\"Nós somos Alanos\": Documentos, Mitos e Concepções dos Alanos no Ocidente Ibérico.

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"Nós somos Alanos": Documentos, Mitos e Concepções dos Alanos no Ocidente Ibérico. Textos Experimentais de Debates. Prof. Ricardo Costa de Oliveira Departamento de Sociologia. UFPR 3 de julho de 2015 [email protected]

Portugal e por consequência boa parte do Brasil apresentam múltiplas raízes existenciais, culturais e genéticas. Há vários Portugais e vários Brasis, unos e diversos. Nós temos um Portugal Celta, um Portugal Romano, um Portugal Suevo, um Portugal Judeu, um Portugal Islâmico e investigaremos neste artigo um Portugal Alano. Este é um texto de sociologia história de longa duração. Movimentos essenciais e decisivos na nossa história têm conexões ontológicas nas metanarrativas constitutivas dos Alanos. Pensamos na formação e criação da individualidade de Portugal no Ocidente Ibérico. Pensamos na gesta das grandes navegações e descobertas. Pensamos na gesta do bandeirantismo, na formação e criação do território brasileiro. Todas foram gestas de grandes movimentos, grandes travessias por extensos territórios, por mares e terras nunca dantes percorridas pela grei formadora e povoadora. Muitas camadas demográficas e muitos grupos étnicos passaram, povoaram e formaram o Ocidente Ibérico desde o Paleolítico. Cada nova onda migratória trouxe, misturou e formou populações com novos marcadores genéticos, novas culturas, novas organizações e muitas ideias sociais, culturais e políticas,

forjando lentamente, ao longo de muitos séculos, a elaboração e o desenvolvimento das ideias na singularidade de Portugal e do Império Português. Há várias linguagens e genealogias na construção das várias formações estatais do Ocidente Ibérico continuadas no gigantesco Estado do Brasil. O processo social e histórico do povoamento do Ocidente Ibérico conheceu muitas formas de povoamento e várias camadas demográficas, desde o Paleolítico:

Caçadores-coletores,

as

neolitizações,

a

cultura

megalítica dos menires, monolitos e cromeleques, o complexo celta, os contatos fenícios, gregos, a forte presença conquistadora do Império Romano, os suevos, vândalos e alanos na Gallaecia e na Lusitânia, os judeus, a invasão islâmica com árabes e mouros, os nórdicos e vikingues, a Reconquista Cristã e finalmente a etnogênese social e política, com a criação estatal de Portugal. A história escrita e as fontes documentais mais remotas descrevem várias tribos celtas. A conquista romana organiza as duas províncias ocidentais: Galécia (Gallaecia) e Lusitânia. O Conventus Bracarensis (conventus iuridicus de Bracara Augusta), em Braga. O período das "Invasões Bárbaras", uma movimentação migratória de fora das fronteiras do Império Romano. A pressão da chegada dos Hunos provocou deslocamentos na Europa do Leste. No final do ano de 406 (ou 405) o Rio Reno foi atravessado por vários grupos "bárbaros". Grupos germânicos como os Suevos e os Vândalos e um grupo de origem iraniana, os Alanos. Estimativas colocam o número de Alanos entre 30.000-40.0001. Os Alanos ocupavam regiões das Estepes Orientais, entre o Mar Negro e o Mar Cáspio, e realizavam incursões ao Sul do 1

IDENTITY AND INTERACTION: The Suevi and the Hispano-Romans. Jorge C. Arias. Advised by: P.J.E. Kershaw. Spring 2007. University of Virginia.

Cáucaso, na Armênia e na Hircânia, atacando os Medos, Partas e Sassânidas2. Em 409 os Alanos, Vândalos e Suevos invadem a Península Ibérica pelo Norte e alcançam o Atlântico no poente, ao fim da sua longa jornada pela Eurásia. A primeira ideia de reino autônomo documentada no Ocidente Ibérico é descrita pelos cronistas Hispano-romanos, como Hidácio e Orósio, em referência ao período dos reis Alanos. Pela primeira vez surge

uma

concepção

de

proto-reino

no

Ocidente

Ibérico

encontrada nos Alanos. Várias ideias foram trazidas pelos Alanos e outros povos sármatas para a Europa Ocidental. Os ciclos das lendas arturianas, na Inglaterra, também podem ser associados às representações irânicas das estepes3. A concepção de reis guerreiros, com seus cavaleiros

e

cortes

combatendo

montados,

suas

espadas

simbolizando rituais religiosos de poder, vida e morte, formas de arte, todo um complexo cultural das estepes alcançava a Europa Ocidental Atlântica4. Os Alanos formavam uma irmandade guerreira de iguais todos os Alanos eram considerados nobres e desconheciam a escravidão. Cultuavam a espada como sagrada e incorporavam ao seu nome de nação outros povos fronteiriços derrotados por eles 5. 2

Sources on the Alans. A Critical Compilation. Agustí Alemany. Handbook of Oriental Studies. Brill. October 2000. 3 Littleton, C. Scott; Thomas, Ann C.: "The Sarmatian Connection: New Light on the Origin of the Arthurian and Holy Grail Legends", Journal of American Folklore 91, 1978, pp. 512–527 “The Sarmatian Connection: Stories of the Arthurian Cycle and Legends and Miracles of Ladislas, King and Saint” reproduced below is by János Makkayof . The New Hungarian Quarterly, Volume 37, no. 144, Winter 1996, pp. 113-125. 4 A History of the Alans in the West. Bernard S. Bachrach. 1973. Minnesota Archive Editions 5 Amiano Marcelino. Latin Sources. Sources on the Alans. Página [13], [25]. 35-37.

Influência dos Alanos na Formação de Portugal Os Alanos descritos por Amiano Marcelino6: “Após a descrição dos hunos, Amiano, começa a discorrer sobre os Alanos, um populus que apesar de ser considerado bárbaro têm uma simpatia maior do autor do que os hunos: Eles não têm cabanas e não utilizam arados, mas eles vivem com uma abundância de leite, e moram

em

suas

carroças

que

são

cobertas

com

copas

arredondadas de casca de árvore e dirigem sobre resíduos sem limites. E quando eles vão em um lugar rico em grama, eles colocam seus carros em círculo e alimentam-se como animais selvagens. (XXXI; 2; 18). Quase todos os Alanos são altos e formosos, com os cabelos quase louros, um olhar terrível e perturbado , ligeiros e velozes no uso das armas. Em tudo são semelhantes aos Hunos, mas na maneira de viver e nos costumes, menos selvagens. Roubando e caçando, andam de um lado para o outro, até sítios tão distantes como a lagoa Meótis e o Bósforo Cimério e também até à Armênia e Media. (XXXI; 2; 21). Assim como para os homens sossegados e plácidos o repouso é agradável, assim eles encontram prazer no perigo e na guerra: É considerado feliz aquele que sacrificou a sua vida na batalha, enquanto que àqueles que envelheceram e deixaram o mundo por uma morte fortuita atacam com terríveis censuras de degenerados e covardes; e não existe nada de que mais se 6

Gazzotti, Danilo Medeiros As concepções do poder régio entre os suevos na Gallaecia do século V : uma análise da crônica de Idácio de Chaves / Danilo Medeiros Gazzotti – Curitiba, 2014. http://www.humanas.ufpr.br/portal/historiapos/files/2013/09/DaniloMedeiros-Gazzotti.pdf

orgulhem do que de matar um homem, qualquer que ele seja: como glorioso despojo do assassinato, cortam-lhe a cabeça, arrancam-lhe a pele e colocam-na sobre os seus cavalos de guerra como jaez. (XXXI; 2; 22). 63 Não se vê entre eles nem um templo, nem um lugar sagrado, nem mesmo se pode discernir um tugúrio com um tecto de colmo, mas com um ritual bárbaro enterram no chão uma espada desembainhada e adoram-na reverentemente, como ao seu Marte, a divindade principal destas terras por onde vagueiam. (XXXI; 2; 23). Ignoram o que seja a servidão, tendo nascido todos de sangue nobre, e mesmo agora escolhem como chefes aqueles que se distinguem na experiência quotidiana da guerra. (XXXI; 2; 25)”. 1 – Os Alanos chegam na Lusitânia e na Galécia Romana. Crônica de Hidácio

Hidácio de Chaves é a grande fonte primária da presença dos alanos na Península Ibérica. Os Alanos aliados aos Suevos e Vândalos ocupam a Península e os Alanos comandavam a Lusitânia. Um rei com o nome de Ataces é citado e reconhecido documentalmente em seu reino ibérico. O Rei Artur nunca foi documentado em nenhum texto histórico. Após muitas guerras e conflitos,

os

Alanos

foram

derrotados

pelos

Godos

e

os

remanescentes Alanos passaram para a Galécia. As disputas e guerras entre Alanos e Godos simbolizariam as guerras e disputas entre Portugueses e Castelhanos ao longo de muitos séculos e muitos continentes.

HYDATII EPISCOPI CHRONICON 7 XV. Alani, et Wandali, et Suevi Hispanias ingressi aera CCCCXLVII, alii quarto kalendas, alii tertio idus Octobris memorant die, tertia feria, Honorio VIII et Theodosio Arcadii filio III consulibus. XVII.

Subversis

memorata

plagarum

grassatione

Hispaniae

provinciis, barbari ad pacem ineundam, Domino miserante conversi, sorte

ad

inhabitandum

sibi

provinciarum

dividunt

regiones.

Gallaeciam Wandali occupant et Suevi, sitam in extremitate Oceani maris occidua. Alani Lusitaniam et Carthaginiensem provincias, et Wandali cognomine Silingi Baeticam sortiuntur. Hispani per civitates et castella residui a plagis, barbarorum per provincias dominantium se subjiciunt servituti. XXII. (Olymp. CCXCIX.) Ataulfus a patricio Constantio pulsatus, ut relicta Narbona Hispanias peteret, per quemdam Gothum apud Barcinonam [Ms. Barcelonam] inter familiares fabulas jugulatur. Cui succedens Wallia in regno, cum patricio Constantio pace mox facta, Alanis et Wandalis Silingis, in Lusitania et Baetica sedentibus adversatur. XIV. Solis facta defectio die decimo quarto kal. Augusti, qui fuit quinta feria. Romanae Ecclesiae XXXIX praesidet episcopus ZOSIMUS [Ms., Eulalius]. Durante episcopo quo supra, gravissimo terraemotu sancta in Hierosolymis loca quassantur et caetera, de quibus in gestis ejusdem episcopi scripta declarant. Wandali Silingi in Baetica per Walliam regem omnes exstincti.

7

http://www.thelatinlibrary.com/hydatiuschronicon.html

Alani qui Wandalis et Suevis potentabantur, adeo caesi sunt a Gothis, ut exstincto Atace [Addace] rege ipsorum, pauci qui superfuerant, abolito regni nomine, Gunderici, regis Wandalorum, qui in Gallaecia resederat, se patrocinio subjugarent. Parte do núcleo aristocrático alano sobrevive no Noroeste Ibérico. Raquel Soaje de Elías8 “ainda afirma que os alanos ao perder seu rei Adax na batalha contra os godos, se colocaram sobre as ordens do rei vândalo Gunderico, que estava assentado na Gallaecia. Este feito não é menor porque na visão dessa autora o núcleo aristocrático alano jurou fidelidade ao rei asdingo passando a engrossar seu próprio séquito, do qual deixa claro Idácio ao informar que se patrocinio subiugarent”9. Se Portugal nas suas origens já foi pensado como um País Templário por Antonio Quadros 10, Portugal também pode ser pensado mitologicamente como um “Estado Alano Ocidental”. Encontramos raízes reais ou imaginárias na formação dos Estados. Portugal é um Estado Nacional extremamente precoce para o conjunto de Estados europeus. A etnogênese da população portuguesa, com uma identidade própria acompanha a gênese estatal na perspectiva de construção de um Estado Nacional Medieval, que se torna um Império Ultramarino, do qual o maior tronco seria o Estado do Brasil. 8

Linajes reales germánicos en el suelo imperialLa lucha por la supremaciía ante los ojos de Hidacio de Chávez. Autores: Raquel Soaje de Elias. Localización: Intus - legere: historia, ISSN 0718-5456, Año 4, Nº. 1, 2010, págs. 49-62. http://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=3825424 9 Gazzotti, Danilo Medeiros As concepções do poder régio entre os suevos na Gallaecia do século V : uma análise da crônica de Idácio de Chaves / Danilo Medeiros Gazzotti – Curitiba, 2014. http://www.humanas.ufpr.br/portal/historiapos/files/2013/09/DaniloMedeiros-Gazzotti.pdf 10 Antonio Quadros. Portugal. Razão e Mistério. Guimarães Editores. 1986.

A precocidade da formação e conservação de Portugal como Estado Nacional em uma de suas raízes. A posterior gesta dos descobrimentos e o bandeirantismo como continuação da gesta alana. Nas causas da individualidade da identidade de Portugal encontramos várias explicações e fatores. 2 – Formação do Estado Etnonacional Português. Os Livros de Linhagens. Séculos XI-XIII. Encontramos nos Livros de Linhagens referências aos Alanos. O “Livro Velho” e o “Livro do Deão” narram a existência de um Patriarca, um Genearca, com o nome de Alão11. Os Braganções representavam a principal família senhorial do Nordeste Português. A criação e a existência do novo Estado só poderiam ser viabilizadas com o apoio e aliança com a família senhorial daquela estratégica região de fronteira. “Ainda assim, sabemos que os Bragançãos faziam remontar suas origens à rocambolesca história de «dom Alam, que foi clérigo filho d'algo e filhou a filha d'el rei de Armênia quando foi em ora- ção a Santiago, e foi sa hospeda em Sam Salvador de Crasto de Avelâas» (LV [Prólogo] 3)”12. Claude Lévi-Strauss apontou a conexão entre mitos e realidades sociais 13. Quando o mito se torna história. São as referências aos Alanos e à Armênia nas origens de uma das principais famílias senhoriais da nobreza portuguesa, que revelam as continuidades, reais ou imaginárias, da migração e 11

José Mattoso. Ricos-Homens, Infanções e Cavaleiros. A nobreza medieval portuguesa nos séculos XI e XII. Guimarães Editores. 1985. 12 O sonho de Jacob: Sacralidade e legitimação Política nos Livros de Linhagens. Pedro Picoito. Lusitania Sacra, 2" série, 10 (1998) 13 Claude Lévi-Strauss. Mito e Significado. Coletivo Sabotagem. 1978. http://200.144.182.130/cje/anexos/pierre/LEVISTRAUSSCMitoesignificado.pdf

estabelecimento

dos

Alanos

no

Ocidente

Ibérico

naquela

conjuntura. 3 – Guerra de Restauração no Século XVII Nos momentos de maior crise as forças das mais antigas e vigorosas raízes de Portugal são invocadas. Em um dos momentos mais críticos na história de Portugal e do Império Português, com a perda da autonomia e a dominação de Madri, com os reis Filipes de Espanha, os Habsburgos, os míticos Alanos voltam a ser citados na obra de Frei Bernardo de Brito, Cronista Geral e Religioso da Ordem de Cister, Congregação de Santa Maria de Alcobaça, um dos principais centros religiosos de Portugal – “Monarchia Lusitana. Em que se continuão ad historias de Portugal desde o nacimento de nosso Saluador Iesv Christo, ate ser dado em dote ao Conde dom Henrique”, Volume 214, de 1609. Descreve-se nesta obra o mito da história do brasão de Coimbra. Uma guerra e disputa entre os Alanos e os Suevos. Ataces derrota os Suevos e o rei Hermenerico oferece sua filha Cindasunda como casamento para celebração da paz. O Leão Vermelho Alano e o Dragão Verde Suevo formam brasões e bandeiras. Alenquer (Alequer) também foi fundada pelos Alanos. Na mesma conjuntura de crise e perda da independência de Portugal surgem textos militantes sobre a história e antiguidade do Reino de Portugal. Bernardo de Braga escreveu um interessante manuscrito histórico referente à antiguidade do Reino de Portugal: 14

Monarchia Lusytana / 2: Em que se continuão ad historias de Portugal desde o nacimento de nosso Saluador Iesv Christo, ate ser dado em dote ao Conde dom Henrique. Alcobaça. 1609.

BERNARDO de Braga, O.S.B. ?-1605, Tratado sobre a precedencia do Reino de Portugal ao Reino de Napoles / composto por Frei Bernardo de Braga, copiado por Albano Antero da Silveira Pinto. Porto : Typ. da Revista, 1843. - 54 p. ; 19 cm. - Copiado de um manuscrito autêntico existente na Torre do Tombo. O autor narra a existência original de uma nova entidade e categoria política, pela primeira vez criada no oeste da península Ibérica, com a entrada dos Alanos e Suevos a formar as bases de novos reinos pósromanos ("como estes reinos tiveram princípio nos Alanos e Suevos"). Pela primeira vez o título de rei era empregado na Península

Ibérica: Rapantianus Lusitania rex, Rapantianus é

transcrito em diferentes grafias como Resplandiano ou Respendial. Este chefe alano conduziu a imigração e invasão alana do Império Romano, desde a travessia do Reno, em 406, até a Lusitânia, em 409. Este primeiro rei alano foi sucedido por Ataces (também escrito como Atax, Attaces) - Ataces Lusitanae rex. Com o manuscrito de Bernardo de Braga e com Frei Bernardo de Brito surgiu o relato do conflito entre o rei alano da Lusitânia Ataces, contra o rei suevo da Galécia, Hermerico, ao norte. O acordo de paz foi a mão da princesa Cidasunda, ou Cindasunda, filha do último, oferecida como casamento em uma aliança entre Ataces e Hermerico. Tanto Bernardo de Braga como Bernardo de Brito, o autor de Monarquia Lusitana, descrevem a nova simbologia unindo neste casamento o Leão Vermelho Alano e o Dragão Verde Suevo, em suas bandeiras e estandartes. A bandeira é bem anterior àquela proposta para a bandeira sueva, "bandera sueva" informada pela "Junta del Reino en 1669 por la Catedral de Lugo" ! Frei Bernardo de Braga antecipou-se aos galegos do norte em mais de 150 anos ! O brasão de Coimbra simbolizava a aliança entre os dois reis. Ataces

morreria depois em batalha contra os visigodos, talvez próximo a Mérida, em 419. Tal como Dom Sebastião, o reino perderia o seu rei em batalha, tanto em 419 como em 1578. As fontes documentais alegadas foram documentos manuscritos escritos pelo Bispo Aldeberto, manuscritos presentes no Mosteiro de Alcobaça e no Mosteiro de Carquere sobre o Douro. Portugalia regnum partim ex Lusitania partim ex Galacia constat, parte deste reino de Portugal consta da Lusitania, parte da Galiza. Braga tornaria-se a capital do reino suevo depois da morte de Ataces. Quais os elementos de lenda, mito ou realidade histórica presentes na narrativa ? Curiosamente

os

atuais

ramos

remanescentes

de

grupos

considerados "alanos" da Ossétia, no Cáucaso, ainda possuem como símbolo a figura do leão ! O mesmo símbolo descrito por Frei Bernardo de Braga e por Frei Bernardo de Brito ! Logo, havia certa base na realidade histórica ! Parte das antigas genealogias e linhagens informam Mendo Alão (ou Mendo Alam), senhor de Bragança, como procedendo dos reis alanos e tendo uma mulher filha de um rei da Armênia (História de Portugal Restaurado, Luis de Menezes Ericeira). Há várias versões de rapto e violência, mas a dimensão mítica da lenda aponta para a Armênia, região próxima da origem caucasiana dos Alanos. Os Alanos passaram a ser um dos símbolos de diferenciação entre Portugal e Castela15. Citamos os trabalhos do Conde da

15

ERICEIRA, Conde da, Historia de Portugal restaurado, em que se dá noticia das mais gloriosas acções assim politicas, como militares, que obráraõ os portuguezes na restauraçaõ de Portugal, : desde o primeiro de dezembro de 1640, até ao principio do anno de 1643. Manifesto do Reyno de Portvgal. No qval se declara o direito, as causas, & o modo, que teue para eximir se da obediencia del Rey de Castella, & tomar a voz do Serenissimo Dom Ioam IV. do nome, & XVIII, entre os Reys verdadeiros deste Reyno, 1640.

Ericeira, de Luis Marinho de Azevedo e de Manoel Pereira da Silva Leal. - Conde da Ericeira, Historia de Portugal restaurado, em que se dá noticia das mais gloriosas acções assim politicas, como militares, que obráraõ os portuguezes na restauraçaõ de Portugal, : desde o primeiro de dezembro de 1640, até ao principio do anno de 1643. Manifesto do Reyno de Portvgal. No qval se declara o direito, as causas, & o modo, que teue para eximir se da obediencia del Rey de Castella, & tomar a voz do Serenissimo Dom Ioam IV. do nome, &

XVIII,

entre

os

Reys

verdadeiros

deste

Reyno,

1640.

- Capitão Luis Marinho de Azevedo Primeira parte da fundação, antiguidades e grandezas da mui insigne cidade de Lisboa, e seus varoens illustres em sanctidade, armas, & letras : catalogo de seus prelados, e mais cousas ecclesiasticas, & politicas ate o anno 1147... - Doutor Manoel Pereira da Sylva Leal. Em Lisboa: na Officina Craesbeckiana, 1652 Memorias para a historia ecclesiastica do Bispado da Guarda : parte primeira comprehende em dous tomos; tomo primeiro. 1729. No século XVIII desenvolveu-se e consolida-se toda uma historiografia apontando a conexão entre os antigos Alanos com os Senhores de Bragança. Na introdução do livro Historia de Portugal restaurado de Dom Luis de Menezes, Conde da Ericeira, consta a citação de “Dom Mendo Alam, que procedia dos reis Alanos, e de sua mulher, que era filha de um rei de Armênia, todos senhores de Bragança”, escrita por Luiz de Moraes, na edição publicada em 1751, oferecida a Dom José Mascarenhas. Desde os Livros de Linhagens há a indicação de que Bragança era um velho “Senhorio Alano” e que possibilitou a

fundação do Reino de Portugal, com uma aliança político-estatal, junto com os portos e as terras atlânticas do Entre-Douro-e-Minho. 4 – Poesia Galega do final do século XIX Ainda no final do século XIX a temática mitológica dos “Alanos” era citada por poetas galegos, como Eduardo María González-Pondal Abente, como um dos símbolos identitários do Ocidente Ibérico em oposição à Meseta Castelhana: Nós somos alanos E celtas e suevos Mas non castellanos, (...) Eduardo Pondal (1835-1917). Novos Poemas. Da raça. Queixumes dos pinos e outros poemas, ed. Galaxia, 1995, pp. 246-248). 5- Genealogia Genética do século XXI O nome e a lembrança dos Alanos mais uma vez volta dos fantasmas do passado agora com a genealogia genética. Mitos, imaginários, documentação e os limites da realidade histórica com as brumas e fantasias do passado, reais ou imaginadas, fundamentam identidades e modos de ser no século XXI. Além das lendas, os Alanos podem ser a origem de uma assinatura genética de uma linhagem rara encontrada na população portuguesa. Trata-se do marcador genético do cromossomo Y DNA J1 M365+, encontrado exclusivamente somente em pequenas

frequências no oeste da Península Ibérica e na Anatólia OrientalGeórgia. O modal encontrado nos haplótipos portugueses é claramente reconhecido pelo trio DYS 393=13, 390=22, 19=15 como condição provável do SNP M365+. Pesquisas realizadas nas amostras de ADN/DNA de populações de origem portuguesa, em Portugal continental, nos Açores e no Brasil, apontam a existência deste raro marcador genético em cerca de 0,2 a 0,8% de qualquer amostra representativa de DNA português, não sendo encontrado na Meseta Castelhana, na Catalunha, na Andaluzia ou no País Basco. Como o haplogrupo J1b M365+ (ISOGG International Society of Genetic Genealogy – 2015 – J1a1) entrou em Portugal e adquiriu semelhante frequência e distribuição ? Nenhuma outra população oriental, fora das populações iranianas e das populações do Mar Cáspio, Anatólia Oriental e Cáucaso, apresenta o J1b M365+, apenas populações de origem iraniana, com poucos casos no Golfo Pérsico e concentração nos Gilakis, ao Sul do Cáspio. Nenhum caso encontrado em populações árabes ou judaicas, nenhum caso encontrado na África do Norte ou no Mediterrâneo. Apenas os dois extremos da Europa, a orla ocidental de Portugal e a Anatólia-Cáucaso verificam a presença desta linhagem genéticogenealógica, o que pode ser uma identificação da migração alana para a Lusitânia e para o noroeste da Península Ibérica ? Talvez a sua distribuição possa se relacionar a algum fenômeno descrito pela passagem dos Alanos em Portugal, uma exclusividade genética da população portuguesa no conjunto da Europa Atlântica, afinal foram Alanos os primeiros reis do que se tornaria Portugal depois. Mais pesquisas são necessárias, mas a direção para a explicação dos J1- M365+ em Portugal parece estar literalmente

orientada ! Outros haplogrupos também podem eventualmente estar associados com os Alanos na sua jornada para a Europa Ocidental Atlântica, mas eu não conheço outros casos a serem pesquisados e documentados com o mesmo rigor do J1-M365. Como este marcador se tornou frequente e regular na população portuguesa e brasileira aponta para um bem sucedido genearca fundador vindo de muito longe. Quem teria sido ? Distantes origens orientais nas regiões do Mar Cáspio, do Cáucaso, do Norte iraniano. Na Europa Ocidental uma quase exclusividade no Ocidente Ibérico e em Portugal. Modal: DYS393-13, DYS390-22, DYS19-15, DYS388-16, Y-GATAH4-9, YCAII-21-22. Os polimorfismos também já foram apontados em outro artigo. SNPs FGC5987 ao FGC617516

Concluímos retomando a discussão de que toda identidade nacional é parte histórica, parte imaginada e parte documentada. Benedict Anderson – Comunidades Imaginadas, Hugh Trevor-Rope - The Invention of Scotland: Myth and History, Shlomo Sand – A Invenção do Povo Judeu, Eric Hobsbawn, Terence Ranger -

A

Invenção das Tradições. Fernando Pessoa escreveu no seu poema – Mensagem, e eu aqui repito: “O mito é o nada que é tudo”.

16

Western European J1-M365 position in the J1 haplogroup Y chromosome phylogenetic tree. https://www.academia.edu/5889836/Western_European_J1M365_position_in_the_J1_haplogroup_Y_chromosome_phylogenetic_tree FTDNA. J1-M365 Project https://www.familytreedna.com/public/m365/default.aspx?section=yresults

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