Notas sobre Lacan: “A mensagem vem do outro de forma invertida”.

July 25, 2017 | Autor: Angélica Chiappetta | Categoria: Jacques Lacan
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Notas sobre Lacan: "A mensagem vem do outro de forma invertida".




A teoria da comunicação enuncia que o emissor codifica e emite a
mensagem a qual o receptor recebe e decodifica. Diferentemente do que pensa
essa teoria, Lacan afirma que na fala humana é o receptor que envia a
mensagem ao emissor, porque é ele, receptor, quem decide fundamentalmente
sobre o sentido da mensagem enviada. Falar a um outro não implica, desse
ponto de vista, saber o que se diz.
Desde o Seminário 1 Lacan vem retificando o paralelismo que Saussure
postulava entre o significante e o significado. Significante e significado
não são paralelos nem homólogos e é um equívoco pensar que o significante
está a serviço do significado e existe para que possamos dizer o que temos
em mente. A tese de Lacan é que o significado é um efeito do significante,
e que os efeitos de significação são criados pelos jogos e permutações de
significante. O que se denomina código da língua é toda uma acumulação,
coletiva e transmissível de geração a geração, de formações significantes
em sua função de criação de significado. Uma vez que entramos no jogo
simbólico da língua, somos obrigados a nos comportar segundo uma regra.
Lacan postula a referência ao grande Outro, alocutário fundamental,
que indica a direção do discurso mais além de qualquer outro a quem se
possa efetivamente estar dirigindo. É o Outro da linguagem, da Cultura, do
discurso universal, de tudo o que foi dito, na medida em que é pensável. É
o Outro da verdade, esse terceiro em relação a todo diálogo. É também o
Outro do desejo, do inconsciente. Enfim, esse Outro é uma dimensão de
exterioridade que tem função determinante para o Sujeito.




Somente o Outro pode nos ensinar o que queremos dizer. Falamos uns
com os outros não necessariamente, ou prioritariamente, para comunicar
informações, mas sim para aprender do Outro quem somos.
Quando fala a um outro, o Sujeito não é amo e senhor do que diz. Na
medida em que utiliza a língua, sempre diz mais do que quer e, ao mesmo
tempo, outra coisa. Na medida em que falamos somos, de fato, falados pela
língua. O Outro é o senhor da língua, aquilo diante do que falamos para nos
fazer reconhecer. Mas só nos fazemos reconhecer na medida em que ele é
primeiramente reconhecido por nós.
A fala humana comporta, assim, duas dimensões: uma dimensão da
linguagem e uma dimensão da palavra. À primeira, Lacan denomina muro da
linguagem. Nessa dimensão se objetiva a relação do eu ao outro e a
linguagem adquire uma função imaginária. Na relação entre o Sujeito e o
Outro, a fala entra na dimensão da palavra, que cumpre, como já dito, a
função de reconhecimento subjetivante. Só que essa relação simbólica do
Sujeito ao Outro é uma relação virtual porque interdita pela relação
imaginária entre o eu e o outro.
Não há como objetivar o Sujeito diretamente, já que a fala sempre se
depara com esse muro. No entanto, há duas maneiras de falarmos dele.
Primeira, dirigindo-nos, quando falamos, ao Outro da linguagem e recebendo
dele a mensagem que nos concerne, que asssinala nosso lugar de forma
invertida. Segundo, indicando a direção e a existência do Sujeito sob a
forma de alusão: (a mensagem que concerne a mim vem deste lugar(.
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