O acervo de cartazes de Alexandre Wollner

June 2, 2017 | Autor: Priscila Farias | Categoria: Graphic Design, Poster Design
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O acervo de cartazes de Alexandre Wollner Alexandre Wollner’s poster collection Wilke, Regina C.; PhD; Centro Universitário Senac [email protected] Farias, Priscila L.; PhD; Centro Universitário Senac e USP [email protected]

Resumo Este artigo apresenta o resultado de um processo de identificação e catalogação dos cartazes do acervo particular do designer Alexandre Wollner, realizado entre 2007 e 2008. Discute sua relevância e os seus possíveis desdobramentos. Este tipo de investigação sobre acervos particulares faz parte de um projeto de pesquisa maior, ‘O processo cultural do design – Acervo de cartazes’, que tem como objetivo registrar informações relevantes a respeito do design de cartazes para estudos em design gráfico no Brasil. Palavras Chave: história do design; cartaz; Alexandre Wollner

Abstract This article presents the result of a process of identification and register of the private poster collection owns by designer Alexandre Wollner, conducted in 2007-2008. It discusses its relevance and possible ramifications. Such investigation on private collection is part of a bigger research project, ’The cultural process of design – Poster collection’, that aims to register relevant information on poster design for the studies in graphic design in Brazil. Keywords: history of design, poster; Alexandre Wollner

WILKE, Regina C. & FARIAS, Priscila L. 2010. O acervo de cartazes de Alexandre Wollner. In: Anais do Nono Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design - P&D DESIGN 2010: 1492-1504. São Paulo: AEND|Brasil. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design

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Introdução O levantamento de informações sobre cartazes em acervos particulares têm como objetivo identificar coleções e peças relevantes para compreensão da história do design no Brasil, assim como outros que contribuam para a apreensão de contextos históricos e influências criativas. Esta investigação faz parte de um projeto de pesquisa maior, intitulado ‘O processo cultural do design – Acervo de cartazes’, iniciado em 2007, que tem como objetivo registrar informações relevantes para estudos em design gráfico brasileiro. Por meio do estudo do cartaz, pretende-se promover a compreensão dos procedimentos de produção do design, no contexto da história e das teorias do design, e contribuir para uma visão sobre o processo cultural do design, trazendo referências para o estudo desta disciplina. A equipe de trabalho, vinculada ao Grupo e ao Laboratório de Pesquisa em Tipografia e Linguagem Gráfica do Centro Universitário Senac, é formada por professores pesquisadores e por alunos bolsistas de iniciação científica. O projeto ‘Coleção de cartazes de Alexandre Wollner’ contou com a participação de uma bolsista 1 de iniciação científica, que realizou pesquisa bibliográfica exploratória, identificando designers que, devido à sua produção, fossem também potenciais colecionadores de cartazes. A opção pelo levantamento do acervo deste designer em particular foi considerada pertinente por possibilitar, além do registro de suas obras, o mapeamento de outras que estabelecessem ligação com o seu repertório. Após levantamento e estudo bibliográfico sobre a obra de Wollner, foi iniciado um contato com o designer, que disponibilizou o seu acervo para a pesquisa. A bolsista fez o levantamento completo do acervo, anotou todos os títulos dos cartazes e contou com a colaboração de Wollner para obter informações sobre contextos, finalidades da obra, datas e nome de designers, assim como indicação de bibliografias referentes a alguns dos cartazes. O acervo do designer Alexandre Wollner é composto por 218 cartazes, bastante significativos para a documentação do percurso histórico do design. A pesquisa desta coleção está documentada em fichas de catalogação, contendo diferentes campos de informação, elaboradas pelo grupo de pesquisa. Mais especificamente, as fichas resultantes deste projeto contém: foto, descrição parcial dos cartazes (formato, suporte, quantidade de cor, processo de impressão), identificação da tipografia, finalidade, comentários, premiações e publicações de referência indicadas por Wollner.

Alexandre Wollner Alexandre Wollner, um dos precursores do design gráfico no Brasil, iniciou sua atividade profissional como artista, gravador e desenhista, “condicionado unicamente por elementos intuitivos e artísticos, sem nenhuma função objetiva” (Wollner, 2003, p: 44). Nos anos de 1950-1953 frequentou o MASP, onde conviveu com discussões sobre design, arte e industrialização. A exposição retrospectiva, em 1950, de Max Bill, formado pela Bauhaus, criador e reitor da Escola de Ulm, o aproximou do raciocínio lógico. Em 1951, cursou o Instituto de Arte Contemporânea (IAC), idealizado por Pietro Maria Bardi com a coordenação de arquiteta Lina Bo Bardi, onde se familiarizou com metodologia e processos criativos em design. O IAC ficou marcado como a primeira escola consagrada ao desenvolvimento de um curso de design, cujas posturas inovadoras antecederam as intenções do Manifesto Concreto em 1952 (Wollner, 2003, p. 70). Em 1953 foi indicado pelo Prof. Pietro Maria Bardi a Max Bill para ocupar uma vaga na Hochschule für Gestaltung (Ulm), Alemanha, onde estudou até 1958. Conheceu Otl 1

Pesquisa realizada no segundo semestre de 2007 e primeiro semestre de 2008 pela bolsista de Iniciação Científica Laura Ribeiro Mascarenhas.

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Aicher, um dos fundadores e professor desta escola, e estagiou em seu escritório de design, onde foi designado para executar diversos trabalhos. De volta ao Brasil associou-se a Geraldo de Barros e Ruben Martins, no primeiro escritório de design do país, o Forminform. Participou, também, do grupo que concebeu a Escola Superior de Design Industrial do Rio de Janeiro (ESDI), fundada em 1962 por Carlos Lacerda. No início dos anos 1960 passou a dedicar-se inteiramente ao design e criou seu próprio escritório, Wollner Designo. Nos anos 1990 cria a Wollner Made in Brasil, divisão da agência W/Brasil em sociedade com o publicitário Washington Olivetto.

O acervo de Alexandre Wollner Os cartazes presentes no acervo de Wollner foram organizados, para fins de descrição e análise, em cinco grupos. Muitos dos cartazes colecionados pelo designer são de sua autoria. Outros, em grande número, foram presentes de Otl Aicher. Alguns são de eventos culturais que ele presenciou, ou se reportam a eventos de que participou. “Wollner tem carinho especial pelos cartazes culturais. Eles são laboratórios para a criatividade, pois nenhum tem compromisso com o merchandising” (Viotti, 2000), ou como explica Wollner (comunicação pessoal, 2007) deve haver uma transmissão da cultura através da linguagem visual, e os cartazes culturais são manobras para esta linguagem visual. Os cartazes catalogados podem ser organizados, por afinidades, nos seguintes grupos: • Cartazes para a Escola Superior da Forma de Ulm (Hochschule für Gestaltung), por Otl Aicher (Alemanha) • Cartazes diversos por Otl Aicher (Alemanha) • Cartazes diversos por autores diversos (Alemanha) • Cartazes diversos por Alexandre Wollner e parceiros (Brasil) • Cartazes diversos por autores diversos (Brasil) • Outros cartazes por autores diversos (outros países)

Cartazes para a Escola Superior da Forma de Ulm (Hochschule für Gestaltung) por Otl Aicher (Alemanha) Nesta categoria foram identificados 58 cartazes. Dentre eles, 43 medem 410X410mm, e, na sua maioria, são impressos em 2 cores. 28 são datados de 1949 a 1956, 15 cartazes não tiveram a data exata identificada (teriam sido produzidos entre 1947 e 1962, segundo Wollner, comunicação pessoal 2007), e outros 15, verticais, são datados de 1950 a 1955. Todos apresentam características formais e conceituais, similares e foram concebidos para cursos e eventos realizados na instituição. Entre os cartazes com data desconhecida, destacamos A história da nossa cidade / Curso de Otto Wiegandt (figura 1), impresso em 2 cores, com tipografia sem serifa geométrica, similar à Futura e a outras fontes geométricas alemãs menos conhecidas como Erbar, Kabel, Fundamental e Universal. Segundo Wollner (Wollner 2003, p. 59) este cartaz serviu de referência para os cartazes do IV Centenário de São Paulo, projetados por ele em parceria com Geraldo de Barros (figuras 2 e 3).

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Figura1. Die Geschichte Unsrer stadt (A história da nossa cidade) / Kurs Von Otto Wiegandt, cartaz produzido por Otl Aicher em 1952 (coleção Alexandre Wollner).

Figura 2. IV Centenário de São Paulo, cartaz produzido por Geraldo de Barros em 1954 (coleção Alexandre Wollner).

Figura 3. Revoada Internacional IV Centenário, cartaz produzido por Alexandre Wollner e Geraldo de Barros em 1954 (coleção Alexandre Wollner).

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A maioria absoluta dos cartazes produzidos por Aicher para Ulm utiliza a mesma fonte geométrica sem serifa que aparece na figura 1. Quatro cartazes, entre eles aquele para a peça A tempestade de Shakespeare (sem data precisa, figura 4), e dois para concertos do pianista Jürgen Uhde (outubro de 1949 e março de 1950), utilizam uma fonte serifada moderna com alto contraste. Um dos cartazes utiliza uma fonte com serifas quadradas exageradas, e outro apresenta letras sem serifa geométricas que parecem ter sido desenhadas especialmente para ele.

Figura 4. Sturm (A Tempestade) / Shakespeare, cartaz produzido por Otl Aicher (coleção Alexandre Wollner).

Ilustrações com grandes áreas de cor chapada, eventualmente cortadas por linhas finas, alternando contornos geométricos e orgânicos, predominam nos cartazes deste grupo. Apenas dois cartazes de formato quadrado, produzidos por volta da década de 1950, apresentam fotografias em sua composição. Nos dois casos, uma cor chapada com alguns recortes precisos e estratégicos foi aplicada sobre fotografia em branco e preto, revelando partes da foto original, e dando um efeito de camadas e transparência. Ambos os cartazes foram criados para anunciar peças de teatro (uma comédia e uma opereta), e utilizam a fonte sem serifa geométrica similar à Futura (figura 5).

Figura 5. Zum goldenen Anker (O Âncora de Ouro) / Komödie / Marcel Pagnol, cartaz produzido por Otl Aicher por volta da década de 1950 (coleção Alexandre Wollner).

Nos cartazes verticais verificamos o uso predominante de elementos abstratos, caros à escola de Ulm e também à Bauhaus, em composições com elementos básicos, únicos ou repetidos, que seguem os conceitos de simplicidade e racionalidade. Treze destes cartazes foram produzidos para divulgar palestras que ocorriam na escola de Ulm às quintas-feiras. Em um deles (figura 6), a repetição de uma forma única cria uma percepção ambígua da 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design

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relação figura-fundo. Em outro (figura 7), a repetição dos elementos, fios e círculos, e a sobreposição criam transparências, trazem ritmo e sensação de movimento à composição. Nos dois casos, a imagem mantém uma relação direta com o tema do cartaz, e ambos utilizam a fonte sem serifa geométrica encontrada em outros cartazes da mesma época (figuras 1 e 5). As composições baseadas em preceitos abstratos, não ornamentais fazem parte do repertório gráfico conceitual deste período.

Figura 6. Donnerstagvorträge (palestras de quinta-feira) / Die stunde des menschen (a hora do povo) cartaz produzido por Otl Aicher em janeiro de 1953 (coleção Alexandre Wollner).

Figura 7. Erwachendes Afrika (Despertar da África) / Donnerstagvorträge im Juli (palestras de quintafeira em julho), cartaz produzido por Otl Aicher em junho de 1953 (coleção Alexandre Wollner).

Estes preceitos vão encontrar eco no layout de dois cartazes criados por Wollner para a Bienal de São Paulo de 1955 e 1957, também presentes na sua coleção No cartaz para a III Bienal (figura 8), a organização no espaço dos triângulos, fortalecida pelo uso de cores 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design

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alternadas, sugere profundidade. No cartaz para a IV Bienal (1957), uma textura surge da repetição de quadrados com diferentes tamanhos. Em ambos os cartazes, encontramos letras sem serifa geométricas, que no primeiro parecem ter sido desenhadas à mão.

Figura 8. III Bienal Museu de Arte Moderna de São Paulo. cartaz produzido por Alexandre Wollner em 1955 (coleção Alexandre Wollner).

Cartazes diversos por Otl Aicher (Alemanha) Fazem parte deste grupo 44 cartazes para clientes diversos, produzidos entre as décadas de 1970 e 1980, a grande maioria deles vinculada a sistemas de identidade corporativa desenvolvidos por Aicher. Eles variam em formato, mas sempre em proporção retangular, apenas um deles no sentido ‘paisagem’ (largura maior do que altura). Com exceção de 2 cartazes para o outono de 1983 que utilizam letras similares às de uma máquina de escrever, e de 3 cartazes que divulgam a família tipográfica Rotis (figura 9) — desenvolvida por Aicher em 1988, com variações de presença ou não de serifas—, predominam neste grupo fontes sem serifa neo-grotescas como a Univers, de Adrian Frutiger. Também faz parte do conjunto um cartaz de 1979 mostrando a família Traffic, uma sem serifa neo-grotesca bastante similar à Univers desenvolvida por Aicher para a sinalização do aeroporto de Munique.

Figura 9. Cartaz para Rotis, 1988, produzido por Otl Aicher (coleção Alexandre Wollner). 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design

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Destacam-se neste grupo 9 cartazes anunciando os Jogos Olímpicos de Munique de 1972, e outros 5 que mostram aspectos do sistema de identidade e informação criado para o evento, incluindo seus célebres pictogramas e o sistema de uniformes (figura 10). Todos estes cartazes utilizam fontes da família Univers, e cores especiais. Nas peças que exemplificam aspectos do sistema de identidade e informação, são utilizadas ilustrações a traço e cores chapadas. Nas peças para divulgação, os meios-tons de fotografias de competições foram transformados em áreas de cor chapada, obtendo desta forma fundos uniformes e coloridos com paletas diversas, sobre os quais figuras se destacam, através do uso engenhoso do branco. Na década de 1970, Wollner utilizou recurso similar, embora com paleta mais econômica de cores, em cartaz para a empresa Equipesca (figura 11).

Figura 10. Cartaz para olimpíadas de Munique, produzido por Otl Aicher, 1972, mostrando o sistema de uniformes dos funcionários (coleção Alexandre Wollner).

Figura 11. Cartaz para Equipesca, produzido por Wollner por volta da década de 1970 (Wollner 2003, p. 186).

Destaca-se também o conjunto de cartazes que divulgam a cidade de Isny im Allgäu, desenvolvidos na década de 1980. Trata-se de 5 cartazes com linguagem gráfica minimalista que utilizam apenas uma cor, ilustrações encerradas em quadrados que lembram os pictogramas para as olimpíadas Munique, e letras neo-grotescas em branco sobre fundo preto (figura 12). Segundo Rathgeb, nesta série “Aicher substituiu as quatro cores convencionais da fotografia, identidade da cidade e vila turística com representações gráficas da paisagem, fornecendo um único e flexível sistema gráfico” (Rathgeb, 2007, p.149). As figuras humanas esquemáticas presentes nas ilustrações para Isny lembram os pictogramas desenvolvidos por Aicher para as olimpíadas de Munique, e também o pictograma da Ultragaz desenvolvido por Wollner em 1977 (Wollner 2003, p. 200-201). 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design

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Figura 12. Isny Allgäu - Erscheinungsbild aus Einer Zeichensprache (Isny Allgäu – uma linguagem de sinais) década de 1980 (coleção Alexandre Wollner).

Cartazes diversos por autores diversos (Alemanha) Nesta seção, os cartazes foram produzidos, na sua maioria, por designers amigos de Wollner, como Pierre Mendell (figura 13), um dos principais designers alemães, Almir Mavignier (figura 14), pintor e artista concreto brasileiro que vive na Alemanha, e Max Bill (figura 15). Alguns cartazes foram adquiridos no museu de Hannover, o que, de certo modo, mostra os vínculos afetivos e conceituais/formais com os designers e obras. Nestes cartazes, além do uso recorrente de tipografia sem serifa, encontramos letras de mão, como nos de Max Bill, Mavignier e Mendell e Oberer aqui comentados. No de Mendell e Oberer, (figura 13) assinaturas de artistas contrastam com o título, composto em uma fonte com serifa moderna. No de Mavignier (figura 14), anotações se sobrepõem a figuras ortogonais e letras sem serifa. No de Bill (figura 15) o aspecto veloz e informal das letras se contrapõe à figura geométrica colorida ao centro.

Figura 13. Besuchen Sie uns in der Neuen Pinakothek München (Visite-nos na Nova Pinacoteca de Munique), produzido por Pierre Mendell e Klaus Oberer, década de 1970 –1980. (coleção Alexandre Wollner)

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Figura 14. El Lissitzky - Jenseits der Abstraktion (Além da abstração), produzido por Almir Mavignier (coleção Alexandre Wollner).

Figura 15. Cartaz para exposição produzido por Max Bill, década de 1970 (coleção Alexandre Wollner).

Cartazes diversos por Alexandre Wollner e parceiros (Brasil) A maioria dos cartazes presentes neste grupo são reproduzidos no livro Design visual 50 anos (Wollner, 2003). São cartazes que acompanham a história de sua produção gráfica, como por exemplo, aqueles para o Festival de Cinema do Brasil (figura 16), para a Revoada Internacional do IV Centenário de São Paulo (figura 3), para a III e IV Bienais de São Paulo (figura 8), que marcam o início de sua carreira como designer. Datam de 1953 a 2002, e todos usam tipografia sem serifa, com exceção do cartaz Wollner Design Gráfico (figura 17), cujo título é escrito em letra de mão. Esta gestualidade, presente em alguns poucos cartazes de sua coleção (figuras 13-15), contrasta com a grade modular usada para definir a relação de proporção de uma marca, representada no cartaz.

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Figura 16. Festival Internacional de Cinema do Brasil, produzido por Alexandre Wollner em 1953 (coleção Alexandre Wollner).

Figura 17. Wollner Design Gráfico, produzido por Alexandre Wollner em 1980 (coleção Alexandre Wollner).

Cartazes diversos por autores diversos (Brasil) Neste bloco destaca-se um cartaz de Lina Bo Bardi de 1951, que remonta ao período do IAC. Encontramos também cartazes de Antonio Maluf e outros premiados pela bienal de São Paulo, e de Geraldo de Barros, seu colega, que marcam a linguagem dos anos 1950 a 1970. O cartaz de Maluf para a primeira Bienal (1951), assim como o cartaz de Danilo di Prete para a São Paulo World Fair (1954) apresentam letras sem serifa grotescas, de silhueta condensada, e outros elementos gráficos semelhantes aos adotados por Wollner em cartazes do mesmo período, como aqueles para a Revoada Internacional (figura 3) e para o Festival Internacional de Cinema (figura 16). Há também cartazes que divulgam atividades das quais Wollner participou como protagonista (figura 18), tais como palestras, datas comemorativas de seu percurso, lançamento de livro, ou cartazes de concursos em que foi jurado. Outros ainda foram produzidos por ex-alunos, amigos e colegas de profissão. A maioria destas obras se assemelha, quer pelo uso de tipografia sem serifa, quer pela linguagem gráfica, apoiada na 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design

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clareza de cor e forma. São exceções a isso os cartazes produzidos para o lançamento do livro Elementos do Estilo Tipográfico, que têm títulos serifados, semelhantes ao da obra.

Figura 18. 70 anos de Wollner, produzido pela Rex Design, 1998 (coleção Alexandre Wollner).

Outros cartazes por autores diversos (outros países) Neste grupo temos cartazes produzidos entre o final da década de 1950 e o final da década de 1980. Alguns possuem linguagem gráfica marcadamente new wave, como o de Pierluigi Cerri para a mostra Futurismo e futurismi (1986) —uma forte composição com tipografia sem serifa, em suas variações, sugerindo movimento e profundidade. A paleta de cores e formas assemelha-se à de um cartaz de Paul Rand, produzido em 1988 para o concurso World Wide Excellence in print, television, film and art direction. Letras sem serifa são um ponto comum em todos os exemplares deste grupo, que divulgam temas tão diversos como exposições de arte, congressos de design e aparelhos de som.

Considerações finais O ‘status intelectual e cultural’ de uma sociedade numa época é denominado por Meggs (1998) de ‘espírito do tempo’. Neste sentido podemos dizer que um conjunto de tendências culturais e gostos estéticos característicos é estabelecido num espaço tempo, determinado pelo momento histórico, social, cultural e científico, que afeta a linguagem do criador, imerso no mundo que o envolve. Salles (2007, 37:38) reconhece que a mera constatação da influência do contexto não nos leva ao processo (criativo) propriamente dito, mas podemos perceber como a realidade externa penetra na obra. Deste modo a pesquisa contribui para as discussões acerca da criação e aponta para o diálogo com as teorias, com os aspectos culturais e herança cultural. No estudo deste acervo pudemos perceber como os conceitos da Escola de Ulm permeiam o contexto brasileiro, quer pela influência de Max Bill, reiterando a função do artista como designer, quer pela orientação teórica, prática e profissional, divulgada pelos alunos brasileiros que a frequentaram. Os ensinamentos com base racional estabeleceram um padrão comunicativo presente na maioria dos cartazes que compõem o acervo de Wollner. Consideramos importante situar a produção do cartaz historicamente, e observá-lo no campo do projeto, examinar seus elementos de produção. Este estudo constitui, assim, uma etapa do processo de recuperação da memória gráfica brasileira.

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Agradecimentos Esta pesquisa foi parcialmente financiada pela CAPES, através do edital PROCAD 2007 (projeto “Memória Gráfica Brasileira: estudos comparativos de manifestações gráficas nas cidades do Recife, Rio de Janeiro e São Paulo”), e pelo CNPq, através de Bolsa PQ.

Referências KRAMPEN, Martin. Otl Aicher: 328 Plakate für die Ulmer Volkshochschule. Berlim: Ernst Et Sohn, 2000. MEGGS, Philip B.. A history of graphic design. Cambridge: John Wiley, 1998. WILKE, Regina Cunha; FARIAS, Priscila Lena. Organização de um acervo de cartazes sob uma perspectiva do design gráfico. Anais do P&D Design 2008 - Oitavo Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Paulo: AEND|Brasil, 2008. RAGHTGEB, Markus. Otl Aicher. Londres: Phaidon, 2007. SALLES, Cecília Almeida. Gesto Inacabado – processo de criação artística. São Paulo: Ana Blume, 2007. VIOTTI, E. (ed.). 5 anos de design gráfico no Brasil: coletânea de portfólios. São Paulo: Market Press, 2000. WOLLNER, Alexandre. Alexandre Wollner. São Paulo: Senac, 1999. WOLLNER, Alexandre. Design visual 50 anos. São Paulo: Cosac Naify, 2003.

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