NOTA DE LEITURA: «A construção do Outro a partir de estereótipos e a reprodução de preconceitos através da linguagem e do discurso das elites»

May 22, 2017 | Autor: F. Azevedo Leitão | Categoria: Sociology, Critical Discourse Studies
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NOTA DE LEITURA MARTÍNEZ Rodríguez, R. – La construcción del otro a partir de esteriotipos y la reproducción de prejuicios a través del lenguaje y del discurso de las élites. In GARCÍA Castaño, F. J. e KRESSOVA, N. (Coords.). Actas del I Congreso Internacional sobre Migraciones en Andalucía, [Em linha] 2011, pp. 2253-2261. Granada: Instituto de Migraciones. Disponível em: . ISBN: 978-84-921390-3-3.

Neste artigo1, Rebeca Martínez Rodríguez, doutoranda em Antropologia e Filosofia Política na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade das Ilhas Baleares apresenta uma breve reflexão teórica sobre a construção social negativa do Outro e sobre a forma como os discursos produzidos pelas ‘elites simbólicas’ – conceito elaborado pelo linguista e professor holandês Teun A. van Dijk para designar “aquela faixa da população que elabora os discursos mais respeitados pela sociedade” como os políticos, professores, jornalistas, escritores, artistas e outros intelectuais (cf. Nuto, 2008, p. 216) – contribuem para a manutenção e perpetuação de determinados estereótipos e preconceitos pejorativos em relação aos imigrantes e às minorias étnicas. Tal como observou Serra, “[e]xistem múltiplas maneiras de construção social negativa do Outro”, tais como o etnicismo e o xenofobismo (2014, p. 7). Não obstante, neste artigo a autora cinge-se, conforme decorre do próprio título e da introdução que apresenta, à análise dos estereótipos, dos preconceitos e do racismo que são, igualmente, algumas dessas maneiras. Neste sentido e de modo a introduzir o leitor na temática abordada no texto, a autora começa por apresentar na primeira parte, de uma forma resumida e simplificada, os conceitos em torno dos quais desenvolve a sua reflexão, prestando especial atenção ao conceito de preconceito étnico que é, segundo Carvalho, uma das “formas mais comuns de preconceito” (2014, p. 29)2 e, porque umbilicalmente interligado com aquele, ao 1

Apresentado primeiro sob a forma de comunicação oral no I Congresso Internacional sobre Migrações na Andaluzia, que teve lugar nos dias 16 e 18 de fevereiro de 2011 na Universidade de Granada, foi posteriormente publicado no livro de atas daquele congresso disponível em: http://migraciones.ugr.es/images/congresos/con2011/libroacta/ICIMACompleto.pdf 2 Segundo este autor: “[a]s formas mais comuns de preconceito são: o preconceito étnico, o preconceito racial, o preconceito sexual, o preconceito relativo a grupos profissionais, o preconceito linguístico e o preconceito religioso”. No entanto, como expõe de seguida, “[h]á também preconceitos relacionados com o aspeto físico e com o intelecto: preconceitos em relação a gordos, a magros, a deficientes, a pessoas

conceito de racismo. Debruça-se também sobre o papel dos estereótipos, a sua interrelação com os preconceitos, sobre os processos de discriminação e estigmatização de que são alvo os imigrantes e determinadas minorias étnicas e sobre as diversas expressões de racismo de que somos testemunhas na atualidade, apresentando, quanto a este último, uma reflexão crítica sobre as principais teorias (biológicas e culturais) que o sustentam. A partir deste enquadramento sumário e das contribuições teóricas da socióloga italiana Laura Zanfrini e do filósofo francês Étienne Balibar, detém-se posteriormente e de maneira mais detalhada, sobre as dinâmicas e processos cognitivos, emocionais e sociais que descrevem e caracterizam a formação de estereótipos, dos preconceitos e das atitudes e comportamentos discriminatórios (os quais tendem a surgir como consequência dos primeiros3) face àqueles que são percebidos por determinados grupos (in groups) como diferentes (out groups). Desta feita, embora partindo da premissa de que o ser humano tem uma tendência inata para formular estereótipos e preconceitos em relação às pessoas que perceciona como distintas, a autora perfilha o entendimento – tal como aqueles autores – de que estes são, sobretudo, formulados a partir do processo de aprendizagem social que é, por sua vez, amplamente discursivo. Para sustentar esta tese, Martínez Rodríguez recorre, na segunda parte do artigo, às teorias do discurso desenvolvidas por Teun A. van Dijk, analisando assim os diferentes tipos de discurso4 (orais e escritos que, como apontámos no início, são produzidos pelas denominadas elites simbólicas); as relações entre o discurso e o poder (social) e sobre a influência dos mesmos na (re)formulação das nossas opiniões e representações sobre os Outros. Tal como van Dijk, Rodríguez defende que aquelas elites são as principais responsáveis pela produção e difusão do racismo nas sociedades contemporâneas, na medida em que os discursos por elas produzidos e veiculados contêm na grande maioria menos dotadas e a pessoas super-dotadas. Para além dos grupos sociais, o preconceito pode também ser dirigido a lugares, coisas e tradições, normalmente consideradas diferentes ou estranhos. Há ainda preconceitos em relação a determinados assuntos, que não conseguimos sequer explicar como surgiram” (2014, p. 46). 3 Note-se que as atitudes e/ou comportamentos discriminatórios são uma das “prováveis” consequências do preconceito. Como observou Carvalho a este respeito: “pode haver preconceito sem discriminação (quer dizer que pode haver atitude sem haver comportamento), também pode haver discriminação sem haver preconceito. Alguém pode assumir e difundir o preconceito racional [ou étnico, ou qualquer outro], mas não ter ação discriminatória. Do mesmo modo, há quem não partilhe esse preconceito, mas discrimina determinado grupo (…), por exemplo, com receito de represálias por parte de quem o discrimina (2014, p. 51). 4 (e.g.: o discurso jornalístico, o político, a literatura, o cinema e a conversação diária).

das vezes, explicita ou implicitamente, mensagens estereotipadas de teor negativo sobre os imigrantes e sobre as minorias étnicas, apresentando-os/as frequentemente como seres inferiores, portadores de hábitos e costumes distintos, não dispostos/as a integrarem-se e como responsáveis pelo aumento da criminalidade ou dos problemas sociais e económicos que nos afetam, contribuindo desta maneira e na medida em que influenciam as nossas perceções, julgamentos e atitudes, para a perpetuação de estereótipos e preconceitos sobre os Outros e limitando, consequentemente, a possibilidade de integração plena desses Outros discriminados na sociedade. A autora concluí assim a sua análise alertando para a necessidade de sermos conscientes da reprodução de tais ideias preconceituosas e erróneas que, através da linguagem, se inculcam inconscientemente no nosso imaginário, dando lugar a uma “luta interétnica” entre “Nós” e os “Outros” e pela necessidade de uma leitura e juízo crítico daqueles discursos. Em jeito de apreciação final saliente-se que embora nos pareça que o objetivo da autora não foi o de apresentar neste artigo uma perspetiva teórica nova, na medida em que as ideias que apresenta facilmente se poderão encontrar nos textos de outros teóricos e estudiosos deste tema (e.g.: Macedo e Cabecinhas, 2012), não significa que o mesmo não deixe representar uma valiosa e pertinente introdução ao estudo desta temática.

Referências CARVALHO, Paulo de – Racismo enquanto teoria e prática social. In JESUS; J; CARVALHO, P. et al. (ed.) O que é o racismo? [Em linha] Lisboa: Escolar Editora, (2014), pp. 37- 64. [Consult. 21 de dez. 2016]. Disponível em: . ISBN 978-972-592-430-3>. MACEDO, Isabel e CABECINHAS, Rosa – Representações Sociais, Migrações e Media: Reflexões em torno do papel da literacia cinematográfica na promoção da interculturalidade. Comunicação e Cultura [Em linha]. (2012), pp.

179-193

[Consult.

3

de

jan.

2017].

Disponível

em:

ISBN 978-989-8600-05-9. NUTO, João V. Cavalcanti – T.V. Dijk (org.) Racismo e discurso na América Latina [Em linha]. São Paulo: Contexto

(2008)

pp.

215-219.

[Consult.

3

de

jan.

2017]

Disponível

em:

SERRA, Carlos – Introdução: construção social negativa do Outro. In JESUS; J; CARVALHO, P. et al. (ed.) O que é o racismo? [Em linha] Lisboa: Escolar Editora, (2014), pp. 7-9. [Consult. 21 de dez. 2016]. Disponível em: . ISBN 978-972-592-430-3>. ISBN 978-972-592-430-3

F. Marina Azevedo Leitão ([email protected])

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