Norbert Elias às voltas com a teoria do conhecimento: convergências entre a contribuição eliasiana e os filmes Amnésia e Esquizofrenia

July 22, 2017 | Autor: Vinícius Dino | Categoria: Sociology, Film Analysis
Share Embed


Descrição do Produto

REVISTA CAFÉ COM SOCIOLOGIA    

Norbert Elias às voltas com a teoria do conhecimento: convergências entre a contribuição eliasiana e os filmes Amnésia e Esquizofrenia Vinícius Dino Fonseca de Castro e Costa1

1 Introdução Na introdução ao livro Envolvimento e Alienação, publicado em 1983, Norbert Elias retratava seu próprio pensamento, exposto naquele texto, como uma quebra na tradição da teoria do conhecimento, em sua matriz filosófica e especulativa:

Outra quebra muito menor da tradição, espontânea e de imediata relevância aqui, tem a vantagem de poder ser implementada. O texto que se segue pode ser considerado seu começo. Refiro-me à ruptura com a tradição filosófica do conhecimento, suas teorias e o começo de uma tradição sociológica de teorias do conhecimento. (ELIAS, 1998a, p.26).

Em sua avaliação, o postulado de que o modo de adquirir conhecimento seria universalmente o mesmo para todos os seres humanos, em diferentes sociedades e períodos da história (remetendo às reflexões de Kant sobre a estrutura da razão, ou ainda, à proposição de Descartes de um modelo do sujeito racional, que seria fundamento para todo conhecimento), constitui uma idealização incapaz de abrigar o fato empírico de que o conhecimento humano é transmitido intergeracionalmente, por meio do aprendizado e a partir de um fundo histórico e social, e, portanto, o indivíduo não pode construir seu conhecimento independentemente do contato social. Assim, tampouco pode esse conhecimento ser sempre o mesmo, dadas as diferentes características estruturais dos grupos humanos e seus diversos níveis de desenvolvimento. Problema semelhante já comparecia na reflexão de Elias cerca de cinquenta anos antes, como mostra a historiadora Vera Weiler (2008; 2012), quando ele se ocupou dos estudos de Lucien LévyBruhl acerca da chamada mentalidade primitiva. Sua leitura da obra deste último se atraiu pela eleição enquanto objeto de investigação das diferenças de estruturas psíquicas, que do ponto de vista de Elias contribuíam para a análise também das transformações dessas estruturas ao longo do tempo. O interesse pela hipótese da existência de diferenças significativas entre as mentalidades, nesse contexto, já indica uma abordagem do tema por parte de Elias que se distingue da teoria do conhecimento “tradicional”, com sua ideia estabelecida do sujeito cognoscente. Sua argumentação sobre Lévy-Bruhl, em carta de 1939 dirigida a Raymond Aron, é significativa ao demonstrar o modo como ele se posiciona ao lado daquele autor, ao comparar o projeto de estudo empreendido por ele a                                                                                                                         1

 

Graduando em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília.

31  

sua própria obra O Processo Civilizador, que trata das estruturas psíquicas a partir de uma perspectiva de longa duração. Os dois episódios, localizados em pontos bastante distintos da trajetória do autor, apontam para a complexidade, pluralidade de frentes e caráter descentralizado, do ponto de vista da distribuição nos textos, da contribuição dada por Elias à teoria do conhecimento. Essa contribuição se desdobra em análises aplicadas a campos empíricos diversos e pode ser apreendida por vários ângulos, tantos quantos são os braços e modos de abordagem que o autor direciona ao problema do conhecimento, com seus conceitos e instrumentos analíticos. Este trabalho se debruça sobre a teoria sociológica do conhecimento proposta por Elias, vista através do prisma de três de seus momentos. Esses momentos serão destacados na medida em que podem fornecer elementos para um diálogo com duas outras produções simbólicas, pertencentes à linguagem fílmica: os filmes norte-americanos Amnésia (2000, dir. Christopher Nolan) e Esquizofrenia – entre o real e o imaginário (2004, dir. Lodge Kerrigan). Por meio de procedimentos interpretativos, procura-se extrair dos filmes pontos de convergência entre a teoria que apresentam, isto é, o discurso sobre o mundo constituinte de sua forma, e a teoria de Norbert Elias. Igualmente, busca-se visualizar como os filmes exploram, em forma de narrativa, o problema em torno da articulação entre condutas e saberes adquiridos.

2 Saberes e autocontrole: a autorregulação como problema de conhecimento A conhecida teorização de Elias sobre os processos civilizadores se fundamenta, principalmente, em uma concepção que busca demarcar com uma maior precisão o lugar da consciência na condução das ações humanas. A disposição humana ao aprendizado, nesse sentido, é condição necessária para o desenvolvimento da consciência, e no modelo de Elias ocupa uma posição de anterioridade lógica. Em outras palavras, trata-se de uma proposta que se orienta pela procura dos processos por meio dos quais os planos biológico, psíquico e social se intersecionam, formando não uma justaposição de esferas autocentradas, mas uma síntese integradora de todas elas; de modo que o nível socio-humano é uma evolução mais complexa, do ponto de vista funcional, dos níveis anteriores. Neste quadro geral, é central o lugar ocupado pelo conhecimento, e pela possibilidade de adquiri-lo, enquanto fator de diferenciação evolutiva. A consciência, que diferencia os seres humanos do resto do cosmos, para o autor, não pode ser constituída senão por saberes: conhecimentos construídos social e intergeracionalmente, ao longo de dinâmicas de longa duração sem um ponto preciso de origem. A esses saberes compete a função de, entre outros aspectos, informar o controle Vol.4,  Nº1.  Jan.  -­‐  abr.  2015.  

32  

REVISTA CAFÉ COM SOCIOLOGIA    

dos instintos e a modelação das pulsões humanas, que em outras espécies obedecem aos comandos genéticos baseados fundamentalmente no nível biológico. São justamente as diferentes formas específicas que podem tomar a regulação e a autorregulação dos impulsos, compondo um padrão social de comportamento, que Elias chama de modelos de civilização; estando esses modelos sempre relacionados a estruturas psíquicas (ELIAS, 2006). No padrão dominante nas sociedades desenvolvidas do Ocidente, prevalece um alto padrão de autorregulação individual, isto é, as pulsões se moldam nos indivíduos mais por meio de saberes incorporados e internalizados e menos através das coações sociais exteriores (dois polos de uma balança que serve de instrumento de análise dos modos de regulação). No filme Amnésia, a narrativa coloca o problema da perda de memória recente na pessoa de Leonard, personagem principal do filme. A partir do que o personagem chama de “o incidente”, um episódio de agressão a ele e a sua esposa, que é mostrado como evento subjacente a todo o desenvolvimento posterior da narrativa, ele se encontra impossibilitado de fixar novas lembranças por um período maior que alguns minutos, e, portanto, de adquirir aprendizados. No entanto, toda a memória acumulada por ele até o momento da agressão permanece. Pensando com Norbert Elias, uma questão que poderia se colocar tangencia o papel do conhecimento na definição das condutas autorreguladas: teria o padrão de autocontrole sofrido alguma alteração causada pela incapacidade de reter novas memórias? Logo o filme revela que não: os (numerosos) obstáculos postos à condução das ações cotidianas de Leonard se referenciam todos nas exigências da faculdade de memorizar (ou mimetizar, no vocabulário de Elias) acontecimentos recentes. Em contrapartida, todos os conhecimentos básicos de como agir, se portar e se comunicar (linguagem) já haviam sido incorporados por ele anteriormente, e sedimentados na forma do hábito e do costume. (Para Leonard, essas memórias anteriores não só viabilizavam sua vida após o incidente, mas também conferiam a ela seu sentido.) Conforme é possível observar, no estágio de desenvolvimento das sociedades modernas o padrão de civilização privilegia o aprendizado precoce das principais normas de comportamento. Em A civilização dos pais (2012), Elias já mostrava como as desigualdades na balança de poder entre pais e filhos, no contexto da família, passava pela função desempenhada pelos pais enquanto agentes de coação externa em relação às ações dos filhos. Na esteira da longa duração do processo civilizador, o surgimento da infância enquanto fase específica da vida humana, marcada pela sucessão de aprendizados que compõem o comportamento considerado adequado à fase adulta, não se deu por nenhuma diferenciação na estrutura psíquica e emocional das crianças per se, em oposição à dos adultos; em lugar disso, a transformação se deu justamente no modelo de civilização observado nos pais, que ao lentamente passarem do controle social ao autocontrole das pulsões (e  

33  

transmitirem este à geração posterior), adentravam a seara de um cada vez mais elevado gabarito de autorregulação. É justamente essa autorregulação, aprendida desde a infância, a que permanece em Leonard. De forma bastante distinta o nexo entre conhecimento e conduta é apresentado pelo argumento do filme Esquizofrenia. Acompanhando de perto o percurso de William Keane, o filme explora de forma realista os tensionamentos causados por seu distúrbio, explorando suas estratégias de sobrevivência e seus trânsitos por ambientes e instâncias do mundo social, com foco no intenso sofrimento psíquico vivido pelo personagem. Nesse caso, a configuração posta é outra, na medida em que ele apresenta dificuldades para corresponder às expectativas de um comportamento considerado “normal” na estrutura social em que ele se situa. No entanto, não se trata de alguém a quem faltam os conhecimentos fundamentais constituintes deste modelo de civilização específico: por desajustes e desequilíbrios funcionais que a linguagem fílmica se isenta de explicitar, a sua dificuldade está em operacionalizar na prática os saberes, acioná-los quando necessário e controlar os comandos e emoções que se elevam a sua consciência, e aparecem para ele como elementos externos. Sua incapacidade de autocontenção em situações particulares se exemplifica pela cena em que, transtornado pelo sentimento de culpa calcado na crença de ter perdido sua filha em uma estação de trem, ele caminha por entre os carros em uma via de alta velocidade, gritando e gesticulando. Nesse momento, sua imagem é a de um organismo humano com déficit de regulação, contrastando com um contexto que espera dos indivíduos o mais elevado padrão de autocontrole. Outras situações revelam comportamento semelhante: a cena em que ele grita com passageiros e motorista de um ônibus com o intuito de provocar a parada do veículo, ou ainda quando em um bar mobiliza aspectos agressivos de sua personalidade para tentar impor sua necessidade de aumentar o volume da música no ambiente. A compreensão eliasiana dos processos civilizadores, dessa forma, encontra pontos de consonância com os processos individuais (em suas continuidades com os processos socio-históricos) de conhecimento representados pelos filmes, apesar de nas abordagens fílmicas os cursos de ação retratados apresentarem entre si especificidades em seus modos de conformação e acionamento dos saberes.

3 Sínteses simbólicas e a competência da memória Ainda no registro de compreender o plano socio-humano do universo enquanto um nível de integração e complexidade funcional distinto, contudo em continuidade com toda a natureza não Vol.4,  Nº1.  Jan.  -­‐  abr.  2015.  

34  

REVISTA CAFÉ COM SOCIOLOGIA    

humana, que o habitus de pensamento ocidental insiste em separar da sociedade humana sob as categorias de natureza e cultura, Elias se deteve no projeto de apresentar um modelo teórico-analítico da capacidade de formar símbolos. Em sua Teoria Simbólica, ele formula problemas, questionamentos, e esboça respostas e conclusões para alguns deles. Novamente, a proposição epistemológica de tomar a humanidade enquanto processo, isto é, em sua historicidade de longa duração baseada nas dinâmicas de desenvolvimento de saberes, toma a forma de crítica do que ele chama de “a teoria tradicional do conhecimento e da linguagem”. Essas teorias, para Elias, deixaram de apreender a natureza do conhecimento ao representá-lo como preso a uma estrutura a priori ou transcendental da razão, estrutura essa a que as experiências se adequariam (propostas básicas do sistema de Kant). Esse modelo, bem como todos os outros que trabalham com uma cisão ontológica entre sujeito e objeto, ignora justamente o caráter histórico-social da diferença que constitui a consciência humana: o diferencial representado pelo complexo “conhecimento, linguagem, memória e pensamento”. Compreendidos como diferentes funções deste mesmo complexo, cada um desses momentos remete a um mesmo plano, um mesmo nível de integração cósmica e biológica: a disposição, representada pelos seres humanos, que o universo possui para se simbolizar; colocado de outra forma, a disposição que é condição necessária ao desenvolvimento de consciência. (ELIAS, 2012) A questão do simbólico, dessa forma, se relaciona tanto com o problema da duplicação, quanto com o do sentido. A linguagem, entendida em sentido lato, isto é, como todo o sistema que torna possível a comunicação de significados compartilhados, impõe-se como prática capaz de dar sentido as outras práticas ao passo que as nomeia, simboliza, o que significa associá-las a um fundo comum de experiências. É a fixação dessas experiências por meio de sua duplicação, na forma dos símbolos, que Elias chamará de síntese simbólica. Dependendo do estágio de desenvolvimento biopsíquico e sociohistórico, tramas de desenvolvimento essas que se ligam em uma interdependência mútua e necessária, um maior nível de síntese pode ser alcançado. Isto significa dizer que, diferentemente do sujeito autocentrado da teoria do conhecimento tradicional, os indivíduos para Elias só podem produzir conhecimentos e conceitos partindo de sínteses prévias de experiências humana, dispostas na longa duração da sucessão de eventos que a memória retém. Os conceitos mais sintéticos, assim, dizem respeito a um mais complexo tramado de conhecimentos funcionalmente interdependentes: dentro de si abrigam e mobilizam, sempre que empregados, um maior arsenal de experiências e memórias. Tal problemática comparece de forma aguda no discurso do filme Amnésia, com uma angulação especial no que se refere aos diferentes níveis de síntese. O engenhoso e complexo sistema  

35  

de orientação inventado por Leonard, nesse sentido, opera justamente por meio da replicação de forma reificada, material, exteriorizada, dos procedimentos que sua memória não é mais capaz de executar. Seu sistema de reprodução de sua própria identidade, assim, ocupa não somente a função prática de possiblitar as ações básicas cotidianas, necessárias à sobrevivência; mais do que isso, ele é também um indispensável repositório de sentidos. Sem ele, Leonard é incapaz de atualizar conhecimentos, símbolos e significados. (É oportuno notar como, no filme tanto quanto na teoria de Elias, os níveis biológico e histórico-cultural se articulam: o déficit de uma função neurológica, portanto orgânica e situado no nível biológico, reverbera dificultando a manutenção do nível de integração mais complexo, aquele formado pelos símbolos.) É preciso, então, que ele estabeleça novamente o nexo entre os diferentes aprendizados: aqueles já fixados por sua memória antes do incidente, e aqueles que se sucedem no tempo quando ele já é incapaz e duplicá-los e estabelecer relações duráveis. De tal encadeamento depende o próprio fluxo, a processualidade de sua vida, a integração lógica necessária para que a sucessão de acontecimentos se torne história. Nesse pano de fundo, é paradigmática a cena em que aparece pela primeira vez, captado em sua totalidade (o filme mostra antes momentos de acúmulo de informações de forma mais fragmentária), o quadro de relações entre lembranças que Leonard dispõe na parede, munido para tanto das linguagens as quais ele já aprendera a modelar antes do incidente (palavras, imagens, sinais gráficos). Aí, aparece de forma objetivada todo o universo de relações necessárias que sua memória deficitária não consegue estabelecer. No sistema operado por ele, os diferentes níveis de síntese se fazem visíveis: para que se chegue aos símbolos mais abrangentes, que condensam mais experiências (no rol daquelas retratadas pelo filme), é preciso antes passar pelos níveis mais basilares, os elos iniciais no recorte posto pela narrativa. (Pontos de início esses apenas identificáveis nos limites da forma do filme; se interpretados como parte de processos referenciados nos fluxos reais, a identificação da origem se faz impossível.) Cada vez que quer acessar as interrelações dos eventos, Leonard se vê obrigado a refazer todo o percurso de suas próprias ações e sentidos. Não é de todo deslocado, assim, afirmar que o filme executa, em relação à psique de Leonard e em seus meios e linguagens próprios, o que Elias formulava como tarefa universal da teoria sociológica do conhecimento:

A reconstrução de um processo – no curso do qual os seres humanos passaram da condição de não-saber para a condição de saber ou, alternativamente, estando na condição de saber mergulharam naquela de não-saber – sempre ocupa o centro da cena. (ELIAS, 1998a, p. 30)

Vol.4,  Nº1.  Jan.  -­‐  abr.  2015.  

36  

REVISTA CAFÉ COM SOCIOLOGIA    

Nessa comparação, toma relevo a maneira retrospectiva de narrar que o filme assume; para Elias, também a reconstrução de dinâmicas históricas não pode ser feita senão como um olhar retroativo sobre o passado, por uma abordagem processual.

4 Conclusão A teoria do conhecimento proposta por Norbert Elias, mais do que um corpo fechado de postulados, caracteriza-se também pelas múltiplas possibilidades de aplicação e diálogo com diferenciados campos empíricos e de pensamento. Por sua amplitude e abrangência, informando desde o modelo teórico do processo civilizador europeu até reflexões sobre a história cósmica, trata-se de uma construção que privilegia o contato com saberes de diversas ordens. No escopo da promoção desse tipo de contato, as produções simbólicas do cinema, também elas uma forma de saber e síntese, apresentam elementos passíveis de serem postos em diálogo com a abordagem eliasiana (guardadas as especificidades dos saberes dos domínios estético e científico), gerando-se assim, possivelmente, o potencial de novos olhares e sensibilizações.

5 Referências ELIAS, N. Envolvimento e alienação. Rio de Janeiro: Bertrand, 1998a. _________. Sobre o Tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998b. _________. Teoria Simbólica. Oeiras: Ceuta, 2002. _________. Federico NEIBURG e Leopoldo WAIZBORT (orgs.), Escritos & ensaios. Vol. 1: Estado, processo, opinião pública. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006. _________. “A civilização dos pais”. In: Dossiê: Reinventar Norbert Elias. Sociedade e Estado, vol. 27, n. 03, Brasília, set-dez., 2012. WEILER, V. “Lucien Lévy-Bruhl visto por Norbert Elias”. In: Revista Mexicana de Sociología 70, n. 4 (octubre-diciembre), México – DF, 2008. ___________. “Bases de La transformación de el sujeto em proceso intentada por Norbert Elias”. In: Dossiê: Reinventar Norbert Elias. Sociedade e Estado, vol. 27, n. 03, Brasília, set-dez., 2012. Filme analisados: Amnésia (Memento). Estados Unidos, 2000, 113 min. Dirigido por Christopher Nolan. Esquizofrenia - Entre o Real e o Imaginário (Keane). Estados Unidos, 2004, 100min. Dirigido por Lodge Kerrigan.  

37  

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.