O Ambiente Criativo No Setor Das Artes Visuais: Pesquisa Sobre As Políticas Públicas De Fomento Da Economia Criativa Na Cidade de Natal/RN

June 3, 2017 | Autor: C. Rn | Categoria: Economia Criativa, Artes Visuais
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

LEVI ALVES GARCIA

O AMBIENTE CRIATIVO NO SETOR DAS ARTES VISUAIS: PESQUISA SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA NA CIDADE DE NATAL/RN

NATAL/RN 2015

LEVI ALVES GARCIA

O AMBIENTE CRIATIVO NO SETOR DAS ARTES VISUAIS: PESQUISA SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA NA CIDADE DE NATAL/RN

Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso Superior de Bacharelado em Gestão de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências legais como requisito parcial à obtenção do Título de Bacharel em Gestão de Políticas Públicas. Orientador: Prof. Rocha da Cruz

NATAL/RN 2015

Dr.

Fernando

Manuel

LEVI ALVES GARCIA

O AMBIENTE CRIATIVO NO SETOR DAS ARTES VISUAIS: PESQUISA SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA NA CIDADE DE NATAL/RN

Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso Superior de Bacharelado em Gestão de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências legais como requisito parcial à obtenção do Título de Bacharel em Gestão de Políticas Públicas. Orientador: Dr. Fernando Manuel Rocha da Cruz

Aprovado em ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

__________________________________ Prof. Dr. Fernando Manuel Rocha da Cruz (UFRN/CCHLA/DPP) Presidente __________________________________ Profª Drª Sara Raquel Fernandes Queiroz de Medeiros (UFRN/CCHLA/DPP) Examinador Interno __________________________________ Prof. Dr. Luciano César Bezerra Barbosa (UFRN/CCHLA/DEART) Examinador Externo

À minha amada mãe Maria Lúcia, e a memória de meu avó Pedro Sebastião.

“A vida está cheia de desafios que, se aproveitados de forma criativa, transformam-se em oportunidades”.

Marxwell Maltz

AGRADECIMENTOS

Agradeço,

Primeiramente a Deus, pela oportunidade de ter ingressado na UFRN e ter me permitido realizar o curso que eu escolhi para minha formação acadêmica. Ao meu orientador Prof. Dr. Fernando Cruz, pela oportunidade que me deu em fazer parte do grupo de pesquisa Cidades Contemporâneas, e pelas orientações, incentivo e apoio à minha pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso. A todos os entrevistados, Mariana Zulianeli, Hanna Lauria, Julio Siqueira e Flávio Freitas que tornaram esse trabalho possível. A todos os professores do Departamento de Políticas Públicas pelos conhecimentos passados ao longo do curso. A toda equipe da Secretaria Municipal de Saúde do Distrito Sanitário Norte II, em especial a Ruth Oliveira, Maria Alaíde e Ana Paula Queiroz, que me receberam de braços abertos, em minha primeira experiência de estágio. A todos meus amigos do curso de GPP, principalmente a Pedro Henrique, Iasmin Costa, Bárbara Vieira, Ítala Bulhões, Kennedy Michel e Eucana Samuel que acompanharam junto a mim essa caminhada de curso, desde 2012. Aos meus familiares, Lucia Alves (mãe), José Garcia (pai), Francisco Canindé (padrasto), Leandro e Leonardo (irmãos) pela compreensão aos momentos que me fiz ausente devido as atividades do curso, e por sempre estarem apoiando minhas decisões. A todos meus amigos pela amizade e confiança, principalmente a Lorenna Costa, a mais especial, que vai além de uma simples amiga. Agradeço a todos que não citei, mas que participaram de minha caminhada até aqui, e que de alguma forma contribuíram positivamente ao longo desses três anos de curso.

Obrigado

RESUMO

A cidade criativa foi definida inicialmente como um espaço urbano, onde a cultura e os artistas locais caracterizam a cidade pelas suas atividades. Posteriormente, a cidade criativa foi definida pela existência de indústrias criativas. Há ainda a definição de que cidade criativa seja aquela cidade que possui e desenvolve a classe criativa. O fato é que em toda cidade criativa existe um ambiente criativo, e a criatividade está presente em todos esses conceitos. Contudo a criatividade não é a única que influência o ambiente criativo. As redes, o ambiente de trabalho, a cidade e suas políticas públicas também influenciam o ambiente criativo. Assim, esse trabalho busca compreender o ambiente criativo no setor das artes visuais na cidade de Natal com ênfase na área da pintura, analisando como os profissionais desse setor, considerado de baixo impacto econômico e forte dependência de apoio estatal, estão inseridos no ambiente criativo da cidade de Natal. Neste trabalho foi utilizada a metodologia qualitativa, com aplicação de entrevista semiestruturadas a três artistas visuais, além de um gestor responsável pela cultura em Natal. Assim, obtivemos a visão de ambos atores envolvidos: artistas e gestão, permitindo analisar o ambiente criativo no qual os artistas estão inseridos. Concluímos que os poderes públicos devem criar condições através das políticas públicas para que os artistas dependam menos de editais, e mais de seu empreendedorismo junto ao setor privado, fortalecendo o ambiente criativo e as ideias criativas. Palavras-Chaves: Ambiente Criativo. Artes Visuais. Cidade Criativa. Economia Criativa.

ABSTRACT

The creative city was initially defined as an urban space, where culture and local artists characterize the city for their activities. Subsequently, the creative city was defined by the existence of creative industries. There is also the definition of that creative city is that city that owns and develops the creative class. The fact is that in every creative city there is a creative environment, and creativity is present in all these concepts. But creativity is not the only influence the creative environment. Networks, the working environment, the city and its public policies also influence the creative environment. Thus, this work seeks to understand the creative environment in the visual arts sector in Natal with an emphasis on painting area, analyzing how professionals in this sector, considered low economic impact and heavy reliance on state support, are included in the creative environment of Natal. In this work we used the qualitative methodology with semi-structured interview that was applied to three visual artists, as well as a responsible steward in the Christmas culture. So, we had the vision of both stakeholders: artists and management, allowing analyze the creative environment in which artists are inserted. We conclude that public authorities must create conditions through public policies for artists rely less notices, and over their entrepreneurship with the private sector, strengthening the creative environment and creative ideas. Keywords: Creative Environment. Visual arts. Creative City. Creative Economy.

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Classificação da indústria criativa da UNCTAD ...................................... 20 Figura 02 - Estado do Rio Grande do Norte (RN) ..................................................... 21 Figura 03 - Obra “Vícios e Virtudes” de Julio Siqueira ............................................. 25 Figura 04 - Obra “Lady” de Hanna Lauria ................................................................ 27 Figura 05 - Obra “Jazz” de Mariana Zulianeli ........................................................... 29

LISTA DE QUADROS Quadro 01 – Artes Visuais em Natal ......................................................................... 22

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DEART – Departamento de Artes DCMS – Departamento de Cultura, Mídia e Esportes IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística FIRJAN – Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro FUNCART – Fundação Cultural Capitania das Artes GUAP – Grupo Universitário de Aquarela e Pastel IFRN – Instituto Federal do Rio Grande do Norte IPCA - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo RN – Rio Grande do Norte SEC – Secretaria de Economia Criativa UNCTAD - Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte WIPO – Organização Mundial para Propriedade Intelectual

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11 2. ECONOMIA CRIATIVA: MARCOS REGULATÓRIOS E SETORES CRIATIVOS 15 3. AS ARTES VISUAIS NA CIDADE DE NATAL/RN ................................................ 21 3.1 O Ambiente Criativo Das Artes Visuais................................................................ 23 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 34 APÊNDICES.............................................................................................................. 36

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1. INTRODUÇÃO

A cultura que sempre foi vista pelo seu fraco impacto econômico e sua grande dependência de apoio financeiro estatal, começa a ganhar maior destaque na economia nesse novo século. Para Miguez (2007, p. 96), a cultura está cada vez mais presente na vida social, contudo, é em seu âmbito econômico que a cultura passa a ganhar maior atenção, se tornando objeto de estudo de discentes e pesquisadores das universidades e de police makers1 do mundo inteiro. A “economia criativa” e “indústrias criativas” são dois termos contemporâneos que explicam a relação entre cultura, economia e gestão. A economia criativa tem se configurado como um setor econômico promissor, ganhando assim, nas duas últimas décadas, a atenção de políticos e estudiosos para a criação e implementação de políticas públicas para o fomento dessa nova economia. No Brasil, com o reconhecimento do governo da importância das atividades criativas na sociedade e na economia brasileira, o Ministério da Cultura, cria a Secretaria de Economia Criativa (SEC), juntamente com seu plano de gestão2 para os anos de 2011-2014. As artes visuais, subcategoria do campo das expressões culturais pela definição dos setores criativos da SEC, na cidade de Natal será objeto de estudo desse trabalho. As artes visuais são as formas de arte em que se utiliza a visão como principal meio de apreciação. Esse meio de arte está diretamente relacionado com a beleza estética e com a criatividade do ser humano, capaz de criar obras e manifestações artísticas agradáveis aos olhos. (ARTESVISUAIS, 2015). As artes visuais são muito amplas, abrangendo diversas áreas. “A categoria de artes visuais das indústrias criativas abrange antiguidades, pintura, escultura e fotografia, bem como as „outras artes visuais‟, uma categoria solta composta de gravuras, esculturas, litografias, colagens e outros ornamentos.” (UNCTAD, 2010, p. 147) 1

Termo inglês que se refere aos responsáveis pelas diretrizes políticas e/ou formuladores de políticas. 2 Disponível em: acesso em: 23 Julho 2015.

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Segundo o relatório da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), a comercialização de obras de arte é feita de forma diferente nas economias desenvolvidas e em desenvolvimento. Enquanto em países desenvolvidos são realizados as grandes compras e vendas de obras de artes, principalmente nos museus e galerias, nos países em desenvolvimento é raro. Isto ocorre devido a pouca presença de estruturas formais, de legislação apropriada e de redes de segurança social em países em desenvolvimento, desta forma, o artista não consegue sobreviver como artista em tempo integral, necessitando de outra fonte de renda. Assim, a grande comercialização de obras de arte em países em desenvolvimento é feita de forma informal, principalmente para turistas. Contudo, recentemente, a arte contemporânea dos países em desenvolvimento começa a ganhar atenção dos mercados internacionais. A UNCTAD ainda acrescenta sobre o valor e venda das artes: “Nas artes visuais, o valor está presente na exclusividade e na originalidade de uma obra de arte. Quanto mais rara for, mais valor ela possui. As vendas são altamente personalizadas e os produtos são criados com uma singularidade que torna as obras de arte difíceis de serem comparadas.” (UNCTAD, 2010, p. 147). Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo geral analisar como o ambiente criativo da cidade de Natal pode influenciar os artistas locais do setor de artes visuais, no campo da pintura. E em decorrência dele, alguns objetivos específicos se tornam indispensáveis alcançar, tais como: Analisar estruturas e ambientes organizacionais dos artistas locais no setor de Artes Visuais; Entender a origem das idéias criativas dos artistas; Analisar as redes criativas e sua importância para o setor das Artes Visuais; Aferir como a cidade de Natal influência positivamente e negativamente no setor de Artes Visuais; e apresentar os embasamentos teóricos que fundamentam os conceitos de indústria criativa e economia criativa. Assim, através deste trabalho será possível compreender como as políticas públicas de fomento à economia criativa, as estruturas e instituições, como também o ambiente criativo pode influenciar o setor de artes visuais, na cidade de Natal. Para o desenvolvimento da pesquisa, decidimos optar por uma metodologia qualitativa. A pesquisa de metodologia qualitativa, diferente da quantitativa, não expõe uma estatística através de números, mas sim, procura

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interpretar a realidade do objeto estudado através da análise indutiva do pesquisador. Assim, a pesquisa qualitativa trabalha com dados qualitativos, ou seja, informações coletadas através do pesquisador por meio de entrevistas, como também informações que não são expressas por palavras, tais como videos, fotografias, pinturas, e etc. Para Cassel e Symon (1994, p. 127-129) as características básicas da metodologia qualitativa são: Foco na interpretação, não dando relevância à quantificação; ênfase na subjetividade ao invês da objetividade, pois o foco é na perspectiva dos participantes; Flexibilidade no processo de conduzir a pesquisa, haja vista que o pesquisador trabalha com situações que não sabe que rumo a pesquisa o levará; Foco no processo, e não no resultado, pois se quer entender a realidade do objeto estudado, e não se tem um objetivo pré-determinado como na pesquisa quantitativa; E reconhecimento do impacto do processo de pesquisa, sobre a situação de pesquisa, isto é, admite-se que o pesquisador pode influênciar no objeto estudado em determinadas situações. De início, faremos uma pesquisa bibliográfica do objeto de estudo usando bibliografia nacional e internacional de autores importante sobre a temática. Segundo Marconi e Lakatos (2010, p.183) a pesquisa bibliográfica tem a finalidade de colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, falado ou filmado, abarcando todo material bibliográfico já publicado referente ao tema de estudo. Concluem Marconi e Lakatos que “a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras”. (MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 183). A revisão bibliográfica, juntamente com o levantamento de dados estatístico, contribuirá para planejar e definir as entrevistas semiestruturadas com roteiro previamente elaborado, que serão aplicadas a três artistas visuais locais. A entrevista, segundo Marconi e Lakatos (2010, p. 195-196), é um diálogo profissional entre duas pessoas, que tem como objetivo obter informações sobre determinado assunto. Acrescentam: “É um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social”. Neste trabalho iremos utilizar a entrevista do tipo semiestruturada. As entrevistas semiestruturada são caracterizadas pelo uso de um roteiro prévio,

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porém, há a liberdade do entrevistador colocar outras questões, tendo a possibilidade de adicionar perguntas que ache necessário para “elucidar questões que não ficaram claras ou ajudar a recompor o contexto da entrevista, caso o informante tenha „fugido‟ ao tema ou tenha dificuldades com ele.” (QUARESMA; BONI. p. 75, 2005) Para Lüdke e André (1986, p. 34) um dos pontos positivos da entrevista “é que ela permite a captação imediata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos”. Marconi e Lakatos (2010, p. 198) atribui algumas vantagens ao uso da entrevista como técnica de pesquisa: Utilização universal, melhorando a amostragem, pois o entrevistado não precisa saber ler ou escrever; Flexibilidade na aplicação, possibilitando o entrevistado explicar melhor a pergunta, garantindo o entendimento da questão; Oportunidade de dados alternativos que não se encontra em fontes documentais. Algumas limitações (ou desvantagens) do uso de entrevista são: Possibilidade do entrevistado ser influenciado pelo questionador; Dificuldade de expressão ou comunicação de ambas as partes; e retenção de dados importantes, por receio do entrevistado em ter sua identidade revelada (MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 198) A presente monografia é constituída por dois capítulos, além desta introdução e das considerações finais. No primeiro capítulo, apresentaremos os principais conceitos de economia criativa, setores e indústrias criativas, no qual temos como referência autores de grande relevância na temática. No segundo capítulo, iremos analisar dados estatísticos sobre os setores criativos em Natal, expor e analisar o resultado das entrevistas aos artistas visuais, expondo

seus

projetos,

e

seus

ambientes

organizacionais.

Além

disto,

apresentaremos as políticas públicas que influenciam o setor de artes, e as propostas de políticas públicas de fomento à economia criativa no setor das artes visuais, com ênfase para a área da pintura.

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2. ECONOMIA CRIATIVA: MARCOS REGULATÓRIOS E SETORES CRIATIVOS

Neste capítulo, vamos a abordar alguns conceitos importantes para nosso trabalho, analisando como a economia criativa se desenvolveu no Brasil e no Mundo, contextualizando com a necessidade de se fomentar os setores criativos. Segundo Florida (2011, p. 4), após os anos 50, a sociedade teve uma grande mudança em seus valores culturais e sociais, isso devido à ascensão da criatividade, que impôs novas práticas. A força motriz é a ascensão da criatividade humana como agente central na economia e na vida em sociedade. Seja no trabalho ou em outras esferas da vida, nunca a criatividade foi tão valorizada e cultivada com tamanho empenho. Assim, a economia é movida pela criatividade humana, pois além de ser um fator determinante da vantagem competitiva, está presente praticamente em todos os setores da economia, da indústria automobilística à moda. (FLORIDA, 2011, p. 4). Segundo Florida (2011, p. 21), atualmente a criatividade é fator fundamental para a economia, haja vista que tem gerado grandes transformações, resultando em novas tecnologias, novos setores, novos recursos e outros fatores econômicos, que assim passa a ecoar um éthos criativo na nossa vida e sociedade. Florida define éthos como “o espírito ou natureza fundamental de uma cultura”. A criatividade é essencial para a vida e trabalho nos dias atuais, pois além de gerar avanços nos padrões de vida, também impulsiona vantagens competitivas de mercado. Sendo assim, é essencial a inovação em novos métodos para despertar e aplicar a criatividade de forma sistemática. (FLORIDA, 2011, p. 21-22). Mão de obra, capital e recursos naturais não são mais considerados recursos básicos para os economistas. Conhecimento e informação são os grandes propulsores da economia, sendo estes os recursos econômicos básicos, que são “ferramentas” e “material” para a criatividade, gerando “inovação” para os diversos setores econômicos, em especial para os das indústrias criativas. Logo, a inovação é resultado da criatividade. (FLORIDA, 2011, p. 44) O termo Indústria Criativa surgiu em 1970, quando a UNESCO e o Conselho da Europa deram início à pesquisa sobre esse “novo” campo econômico. Contudo, a primeira política cultural surgiu em 1994 na Austrália, chamada “Nação Criativa”.

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Assim a cultura começa a ganhar atenção e ser reconhecida pelos gestores e atores políticos, pela sua capacidade econômica e seu valor identitário (LANDRY, 2011, p.78). Além da UNESCO, outras instituições promovem pesquisas importantes no campo cultural, dentre as mais relevantes podemos destacar a Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e a Organização Mundial para a Propriedade Intelectual (WIPO). (CRUZ, 2014a, p. 16) Em 1997, o termo se expandiu para o Reino Unido, onde o partido Trabalhista Inglês (ou New Labour), em seu manifesto pré-eleitoral, identificou as indústrias criativas como um setor particular da economia que necessitava de políticas públicas específicas para estimular seu crescimento economico. Assim foi criado pelo governo britânico o Departamento de Cultura, Mídia e Esportes (DCMS), responsável pelo fomento das políticas públicas que tinham como principal objetivo a melhoria da qualidade de vida britânica através do fomento às atividades culturais e esportivas. No entanto, o principal objetivo dessa iniciativa foi revitalizar a economia nacional tendo em vista a perda de espaço que as indústrias de base britânicas vinham sofrendo no final do século XX. (CAIADO, 2011, p. 15-16) Assim, o governo Britânico fortaleceu e inovou as atividades criativas para conseguir maior competitividade no acirrado mercado global. O termo Indústria Criativa ganhou popularidade mundial no início do século XXI, surgindo inúmeros debates em torno dos setores e sua influência na economia. Pode se dizer que as indústrias criativas são um dos setores mais dinâmicos do comercio internacional, tendo crescimento médio de 18% entre 2002 e 2008. Contudo, apesar de seu crescimento relevante, existem alguns obstáculos que estão prejudicando sua expansão, que segundo a Unctad são: “baixa disponibilidade de recursos financeiros para o financiamento de negócios, baixo investimento em capacitação dos agentes atuantes nas cadeias produtivas e pouca infraestrutura, especialmente no que se refere à distribuição e à difusão de seus bens e serviços” (UNCTAD, 2010, p. 16) Howkins (2001), argumenta que um fator característico das indústrias criativas reside no seu potencial de gerar propriedade intelectual. Acrescentando ainda que as indústrias criativas podem ser caracterizadas pela soma de quatro setores: as indústrias do copyright, das patentes, das marcas registradas e do design no sentido de concepção, de geração de ideias.

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Segundo Leadbeater (2004), as indústrias culturais e criativas não são importantes apenas porque são uma parte grande e crescente da economia. Elas importam porque trazem benefícios ao resto da economia e da sociedade. Elas têm um efeito multiplicador. Isto se deve em parte à maneira como as habilidades e os pensamentos criativos são essenciais à maneira das indústrias. Em um conceito mais recente, a DCMS (2011) define indústrias criativas como “Indústrias que têm suas origens na criatividade, habilidade e talento individuais e que têm um potencial de criação de riqueza e empregos por meio da geração e exploração da propriedade econômica”. Para a UNCTAD, as Indústrias Criativas podem ser definidas como:

Os ciclos de criação, produção e distribuição de bens e serviços que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos. Elas compreendem um conjunto de atividades baseadas no conhecimento que produzem bens tangíveis e intangíveis, intelectuais e artísticos, com conteúdo criativo e valor econômico. (UNCTAD, 2010, p. 16)

Sobre o conceito de economia criativa, esta pode ser definida como o “conjunto distinto de atividades assentadas na criatividade, no talento ou na habilidade individual, cujos produtos incorporam propriedade intelectual” (MIGUEZ, 2007, p. 9697). Já Cruz (2014b) propõe a seguinte definição de economia criativa:

Atividades econômicas que têm objeto a cultura e a arte, ou que englobam elementos culturais ou artísticos de modo a alterar o valor do bem ou serviço prestado. Deste modo, compreendemos o ciclo econômico de criação, produção, distribuição, difusão, consumo, fruição de bens e serviços que têm por objeto a arte e a cultura ou que incorporam elementos culturais ou artísticos. (CRUZ, 2014b, p. 3)

Desse modo, o primeiro autor coloca ênfase no elemento criativo, enquanto o segundo, prefere colocar no centro da definição os elementos culturais e artísticos que não deixam de se inspirar na “criatividade, no talento ou na habilidade individual”, mas que permitem, contudo, afastar outras atividades sem esse carácter cultural e artístico. No Brasil, diante do reconhecimento dos poderes públicos da importância da Economia Criativa, o Ministério da Cultura criou em 1° de junho de 2012, a

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Secretaria da Economia Criativa juntamente com seu plano de gestão para os anos de 2011 à 2014, como a missão de formular, implementar e monitorar políticas públicas para o desenvolvimento local e regional, priorizando o apoio e o fomento aos profissionais e aos micro e pequenos empreendimentos criativos brasileiros. Deste modo, as políticas públicas de fomento a economia criativa do plano têm como princípios: inclusão social, sustentabilidade, inovação e diversidade cultural. (BRASIL, 2012). Os objetivos da Secretaria da Economia Criativa, alinhados às diretrizes do Plano Nacional de Cultura, são:  Capacitação e assistência ao trabalhador da cultura (trabalhador criativo): Promover a educação para as competências criativas através da qualificação de profissionais capacitados para a criação e gestão de empreendimentos criativos; como também gerar conhecimento e disseminar informação sobre economia criativa;  Estimular o desenvolvimento da Economia Criativa através: de apoio a elaboração de políticas públicas para a potencialização e o desenvolvimento da economia criativa; Mapear potencialidades de desenvolvimento local e regional; Identificar a criação de novos polos criativos para apoiá-los, gerar novos empreendimentos, trabalho e renda no campo dos setores criativos; Promover a articulação e o fortalecimento dos micro e pequenos empreendimentos criativos; Apoiar a alavancagem da exportação de produtos criativos; Apoiar a maior circulação e distribuição de bens e serviços criativos; Desconcentrar regionalmente a distribuição de recursos destinados a empreendimentos criativos, promovendo um maior acesso a linhas de financiamento

(incluindo

o

microcrédito);

Ampliar

a

produção,

distribuição/difusão e consumo/fruição de produtos e serviços da economia criativa;  Turismo Cultural: fundamental para o desenvolvimento socioeconômico do país. No entanto, percebê-lo como única interface intersetorial relevante para ser destacada no Plano Nacional de Cultura, parece limitante, já que a cultura e, mais especificamente, a economia criativa são de natureza transversal a muitos outros setores. Desta forma, para além do turismo cultural, consideramos como objetivo da SEC: Promover o desenvolvimento

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intersetorial para a Economia Criativa.  Regulação Econômica (Marcos Legais): Efetivar mecanismos direcionados à consolidação institucional de instrumentos regulatórios (direitos intelectuais, direitos trabalhistas, direitos previdenciários, direitos tributários, direitos administrativos e constitucionais).

No Brasil, o Plano da Secretaria da Economia Criativa prefere usar o conceito de setores criativos, ao invés de indústrias criativas, alegando que a melhor tradução do conceito inglês “creative industries” é o de setores criativos (BRASIL, 2012, p.2122) Não há, contudo, um consenso generalizado quer sobre o conceito de economia criativa, quer sobre os setores que estão incluídos neste conceito. O Plano da Secretaria da Economia Criativa adota, no entanto, a seguinte definição para setores criativos: São aqueles cujas atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é determinante do seu valor, resultando em produção de riqueza cultural, econômica e social. (BRASIL, 2012, p. 23)

Os setores criativos definidos no Plano, são:  No campo do Patrimônio: Patrimônio Material; Patrimônio Imaterial; Arquivos; e Museus.  No campo das Expressões Artísticas: Artesanato; Culturas Populares; Culturas Indígenas; Culturas Afro-brasileiras; Artes Visuais; e Arte Digital.  No campo das Artes de Espetáculo: Dança; Música; Circo; e Teatro.  No campo do Audiovisual/do Livro, da Leitura e da Literatura: Cinema e Vídeo; Publicações e Mídias impressas.  E por último, no campo das Criações Culturais: Moda; Design e Arquitetura. (BRASIL, 2012, p. 29)

Contudo, existem outras classificações para os setores criativos, como, por exemplo a da UNCTAD (2010) apresentado na Figura 01:

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Figura 01 – Classificação da indústria criativa da UNCTAD

Fonte: Relatório UNCTAD 20103

A UNCTAD, divide as indústrias criativas em quatro grandes campos, com seus respectivos setores:  Patrimônio: Cultural sites; e Expressões culturais tradicionais.  Artes: Artes Visuais; e Artes Cênicas.  Mídia: Editoras e Mídias impressa; e Audiovisual.  Criações funcionais: Design; Serviços Criativos; e Novas Mídias.

Assim, podemos perceber que a principal diferença entre as duas classificações dos setores criativos, está apenas no uso de uma nomenclatura diferenciada.

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Disponível em < http://unctad.org/pt/docs/ditctab20103_pt.pdf> Acesso em: 12 de ago 2015

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3. AS ARTES VISUAIS NA CIDADE DE NATAL/RN

Nesse capítulo, serão apresentados alguns dados e informações sobre a cidade Natal e o setor das artes visuais, como também o resultado das entrevistas que foram realizadas com artistas e o gestor municipal. O nome Natal da capital potiguar, tem ligação direta com o dia da sua fundação, 25 de dezembro de 1599. Porém, a origem da cidade se inicia com a construção de um forte para se manter o território sob influência portuguesa. Assim, iniciando a povoação efetiva da primeira cidade do estado Potiguar. Atualmente, é estimado que Natal possua uma população de 862.044 habitantes. Sua área territorial é 167,264 km² e sua densidade demográfica é de 4.805,24 hab/km² (IBGE, 2014) Figura 02– Estado do Rio Grande do Norte (RN)

Fonte: IBGE, 2014.

Na cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, é clara a presença da economia criativa, haja vista que, a capital representa um dos principais pontos

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turísticos do nordeste brasileiro. Isso deve-se pelo seu clima e pela grande diversidade de praias no litoral, assim como pela sua produção cultural, bares, gastronomia e hospitalidade, sendo frequentada por turistas do mundo inteiro. O patrimônio cultural da cidade é rico no que se refere à diversidade cultural, música, dança, expressões culturais e artes, sendo este último, o objeto de estudo deste trabalho. Quadro 01 - Artes Visuais em Natal

RN- Natal Segmento: Patrimônio e Artes Artista (Artes visuais) Profissionais

2013

Total de profissionais para o município Natal Total de profissionais para o Estado Rio Grande do Norte

41 80

Total de profissionais no Brasil

4.620

Renumeração

2013

Renumeração Média para o município Natal Renumeração Média para para o Estado Rio Grande do Norte Renumeração Média no Brasil

R$1.656,12 R$1.289,53 R$1.894,60

Valores a preço de 2013 (IPCA - IBGE)

Fonte: Sistema Firjan, 2013

Acima, podemos observar o quadro no qual apresentamos o resultado de uma pesquisa realizada pelo sistema Firjan no ano de 2013, na qual quantifica o segmento de Patrimônio e Artes no setor das Artes Visuais na cidade de Natal, Rio Grande do Norte e no Brasil. Podemos observar que na cidade de Natal existem 41 profissionais no setor, com renumeração média de R$ 1.656,12. No Estado do RN existem 80 profissionais, e no Brasil 4.620, com salários de R$ 1.289,53 e R$1.894,60, respectivamente. Assim, notamos que há poucos artistas registrados no

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município, e renumeração acima da média do Estado, contudo, renumeração inferior à média nacional.

3.1 O Ambiente Criativo das Artes Visuais

Neste subcapítulo vamos apresentar o resultado das entrevistas que realizamos com os atores envolvidos: artistas e gestão municipal. O roteiro da entrevista aplicado aos artistas aborda questões do ambiente criativo da cidade de Natal, isto é, de que forma o ambiente criativo, a estrutura e o ambiente organizacional, redes criativas e a cidade podem afetar o trabalho do artista. Perguntamos também os pontos positivos, negativos e a opinião sobre as políticas públicas que favorecem e/ou poderiam favorecer, na visão do artista, o setor das artes visuais em Natal. Para se ter uma melhor visão do cenário artistico de Natal, decidimos entrevistar, o secretário adjunto de artes integradas da instituição FUNCARTE – Fundação Capitania das Artes. Nossa seleção no setor das artes visuais se deu com três artistas pintores que atuam na área, tanto em exposições, como em salões e galerias de arte, como também na comercialização de seus trabalhos. Os artistas entrevistados possuem perfis de escolaridade diferentes: o primeiro possui nível médio completo, o segundo está cursando a graduação de Artes visuais pela UFRN, e o terceiro já é formada no curso de licenciatura em Artes Visuais. Contudo, todos participam de uma mesma rede criativa, a qual abordaremos mais adiante. Assim,  Hanna Lauria, 29 anos, artistas em tempo integral.  Julio Siqueira, 27 anos, estudante e artista, graduando na Licenciatura em Artes Visuais na UFRN, desde 2012.  Mariana Zulianeli, 25 anos, psicóloga e artista, se formou em artes visuais no ano de 2013.  Flávio Freitas, 54 anos, arquiteto, e diretor do departamento de artes integradas da instituição FUNCARTE, desde 2013.

Todos os artistas destacam que desde sua infância, ja possuíam o dom de

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desenhar, e usavam isso como um meio de diversão. Com o passar do tempo, já na adolescência, buscaram se aperfeiçoar mais em desenhos e pinturas profissionais, por meio de cursos, revistas didáticas e internet. “Olha, tudo começou, antes de pintar. Eu aprendi a desenhar com dois, três anos de idade. Eu sempre fui uma criança que não teve muitos amigos, aí eu criei a boneca como uma amiga imaginária mesmo. Aí, pelo fato de eu ter deslexia e eu ter outras doenças quando eu era criança, que eu vivia num hospital [...] fui crescendo, comecei a ter amigos. Só que eu acabei me apaixonando pelo fato de desenhar, eu sempre tive essa gama de desenhar”. (Hanna Lauria) “A minha carreira profissional, começou assim[...] no começo mesmo eu sempre gostei de fazer desenhos de televisão, gibi, e depois quando comecei a fazer desenhos realistas de rosto, eu vi que comecei a pegar mais encomenda. [...] Eu vi que o desenho de rosto, me fazia vender, não muito, mas em relação a outros tipos de desenho que eu fazia. [...] Desde o começo que eu comecei o desenho de rosto, até hoje, vejo que consigo vender razoavelmente. [...] A primeira exposição que eu participei foi em 2003, [...] foi em Natal, [...] na Capitania das Artes” (Julio Siqueira) “Desde criança eu pinto, gosto de desenhar, tinha muita habilidade assim. Eu sou filha única então ficava em casa, meu passatempo era ficar em casa brincando disso. [...] Meus pais são músicos, meu pai é compositor, sempre envolvido com arte, então eu acabei tendo muito interesse por esse lado, e, é, bom. Quando eu era adolescente, meus pais me colocaram numa aula de desenho, que era até com Luis Elson, na cidade da criança, aí eu fiz essas aulas lá, gostava muito. [...] Continuei fazendo coisas em casa, né, muito auditada [...], meus pais compravam revistas pra mim, de desenho, de pintura, pra mim ficar fazendo em casa. [...] No momento da escolha do vestibular, eu optei por artes e por psicologia, pelos dois, ai continuei.” (Mariana Zulianeli)

A estrutura e o ambiente organizacionais, isto é, o local onde esses artistas produzem

suas

pinturas,

podem

influenciar

suas

idéias

criativas.

Assim

questionamos os entrevistados sobre o seu local de produção. Todos relataram que

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realizam suas pinturas e trabalho no quarto de suas casas, dois deles pela razão de não possuir interesse no momento de investir e organizar um ateliê próprio, como também pela comodidade. No caso de Mariana, possui um ateliê, contudo opta pelo seu quarto, pelo conforto e bem-estar que o ambiente lhe traz.

Figura 03 – Obra “Vícios e Virtudes” de Julio Siqueira

Técnica: aquarela sobre papel Tamanho: 75 x 55 Fonte: Siqueira (2014)

“Desenvolvo mesmo em casa. [...] Eu tenho a mesa, aquela mesa de arquiteto com inclininação, que eu faço meus desenhos [...] no meu quarto mesmo. Faço minhas encomendas e meus trabalhos criativos. [...] Mesa de desenho e os cavaletes. O trabalho é mais no meu quarto mesmo. Não tenho um ateliê ainda.” (Julio Siqueira) “em casa. Hoje em dia, tem ateliê, que meu pai também é pintor, mas eu gosto de pintar no meu quarto mesmo” (Mariana Zulianeli)

A rede

criativa

é

um

elemento

importante

para

o

surgimento

e

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desenvolvimento da criatividade. Neste trabalho, todos os artistas entrevistados pertencem a uma mesma rede criativa: O Grupo Permanente de Arte e Cultura Grupo Universitário de Aquarela e Pastel – GUAP, o qual oferece bolsas renumeradas para alunos dos cursos de artes visuais, arquitetura, comunicação e design. O grupo também conta com a participação de artistas não-estudantes que se interessam pela temática. As atividades do grupo estão relacionadas à produção artística, curadoria de exposições e pesquisas em/sobre arte, onde acontece reuniões semanais. Julio Siqueira ainda participa da Galeria Itinerante de Arte Potiguar. Trata-se de um projeto de extensão do Instituto Federal do Rio Grande do Norte – IFRN Cidade Alta que reúne cerca de dez artistas potiguares e expõe seus trabalhos em diferentes espaços públicos, em vários pontos de Natal e do RN. “Atualmente, estou participando do GUAP. [...] O grupo GUAP, Grupo Universitário de Aquarela e Pastél, duas técnicas, mas que na verdade a gente trabalha outras técnicas também, pintura, em geral. [...] A gente produz... Todas as reuniões são nas quintas e sexta-feiras, a gente se reune pra produzir mesmo, na quinta-feira. [...] Nesse grupo, a gente vai produzindo e expondo, é um grupo de extensão daqui da universidade, é uma bolsa que eu participo remunerada. [...] A gente vai produzindo e expondo dentro da universidade como fora [...] Tanto no nordeste, como fora do nordeste. Já expôs no Rio de Janeiro também. “ (Julio Siqueira)

A criatividade é um elemento central nos conceitos de economia criativa e da cidade criativa. Assim, indagamos junto aos entrevistados, sobre o surgimento de suas idéias criativas. Os artistas entrevistados atribuem a sua fonte de inspiração, suas idéias criativas, em sua própria subjetividade. Citaram também que a inspiração pode surgir em decorrência de algum fato de seu dia a dia, de filmes, de uma leitura, de uma música, como também obras de outros pintores.

“Eu vou muito na minha cabeça, com o que eu leio, o que eu vejo, internet, filmes, peças [...] eu gosto sempre de renovar, e eu gosto muito de ver os artistas que eu gosto. [...] A pessoa tem que ter uma liberdade, eu realmente, vou, faço o que eu tenho que fazer, eu nunca chego e digo assim, vou fazer esse quadro, se eu tenho essa idéia, eu vou pesquisar a onde o que

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eu quero.” (Hanna Lauria) “Bom, na verdade é assim... [...] Essa pergunta é dificil, porque a gente nunca consegue precisar uma coisa. A gente se inspira em tudo, né? Não tem... é uma coisa que você não explica [...] Sua subjetividade está desde a sua infância, de outras pessoas, de tudo que você vê, de tudo que você consome, então né... mas, minha linha de trabalho vai muito para o Picasso. Eu gosto da desconstrução que ele faz, então vou muito pra essa linha expressionista” (Mariana Zulianeli)

Figura 04 - Obra “Lady” de Hanna Lauria

Técnica: aquarela e nanquim Tamanho: 29 x 42 Fonte: Lauria (2015)

A cidade pode interferir na criatividade (CRUZ, 2014a). Assim, questionamos os entrevistados sobre os pontos positivos e negativos da cidade de Natal no setor das Artes Visuais. O campus da UFRN em Natal é considerado um ponto positivo, pelas suas inúmeras redes criativas, e salões de arte, que contribuem para a divulgação dos artistas através de suas exposições individuais e coletivas. O lançamento de editais,

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principalmente pela FUNCARTE, orgão municipal responsável pela cultura e arte de Natal, também auxiliam na fomentação do setor das artes visuais, pois incentiva e fomenta a criatividade dos artistas locais, e de municípios vizinhos. “Fator positivo assim, [...] aqui dentro da UFRN, tem muitos fatores positivos. Eu dentro do grupo, já, só esse ano participei, de várias exposições, e tem várias outras ainda, promovida pelo grupo né, e a UFRN em si, não só no Guap. A UFRN, em si, tem muitas oportunidades de, dentro da cultura e arte [...] em Natal. Natal em si, todo ano tem edital, basta a pessoa procurar na internet, que tem.” (Julio Siqueira) “[...] aqui na Universidade que ajuda muito. Eu já fiz uma exposição aqui, foi bem legal, e se você quiser, eles ajudam mesmo. [...] Sempre tentando editais, não tem como, aquela coisa, um prêmio sempre é bom para um artista, porque lá fora se você tiver uma carga de prêmio no teu próprio Estado, é muito bom.” (Hanna Lauria)

Para o diretor do departamento de artes integradas do município, o turismo que existe na cidade pode ser considerado um fator positivo. Considera também, pontos positivos e negativos na gestão das políticas públicas no setor das artes e cultura, explicando: “Fator positivo, eu digo que seria o interesse das pessoas que estão, é, executando as políticas públicas, né. [...] o turismo não deixa de ser um motivo provocador, digamos assim, a se pensar uma produção visual, que fortaleça a imagem, a identidade da cidade, da relação da cidade com a produção de cultura, das artes visuais [...] mais um fator positivo no sentido de incentivar.[...] Muitas vezes, há a dificuldade do próprio gestor aquele que convida, que contrata, de perceber o maior ou menor potencial da equipe por falta de conhecimento específico na área de artes visuais.” (Flávio Freitas)

Para os artistas, a ausência de galerias, salões de artes e espaços culturais com boa infraestrutura que proporcione lazer às pessoas, são considerados fatores negativos. Assim, não se cria o costume de consumir arte, havendo desvalorização e pouca divulgação dos trabalhos desses artistas. “[...] não tem uma galeria boa, não tem espaço de cultura bom.

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[...] [Salões de artes são péssimos. [...] Talvez falte isso, uma boa presença na mídia pra estar divulgando.[...] As pessoas em geral, consomem o que está na televisão, consomem o que esta no face, as pessoas consomem isso, ninguém vai sair procurando, „cascavilhando‟ se tem artista por ai. Não é assim, tem que estar tendo publicidade, né, e as pessoas se interessam, as pessoas vão lá ver. Tem que ser uma coisa que chame a atenção das pessoas, que seja interessante, que seja organizado, porque as pessoas não vão lá ver qualquer coisa jogada. Ninguém vai se interessar nisso. [...] Falta muita coisa na verdade, faltam pessoas qualificadas nos orgãos públicos, que não existe... isso é complicado aqui em Natal, [...] falta incentivo financeiro. [...] Área de cultura pelo menos aqui no Estado, é uma das áreas menos contempladas financeiramente. “ (Mariana Zulianeli) Figura 05 – Obra “Jazz” de Mariana Zulianeli

Técnica: Acrilica Tamanho: 29 x 42 Fonte: Zulianeli (2011)

As políticas públicas podem fomentar o setor criativo, assim indagamos os entrevistados sobre as políticas públicas existentes no setor das artes visuais. As políticas direcionadas ao setor das artes visuais são sobretudo aquelas que são aplicadas via editais. A legislação municipal é um grande propulsor de

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fomento às artes visuais e cultura, através da lei n° 3.703 que obriga todo prédio novo a partir de 1.000m² a ter uma obra de arte de um artista de Natal; e a lei n° 4.838 Djalma Maranhão que cria o programa de incentivo à cultura através da renúncia fiscal. Assim, o poder público Municipal abre mão da cobrança do percentual dos Impostos Sobre Serviço (ISS) e Predial e Territorial Urbano (IPTU), para que a iniciativa privada passe a investir na cultura, como também disponibiliza um período de recebimento de projetos de interessados para incentivo e fomento nos diversos campos da cultura. “há um impulsão de negócio, através da lei que obriga a todo prédio novo, construido no municipio de Natal, a partir de mil metros quadrados a ter uma obra de arte de um artista registrado no município [...] há um certo volume de recurso que é aplicada anualmente para os artistas que produzem. A gente tem um problema assim de concentração de artistas que estão fazendo mais esse tipo de serviço do que outros, e acho importante que o poder público intuito de ação para ampliar o alcance, pra mais artistas [...] Existem muitas ações, políticas públicas que têm esse foco, né. Se você pensa por exemplo nos salões, ou no caso da prefeitura que trabalha com editais,... editais públicos abertos por exemplo para ocupação das galerias [...] além de parcerias que a gente tem com o governo federal, o minístério da cultura, Funart, para realização de oficinas, com artistas importantes aqui para a cidade de Natal, pra trazer conhecimento.” (Flávio Freitas)

Por fim, pedimos sugestões, aos entrevistados, de políticas públicas ou ações que poderiam fomentar o setor das artes visuais, sobre tudo na área de pintura. Para estes, as políticas públicas devem fomentar o setor das artes visuais de modo que ofereçam oportunidades aos artistas locais. A reforma de galerias e salões de artes, como também a criação de mais espaços culturais, de forma que incluam não apenas as artes visuais, mas também outros campos da economia criativa como teatro, música, artesanato, oferecendo um espaço de distração e lazer. Estes espaços atrairiam moradores

e

turistas a

participar da cultura

local e,

consequentemente geraria mais oportunidades de renda aos artistas. Um sindicato formado por artistas visuais, para reivindicar mais investimentos ao setor junto ao poder público, poderia trazer mais aplicação de recursos e valorização das políticas públicas para as artes visuais.

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“Falta uma galeria assim, num lugar central, que as pessoas passem por lá, que as pessoas possam entrar com facilidade, que seja uma coisa bem arrumada, entendeu? Isso poderia ser feito, [...] não digo uma galeria, mas um espaço cultural, porque num espaço cultural se faz muita coisa, uma galeria você só expõe praticamente, mas em um espaço cultural você movimenta. [...] E é realmente uma coisa legal, você vai comer uma comida, ver uma música gostosa, aí de repende tá acontecendo ali uma palestra diferente, aí você já vai ali, tem uma bibliotequinha, que você vai lá ler um livro, né[...] É um meio de divulgação, um lazer pra população, então essa é uma idéia que eu acho que seria fantástica.” (Mariana Zulianeli)

“são muitas coisas, muitas carências e muitas possibilidades de atuação para melhorar, seja no fomento à produção local, seja na presença de artistas de destaque nacional e internacional vindo, o seu trabalho... vindo até aqui na nossa cidade, seja (...) fortalecendo a capacidade dos artistas daqui, em participar de grandes salões, grandes projetos a nível nacional e fora do Brasil, ajudar os artistas por exemplo a construir proposta e projetos de capacitação de recursos para a realização de grandes ações de artes visuais, ou coletivas ou até individualmente. É, são muitas coisas que precisam ser feitas que a gente quer fazer mas, é, tem muita dificuldade quando a gente encara o cenário do recurso público do municipio que vai ser dividido por um leque de atividades e ações, que incluem segurança, saúde, educação [...] Então uma coisa que falta em Natal que a gente deve incentivar é a organização em grupos coletivos, de artistas visuais, que quanto mais amplo, esse grupo vai abranger um grupo maior de representantes, mais vai poder fazer chegar a prefeitura, o governo do estado, o governo federal reinvindicações que diz respeito as artes visuais, a gente sente falta de uma organização mais formal, no ponto de vista da sociedade organizada, não um indivíduo só fazendo reclamação, mas um grupo de indivíduos assinarem uma reclamação no sentido de valorizar a política pública para aquele setor.” (Flávio Freitas)

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partimos agora para as considerações finais onde serão apresentadas algumas conclusões acerca do trabalho de campo desenvolvido neste trabalho. Em relação ao ambiente de trabalho dos artistas, todos os entrevistados afirmaram que realizam suas produções em suas casas, no quarto. O lar interfere diretamente em suas obras, assim como, em sua criatividade. Pois, o conforto é primordial em trabalhos criativos. A participação desses artistas em redes criativas tem grande relevância, pois possibilita o compartilhamento de conhecimento, técnicas e idéias através do contato com outros pintores, assim auxiliando no processo de criatividade. Além de que, as redes possuem papel fundamental na divulgação de trabalhos e obras dos artistas. É válido afirmar que redes sociais, e aplicativos, como o Whatsapp, geram redes informais que são importantes para troca de informações sobre publicação de editais, e eventos no setor das artes visuais. As idéias criativas são oriundas da própria subjetividade do artista, e essa subjetividade está em formação desde a infância, de tudo que consome, que vê, e do contato com outras pessoas. Logo, pelo fato dos artistas terem crescido na capital potiguar, a cultura natalense pode influênciar nessa subjetividade, da mesma forma as leituras, músicas, peças, cinema e obras de outros artistas. Quando se questiona os fatores positivos encontrados na cidade, o campus da UFRN se destaca, juntamente com suas redes e salões para exposições, pelas diversas oportunidades que ofereces aos estudantes e artistas. No que se refere as políticas públicas que fomentam o setor das artes visuais, são citadas aquelas aplicadas por meio de edital. As leis n° 4.838 e n° 3.703, possibilitam maior investimento e valorização dos trabalhos dos artistas, respectivamente. Para os artistas é necessário um maior número de publicação de editais, haja vista que nos últimos anos tem diminuído consideravelmente a quantidade ofertada. Também é proposto a reforma das galerias e salões de arte da cidade, melhorando o ambiente para os visitantes. Logo, um ambiente agradável, climatizado e organizado poderia atrair um número maior de visitantes, gerando um impacto positivo nas vendas dos artistas.

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Assim, os poderes públicos devem criar um planejamento estratégico, com o objetivo de analisar as possibilidades, capacidade e potencial do setor das artes visuais, com o intuito de formular e implementar políticas públicas a partir dos quatros

princípios

norteadores

identificados

na

SEC:

Inclusão

social,

sustentabilidade, inovação e diversidade cultural. Deste modo, as políticas públicas devem ser formuladas com o objetivo de criar condições para que os setores das artes

visuais dependam menos dos financiamentos públicos e

mais do

empreendedorismo dos seus profissionais junto aos setores econômicos privados.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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LODI, João Bosco. A entrevista: Teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1974

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VISUAIS, Arte. 2015. Disponível em . acesso em 06 de out de 2015.

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APENDICES

Apêndice 01: Roteiro da Entrevista aos Artistas

Nome: Formação: Tempo de exercício da atividade:

1.

Resuma a sua carreira profissional.

2.

Descreva o ambiente de trabalho no qual você exerce suas atividades profissionais.

3.

Integra alguma rede (grupo artístico) local, nacional, internacional?

4.

Contribuições na participação dessas redes?

5.

Quais são suas fontes de inspiração para seus trabalhos artísticos?

6.

A cidade de Natal influência suas atividades como artista? Como?

7.

Quais fatores positivos encontra na cidade de Natal para o desenvolvimento da sua atividade profissional?

8.

Quais fatores negativos encontra na cidade de Natal para o desenvolvimento da sua atividade profissional?

9.

Quais políticas públicas ou medidas poderiam favorecer o desenvolvimento da sua atividade profissional?

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Apêndice 02: Roteiro da Entrevista ao Gestor

Nome: Formação: Instituição: Tempo de exercício da atividade:

1. Qual a relevância das artes visuais para a cidade de Natal/RN? 2. Quais fatores positivos existentes na cidade de Natal para o desenvolvimento das artes visuais? 3. Quais fatores negativos existentes na cidade de Natal para o desenvolvimento das artes visuais? 4. Quais as repercussões sociais e econômicas das artes visuais para a cidade de Natal? 5. Quais medidas ou políticas públicas favorecem ou poderiam favorecer o desenvolvimento das artes visuais no município de Natal?

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