O ALÇAMENTO VARIÁVEL DAS VOGAIS /e/ E /o/ PRETÔNICAS NO FALAR URBANO DE ITUIUTABA-MG

June 2, 2017 | Autor: Jose Magalhaes | Categoria: Portuguese, Vogais médias pretônicas, Fonologia, Variação Linguística
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O ALÇAMENTO VARIÁVEL DAS VOGAIS /e/ E /o/ PRETÔNICAS NO FALAR URBANO DE ITUIUTABA-MG

Allyne G. Bisinotto (UFU) José Magalhães (UFU) 1 Introdução As línguas apresentam variações de diversas naturezas, tais como fonéticas, fonológicas, morfológicas e sintáticas, em que os falantes realizam suas escolhas entres sons, vocábulos ou estruturas. Em se tratando do Português Brasileiro (doravante PB), essa constatação se comprova, por exemplo, com a realização variável das vogais médias pretônicas como em pepino ~ pipino; com a alternância entre os pronomes você e tu; entre os pronomes nós e a gente; na concordância nominal os meninos/os menino. Estudos sociolinguísticos apontam que tais fenômenos não dependem apenas de critérios puramente linguísticos, mas são resultado da combinação de fatores geográficos, sociais, histórico-temporais, sexo, faixa etária, dentre outros. Direcionado o foco para a variação fonológica cujo alvo sejam as vogais do PB, as pesquisas ganharam força com o trabalho de Bisol (1981) e um novo fôlego a partir da proposição do PROBRAVO, projeto voltado exclusivamente para o estudo do sistema vocálico e suas realizações. Sem atribuir importância cronológica ao fato, podemos citar inúmeros trabalhos com essa temática, tais como: Mota (1979) com o falar de Ribeirópolis Sergipe, Bisol (1981) com o falar do Sul, Freitas (2001) com o falar de Bragança Pará, Viegas (1987) com o falar de Belo Horizonte Minas Gerais, Viana (2008) Pará de

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Minas Minas Gerais, Graebin (2008) com o falar de Formosa Goiás, Silveira (2008) com o falar de São José do Rio Preto São Paulo, Santos e Magalhães (este volume) sobre o falar de Araguari-MG. Na verdade, a variabilidade do sistema vocálico pretônico no PB havia sido constatada já no português medieval e fora evocada, contemporaneamente, nos estudos, já considerados clássicos, de Nascentes (1953) e Câmara Jr. (1970), que não se pautaram na metodologia variacionista. Em seu trabalho, Nascentes (1953) dividiu, virtualmente, o país em dois grupos – Norte e Sul – e em sete subfalares (amazônico, nordestino, território incaracterístico, baiano, mineiro, sulista, fluminense):

Figura 1 – Mapa do Brasil: Divisão dos subfalares do Português Brasileiro segundo Nascentes (1953)

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Fonte: Nascentes (1953, p.18). Nessa divisão, o investigador expôs que não havia pronúncia de vogais pretônicas abertas no Sul, região que inclui o dialeto Triângulo Mineiro, exceto em alguns casos de derivação. Câmara Júnior (1970), por sua vez, sugeriu a composição das vogais do português falado em um sistema triangular máximo contendo as sete vogais da sílaba tônica e três subsistemas comportando esses segmentos nas posições átonas, a saber: i) sílaba tônica: /i, e, , a, , o u/; ii) pretônica /i, e, a, o, u/; iii) postônicas nãofinais /i, e, a, u/ e, iv) átona final /i, a, u/. Essa descrição foi pautada, intuitivamente, no dialeto do Rio de Janeiro, ou seja, sem a gravação da fala dos cariocas. Pesquisas, posteriores, com dados de fala de outras regiões do país mostrariam que o sistema átono não é exatamente como proposto por este autor.1 A redução do sistema máximo de sete vogais da sílaba tônica a um número menor nas demais posições é explicada por Câmara Jr pelo processo de neutralização, em que determinados traços vão perdendo seu valor distintivo em detrimento de outros. Bisol (1981), a partir de dados de fala do Rio Grande do Sul, aponta que além da neutralização descrita por Câmara Jr, o sistema vocálico sobre também uma regra de harmonia vocálica por meio de assimilação de traços, em que a vogal pretônica absorve o traço de altura da vogal imediatamente seguinte, independentemente de sua tonicidade. Esta regra de Bisol, por vezes, explica muitos dos fatos relacionados ao alçamento das vogais pretônica. A motivação explícita do traço alto da vogal seguinte como gatilho para o alçamento da vogal pretônica como em /menino/ > [minino], /coruja/ 1 Cf. Santos e Magalhães, este volume; Rezende (2013).

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> [curuja] é a harmonia vocálica, o que sustenta, segundo a autora, a hipótese dos neogramáticos do século XIX. Todavia, há também casos variáveis de alçamento da vogal média pretônica que não são, aparentemente, motivados, como se observa em /pequeno/ > [piqueno], /tomate/ > [tumate]. Além desses, há casos em que o alçamento ou não da vogal define o valor do item lexical, como /peru/ (país) e /piru/ (ave). Essas discussões continuam sendo tema de muitas investigações, quando se trata do sistema vocálico do PB, de modo que sua intensa variabilidade ainda suscita reflexões e investigações por meio de dados de outras regiões do país. E é isto que justifica o presente trabalho, cujo objetivo primeiro é descrever o sistema variável das vogais médias pretônicas no falar ituiutabano com foco no processo de alçamento.

2 O contexto da pesquisa: Ituiutaba (MG) Ituiutaba, antes de ser invadida pelos sertanejos, era uma região habitada por índios Caiapós (ameríndios do grupo Gê-bugres) – não há dados científicos que comprovem que realmente era esse grupo indígena que habitava essa região. No início do século XIX, no ano de 1820, dois sertanejos – Joaquim Antônio de Morais e José da Silva Ramos – chegaram a essa cidade, ambos vindos do Sul de Minas. Após grandes lutas e batalhas com os índios, os sertanejos e seus companheiros conseguiram expulsar os verdadeiros donos da terra e permaneceram na região. Nesse sentido, Ferreira (2007) argumentou que os vários exploradores que passavam pela região consideravam Ituiutaba como fértil e inexplorada, fato que atraía várias pessoas de várias regiões do país e de outros países.

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Petraglia (1953) relatou que italianos chegaram a Ituiutaba no início do século XIX, porém, a permanência deles nessa cidade durou até o início do século XIX. Esses italianos vieram com profissões e nomes definidos, prestando grandes serviços para a cidade, tais como na construção de igrejas católicas, na liderança religiosa, assim como em movimentos políticos, medicina e construções civis. No final do século XIX, São José do Tijuco (nome de Ituiutaba daquela época), recebia o primeiro representante da colônia síriolibanesa, Miguel Zacarias. Logo depois, atraído pela vinda de Miguel a Ituiutaba, Abrão Calil chegou com sua família, que, de forma efetiva, colaborou para o crescimento comercial de Ituiutaba 2. Diante disso, a cidade foi crescendo nos primeiros vinte anos do século XIX e novas famílias sírio-libanesas vieram para essa cidade, atraídas pela potencialidade econômica, pela capacidade comercial da região e pela riqueza do solo. Outras pessoas vieram por meio de convites feitos pelas famílias residentes na cidade. Cabe ressaltar, portanto, que os primeiros estabelecimentos industriais da cidade foram de iniciativa da colônia sírio-libanesa. A cidade teve vários nomes no decorrer de sua história: Campanhas do Tejuco, Capela de São José do Tijuco, Distrito de São José do Tejuco, Curato de São José e Freguesia de São José do Tejuco3. A chegada do Padre Ângelo Tardio Bruno, com intuito de paroquiar a Freguesia de São José do Tejuco, impeliu o progresso. Assim sendo, a região passou a ser Vila Platina em 16 de setembro de 1901, data da emancipação da cidade. Em 1915, o ilustre Senador Camilo Chaves criou o topônimo ameríndio: ITUIUTABA, 2 Cf. Revista Acaiaca, 1953. 3 As palavras Tejuco e Tijuco são escritas de acordo com o material bibliográfico utilizado, e são encontradas de ambas as formas.

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neologismo que significa “Povoação do Rio Tijuco”: I = rio, TUIU = tijuco (lama) e TABA = povoação. Entre 1940 e 1960, Ituiutaba recebeu uma grande quantidade de migrantes nordestinos, principalmente do Rio Grande Norte e Paraíba, com intuito de trabalhar na lavoura, pois, naquela época, Ituiutaba era considerada “Capital do Arroz”. Com a construção da usina de álcool, Triálcool, na década de 1980, o município passou por várias transformações; contudo, a migração nordestina permanecia. Atualmente, com 112 anos de emancipação, Ituiutaba tem aproximadamente 102.020 habitantes (estimativa IBGE 2013) - e é considerada um pólo regional, atendendo com serviços variados (nos setores do comércio, indústria, educação e prestação de serviços) na região do Pontal do Triângulo Mineiro. Ituiutaba localiza-se a 685 quilômetros da capital Belo Horizonte, e seu gentílico é ituiutabano ou tijucano. A área desse município é de 2.598,046 Km2, e localiza-se em uma região banhada pelos rios Tijuco, Prata e bacia do Rio Paranaíba. É importante salientar que, no que tange à educação, Ituiutaba tem, desde a década de 1970, duas instituições de ensino superior – Faculdade Triângulo Mineiro (FTM) e Fundação Educacional de Ituiutaba-Universidade do Estado de Minas Gerais (Feit-UEMG) –, sendo a primeira delas estritamente particular e a segunda, há 20 anos, tornou-se um campus fundacional associado à Universidade do Estado de Minas Gerais. Sediou em 2008 um campus avançado da Universidade Federal de Uberlândia, Campus do Pontal, em que foi implantada a FACIP – Faculdade de Ciências Integradas do Pontal, com nove cursos superiores, garantindo-se, assim, mais qualidade à educação dessa região. Com a implantação do Cefet – Centro Federal de Educação Tecnológica, IFTM – Instituto Federal de Educação,

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Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro, Ituiutaba destacou-se mais ainda no setor educacional, com oferecimento de ensino técnico profissionalizante federal.

3 Constituição da amostra Com objetivo de analisar o processo de alçamento das vogais médias pretônicas em Ituiutaba, fomos a campo entrevistar moradores do município. Todos os informantes selecionados são nascidos na cidade ou nela chegaram até os cinco anos de idade, não se ausentando por tempo superior a dois anos. A amostra utilizada neste trabalho constitui-se de 24 informantes, sendo 12 do sexo masculino e 12 do sexo feminino, estratificados de acordo com o quadro abaixo:

Total

Sexo

Escolaridade (anos de estudo)

Faixa etária

0-11 e mais de 11

15 a 25 anos 26 a 49 anos Acima de 49

(12) FEMININO 24 (12) MASCULINO

Quadro 1 – Estratificação por sexo, escolaridade e faixa etária

A amostra totalizou 2143 dados (Tab. 1, a seguir), sendo que 1514 são ocorrências da vogal média /e/ e 629 da vogal média /o/. Houve 218 ocorrências de alçamento de /e/ e 233 ocorrências de alçamento de /o/. Todos os dados foram submetidos ao Programa estatístico Goldvarb.

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Tabela 1 − Resultado total do alçamento das vogais médias pretônicas Vogais pretônicas

médias Total de alçamentos / Total de % ocorrências Alçamento

/e/

218/1514

14

/o/

233/629

37

Diante desses resultados, é relevante constatar a maior propensão da vogal /o/ a ser alvo do alçamento se comparada com /e/, que a primeira alcançou o índice de 37% de realizações alçadas, quase três vezes mais que a segunda, que alçou em apenas 14% dos casos. Também o trabalho de Santos e Magalhães (este volume) constatou maior alçamento de /o/ com dados do município do Araguari (MG).

4 Definição das variáveis A seguir, apresentamos as variáveis dependente e independentes que serão analisadas neste trabalho. 4.1 Variável dependente Constitui-se como variável dependente o alçamento das vogais médias pretônicas. Tal variável, contudo, pode se apresentar em duas variantes, a saber: - realização alçada: /e/e /o/ > [i] e [u]

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- manutenção: /e/e /o/ = [e] e ]o]

4. 2 Variáveis independentes 4.2.1 Variáveis linguísticas Para a realização desta pesquisa, trouxemos à tona algumas variáveis linguísticas que se referem à estrutura interna da língua. Muitas destas variáveis já foram testadas em outras pesquisas, o que julgamos importante a fim de que comparações fossem feitas com os resultados do Pontal do Triângulo Mineiro. Submetidos os dados ao Programa Goldvarb, apresentamos, na análise dos resultados, apenas as variáveis selecionadas pelo software. Fato importante a ser destacado é que o comportamento das vogais médias pretônicas /e/ e /o/ é bastante divergente, não apenas pela maior submissão da vogal média labial ao processo de alçamento, conforme atestado no quadro 1 acima, mas também pela diferença entre as variáveis linguísticas selecionadas pelo programa estatístico. Ademais, ressalta-se que nenhuma das variáveis extralinguísticas fora selecionada pelo Goldvarb como relevante para o processo de alçamento das vogais médias pretônicas entre os falantes de Ituiutaba. Apresentemos, pois, as variáveis selecionadas: Vogal da sílaba tônica Bisol (1981) foi pioneira ao atestar, com dados de fala do Rio Grande do Sul, que o alçamento das vogais médias pretônicas era prioritariamente favorecido pela presença de uma vogal portadora de traços de altura na sílaba tônica. Assim, também verificaremos a importância variável altura da vogal na fala dos ituiutabano, observando, pois:

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- Vogal alta, como em “querido e coruja” - Vogal média alta, como em “coreto e fogoso” - Vogal média baixa, como em “coléga e relógio” - Vogal baixa, como em “melado e cocada” Contexto fonológico seguinte: modo de articulação da consoante - Contínuo, como em “coceira e elefante” - Não contínuo, como em “cocada e rebanho” O contexto fonológico seguinte: ponto de articulação da consoante - Coronal, como em “goteira e medalha” - Labial, como em “república e coberta” - Dorsal, como em “cocada e seguro”

Distância da vogal pretônica com relação à sílaba tônica - Distância 1 – quando adjacente, como em “segunda” - Distância 2 – na segunda sílaba antes da tônica, como em “aperitivo” - Distância 3 – depois da segunda sílaba antes da tônica, como em “religião e especialidade”

5 Resultados Discutiremos, separadamente os resultados referentes às duas vogais, haja vista que as variáveis selecionadas pelo programa Goldvarb como condicionadoras do processo de alçamento foram não foram as mesmas para /e/ e /o/. Comecemos com a vogal coronal.

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5.1 O alçamento da vogal média /e/

As rodadas de stepping up e stepping down permitiram que o Programa Goldvarb selecionasse as variáveis que favoreceram ou desfavoreceram o alçamento de /e/ no falar Ituiutabano. Assim sendo, apresentaremos as variáveis relevantes para o alçamento de /e/, reafirmamos que nenhuma variável externa fora selecionada pelo programa. - Vogal da sílaba tônica Tabela 2 − Vogal da sílaba tônica4 Vogal da sílaba Número de ocorrências % tônica com alçamento

Peso relativo

Vogal alta

145/250

37

.85

Vogal média alta

17/505

3

.25

Vogal baixa Input: 0.095 Significance: 0.000

5/174

3

.22

Conforme nos mostra a Tabela acima, o programa selecionou a variável vogal alta na sílaba tônica como o contexto mais favorável para o alçamento de /e/, com peso relativo .85. Esses resultados 4 Numa primeira rodada, o programa selecionou como principal favorecedor ao alçamento de /e/ a presença da uma vogal média baixa tônica, isso devido à grande repetição dos itens “sinhora” e “simestre”. realizamos uma segunda rodada excluindo o fator vogal média baixa, apresentado na Tab. 2.

contexto na sílaba Por isso, resultado

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corroboram a regra de harmonia vocálica proposta por Bisol (1981) e demonstram que, assim como em outros dialetos já investigados no PB, esta parece ser uma regra fixa no falar brasileiro. Salientamos que neste trabalho não houve uma análise separada dos efeitos das vogais altas /i/ e /u/ no alçamento de /e/ - Contexto fonológico seguinte: modo de articulação da consoante Tabela 3 − Contexto fonológico seguinte: modo de articulação Número de Modo de Peso ocorrências com % articulação relativo alçamento Contínuo

Não contínuo

40/957

4

.30

178/557

32

.81

Input: 0.095 Significance: 0.000 Diante das estatísticas supramencionadas, o contexto fonológico seguinte modo de articulação não contínuo foi favorecedor com peso relativo de .81. Resultados semelhantes foram enxergados por Bisol (1981) e Santos e Magalhães (este volume). Contexto fonológico seguinte: ponto de articulação Tabela 4 − Contexto fonológico seguinte: ponto de articulação

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Ponto de articulação

Números de ocorrências com alçamento

%

Peso relativo

Coronal

165/1251

13

.51

Labial

5/144

3,5

.20

Dorsal

48/119

40

.82

Input: 0.130 Significance: 0.000 A Tab. 4 nos revela que o contexto fonológico seguinte dorsal foi o mais favorecedor para o alçamento com peso relativo de .82. Nossos resultados coincidem com aqueles obtidos por Bisol (1981) e Silva (1989); portanto, é possível inferir que a presença de consoante dorsal seguindo a vogal pretônica /e/ tem se regularizado no PB como fator favorecedor do alçamento da vogal. 5.2 O alçamento da vogal média /o/ Passemos à apresentação dos resultados referentes ao alçamento da vogal labial /o/ em Ituiutaba. Notemos, de antemão, que os contextos que favorecem à elevação de /o/ não coincidem totalmente com os descritos acima para a vogal /e/. - Vogal da sílaba tônica Tabela 5: Vogal da sílaba tônica

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Vogal da sílaba tônica

Número de ocorrências com alçamento

%

Peso relativo

Vogal alta

131/206

64

.77

Vogal média baixa

37/59

63

.76

Vogal baixa

16/103

15

.26

Média alta

7/60

12

.20

Input: 0.340 Significance: 0.000 Assim como apresentado para a descrição do alçamento de /e/, também para a elevação de /o/ o contexto que mais favorece este processo é a presença de uma vogal alta na sílaba tônica, conforme nos revela a Tab. 5, seguido de muito perto pelo fator vogal médiabaixa. Este último resultado é, de algum modo, surpreendente, se compararmos com o obtido por Santos e Magalhães (este volume) a partir de dados de Araguari, que não mostram qualquer favorecimento da vogal média baixa para o alçamento de /o/. Casos como buneca, butecu, cumérciu, custela exemplificam este fenômeno. As demais vogais desfavorecem significativamente o processo, com peso relativo abaixo de .30.

- Tipo de sílaba da vogal pretônica Tabela 6 − Tipo de sílaba em que ocorre a vogal média pretônica

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Aberta

Número de ocorrências com alçamento 226/410

Fechada

7/219

Tipo de sílaba

%

Peso relativo

55

.78

3

.10

Input: 0.259 Significance: 0.000 Constatou-se, como se vê na tabela 6, que o contexto sílaba leve ou aberta é favorecedor do alçamento de /o/, com peso relativo igual a .78. Numa posição extremamente oposta, sílabas fechadas ou pesadas desfavorecem por completo a elevação da vogal média labial. Célia (2004), com dados de Nova Venécia (ES) também obtivera resultados semelhantes aos nossos, assim como Santos e Magalhães (este volume) para Araguari. - Distância da Sílaba Tônica

Distância da sílaba tônica

Tabela 7 − Distância da sílaba tônica Números de ocorrências com % Peso relativo alçamento

1

207/428

48

.64

2

24/177

14

.23

3

2/24

8

.10

16

Input: 0.341 Significance: 0.000 A Tab. 7 nos mostra que o contexto favorecedor ao alçamento, no que respeita a distância da vogal /o/ pretônica com relação à tônica é a adjacência daquela a esta, enquanto a distância 3 desfavorece o processo. Portanto, quanto mais próxima a vogal pretônica está da sílaba tônica, mas propícia ao alçamento ela será. Nossos resultados condizem com a proposição de Bisol (1981) que, baseada nos resultados obtidos pela análise de fala dos gaúchos, afirma que as distâncias mais afastadas seriam menos propensas ao alçamento. Para finalizar, ratificamos que as variáveis extralinguísticas sexo, faixa etária e anos de escolaridade não foram selecionadas pelo programa Goldvarb como condicionadoras do processo de alçamento das vogais médias pretônica em Ituiutaba. Portanto, este fenômeno, em sua realização variável não pode ser considerado como estigmatizado ou, de algum modo, em processo de mudança no Pontal do Triângulo Mineiro.

6 Conclusão Um dos grandes méritos deste trabalho, em nossa avaliação, foi colocar o Pontal do Triângulo Mineiro no mapa linguístico do Brasil. Isto porque estamos certos de que esta é a primeira pesquisa empreendida a partir de dados de fala desta região. Nossos dados comporão o banco Gefono – Grupo de Estudos em Fonologia do Triângulo Mineiro – da Universidade Federal de Uberlândia que poderá ser utilizado para pesquisas futuras.

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Acerca do fenômeno aqui tratado – o alçamento variável das vogais médias pretônicas /e/ e /o/ é possível concluirmos que a regra de harmonia vocálica, como definida por Bisol (1981) está presente, e de maneira bastante vigorosa, no falar ituiutabano. Surpreendente é o fato de as vogais médias baixas também favorecerem o alçamento, o que não pode ser explicado por uma regra de harmonia, já que, neste caso, promove-se um distanciamento entre os pontos de altura da vogal tônica e da média pretônica labial. Também o fato de o programa não ter selecionado qualquer variável externa (sexo, faixa etária, anos de escolaridade) pode soar como surpresa o que nos incita a realizar novas investigações com, possivelmente, um maior número de informantes. Nos demais casos, nosso trabalho vai na direção de outras pesquisas já empreendidas no PB acerca da elevação das vogais médias em posição pretônica.

Referências

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