NOTAS SOBRE A MORFOLOGIA POLÍNICA DE PLANTAS DOS CERVUNAIS DA SERRA DA ESTRELA

July 22, 2017 | Autor: A. M. Dinis | Categoria: High Altitude
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1 NOTAS SOBRE A MORFOLOGIA POLÍNICA DE PLANTAS DOS CERVUNAIS DA SERRA DA ESTRELA

A. PEREIRA COUTINHOa, J. ALMEIDAa, A. M. DINISa, b & F. SALESa, b a

Departamento de Botânica, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra; b Centro de Estudos Farmacêuticos (Laboratório de Farmacognosia), Faculdade de Farmácia, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal.

RESUMO O presente trabalho insere-se no âmbito de um projecto de investigação sobre as gramíneas de altitude do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE). Procedeu-se à caracterização palinológica e à descrição botânica de 15 espécies associadas aos cervunais (pastagens de altitude onde predomina Nardus stricta), incluindo o endemismo estrelense Festuca henriquesii. Os grãos de pólen foram colhidos de anteras deiscentes e acetolizados. Foi construída uma chave dicotómica para identificação do pólen dos taxa investigados. Verificaram-se desvios na morfologia polínica que podem estar relacionados com o habitat de altitude investigado. Esta investigação constitui um contributo para a identificação do pólen presente em méis produzidos localmente no PNSE.

NOTES ON THE POLLEN MORPOLOGY OF SPECIES GROWING IN GRASSLANDS OF SERRA DA ESTRELA ABSTRACT This investigation was carried out within a project on the high altitude grasses of the Natural Park of Serra da Estrela (PNSE). Pollen and plant description are made of 15 species associated with high altitude grassland dominated by Nardus stricta, including

2 the narrow endemic Festuca henriquesii. The pollen grains were collected from dehiscent anthers and gone through acetolysis. A key to identification of the pollen is given. Morphological deviations were found in the pollen of some species, probably related to the high altitude. This research constitutes a contribution to the identification of the pollen in honeys locally produced in the PNSE.

INTRODUÇÃO Cervunais são pastagens de zonas frias relativamente pobres em espécies, dominadas por Nardus stricta L. (cervum) e outras gramíneas perenes, todas elas cespitosas, bem adaptadas ao frio e a solos pobres e ácidos, muitas vezes húmidos e até encharcados. Em Portugal, os únicos cervunais permanentes encontram-se em zonas de altitude (acima de 1200 m) do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE). Por se desenvolverem em ambientes extremos, os cervunais, são ecologicamente muito importantes, uma vez que constituem o único refúgio para mesofauna edáfica a estas altitudes. A sua sobrevivência depende da manutenção e gestão correcta da pastorícia, constituindo os incêndios de grandes dimensões uma das suas principais ameaças. Pelas suas características únicas estes habitats foram considerados de interesse comunitário prioritário (Directiva 92/43/CEE para o estabelecimento da Rede Natura 2000) e a sua preservação está regulamentada a nível nacional (Decreto-Lei nº 140/99 de 24 de Abril – Anexo B-1, 6230). Bons exemplos de cervunais encontram-se na Nave de Santo António, Vale do Conde, Covão d’Alva, Covão Boieiro, Nave da Mestra e Curral dos Martins. O projecto de investigação GRASSES (http://www.uc.pt/grasses/), que temos vindo a desenvolver desde 2005, envolve investigação multidisciplinar em gramíneas de altitude do PNSE. O levantamento florístico dos cervunais é um dos objectivos do projecto. A análise da morfologia e estrutura dos grãos de pólen é hoje considerada de grande valor em diversas áreas científicas. Em taxonomia, ela contribui, de um modo muito significativo, para a delimitação de taxa de diferentes níveis hierárquicos (família, género, espécie). No presente trabalho, procedeu-se à descrição botânica e à caracterização palinológica de 15 espécies associadas aos cervunais, colhidas durante a execução do projecto, incluindo duas espécies de gramíneas, Nardus stricta e Festuca

3 henriquesii, esta última um endemismo estrelense. Foram feitas as respectivas descrições polínicas e construída uma chave dicotómica para identificação do pólen dos diferentes taxa.

MATERIAL E MÉTODOS Foram colhidas anteras deiscentes de exemplares (3 por taxa) colhidos em cervunais do PNSE, os quais foram devidamente identificados. O pólen foi acetolisado de acordo com a técnica de ERDTMAN (1960) e, em seguida, montado em óleo de silicone (ANDERSEN, 1960). As observações foram feitas num microscópio óptico Nikon Eclipse E 400, com objectiva de imersão (X1000). Para todas as espécies, realizaram-se 15 aferições micrométricas (5 por cada exemplar) dos seguintes caracteres: eixo polar (P), diâmetro equatorial (E; grãos isopolares) ou diâmetro do grão de pólen (D; grãos apolares) e espessuras da exina, sexina e nexina. No pólen porado, endocingulado ou equinolofado, foi medido, respectivamente, o diâmetro dos poros, a largura do endocíngulo e o diâmetro dos lumina do retículo. As preparações definitivas dos grãos de pólen das diversas espécies foram incluídas na Palinoteca do Departamento de Botânica, Universidade de Coimbra.

CHAVE DE IDENTIFICAÇÃO DO PÓLEN 1. Pólen disperso sob a forma de tétradas............................................8. Calluna vulgaris Pólen disperso sob a forma de mónadas........................................................................2 2. Pólen mono-aperturado..................................................................................................3 Pólen com 2 ou mais aberturas......................................................................................5 3. Pólen monoporado, com simetria radial......9. Festuca henriquesii, 10. Nardus stricta Pólen monosulcado, com simetria bilateral...................................................................4

4 4. Pólen reticulado, com lumina = 1 μm de diâmetro e muros mais estreitos do que os lumina...................................................................................1. Narcissus bulbocodium Pólen reticulado, com lumina < 1 μm de diâmetro e muros da mesma largura que os lumina..............................................................................2. Narcissus pseudonarcissus 5. Pólen porado..................................................................................................................6 Pólen colpado ou colporado..........................................................................................7 6. Pólen 3(-4)-zonoporado, equinulado.........................................5. Campanula herminii Pólen polipantoporado, granulado-perfurado........................6. Cerastium glomeratum 7. Pólen equinolofado........................................................................................................8 Pólen não equinolofado.................................................................................................9 8. Pólen com P e E ≥ 23 μm........................................................3. Leontodon pyrenaicus Pólen com P e E < 23 μm............................................................4. Hieracium pilosella 9. Pólen zonocolporado...................................................................................................10 Pólen zonocolpado......................................................................................................12 10. Pólen poli-zonocolporado, endocingulado…………………………………………… ………………………...11. Polygala serpyllifolia, 12. P. vulgaris Pólen 3-4-zonocolporado..........................................................................................11 11. Exina estriada-reticulada, 2,5-5,5 µm espessa......................7. Halimium lasianthum Exina granulada-perfurada, 1-2 µm espessa.......................................15. Viola canina 12. Pólen 3-zonocolpado...........................................................13. Ranunculus abnormis Pólen (7-) 8 (-9)-zonocolpado.......................................................14. Galium saxatile

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DESCRIÇÃO BOTÂNICA E POLÍNICA DAS ESPÉCIES

Amaryllidaceae 1. Narcissus bulbocodium L. (Est. I.1) Erva bolbosa. Bolbo subgloboso, 1,5-2,2 x 1,0-2,2 cm. Escapo 6-15 (-27) cm longo. Folhas lineares com 8-45 x 0,1-0,3 cm. Espata (1,5-) 2,5-4,0 (-5,0) cm, escariosa, parda, tubulosa em 1/3 ou mais de 2/3 do seu comprimento. Pedicelos mais curtos do que a espata. Flores amarelas; tubo 1,0-2,0 cm longo, segmentos do perianto com 0,6-1,1 x 0,2-0,5 cm, coroa com (0,8-) 1,0-1,6 (-2,5) cm, infundibuliforme. Mónadas; pólen 1-anasulcado, heteropolar, com simetria bilateral, plano-convexo em c.o.m. e elíptico em c.o.e., oblado a oblado-esferoidal, P / E = 0,50-0,90; P = 20-38 μm, E = 34-60 μm; sulco largo, ocupando todo o pólo distal; exina ca. 1,5 μm espessa, columelada; sexina ca. 1 x a nexina; superfície reticulada, com lumina irregulares, atingindo ca. 1 μm de diâmetro; muri mais estreitos do que os lumina.

2. Narcissus pseudonarcissus L. (Est. I.2) Erva bolbosa. Bolbo subgloboso, 2,0-5,0 x 2,0-4,0 cm. Escapo 10-50 (-90) cm longo, comprimido. Folhas lineares com 8-50 x 0,3-1,5 cm. Espata 2,0-6,0 cm, membranosaescariosa, parda, tubulosa até 1/4 do seu comprimento. Pedicelos mais curtos do que a espata. Flores amarelas, geralmente solitárias, concolores ou bicolores, inclinadas; tubo 1,5-2,0 cm longo, segmentos do perianto largamente lanceolados, com 2,0-4,0 (-5,5) x 0,7-1,0 cm, coroa com (1,5-) 2,0-3,0 (-4,5) cm, sub-cilíndrica. Mónadas; pólen 1-anasulcado, heteropolar, com simetria bilateral, plano-convexo em c.o.m. e elíptico em c.o.e., oblado a sub-oblado, P / E = 0,53 – 0,86; P = 20-33 μm; E = 27 – 49 μm; sulco largo, ocupando todo o pólo distal; exina ca. 1,5 μm espessa,

6 columelada; sexina ca. 1 x a nexina; superfície perfurada a perfurada-reticulada, com lumina irregulares, menores que 1 μm de diâmetro; muri ca. 1 x os lumina.

Asteraceae 3. Leontodon pyrenaicus Gouan (Est.I.3) Erva vivaz, glabra ou glabrescente, com pêlos simples. Escapos 1-3, 5-50 cm altos, simples, unicéfalos, com 3-7 brácteas escamiformes. Folhas arrosetadas, com 10-13 x 0,3-2,0 cm, lineares, estreitamente elípticas ou oblanceoladas, inteiras a penatifendidas. Capítulo com invólucro oblongo, com 0.9-1,3 cm de diâmetro, brácteas involucrais imbricadas, linear-lanceoladas, obtusas; lígulas amarelas; cipselas 0,5-1,0 cm longas, castanho-claras, cilíndricas a fusiformes, atenuadas no ápice; pêlos do papilho unisseriados e plumosos ou bisseriados, com apenas os pêlos internos plumosos. Mónadas; pólen 3-zonocolporado, isopolar, com simetria radial, sub-circular a circular em c.o.m. e hexagonal em c.o.e., esferoidal, P / E = 1,00; P e E = 23 – 34 μm; ectoaberturas: colpos curtos, mesoaberturas inconspícuas, endoaberturas lalongadas; superfície da exina equinolofada-perfurada.

4. Hieracium pilosella L. (Est.I.4) Erva vivaz, estolhosa, com pêlos simples e ramificados. Escapos solitários a numerosos, 5-50 cm altos, ± ramificados, com 2-4 brácteas escamiformes. Folhas arrosetadas, com 1.0-12 x 0,5-2 cm, inteiras, lineares, elípticas, espatuladas ou oblanceoladas, inteiras a penatifendidas. Capítulo com invólucro sub-globoso, viloso, com 7-11 mm de diâmetro, brácteas involucrais imbricadas, linear-lanceoladas, obtusas; lígulas amarelas, frequentemente listadas de vermelho; cipselas até 2,5 mm longas, acastanhadas, truncadas no ápice, costadas; pêlos do papilho unisseriados, de duas dimensões. Mónadas; pólen 3-zonocolporado ou 4-zonocolporado, isopolar, com simetria radial, sub-circular a circular em c.o.m. e hexagonal ou sub-quadrangular em c.o.e., esferoidal, P / E = 1,00; P e E = 19,5 – 22,5 μm; presença frequente de grãos abortados e

7 irregulares; Ectoaberturas: colpos curtos, mesoaberturas inconspícuas, endoaberturas lalongadas; superfície da exina equinolofado-perfurada.

Campanulaceae 5. Campanula herminii Hoffmanns. & Link (Est. I.5) Erva vivaz, glabra ou glabrescente, rizomatosa, cespitosa. Caules aéreos 5-40 cm altos, ascendentes ou erectos, geralmente simples e unifloros. Folhas inteiras a obsoletamente crenadas, as basilares longamente pecioladas, elípticas a lanceoladas, as caulinares subssésseis, lanceoladas a lineares. Flores pentâmeras, solitárias. Cálice sinsépalo, com dentes patentes, assovelados. Corola 10-20 mm longa, campanulado-afunilada, azulada. Estames 5, com os filetes dilatados na base. Ovário ínfero, trilocular. Cápsula 8-12 mm longa, obcónica, poricida. Mónadas; pólen 3(4)-zonoporado, isopolar, com simetria radial, sub-circular em c.o.m. e circular-triangular a sub-triangular em c.o.e., planaperturado, sub-oblado a obladoesferoidal, P / E = 0,77 – 0,99; P = 19 – 27 μm, E = 20 – 28 μm; ectoaberturas: poros com ca. 4 μm de diâmetro, emarginados; exina 1,5 – 2,0 μm espessa nos mesoporos, com columelas inconspícuas, costada; sexina / nexina = 1; superfície exínica ruguladoperfurada, equinulada.

Caryophyllaceae 6. Cerastium glomeratum Thuill. (Est. I.6) Erva anual, pubescente-glandulosa. Caule erecto, 6-35 cm alto. Folhas 5-25 x 3-12 mm, oblanceoladas a espatuladas, as inferiores pecioladas, as superiores sésseis. Flores pentâmeras, em dicásios bracteados, paucifloros. Cálice dialissépalo; sépalas ovadolanceoladas, até 6 mm longas. Corola dialipétala, branca; pétalas até 7 mm longas, profundamente bi-lobadas. Estames geralmente 10. Ovário súpero, unilocular, com 5 estiletes. Cápsula (5-) 6,5-8,5 (-9,5) mm longa, cónico-cilíndrica, deiscente superiormente por 10 dentes revolutos.

8 Mónadas; pólen polipantoporado, apolar, com simetria radial, esferoidal, D = 28 – 41 μm; ectoaberturas: poros com ca. 4 μm de diâmetro, marginados; exina ca. 2 μm espessa, granulado-perfurada, columelada; sexina ca.1,5 x a nexina.

Cistaceae 7. Halimium lasianthum (Lam.) Spach (Est. I.7) Subarbustos ou arbustos até 1,5 (-2) m altos, muito ramificados, densamente recobertos por um indumento composto por pelos estrelados e pelos simples glandulares ou eglandulares. Caules férteis e estéreis presentes. Folhas alternas, ovadas a oblongolanceoladas; as dos ramos férteis sésseis, 7-30 x 4-11 mm, as dos ramos estéreis curtamente pecioladas, menores. Flores actinomórficas, pediceladas, em cimeiras paucifloras, curtamente pedunculadas. Mónadas; pólen 3-zonocolporado, por vezes 4-zonocolporado, isopolar, com simetria radial, elíptico em c.o.m, circular em c.o.e., prolado-esferoidal a subprolado, P/E = 0.98-1.28; P = 40-57 μm, E = 34-52 μm; ectoaberturas: colpos longos e estreitos, com membrana psilada; endoaberturas: poros circulares a lalongados, de contorno regular, com costas finas a médias; exina 2,5-5,5 μm espessa, columelada; sexina ca 4 x a nexina; superfície exínica estriado-reticulada, com lumina 2,5-5 μm de diâmetro.

Ericaceae 8. Calluna vulgaris (L.) Hull (Est. I.8) Subarbusto glabro a densamente pubescente, muito ramificado. Caules erectos, até 100 (-200) cm altos. Folhas sésseis, 1,5-4,0 mm longas, auriculadas, revolutas, ± claramente oposto-cruzadas. Cachos terminais multifloros; flores actinomórficas, persistentes; pedicelos curtos, bracteolados. Cálice dialissépalo, tetrâmero; sépalas 3-4,5 mm longas, esbranquiçadas a rosadas, convergentes. Corola simpétala, tetrâmera, partida; segmentos menores que as sépalas. Estames 8, inclusos; anteras apendiculadas. Ovário súpero. Cápsula quadrilocular.

9 Tétradas tetraédricas; pólen 3-4 (5) colporado, de forma variável, com frequência mais ou menos irregular; diâmetro da tétrada = 35-50 μm, diâmetro dos grãos = 20-29 μm; aberturas em posições mais ou menos irregulares; ectoaberturas: colpos muito curtos, estreitos; endoaberturas: endocolpos; costas conspícuas; exina ca. 1,5 μm espessa, com sexina e nexina aproximadamente da mesma espessura; superfície exínica verrugosa.

Poaceae 9. Festuca henriquesii Hackel (Est. I.9) Ervas vivazes, rizomatosas, cespitosas. Colmos erectos a sub-erectos, 20-40 cm altos, com inovações intravaginais. Folhas rígidas, as inferiores com baínas acastanhadas que se dividem em fibras. Panícula 4-10 cm longa. Espiguetas 8-11 mm longas, com 5-7 flores férteis. Glumas lanceolado-agudas. Glumela inferior longamente aristada. Mónadas; pólen monoporado, heteropolar, com simetria radial, circular a elíptico em c.o.m., circular em c.o.e., esferoidal a prolado-esferoidal, P / E = 1,0 – 1,1; P = 24-31 μm, E = 24 – 30 μm; poros com 2-4 μm de diâmetro, anelados, operculados; exina 1-1,5 μm espessa, escábrida; sexina um pouco mais espessa do que a nexina.

10. Nardus stricta L. (Est. I.10) Ervas vivazes, curtamente rizomatosas, cespitosas. Colmos erectos. Folhas setiformes, ca. 5 mm largas, conduplicadas, glaucas. Espiga 2-10 cm longa, unilateral. Espiguetas 5-9 mm longas, unifloras. Glumas diminutas ou nulas. Glumela inferior 2-3 carenada, com uma arístula até 3 mm longa. Mónadas; pólen monoporado, heteropolar, com simetria radial; circular a elíptico em c.o.m., circular em c.o.e., esferoidal a prolado-esferoidal, P / E = 1,0 – 1,1; P = 25-32 μm, E = 25 – 31,5 μm; poros com 2-4 μm de diâmetro, anelados, operculados; exina 11,5 μm espessa, escábrida; sexina um pouco mais espessa do que a nexina.

10 Polygalaceae 11. Polygala serpyllifolia J.C.A. Hose (Est. I.11) Erva vivaz, Caules 7-25 cm longos, delgados, prostrados ou sub-prostrados, Folhas 3-15 mm longas, alternas, inteiras. Flores zigomórficas, em cachos terminais, 3-10 floros. Cálice dialissépalo, pentâmero; sépalas desiguais, as duas internas petalóides, persistentes. Corola trímera, tubulosa na parte inferior Mónadas; pólen 9-12 zonocolporado, endocingulado, isopolar, com simetria radial, elíptico a elíptico-circular em c.o.m, circular-lobulado em c.o.e; oblado-esferoidal a prolado-esferoidal, P/E = 0,96-1,18; P = 30-36 μm, E = 28,7-33,5 μm; ectoaberturas: colpos 19-21 μm longos, com membranas psiladas; endoaberturas: endocíngulo ca. 7 μm largo; apocolpos com 6-14 depressões ± arredondadas a elípticas, com 4-6 μm de diâmetro; exina ca. 3 μm espessa nos mesocolpos; sexina ca. 0,5 x a nexina. Superfície exínica psilada.

12. Polygala vulgaris L. (Est. I.12) Ervas vivazes. Caules até 30 cm altos. Folhas alternas, sésseis a subsésseis, 0,7-0,13 x 0,15-0,2 cm; as inferiores de espatuladas a lineares, as superiores de lanceoladas a estreitamente elípticas. Flores zigomórficas, em cachos terminais multifloros. sépalas desiguais; as três externas menores, verdes, as duas internas (asas) maiores, purpúreas ou violetas. Corola trímera, inferiormente, tubulosa, violácea. Cápsula comprimida. Mónadas; pólen 10-12 zonocolporado, endocingulado, isopolar, com simetria radial, elíptico a elíptico-circular em c.o.m, circular-lobulado em c.o.e; oblado-esferoidal a prolado-esferoidal, P/E = 0,95-1,20; P = 31 - 37 μm, E = 29,5-34 μm; ectoaberturas: colpos 20-22 μm longos, com membranas psiladas; endoaberturas: endocíngulo ca. 7 μm largo; apocolpos com 8-15 depressões ± arredondadas a elípticas, com 4-7 μm de diâmetro; exina ca. 3 μm espessa nos mesocolpos; sexina ca. 0,5 x a nexina; superfície exínica psilada.

11 Ranunculaceae 13. Ranunculus abnormis Cutanda & Willk. (Est. I.13) Erva vivaz. Raízes tuberosas. Caules 5-20 cm altos, glabros ou pubescentes. Folhas linear-lanceoladas, glabras ou ciliadas; as basilares pecioladas, as caulinares sésseis e menores. Flores amarelas, solitárias ou em cimeiras corimbiformes 2-3-floras. Cálice dialissépalo, pentâmero. Corola 8-10mera, com 20-30 mm de diâmetro; pétalas oblongo-obovadas, com uma escama nectarífera na unha. Estames e carpelos indefinidos. Fruto múltiplo oblongo; aquénios ovados, lisos, com rostro muito curto, curvo. Mónadas, pólen 3-zonocolpado, isopolar, com simetria radial, elíptico a sub-circular em c.o.m, sub-circular em c.o.e; oblado-esferoidal a prolado-esferoidal, P / E = 0,90-1,05; P = 22-30 μm, E = 23-31 μm; colpos sub-terminais, estreitos a médios; exina 2-3 μm espessa; sexina mais espessa do que a nexina; superfície exínica granuloso-equinulada.

Rubiaceae 14. Galium saxatile L. (Est. I.14) Erva rizomatosa, cespitosa, difusa, estolhosa. Caules 3-20 cm longos, delgados, quadrangulares, glabros, lisos. Folhas verticiladas, (5-) 6-7 (-8) por verticilo, 3-5 x 0,71,2 mm, uninérveas, curtamente mucronadas, . Flores em panículas pequenas, pouco ramificadas. Corola simpétala, tetrâmera, rodado-afunilada, branca, com 2,5-4,0 mm de diâmetro e lobos patentes. Ovário ínfero, bilocular. Diaquénios ovóides, 0,7-1 mm longos, papilosos. Mónadas; pólen (7) 8 (9) zonocolpado, isopolar, com simetria radial, elíptico a circular em c.o.m, circular-lobulado em c.o.e; suboblado a prolado, P/E = 0,85-1,40; P = 18-26 μm, E = 15-23 μm; ectoaberturas: colpos sub-terminais, muito estreitos; exina 1,5-2,0 μm espessa; sexina ca. 1 x a nexina; superfície exínica psilado-perfurada.

12 Violaceae 15. Viola canina L. (Est. I.15) Ervas prostradas ou ascendentes. Folhas cordiforme-ovadas, auriculadas, estipulas dentadas ou subinteiras, menores que o pecíolo. Flores zigomórficas, nutantes, solitárias; pedúnculos superiormente 2-bracteados. Cálice pentâmero, persistente; sépalas 6-10 x 1,5-3 mm, sub-iguais, sub-lanceoladas. Corola pentâmera, 7-18 mm longa; pétalas azuis, desiguais, sendo a inferior esporoada. Estames 5. Ovário súpero, unilocular; estigma gancheado. Cápsulas trivalves. Mónadas; pólen 3 ou 4 zonocolporado, isopolar, com simetria radial, sub-elíptico em c.o.m, geralmente quadrangular (mais raramente sub-triangular ou sub-pentagonal) em c.o.e.; prolado-esferoidal a subprolado, P/E = 1,10-1,27; P = 35-45 μm, E = 30-39 μm; ectoaberturas: colpos sub-terminais, largos; endoaberturas: poros circulares, com 6-8 μm de diâmetro; exina 1-2 μm espessa, granulado-perfurada; sexina ca. 1 x a nexina.

DISCUSSÃO E CONCLUSÕES De um modo geral, os dados obtidos no presente trabalho concordam com os descritos por outros autores para as espécies investigadas (e.g. MOORE & WEBB, 1978; DIEZ, 1987). No entanto, as dimensões mínima e/ou máxima dos grãos de pólen de algumas espécies (p.ex., Narcissus bulbocodium, Nardus stricta e Viola canina) são, respectivamente, inferiores ou superiores às anteriormente descritas. Tal facto poderá dever-se à existência de variações genéticas, ou de ecoclines, ou relacionar-se com a técnica de preparação dos grãos de pólen para microscopia óptica. Na verdade, quer a deriva genética nas diversas populações geograficamente isoladas (PONS, 1970; BORSH & WILDE, 2000), quer as diferentes condições de nutrição mineral ou hídrica das plantas (SMALL, 1983), podem, até certo ponto, causar alterações no tamanho dos grãos de pólen. Para além disso, a utilização de diferentes meios de montagem nas preparações definitivas pode também fazer variar as dimensões dos grãos de pólen (PEREIRA COUTINHO & DINIS, 2007). Diversos autores têm demonstrado que, ao contrário do que acontece com o óleo de silicone, a glicerina e a gelatina glicerinada causam, com o tempo, alguma dilatação do material polínico (ANDERSEN, 1960; FAEGRI & IVERSEN,

13 1989). Outro factor é a existência, em populações de montanha, de fenómenos frequentes de poliploidia causados pelas condições climáticas especiais existentes neste tipo de habitats de altitude, que dizem respeito a temperaturas baixas, elevada incidência de radiação UV, etc. É bem conhecido que estes factores provocam frequentemente um aumento das dimensões dos grãos de pólen (BRONCKERS, 1963; FERNANDES, 1980). Este poderá ser o caso em Narcissus bulbocodium, espécie para a qual foram assinalados números cromossómicos de 2n = 14, 21, 28, 35, 42, 49 e 56 (WEBB, 1980). A acentuada variabilidade das características polínicas (dimensões, forma, simetria, tipo de aberturas, estrutura e escultura da exina) é reveladora da variedade de famílias de plantas existentes nos cervunais. As características polínicas diagnósticas para a identificação das espécies presentes nos cervunais do PNSE são utilizadas na chave de identificação. Esta investigação constitui um contributo para a identificação do pólen presente em méis do PNSE.

AGRADECIMENTOS Esta investigação decorreu no âmbito do projecto POCTI/BIA-BDE/60937/2004 financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.

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