Novas Sapatilhas de Ponta: Tecnologia e Design no Balé Clássico

August 12, 2017 | Autor: Ana Camillo | Categoria: Dance Studies, Industrial Design, Ballet, Shoe Design
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Descrição do Produto

CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES de SÃO PAULO DESIGN INDUSTRIAL: DESIGN de PRODUTO TRABALHO de GRADUAÇÃO INTERDISCIPLINAR I – T.G.I. I Professor Antonio Eduardo Pinatti

Ana Paula Camillo Débora Tonini Batista Mônica Rhuana Viegas Pinto

Temática: Design para Uso Pessoal: Perceptivo – Sensorial

Projeto: Novas Sapatilhas de Ponta: Tecnologia e Design no Balé Clássico

SÃO PAULO 2010

2 CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO DESIGN INDUSTRIAL: DESIGN DE PRODUTO TRABALHO de GRADUAÇÃO INTERDISCIPLINAR I – T.G.I. I 7º Semestre

Alunas:

Ana Paula Camillo Débora Tonini Batista Mônica Rhuana Viegas Pinto

Temática: Design para Uso Pessoal: Perceptivo – Sensorial PROJETO: NOVAS SAPATILHAS DE PONTA: TECNOLOGIA E DESIGN NO BALÉ CLÁSSICO

Trabalho de Graduação Interdisciplinar I – T.G.I. I – apresentado ao Curso de DESIGN INDUSTRIAL do CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES de SÃO PAULO, como resquisito para obtenção do título de designer de produto.

Professor Orientador: Antonio Eduardo Pinatti

VOLUME I : PESQUISA CIENTÍFICA S.P.: 25/05/2010

3

DEDICATÓRIA:

Aos nossos pais, que sempre nos motivaram.

4

AGRADECIMENTOS

Aos nossos pais, pelo apoio em todos os momentos. A todos os colegas e profissionais pela colaboração.

5

RESUMO

Apesar dos avanços tecnológicos da atualidade, as sapatilhas de ponta para a prática do balé clássico continuam sendo fabricadas com os mesmos materiais utilizados em sua invenção, no século XVIII. Embora tenham se modificado um pouco, seus materiais básicos de construção ainda são antiquados, pois não oferecem proteção contra atuações de forças externas e estresses físicos. Toda atividade física exige calçado adequado e há muita reclamação por parte de bailarinas e estudantes de balé clássico a respeito do conforto e durabilidade das sapatilhas de ponta. É possível que estas questões sejam melhoradas através do design de produto, projetando adequadamente e fabricando as sapatilhas de ponta com materiais especiais e tecnológicos, proporcionando melhor desenvolvimento das bailarinas e estudantes de balé clássico. Além disso, a imagem de uma sapatilha ou de uma bailarina é fonte de inspiração para vários produtos e desperta emoções em muitas mulheres. Algumas relembram o tempo em que dançavam, outras sonham em tê-lo feito.

6

ABSTRACT

Despite of today´s technology progress, the pointe shoes are still being made with the same materials used when they were invented, in the 18th century. Although they have suffered some changes, their basics construction materials are still old-fashioned. Such materials are incapable of providing protection against external forces and physical stresses. Every physical activity demands adequate footwear and there are a lot of complaints from students and ballerinas regarding the comfort and durability of the pointe shoes. It is possible that those issues can be improved through the industrial design, adequately manufacturing and designing the pointe shoes using technological and especial materials, enabling a better development for the ballerinas and classic ballet students. Furthermore, the image of a pointe shoe or ballerina is a source of inspiration for different products and inspires emotions in most women. Some remember the time when they used to dance, others dream of have done it.

LISTA de FIGURAS

7

FIGURA 1: Morfologia do tornozelo e pé (vista anterior): Anatomia para o movimento, Blandine Calais-Germain, 2002. FIGURA 2: Morfologia do tornozelo e pé (vista medial): Anatomia para o movimento, Blandine Calais-Germain, 2002. FIGURA 3: O arco plantar: Anatomia para o movimento, Blandine Calais-Germain, 2002. FIGURA 4: O movimento en pointe, ou flexão plantar: Anatomia para o movimento, Blandine Calais-Germain, 2002. FIGURA 5: O movimento de meia-ponta, que também é uma flexão plantar: Anatomia para o movimento, Blandine Calais-Germain, 2002. FIGURA

6:

A

primeira

posição

do

balé

clássico:

Disponível

em

http://www.dicasdedanca.com.br/dicas-de-ballet-as-posicoes-dos-pes.html. Acesso em 05 maio 2010. FIGURA

7:

A

segunda

posição

do

balé

clássico:

Disponível

em

http://www.dicasdedanca.com.br/dicas-de-ballet-as-posicoes-dos-pes.html. Acesso em 05 maio 2010. FIGURA

8:

A

terceira

posição

do

balé

clássico:

Disponível

em

http://www.dicasdedanca.com.br/dicas-de-ballet-as-posicoes-dos-pes.html. Acesso em 05 maio 2010. FIGURA

9:

A

quarta

posição

do

balé

clássico:

Disponível

em

http://www.dicasdedanca.com.br/dicas-de-ballet-as-posicoes-dos-pes.html. Acesso em 05 maio 2010.

8 FIGURA

10:

A

quinta

posição

do

balé

clássico:

Disponível

em

http://www.dicasdedanca.com.br/dicas-de-ballet-as-posicoes-dos-pes.html. Acesso em 05 maio 2010. FIGURA 11: Bailarina executando o movimento demi plié na barra: Disponível em http://www.informadanza.com/glossario/img/demiplie.jpg.

Acesso

em

19

maio

2010. FIGURA

12:

Bailarina

executando

o

passo

arabesque:

Disponível

em

http://www.abele.net/jca-arabesque.jpg. Acesso em 19 maio 2010. FIGURA 13: Bailarinas executando o movimento attitude derriére na barra: Disponível

em

http://spc.fotologs.net/photo/28/63/105/fundasc/117261161_f.jpg.

Acesso em 19 maio 2010. FIGURA 14: Estátua de Mercúrio, de Giovanni Bologna: Disponível em http://www.ancientsculpturegallery.com/S117.html. Acesso em 19 maio 2010. FIGURA 15: Bailarina executando o movimento battement tandu na barra. Disponível em http://dospassosdabailarina.wordpress.com/2009/11/28/janelas-esapatilhas. Acesso em 19 maio 2010. FIGURA 16: Pé de uma estudante iniciante na técnica de ponta, com um discreto calo devido à prática: Arquivo pessoal. FIGURA 17: Pé de uma praticante de balé clássico, com joanetes e unha de hálux descolada, conseqüência do uso de sapatilhas de ponta: Arquivo pessoal. FIGURA 18: Pés machucados de uma bailarina clássica: Disponível em http://www.the-perfect-pointe.com/Agony.html. Acesso em 18 ago 2010. FIGURA 19: Dedos curvados do pé de uma praticante de balé clássico, conseqüência do uso de sapatilhas de ponta muito apertadas: Arquivo pessoal.

9 FIGURA 20: Tradicional caixinha de música a corda: Disponível em http://anandacris.blogspot.com/2008/12/s-vezes-eu-me-sinto-como-bailarina-da.html. Acesso em 19 ago 2010. FIGURA 21: Par de sapatos do designer francês Christian Louboutin: Disponível em http://www.starstyleinc.com/christian-louboutin-heels-sp32300-full.html. Acesso em 19 ago 2010. FIGURA 22: Par de sapatilhas da designer Tatiana Loureiro: Disponível em http://www.coisitasdeluxo.com.br/blog/index.php?cat=27&paged=3. Acesso em 19 ago 2010. FIGURA

23:

Marie

Taglioni

em

La

Sylphide:

Disponível

em

fr.wikivisual.com/index.php/Marie_Taglioni. Acesso em 19 fev. 2009. FIGURA 24: Anna Pavlova em La Fille mal Gardée, 1912: Disponível em http://www.danser-en-france.com/repertoire/balletsrusses/pavlova.html. Acesso em 19 fev. 2009. FIGURA 25: Morfologia da Sapatilha de Ponta: Estudo investigativo dos materiais constitutivos das sapatilhas de ponta, Ana Maria Périgo e Raquel de Oliveira Bugliani, 2006. FIGURA 26: Tamanhos de caixas existentes nas sapatilhas de ponta atuais: Disponível em http://pontaperfeita.wordpress.com/2009/10/16/o-ajuste-perfeito-dasapatilha-de-ponta/. Acesso em 11 ago. 2010. FIGURA 27: Demonstração de uso de uma ponteira de silicone e gel para sapatilha de ponta: Arquivo pessoal. FIGURA 28: Exemplo de uso das ponteiras Ouch Pouches nos pés: Disponível em http://arteballet.blogspot.com/2008/0/ponteiraouchpouches.html. Acesso em 17 ago. 2010.

10

Figura 29: Eliza Gaynor Minden, criadora das sapatilhas Gaynor Minden: Disponível em http://www.dancer.com/elizabio.php. Acesso em 06 ago. 2010. FIGURA 30: Gabarito para desenho do contorno dos pés, para confecção das sapatilhas

Gaynor

Minden:

Disponível

em

http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:D7xFIRITjNEJ:pontaperfe ita.wordpress.com/2009/10/16/melhores-marcas-1-gaynor-minden/+Gaynor. Acesso em 06 ago. 2010. FIGURA 31: Sapatilha de ponta convencional desmontada: Disponível em http://arteballet.blogspot.com/2008/10/para-quem-noconhece-pontagaynor.html. Acesso em 09 ago. 2010. FIGURA 32: Sapatilha de ponta Gaynor Minden desmontada: Disponível em http://arteballet.blogspot.com/2008/10/para-quem-noconhece-pontagaynor.html. Acesso em 09 ago. 2010. FIGURA

33:

As

sapatilhas

de

ponta

Gaynor

Minden:

Disponível

em

http://excelsior_danza.it/negozio/index.php?main_page=index&manufacturers_id=2. Acesso em 09 ago. 2010. FIGURA 34: Calçados da marca Melissa, fabricados com Melflex: Disponível em http://www.livinggwg.com/2009/02/page/2/. Acesso em 06 ago. 2010. FIGURA 35: O Flexible Footwear: Design Secrets, Industrial Designers Society of America, 2001. FIGURA

36:

Kevlar,

fabricado

pela

DuPont:

Disponível

em

http://www2.dupont.com/Kevlar/en_US/products/spun_yarn_felt.html. Acesso em 06 ago. 2010.

11 FIGURA

37:

Nomex,

fabricado

pela

DuPont:

Disponível

em

http://www.lmii.com/carttwo/thirdproducts.asp?NameProdHeader=+Nomex. Acesso em 06 ago. 2010. FIGURA 38: Ponteiras de silicone para sapatilhas de ponta: Disponível em http://www.fisiostore.com.br/ponteira-de-silicone-par-ortho-pauher,product.aspx. Acesso em 06 ago. 2010. FIGURA 39: Sala de um estúdio de dança, com espelho, barras e piso flutuante com revestimento vinílico: Arquivo pessoal. FIGURA 40: Vista do palco do Teatro Municipal de São Paulo: Disponível em http://www.procentro.com.br/site/Noticias.aspx?Id=6. Acesso em 28 abr. 2010. FIGURA 41: Bailarinas clássicas se apresentando em um salão de festas: Disponível

em

http://www.votuporanga.sp.gov.br/temporario/player_ballet.html.

Acesso em 28 abr. 2010.

12

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO: PLANO de PESQUISA

14

2. A PESQUISA

22

2.1.

Pesquisa Bibliográfica

2.1.1. As Usuárias 2.1.1.1.

Aspectos Ergonômicos

22 22 23

2.1.1.1.a. O Tornozelo e o Pé da Praticante

23

2.1.1.1.b. Aspectos Biomecânicos do Balé Clássico

27

2.1.1.1.c. Alguns Movimentos dos Membros Inferiores no Balé Clássico

28

2.1.1.2. Principais Problemas Causados pelo Uso das Sapatilhas de Ponta 2.1.1.3.

34 O Design Emocional e as Sapatilhas de Ponta

2.1.2. Os Produtos

37 41

2.1.2.1.

Breve História das Sapatilhas de Ponta

41

2.1.2.2.

As Sapatilhas de Ponta e Ponteiras nos Dias Atuais

45

2.1.2.2.a. A Sapatilha Gaynor Minden 2.1.2.3.

A Tecnologia de Materiais nos Calçados

52 57

2.1.2.3.a. O Melflex

58

2.1.2.3.b. Calçado Flexível

59

2.1.2.3.c. Possíveis Materiais para Confecção das Sapatilhas de Ponta 2.1.3. Os Ambientes 2.1.3.1.

Ambientes Internos

62 62

2.1.3.1.a. Academias e Estúdios de Dança

62

2.1.3.1.b. Teatros e Salões de Festas

64

2.1.4. Conclusão da Pesquisa Bibliográfica 2.2.

60

Pesquisa de Campo

65 66

13 2.2.1. Estado do Design: Visitas 2.2.1.1.

Visita Nº1: Loja de Artigos para Dança

66

2.2.1.2.

Visita Nº2: Estúdio de Dança

68

2.2.1.3.

Visita Nº3: Loja de Artigos para Dança

69

2.2.1.4.

Visita Nº4: Loja de Artigos para Dança

71

2.2.2. Entrevistas com Especialistas

72

2.2.2.1.

Entrevista Nº1: Professora de Balé Clássico

72

2.2.2.2.

Entrevista Nº2: Educadora Física

73

2.2.2.3.

Entrevista Nº3: Professora de Balé Clássico

74

2.2.2.4.

Entrevista Nº4: Professora de Balé Clássico

75

2.2.3. Questionário com Usuárias/Consumidoras

2.3.

66

75

2.2.3.1.

Amostragem

75

2.2.3.2.

Tabulações e Gráficos

76

2.2.3.3.

Conclusões do Questionário e Tabulação

77

Conclusão da Pesquisa de Campo

78

3. CONCLUSÕES GERAIS: TESTE DE HIPÓTESES

79

4. BIBLIOGRAFIA GERAL

80

5. APÊNDICE A: ROTEIRO das ENTREVISTAS

82

5.1.

Professoras de Balé Clássico

82

5.2.

Educadora Física

82

APÊNDICE B: ROTEIRO do QUESTIONÁRIO 6. GLOSSÁRIO

83 85

14

1. INTRODUÇÃO: PLANO de PESQUISA

Entidade de Ensino: CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES de SÃO PAULO . Curso: Design Industrial

Habilitação: Design de Produto

. Disciplina: Trabalho de Graduação Interdisciplinar – I – T.G.I. I

Relação do Pessoal Técnico: . Coordenador do Curso: Prof. Sérgio D´Oliveira Casanova . Orientador da Disciplina: Prof. Antonio Eduardo Pinatti . Alunas: Ana Paula Camillo Débora Tonini Batista Mônica Rhuana Viegas Pinto

Objetivos:

Tema Geral: Design para Uso Pessoal: Perceptivo – Sensorial Delimitação Básica: Sapatilhas de ponta para bailarinas clássicas e estudantes de balé clássico.

15 Limitação Geográfica da Pesquisa: Cidade de São Paulo. Limitação Temporal da Pesquisa: 04 meses. Limitação Temporal para Desenvolvimento do Projeto T.G.I.: 04 meses. Objetivo Geral: .TRABALHO de GRADUAÇÃO INTERDISCIPLINAR I – T.G.I. I: como projeto de conclusão do Curso de Design de Produto, com a temática geral Design para Uso Pessoal: Perceptivo – Sensorial, tendo como pesquisa todo o embasamento

metodológico-científico

e

o

projeto

com

desenvolvimento

metodológico-projetual. Objetivo Específico: .Pesquisa e projeto de Design de Produto tendo direcionamento ao conjunto de produtos sapatilhas de ponta e bolsa customizável para armazená-las, direcionados ao mercado nacional, buscando novas soluções e inovação para atender necessidades das usuárias e consumidoras brasileiras atuais.

Justificativas da Escolha do Tema Geral e da Delimitação: Apesar dos avanços tecnológicos as sapatilhas de ponta continuam sendo fabricadas com os mesmos materiais utilizados em sua invenção, no século XVIII: cola, cetim, papéis e palmilhas flexíveis. Tais materiais são incapazes de oferecer proteção contra atuações de forças externas, não protegendo os pés contra estresses físicos. Toda atividade física exige calçado adequado. Além disso, a imagem de uma sapatilha ou de uma bailarina desperta emoções em muitas mulheres. Algumas relembram o tempo em que dançavam, outras sonham em tê-lo feito. Com o calçado anatômico, voltado ao corpo e pés desenvolvidos, o

16 aprendizado e desempenho serão melhores para aquelas que desejam dançar, ou continuar dançando, depois de adultas.

Objeto de Estudo: Sapatilhas de ponta para a prática de balé clássico. Formulação do problema: É possível que o desempenho das mulheres praticantes do balé clássico entre 18 e 40 anos de idade seja melhorado através do design de produto, bem como lesões e impactos diminuídos se utilizados materiais modernos nos calçados, tornando-os mais apropriados à dança clássica?

Recortes: Recorte

1:

Sapatilhas

de

ponta

para

bailarinas

clássicas

e

estudantes de balé clássico. Justificativa: As sapatilhas de ponta, símbolo do balé clássico, estão muito obsoletas, fabricadas com materiais rudimentares que não atendem às necessidades que a dança demanda, tornando a prática mais dolorosa. Recorte 2: Usuárias mulheres entre 18 e 40 anos que estão iniciando a prática. Justificativa: Se o aprendizado da dança clássica e a técnica com a ponta já são difíceis para quem inicia a prática quando criança, para as que começam depois de adultas é mais difícil ainda, pois o corpo já está formado e possui mais limitações. Recorte 3: Materialidade

17 Justificativa: É necessário pesquisar novos materiais, mais resistentes e maleáveis do que os atuais (cetim, papel, cola e couro), que atendem às necessidades que a prática do balé clássico demanda. Recorte 4: Ergonomia Justificativa: A posição en pointe (nas pontas dos pés) é totalmente contrária à anatomia do corpo, por isso é necessário um calçado que se adapte aos tornozelos e pés da melhor forma possível nessa posição, minimizando o desgaste tanto do corpo quanto do próprio produto. Hipóteses: Hipótese Principal: Se as sapatilhas de ponta fossem fabricadas sob a óptica do design de produto, com materiais especiais e tecnológicos, então o desempenho das bailarinas ou estudantes de balé clássico seriam melhorados. 

Variáveis independentes x1: sapatilhas de ponta x2: design de produto x3: materiais especiais e tecnológicos.



Variáveis dependentes y1: bailarinas y2: balé clássico

Hipótese Secundária: Se sapatilhas de ponta fossem projetadas visando a adequação aos pés e corpo de mulheres adultas, então diminuiria a incidência de machucados e deformações.

18 

Variáveis independentes x1: sapatilhas de ponta x2: adequação aos pés e corpo



Variáveis dependentes y1: machucados e deformações.

Metodologia Adotada: Metodologia Científica: - Plano de Pesquisa - Pesquisa Científica . Método hipotético-dedutivo. Técnicas de Pesquisa: - Observação documental: bibliotecas, sites. - Observação empírica: pesquisa de campo (escritórios, indústrias, lojas, escolas de dança) . Delimitação do Universo: - Amostragem: 30 usuárias. - Características: Bailarinas ou mulheres praticantes de balé clássico que estudem em estúdios ou academias de dança, entre 18 e 40 anos de idade; professoras de balé clássico; fabricantes de sapatilhas.

Embasamento Teórico: Teoria de Base: Design de Produto. Teoria de Orientação: Metodologia Científica.

19 Revisão Bibliográfica: proposta de pesquisa: livros, revistas, artigos, catálogos, monografias, dissertações, teses, anais, vídeos/ documentários, internet, etc. Glossário: proposta de montagem: termos complexos, técnicos, específicos, regionais, termos estrangeiros, etc. Cronograma Básico: Pesquisa Científica: - T.G.I. I:

datas de entrega:

. PLANO de PESQUISA:

06/04/2010

. RELATÓRIO da PESQUISA:

01/06/2010

. Volume 1.

Projeto de Produto: - T.G.I. II: . Volume 2.

- /08/2010

. Modelo.

- /11/2010

- Banca Examinadora:

- /12/2010

Orçamento Básico: (previsão de gastos) Pesquisa Científica– T.G.I. I: (material didático, cópias, impressões, livros, revistas, apostilas, CD, DVD, transporte, estacionamento, cartuchos, encadernações) Livros : The Pointe Book - Shoes, Training And Technique – R$54,88 Design Emocional – R$45,00 Cópias: Fichas de aula, livros – R$ 11,25 Transporte e estacionamento – R$ 72,00 Valor R$ 183,13

20 Projeto de Produto– T.G.I. II: (material didático,, cópias, impressões, livros, revistas, apostilas, CD, DVD,

transporte, estacionamento,

cartuchos, encadernações)

Valor R$ – Total R$ – Bibliografia Geral: Livros: CALAIS-GERMAIN, Blandine. Anatomia para o movimento : introdução à análise das técnicas corporais. São Paulo : Manole, 2002. GUIMARÃES, Ilse. Guia de design do calçado brasileiro : agregando valor ao calçado. Brasília : Print Paper, 2003. IDSA, Industrial Designers Society of America. Design Secrets : products. Massachusetts : Rockport, 2001. TILLEY, Alvim R. As medidas do homem e da mulher. Porto Alegre : Bookman, 2005.

Trabalhos Científicos: PICON, A. P. et al. Biomecânica e balé clássico: uma avaliação de grandezas dinâmicas do sauté e primeira posição e da posição en pointe em sapatilhas de ponta. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v. 16, n. 1, jan-jun. 2002. PÉRIO, A. M. & BUGLIANI. Estudo investigativo dos materiais constitutivos das sapatilhas de ponta. In: Anais do 4º Congresso Internacional de Pesquisa em Design, Rio de Janeiro. Artigo. Rio de Janeiro: ANPE, 2007. v. 1. 11 – 13 out.2007.

21 Internet: BAILARINAS: A História das Sapatilhas de Ponta e da Técnica de Ponta. Disponível em: . Acesso em: 19 fev. 2009. FREED: The pointe shoe in the making. Disponível em: . Acesso em: 01 abr. 2009. PONTE SHOE: Information exchange. Disponível em: . Acesso em: 05 abr. 2009.

. Data: SP: 06/04/2010 . Equipe de alunos: Ana Paula Camillo

assinatura:

Débora Tonini Batista

assinatura:

Mônica Rhuana Viegas Pinto

assinatura:

22

2. A PESQUISA 2.1.

Pesquisa Bibliográfica

2.1.1. As Usuárias As usuárias de sapatilhas de ponta, entre 18 e 40 anos de idade, são tanto freqüentadoras de aulas de balé clássico quanto bailarinas profissionais. No primeiro caso, as mulheres são trabalhadoras, donas de casa ou estudantes das mais diversas áreas que buscam na prática da dança uma distração, uma atividade física, realização de um sonho de infância, e em alguns casos o desejo pela profissionalização, seja como bailarina profissional ou professora. Já a bailarina clássica é uma artista que em muitos casos pode lidar com uma vida solitária, já que para alcançar seu objetivo na dança precisa de muito treino e preparo físico, e assim acaba dedicando a maior parte de seu tempo ao balé. Isso pode acontecer também com as estudantes de balé clássico, que além da dedicação

pela

dança

também

divide

seu

tempo

com

trabalho,

filhos,

companheiros e amigos. Para ser uma bailarina profissional ou estudante de balé clássico é preciso gostar de dançar, suportar a carga horária de treinos e as dores causadas pelo desgaste físico. Disciplina, atenção, pontualidade, silêncio, treinamento,

23 uniformização, postura, respeito e boas maneiras são alguns dos comportamentos disciplinares exigidos para a prática dessa modalidade. Outras características importantes que a praticante deve ter são disposição, força física, agilidade, flexibilidade, elasticidade corporal e habilidade para expressar suas emoções, que podem ser conquistadas com muito treino e dedicação. Além destes, outros aspectos também são fundamentais, como concentração, responsabilidade e determinação.

2.1.1.1.

Aspectos Ergonômicos 2.1.1.1.a O Tornozelo e o Pé da Praticante

Constituído por 26 ossos de tamanhos e estruturas diferentes entre si, 31 articulações e 20 músculos, o pé humano - graças à adaptação bípede desempenha as funções de suportar o peso do corpo e permitir o desenvolvimento dinâmico ao caminhar, correr, dançar, etc. Entretanto, devido às forças mecânicas neles exercidas, tanto às do próprio peso do indivíduo quanto às dos calçados (que muitas vezes não são ideais, especialmente no caso da prática do balé clássico), os pés geralmente se encontram deformados. Já o tornozelo é a articulação que permite aliar a resistência e flexibilidade dos pés à potência dos ossos das pernas.

24

Figura 1: Morfologia do tornozelo  e pé (vista anterior).

Figura 2: Morfologia do tornozelo e pé (vista medial).

O complexo tornozelo-pé é capaz de mudar de uma estrutura flexível que se molda às irregularidades do solo para uma estrutura rígida de sustentação de peso. Essas características proporcionam múltiplas funções, entre elas controle e estabilização da perna, elevação do corpo, saltos e amortecimento de choques. Lesões e dores no tornozelo e pé são muito comuns e se originam nas forças exercidas sobre eles e, ao mesmo tempo em que essas forças são sustentadas, o pé também está realizando o ajuste ao solo e compensando movimentos e desvios do quadril e joelho para manter o centro de gravidade dentro da pequena base de apoio, que é menor ainda quando a bailarina está nas pontas dos pés. Quando o pé está encerrado em um calçado suas estruturas tendem a ser

25 submetidas a pressões e atritos anormais e a um ambiente quente e úmido, propício a infecção bacteriana e fúngica. Por isso as sapatilhas devem ser o mais confortável possível, com material que diminua o atrito e que seja respirável. O pé é sustentado por três arcos, como uma abóbada, que repousam sobre três pontos de apoio, assim o arco plantar é uma lâmina flexível que amortece pressões e se adapta de acordo com o solo. Quando uma bailarina está dançando en pointe (nas pontas dos dedos), os apoios são feitos pelos dedos, principalmente o hálux (dedão), que retifica os desequilíbrios do corpo e intervém na estabilidade do tornozelo.

Figura 3: O arco plantar.

26

O en pointe é um movimento em direção à planta do pé, chamado na anatomia de flexão plantar ou extensão. Esse é o movimento almejado ao se utilizar as sapatilhas de ponta no balé clássico, uma vez que é extremamente difícil consegui-lo apenas pela força dos dedos. Nas sapatilhas de ponta existe uma espécie de caixa que envolve os dedos, abaixo da articulação metatarsofalângica, que auxilia na sustentação dos pés durante o movimento. É importante salientar que isso apenas não é o suficiente para equilibrar o corpo – a força principal vem dos músculos do abdômen –, mas um apoio adequado para os pés é fundamental.

27

Figura 4: O movimento en pointe, ou flexão  plantar.

Para realizar o movimento en pointe os pés passam por outro: a meia-ponta (demi pointe), onde também ocorre a flexão plantar, mas com todos os dedos apoiados no chão. Por isso é necessário que a caixa da sapatilha não comprometa a articulação metatarsofalângica. O tríceps sural é o músculo mais forte da perna, formado por três partes musculares com a mesma inserção: o tendão do calcâneo, conhecido popularmente como tendão de Aquiles. Juntamente com ele, outros músculos que contribuem para os movimentos de flexão plantar (ponta e meia-ponta) são: os músculos fibulares laterais (longo e curto), responsáveis por estabilizar os pés e tornozelos na ponta e meia-ponta; o flexor longo dos dedos, o tibial posterior e o flexor longo do hálux.

28

Figura 5: O movimento de meia‐ ponta, que também é uma  flexão plantar.

2.1.1.1.b. Aspectos Biomecânicos do Balé Clássico Os movimentos e posições do balé clássico freqüentemente envolvem esforços musculares que excedem as amplitudes normais do corpo, causando estresse mecânico nos ossos e tecidos moles. Apesar deste fato, e dos estudos a respeito das lesões causadas pela prática, as bailarinas clássicas e críticos seguem a forte tradição de evitar mudanças nos calçados, considerados no meio artístico como extensões dos pés das bailarinas. Por isso a mudança deve ocorrer na estrutura da sapatilha, conservando sua aparência imutável.

29 Pesquisas na área de biomecânica acerca de calçados esportivos revelam evidências de aparecimento de lesões típicas nos esportistas, que podem ter origem no mau uso dos calçados. Propriedades como amortecimento e estabilização ainda não foram considerados na concepção de sapatilhas de ponta. Estudos revelaram altos picos de pressão plantar, especialmente sobre o primeiro e segundo metatarsos nas bailarinas quando dançam na posição en pointe, assim como mostram que um alinhamento adequado do corpo sobre a sapatilha alivia consideravelmente a carga sobre os tornozelos. Cerca de 86% das lesões nas bailarinas são nos pés e tornozelos. Além de lesões, são comuns modificações nos pés como dedos em garras, joanetes, calos e machucados. 2.1.1.1.c. Alguns Movimentos dos Membros Inferiores no Balé Clássico Em todo o mundo, os passos e movimentos do balé clássico são identificados com a mesma nomenclatura francesa. A técnica clássica possui princípios de postura e colocação do corpo que precisam ser mantidos em todos os movimentos, e para isso a bailarina deve possuir o controle de seu sistema músculo-esquelético e manter o equilíbrio. Além disso, o balé clássico exige bom condicionamento cardíaco e respiratório, já que em uma apresentação o bailarino pode permanecer em cena por algumas horas. No final do século XVII, Pierre Beauchamps, bailarino e um dos diretores da Academia Real de Dança da França, definiu algumas das posições básicas para o balé clássico, que descrevem o começo e o final obrigatórios de todos os passos. São cinco posições de pé básicas, que utilizam rotação grande dos membros inferiores e de até 180 graus dos pés, que se denominam en dehors.

30 Na primeira posição básica os pés se mantêm retos, em ângulo de 180 graus e unidos pelo calcanhar; na segunda os pés também ficam em linha reta e em 180 graus, mas existe um espaço entre um calcanhar e outro.

Figura 6: A primeira posição do balé clássico.

Figura 7: A segunda posição do balé clássico.

Já na terceira posição, pés e pernas permanecem em rotação externa, porém um pé ficará cruzado na frente do outro, até a metade, e juntos; na quarta, os membros inferiores se mantêm com rotação externa e os pés ficam

31 separados, com uma distância de aproximadamente um pé entre eles, cruzados um na frente do outro.

               Figura 8: A terceira posição do balé clássico.

               Figura 9: A quarta posição do balé clássico.

Por fim a quinta posição, em que ambas as pernas permanecem em rotação externa, porém a extremidade de uma com o calcanhar da outra ficam unidas. Essa é a posição de pés mais utilizada tanto em aulas quanto em apresentações.

32

               Figura 10: A quinta posição do balé clássico.

Além das cinco posições básicas de pés, ainda há vinte e seis posições de membros inferiores, sete de tronco e cinco de braços, que são executadas em meia ponta ou nas pontas e podem sofrer variações. Outra posição utilizada pelas bailarinas clássicas é o demi plié, movimento em que os membros inferiores estão em en dehors e os joelhos se flexionam alinhados com os pés. Esse movimento é fundamental na terminação de um salto, por exemplo, para que o impacto não prejudique os joelhos.

Figura 11: Bailarina executando o  movimento demi plié na barra.

33 O arabesque é um movimento característico que representa a bailarina clássica. A bailarina suporta seu peso em apenas uma perna, que estará na ponta, em en dehors e com o joelho estendido. A outra perna permanecerá estendida e atrás, formando um ângulo de 90 graus ou até maior.

Figura 12: Bailarina executando o passo arabesque.

Existe também o attitude derriére, passo que foi desenvolvido por Carlos Basis, inicialmente para terminação de giros e lembra a posição da famosa estátua de Mercúrio, de Giovanni Bologna, do século XVI. Nesse passo, a bailarina sustenta o corpo em uma das pernas enquanto a outra é levantada para frente (devant), para a lateral (de côte) ou para trás (derriére) com o joelho flexionado, formando um ângulo de 90 graus. A perna que estiver na posição de attitude permanece em en dehors, mantendo o joelho para cima.

34

Figura 13: Bailarinas executando o movimento attitude  derriére na barra.

Figura 14: Estátua de Mercúrio, de Giovanni Bologna

Os exercícios na barra são considerados aquecimentos e preparatórios para alguns movimentos. Eles servem de apoio para execução dos exercícios e propiciam segurança, agilidade e preparam a musculatura para execução adequada dos passos e movimentos técnicos das bailarinas. Um dos

35 exercícios que são freqüentemente realizados em diversas velocidades e posições é o battement tendu, caracterizado por pequenas batidas e movimentos feitos pelas pernas, em que uma perna serve de suporte para outra que está em movimento se feche em umas das cinco posições básicas.

Figura 15: Bailarina executando o  movimento battement tendu na barra.

2.1.1.2.

Principais Problemas Causados pelo Uso das Sapatilhas de Ponta

É muito comum bailarinos profissionais (e muitos estudantes) sentirem algum tipo de desconforto nas costas (coluna cervical, dorsal, lombar e na pelve). Porém, pode-se afirmar que os pés e tornozelos não apenas dos profissionais, mas também dos iniciantes, são as estruturas mais sobrecarregadas especialmente na prática do balé clássico, devido ao uso das sapatilhas de ponta.

36 Alguns fatores que colaboram para o desenvolvimento tanto de disfunções quanto de lesões estruturais podem ser tanto extrínsecos (utilização de calçados inadequados e salas para a prática da atividade com o chão duro ou escorregadio, por exemplo), intrínsecos (como encurtamento dos músculos da panturrilha, do tibial posterior e do arco plantar) ou técnicos (aprendizado através de técnica inadequada). A combinação desses fatores pode acarretar em tendinites do tendão do tríceps sural (de Aquiles) e do tibial posterior, joanetes (hálux valgus) e lesões ligamentares, relacionadas com as entorses do tornozelo e do pé.

Figura 16: Pé de uma estudante iniciante na técnica de ponta, com um  discreto calo devido à prática.

Os problemas mais incidentes, devido primordialmente ao aperto causado pelo uso das sapatilhas de ponta e a força a qual os dedos são submetidos, em bailarinas ou estudantes de balé clássico são calos, joanetes, unhas encravadas ou descoladas, bolhas e feridas nos dedos e dedos em forma de

37 garra. Normalmente são apresentados mais do que um desses problemas em cada bailarina ou praticante.

Figura 17: Pé de uma praticante de balé clássico, com joanetes e unha de  hálux descolada, conseqüência do uso de sapatilhas de ponta.

Figura 18: Pés machucados de uma bailarina clássica.

38

Figura 19: Dedos curvados do pé de uma praticante de balé clássico, conseqüência  do uso de sapatilhas de ponta muito apertadas.

2.1.1.3.

O Design Emocional e as Sapatilhas de Ponta

Para os povos primitivos a dança era ritual e servia para evocar poderes mágicos, de acordo com as suas crenças. Hoje a dança além de ser considerada modalidade esportiva é também arte e terapia, através da qual é possível curar doenças (tanto físicas quanto psíquicas), relaxar e entreter. A dança também pode ser a realização de um sonho de criança para mulheres adultas. Produtos e serviços comunicam entre si, com as pessoas, com seus desejos, mostram o estado de espírito e a posição social. As roupas dialogam com as personalidades. O mobiliário explica a casa. Produtos e serviços expressam sentimentos e desejos. A sapatilha de ponta também é um símbolo e traduz o perfil, o grau de sabedoria e experiência de uma bailarina clássica, que já passou da iniciação na dança clássica. O merecimento da sapatilha de ponta exige

39 muito treino, um corpo devidamente alongado e pés fortalecidos para suportar o corpo. Há hoje no mercado diversas marcas de acessórios que podem ser opção de compra para as bailarinas. Mas o que garante o sucesso ou fracasso dessas marcas é o respeito às experiências prazerosas que são proporcionadas no uso dos produtos e a satisfação com o resultado final. É fazer design centrado no ser humano e em seu modo de ver, interpretar e conviver; é fazer um design decorrente da atitude do destinatário do produto. Existem marcas que são sinais, sobretudo das experiências positivas que promovem, das relações sociais que favorecem, dos valores que incorporam, das metas que firmam e das condutas que delas derivam os objetos materiais. A bailarina escolhe a marca de acessórios que melhor se adéqua ao seu corpo, gosto pessoal, capital, opinião de qualidade e conceito da marca. Assim como para algumas profissões é necessário o uso de objetos que facilitem a vida do profissional, uma bailarina clássica também precisa de seus acessórios para poder dançar, como a roupa adequada (collant, meia calça e saia) e uma boa sapatilha que propicie o máximo de conforto aos pés, com uma estrutura adequada, largura de acordo com o formato do pé e a rigidez apropriada da sola, pois o uso de uma sapatilha inapropriada pode causar deformações nos pés e até problemas na coluna. Talvez um dos motivos para a pouca evolução da sapatilha de ponta é a conservação de suas características estéticas, já que é o principal símbolo do balé clássico, uma dança muito tradicional. As pessoas estabelecem relações afetivas com os objetos, e os designers têm o desafio projetar produtos que causem experiências prazerosas

40 que desencadeiam sentimentos positivos nos usuários, produtos ergonômicos afetivos sem perda de sua caracterização, que pode causar estranhamento e rejeição. Krippendorff afirma que “não reagimos às qualidades físicas das coisas, mas ao que elas significam para nós. Pessoas amam utilizar produtos, que interagem fluentemente com elas e que contém significados simbólicos.” O novo papel do Design de Produto é o de investir no design emocional, ou seja, reinserir os valores e sentimentos humanos no mundo material. O design é sempre associado a sua condição de dar forma e função ao objeto, mas outro item importante é não esquecer a emoção, e por isso destaca-se o estudo de novas texturas e formas com relação à percepção tátil do objeto. A primeira impressão de um produto é relacionada na maior parte à superfície do material, interface entre o usuário e o objeto. As bailarinas ao dançarem se transformam em seres únicos e exuberantes, os pés ganham vidas como se dançassem sós. Seus esforços são omitidos atrás de um sorriso sereno e radiante como se tudo fosse fácil. De tão delicada, a bailarina é capaz de se equilibrar em uma flor; é uma ilusão de graça sem esforço. Dançar nas pontas não foi apenas mais um feito, foi um meio de realçar a dança exibindo a técnica e o que a bailarina é capaz de fazer com seu corpo, mostrando a superação de seus limites e esforços. É importante valorizar as emoções na experiência com o produto e a interação da bailarina com a sapatilha como se fosse uma extensão do seu corpo, da sua alma.

41

Figura 20: Tradicional caixinha de música a corda.

A imagem da bailarina clássica e a forma da sapatilha de ponta foram e ainda são fontes de inspiração para criação de diversos produtos, como calçados, acessórios e até móveis, além de obras de arte e das famosas caixinhas de música.

Figura 21: Par de sapatos do designer francês Christian  Louboutin. 

42

    Figura 22: Par de sapatilhas da designer de calçados Tatiana Loureiro.

2.1.2.

Os Produtos 2.1.2.1.

Breve História das Sapatilhas de Ponta

A história das sapatilhas de ponta se funde com a história da técnica do balé clássico. No período do Renascimento (por volta de 1500 a 1600) uma das formas mais populares de entretenimento nas cortes eram os bailes de máscaras, os quais ocorriam durante banquetes ou jantares. Na Itália essas performances extravagantes e elaboradas eram conhecidas como “balés de jantares” e influenciaram cortes de toda a Europa. Juntamente com cada prato servido entravam dançarinos representando personagens míticos associados ao tipo de comida servida. Netuno, com os Tritões, anunciava peixe; Jasão e os Argonautas, à procura do Velo de Ouro do carneiro alado Crisómalo, apareciam junto com carneiro. Novas idéias e novidades eram constantemente incorporadas a tais performances e havia rivalidade entre famílias, cada uma tentando superar a grandeza dos espetáculos das outras. Foi desse entretenimento das cortes que o balé emergiu.

43 Na França os balés eram conhecidos como “balés de corte” ou ballets de cour e um dos mais famosos foi apresentado em Paris em 1581. Idealizado por Catherine de Médici, rainha da França, o espetáculo chamado Le Balé Comique de La Reine uniu dança, música e teatro e durou das 22 horas às 3 horas da manhã seguinte. A dança era uma parte essencial da vida na corte e era levada seriamente, e muitas horas eram usadas para aperfeiçoar passos e movimentos. Em 1661, o rei Luis XIV da França fundou L’Académie Royale de Danse e oito anos depois instituiu L’Académie Royale de Musique, que foi a fundação da Ópera de Paris, onde uma escola de dança foi estabelecida em 1713. Foi daí, e não da L’Académie Royale de Danse, que o Balé da França se desenvolveu. Entretanto, as mulheres somente apareceram nos palcos em 1681, pois não podiam participar do mesmo modo que os homens, em grande parte por causa de suas roupas, cuja moda na época era o uso de vestidos enormes com saias cheias e pesadas, sapatos com saltos, espartilhos apertados que limitavam a respiração, e também o uso de perucas pesadas. Em 1681 Mademoiselle de Lafontaine iniciou a história das bailarinas, dançando em Le Triomphe de L’Amour. Os sapatos femininos de balé clássico do século XVII possuíam salto. A bailarina clássica do século XVIII Marie Camargo do Balé da Ópera de Paris foi a primeira a dançar com sapatos sem salto, o que permitiu maior liberdade e melhor execução de movimentos. Após a Revolução Francesa (1789–1799), os sapatos de salto foram substituídos pelos sem salto, segurados nos pés por fitas e plissados abaixo dos dedos para permitir às bailarinas estenderem seus pés e executarem giros e saltos. Esses sapatos se tornaram as sapatilhas como se conhece hoje. Atribui-se a Marie Taglioni o pioneirismo em dançar na ponta, embora não se tenha certeza. Em 1832, quando dançou o balé de repertório La

44 Sylphyde inteiro en pointe suas sapatilhas eram apenas de cetim, com as solas de couro. Os bailarinos da época confiavam em sua própria força, nos pés e tornozelos, pois não tinham apoio nos dedos.

Figura 23: Marie Taglioni em La Sylphide.

Os anos de 1800 foram marcados pela Era Romântica. Os artistas e poetas deste período (Keats, Byron e Chopin, por exemplo) estavam sempre preocupados com a beleza, a paixão, o natural e o sobrenatural, o poder do amor. Os grandes balés românticos desta época eram quase sempre apaixonados e trágicos, com encontros entre um mortal e uma mulher sobrenatural. As personagens das bailarinas eram normalmente habitantes do mundo sobrenatural, como as sílfides em La Sylphyde, as willis em Giselle, as donzelas transformadas em cisnes no Lago dos Cisnes, as fadas em A Bela Adormecida, as sombras em La Bayadère. A mulher sobrenatural é o símbolo da beleza, natureza, amor e

45 imortalidade procurada pelos artistas. A bailarina está sempre representada como uma mulher que não está restrita à Terra, de tão delicada seria capaz de se equilibrar em uma flor. Quando subia nas pontas dos pés alcançava uma leveza etérea e uma graça de outro mundo. Dançar en pointe foi um meio de realçar o drama através da expansão do papel feminino. O modelo das sapatilhas modernas é por vezes atribuído à bailarina russa do século XX Anna Pavlova, uma das mais famosas e influentes dançarinas de todos os tempos. Pavlova possuía os dorsos dos pés particularmente altos e arqueados, o que os deixava vulneráveis quando dançava en pointe, além de pés magros que estreitavam gradualmente, o que resultava em maior pressão no hálux. Por causa disso, ela colocava solas de couro dentro de suas sapatilhas para apoio extra e também deixava a parte do hálux mais dura e achatada, formando uma “caixa”. Apesar de essa prática facilitar a dança na ponta, muitos consideravam desonesto, mas hoje esse é o modelo mais aceitável por bailarinas e críticos no mundo todo.

Figura 24: Anna Pavlova em La Fille mal Gardée, 1912.

46

2.1.2.2.

As Sapatilhas de Ponta e Ponteiras nos Dias Atuais

As sapatilhas de ponta são utilizadas por bailarinas no balé clássico como meio de sustentação quando executam movimentos nas pontas dos pés. Portanto o calçado deve suportar o peso da usuária, a força exigida para a execução dos movimentos e ainda se adequar à anatomia da bailarina. Apesar da prática do balé clássico não respeitar as condições anatômicas e biomecânicas humanas, o aprimoramento do calçado através da promoção do design de produto e emprego de materiais adequados pode amenizar os efeitos negativos. A maioria das sapatilhas de ponta continua sendo feita com os mesmos materiais que eram usados nas sapatilhas de Pavlova. Embora tenham evoluído, ficado mais duras e com uma caixa (box) maior, seus materiais básicos de construção ainda são antiquados: papel encorpado com cola que envolve a caixa para os dedos, couro e papel mais encorpado para as solas e palminhas, tecido, geralmente cetim, para o revestimento, e cordões resistentes de algodão ou de tecido sintético. As partes mais importantes da sapatilha são a sola, a caixa e a palmilha, pois são os responsáveis por sustentar o pé, protegendo os dedos e oferecendo apoio ao arco plantar.

47

Figura 25: Morfologia da Sapatilha de Ponta.

1- Plataforma da caixa 2- Bordas das pregas 3- Sola 4- Costura reforçada (região mais estreita da sapatilha) 5- Alojamento do calcanhar 6- Gáspea 7- Pregas 8- Asas ou suporte 9- Alma da sapatilha (reforço da sola ou da palmilha) 10- Caixa 11- Cadarço 12- Bainha do cadarço 13- Palmilha 14- Costura do calcanhar

48 A caixa é a estrutura que abriga todos os dedos e onde é inserida a ponteira (artefato geralmente de silicone que auxilia na proteção dos dedos), e recebe as asas como reforços na sustentação; a plataforma da caixa recebe todo o peso do corpo quando a bailarina está nas pontas dos pés; a sola, juntamente com a palmilha, sustenta o arco do pé e pode ser reforçada por uma estrutura de polímero (a alma da sapatilha); os cadarços são essenciais para o ajuste correto das sapatilhas nos pés, pois se estiverem folgados o risco de torções são maiores; as fitas de cetim amarradas ao redor do tornozelo e elásticos sobre o dorso dos pés também são indispensáveis para o ajuste correto das sapatilhas. Um dos problemas de uma sapatilha de ponta nova é que ela é excessivamente dura, já que tanto a palmilha como a caixa são muito fortes. Uma vez “quebrada”, o que permite a articulação do pé realizar facilmente os saltos e subir na meia-ponta, dura pouquíssimo tempo. Além de o trabalho da técnica da ponta ser doloroso por si só, esse quadro acaba se agravando pelo fato de a maioria dos teatros do mundo não ter sido construído para dança, e sim para ópera ou drama. Muito poucos possuem chão de madeira com molas, que absorvem o impacto. Saltar em tais palcos é doloroso e traumático, além de poder ser barulhento também. Tradicionalmente os materiais usados nas sapatilhas de ponta precisam ser espessos e duros, para proporcionar um bom suporte, mas o barulho alto das sapatilhas enfraquece a ilusão de graça sem esforço, a qual a bailarina sempre almeja. Quando uma bailarina interpreta um grande papel, ela está normalmente representando uma criatura sobrenatural. Sapatilhas barulhentas fazem com que a bailarina pareça pesada, enfraquecendo a apresentação tanto técnica como dramaticamente.

49 Pelo fato do balé ser considerado uma arte, e não um esporte, é que houve uma evolução lenta na fabricação das sapatilhas. No esporte há uma constante pesquisa e preocupação com o atleta e seu corpo, buscando sempre aperfeiçoar os acessórios necessários para cada prática, especialmente o calçado. No balé clássico, porém, seu lado esportivo fica omitido, já que a bailarina precisa mascarar seus esforços com uma expressão serena, fazendo todos os movimentos parecerem fáceis. Além disso, o balé clássico é uma arte tradicionalista, que não aceita mudanças facilmente. Atualmente há uma grande variedade de fabricantes de sapatilhas de ponta. Essa variedade permite às dançarinas encontrar um par que sirva mais adequadamente aos seus pés, mas mesmo assim as reclamações de machucados, bolhas e dores são muito comuns nos estúdios e academias de dança. Os fabricantes nacionais mais conhecidos são: Capézio, Rommel & Halpe, Cristina Kerche, Millennium e Só Dança. Todas fornecem sapatilhas com níveis maiores ou menores de resistência da caixa, palmilha e sola. Também dispõem de numeração com uma grande variação de tamanhos, com larguras específicas e numeração para várias dimensões de pés. A Só Dança utiliza uma cola biodegradável na confecção das caixas. Já a Capézio fabrica suas sapatilhas com um material termo-sensível, que auxilia a adequação da sola com o formato do pé da bailarina. A empresa norte-americana Gaynor Minden emprega elastômeros nas solas e caixas. Um fator preocupante com relação ao uso das sapatilhas de ponta é o desgaste rápido de seus materiais, que resulta em descarte precoce e impacto ao meio ambiente. Uma pesquisa do English National Ballet publicou que uma bailarina profissional pode chegar a inutilizar cerca de 120 pares de sapatilhas de

50 ponta por ano. Já uma bailarina brasileira, segundo pesquisa da Escola Bolshoi e Theatro do Rio de Janeiro, descarta em média 46 pares no mesmo período. Há relato de uma bailarina da companhia do Rio de Janeiro que chegou a utilizar 480 pares por ano. As partes mais desgastadas são geralmente a sola, que depois de “quebrada” amolece rapidamente, perdendo a sustentação do arco plantar, e a ponta (caixa e plataforma), onde é exercida constantemente a maior força e que alguns fabricantes ainda a confecciona com farinha de trigo (para endurecer), papel e juta. O processo de fabricação das sapatilhas de ponta é basicamente artesanal, sendo utilizados diversos equipamentos e máquinas, gerando alto consumo de energia para as máquinas de costura, de gás para os fornos e estufas e de água, além da quantidade de resíduos e rejeitos, como aparas de couro e tecidos, metais de grampos e pregos, utilizados durante a fabricação. Além disso, por serem utilizados materiais com diferentes características entre si, o processo de união é extremamente difícil, e as sapatilhas de ponta atuais não apresentam design facilitador de sua desmontagem, o que torna trabalhoso o processo de separação e reutilização de seus componentes. O descarte acaba sendo realizado em aterros. A sapatilha de ponta é um produto no qual poderiam ser utilizados materiais e processos de fabricação tecnológicos e eficientes, com design confortável e que aperfeiçoasse o desenvolvimento da prática, como é o caso do tênis. No ato da compra da sapatilha, um dos itens a serem analisados é o tamanho da caixa. Essa deve ser confortável e caber o pé corretamente, sem apertá-lo. Os tamanhos das caixas já são definidos pelas marcas e geralmente são três. Como as medidas dos pés variam de acordo com a usuária, dependendo do

51 tamanho da caixa ela também precisa utilizar ponteiras, palmilhas ou ajustadores para regular corretamente os pés na sapatilha.

Figura 26: Tamanhos de caixas existentes nas sapatilhas de ponta atuais.

Para amenizar desconfortos ou mesmo ferimentos nos pés durante o uso das sapatilhas de ponta as bailarinas e estudantes de balé clássico utilizam um acessório chamado de ponteira, que protege os dedos enquanto as posições da dança são realizadas.  No passado só existiam ponteiras feitas de pano e espuma, considerados materiais fracos pela exigência da atividade na qual são utilizadas. Hoje existem ponteiras de gel e de silicone, que são as mais usadas pelas bailarinas e estudantes de balé clássico. A ponteira adequada é aquela que melhor se adapta ao formato dos pés e que cobre toda a extensão dos dedos, diminuindo a dor e a sobrecarga causada pelas sapatilhas de ponta. Por outro lado, há quem prefira dançar sem elas, alegando que as ponteiras não permitem sentir o chão, o que também é muito importante para um bom desempenho.

52

Figura 27: Demonstração de uso de uma ponteira de silicone e gel para sapatilha de  ponta.

De acordo algumas praticantes e usuárias, um inconveniente das ponteiras de silicone é que elas “queimam os pés”, devido ao atrito com o material durante a prática da dança. Ao retirar as ponteiras no final da aula ou apresentação, a usuária percebe uma sensação de ardência, além de o local afetado estar avermelhado e com aspecto de queimado ou assado. Uma opção para este problema são as ponteiras no estilo das Ouch Pouches, fabricadas pela Bunheads, que são feitas de uma fina camada de gel revestida de tecido. O fabricante afirma que são macias, confortáveis, hipoalergênicas, atóxicas e dermatologicamente testadas.

53

Figura 28: Exemplo de uso das ponteiras  Ouch Pouches nos pés.

Um aspecto que pode fazer a diferença na compra das ponteiras é o preço. As ponteiras de pano são as mais baratas e podem até ser feitas em casa, pois é um processo simples. Já as de silicone custam em torno de R$ 90,00 e as Ouch Pouches, citadas anteriormente, custam R$ 130,00 em média. A diferença de preço é muito grande, e em grande parte dos casos encontrados não houve um balanço entre preço e tecnologia. 2.1.2.2.a. A Sapatilha Gaynor Minden Eliza Gaynor Minden pertence a uma família de bailarinas. Nascida em Connecticut, Estados Unidos, estudou na Cecchetti e na Royal Academy of Dancing, duas das mais tradicionais academias de balé clássico do mundo. Sua mãe, professora de balé clássico, também estudou na Royal Academy of Dancing e posteriormente fundou a Escola de Dança de Connecticut e sua irmã era uma bailarina profissional que se formou na School of American Ballet.

54 Eliza criou e desenvolveu a sapatilha de ponta Gaynor Minden, cuja idéia surgiu em 1985, após não apenas estar frustrada com as sapatilhas tradicionais do mercado, mas também por ter sofrido durante anos com dores e contusões. Assim, através de sua experiência com a prática do balé e pesquisas com bailarinos profissionais, professores e médicos, Eliza decidiu fazer uma sapatilha melhor. Inspirada pela beleza do balé clássico e com os avanços tecnológicos dos calçados para atletas, ela e seu marido John Minden, exexecutivo de publicidade, formaram a Gaynor Minden Inc. para a produção e comercialização da sapatilha de ponta.

Figura 29: Eliza Gaynor Minden, criadora das  sapatilhas Gaynor Minden.

Quase uma década de pesquisas e desenvolvimento resultaram em uma revolucionária sapatilha de ponta e sonho de consumo de muitas bailarinas e praticantes. O resultado da confecção em alta tecnologia das sapatilhas de ponta Gaynor Minden proporciona absorção de impacto, maior conforto e durabilidade,

além de torná-las silenciosas. Não há modelos pré-

55 fabricados, pois cada medida do pé é considerada, resultando em um total de 2.591 modelos individuais disponíveis, com tamanhos intermediários, três tamanhos de caixa (box) e largura, cinco graus de dureza e três alturas de calcanhar. Na seção de compras do website da marca existe um formulário detalhado para inserir informações sobre as medidas dos pés das usuárias, peso, altura, tempo de treinamento em pontas, utilização de protetores, problemas anatômicos e todos os dados que possam interferir no desempenho das praticantes. Um dos itens mais importantes e interessantes é o preenchimento de um gabarito quadriculado, no qual deverá ser feito o desenho preciso do contorno dos pés, respeitando as instruções.

Figura 30: Gabarito para desenho do contorno dos  pés, para confecção das sapatilhas Gaynor Minden.

56 Outro diferencial da sapatilha de ponta Gaynor Minden é que esta já vem pré-moldada, ao contrário das sapatilhas convencionais que precisam ser “quebradas” , para que o solado de papelão seja quebrado em um determinado local para moldar melhor no pé e possibilitar a flexão plantar. Os solados Gaynor Minden são inquebráveis, mas o local e o grau que dobram podem ser mudados. Os materiais utilizados para que essa moldagem seja feita são os polímeros termoplásticos, que se tornam maleáveis quando aquecidos. As sapatilhas podem ser moldadas com um secador de cabelo e a temperatura para amaciá-la é a de um corpo, assim elas se moldam melhor ao pé conforme o uso. Outro material utilizado é o Poron 4000, um poliuretano com microporos conhecido por sua durabilidade, resistência a choques, absorção de impacto e ruídos e propriedades antibacterianas.

Figura 31: Sapatilha de ponta convencional desmontada.

57

Figura 32: Sapatilha de ponta Gaynor Minden desmontada.

O maior ponto negativo da sapatilha Gaynor Minden é seu preço. Enquanto a sapatilha convencional custa em torno de R$ 60,00, a Gaynor pode custar de R$ 200,00 até R$ 400,00. De acordo com relatos de bailarinas e professores, a sapatilha criada por Eliza vale o seu preço, pois dura mais do que as outras (entre seis meses e um ano, enquanto as convencionais duram cerca de quatro meses, dependendo da intensidade do uso), que depois de “quebradas” estragam mais rápido. Além da durabilidade ela é mais confortável, resistente e bonita, o que a torna o desejo de qualquer bailarina e estudante de balé.

58

                                        Figura 33: As sapatilhas de ponta Gaynor Minden. 

2.1.2.3.

A Tecnologia de Materiais nos Calçados

A essência dos materiais é que forma um calçado e revela a perfeição do mesmo, já que o produto final é reflexo dos materiais nele utilizados. É necessário renovar sempre, procurando solucionar os problemas do melhor modo possível. No caso dos calçados para esporte além das preocupações com os próprios materiais é necessário pensar no modo como eles irão interagir com o corpo do usuário, que estará sob estresses físicos, e quais poderão ser as conseqüências (como bolhas, esfolados, suor, etc.). É esse aspecto da tecnologia que foi esquecido – às vezes mal aceito por críticos e bailarinas – no balé clássico, que até há pouco tempo atrás era considerado arte, e agora está sendo reconhecido como prática esportiva. Para isso, é fundamental o uso de calçados e adequados – além de muito estudo.

59 Para acompanharem a técnica do balé clássico, as sapatilhas de ponta precisam responder às solicitações dos movimentos, sendo ao mesmo tempo resistentes e flexíveis, para fornecerem tanto suporte como mobilidade às praticantes. A inovação no calçado deverá ocorrer através de uma seleção entre possíveis materiais, que apresentem propriedades compatíveis com as solicitações do uso visando não apenas o aumento do conforto e segurança das praticantes durante os movimentos, mas também o prolongamento de seu ciclo de vida, minimizando o número de pares descartados (estatísticas revelam que uma bailarina profissional chega a descartar mais de cem pares por ano). 2.1.2.3.a. O Melflex Tecnologia exclusiva desenvolvida pela Melissa, marca famosa por seus calçados de plástico, o Melflex é um material facilmente moldável aos pés, tornando o calçado um dos mais confortáveis existentes no mercado. Além de reciclável

e

hipoalergênico,

o

Melflex

promove

impermeabilidade, resistência e durabilidade.

Figura 34: Calçados da marca Melissa, fabricados com Melflex.

maior

flexibilidade,

60 2.1.2.3.b. O Calçado Flexível A Flexible Footwear Ltd. da Pensilvânia, Estados Unidos, criou o Flexible Footwear, o Calçado Flexível, que além de ser tão flexível que pode até ser torcido, acomoda os arcos dos pés e permite aos pés expandirem e flexionarem livremente, como se estivessem descalços – o que não é possível com calçados comuns, pois são rígidos e não permitem essa mobilidade.

Figura 35: O Flexible Footwear.

A empresa afirma que a incidência de problemas nos pés (calos, unhas encravadas, esfolados, etc.) relacionados ao calçado no mundo é de 73%, enquanto que no um quinto da população que não usa calçados é de 3%. O Flexible Footwear foi projetado para servir nos pés como uma meia, permitindo uma maior possibilidade de movimento em todas as direções.

61 2.1.2.3.c. Possíveis Materiais para Confecção das Sapatilhas de Ponta Os materiais são definidos como estruturas que apresentam comportamentos

diferentes

quando

submetidos

a

condições

de

trabalho

predeterminadas. Esses comportamentos são chamados de propriedades e podem ser sua resistência, flexibilidade, ductilidade, dureza, densidade, custo, entre outras. As propriedades são determinadas através de ensaios de laboratório, submetendo os materiais a testes e obtendo valores de comportamento. As propriedades podem ser alteradas conforme o processo que o material sofre ao ser manipulado e empregado em algum produto ou ainda, quando associado a outro material. Na sapatilha são utilizados diversos materiais que apresentam estruturas muito diferentes entre si para fornecerem o comportamento esperado, além de apresentarem um ciclo de vida mais longo ou mais curto que o outro. Isto incide principalmente na a sola, caixa e palmilha, regiões do calçado onde os esforços são mais intensos. Além disso, esses materiais acarretam em um volume muito grande sob os pés das bailarinas, causando desequilíbrio. Pelo fato de as estruturas dos materiais utilizados serem muito diferentes entre si, a junção deles se torna um processo muito complexo. Diante dos requisitos necessários, alguns materiais mais favoráveis à confecção das sapatilhas de ponta seriam polímeros reforçados com fibras, devido a grande variedade de propriedades que podem assumir perante diferentes solicitações, especificamente o Kevlar e Nomex, ambos desenvolvidos pela DuPont, que são materiais constituídos por plástico (polímero) e fibras de plástico (aramidas), que podem ser mais resistentes que o aço, sendo utilizados em coletes

62 à prova de bala. Estes materiais possuem alta resistência ao impacto, apesar de muito leves, exibindo uma maleabilidade maior que a do couro. Por serem compostos por fibras poliméricas, estes materiais mantêm as propriedades destas fibras que são a alta resistência à fratura, às incisões e cortes. A combinação do Kevlar com o Nomex proporciona maior proteção, conforto, durabilidade e proteção térmica.

Figura 36: Kevlar, fabricado pela DuPont.

Figura 37: Nomex, fabricado pela DuPont.

Além desses, outro material adequado é o silicone, que permite ser aplicado na forma líquida, como elastômero ou resina, cujas propriedades, entre outras, são alta durabilidade, resistência à decomposição e à água, além de ser reciclável e não gerar malefícios para o meio ambiente, pois não contamina o solo, a água ou o ar. As ponteiras de silicone são muito utilizadas pelas praticantes de balé clássico como meio de aliviar a pressão e a descarga de peso nos dedos, diminuir o desconforto e reduzir o impacto.

63

Figura 38: Ponteiras de silicone para sapatilhas  de ponta.

2.1.3. OS AMBIENTES 2.1.3.1.

Ambientes Internos

Por ser uma modalidade originalmente praticada pela elite social e iniciada em cortes e salões reais, a prática e apresentações do balé clássico são exclusivamente para ambientes internos, como estúdios de dança, teatros ou salões de festas, que tenham piso liso (e não muito escorregadio), pois não é em qualquer superfície que se consegue dançar com as sapatilhas de ponta. 2.1.3.1.a. Academias e Estúdios de Dança Pelo fato da prática do balé clássico ser muito desgastante para o corpo, estudos foram feitos com o objetivo de encontrar modos de conciliar o estudo da dança clássica ao ambiente em que é praticada, tentando diminuir os danos causados pelo treino. No começo do desenvolvimento da dança clássica os balés eram treinados e exibidos nos salões da corte e posteriormente, com o aperfeiçoamento da técnica e dos espetáculos, passaram a ser dançados nos teatros. Atualmente as

64 praticantes treinam o balé clássico em estúdios ou academias de dança, espaços que devem ser adequados com equipamentos específicos para a modalidade, como iluminação, sistema de som, bebedouro, espelhos, barras (que servem de apoio às bailarinas durante os exercícios e alongamentos) e piso específico para dança que absorva impactos e seja liso, mas que não escorregue. O mais utilizado hoje é o piso flutuante, formado por uma estrutura de sarrafos de madeira, placas de EVA (entre os sarrafos) e placas de compensado por cima da estrutura, revestido com piso vinílico (o mais usado é o linóleo), que é térmico e propicia isolamento acústico.

Figura 39: Sala de um estúdio de dança, com espelho, barras e piso flutuante com  revestimento vinílico.

65 2.1.3.1.b. Teatros e Salões de Festas O local mais tradicional e utilizado para apresentações de balé clássico sempre foi o teatro, cujo palco não é adequado à dança, e sim a peças e óperas. São pouquíssimos que possuem piso flutuante e não escorregadio. Os palcos costumam ser de madeira e muito bem encerados, o que torna uma apresentação de balé – e de outras danças – extremamente difícil. Para contornar esse problema muitas companhias revestem o palco com seu próprio piso vinílico, e o retiram depois de sua apresentação.

Figura 40: Vista do palco do Teatro Municipal de São Paulo.

Com a popularização da dança clássica, é comum encontrar bailarinas clássicas se apresentando nos salões de festas, em casamentos, aniversários ou comemorações em geral. O problema é o mesmo dos teatros: o chão é escorregadio e não absorve impacto. Nos salões chega a ser até pior, pois

66 o chão geralmente é de piso frio e não há possibilidade de revesti-lo com piso vinílico.

Figura 41: Bailarinas clássicas se apresentando em um salão de festas.

2.1.4. Conclusão da Pesquisa Bibliográfica Apesar do avanço tecnológico do século XXI, a maioria das sapatilhas de ponta continua sendo feita com os mesmos materiais que eram usados quando foram criadas, no século XVIII. Embora tenham se modificado um pouco, seus materiais básicos de construção ainda são antiquados. Para se adequarem à técnica do balé clássico, as sapatilhas de ponta precisam responder às solicitações dos movimentos, sendo ao mesmo tempo resistentes e flexíveis, fornecendo tanto suporte como mobilidade às praticantes. A inovação no calçado deverá ocorrer através de uma seleção entre possíveis materiais, que apresentem propriedades compatíveis com as solicitações do uso visando o aumento do conforto e segurança das praticantes durante os movimentos, além do prolongamento de seu ciclo de vida para que diminua

67 impacto ambiental gerado pela quantidade de descartes precoces e incapacidade de reutilização dos materiais componentes. É possível que estas questões sejam melhoradas através do design de produto, projetando adequadamente e fabricando as sapatilhas de ponta com materiais especiais e tecnológicos, proporcionando melhor desempenho das bailarinas ou estudantes de balé clássico. 2.2.

Pesquisa de Campo 2.2.1. Estado do Design: Visitas As sapatilhas de ponta, bem como todos os outros acessórios

necessários à prática do balé clássico (collant, meia-calça, saia, ponteira) e de diversas modalidades de dança são comercializados majoritariamente em lojas especializadas em artigos para dança. Algumas academias ou estúdios também comercializam acessórios, de acordo com as modalidades que ensinam. Os

produtos

e

preços

são

semelhantes

em

todos

os

estabelecimentos, pois a maior parte deles são revendedores e não lojas de fábrica. O que muda são as condições de pagamentos ou eventuais promoções. Atualmente as praticantes treinam o balé clássico em estúdios ou academias de dança, que são espaços adequados com equipamentos específicos para a modalidade. Esse é o principal local onde o uso das sapatilhas de ponta é mais intenso, e onde os problemas são mais notáveis. 2.2.1.1.

Visita Nº1: Loja de Artigos para Dança

Data da Visita: 07 de maio de 2010 Nome da loja: Capézio Endereço: Rua Itapura, 1529 Site: www.capezio.com.br

Telefone: 2295-2839

68 Franquia de um dos maiores fabricantes de artigos para dança, fitness e natação do Brasil que exporta seus produtos para consumidores de várias partes do mundo. Há 30 anos, quando as sapatilhas tinham que ser importadas, seus fundadores, os irmãos Cavalcanti, desenvolveram pesquisas de produto no exterior e iniciaram o desenvolvimento de sapatilhas e sapatos para dança. Segundo

a

vendedora

da

loja,

as

alunas

chegam

ao

estabelecimento com um modelo de sapatilhas específico, indicado pela professora, e a grande parte adquire também ponteiras de silicone, afirmando que é muito doloroso e desconfortável dançar sem elas. As maiores reclamações são de calos e joanetes. A vendedora observa também que o número de praticantes que

começam

a

dançar

balé

depois

de

adultas

vem

aumentando

consideravelmente.

Sapatilha de Ponta 177 CONTEMPORA II: Forma média, gáspea e palmilhas normais, biqueira quadrada em couro. Preço: R$ 69,99

Sapatilha de Ponta 180 PARTNER: Forma larga e gáspea normal, o que possibilita melhor estabilidade nas pontas. Palmilha flexível, sola costurada e elástico transparente.

69 Preço: R$ 69,99

Porta Sapatilhas com Zíper Preço: R$ 15,00

2.2.1.2.

Visita Nº2: Estúdio de Dança

Data da Visita: 12 de maio de 2010 Nome do estúdio: Shiva Nataraj Danças e Práticas Endereço: Rua Bom Sucesso, 1119

Telefone: 2295-7892

Site: www.shivanataraj.com.br No estúdio de dança foram observados os comportamentos das estudantes com relação ao uso das sapatilhas. A maioria transporta suas sapatilhas e ponteiras em sacos de tecido, às vezes até mesmo soltas dentro da mochila ou bolsa, junto com o collant (algumas alunas já chegam vestidas), meia calça e saia. Algumas utilizam porta sapatilha com zíper ou carregam os acessórios em uma bolsa comprada em lojas de artigos para dança, com decorações temáticas de balé clássico, geralmente nas cores cor de rosa ou lilás.

70 Há sapatilhas de vários modelos na sala de aula, pois a professora não estipula um modelo específico, e sim orienta as alunas comprarem a mais adequada aos seus pés. Todas as alunas da aula visitada usam ponteiras de silicone, que são calçadas diretamente sobre os dedos. Depois cobrem os pés com a meia calça e calçam as sapatilhas, que são atadas pelas fitas de cetim, além do elástico costurado sobre o dorso dos pés. Algumas mulheres necessitam fazer bandagens ou curativos nos pés, devido a machucados causados pelas sapatilhas. As maiores dificuldades observadas nas estudantes foram equilibrar-se nas pontas, especialmente nos movimentos de pirouette (giro sobre apenas um pé) e “subir” propriamente na ponta. 2.2.1.3.

Visita Nº3: Loja de Artigos para Dança

Data da Visita: 21 de maio de 2010 Nome da loja: Evolution Pirouette Endereço: Rua Fradique Coutinho, 1190

Telefone: 3814 - 6625

Site: www.evolutionpirouette.com.br

A Evolution Pirouette é uma loja de artigos para dança e fitness, que contém uma grande variedade de produtos, desde vestuário para o balé clássico até acessórios. De acordo com o vendedor, a maioria das bailarinas vai à loja procurando uma sapatilha indicada pela professora, mas experimentam outros modelos até encontrar o que se adapta melhor aos seus pés. Outros itens procurados são as ponteiras e bolsa para levar os itens para a aula.

Sapatilha de Ponta – Chacott, Sylphide

71 Desenhada em um molde mais estreito e devido à sua caixa mais mole, esse modelo de sapatilha ajuda as iniciantes a fortalecer o colo de pé. R$ 180,00

Ponteiras Ouch Pouch Bunheads As ponteiras Ouch Pouch são feitas de uma fina camada de gel aplicada sobre um tecido, protegendo a área do metatarso. Os produtos em gel são feitos com polímeros formulados com óleos de grau medicinal para proteger, acolchoar as áreas expostas a traumas por fricção. Eles são macios, confortáveis, hipoalergênicos, atóxicos e dermatologicamente testados. O tecido das ponteiras é lavável, reutilizável e pode ser cortado para uma melhor adaptação de tamanho. Tamanho Único. R$ 130,00

72

Sapatilha de Ponta - Gaynor Minden As Sapatilhas Gaynor são fabricadas com termoplásticos que garantem uma maior longevidade se comparadas às sapatilhas fabricadas com as tecnologias tradicionais. Caso sejam tomados todos os cuidados recomendados, as sapatilhas Gaynor podem durar até dois anos, o que as torna muito econômicas se comparadas a quaisquer outras sapatilhas existentes no mercado. Por isso costuma-se proteger as pontas revestidas de cetim com couro para a durabilidade ser maior. R$ 400,00

2.2.1.4.

Visita Nº4: Loja de Artigos para Dança

Data da Visita: 22 de maio de 2010 Nome da loja: Malharia Marabá Endereço: Rua Silva Bueno, 58

Telefone: 2884 - 4000

Site: www.malhariamaraba.com.br Fundada em 1945, a Malharia Marabá oferece linha de artigos para balé, natação, fitness e agasalhos esportivos. Grande parte dos produtos a venda são confeccionados pela própria loja, por isso o preço é mais baixo do que muitas outras lojas similares, embora não há tanta variedade de produtos ou

73 marcas. As únicas sapatilhas de ponta disponíveis na loja são da marca Capézio e não há um estojo específico para guardá-las.

Bolsa Marabá 0423 Ballet R$ 9,00

Bolsa Sintética Ballet Grande R$ 13,00

2.2.2. Entrevistas com Especialistas 2.2.2.1.

Entrevista Nº1: Professora de Balé Clássico

Data da Entrevista: 15 de Maio de 2010 Nome da Especialista: Ana Curcelli E-mail: [email protected] De acordo com a professora de balé clássico, o número de praticantes adultas tem aumentado nos últimos anos, tanto que ela ensina apenas esse público, e possui mais de 40 alunas nas duas escolas nas quais trabalha. Ela

74 não percebe grandes diferenças do aprendizado e desenvolvimento da técnica da ponta entre alunas que começam a dançar depois de adultas e as que começam quando criança, pois “cada aluna tem um tempo para incorporar o aprendizado e um caminho próprio para conseguir suas conquistas. Mas criança ou adulto, todos sempre têm facilidades em algo e algumas dificuldades também.” Com relação à indicação de sapatilhas de ponta para as alunas, ela costuma aconselhar que cada uma procure a que melhor adapta aos pés, nunca citando marcas ou modelos, mas explicando que seria mais adequado começar por uma sapatilha de solado mais macio, como as chamadas "estudantes", ou de solado normal, no caso de quem já tem mais colo de pé natural. Ana Curcelli acredita que o conforto interno é um dos fatores que necessitam de melhora nas sapatilhas, especialmente para os dedos, que são os mais agredidos. 2.2.2.2.

Entrevista Nº2: Educadora Física

Data da Entrevista: 16 de Maio de 2010 Nome da Especialista: Eliane Cocurocci E-mail: [email protected] A prática do balé clássico pode desenvolver algumas lesões, como entorse de tornozelo, fraturas, sesamoidites e tendinite de Aquiles. Desconforto nas costas (coluna cervical, dorsal, lombar e pelve) também é comum. As causas destes problemas vão desde fatores extrínsecos, como a utilização de calçados inadequados, tipo de movimentos executados, aterrissagem de saltos ou prática em pisos inapropriados, passando por fatores intrínsecos, como o encurtamento dos músculos da panturrilha, do tibial posterior e do arco plantar, até os fatores técnicos, como o aprendizado de uma nova coreografia ou uma técnica inadequada.

75 Atividades como pilates e alongamento podem ajudar a prevenir algumas lesões. Um calçado adequado também é fundamental, já que alguns problemas são causados por sapatilhas muito apertadas ou fricção da pele do pé com o tecido. 2.2.2.3.

Entrevista Nº3: Professora de Balé Clássico

Data da Entrevista: 18 de Maio de 2010 Nome da Especialista: Amanda Campoy E-mail: [email protected] Segundo a professora de balé clássico Amanda Campoy, a prática da técnica de ponta pode sim trazer algumas conseqüências negativas, como por exemplo, se a aluna começar antes da idade adequada, não tiver força suficiente ou não tiver supervisão de um professor pode desenvolver problemas na coluna, nos joelhos e nos ossos. Quanto a fator positivo, Amanda afirma que prática não faz nenhum benefício para a saúde, mas melhora a estética, pois se utiliza muitos músculos para poder subir na ponta. Ela explica também que uma das diferenças entre a iniciante adulta e a criança é que a primeira já conhece seu corpo, compreende melhor a separação dos membros superiores dos inferiores, e dependendo de sua evolução não é necessário esperar três anos para começar a usar a ponta, e assegura que o número de praticantes desse público tem aumentado e cabe ao professor oferecer a motivação necessária para que aumente cada vez mais. Amanda costuma indicar às suas alunas iniciantes sapatilhas de ponta com sola mais flexível, como a Partner Student da marca Capézio, ou a Partner Box da mesma marca para alunas com pés mais largos, pois o outro modelo é demasiado estreito. Quanto ao uso de ponteiras ela deixa as alunas

76 decidirem por si, mas explica a importância do contato com o chão, e quando a ponteira é muito grossa dificulta essa sensibilidade. 2.2.2.4.

Entrevista Nº4: Professora de Balé Clássico

Data da Entrevista: 21 de Maio de 2010 Nome da Especialista: Symone Coelho E-mail: [email protected] Para a professora Symone Coelho, a prática da ponta desenvolve alguns pontos positivos nas estudantes, como aumento do ego, realização pessoal, leveza e beleza, além de ajudar a trabalhar os “pés chatos” e propicia melhor alongamento do corpo. Entretanto, quando não usada direito, pode acarretar problemas na coluna ou até joanetes. Ela afirma também que o aprendizado e desenvolvimento da técnica da ponta de alunas que começam a dançar depois de adultas são diferentes de quem começa quando criança, uma vez que depois de certa idade muitos aspectos tornam-se mais difíceis e o corpo não responde com tanta facilidade. Todavia, a procura dessa dança por parte de mulheres adultas está muito maior do que há alguns anos, pois as pessoas perderam o preconceito de fazer aulas de balé e perceberam que a prática ajuda em muitos fatores e em outras modalidades. Symone costuma recomendar o uso de ponteiras à suas alunas, pois acredita que não há necessidade delas se machucarem, e afirma que hoje as melhores ponteiras são as de silicone. 2.2.3. Questionários com usuárias/consumidoras 2.2.3.1.

Amostragem

Foram entrevistadas vinte usuárias/consumidoras bailarinas e estudantes de balé clássico da cidade de São Paulo.

77 2.2.3.2.

Tabulações e Gráficos

Início da Prática do Balé  Clássico 4‐10 anos 15%

30%

18‐30 anos

55% Depois de 30  anos

Marca Preferida de Sapatilha  de Ponta 10%

Capézio 25%

Millenium Só Dança

30% 15% 20%

Gaynor Minden Outra

Maior Problema em Relação  às Sapatilhas de Ponta Calos Joanetes Unhas Encravadas Dores Outros

78

Regiões Mais  Afetadas pelo Uso  Dedos

25% 50% 25%

Arco Plantar Outros

Vida Útil das  Sapatilhas de Ponta 2 a 5 meses 15%

35%

50%

6 a 9 meses acima de 10  meses

Uso de Ponteiras 10% Sim Não 90%

2.2.3.3.

Conclusões do Questionário e Tabulação

De acordo com o grupo que respondeu ao questionário, os problemas em relação às sapatilhas de ponta ainda são muitos, especialmente de dores (em áreas dos pés e tornozelo, nos joelhos ou na coluna) e desenvolvimento de calos, joanetes e unhas encravadas, além de bolhas e tendinite. Os dedos são

79 os que mais sofrem na prática, por isso a sapatilha deve ter um formato de caixa e ponteira que ajudem aliviá-los. As marcas e modelos de sapatilhas preferidos variam muito, pois cada aluna escolhe o que mais se adapta aos pés e o valor que pode pagar. A marca Gaynor Minden é a que mais atrai as praticantes, por ser feita sob medida e ser mais confortável, entretanto devido ao seu preço muitas acabam por escolher uma marca mais acessível. Percebe-se que a ponteira é um acessório extremamente importante, porém há reclamações de ser grossa demais, causando inconveniência. Muitas praticantes relataram que o conforto interno deve ser melhorado. 2.3.

Conclusão da Pesquisa de Campo As reclamações ainda são muitas. Embora a maioria das pessoas

entrevistadas alegue que apesar do aumento da variedade de sapatilhas, para servir aos mais variados tipos de pés, ainda há muito a ser pesquisado e desenvolvido, já que as sapatilhas ainda estão muito desconfortáveis internamente. Apesar da prática do balé clássico proporcionar muito benefícios para o corpo, deve-se ter precauções com o uso das sapatilhas de ponta que, por não serem totalmente adequadas às demandas da prática e os movimentos da dança ser algumas vezes anti-anatômicos, podem trazer conseqüências negativas ao corpo da praticante.

80 3.

CONCLUSÕES GERAIS: TESTE DE HIPÓTESES Embora exista hoje no mercado uma variedade grande de

sapatilhas de ponta, ainda há muito a ser pesquisado e desenvolvido, especialmente a parte interna e as ponteiras. Para se adequarem à técnica do balé clássico, as sapatilhas de ponta precisam atender as solicitações dos movimentos, sendo ao mesmo tempo resistentes, flexíveis e confortáveis, fornecendo tanto suporte como mobilidade às praticantes. É possível que estas questões sejam melhoradas através do Design de Produto, projetando adequadamente as sapatilhas de ponta, utilizando materiais tecnológicos e visando proporcionar melhor desempenho para as bailarinas ou estudantes de balé clássico. Além disso, com sapatilhas de ponta adequadas aos pés e corpo das mulheres adultas, a incidência de machucados e deformações diminuiria.

81 4.

BIBLIOGRAFIA GERAL

BAILARINAS: A História das Sapatilhas de Ponta e da Técnica de Ponta. Disponível em: . Acesso em: 19 fev. 2009. CALAIS-GERMAIN, Blandine. Anatomia para o movimento : introdução à análise das técnicas corporais. São Paulo : Manole, 2002. FREED:

The

pointe

shoe

in

the

making.

Disponível

em:

. Acesso em: 01 abr. 2009. GUIMARÃES, Ilse. Guia de design do calçado brasileiro : agregando valor ao calçado. Brasília : Print Paper, 2003. HARROLD, Robert. Ballet. Poole: Blanford Press, 1980. IDSA, Industrial Designers Society of America. Design Secrets : products. Massachusetts : Rockport, 2001. LIMA, M. A. M. Introdução aos materiais e processos para designers. Rio de Janeiro: Ed. Ciência Moderna, 2006. MONT’ ALVÃO, Claudia & DAMAZIO, Vera. Design Ergonomia Emoção. Rio de Janeiro : Mauad, 2008. PÉRIGO, Ana & BUGLIANI, Raquel. Estudo investigativo dos materiais constitutivos das sapatilhas de ponta. In: Anais do 4º Congresso Internacional de Pesquisa em Design, Rio de Janeiro. Artigo. Rio de Janeiro: ANPE, 2007. v. 1. 11 – 13 out.2007. PICON, A. P. et al. Biomecânica e ballet clássico: uma avaliação de grandezas dinâmicas do sauté e primeira posição e da posição en pointe em sapatilhas de ponta. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v. 16, n. 1, jan-jun. 2002.

82 POINTE SHOE: Information exchange. Disponível em: . Acesso em: 05 abr. 2009.

83 5.

APÊNDICE A: ROTEIRO das ENTREVISTAS 5.2.

Professoras de balé clássico

Qual a maior dificuldade que você nota nas alunas com relação à técnica da ponta? A prática da ponta traz conseqüências (positivas ou negativas) para o corpo? Quais? O aprendizado e desenvolvimento da técnica da ponta de alunas que começam a dançar depois de adultas são diferentes de quem começa quando criança? Quais são as diferenças? Qual modelo de sapatilha de ponta você costuma recomendar a suas alunas? Por quê? Você costuma recomendar o uso de ponteiras? Qual modelo? 5.3.

Educadora Física Quais são as conseqüências (positivas ou negativas) que a prática

da técnica de ponta do balé clássico pode acarretar ao corpo da praticante? As conseqüências negativas poderiam ser minimizadas com o uso de um calçado adequado? Quais são as atividades complementares que ajudariam a condicionar o corpo para uma prática menos dolorosa?

84 APÊNDICE B: ROTEIRO do QUESTIONÁRIO Objetivo do Questionário: T.G.I. – Design de Produto do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo: Projeto Novas sapatilhas de Ponta. Nome: _________________________________________ Faixa Etária: de 18 a 25 anos

26 a 31 anos

Escolaridade:

média

básica

32 a 40 anos superior

Profissão:_______________ Residência: bairro __________________ Estado civil: solteira

casada

separada

1. Com quantos anos você começou a praticar o Ballet Clássico?

Entre 4 – 10 Entre 10 – 17 Entre 18 – 30 Depois de 30

2. Qual é sua marca preferida de sapatilha de ponta?Qual modelo? Por quê?

Capézio Millennium Só Dança Gaynor Minden Outra ___________________ Qual Modelo?____________________ Por Quê? ___________________________ 3. Quais são seus maiores problemas com as sapatilhas de ponta?

Calos

Joanetes

Unhas encravadas

85

Dores

Especifique, por favor. ______________________________ Outros _______________________________

4. Quais são as regiões dos seus pés mais afetadas pelo uso?

Dedos

Arco plantar

Calcanhar

Tornozelo

Outro__________________________

5. Qual é a vida útil de suas sapatilhas de ponta?

2-5 meses

6-9 meses

Acima de 10 meses

6. Você costuma usar ponteiras?

Sim

Não

Qual modelo?_____________________________ 7. Sugestões: ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________

86 6.

GLOSSÁRIO

Biomecânica: Área de estudo do movimento humano. En dehor: Rotação dos membros inferiores de até 180 graus, utilizada em todos os passos do balé clássico. En pointe: Nas pontas dos pés, chamado na anatomia de flexão plantar. Ergonomia: Disciplina que estuda as interações entre seres humanos e elementos de um sistema. EVA (Etileno Vinil Acetato): Polímero macio e flexível, muito utilizado em diversas áreas. Meia-ponta: Flexão plantar, mas com todos os dedos apoiados no chão. Pirouette: Movimento de giros sobre apenas um pé, enquanto o outro permanece flexionado, com o joelho aberto en dehor.

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