Notas de aula - o universo espiritual da pólis

June 15, 2017 | Autor: R. Santos Barbosa | Categoria: Jean-Pierre Vernant
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1 “O universo espiritual da pólis” Notas de aula Filosofia -FAHS Renato dos Santos Barbosa1 O texto do J.-P. Vernant tenta dar conta dos fatores "espirituais" que explicariam o surgimento da pólis grega. Antes

de

mais

nada,

a

pólis

é

caracterizada

como

uma

impressionante invenção humana. Portanto, se quisermos encontrar as razões da pólis, devemos procurar no espírito humano. Assim, Vernant nos apresenta três características fundamentais da pólis grega: 1) preeminência da palavra como instrumento político. 2) surgimento do domínio público (ou desenvolvimento das práticas públicas) 3) O ideal de isonomia. 1) Preeminência da palavra Em primeiro lugar se coloca a palavra como instrumento político, autoridade máxima, acima de qualquer magistrado. Vernant explica de onde veio esse poder da palavra. Primeiramente, encontra no rito religioso essas origens. No rito havia fórmulas, palavras de poder que eram pronunciadas e afetavam aqueles que as ouviam. Isso se estende à palavra do rei que decidia terminantemente sobre qualquer coisa. Não é à toa que a palavra adquire total autonomia e autoridade nas decisões políticas. Bem, aí estariam as origens da autoridade do peithós, do discurso, embate contraditório, debate argumentativo, que decidiria os destinos da 1

Mestre em Filosofia - UFRN

2 cidade. É óbvio que existe uma diferença gritante entre a palavra do ritual e o debate contraditório da pólis emergente. O poder do sacerdote e do rei foram sendo minados na medida em que se desenvolve as práticas públicas. 2) domínio público Surge

um

movimento

de

publicação,

de

desocultação

de

conhecimentos velados. Esse movimento se dá nos âmbitos intelectual, religioso e político. Sobretudo, podemos destacar esse movimento de publicação em dois sentidos: a) Um setor de interesse comum, opondo-se aos assuntos privados b) Um âmbito de práticas abertas, estabelecidas em pleno dia,opondo-se a processos secretos. Abre-se a possibilidade de se saber sobre a cidade, sobre a produção intelectual e também religiosa. Não há mais privilégios no saber. O que é de interesse da cidade, e do homem em geral, está a disposição de todos. No movimento de publicação há também um movimento de democratização. Este movimento avança na mesma medida em que se estabelece o ideal de isonomia. 3) isonomia Destacamos os motivos que levaram a pólis ao ideal de isonomia: a) Os componentes da aristocracia oligárquica se consideravam iguais. b) Os gregos se viam como homóioi (semelhantes) em oposição ao xénos (estrangeiro, estranho); depois passaram a considerar-se isói (iguais).

3 c) Os Hippeis eram nobres guerreiros que tinham participação política. Todo guerreiro participava da política, no entanto, só a nobreza era guerreira. Surge então o Hoplita, soldado fortemente armado que batalhava em linha, numa formação de batalha chamada falange. Agora, qualquer um que pudesse comprar os equipamentos de guerra poderia ser guerreiro e, assim, ter participação política. d) A falange favoreceu o ideal de isonomia na medida em que valorizava a ação em grupo e desvalorizava a ação individual. Ninguém era especial, todos eram considerados iguais na guerra. Todo guerreiro (é preciso lembrar) tinha participação política e essa igualdade se estendia do campo de batalha para a cidade. Referências: VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. Trad. Ísis Borges B. da Fonseca. Rio de Janeiro: Difel, 2002.

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