiria, Alexandre O’Neill e Hélio Osvaldo Alves, de algum modo representativos do nonsense que tem sido escrito em língua portuguesa. A opção de “nonsense em português” e não “nonsense português”, como título deste ensaio, deve-se ao facto de a última designação incorrer na possibilidade de não ser absolutamente apropriada, pois este tipo de humor, geralmente considerado tipicamente britânico, não se constituiu, até à data, como tradição em Portugal. Mesmo assim, procuro defender que, mesmo sem uma tradição forte, alguns textos literários portugueses formam um corpus que pode ser designado como “nonsense português”. Tendo investigado alguns aspetos do nonsense, tanto verbal, como visual, em autores canónicos do nonsense como Edward Lear, Lewis Carroll e Glen Baxter, comecei a procurar textos portugueses quando fui convidada para participar na Anthology of World Nonsense, organizada por Michael Heyman e Kevin Shortsleeve, ainda em fase de preparação. Os textos que escolhi para aí figurarem, e outros que apresento neste trabalho, são reveladores da diversidade do dito nonsense português; no entanto, alguns padrões de semelhança são também um facto, sobretudo nos usos da linguagem, o que me leva a defender que estes textos podem ter o seu lugar numa antologia de nonsense ou ser subsumidos numa mesma categoria, ou seja, podem ser classificados como nonsense. As antologias, nomeadamente as antologias de poesia, têm uma tradição forte no mundo anglo-saxónico e as antologias de nonsense não são exceção. A primeira destas antologias foi publicada no início do século XX, por Carolyn Wells, em 1902, e muitas outras se lhe seguiram, especialmente na segunda metade do século XX e no início do século XXI. Apresentam, maioritariamente textos originalmente escritos em inglês, embora algumas incluam também textos alemães e franceses traduzidos para inglês, como os de Rabelais ou Morgenstern. Através da análise dos textos que fazem parte das antologias referidas, verifica-se que o nonsense constitui um conceito muito alargado, sendo a sua definição algo difícil, uma vez que depende de sense, ou seja, de sentido, também difícil de definir. Nonsense parece, assim, dizer respeito a um conceito demasiado abrangente que se trivializou. Em sentido lato, a literatura nonsense tem sido caracterizada como reveladora de uma harmonia consistente com as suas contradições, ou como um jogo lógico, com regras próprias. A sua natureza é considerada, geralmente, paradoxal, na medida em o seu estilo característico joga com as regras do senso comum, ao mesmo tempo que as nega ou inviabiliza, provocando, por vezes, efeitos de incoerência, o que leva, também, à sua definição como o equivalente a “absurdo”. Quer isto dizer que a abrangência do conceito 2

permite classificar como nonsense textos e imagens de natureza diversa e nem sempre com um denominador comum, como está patente nas muitas antologias de nonsense publicadas.1 Em Portugal há antologias de poesia para crianças que incluem textos com elementos de nonsense, mas uma antologia de nonsense português ou (em português) está ainda por publicar. Um bom exemplo de nonsense literário escrito em português é “Poema Pial”, um poema que Fernando Pessoa (1888-1935) enviou à sua noiva Ophélia Queirós na última carta que lhe escreveu: Bebé: Obtida a devida autorização do senhor Eng. Álvaro de Campos, mando-lhe o poema que escrevi entre as estações de Casa Branca e Barreiro A, terminando a inspiração, entretanto, na Moita. Este poema deve ser lido de noite, num quarto sem luz. Também, devidamente aproveitado, serve para fazer papelotes para as bonecas de trapo, para tapar as fechaduras contra o frio, os olhares e as chaves, e para tirar medidas para sapatos a pés que não tenham mais comprimento que o papel. Creio que estão feitas as recomendações para o uso. Não é preciso agitar antes de usar. Até logo, Ibis A carta, que consiste numa explicação da génese do poema, incluindo também instruções de leitura, começa por misturar factos, ou supostos factos (a viagem de comboio entre Casa Branca e o Barreiro) com ficção, porque Álvaro de Campos, enquanto heterónimo de Pessoa, não tem existência real. As indicações de leitura tornam-na impossível, uma vez que o poema deve ser lido num quarto sem luz, decorrendo daqui um outro nível de leitura, ou de não-leitura, sendo o poema tomado na sua materialidade: em vez de palavras escritas, as instruções de uso dizem respeito ao papel usado como suporte da escrita. Assim o poema / papel pode ser usado para fins vários, mas todos eles relacionados com o papel, não com o poema, sendo a última sugestão geralmente aplicada a medicamentos. 1

Cf. Maria da Conceição Pereira, Contextos Improváveis: Nonsense, malapropismos e outras banalidades, Lisboa, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2007, pp 8-95, http://www.fl.ul.pt/images/stories/Documentos/Programas/TeoriaLiteratura/Documentos/pereira2.pdf

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Esta carta nonsense antecipa o “Poema Pial”, em tudo semelhante a uma “counting rhyme” da tradição anglo-saxónica, cujo título se pode explicar pela referência implícita ao som. A palavra “pial”, que não existe como adjetivo em português, foi cunhada por Pessoa a partir do verbo “piar”, que designa o som feito pelos pássaros e poderá também ligar-se à estação de comboio “Pias”, uma vez que se diz que o poema terá sido escrito durante uma viagem ferroviária. E “pia” pode significar também lavatório. Deste modo, “pial” poderia ser o adjetivo derivado de “pia” ou “piar”, ou seja, está, de algum modo, relacionado com lavatórios, mas pode igualmente referir-se a algo que faz um som semelhante ao dos pássaros. Assim, poema Pial é um poema estruturado a partir de uma lógica de som e cujo tema são as “pias”, criando-se um forte efeito de nonsense. POEMA PIAL Casa Branca - Barreiro a Moita (Silêncio ou estação, à escolha do freguês) Toda a gente que tem as mãos frias Deve metê-las dentro das pias. Pia número um Para quem mexe as orelhas em jejum. Pia número dois, Para quem bebe bifes de bois. Pia número três, Para quem espirra só meia vez. Pia número quatro, Para quem manda as ventas ao teatro. Pia número cinco, Para quem come a chave do trinco. Pia número seis, 4

Para quem se penteia com bolos-reis Pia número sete, Para quem canta até que o telhado se derrete. Pia número oito, Para quem parte nozes quando é afoito. Pia número nove, Para quem se parece com uma couve. Pia número dez, Para quem cola selos nas unhas dos pés. E, como as mãos já não estão frias, Tampa nas pias! Embora este poema tenha sido escrito em português, assemelha-se a uma “counting rhyme”, isto é, um poema da tradição oral em língua inglesa, que implica sempre a contagem crescente ou decrescente, género quase inexistente na poesia da tradição oral em português. Com efeito, Pessoa cresceu na África do Sul, tendo tido grande contacto com a literatura inglesa. Poema Pial, originalmente publicado no volume dedicado às cartas que o poeta escreveu a Ophélia Queiroz, e posteriormente em diversas edições de correspondência do autor, veio igualmente a ser publicados em quatro antologias de poemas de Pessoa para crianças e jovens. Retirado do seu âmbito privado com a primeira das publicações, passa a poder ser contextualizado na literatura infanto-juvenil, perdendo mesmo o seu carácter epistolar, uma ver que nas publicações referidas aparece sem a carta que o acompanha inicialmente. A edição do poema num único livro ilustrado reitera a sua condição de poema infanto-juvenil, embora o transporte igualmente para o contexto da biografia da Pessoa através das ilustrações, como acabámos de ver. Poderia argumentar-se que Poema Pial deriva da literatura oral portuguesa, no entanto, como referi antes, as “counting rhymes” são escassas e contém menos elementos de nonsense. Estes poemas revelam, na maior parte dos casos, a sua ligação à cultura popular portuguesa, como é o caso de “Dão badalão, cabeça de cão”, muito conhecido de 5

todas as gerações de portugueses, e que é apenas um dos muitos exemplos da poesia oral tradicional portuguesa potencialmente classificáveis como nonsense: Dão badalão, cabeça de cão, Orelhas de gato, não tem coração. Dão badalão, cabeça de cão, Cozido e assado no caldeirão. Dão badalão, morreu o Simão, Na terra dos mouros Sr. Capitão. Dlim, dlão, dlim, dlim, dlão! Vai casar o João Ratão, Os dois sinos tocarão: Dlim, dlão, dlim, dlim, dlão. Toca, toca o sacristão, Toca, toca o sinão: Dlim, dlão, dlim, dlim, dlão. Vai casar o João Ratão No dia de S. João. “Dão badalão, cabeça de cão” menciona a história da carochinha e do João Ratão, e ainda a celebração de S .João, um dos Santos populares, e inclui uma referência à história nacional, a guerra contra os mouros no Norte de África. Terá este poema elementos de nonsense? Penso que é possível encontrar argumentos que o sustentem, nomeadamente a conjugação de temas não relacionados e o modo de funcionamento das rimas, todas em “ão”, replicando mesmo a onomatopeia do badalar dos sinos e sendo a repetição rimática o elemento estruturante do poema. Todavia, no que diz respeito à tradição oral, é importante não esquecer que o nonsense surge retrospetivamente. Ou seja, o conceito de nonsense surge à posteriori. Como explica Noel Malcolm, as distorções da poesia tradicional são, por natureza, acidentais: constituem-se como consequência de processos não intencionais de elisão, erosão e substituição. Pode acontecer que o efeito provocado seja do mesmo tipo da literatura nonsense. Pode também ser o caso, como afirma George Orwell, que a melhor poesia nonsense é produzida gradual e acidentalmente, por comunidades e não por autores 6

individuais. Por outras palavras, podemos estabelecer que, sendo o efeito de nonsense, poderemos classificar o texto como nonsense. Como noutras literaturas nacionais, muita literatura nonsense tem sido produzida no âmbito da literatura infantil. Aliás, o grande iniciador do nonsense, Edward Lear, criou os seus primeiros textos nonsense tendo como público-alvo crianças. Estou a referir-me a Book of Nonsense, coletânea de limericks publicada em 1846 e o primeiro livro a ostentar a palavra “nonsense” no título. Em Portugal, e já nos séculos XX e XXI, Luísa Ducla Soares (1939), Manuel António Pina (1943-2012) e José Jorge Letria (1951) são três dos nomes que se associam à literatura infantil que cultiva o nonsense. Os dois alfabetos de Luísa Ducla Soares, Abecedário sem juízo e Abecedário maluco lembram os mais de vinte alfabetos nonsense criados por Edward Lear. A leitura de “Abecedário sem Juízo” torna imediatamente percetível a sua estruturação com base mais no som que no sentido, na medida em que cada verso se constrói a partir de um nome próprio correspondente a cada letra alfabeto; o agente da acção ou o tópico da descrição vai rimar com a sílaba final do nome designado. A é o André, a beber água pé. B é o Bruno, vai a fugir dum gatuno. C é a Camila, com corpinho de gorila. D é o Daniel, come lenços de papel. E é a Ester, que nunca usa talher. F é o Frederico, está sentado no penico. G é o Gonçalo, já hoje levou um estalo. H é a Helga, picada por uma melga. I é a Inês, a dar beijos num chinês. J é o João, põe ratos dentro do pão. L é a Luísa, vai para a rua sem camisa. M é a Maria, que só dorme todo o dia. N é o Norberto, que gosta de armar em esperto. O é o Olegário, caiu dentro do aquário. P é a Paula, tira a banana da jaula. Q é o Quim, meteu a mão no pudim. R é a Raquel, que se besunta com mel. S é a Sara, com dez borbulhas na cara. 7

T é o Tiago, a pescar botas no lago. U é o Urbino, que sofre do intestino. V é a Verónica, tem a preguicite crónica. X é o Xavier, usa roupa de mulher. Z é a Zulmira, que na aula dança o vira. “Gigões e anantes” é um poema de Manuel António Pina, que constrói as suas personagens a partir de palavras cunhadas, ou seja, palavras inventadas que dão origem às características dos gigões e dos anantes, personagens que são simultaneamente gigantes e anões, por isso difícil de distinguir entre si. Gigões são anantes muito grandes. Anantes são gigões muito pequenos. Os gigões diferem dos anantes porque uns são um bocado mais outros são um bocado menos. Era uma vez um gigão tão grande, tão grande, que não cabia. – Em quê? – O gigão era tão grande que nem se sabia em que é que ele não cabia! Mas havia um anante ainda maior que o gigão, e esse nem se sabia se ele cabia ou não. Só havia uma maneira de os distinguir: era chegar ao pé deles e perguntar: Mas eram tão grandes que não se podia lá chegar! E nunca se sabia se estavam a mentir! Então a Ana como não podia resolver o problema arranjou uma teoria: xixanava com eles e o que ficava xubiante ou ximbimpante era o gigão, e o anante fingia que não. A teoria nunca falhava porque era toda com palavras que só a Ana sabia. 8

E como eram palavras de toda a confiança só queriam dizer o que a Ana queria. O poema “Onzembro” apresenta uma situação impossível, também como consequência de uma palavra cunhada, o mês que se seguiria a dezembro. Depois de Dezembro veio um mês chamado Onzembro, com trinta e dois dias a pôr nas mãos vazias ponteiros de hora e meia que fazem da lua cheia um espelho de espelhar as caretas ao luar. Hélio Osvaldo Alves (1938-2003), não escreveu para crianças como os três últimos autores citados, descrevendo-se a si mesmo como um grande admirador dos limericks de Lear,2 tendo escrito poemas nonsense usando essa forma poética. Segundo Alves, o nonsense é universal e pode ser escrito em português. Assim, os seus poemas constituem uma transposição direta da forma poética limerick para a língua portuguesa. Havia um homem no Alandroal Que um dia foi a Vila Real. Bebeu espumoso, Ficou todo dengoso, E nunca mais quis voltar ao Alandroal. De um modo diferente, uma vez que não são transpostas formas, alguns textos de dois outros autores portugueses poderiam igualmente ser incluídos numa antologia de nonsense português. De Alexandre O’Neil (1924-1986) e Mário-Henrique Leiria (1923-1980), ambos ligados ao movimento surrealista, dois textos exemplificam o que pretendo dizer. Em “Bloco” O’Neill joga com a semelhança e repetição das palavras.

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Cf. Maria da Conceição Pereira, pp. 96-147.

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Enquanto Mário-Henrique Leiria nos conta, em forma de poema, a história de uma nêspera, que intitulou “Rifão quotidiano” Uma nêspera estava na cama deitada muito calada a ver o que acontecia chegou a Velha e disse olha uma nêspera e zás comeu-a é o que acontece às nêsperas que ficam deitadas caladas a esperar o que acontece A leitura dos dois últimos poemas como nonsense é, claramente, superficial, mas de ambos se pode dizer que incluem elementos de nonsense, assim como dois cadáveres esquisitos da autoria Leiria e O’Neill: - Quem és tu? - O cozinheiro do duque de Guise. - Ele batia-te? - Sim. - Quem era Guttenberg? - Era um carro de bois. 10

- O que fazia? - Sonetos. Os textos mais recentes a incluir na possível antologia de nonsense português foram escritos e ilustrados por dois autores mais conhecidos como realizadores de cinema de animação, Pedro Serrazina e Afonso Cruz. O texto de Pedro Serrazina (1968), incluído em Pequenas estórias sem importância, fornece instruções sui generis para fazer sumo de laranja, e poderá facilmente enquadrar-se na tradição da culinária nonsense cultivada por Edward Lear. Para se fazer sumo de laranja é essencial ter sumo e algumas laranjas. O sumo pode ser sumol (de preferência de laranja) e as laranjas podem ser de ananás. Basta misturar e pronto. O texto de Afonso Cruz (1971), um excerto de A Contradição Humana, constitui uma das contradições que habitam o livro e que decorrem de situações do quotidiano, supostamente banais, mas que evidenciam contradições intrínsecas, sendo o nonsense conseguido pela apresentação dessas evidências como se estas constituíssem algo de extraordinário. Percebi, certo dia, que o espelho do meu quarto é uma contradição: o meu lado esquerdo, quando refletido, torna-se direito e o direito, esquerdo -, mas a parte de cima não se torna parte de baixo. Nem a parte de baixo, parte de cima. Acontece o mesmo com o meu gato. Mesmo quando se vira o espelho ao contrário. Provavelmente o nonsense é universal, tanto temporal como espacialmente, mesmo que o conceito, enquanto tal, tenha surgido apenas no século XIX, em Inglaterra com Book of Nonsense de Edward Lear. Deste modo, podemos considerar que o nonsense escrito em português faz parte de uma cultura universal, embora alguns traços da cultura nacional sejam evidentes, por exemplo, nalguma poesia nonsense da tradição oral. Por outro lado, como vimos, nos poemas de Pessoa, Letria, Soares, Pina, Alves e Serrazina e Cruz está presente a influência, em graus e de modos diferentes, do nonsense britânico e podemos também encontrar traços de nonsense nalguns textos de Leiria e O’Neill.

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Em suma, mesmo sem uma tradição consistente de literatura nonsense em Portugal, os textos citados permitem concluir que alguns autores portugueses foram seduzidos pelo potencial expressivo da literatura nonsense e sem dúvida que há material suficiente para que uma antologia de nonsense em português possa, um dia, vir a ser publicada.

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