Notas sobre muçulmanos e judeus em Leiria

May 25, 2017 | Autor: R. Charters-d'Aze... | Categoria: History, Jewish Studies, Jewish History, Historia, Judeu, Leiria, Judeus, Muçulmanos, Leiria, Judeus, Muçulmanos
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Notas sobre muçulmanos e judeus em Leiria IAinda não foi descoberto qualquer relato muçulmano

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que possa proporcionar-nos uma perspetiva muçulmana sobre a expulsão dos muçulmanos portugueses, mas o mesmo não se pode dizer dos judeus. As narrativas judaicas caraterizam-se por um forte elemento messiânico e realçam o papel da intervenção divina. Um dos aspetos mais notáveis destes relatos é que os seus autores foram, quase sem exceção, vitimas das expulsões espanhola e portuguesa, ou descendentes de exilados ibéricos. O rabi Abraham Zacuto era natural de Salamanca e fugiu de Castela para Portugal em 1492.Em Portugal, os seus conhecimentos de astronomia granjearam-lhe uma posição honrosa na corte e a tradução da sua influente carta astronómica intitulada Almanach perpetuum foi impressa na vila de Leiria no mesmo ano em que D.Manuel decidiu expulsar os judeus e muçulmanos do seu reino. Ferro Tavares afirma que as autoridades judaicas de Leiria gozavam de autoridade jurisdicional sobre os habitantes judeus de vilas vizinhas mais pequenas. Donde a importância da comuna judaica de Leiria, que teria um rabi-menor encarregado da sua administração e que podia atuar como magistrado julgando em primeira instância todas as causas cíveis e crimes entre judeus ou entre cristãos e judeus, quando estes últimos eram os réus. Claro que a presença muçulmana em Leiria levanta algumas questões, pois que um documento de 1303refere-se a uma mouraria com uma mesquita em Leiria e a um individuo chamado Ibrãhim ''Alcayde''. A comunidade muçulmana de Leiria seria então suficientemente numerosa para ter um local de culto e um alcaide. MaSSaul Gomes diz-nos que não encontrou provas de que alguma vez tivessem tido uma comuna legalmente constítuída. D.João TI exigiu um "empréstimo" de 50.000 reais aos judeus de Leiria em 1490 e um judeu chamado David bem Mentos declarou que, porque "alguns judeus da

comunidade muçulmana de Leiriaseria então sufldente· mente numerosa para ter um local de culto e um alcaide"

\Jornal de Lema 19 de Janeiro de 2017

MasSaul GomescUz· ·nosquenão encontrou provas de que alguma vez tivessem tido umacomuna legalmente constituída

dita vila lhe querem mal", ele estava obrigado a pagar "tanto e até mais que os ricos que vivem na cidade". Lembramos que isenções fiscais concedidas pela Coroa a indivíduos judeus ou muçulmanos eram muito mal vistas. Osjudeus e os muçulmanos eram obrigados a viver dentro dos seus bairros, e esta situação mantinha-se no século XV.Mas havia exceções. Para cada exceção havia sempre "algumas justas razões que a ela nos moveram": havia ainda alguns cristãos que tomavam de arrendamento lojas naqueles bairros, embora provavelmente regressassem às suas casas no fim do dia de trabalho. O inverso era, por assim dizer, possível: em 1455,a Câmara de Leiria, desejando facilitar o acesso de um médico judeu aos seus pacientes cristãos, obteve autorização da Coroa para abrir uma porta da casa dele que em tempos dera para o exterior da judiaria, mas que tinha sido entaipada em conformidade com a lei, pois que as judiarias eram "fechadas todas as noites". O anti judaismo não se manifestava apenas na legislação, mas também 'em atos isolados de violência

fisica, embora só se encontrem relatos sobre grandes tumultos em documentos dos finais do século XVI, como nos indica Ferro Tavares. Mas há exemplos como o da comuna judaica de Leiria que procurou obter "um foral de proteção" da Coroa, em 1378,por causa de ataques e roubos que sofreu durante as festas da Semana Santa. A presença de artesãos de ambas as minorias era muito forte, e Portugal com uma população relativamente pequena e fortemente atingida pela peste negra no século XIV,tinha falta de artesãos e de mão de obra especializada. Um estudo das profissões praticadas pelos judeus nas principais cidades portuguesas entre 1383e 1450 mostra que os alfaiates, tecelões e sapateiros eram os grupos profissionais dominantes. Em Leiria, Ferro Tavares, com um estudo semelhante para todo o século XV, revela onze alfaiates, dez sapateiros e nove ferreiros. O envolvimento dos judeus nos trabalhos em metais, como ferreiros, ourives ou armeiros, é notável. Texto escrito de acordo com a nova ortografia

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