O ambiente da biblioteca e a apropriação da informação: elementos físicos e simbólicos

July 4, 2017 | Autor: Regina Garcia Brito | Categoria: Bibliotecas, Arquitetura, Infoeducação
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO

REGINA GARCIA BRITO

O ambiente da biblioteca e a apropriação da informação: elementos físicos e simbólicos

SÃO PAULO 2011

REGINA GARCIA BRITO

O ambiente da biblioteca e a apropriação da informação: elementos físicos e simbólicos

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à disciplina Projeto Experimental em Biblioteconomia II (CBD 0267), do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia e Documentação. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ivete Pieruccini

SÃO PAULO 2011

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Brito, Regina Garcia O ambiente da biblioteca e a apropriação da informação: elementos físicos e simbólicos / Regina Garcia Brito; Orientadora Ivete Pieruccini. – São Paulo, 2011. 104 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Biblioteconomia) -Departamento de Biblioteconomia e Documentação, Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo. 1. Dispositivos informacionais. 2. Espaço informacional. 3. Apropriação da informação. 4. Instalações físicas de biblioteca. I. Brito, Regina Garcia. II. Pieruccini, Ivete. III. Título.

À minha avó, Anésia (in memoriam), e à minha mãe, Ilda, grandes mulheres, por terem cuidado de mim com tanto amor e dedicação.

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Ilda e Mauro, aos quais nem sei o que dizer como forma de agradecimento por tudo que fizeram por mim. Obrigada pelo exemplo de caráter, compreensão e amor.

Ao meu esposo, Edmilson, pelo amor, pela amizade, pelo incentivo e por estar sempre ao meu lado. Obrigada por fazer parte dessa vitória desde o início.

À professora Ivete Pieruccini, pela orientação e inspiração. Suas aulas certamente contribuíram para que eu tivesse uma visão totalmente diferente da área em que iniciava.

À professora Cibele H. Taralli, da FAU, mesmo sem conhecê-la pessoalmente, por ter inspirado com seus textos a escolha do tema desse trabalho.

Às bibliotecárias e futuras bibliotecárias da Biblioteca Latino-americana, da Fundação Memorial da América Latina, por terem feito parte da minha formação e pela amizade e carinho. Às bibliotecárias da Biblioteca “Wanda de Aguiar Horta”, da Escola de Enfermagem, por tudo que estão me ensinando na prática.

Às bibliotecárias Elisabeth Dudziak e Madalena Franzon por terem feito parte da escolha dessa nova profissão.

À amiga e bibliotecária Graziela de Oliveira pelas leituras, orientações, apoio e amizade.

À minha colega de classe Amanda Pacini pela leitura atenta do texto, aos demais colegas do curso de Biblioteconomia, sem os quais certamente minha formação não teria sido tão interessante: Adaci, Bia, Bruna, Carol, Marina, Suellen e Verônica e em especial aos colegas de muitos trabalhos e trocas de experiência, Caio e Rita.

O espaço pode ser considerado como um texto que produz significações e caracteriza-se como objeto de comunicação, uma vez que é portador de uma infinidade de significações que proporciona seu uso e inter-relaciona o destinador e o destinatário. Célia Regina Simonetti Barbalho

O espaço, seus componentes físicos, construtivos e ambientais, suas relações internas e externas, seus componentes simbólicos ganham sentido particular, incorporando-se ao ato de ler, à própria leitura. O mundo concreto e o subjetivo vinculam-se, promovendo identidade ao lugar e ao sujeito. Cibele Haddad Taralli

RESUMO Brito, Regina Garcia. O ambiente da biblioteca e a apropriação da informação: elementos físicos e simbólicos. 2011. 104 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Biblioteconomia) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.

O trabalho trata das relações entre o ambiente e apropriação da informação. Traça um panorama de formas de abordar o espaço, destacando seus elementos como categorias simbólicas e não apenas físicas e estéticas. Destaca-se, nesta perspectiva, a noção de espaço da biblioteca como dispositivo informacional, possuidor de uma intencionalidade. Sua configuração espacial é entendida como um mecanismo portador de significados, que pode atuar nos processos de apropriação da informação, devendo ser, portanto, reordenado na atualidade. São descritas características físicas importantes para um edifício de biblioteca, com ênfase em relação a: localização, sinalização, mobiliário, conforto ambiental, conservação e acessibilidade. São estudadas modalidades distintas de bibliotecas e de redes de bibliotecas, em especial as do CRAI - Centro de Recursos para el Aprendizaje y la Investigación, modelo espanhol de biblioteca universitária e da REBI – Rede Escolar de Bibliotecas Interativas, biblioteca escolar implantada na cidade de São Bernardo do Campo, em São Paulo. Conclui que por tratar-se de categoria fundamental do dispositivo informacional que atua na apropriação da informação, o planejamento do espaço físico (da biblioteca, em especial) deve ser norteado por concepções claras e articuladas às demais categorias de elementos que o constituem, razão que implica a participação de um grupo multiprofissional.

Palavras-chave:

Espaço

informacional.

Dispositivo

informacional.

informação. Instalações físicas de biblioteca. Ambiente e significação.

Apropriação

da

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - MASP ...................................................................................................................... 30 Figura 2 - Médiathèque Jean-Pierre Melville ........................................................................... 31 Figura 3 - Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro .................................................................... 31 Figura 4 - São Jerônimo de Antonello da Messina ................................................................... 73 Figura 5 - Visibilidade .............................................................................................................. 87 Figura 6 - Atividades concentradas na arquibancada, posto de trabalho, pesquisa informatizada ............................................................................................................................ 88 Figura 7 - Atividades distribuídas na área de pesquisa e trabalho (em mesas, balcões) leitura na arquibancada, no posto de trabalho, nos computadores....................................................... 88 Figura 8 - Autonomia ............................................................................................................... 89

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia BECT – Biblioteca Escolar Colégio Termomecanica BPEAM – Biblioteca Pública do Estado do Amazonas CBD – Departamento de Biblioteconomia e Documentação CDs – Compact Discs CRAI – Centro de Recursos para el Aprendizaje y la Investigación CCSP – Centro Cultural São Paulo DORT – Doença Ocupacional Relacionada ao Trabalho ECA – Escola de Comunicações e Artes FAU – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo LER – Lesão por Esforço Repetitivo MASP – Museu de Arte de São Paulo NBR – Norma Brasileira Regulamentadora NR – Norma Regulamentadora PROESI – Programa Serviços de Informação em Educação REBI – Rede Escolar de Bibliotecas Interativas SEC – Secretaria da Educação e Cultura TICs – Tecnologias da Informação e Comunicação UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul UI – Unidade de Informação USP – Universidade de São Paulo UV – Ultravioleta WI-FI – Wireless Fidelity

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 10 2 ESPAÇO FÍSICO DA BIBLIOTECA E SIGNIFICAÇÃO .................................................. 13 2.1 Formas de ver o espaço ...................................................................................................... 13 2.2 Os dispositivos informacionais e a apropriação da informação ......................................... 23 2.3 O espaço exterior ................................................................................................................ 29 2.4 O espaço interior................................................................................................................. 32 2.5 O espaço da biblioteca e a leitura ....................................................................................... 35 3 QUALIDADES DESEJÁVEIS PARA O ESPAÇO DA BIBLIOTECA .............................. 40 3.1 Características gerais .......................................................................................................... 40 3.2 Localização ......................................................................................................................... 45 3.3 Sinalização .......................................................................................................................... 47 3.4 Mobiliário ........................................................................................................................... 52 3.5 Conforto ambiental ............................................................................................................. 54 3.5.1 Temperatura, Umidade e Ventilação ............................................................................... 56 3.5.2 Acústica ........................................................................................................................... 59 3.5.3 Iluminação ....................................................................................................................... 61 3.6 Conservação dos materiais do acervo ................................................................................. 64 3.7 Acessibilidade..................................................................................................................... 66 4 DOS ESPAÇOS DE CONSERVAÇÃO E DIFUSÃO A NOVAS PROPOSTAS ............... 72 4.1 Bibliotecas de conservação e difusão ................................................................................. 72 4.2 CRAI – Centro de Recursos para el Aprendizaje y la Investigación.................................. 76 4.2.1 Apresentação de um novo modelo de biblioteca universitária – o CRAI ....................... 76 4.2.2 Diretrizes para a organização espacial do CRAI ............................................................. 80 4.3 REBI - Rede Escolar de Bibliotecas Interativas ................................................................. 82 4.3.1 Breve histórico e conceitos fundamentais da REBI ........................................................ 82 4.3.2 O espaço informacional da REBI .................................................................................... 85 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 94 6 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 98

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1 INTRODUÇÃO

Quando se cria uma Biblioteca/Unidade de Informação (UI)1, um dos elementos a serem planejados, depois de definidos os objetivos e a missão da instituição, bem como sua estrutura organizacional e o seu público-alvo, é o espaço físico que abrigará a coleção, os serviços que serão ofertados e os setores de administração e de processamento técnico. O ideal é que o ambiente seja planejado de forma a atender da melhor maneira seus usuários e funcionários. O que ocorre, entretanto, é que, algumas vezes, a biblioteca é instalada em espaços improvisados/inadequados e, inclusive quando prédios são construídos especialmente para esse fim, surgem problemas relativos, por exemplo, à iluminação, à ventilação, à umidade do ar e à temperatura (AUGUSTINHO, 1987 apud MIRANDA, 2000).

O espaço da biblioteca pode ser visto como um elemento fundamental para a apropriação da informação, em harmonia com os objetivos da instituição, ou um simples acessório, um componente sem grande relevância no planejamento do serviço de informação, minimizado nas políticas e nas práticas educativas e culturais (TARALLI, 2004b, p. 33), visto como simples “pano de fundo, adorno inócuo, dispensável e secundário” (PERROTTI, 2004a, p. 4).

Considerando a primeira forma de ver o espaço como a mais apropriada quando se pensa em uma UI, ou seja, um elemento fundamental, perguntamo-nos em primeiro lugar: como o ambiente da biblioteca atua na apropriação da informação, considerando esta um processo no qual o sujeito não é mero receptor de informações, ao contrário, tem uma ação afirmativa de invenção e criação? Também nos questionamos sobre: quais características são necessárias ao espaço físico da biblioteca para que esta cumpra sua dupla função de ser um lugar destinado ao armazenamento e também uso de coleções2? É nosso objetivo também investigar como se organizavam espacialmente bibliotecas no passado, bem como descrever novos modelos de bibliotecas que em seu projeto trazem propostas para o espaço físico que se 1

Em nosso trabalho, a designação “Unidade de Informação” (UI) foi utilizada como sinônimo de “biblioteca”, uso possível segundo o Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia, segundo o qual, uma das acepções do termo é: “entidade encarregada de adquirir, processar, armazenar e disseminar informações, com o objetivo de satisfazer as necessidades de informação dos usuários. Em muitos casos é sinônimo de biblioteca, centro, serviço e sistema de informação; agência de informação” (CUNHA; CAVALCANTI, 2005, p. 370, grifo nosso). 2 Almeida (2005, p. 119) afirma que há a necessidade de “condições ambientais que, além de oferecer conforto ao usuário, garantam a preservação do acervo”, ou seja, busca-se um equilíbrio entre essas duas funções.

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contrapõem aos antigos paradigmas preocupados muitas vezes exclusivamente com a conservação e, em consequência a isso, transformados em meros depósitos. A volta ao passado faz-se necessária para entender as novas propostas como uma nova ordem. Tais questionamentos nos interessaram porque, segundo Taralli (2004b, p. 32), “a consciência da importância do papel desempenhado pelo espaço nas práticas educativas e culturais nem sempre é nítida e valorizada”. Além disso, “o espaço, seja qual for, mantém relações físicas e simbólicas com a leitura, tornando-se parte integrante dela. Daí pensar em tais relações torna-se essencial” (TARALLI, 2004b, p. 31). Pareceu-nos necessário, portanto, um estudo que sistematizasse trabalhos existentes sobre a temática do espaço, não só do ponto de vista da estrutura física, mas, principalmente, dos significados das escolhas com relação à organização espacial e a importância destas para a mediação3 da informação. Entendemos que a mediação da informação se faz também com outros elementos como a composição do acervo, a linguagem informacional, as práticas informacionais e a atuação dos profissionais da UI. No entanto, consideramos que o espaço é tão importante quanto os demais aspectos citados e, como futuros bibliotecários, acreditamos que

é importante conhecer

conceitualmente elementos da ordem arquitetônica, já que supomos que estes são indispensáveis à apropriação da informação e não podem, portanto, ser negligenciados.

Vimos que ao estudar o espaço físico da biblioteca podem ser adotadas diferentes perspectivas. O olhar pode voltar-se para a estrutura física e os elementos que a constituem, visando avaliar se há condições ergonômicas para que funcionários e usuários tenham conforto. O foco seria, por exemplo, a iluminação, a climatização e o mobiliário adequados para o trabalho e o estudo. Também é possível ver o espaço físico da biblioteca como um elemento de marketing, uma forma de atrair público. Nesse caso, alguns elementos do ambiente seriam considerados um fator de promoção da biblioteca (BAPTISTA; COSTA; VIANA NETA, 2009, p. 93). Outra possibilidade é analisar o espaço baseando-se na teoria proxêmica, refletindo sobre o uso que o homem faz do espaço (ARAÚJO, 2002, p. 21). Por fim, como último exemplo, o estudo do espaço poderia concentrar-se nas condições de acessibilidade física, em que a preocupação seria sua adequação a públicos com deficiência e mobilidade reduzida.

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A mediação da informação é por nós entendida, segundo Macedo (2009, p. 17) como “intercessão, interposição, intervenção”. O processo de mediação seria tomado como “capaz de gerar um produto diferente daquele emitido, pressupondo uma ação entre dois vetores, nem fruto de uma ação passiva, nem de transmissão”.

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Ainda com relação ao estudo do espaço físico, Barbalho (2000b) demonstra, em sua tese sobre a Biblioteca Pública do Estado do Amazonas (BPEAM), que as escolhas feitas para a organização espacial não são neutras, incluem a forma como a instituição quer ser vista. Uma biblioteca com o objetivo de armazenar coleções raras certamente terá uma organização espacial distinta de uma biblioteca que quer difundir informações. Esta, por sua vez, será diferente de uma que se proponha a ser um local de interatividade. Em resumo, há diferentes configurações espaciais para diferentes finalidades e não são neutros os elementos da arquitetura interna e externa, pois esses manifestam uma intenção (BARBALHO, 2002, p. 2).

Com base nessas considerações iniciais, organizamos nossa exposição nos próximos três capítulos da seguinte maneira: no segundo capítulo, a fim de refletir acerca dos elementos físicos e simbólicos do espaço da biblioteca e da apropriação da informação, traçamos um panorama sobre diferentes formas de pensá-lo, destacando as que tratam da sua significação. Destacamos também a perspectiva da Infoeducação4, que considera o espaço como um dispositivo, instância de apropriação da informação. No terceiro, abordamos algumas características desejáveis, de modo geral, para um edifício de biblioteca, tratando de questões como localização, sinalização, mobiliário, conforto ambiental, conservação de materiais e acessibilidade. Por fim, no quarto capítulo, apresentamos a organização espacial de bibliotecas no passado dentro dos ideais conservacionistas e difusionistas e duas novas propostas, uma no nível universitário e outra no ensino fundamental5.

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O termo Infoeducação foi definido por Perrotti a fim de caracterizar um conjunto de pesquisas sob sua coordenação, na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). O campo de atuação da Infoeducação seria de natureza tanto teórica como prática e um dos seus objetos é o estudo das relações cada vez mais complexas entre os campos da Informação e da Educação. 5 Trata-se do CRAI - Centro de Recursos para el Aprendizaje y la Investigación, modelo espanhol de bibliotecas universitárias e da REBI - Rede Escolar de Bibliotecas Interativas, implantada na cidade de São Bernardo do Campo - SP.

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2 ESPAÇO FÍSICO DA BIBLIOTECA E SIGNIFICAÇÃO

2.1 Formas de ver o espaço

Como expomos no capítulo introdutório, o estudo do espaço físico da biblioteca pode estar baseado em diferentes perspectivas, muitas delas preocupadas com questões como conforto ambiental, ergonomia, bem-estar de funcionários e usuários. Outras podem preocupar-se com temas como iluminação, climatização, umidade do ar sob o foco da conservação dos materiais do acervo6. Há também, no entanto, a possibilidade de pensar a questão ultrapassando os aspectos físicos ao relacioná-los a aspectos simbólicos.

Segundo Sequeiros (2010, p. 61), o conceito de espaço é complexo e polissêmico. Geralmente são ressaltados em seu estudo os aspectos formais ou estéticos. Do latim spatium, significando “extensão, distância, intervalo”, a palavra espaço tem as seguintes acepções, segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa,

1 extensão ideal, sem limites, que contém todas as extensões finitas e todos os corpos ou objetos existentes ou possíveis 2 extensão limitada em uma, duas ou três dimensões; distância, área ou volume determinados 3 a extensão que compreende o sistema solar, as galáxias, as estrelas; o Universo 4 região situada além da atmosfera terrestre, ou além do sistema solar 5 fig. âmbito, alcance indefinido 6 capacidade, acomodação 7 cabimento, oportunidade 8 período ou intervalo de tempo 9 demora, delonga 10 campo abrangido idealmente por determinada área dos conhecimentos e fazeres humanos 11 EDIT o claro que constitui a separação entre as palavras de uma linha em texto impresso ou manuscrito 12 GRÁF peça em forma de anel que é encaixada entre os discos da máquina de pautar, para produzir o espaço claro entre duas linhas 13 MAT termo genérico que designa um conjunto com determinadas operações adj. B 14 que tem chifres muito abertos, espaçados (diz-se de bovino). (HOUAISS, 2009).

Já em verbete do Dicionário ilustrado de arquitetura, de Burden (2002, p. 143), encontramos espaço com a seguinte definição:

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No decorrer dessa pesquisa vimos que há em muitos edifícios de biblioteca inadequações relativas à infraestrutura. Trataremos de forma geral dessas questões no capítulo 3.

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1. Expansão contínua ilimitada onde todos os objetos materiais existem. 2. Toda a área interna e circundante de uma edificação, ou um volume entre limites especificados e o intervalo entre dois objetos.

Taralli (2006, p. 5-6), em texto sobre a Rede Escolar de Bibliotecas Interativas (REBI), do município de São Bernardo do Campo - SP, comenta sobre a importância do espaço na formação humana, pois nele “se travam as primeiras sensações e descobertas, como as noções de distância, escala, domínio, equilíbrio; e também as perceptivas, que conferem significado e identidade”.

Ainda segundo Taralli (2004b, p. 31-32), as relações entre o homem e o espaço fazem parte de um longo processo, em que o espaço ganha significados e conquista importância sociocultural e simbólica. Inicialmente, com a necessidade de se proteger, o homem ocupa grutas e cavernas, nas quais grava pictogramas como “ação de apropriação física do espaço, conjugada à outra, de natureza simbólica”. Depois passamos do abrigo à habitação, do campo às cidades e, com o desenvolvimento de técnicas e materiais, o homem ocupa espaços diversificados nas configurações físicas e estéticas, tais variações são acompanhadas de “demandas e características socioculturais das sociedades, conferindo identidade e significado aos ambientes por elas constituídos”. Dessa maneira, cada cultura, em cada época, “constrói referências espaciais e ambientais que a identificam”, por exemplo, os jardins japoneses, as cidadelas medievais e os casarios coloniais brasileiros.

Segundo Lima (1995 apud TARALLI, 2006, p. 6),

não há espaço vazio, nem de matéria, nem de significado; nem há espaço imutável. Nada é mais dinâmico do que o espaço, porque ele vai sendo construído e destruído, permanentemente, seja pelo homem, seja pelas forças da natureza.

Com essa qualificação, o espaço físico adquire a condição de ambiente. Segundo Taralli (2006, p. 6), a noção de espaço construído “remete a uma condição material, edificada, a de ambiente incorpora também a dimensão cultural que caracteriza cada sociedade, cada projeto, cada programa”. Um ambiente construído, como um espaço projetado e edificado para o desenvolvimento de atividades humanas, vem carregado de valores. Tal sentido pode ser confirmado quando consultamos novamente o Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, em especial a quarta acepção da palavra. Do latim ambiens/entis, com significado “andar ao redor”, ambiente pode ser entendido como:

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1 que rodeia ou envolve por todos os lados e constitui o meio em que se vive s.m. 2 tudo que rodeia ou envolve os seres vivos e/ou as coisas; meio ambiente 3 recinto, espaço, âmbito em que se está ou vive 4 conjunto de condições materiais, culturais, psicológicas e morais que envolve uma ou mais pessoas; atmosfera 5 ARQ m.q. ambiência ('espaço') 6 INF conjunto de elementos de hardware ou software onde os programas são executados 7 LING.EST tudo aquilo que antecede, sucede ou ocorre simultaneamente a determinada unidade linguística na cadeia falada, e que pode causar modificações na realização dessa unidade; contexto. (HOUAISS, 2009).

Tais considerações podem ser ratificadas nas definições de ambiente e ambiente construído encontradas no dicionário já mencionado de Burden (2002, p. 20):

Ambiente: combinação de todas as condições externas que podem influir, modificar ou afetar as ações de uma pessoa, um equipamento ou um sistema qualquer. Também chamado entorno. Ambiente construído: aquela parcela do entorno físico criada pelos seres humanos, como estradas, pontes e edificações, em contraposição ao meio-ambiente natural.

Há referências teóricas, como o trabalho de Lefèbvre (apud SEQUEIROS, 2010), que ultrapassam a questão do espaço em seus aspectos formais e estéticos e analisam as relações sociais de espaço. Para o filósofo francês, o espaço social, em oposição ao natural, é um produto das práticas sociais, das representações econômicas, políticas e científicas. O autor propõe que se encare o espaço como uma mercadoria, recorrendo a uma analogia de vertente marxista: “o espaço, tal como as mercadorias, é simultaneamente produto e meio de produção das relações sociais” (SEQUEIROS, 2010, p. 62). O conhecimento do espaço, portanto,

não se apoia no espaço como tal, não constrói modelos, tipos ou protótipos de espaços mas expõe a produção do espaço. A ciência do espaço (espacio-análise) colocará no primeiro plano o uso do espaço, as suas propriedades qualitativas. Neste conhecimento o momento crítico (crítica do saber) é essencial. O conhecimento do espaço implica a crítica do espaço. (LEFÈBVRE, 2000 apud SEQUEIROS, 2010, p. 63).

O espaço também foi objeto de análise da Psicologia. Araújo (2002, p. 20), em estudo sobre acessibilidade aos espaços urbanos, traz informações sobre a Psicologia Ambiental, cujo autor de destaque é Kurt Lewin, conhecido pela autoria da equação C = f (P x A), em que “C” é o comportamento resultante da constante interação entre “P” (pessoa) e “A” (ambiente). Roger Barker, por sua vez, seguidor de Lewin, desenvolveu o que denominou de Psicologia ecológica, na qual o termo “ecológica” vincula-se às inter-relações entre o homem e o ambiente. Segundo Araújo (2002, p. 21), “o comportamento sócioespacial humano funciona como mediador da relação pessoa-ambiente” e para melhor compreensão disso, foram

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desenvolvidos conceitos como espaço pessoal, proxemia (que por sua importância trataremos com mais detalhes adiante), territorialidade, aglomeração e privacidade. O espaço pessoal seria uma espécie de “bolha” que envolve o indivíduo, ajudando a regular as distâncias entre as pessoas. Essa área ao redor do corpo pode ser classificada como íntima, pessoal, social ou pública, dependendo da distância entre o próprio corpo e o do próximo. Segundo Gliber e Chippari (2007), no espaço íntimo há uma distância mínima em que as pessoas se comunicam não apenas por meio de palavras, mas também pelo tato, cheiro e calor do corpo. No espaço pessoal é possível ter uma visão nítida do rosto, há a possibilidade de segurar a outra pessoa e ver detalhes fisionômicos. No espaço social, detalhes visuais mais sutis são pouco percebidos e, por fim, no espaço público há total impessoalidade. A adoção dessas distâncias depende do grau de intimidade e relaciona-se também a aspectos culturais. A territorialidade relaciona-se ao “comportamento de defesa de território por parte de um indivíduo ou grupo” (ARAÚJO, 2002, p. 21) e difere do espaço pessoal por não ter a pessoa como centro. Na aglomeração a pessoa sente necessidade de mais espaço do que o disponível, já o conceito de privacidade engloba os anteriormente citados e “pressupõe um equilíbrio entre isolar-se e tornar-se acessível aos outros, podendo variar de acordo com a cultura” (ARAÚJO, 2002, p. 22).

Outros conceitos que se destacam no estudo do espaço são, ainda segundo Araújo (2002), a apropriação do espaço e place attachment (apego ao lugar). Com relação ao primeiro conceito, afirma-se que

a apropriação do espaço está integrada a outros conceitos semelhantes como apego ao lugar, identidade de lugar, identidade urbana, comunidade simbólica ou identidade social urbana. Juntos, esses conceitos reforçam a ideia de que a relação pessoa-ambiente possui sempre uma dimensão vivenciada, simbólica. (MORENO; POL, 1999 apud ARAÚJO, 2002, p. 22, grifo nosso).

Nesse contexto, entende-se apropriação como um sentimento de posse e a gestão de um espaço, que independe da propriedade legal. É decorrente de processos afetivos, cognitivos e interativos, que variam de acordo com o ciclo de vida. (ARAÚJO, 2002, p. 22).

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Já o conceito de place attachment (apego ao lugar) aparece quando uma pessoa se liga emocional e culturalmente a um determinado ambiente. Tal apego seria construído ao longo da vida e não instantaneamente (ARAÚJO, 2002, p. 22).

Drumond et al, em estudo realizado no ano 2000 sobre a reestruturação do espaço físico da Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)7, destacam, entre outros, os seguintes conceitos que fundamentaram o projeto de reforma da biblioteca em questão: espacializações, percepção, ambiência e habitabilidade.

As espacializações seriam o resultado das atividades das pessoas em interações umas com as outras e com as coisas, através das atividades no espaço. Baseando-nos nas espacializações é possível chegar à análise de atividades que estão em conflito com outras, constatando que, por exemplo, uma atividade foi executada com dificuldade e desgastes desnecessários por causa do mau funcionamento ou ausência de algum elemento espacial. Sobre o conceito de percepção, Tuan (apud DRUMOND et al, 2000, p. 5) afirma que “observar o modo como as pessoas constroem e organizam e se portam no espaço é o mesmo que observar sua capacidade de perceber o mundo, sua sensibilidade e cultura”.

Nesse estudo, Drumond et al (2000) observaram que a aparência de alguns de seus setores era de desordem e isso gerava conflitos. É nesse contexto que se pensa em ambiência, que vai além de uma atitude de enfeitar, ou seja, é algo que mostra o cuidado e a identidade dos indivíduos com o espaço. Também se pode pensar em habitabilidade, qualidade que deve ser buscada em qualquer espaço arquitetural, noção representada pela expressão “se sente em casa” (DRUMOND et al, 2000, p. 8).

Por fim, a Teoria Proxêmica busca observar o emprego que o homem faz do espaço. Esta teoria foi elaborada pelo antropólogo norte-americano Eduard T. Hall, o qual usa o termo proxemia para referir-se “às observações e teorias inter-relacionadas, relativas ao uso que o homem faz do espaço como elaboração especializada da cultura” (HALL, 1977 apud DERQUI, 1995, p. 2). O interesse de Hall por estudar a relação do homem com seu meio ambiente originou-se de sua observação dos desentendimentos que havia entre pessoas de 7

Era necessária uma reforma, segundo os autores, não só do espaço físico, mas também da maneira como este “era pensado, imaginado, cuidado e utilizado por todas as pessoas da comunidade” (DRUMOND et al, 2000, p. 4).

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culturas diferentes quanto à utilização do microespaço8. Por isso, vale lembrar que as investigações proxêmicas levam em conta as particularidades de cada sociedade ao analisar o espaço, visto que pessoas de diferentes culturas possuem “não somente linguagens diferenciadas como habitam diferentes mundos sensórios” (LUNARDELLI; QUEIROZ, 2005). Hall (1977 apud LUNARDELLI; QUEIROZ, 2005), apesar de estabelecer diferenças importantes entre o homem e os demais animais (estudados pela Etologia), afirma que ao observar como os animais se relacionam com o espaço “é possível apreender uma quantidade espantosa de coisas que poderiam ser traduzidas para termos humanos”.

Ainda segundo Lunardelli e Queiroz (2005), para a Etologia, o espaço subdivide-se em espaço territorial, em que o indivíduo ou o grupo estabelece seu hábitat, e espaço corporal ou microespaço, em que são estabelecidos os contatos interpessoais. Esses espaços são organizados através de regras que podem ser diferentes em cada cultura. Existem, por exemplo, culturas de contato (entre elas os latinos, os árabes e os habitantes do mediterrâneo) e culturas de não-contato (os norte-americanos, os europeus do norte e os asiáticos).

As questões culturais devem ser levadas em conta quando se projeta o espaço de uma biblioteca porque a configuração espacial pode favorecer ou não as relações interpessoais (TARALLI, 2004b, p. 32), pois “o espaço físico exerce influência sobre o comportamento humano” (NODA, 1996, p. 4). A arquitetura interna e externa, a ambientação e a sinalização

se colocam no espaço fixo da biblioteca, determinando a circulação em seu espaço móvel, influenciando e manipulando o deslocamento do usuário, sua mobilização corporal e revelando como a dinâmica do espaço afeta a utilização de seu ambiente que se dá através do olhar interpretativo daqueles que a frequentam. (BARBALHO, 2002, p. 3).

E quando se projeta uma biblioteca, como já citado, é preciso prever os comportamentos que se deseja favorecer. Gascuel (1987, p. 16) lembra-nos que o interior da biblioteca e sua organização espacial podem desencadear certas reações e sugerir certos comportamentos. Lunardelli e Queiroz (2005) exemplificam a questão sobre a forma como a disposição dos móveis pode favorecer ou não as relações interpessoais da seguinte maneira:

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Microespaço, segundo a Etologia, como veremos a seguir, é onde se estabelecem os contatos interpessoais.

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um exemplo pode ser dado no que se refere à acessibilidade: um balcão de referência com a altura muito elevada impede uma aproximação maior, mesmo que o bibliotecário se mostre totalmente solícito no atendimento ao usuário. Nesse caso, a distância estabelecida entre os comunicantes requer um aumento no tom de voz, evidenciando informações que muitas vezes o usuário quer manter em sigilo. O local que deveria se mostrar receptivo pode, nessas circunstâncias, causar constrangimento, dificultando ou impedindo o acesso às informações.

Barbalho (2000b, p. 40) traz outro exemplo da relação homem-espaço em sua pesquisa sobre a BPEAM quando trata das possíveis trajetórias dos usuários da biblioteca em questão. A autora afirma que essa relação é “construída pelo que é visto na forma externa e interpretado a partir do repertório pessoal de cada sujeito”, a maneira como este “vivencia, absorve e julga o que está posto no ambiente mostrando, através de seus movimentos, os valores que o fizeram definir sua trajetória”. A escolha do trajeto indica táticas de uso do ambiente determinada pela estruturação da biblioteca, esta, por sua vez, “participa do processo através da organização do percurso que deseja que o sujeito-usuário percorra” (BARBALHO, 2000b, p. 41). Quando o usuário determina sua rota, mostra o modo “como vê e vivência a biblioteca, como a percebe, e ela, ao se colocar na condição de enunciadora, assume o modo como articula o que deseja que o usuário faça” (BARBALHO, 2000b, p. 41). Na BPEAM, pela distribuição dos móveis no ambiente,

observa-se que o percurso privilegia a consulta ao funcionário ao invés da pesquisa ao catálogo já que, ao se abrir a porta, uma espécie de corredor, posto a partir da disposição dos móveis, leva o usuário a percorrer o caminho em busca do balcão improvisado por mesas que separam o que é de acesso livre, de circulação permitida para o usuário, do que é restrito aos funcionários, que é o próprio acervo. (BARBALHO, 2000b, p. 136).

Uma situação oposta à da BPEAM seria a da Biblioteca Sérgio Milliet, do Centro Cultural São Paulo (CCSP), descrita dessa maneira:

como um modelo oposto a ser observado e seguido está o da biblioteca Sérgio Millet [sic] do Centro Cultural São Paulo [...], a qual manipula o trajeto do usuário pelo único acesso disponível, uma rampa que finaliza em uma placa de sinalização e remete o usuário para o catálogo, os bibliotecários de referência e os computadores para busca automatizada, nesta ordem. Vê-se que o trajeto foi preparado de modo a incentivar que a pesquisa seja inicialmente feita no catálogo onde o bibliotecário, literalmente, coloca-se como intermediador entre a busca manual e a automatizada, sem, entretanto, interferir e selecionar a obra a ser consultada. (BARBALHO, 2000b, p. 136).

Nota-se com esses exemplos como é possível ler na distribuição espacial a forma como a biblioteca quer ser vista pelo usuário. Ao analisar tais marcas, é possível elencar as

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estratégias de persuasão usadas, ou seja, na “cena enunciativa”, pode-se “entender os valores investidos no discurso – preâmbulo de como a biblioteca deseja ser legível, apropriada, descoberta pelo seu usuário” (BARBALHO, 2002, p. 2).

Barbalho (2000b, p. 48-49) nos fala também da relação entre a arquitetura e a mobilidade corporal: de fato, o movimento humano dentro de um determinado espaço é resultado da percepção visual, auditiva, olfativa e tátil que, em conjunto, estabelecem a consciência espacial e definem o deslocamento do corpo a partir, inclusive, da interpretação de características bi e tridimensionais como extensão, tamanho, forma, profundidade, largura, distância, entre outros. Pode-se afirmar, então, que o movimento humano é um ato de comunicação instalado através de seus deslocamentos e efetivado pelos seus trajetos no ambiente delimitado pela obra arquitetônica.

Nessa mesma linha está Coelho Netto (1993 apud NODA, 1996, p. 6) quando diz que “é inquestionavelmente, a partir do corpo que se vive um espaço, que se produz um espaço – isto é, que um espaço recebe uma carga semântica qualquer”. O espaço, então, tende a provocar no indivíduo uma série de sensações que se relacionam com os sentidos, excluindo o paladar9, ou seja, utilizando-se de audição, olfato e tato. Tais sensações precisam ser consideradas ao se projetar uma UI.

Essas questões recebem a atenção de Noda (1996), em seu Trabalho de Conclusão de Curso em Biblioteconomia, em que dialoga com os estudos de Hall (1989). Sobre a questão visual, a autora cita que os olhos são considerados o meio principal para o homem recolher informações e que este, ao longo do tempo, aprendeu a “subordinar o mundo do tato ao visual” (HALL, 1989 apud NODA, 1996, p. 10). Quando há diminuição do movimento no campo periférico dos olhos, diminui-se um pouco “a impressão de aglomeração ao passo que o aumento dos estímulos periféricos aumentará a sensação de abarrotamento” (HALL, 1989 apud NODA, 1996, p. 11). Por isso, é importante pensar nessas questões na definição da configuração espacial de uma biblioteca. Em ambientes em que se deseja tranquilidade para ler, por exemplo, “deve-se evitar o movimento contínuo, como um grande fluxo de pessoas atravessando uma sala de leitura” (NODA, 1996, p. 11) já que há a tendência dos olhos acompanharem esses movimentos, o que levaria à dificuldade para concentrar-se. Da mesma forma, pensando na parte auditiva, é importante controlar as fontes de ruído, tanto internas 9

“O paladar não tem participação nestas sensações espaciais” (NODA, 1996, p. 9).

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quanto externas, que também atrapalham a concentração no momento de estudar. Quanto ao aspecto olfativo, Noda (1996, p. 14) salienta que é preciso que se faça um bom controle de temperatura no ambiente a fim de evitar odores, pois quando “a temperatura aumenta, a percepção de um outro indivíduo é maior, o que aumenta a sensação de abarrotamento”. Por último, com relação ao espaço táctil, Hall (1989 apud NODA, 1996, p. 16) afirma que apesar de a experiência táctil haver sido subordinada à visual, a pele continua sendo uma fonte de recolhimento de informações, por isso é preciso atenção na escolha da textura dos objetos e estruturas.

Partindo da premissa de que o espaço-artefato decorre de uma intenção, Greimas (1981 apud BARBALHO, 2002, p. 3) identifica os elementos estéticos, políticos e racionais como imanentes de sua produção. Esses estariam implícitos em toda obra arquitetônica, sendo ponto de partida para qualquer leitura que venha a ser feita sobre ela: a análise estética, que articula o sentido de “feio” e “bonito”, é uma categoria abstrata que irá se valer da harmonia, da composição, do equilíbrio e do ritmo para mostrar o sentido. A análise política articula a relação do espaço com o projeto de sociedade pretendido e revela a dinâmica social da ocupação do ambiente. A análise racional atenta para compreensão da função. (BARBALHO, 2002, p. 3).

Além das categorias identificadas por Greimas, outras combinações podem ser elencadas para se entender as estratégias utilizadas pelo produtor do texto-espaço. Barbalho menciona o livro de Coelho Netto (1979 apud BARBALHO, 2000b, p. 47), intitulado A construção do sentido na arquitetura, no qual o autor elenca sete eixos organizadores de sentido do espaço. Estes eixos permitiriam decompor o todo em partes e, a partir disso, analisar as relações organizadoras do espaço e identificar os traços do ato da enunciação (BARBALHO, 2000b, p. 47). Os eixos organizadores propostos por Coelho Netto e que complementam os elementos propostos por Greimas são:

Espaço interior x exterior: Coelho Netto (1993 apud NODA, 1996, p. 18-19) afirma que para a ocupação do espaço, houve uma “tendência acentuada no sentido de atribuir à arquitetura a preocupação primeira e fundamental de lidar com o interior”. Na construção das casas, por exemplo, o espaço exterior era deixado em segundo plano. A partir do gótico há um equilíbrio entre o espaço exterior e o interior, mas que não persiste até hoje, pois, segundo o autor citado, atualmente há maior preocupação com a fachada “que coloca em segundo plano o pensamento do interior ou onde, de qualquer forma, inexiste a identificação Exterior-

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Interior, rompida em privilégio do primeiro”. Sugere-se que se busque uma identificação entre o espaço exterior e o interior;

Espaço privado x comum: este eixo depende da cultura local. É necessário saber como, em uma dada cultural, se percebe o espaço como sendo privado ou comum, ou seja, quais os limites entre um e outro; Espaço construído x não-construído: esse eixo tem relação com os chamados “espaço livre” e “espaço fechado”. Segundo Noda (1996, p. 21), nos dias atuais as construções são vistas muitas vezes como uma forma de “prisão”, conceito inerente à noção de espaço construído, oposto aos conceitos de “proteção” e “abrigo”. O propósito inicial das construções seria de proteção, mas é muito comum ver tais espaços como prisões por possuírem muitos itens de segurança como grades, trancas, portas e chaves, inclusive nas bibliotecas para proteção do acervo;

Espaço artificial x natural: um espaço não é considerado artificial só pelo fato de não ter sofrido intervenção humana, pois é possível conviver com a natureza em sua forma adaptada, sem fazê-la perder suas condições naturais. Tal fato é exemplificado da seguinte maneira:

para o oriental a natureza sem algum arranjo, sem alguma disposição do homem (e não uma disposição humana excessiva) não tem muito significado. Ou, para não radicalizar demais a afirmação: esse modo de pensar é mais adequado à arquitetura porque a natureza admite, sem deixar de ser natureza, alguma intervenção humana (COELHO NETTO, 1993 apud NODA, 1996, p. 22-23).

Espaço amplo x restrito: inicialmente pode-se imaginar que o espaço amplo relaciona-se ao espaço exterior e o espaço restrito relaciona-se ao interior, bem como ao privado e ao comum. No entanto, cada indivíduo vivencia de forma diferente o espaço amplo e o restrito. Segundo Noda (1996, p. 23-24), “nos espaços interiores, os extremos devem ser evitados” porque “ninguém se sente bem em áreas muito grandes ou extremamente pequenas”. O homem ocidental, por exemplo, receia a imensidão e se refugia nos pequenos lugares, parecendo que a grandeza é destinada a ser contemplada e não vivida. Apesar disso, um indivíduo “não suporta um espaço demasiadamente pequeno, principalmente quando precisa compartilhá-lo com alguém”;

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Espaço vertical x horizontal: é importante para o homem, segundo Noda (1996, p. 25), a junção desses dois espaços, tornando possível temporalizar o espaço. Dessa maneira,

criar um jogo de permutações entre horizontal e vertical, i. e., propor desníveis, a necessidade de subir ou descer para ir de um lugar a outro (seja num espaço aberto exterior ou num espaço interior) é bem um meio – e bastante adequado – de temporalizar o espaço: romper sua monotonia, deixar de lado um espaço que se vê para adotar um espaço que efetivamente se percorre, um espaço onde o movimento é não só possível como exigido, um espaço enfim vivido” (COELHO NETTO, 1993 apud NODA, 1996, p. 25).

A sensação de “vivência” e contato com o mundo é considerada uma necessidade inerente ao ser humano, e, por fim,

Espaço geométrico x não-geométrico: segundo Noda (1996, p. 26), é mais fácil planejar um espaço geométrico a um não-geométrico. No entanto, a utilização de formas geométricas, principalmente em grandes áreas, “tira todo o „encanto‟ da área”, deixando tudo à mostra, sem haver surpresas. Por serem previsíveis, as formas contém menos informações, não mudando comportamentos. “Nada modificam, não instauram mudanças, servem para manter apenas, para segurar – como informação, valem pouco e mesmo nada” (COELHO NETTO, 1993 apud NODA, 1996, p. 26-27). Além disso, ao impor um traçado geométrico rígido, por exemplo, para a malha viária, objetiva-se “reduzir ou eliminar a liberdade do indivíduo, facilitando o seu controle, e não protegê-lo do exterior ou mesmo libertá-lo” (COELHO NETTO, 1993 apud NODA, 1996, p. 27).

2.2 Os dispositivos informacionais e a apropriação da informação

No campo da Infoeducação, o ambiente da biblioteca, entre outros elementos, é compreendido como um dispositivo informacional, possuidor de uma intencionalidade. Sua configuração é entendida como um mecanismo portador de significados, que pode atuar nos processos de apropriação da informação. Relataremos a seguir, de forma resumida, algumas considerações importantes para se chegar ao que se entende nesse contexto por dispositivo.

Pieruccini (2004; 2007) relata que a busca pela informação em nossas bibliotecas públicas e escolares é deixada muitas vezes a cargo de crianças e adolescentes que não foram

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ensinados a pesquisar, como se tal busca e a construção do conhecimento acontecessem de forma natural e espontânea, sem necessitar aprendizagens complexas e múltiplas. Ao contrário do que se possa pensar,

o acesso ao conhecimento é um percurso intenso e extenso, implicando saberes, competências e atitudes socialmente constituídas, exigindo sólidos esforços de diferentes ordens, sobretudo, trabalho e aprendizagens constantes e permanentes. (PIERUCCINI, 2007).

O que ocorre muitas vezes é que os escolares não possuem referenciais culturais para tornar as informações significativas, pois estas são apresentadas de forma descontextualizada. Dessa maneira, esses alunos “não têm ideia do que fazem na biblioteca, do que buscam, como e porque buscam, satisfazendo-se com o mínimo que obtém, simplesmente para desincumbirse de suas obrigações” (PIERUCCINI, 2004, p. 55).

O termo busca, dentro da perspectiva adotada por Pieruccini (2004; 2007) em sua pesquisa sobre a ordem informacional dialógica10, é visto como uma “ação externa e interna de movimento em direção a algo necessário ou desejado por alguém, com a finalidade de responder a uma necessidade pessoal de satisfação” (PIERUCCINI, 2007), que possui dimensão física e simbólica e tem como correspondente o termo apropriação, um processo “pelo qual nos apoderamos, para dele fazer nossa propriedade individual, do que não pertence a ninguém ou a toda gente” (LALANDE, 1996 apud PIERUCCINI, 2004, p. 16, grifo do autor), ou seja, há uma transformação “do que é comum (a memória, o conhecimento) em algo que seja próprio e único” (PIERUCCINI, 2007). A busca de informação, portanto, não pode ser vista como algo mecânico porque envolve processos cognitivos complexos de significação (PIERUCCINI, 2004, p. 51).

Vale lembrar que no campo da Infoeducação, distinguem-se os termos assimilação e apropriação. O primeiro termo refere-se à “transformação que vai do diferente para o semelhante, do outro para o mesmo... [opondo-se] à diferenciação” (LALANDE, 1993 apud PERROTTI; PIERUCCINI, 2007, p. 73, grifo do autor), ou seja, há uma recepção passiva das informações transmitidas. Já “apropriar-se é transformar o que se recebe em algo próprio [...] é atividade de invenção, produção de significados”. Apropriação é uma “ação afirmativa, é

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No final deste tópico, descreveremos como a autora distingue uma ordem informacional monológica de outra dialógica.

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invenção e criação e não simples recepção mecânica e automática de sinais ou de mensagens” (CHARTIER, 1999 apud PERROTTI; PIERUCCINI, 2007, p. 74).

Segundo Serfaty-Garzon (2003 apud PERROTTI; PIERUCCINI, 2007, p. 72), a noção de apropriação “veicula duas ideias dominantes. De uma parte, a de adaptação de alguma coisa a um uso definido ou a uma destinação precisa; de outra, decorrente da primeira, a de ação visando a tornar alguma coisa sua”. A noção de propriedade ganha importância nesse sentido, constituindo-se uma dimensão importante da apropriação, “a propriedade é aqui de ordem moral, psicológica e afetiva”. Diante de um novo quadro de produção, circulação e recepção da informação11, marcado pela “presença maciça das tecnologias da informação” e “das organizações que veiculam e distribuem em escala planetária e em tempo real informações de todos os tipos e naturezas” (PIERUCCINI, 2004, p. 36), nota-se que a informação passa a ser um produto e que somos a todo o momento bombardeados por ela. O problema que se vê não é tanto de acesso e sim de incapacidade para lidar com a profusão de informação já que não há tempo de processá-la e inseri-la em quadros referenciais.

Com a preocupação de incluir massas excluídas historicamente dos circuitos de produção e circulação do conhecimento, são realizados em alguns países programas de educação para a informação e educação de usuários12, que enfatizam a necessidade de ensinar a pesquisar, desenvolver a autonomia, aprender a aprender. Essa perspectiva, entretanto, é vista como insuficiente no quadro brasileiro. Disponibilizar simplesmente a informação funciona bem “em quadros em que o domínio dos instrumentos do conhecimento pelos sujeitos já se efetivou” (PIERUCCINI, 2004, p. 11).

A preocupação somente com a formação localiza o problema e a sua solução apenas nos sujeitos e não considera “a ordem informacional contemporânea nem a ordem de seus dispositivos” (PIERUCCINI, 2004, p. 12). Atualmente em nosso país é necessário recriar dispositivos que não tenham como fim o mero processo de assimilação de informações e sim a perspectiva de apropriação. Para tanto é preciso estar atento à configuração do espaço (foco 11

“Definido como “sociedade da informação” ou “do conhecimento“, “era da informação” (Castells), “cibercultura” (Lévy), ou, ainda, “cibermundo” (Virilio)” (PIERUCCINI, 2007). 12 Para Perrotti e Pieruccini (2007, p. 55), tais aproximações entre Informação e Educação são significativas, mas não representam uma ruptura epistemológica capaz de vencer o dualismo que separa os dois campos.

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de nosso estudo) e também às linguagens, aos recursos (materiais e humanos) e às práticas informacionais.

A hipótese da Infoeducação, que busca estudar as relações entre a Informação e a Educação, é que existe uma vinculação entre os processos de apropriação e os dispositivos de informação e cultura (PERROTTI; PIERUCCINI, 2007, p. 72). Por isso é necessário criar “programas voltados às aprendizagens informacionais” e reordenar os “dispositivos de informação em Educação” (PIERUCCINI, 2004, p. 12). Tais dispositivos precisam ser formulados a partir de novos referenciais que, como já mencionado, não sejam embasados nos ideais de conservação ou difusão do passado.

Inicialmente foi usada pelo grupo de pesquisa em Infoeducação a formulação Serviços de Informação em Educação para nomear os dispositivos que desejavam estudar. Entretanto, as pesquisas mostraram a limitação dessa nomeação. Serviço “remetia a uma dimensão instrumental, que deixava de lado os aspectos essenciais das instâncias de mediação cultural nos processos de significação” (PERROTTI; PIERUCCINI, 2007, p. 79), já o complemento em educação aparecia como um simples adjunto, colocando-o como uma categoria espacial, um simples local onde os serviços se instalariam. Já o termo dispositivo apontava direções que convergiam com as preocupações do grupo de compreender as instâncias de mediação na perspectiva foucaultiana de “agenciamento de elementos diversos e complexos, tendo em vista uma finalidade”, e, ao mesmo tempo, de compreendê-las também como “agenciamento” que produz ele próprio uma finalidade [...] situa os dispositivos numa posição não meramente funcional ou instrumental, mas sobretudo discursiva, ressaltando seu papel nos atos de significação, dada sua natureza de signo. (PERROTTI; PIERUCCINI, 2007, p. 81).

O termo dispositivo, em sua origem, provém do campo técnico, em que era entendido como “conjunto de peças que constituem um mecanismo, um aparelho qualquer” (LAMEUL apud PIERUCCINI, 2004, p. 41, grifo do autor) e foi desenvolvido por Foucault para o campo das Ciências Sociais, em que seu conceito relaciona-se à

noção de toda ação, de elementos humanos ou materiais, realizada em função de um objetivo a ser atendido. Deste modo, um dispositivo é uma instância, um local social de interação e de cooperação com suas intenções, seu funcionamento material e simbólico, enfim, seus modos de interação próprios. (FERREIRA apud PIERUCCINI, 2004, p. 41).

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Nota-se que, dessa maneira, é introduzida à concepção de dispositivo uma visão simbólica e o indivíduo não é mais considerado o centro dos processos de significação do mundo, “passando a partilhá-los com os objetos, os artefatos, as ferramentas, e os nãohumanos em geral” (PIERUCCINI, 2007). Entende-se o conceito de dispositivo de informação, de modo geral,

enquanto todo e qualquer mecanismo (técnico e simbólico) capaz de promover a relação, organizar a realidade e fornecer um instrumento para o pensamento (um texto, uma mensagem fotográfica, cinematográfica, um ambiente, uma prática), é possível caracterizá-lo como um quadro semiótico que produz significados, no interior do qual o sujeito opera. (PIERUCCINI, 2007, grifo nosso).

É importante frisar que os dispositivos de transmissão e comunicação como as bibliotecas não são meros suportes de informação isentos. Na maneira como tais dispositivos são configurados, seus recursos, formas e práticas há uma intencionalidade, pois

os dispositivos, enfim, não apenas expressam como também definem, por meio dos discursos implícitos em sua configuração, modos de relação entre os sujeitos e o universo simbólico (documentos, registros, informações, conhecimento) que guardam. (PIERUCCINI, 2004, p. 44).

Em resumo, como descreve Pieruccini (2011), •Dispositivos: como o próprio nome diz, dispõem, isto é, ordenam, organizam, prescrevem. •Não são neutros; são carregados de intencionalidade. •A articulação entre seus elementos materiais, suas linguagens e relações comportam uma dimensão simbólica, ou seja, os dispositivos significam. [...] Em outros termos… •Os dispositivos não apenas oferecem/dão acesso às informações, mas dizem, contam, narram - produzem significados que atuam sobre suas relações com os sujeitos que ali transitam, e deles como conhecimento, com a Cultura. •Os dispositivos constituem uma ordem e essa ordem (monológica/dialógica) atuará nos processos de apropriação do dispositivo.

Dentro do conceito de dispositivos, podem ser diferenciados, então, três tipos: Dispositivos de Apropriação Cultural, Dispositivos de Conservação Cultural e Dispositivos de Difusão Cultural13. Do ponto de vista pragmático, os elementos que os compõem não são necessariamente distintos. Há livros, por exemplo, em qualquer um deles. Apesar disso, “ser constituído e organizado para conservar é diferente de ser constituído e organizado para 13

No capítulo 4 trataremos dessas diferentes perspectivas ao descrever espaços de conservação, de difusão e novas propostas.

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difundir, que, por sua vez, é diferente de ser constituído e organizado para ser apropriado” (PERROTTI; PIERUCCINI, 2007, p. 85).

Pieruccini (2004; 2007) sugere que se passe de uma ordem monológica para uma ordem dialógica. A autora cita que

no processo dialógico, os sujeitos do diálogo se alteram em processo (devir). O Diálogo é uma corrente inserida na cadeia infinita de enunciados (atos), um ato levando a outro ato e este a outro, infinitamente. O enunciado afirmado por alguém passa a fazer parte de todos os enunciados, numa cadeia infinita. (BAHKTIN apud PIERUCCINI, 2004, p. 59).

O dispositivo informacional dialógico seria de configuração modulável, “aberta, flexível, visando atender necessidades dos diferentes grupos que nele transitam e cujo desenho constitui-se no jogo entre produtores, mediadores e usuários” (PIERUCCINI, 2011)14. Nele o espaço ganha importância, já que

os elementos do espaço informacional não são meros adereços, simples elementos decorativos, mas, ao contrário, discursos que geram um estado de espírito capaz de criar vínculos dos sujeitos com aprendizagens de diferentes ordens. (PIERUCCINI, 2007, grifo nosso).

Frente a essas considerações, citamos Perrotti (2004b, p. 21), que afirma a necessidade de “ensinar a biblioteca”, ou seja, ao enviar as crianças à biblioteca é preciso orientá-las, mostrar que existe uma ordem própria que precisa ser aprendida para que os recursos sejam usados de forma plena e para que estes usuários ganhem autonomia. Como afirma Barbalho (2000a, p. 13, grifo nosso):

a biblioteca é então apresentada como um código que deve ser dominado pelo usuário pois seu uso não é intuitivo, mas apreendido. Ao dominar o código, ele passa a ter reais condições de uso e de captação dos mais variados significados produzidos, pelas combinatórias dos constituintes do código, uma vez que o domínio das regras é que possibilita a plena liberdade de uso.

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No capítulo 4 trataremos do espaço da Rede Escolar de Bibliotecas Interativas, considerada um exemplo de dispositivo informacional dialógico. Nosso foco será o espaço informacional, mas é importante lembrar que outros elementos são também importantes para sua constituição: repertório informacional, linguagem documentária informacional, práticas informacionais e culturais e práticas de gestão informacional e cultural.

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2.3 O espaço exterior

A visão que se tem da biblioteca e de outras instituições culturais como museus é muitas vezes de um lugar hostil e não de um espaço em que o cidadão poderá ter a possibilidade de posicionar-se ativamente como produtor de conhecimento. Essa visão iniciase, por exemplo, com o contato com o exterior dos edifícios dessas instituições. Em pesquisa15 feita sobre a Pinacoteca16 do Estado de São Paulo, tivemos a oportunidade de entrevistar a educadora Gabriela Aidar, que nos falou sobre as ações culturais e educativas realizadas pelo Núcleo de Ação Educativa dessa instituição. A entrevistada comentou que muitas vezes os transeuntes da região, ao simplesmente olharem a fachada do prédio, não imaginam tratar-se de um museu, confundem inclusive o prédio com uma igreja. Em nossa interpretação, esse potencial visitante possivelmente não se sinta “convidado” a entrar lá, talvez pela austeridade da fachada do edifício. Segundo Barbalho (2002, p. 2), a fachada de um prédio “antecipando ou não o que está à espera do usuário no interior é, de fato, o elemento que primeiro se põe para ser visto”, por isso confere ao edifício uma imagem de marca, podendo “convidar a entrar, passar despercebida, ou afastar um público pouco motivado” (GASCUEL, 1987, p. 16) e o que se espera, obviamente, é que as “especificações arquitetônicas estimulem as pessoas a entrarem nos prédios” (AUGUSTINHO, 1987 apud BARBALHO, 2000b, p. 51).

As fachadas se colocam como uma fronteira que separa o interior do exterior, e podese afirmar que manifestam valores, podendo criar diversos efeitos como curiosidade, familiaridade, intimidação, legitimidade, abertura, confronto, nostalgia, rejeição ou aceitação (BARBALHO, 2000b, p. 57). Uma produção arquitetônica não é, portanto, ingênua ou neutra, pois “se manifesta pela localização no tecido urbano, pela materialidade através da cor, textura, transparência, opacidade, geometricidade e pela dinâmica que sintoniza o que, de fato, ela deseja comunicar” (BARBALHO, 2000a, p. 7). Como exemplo, tomemos o prédio do MASP – Museu de Arte de São Paulo (Figura 1), localizado na Avenida Paulista, em São Paulo: 15

Trabalho elaborado para a disciplina CBD0277- Biblioteca com função educativa: a criança e o jovem, ministrada pela Profa. Dra. Regina Keiko Obata Ferreira Amaro, no primeiro semestre de 2009. 16 O prédio da Pinacoteca localiza-se na Praça da Luz, em São Paulo.

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Figura 1 - MASP Imagem disponível em: . Acesso em: 26 set 2011.

Sua forma arquitetônica pode ser considerada

um argumento contra a verticalidade dos demais edifícios e marca, pela contestação de suas formas, sua presença horizontalizante no espaço urbano. Ao diferenciar-se dos demais, inclusive pela cor vermelha que usa, chama a atenção para o que abriga em seu interior: a arte. (BARBALHO, 2000b, p. 49).

Fachadas de vidro como a da biblioteca francesa Jean-Pierre Melville (Figura 2), localizada em Paris, entre outras bibliotecas citadas por Barbalho em sua tese, “criam efeitos de curiosidade, de invasão concreta do espaço exterior”, na tentativa de provocar “um convite à sua entrada através da exposição de suas atividades” (BARBALHO, 2000b, p. 57). Sobre essa biblioteca encontramos a seguinte análise:

o trunfo maior da coleção de Melville é de ser uma vasta vitrina, aberta no mesmo nível da cidade. A fachada não é mais um obstáculo que separa o mundo da biblioteca da rua, mas uma simples pele (camada) que autoriza a osmose entre os dois espaços. A biblioteca deixa de ser um santuário, um lugar fechado. As fronteiras entre exterior e interior se atenuam, poder-se-ia quase qualificá-la de biblioteca extrovertida. O transeunte é posto em situação de espião. A fachada, mostrando a extensão da biblioteca e as atividades que se desenvolvem, é um apelo, um convite para o transeunte entrar. Ela revela a intimidade dos lugares, os objetos se aliam às mesas de leitura e dos raios de sol, a atmosfera estudiosa. (ORLOFF, 1996 apud BARBALHO, 2000a, p. 15).

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Figura 2 - Médiathèque Jean-Pierre Melville Imagem disponível em: . Acesso em: 26 set 2011.

Um exemplo oposto seriam as fachadas de bibliotecas instaladas em edifícios históricos, como o da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (Figura 3), que por serem imponentes, criam um efeito de “preservação, de isolamento, de intimidação, de reserva de uso de seus espaços, vedando qualquer visibilidade do interior” (BARBALHO, 2000a, p. 16).

Figura 3 - Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro Imagem disponível em: . Acesso em: 26 set. 2011.

Ainda sobre a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, pode-se afirmar que:

o passante e a biblioteca estão isolados pela imponente fachada que instala um sentido de privação, de algo que está sobre todos já que uma imensa escadaria de

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mármore a separa do nível da rua, elevando-a, um sentimento de nostalgia, de profanação por se tratar de um lugar histórico, enriquecido pelo prestígio da antiguidade, de um santuário cultural onde a própria fachada revela traços e datas do passado. (BARBALHO, 2000a, p. 16).

2.4 O espaço interior

A arquitetura interior, assim como a exterior, é uma forma de “persuadir o olhar do usuário de modo a obter sua adesão e, consequentemente, sua disposição em utilizá-la” (BARBALHO, 2002, p. 1). A biblioteca, portanto, se enuncia pela forma como ocupa o espaço. Com relação a isso, destacamos a seguinte frase do arquiteto Vilanova Artigas (apud FERRARA, 1986, p. 51): “Digo aos jovens arquitetos: tenham a sensibilidade de fazer com que seus edifícios tenham alguma coisa a dizer”.

Sobre a enunciação, vale lembrar que esta não é somente o lugar do sujeito e sim o lugar de um eu em relação a outro, ambos em um contexto referencial (TEIXEIRA, 1996 apud BARBALHO, 2002). “Logo, o sujeito que enuncia – a biblioteca –, ao mesmo tempo em que se projeta no discurso, instala aquele a quem enuncia – o usuário” (BARBALHO, 2002, p. 1). Como afirma Verón (1999, p. 39-40, tradução nossa17), em seu livro intitulado Esto no es un libro,18 a organização espacial é uma “enunciação da oferta” e, como todo ato de enunciação, essa organização espacial “contém uma imagem do destinatário, supõe hipóteses sobre os visitantes da biblioteca, seus interesses e suas expectativas”19.

Verón (1999), em pesquisa sobre a organização espacial da biblioteca e sua relação com a leitura, procura responder, entre outras questões, como se lê a figura do usuário e a missão dessa instituição em sua estrutura espacial. Tal pesquisa, realizada na França, concentra-se em quatro bibliotecas municipais de livre acesso, especificamente na parte circulante para adultos. Tomemos como exemplo duas delas: na primeira, denominada “Biblioteca B”, ao entrar na sala de empréstimo, o visitante encontra-se com mesas e estantes que apresentam sugestões de leituras. Dessa maneira, segundo o pesquisador,

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Os textos originais das citações em língua estrangeira serão colocados em notas. O título do livro brinca com o fato de ser um metalivro, ou seja, um livro que fala de livros. 19 “contiene una imagen del destinatario, supone hipótesis sobre los visitantes de la biblioteca, sus intereses y sus expectativas”. 18

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a trajetória do visitante se inicia com uma configuração de interpelações por parte dos responsáveis da instituição: o acolhimento é ativo. Através desses atos, o enunciador-instituição expressa suas preferências e sua vontade de orientar o usuário sugerindo-lhe certas leituras.20 (VERÓN, 1999, p. 43, tradução nossa).

Nessa biblioteca, segundo avalia o autor, a maioria das placas de sinalização das estantes é visível ao mesmo tempo, buscando facilitar a orientação no espaço. Conclui-se que nela há uma busca de contato com o público ou vontade pedagógica de orientação dos usuários. Há clareza na organização espacial da sala, que pode ser visualizada em seu conjunto desde o início da trajetória. Busca-se atender à demanda do público, mas também gerar novos interesses. Em síntese, há nesse espaço transparência, contato e orientação. A segunda instituição analisada, “Biblioteca A”, é julgada por Verón (1999, p. 44, tradução nossa) como um verdadeiro labirinto, sendo uma das razões para isso a redução do campo de percepção: “quando um visitante se encontra em um espaço qualquer desta sala, tem somente acesso visual ao seu contexto imediato, devido à altura das estantes”21. A descrição apropriada para essa biblioteca seria distância e opacidade. O enunciador institucional está praticamente ausente: “as únicas sugestões de leitura concernem às novidades, colocadas na entrada, fora da sala principal [...] Na sala, não há nenhuma sinalização explícita de orientação espacial”22.

Voltando à questão do uso do espaço, embora o usuário possa escolher seu trajeto e uma mesa de estudo, ele é manipulado pelo destinador-biblioteca, que no caso da BPEAM, “não lhe concede o acesso irrestrito ao seu ambiente” e exige dele um determinado comportamento (BARBALHO, 2000b, p. 73), ou seja, o ambiente interno impõe certas normas de conduta, por exemplo, de manter o silêncio,

cujas marcas são encontradas nas placas solicitando silêncio, que se desligue os aparelhos de telefonia móvel, nas salas de estudo em grupo as quais são isoladas das demais para se permitir a conversa em tom mais elevado, nos tapetes que abafam o som das passadas, nas luminárias com suas luzes diretas que determinam os locais de leituras, o carrinho colocado junto às mesas indicando que as obras não devem ser devolvidas às estantes, no porta-sombrinha posto junto à entrada para que o chão não fique molhado nos dias de chuva, entre outros. (BARBALHO, 2000b, p. 73). 20

“la trayectoria del visitante se inicia pues con una configuración de interpelaciones por parte de los responsables de la institución: la acogida es activa. A través de estos actos, el enunciador-institución expresa sus preferencias y su voluntad de orientar al usuario sugiriéndole ciertas lecturas.” 21 “cuando un visitante se encuentra en un espacio cualquiera de esta sala, sólo tiene acceso visual a su contexto inmediato, debido a la altura de los estantes.” 22 “las únicas sugerencias de lectura conciernen a las novedades, colocadas en las entradas, fuera de la sala principal [...] En la sala, no hay ningún señalamiento explícito de orientación espacial.”

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Quando essa regra do silêncio23 é quebrada, há um desrespeito “à zona pessoal e íntima, ou seja, há um comportamento espacial (sonoro, gestual) esperado do usuário e que pode ser manipulado pela organização espacial” (BARBALHO, 2000b, p. 74). A organização espacial funciona como informadora e formadora do comportamento dos usuários que vão agir seguindo as pistas deixadas no ambiente interno da biblioteca.

A organização espacial interna pode ser vista também como um retrato da relação pedagógica, “porque registra, concretamente, através de sua arrumação (dos móveis...) e organização (dos materiais...) a nossa maneira de viver esta relação” (FREIRE, 1994 apud ALMEIDA; ROCHA, 2009, p. 7).24 Para Sales (2005 apud ALMEIDA; ROCHA, 2009, p. 7), a arquitetura escolar é uma espécie de currículo invisível, que pode propiciar ou dificultar os processos educativos. Lima (1989 apud ALMEIDA; ROCHA, 2009, p. 9), por sua vez, aponta que houve uma padronização do espaço escolar e este “não poderia ser outro: desinteressante, frio, padronizado, na forma e na organização das salas, fechando as crianças para o mundo, policiando-as, disciplinando-as”. Sobre tal questão, Verdini (2004, p. 25) nos mostra que

A organização do espaço da sala de aula reflete a ação pedagógica do professor, assim como o jeito de organizarmos nossa casa diz da nossa forma de viver. Carteiras enfileiradas e fixas denunciam a não permissão de diálogos, de trocas simbólicas, de confrontos de saberes. A mesa isolada do professor faz supor um distanciamento, uma hierarquia de poder, uma postura de dono da verdade. Já os arranjos possíveis com móveis removíveis, a formação de rodas de conversas e histórias, a exposição das produções individuais ou coletivas da classe – de textos ou de expressões plásticas – e, ainda, a exibição de fotos de situações de aprendizagem, tudo isso reflete as relações pedagógicas concretas existentes nesse espaço, contam das dificuldades e dos progressos conseguidos, do intercâmbio de culturas, da aceitação das diversidades.

Ainda sobre a arquitetura escolar, mas agora no nível universitário, Ferrara (1986, p. 56), em sua obra Leitura sem palavras, fala-nos um pouco sobre o edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da USP, localizado na Cidade Universitária, no bairro do Butantã, em São Paulo, e projetado por Villanova Artigas. Nesse prédio, segundo a autora, há “luz abundante, amplos espaços, eliminação de janelas e vãos, estúdios enormes; poucas salas de aula”. Foi planejado para ser uma escola de arquitetura, tem uma estrutura arrojada objetivando ter um ensino revolucionário, por isso possui poucas salas, localizadas no andar 23 24

A questão do silêncio será apresentada no tópico 3.5.2 quando tratarmos da acústica. O exemplo dado refere-se à arquitetura de escolas e principalmente à organização espacial das salas de aula, mas acreditamos que tais considerações podem aplicar-se às bibliotecas, pois também possuem, entre outras, a finalidade educativa.

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superior, distantes do espaço de convívio coletivo, insinuando que “a aula não é a atividade exclusiva de uma escola” (FERRARA, 1986, p. 64).

2.5 O espaço da biblioteca e a leitura

Antes de tratar sobre a relação entre o espaço da biblioteca e a leitura, parece-nos importante dizer que esta pode ser encarada em pelo menos duas perspectivas: um ato mecânico de decodificação do código escrito, dentro dessa perspectiva estariam os chamados analfabetos funcionais, ou uma leitura significativa, em que a construção de sentidos se faz ao relacionar o texto a outros elementos da vida.

Barker e Escarpit (1975, p. 116), em texto sobre hábitos de leitura, afirmam que estes são difíceis de estudar, dado que as pesquisas revelam o volume e a distribuição do consumo de material impresso, mas convém lembrar que consumo não significa necessariamente leitura. Um dos pontos observados pelos autores é que existem espécies diferentes de leitura: contrapõe-se ao ato de ler como simples decodificação a leitura como ato completo de comunicação, ou seja, diferencia-se decodificação de significação. Nessa segunda possibilidade, ao ler, o leitor é criador e reconstrói os significados colocados pelo escritor no texto.

Perrotti (2004a, p. 4) nos alerta sobre o fato de que geralmente quando se fala em leitura a atenção se concentra “apenas no processo interior, psicológico” o que nos impede de “considerar outras questões essenciais e igualmente importantes à formação de leitores” como os circuitos de leitura, ou seja, as instituições dedicadas a ela. Dessa forma, os espaços de leitura são muitas vezes desconhecidos e desconsiderados em nosso país, “vistos apenas como ponto de apoio, peça secundária nos processos educativos e culturais”. Como vimos anteriormente, é importante que se criem ambientes favoráveis ao ato de ler, dispositivos informacionais que não apenas ofereçam materiais para leitura e sim sejam capazes de

sensibilizar, de vincular, de promover interesse pelos conteúdos que ela veicula. Trata-se, assim, de criar instâncias de leitura que, além do acesso físico aos livros, promovam a apropriação de seus conteúdos. (PERROTTI, 2004a, p. 4).

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Apesar de a leitura não ser a única atividade possível em uma biblioteca, espera-se encontrar nela as condições ideais para essa atividade. Sobre a relação entre conforto e leitura, Taralli (2004b, p. 37) considera que ler em um canto escuro e abafado certamente não será tão bom quanto ler “ao lado de uma janela ampla, com ventilação suave e visibilidade para um jardim”. Mas, nesse último cenário, se a luz solar incidir diretamente sobre o livro provocará ofuscamento e o calor provavelmente trará irritação ou sono. Desse modo entendemos que os fatores climáticos e a organização espacial influenciam no modo como as pessoas aproveitam o ambiente da biblioteca.

Sequeiros (2010, p. 61), ao tratar dessa questão, observa que podemos escolher lugares variados para ler, mas os prédios das bibliotecas são construídos especificamente para esse fim, e “aí se espera encontrar as condições ótimas, a expressão da racionalidade técnica na produção dum bom ambiente físico”. Para Taralli (2004b, p. 31), este espaço “mantém relações físicas e simbólicas com a leitura, tornando-se parte integrante dela”. Praticamos, portanto, a leitura em diferentes lugares: alguns deles podem ser motivadores outros podem provocar desinteresse. Ainda segundo Taralli (2004b, p.32),

os leitores mantêm relações com os ambientes em que leem, mesmo que tais relações não sejam mecânicas, automáticas, em linha direta. Eles estabelecem vínculos simbólicos, afetivos e psicológicos com os lugares em que atuam, reconhecidos nos elementos que os compõem, como os sinais ou elementos de comunicação e informação, a paisagem, a construção, a organização, o arranjo e a ambientação internos, as cores, texturas e cheiros.

Barbalho (2000b) identifica em sua pesquisa sobre a BPEAM alguns tipos de usuários, denominados por ela da seguinte maneira25:

usuário transcritor: nesse grupo estariam, por exemplo, estudantes de ensino fundamental e médio que vão à biblioteca para realizar uma pesquisa escolar. Geralmente eles dirigem-se ao balcão para solicitar alguma obra sobre o assunto em questão e fazem cópia do material indicado. Nota-se que a busca é intermediada pelo funcionário da biblioteca, porque somente este tem acesso ao acervo.26. É interessante notar que, sobre o usuário:

25

Vale lembrar que tal tipologia refere-se especificamente aos usuários da instituição estudada (BPEAM). Tais categorias podem ou não ser aplicadas a outras instituições. Pareceu-nos, entretanto, importante mencioná-las porque a autora descreve algumas delas com relação ao uso do espaço, tema de nosso trabalho. 26 O acervo da BPEAM não é de acesso livre.

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seu comportamento está de acordo com a exigências explicitadas pelo texto ambiental pois, após entrar pelo grande átrio, dirige-se à ala direita do andar térreo, recebe, preenche e entrega ao funcionário o formulário, aguarda sentado para ser chamado e, ao receber a obra com a página aberta no assunto solicitado, apenas confere se tem a mesma denominação solicitada pelo professor e não questiona sobre qualquer outros autores que abordem a temática. (BARBALHO, 2000b, p. 151).

Esse tipo de usuário não usa o catálogo porque a organização espacial não o induz a efetuar essa descoberta. A biblioteca, dessa forma, segundo a avaliação de Barbalho (2000b, p. 152) assume um papel de “depósito de livros”, deixando a responsabilidade de adquirir informação somente ao usuário, “ao invés de contribuir para potencializar os conhecimentos modificadores e inovadores que construirão seu saber”;

usuário dissimulador: é o tipo de usuário que busca principalmente obras literárias para empréstimo domiciliar. Geralmente aceita sugestões ou traz um título pré-selecionado, não utilizando o catálogo para encontrar as obras. Esse tipo de usuário observa pouco o espaço, mas conhece bem seu próprio trajeto. É, no entanto, um “alvo fácil para ser seduzido por um bom serviço de divulgação de obras literárias ou por um agradável e confortável local onde possa, pacientemente, selecionar as obras para empréstimo” (BARBALHO, 2000b, p. 153154). A biblioteca, ao não manter um lugar destinado à leitura informal, “assume a postura de mera entregadora de livros” e, dessa maneira, não se preocupa “com o processo de assimilação das leituras” (BARBALHO, 2000b, p. 155);

usuário incidental: trata-se geralmente de turistas que visitam a capital amazonense e são seduzidos “completamente pelo texto arquitetônico” (BARBALHO, 2000b, p. 156), penetram no espaço com curiosidade. Nessa mesma categoria estariam pessoas residentes na cidade que entram na biblioteca em busca de alguma informação como, por exemplo, o trajeto de um ônibus. A biblioteca, entretanto, desconsidera esse tipo de usuário e “ao agir desse modo, coloca-se distante da totalidade das demandas oriundas da comunidade e assume um papel tradicional e conservador quanto à oferta de seus serviços” (BARBALHO, 2000b, p. 158), e, por fim,

usuário pesquisador: representa apenas 1,7% dos frequentadores da BPEAM. Geralmente sabe como localizar o que deseja na biblioteca e tem livre acesso às obras. Esse tipo de usuário prefere cabines individuais para leitura, deseja que a biblioteca possua “salas de estudo individual, boa iluminação, sinalização que facilite seu deslocamento, catálogos fáceis

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de manusear”, entre outros itens (BARBALHO, 2000b, p. 159). A biblioteca, ao permitir que esse tipo de usuário tenha acesso livre ao acervo, passa a ser vista por ele como um lugar privilegiado, aberto e desprovido de limites.

Barbalho (2000b) avalia que os tipos denominados pesquisador e incidental estão mais abertos à oferta, possuem uma imagem positiva da biblioteca e “deixam-se manipular pela sedução e tentação que organizam o discurso do destinador-manipulador, a BPEAM” (BARBALHO, 2000b, p. 162). Já os usuários dos tipos transcritor e dissimulador restringemse àquilo que buscam. Para a pesquisadora, o reconhecimento dos tipos de usuários deverá, acima de tudo, gerar ações por parte da biblioteca, que venham a contribuir para que eles transpassem as barreiras impostas pelas suas limitações e atinjam níveis mais elevados. (BARBALHO, 2000b, p. 161).

Verón (1999) também elenca em sua pesquisa seis estratégias ou programas de leitura quando examina as quatro bibliotecas municipais francesas. São elas:

Leitura temática: o leitor está preso a um tema e não quer mudá-lo. Tem uma percepção pontual e seletiva do espaço da biblioteca. Conhece somente a parte da biblioteca em que estão os livros de seu interesse;

Leitura problemática: o leitor tem interesse por um problema que se insere em diferentes temáticas. A biblioteca para ele é uma forma de examinar um livro antes de comprá-lo. Critica a pobreza das coleções e, antes de procurar os livros, consulta os catálogos;

Leitura eclética: para esse leitor, a leitura é uma busca de prazer e entretenimento. Busca vários temas. É o leitor que melhor conhece o espaço da biblioteca em seu conjunto;

Leitura ficcional por autor: esse leitor busca livros de um mesmo autor. Conhece só uma parte da biblioteca que lhe interessa;

Leitura ficcional por gênero: esse leitor procura entreter-se, divertir-se ou relaxar. A leitura é para ele um prazer quantitativo. Não conhece os outros setores da biblioteca, e por último

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Leitura das novidades: esse leitor precisa de informação atualizada. A escolha do livro raramente é anterior à ida à biblioteca. Fica atento às sugestões de novidades promovida pela biblioteca.

Verón (1999) constata que o uso do espaço depende do tipo de estratégia de leitura, pois cada uma tem um vínculo fragmentário e parcial com o espaço. Não existe uma configuração espacial ideal para todos os tipos de leitores, segundo avalia o autor. Há, entretanto, espaços mais ou menos adequados que outros. Sua sugestão é que as decisões globais sobre a distribuição no espaço do acervo de uma biblioteca deveriam ser tomadas considerando a composição socioprofissional da população que frequenta a biblioteca, dado que os programas de leitura parecem associados ao capital cultural do usuário27. (VERÓN, 1999, p. 83, tradução nossa).

27

“las decisiones globales sobre la puesta en espacio del fondo de una biblioteca deberían ser tomadas considerando la composición socioprofesional de la población que frecuenta la biblioteca, dado que los programas de lectura parecen asociados al capital cultural del usuario”.

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3 QUALIDADES DESEJÁVEIS PARA O ESPAÇO DA BIBLIOTECA

3.1 Características gerais

Vimos no capítulo anterior que as estruturas externa e interna de um edifício não são neutras. Sua organização possui uma intencionalidade e guia comportamentos. Diante dessas considerações, acreditamos ser necessário incluir, em projetos de construção de bibliotecas ou em reformas, alguns elementos que tornem tais edifícios compatíveis aos seus objetivos. Quais seriam, então, as características mais importantes para o espaço de uma biblioteca? Nesse capítulo procuraremos descrever o que alguns estudiosos consideram como fundamental para o espaço, independentemente do tipo de biblioteca: escolar, universitária ou pública. Os “dez mandamentos de Faulkner-Brown”, uma lista de qualidades desejáveis para um edifício de biblioteca, são citados em muitos textos que tratam dessa temática (ALMEIDA, 2005; BARBALHO, 2000b; CASTRO FILHO; VERGUEIRO, 2010; GÓMEZ HERNÁNDEZ, 2002; MIRANDA, 2000; MORAES, 2006; RIBEIRO, 2006). Apesar de não existir um modelo único, segundo esse decálogo, um edifício de biblioteca deve ser: flexível, compacto, acessível, suscetível de ampliação, variado, organizado, confortável, dotado de um ambiente constante, seguro e econômico. Almeida (2005, p. 116) julga que tais princípios podem ser considerados também indicadores e servir para “avaliar se o projeto é adequado ao uso que se espera do edifício”. Em síntese, as qualidades elencadas por Faulkner-Brown são:

Flexível: a flexibilidade, segundo o autor citado, refere-se à disposição e à estrutura que devem ser fáceis de modificar caso surjam novos serviços e necessidades ao longo do tempo, ou seja, significa “capacidade de adaptação do espaço a novos usos ou funções com um mínimo de inconveniência e custo” (ALMEIDA, 2005, p. 117). Para tanto, deve ter uma “certa flexibilidade de uso das instalações, da calefação, da ventilação e da iluminação, que devem servir facilmente para eventual modificação dos espaços” (FAULKNER-BROWN, 1999, p. 85). Tal flexibilidade pode ser conseguida, entre outras maneiras, se o edifício possuir piso em uma única altura, sem degraus, se tiver calefação, ventilação e iluminação uniformes e que possibilitem readaptações. Também se recomenda que algumas paredes não

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sejam estruturais e possam ser desmontadas e instaladas em outro lugar. Quanto ao mobiliário, este não pode ser fixo para que seja remanejado de acordo com as necessidades.

Compacto: um edifício compacto facilita a circulação dos leitores, dos funcionários e dos materiais, reduzindo as distâncias a percorrer. Este é um ponto importante quando se conta com uma equipe de trabalho pequena, que acumula diferentes atividades. O planejamento do espaço deve buscar facilitar o desenvolvimento das atividades “e contribuir para o aumento de eficiência e produtividade, bem como reduzir o esforço físico e mental da equipe” (ALMEIDA, 2005, p. 117).

Acessível: sobre a acessibilidade, Faulkner-Brown (1999) sugere que deve haver facilidade de acesso tanto para o edifício (sua localização na cidade ou na instituição em que se encontre) quanto para os seus serviços. Nesse último caso, no interior da biblioteca, o usuário deve ser capaz de localizar facilmente as principais atividades como, por exemplo, atendimento, referência, catalogação, entre outras, ou seja, deve haver uma boa sinalização28 para orientar o público.

Suscetível de ampliação: a biblioteca, lembrando as leis de Ranganathan, é um organismo em constante crescimento, por isso é importante que sua construção facilite possíveis ampliações. Faulkner-Brown (1999, p. 86) considera esse um princípio fundamental e afirma que “podem ser abolidos alguns dos „dez mandamentos‟, suavizados outros, mas, em nenhum caso, deve-se renunciar ao da possibilidade de ampliação”. Nas estantes, por exemplo, é necessário deixar espaço livre para a inclusão de novos materiais. Segundo Almeida (2005, p. 113):

a falta de espaço ou sua inadequação para as pessoas afeta funcionários e usuários, e pode causar conflitos e dificuldade de relacionamento entre as pessoas, baixa produtividade, baixa qualidade de atendimento, insatisfação, alta rotatividade de funcionários e baixa frequência de usuários.

Variado: a biblioteca deve dispor de uma estrutura diversificada tanto para armazenar o acervo de acordo com as características de cada tipo de material, quanto para satisfazer as necessidades e preferências dos usuários.

28

Mais detalhes sobre a sinalização, ver o tópico 3.2 desse mesmo capítulo.

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Organizado: a disposição física das coleções deve favorecer o acesso e estimular o uso. “Uma disposição simples, fácil de compreender e acolhedora para o leitor é um elemento essencial de toda biblioteca, qualquer que seja seu tamanho” (FAULKNER-BROWN, 1999, p. 87).

Confortável: recomenda-se que o espaço da biblioteca seja agradável. Devem ser solucionados problemas relativos principalmente à iluminação, à acústica, aos níveis de umidade e temperatura e ao mobiliário29.

Dotado de um meio ambiente constante: para a conservação dos acervos documentais é importante que haja um meio ambiente constante. É preciso, portanto, buscar um equilíbrio entre o conforto que deve ser oferecido aos usuários e a garantia de preservação dos materiais30. Para Almeida (2005, p. 126), há um dilema nos edifícios de biblioteca por terem uma dupla função de armazenamento e uso de coleções, é preciso conseguir um “equilíbrio de temperatura, umidade e circulação do ar que garanta tanto o conforto das pessoas como a conservação das coleções”.

Seguro: é de grande importância para as bibliotecas a segurança das coleções, a fim de reduzir o extravio de materiais. Para isso, uma sugestão é “limitar a entrada e saída do público a um único acesso, equipado com sistemas de detecção eletrônicos ou outros”. A vigilância das áreas da biblioteca também pode ser facilitada por um design arquitetônico aberto e diáfano (FAULKNER-BROWN, 1999, p. 87).

Econômico: este princípio refere-se tanto ao custo da construção quanto ao da manutenção. A questão ecológica, segundo Miranda (2000, p. 69) é uma grande preocupação na atualidade. Faulkner-Brown (1999, p. 91) fala-nos que os gastos de manutenção de edifícios de bibliotecas podem ser muito altos já que é preciso uma boa iluminação e climatização que exigem equipamentos que consomem muita energia elétrica. É importante, portanto, buscar soluções para minimizar esses custos. Nas últimas décadas, busca-se usar, na medida do possível, energias naturais e renováveis (FAULKNER-BROWN, 1999, p. 91).

29 30

Trataremos com mais detalhes desses itens adiante nesse mesmo capítulo, nos itens 3.4 e 3.5. Nesse mesmo capítulo, trataremos desse tema por considerá-lo essencial quando se planeja um edifício de biblioteca.

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Além dos itens elencados por Faulkner-Brown, Moraes (2006), no Programa de necessidades da Biblioteca Pública Municipal Mário Tolentino, localizada em São Carlos – SP, descreve, entre outras, as seguintes características desejáveis para um edifício de biblioteca:

Edifício inteligente: característica também citada por Almeida (2005, p. 112), para a qual um edifício de biblioteca inteligente é “aquele que maximiza a eficiência dos ocupantes – a equipe de trabalho e os usuários – e permite gerenciamento eficaz dos recursos com menor tempo e esforço”. Já para Moraes (2006), um edifício inteligente

é aquele que apresenta um conjunto de serviços proporcionados por sistemas tecnológicos integrados com a finalidade de satisfazer as necessidades de comunicação, segurança, gestão de energia e conforto dos seus usuários e equipe de trabalho.

Podem ser considerados também edifícios inteligentes aqueles que usam

a natureza como meio de descanso para os usuários e se preocupam com a ergonomia do prédio como um todo, dos móveis, a combinação das cores, dos hábitos dos usuários, entre outros fatores. (AMARAL; FORTES, 2002 apud SILVA, 2008, p. 74).

Facilidade de manutenção: é desejável que o edifício não necessite de altos custos de manutenção, nem equipamentos sofisticados que por falta de manutenção inviabilize o funcionamento da biblioteca. Essa característica assemelha-se ao que Faulkner-Brown (1999) sugere no item sobre economia.

Edifício inclusivo: espera-se que o edifício não ofereça obstáculos físicos para a entrada e movimentação dos usuários. Para isso, é preciso que no projeto se pense na acessibilidade de pessoas idosas ou de pessoas com deficiência31.

Miranda (2000, p. 70) também fala-nos do impacto das novas tecnologias no espaço físico da biblioteca:

as mudanças são cada vez mais frequentes e imprevisíveis e elas implicam em alterações no espaço físico das bibliotecas de forma aleatória, ou seja, que não

31

Trataremos do tema acessibilidade com mais detalhes adiante, nesse mesmo capítulo.

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contemplam mudanças futuras no design dos prédios. Exatamente porque as inovações não são previsíveis e controláveis.

Dois exemplos sobre a questão da tecnologia mencionados por Miranda (2000) são: no início do processo de automação de bibliotecas acreditava-se na necessidade de reservar um grande espaço para os servidores, mas nos últimos anos o que se vê é a redução do tamanho desses equipamentos. Foi necessária também a instalação de rede elétrica para novos equipamentos e o que temos hoje é o uso de tecnologia sem cabos. Como supunha o autor, as mudanças são muitas vezes imprevisíveis, mas é preciso tentar preparar-se para elas.

Cunha (1999 apud MIRANDA, 2000, p. 71) alerta-nos para o fato de que um novo projeto de espaço físico de biblioteca deve corresponder também a um novo projeto administrativo. A departamentalização pode dar lugar a novas concepções organogrâmicas. Pode haver, por exemplo: uma “fusão administrativa entre os setores de aquisição e de comutação bibliográficas, pois, a partir de agora a ênfase será na organização e reempacotamento da informação”. O mesmo raciocínio pode levar-nos a pensar em acabar com as separações entre o salão do catálogo público e o setor de referência, em mudar o conceito de livre acesso a determinados acervos quando os mesmos estiverem digitalizados e acessíveis na própria biblioteca nos terminais públicos, assim por diante... (MIRANDA, 2000, p. 71, grifo do autor).

Para chegar a tais características é essencial que haja planejamento do espaço físico. Almeida (2005) sugere que para um projeto de um novo edifício, de uma reforma ou ampliação se elabore um “Programa de necessidades físicas”, um documento que formalizaria as informações que serviriam de base às demais etapas do projeto de construção ou reforma de um sistema de informação. A elaboração desse documento é o momento oportuno para levantar as necessidades e expectativas em relação ao serviço de informação. Tal programa, como aconselha a autora, deve ser elaborado por um grupo multiprofissional, composto pelo bibliotecário, pelo arquiteto, por um representante de usuários e por um representante da área administrativa da instituição (tal composição pode variar dependendo da instituição). A cooperação entre bibliotecários e arquitetos no planejamento do espaço físico é vista como fundamental por Gómez Hernández (2002) e Ribeiro (2006). Antes de elaborar esse programa é preciso que o serviço de informação tenha sua estrutura conceitual definida: missão, objetivos, estrutura organizacional, público, acervo e serviços. Como afirmam Amaro et al (s. d.),

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a construção de uma biblioteca exige que os bibliotecários tenham ideias claras dos objetivos que se deseja alcançar e quais as noções que deverão embasar o projeto do espaço, equipamentos e serviços adequados para se atingir as metas propostas.

3.2 Localização

A localização da biblioteca pode ser considerada um fator de grande importância porque se relaciona à frequência de uso da instituição. Por isso é fundamental que a biblioteca seja, segundo VANZ (s. d.), bem localizada “dentro de um prédio, ou em um quarteirão, no caso das bibliotecas públicas, ou mesmo dentro de um campus universitário”. A autora recomenda ainda que a biblioteca ocupe uma posição de centralidade, “cuja localização convide a entrada e o seu interior convide a permanência”.

Sobre a localização centralizada, Gómez Hernández (2002, p. 114-115, tradução nossa) afirma que

todas as normas incidem em exigir da biblioteca um espaço central e de fácil acesso na cidade ou no lugar em que se localize. A localização centralizada evita os grandes deslocamentos dos usuários de distintas zonas da cidade. Se não é central deve estar próxima às grandes vias de tráfico de pedestres, com facilidades de transporte público, zonas próximas de estacionamento para os carros e sem barreiras para facilitar a entrada e a circulação de pessoas com deficiência 32.

Sobre essa questão, Amaro (2005, p. 308, grifo nosso) fala-nos, referindo-se à biblioteca escolar, que a primeira questão que se coloca quando se projeta uma biblioteca é a sua localização:

um dos indicadores da participação da biblioteca como elemento constitutivo do processo educativo e da relação biblioteca/escola é o lugar que ela ocupa na distribuição e na organização espacial. A biblioteca deve estar localizada no ponto central. Para ela devem convergir caminhos e olhares e, a partir dela, deve ser possível alcançar os horizontes e a vida do seu entorno.

Dentro do contexto escolar, a biblioteca disputa seu espaço com outros setores, principalmente os administrativos que geralmente ocupam os locais privilegiados. É preciso, 32

“todas las normas inciden en reclamar para la biblioteca un espacio céntrico y bien comunicado de la ciudad o del lugar en que se ubique. La ubicación céntrica evita los largos desplazamientos a los usuarios de distintas zonas de la ciudad. Si no es muy céntrica debe estar próxima a las grandes vías de tráfico peatonal, con facilidades de trasporte público, zonas cercanas de aparcamiento para los coches y sin barreras para facilitar la entrada y circulación de disminuidos físicos”.

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então, neutralizar resistências e demonstrar a importância e os benefícios que uma boa localização trará à comunidade escolar (AMARO, 2005, p. 308).

O acesso à biblioteca deve ser fácil e com percursos bem sinalizados (VANZ, s. d.). Deve haver facilidade de transporte, como acesso a diferentes linhas de ônibus ou estações de trem e metrô, e estacionamento, além de prever o acesso para pessoas com dificuldade de mobilidade.

Sobre os significados da escolha da localização, um exemplo possível seria o dado por Amaro (2006, p. 83), em texto sobre a biblioteca do romance O nome da rosa, de Umberto Eco, e do filme baseado nessa obra. A autora afirma que o edifício da biblioteca se encontra “assentado no alto de colinas isoladas, distantes, inóspitas” e “para atingi-lo é preciso vencer caminhos árduos, difíceis, cansativos, como uma via sacra penitencial iniciatória” (AMARO, 2006, p. 83-84). Tal localização pode ser vista como simbólica porque a biblioteca em questão, um exemplo de biblioteca de conservação, possui livros que precisam ser protegidos, não só da natureza, mas principalmente dos homens. Sua configuração espacial em forma de labirinto e sua localização distante, além da forma como os livros são organizados, representam “a ideia do proibido e inacessível” (AMARO, 2006, p. 79). A arquitetura, para Umberto Eco (1976 apud AMARO, 2006, p. 83),

pode ser considerada um sistema de signos, um fato de comunicação, mesmo sem excluir a sua funcionalidade. Sendo assim, o objeto arquitetônico pode denotar a função ou conotar uma ideologia da função.

Barbalho (2000b), ao estudar a BPEAM, analisa também a localização dessa biblioteca pública. Sua importância dentro da cidade deve-se, entre outros fatores, à sua localização: está em um local de fácil acesso, a maioria das linhas de ônibus existentes na cidade passam pela rua em que está localizada, e se mantém junto a organismos de importância para a comunidade. A localização da biblioteca no espaço urbano, para Barbalho (2000b, p. 56), “é o resultado de um projeto político da municipalidade, desencadeando efeitos de sentido sobre aqueles que a usam”. Quando é central, atribui-se a ela prestígio e poder, já quando a construção se dá em local periférico, “a localização é manipulada pelo sentido de ampla disseminação dos bens culturais, revestida da ideia de popularização do saber” (BARBALHO,

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2000b, p. 56). Para Anne-Marie Bertrand (1997 apud BARBALHO, 2000b), a decisão de construir uma biblioteca relaciona-se a um projeto cultural, urbano e político, porque “a escolha do lugar pode dotar o prédio de uma atmosfera de poder, se central, ou de intimidade, se instalada no bairro o que requalifica o espaço periférico atribuindo-lhe reconhecimento” (BARBALHO, 2000b, p. 56).

3.3 Sinalização

A comunicação visual começou a existir como teoria e prática profissional no final da década de 1960 (REZENDE, 1979 apud CARRETTA, 1991, p. 8). É a partir daí que começam a pensar na importância da marca (símbolo ou logotipo) e, com as exigências do mercado, desenvolvem-se Programas de Identidade Visual ou Identidade Empresarial. Esses programas exprimem e traduzem a filosofia, os objetivos, a cultura e a personalidade das empresas, através de uma linguagem apropriada a seu público (SEBIN, 2008, p. 5).

Mas o que seria comunicação visual? Para Munari (1968 apud CARRETTA, 1991, p. 9), praticamente tudo o que os nossos olhos veem é comunicação visual; uma nuvem, uma flor, um desenho técnico, um sapato, um panfleto, uma libélula, um telegrama (excluindo seu conteúdo), uma bandeira. Imagens que, como todas as outras, tem um valor diferente segundo o contexto em que estão inseridas, dando informações diferentes.

No entanto, ainda segundo Munari (1968 apud CARRETTA, 1991, p. 9), é possível fazer a distinção entre a comunicação visual casual e a intencional. Do primeiro tipo seria uma nuvem “que passa no céu não, certamente, com a intenção de nos advertir que está a chegar um temporal”. Já a comunicação visual intencional, seria, por exemplo, “a série de nuvenzinhas de fumo que os índios faziam para se comunicar, através de um código preciso, uma informação precisa”. A ideia que prevalece, entretanto, é a da intencionalidade porque a comunicação visual é definida como um

conjunto de técnicas, conhecimentos e procedimentos que buscam maior eficácia na transmissão visual de mensagens verbais ou não verbais, através dos diversos meios de comunicação. (RABAÇA, 1987 apud CARRETTA, 1991, p. 9).

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Taralli (2006), ao falar sobre a biblioteca escolar e a comunicação visual, afirma que esta se compõe de elementos físicos presentes na arquitetura, no mobiliário e em outros elementos de identidade visual,

na arquitetura, estes aspectos fazem parte da linguagem espacial adotada, materializada nas características do tratamento visual dado às intervenções construtivas, como cores e texturas dos materiais de acabamento das paredes, pisos e forros; e nos recursos formais e estéticos aplicados à construção, como recortes, aberturas e transparências nas paredes, caixilhos e portas; o desenho de forros e coberturas; desenhos do sistema de iluminação artificial, e na cenografia da arquibancada. (TARALLI, 2006, p. 33).

Carretta (1991), em seu Trabalho de Conclusão de Curso em Biblioteconomia, estuda a comunicação visual em bibliotecas, destacando a sinalização. O autor afirma que há falhas na interação entre o usuário e o meio físico da biblioteca em decorrência da falta de sinalização ou outros meios de identificação visual.

Para oferecer-se como um espaço disseminador do saber, a biblioteca, segundo Barbalho (2000b, p. 97), precisa empregar estratégias que permitam ao usuário entender a sua organização espacial e possa deslocar-se no seu ambiente e usar os seus serviços de modo mais fácil e autônomo. Com esse intuito, a biblioteca pode adotar um sistema de sinalização cujo objetivo seja “assegurar a homogeneização de comportamentos e uso integrado do ambiente da biblioteca, tornando-a amplamente percebida pelo público que a frequenta” (BARBALHO, 2000b, p. 97). A existência de um sistema de comunicação visual mostra que a biblioteca deseja

ser facilmente utilizada por conhecer as necessidades do público que nela circula, bem como de seu fluxo e trajetória de modo que disponibiliza seu espaço racionalmente reduzindo as incertezas. (BARBALHO, 2000b, p 98).

Na proposta de sinalização para a Biblioteca da ECA/USP, Bastos Filho (1984, p. 58) afirma que “toda a organização criada com a reformulação dos espaços, deveria ser ratificada através da implantação de um sistema de sinalização planejado”. Os objetivos desse sistema seriam: informar os usuários sobre todos os serviços oferecidos, “facilitando assim seu acesso, seu uso e, consequentemente, dinamizando seu funcionamento”. Para Figueiredo (1991 apud CARRETTA, 1991, p. 13), “os usuários devem ser dirigidos às várias áreas da biblioteca através de um arranjo sutil do mobiliário e do uso das

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cores” e uma das maneiras de se fazer entender é através da sinalização, que precisa ser inteligível, informativa e convidativa.

Para que a sinalização consiga atingir seus objetivos, é preciso antes de confeccioná-la conhecer o usuário para a qual se destinará. “Cabe ao planejador da comunicação visual da biblioteca pensar na melhor maneira de comunicar-se com seu público” (JUNQUEIRA, 2005, p. 4). A mensagem visual precisa adequar-se à experiência cultural e linguística da sociedade a qual estará inserida para fazer efeito sobre os seus usuários (NAKAMURA, 1999, p. 5).

O sistema de sinalização é importante também para a divulgação dos serviços e produtos, pois uma sinalização deficiente dificulta a busca, a recuperação e o uso da informação (SEBIN, 2008, p. 3). Trata-se, portanto, de uma estratégia de marketing da biblioteca.

A sinalização, conforme Figueiredo (1991 apud CARRETTA, 1991, p. 15), pode ser usada para: orientar, direcionar, informar, regulamentar, prevenir, proibir ou identificar. Dessa forma, um sistema de sinalização ao ter o objetivo de orientação permite ao usuário orientarse no ambiente físico; ao ser direcional provê informação para os pontos principais; ao ser de identificação marca áreas, postos de serviços e salas; ao ser instrucional explica procedimentos ou uso de materiais, coleções ou equipamentos; ao ser condicional ou reguladora regulamenta o comportamento, por fim, ao ser de alerta, informa sobre acontecimentos, como exposições ou mudanças nas rotinas da biblioteca. Em essência, o objetivo é “promover a informação; anunciar serviços e criar uma atitude positiva sobre a biblioteca assim como, um senso de identidade corporativa” (HUTCHINSON, 1981 apud CARRETTA, 1991, p. 17).

Segundo Figueiredo (1990 apud VANZ, s. d., grifo nosso), a sinalização relaciona-se à autonomia dos usuários:

a adoção de comunicação visual ou de ampla sinalização facilita o auto-serviço e diminui a demanda de orientação, deixando o usuário mais à vontade e com possibilidade de se locomover e encontrar o que busca na biblioteca. Uma planta do edifício com a localização das coleções deve estar visível, logo à entrada, para facilitar o fluxo. Indicações com cores e legendas de fácil visualização para cada uma das áreas de assunto existentes, bem como instruções sobre o manejo dos catálogos, devem ser implementadas. Um folheto (guia da biblioteca) explicando o

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uso e possibilidades de serviços e materiais deve estar disponível à entrada da biblioteca.

Busca-se com a sinalização tornar as pessoas mais independentes, por isso o ideal é que o sistema esteja presente em todo o percurso realizado pelo usuário, “desde o momento da sua entrada na biblioteca, até o momento da obtenção do produto ou serviço desejado” (SEBIN, 2008, p. 3). Ratificando a questão da autonomia, podemos citar Gómez Hernández (2002, p. 120, tradução nossa) que afirma:

a sinalização é uma forma amigável de acolher o usuário e também reforça seu livre movimento pelo interior da biblioteca e sua própria autonomia. O sistema de sinalização, portanto, deve ser encaminhado para atingir três objetivos: favorecer o acesso à biblioteca, facilitar o uso de sua estrutura e seus serviços e permitir a utilização autônoma da busca de documentos33.

Para Munari (1968 apud CARRETTA, 1991, p. 22), as mensagens visuais podem ser divididas em duas partes: a informação transportada pela mensagem e o suporte visual, que pode ter os seguintes elementos básicos, conforme a revista Marketing (1979 apud CARRETTA, 1991, p. 20-22):

a) Marca: nome, termo ou sinal que identifica uma empresa, uma linha de produtos ou um produto; b) Cor: tem forte ingrediente psicológico, possibilita despertar uma reação emocional que pode determinar a aceitação ou não de um produto. A sua escolha deve se dar em conjunto com todo o espaço físico, mobiliário e equipamentos da biblioteca para que haja um melhor aspecto visual de todo o ambiente; c) Logotipo ou logomarca: é a representação gráfica da marca; d) Pictograma: sinal gráfico usado como meio de comunicação, objetiva transmitir mensagens ou significados de forma a ser entendido por pessoas de diferentes nacionalidades, culturas e línguas, e e) Tipografia: letras ou números escolhidos levando em consideração sua proporção, peso e legibilidade, ou seja, trata-se da coerência formal dos caracteres.

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“la señalización es una forma amable de acogida al usuario y a la vez, potencia su libre movimiento por el interior de la biblioteca y su propia autonomía. El sistema de señalización, pues, ha de encaminarse hacia tres objetivos: favorecer el acceso a la biblioteca, facilitar el uso de su estructura y sus servicios y permitir la utilización autónoma de la búsqueda documental.”

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Bastos Filho (1984, p. 59), em sua proposta de sinalização para a Biblioteca da ECA/USP, fala-nos que é importante ter claro “o que informar”. No contexto da instituição estudada havia três tipos de informações a serem dadas aos usuários da biblioteca:

sinalização dos setores/serviços: sinalização de todos os setores, equipamentos e serviços que integram a biblioteca; sinalização do acervo: específica à categorização do acervo bibliográfico por este ser de livre acesso aos usuários, e sinalização institucional: informa ao usuário os procedimentos que devem ser adotados no ambiente da biblioteca.

Para Gómez Hernández (2002, p. 120, tradução nossa), a sinalização requer as seguintes características:

-que sejam estáveis, claros e simples, em localização conhecida, realçada e permanentemente visível, em lugares onde a vista não seja muito solicitada nem haja ângulos mortos que perturbem a visão; -que permitam um uso flexível e adaptável a novas situações; -que sejam de compreensão universal, não ambíguos, concisos e de leitura rápida por sua boa localização, formato e tamanho; -que utilizem os tipos de letras, cores, tamanhos e símbolos mais adequados; -que estejam colocados em uma sequência lógica, fácil de seguir; -que provoquem uma reação, uma resposta; -visíveis durante toda a jornada; iluminá-la se for preciso ou colori-la, de modo harmônico com o entorno; -resistente ao vandalismo, e -não perigosa, sem esquinas, pontas ou saliências34.

O trabalho de sinalização deve ser realizado em conjunto entre designers e bibliotecários. Segundo Hutchinson (1981 apud CARRETTA, 1991, p. 19), ao trabalharem em grupo, o bibliotecário teria como funções: identificar as necessidades, coordenar o programa, analisar informações, interpretar para dar assistência, considerar formatos, decidir quantidades e supervisionar a execução. Já o designer prepararia custos, decidiria formatos, 34

“-que sean estables, claros y simples, en ubicación conocida, realzada y permanentemente visibles, en lugares donde la vista no esté ya demasiado solicitada ni haya ángulos muertos que perturben la visión -que permitan un uso flexible y adaptable a nuevas situaciones -que sean de comprensión universal, no ambiguos, concisos y de lectura rápida por su buen emplazamiento, formato y tamaño -que utilicen los tipos de letras, colores, tamaños y símbolos más adecuados -que estén colocados en una secuencia lógica fácil de seguir. -que provoquen una reacción, una respuesta -visibles durante toda la jornada; iluminarla si es preciso, o colorearla, de modo armónico con el entorno -Resistentes al vandalismo -No peligrosa, sin esquinas puntiagudas o salientes”.

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projetaria e prepararia a arte-final, organizaria os tipos e a impressão e orçaria materiais e impressão. Dessa forma,

o bibliotecário assume a condição de interprete do meio das necessidades da biblioteca; o designer, apoiado nestas necessidades, codifica, organiza e elabora tecnicamente a sinalização. (HUTCHINSON, 1981 apud CARRETTA, 1991, p. 19).

3.4 Mobiliário

A escolha dos móveis que ocuparão a área da biblioteca depende do tipo de documento que se pretende armazenar, por exemplo, livros, revistas, jornais, discos, CDs, mapas, entre outros. Cada tipo de material exigirá móveis diferentes. Tais móveis, no entanto, precisam ser adequados não só ao armazenamento desses itens, mas também a sua consulta. Não é nosso objetivo detalhar quais medidas e tamanhos ideais para o mobiliário35 tampouco sua constituição material, porque tais características dependerão do tipo de biblioteca, do orçamento disponível, de seu público e de seus objetivos. Existem vários tipos de estantes, sua altura, por exemplo, dependerá do público a ser atendido – adulto, adolescente ou infantil. No caso de um acervo de acesso livre, por exemplo, estantes deslizantes não seriam tão adequadas porque as pessoas poderiam ter dificuldades para manipulá-las. Trataremos da questão do mobiliário, portanto, em linhas gerais, mas enfatizamos que este é um item que deve receber grande atenção quando se projeta uma UI. Segundo Costa (s. d.), uma biblioteca precisa ter um mobiliário “funcional e apropriado tanto aos funcionários quanto aos usuários” e sua escolha deve pautar-se nos seguintes critérios: Qualidade: da matéria prima e do acabamento36; Funcionalidade: adequação ao uso; Estética, flexibilidade e modularidade: para que possam ser unidos ou separados segundo o uso; 35

Sobre a questão da altura e dimensão de estantes e mesas, consultar Gascuel (1987), Gómez Hernández (2002), Silva (2008) e Costa (s. d.). 36 Deve-se considerar também as características do mobiliário no que se refere à conservação dos materiais que serão acondicionados. Trinkley (apud ALMEIDA, 2005, p. 121) alerta-nos que alguns “materiais são muito prejudiciais aos acervos, além de afetarem as pessoas, especialmente as que são alérgicas”.

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Ergonomia: adequação dos móveis para que não causem desconforto e fadiga, e Praticidade de manutenção e durabilidade.

Rio e Pires (2001 apud RIBEIRO, 2006, p. 27) sugerem que o mobiliário proporcione condições de mobilidade, variabilidade e capacidade de adotar posturas variadas. Na escolha do mobiliário, portanto, é preciso estar atendo à sua forma para que não causem desconforto ou má postura ao serem usados.

Amaro et al (s. d.), ao proporem um modelo de biblioteca como ambiente educativo de informação e cultura para jovens, sugerem que o mobiliário e outros equipamentos sirvam, além de para sua primeira função utilitária, como um elemento delimitador e indicador dos espaços e de suas funções. Na biblioteca idealizada, as estantes e os armários seriam mais baixos que os tradicionais a fim de não impedirem a visualização de toda a biblioteca. Já as mesas e/ou bancadas precisariam ter formatos e tamanhos que levassem “em conta a diversidade dos atos de leitura e das ações de expressão e comunicação” (AMARO et al, s. d.). Por fim, os assentos – cadeira, bancos, poltronas e almofadas – deveriam ser adequados aos diferentes usos, situações e públicos.

Como já mencionamos no capítulo 2, a distribuição dos móveis vai definir o percurso do usuário, ao criar zonas e delimitar espaços de circulação, e também a sua relação com a biblioteca, ou seja, o conforto do mobiliário relaciona-se diretamente à permanência ou não dos usuários naquele espaço. Na pesquisa sobre a BPEAM, Barbalho (2000b, p. 136) exemplifica tal questão quando descreve a quantidade de mesas e cadeiras dessa instituição: há na BPEAM uma grande quantidade de mesas e cadeiras disponíveis principalmente para trabalhos em grupo e não há cabines para estudo individual. Os móveis são pouco confortáveis e ergonomicamente inadequados. Além disso, por estarem dispostos uns muito próximos aos outros, há dificuldade de circulação entre eles, “o que obriga os usuários a esbarrarem nas cadeiras no momento em que a elas se dirigem” (BARBALHO, 2000b, p. 137). Pode-se acreditar que com essa organização houve uma preocupação maior com a quantidade e não com a qualidade do atendimento. Outro detalhe destacado pela pesquisadora foi a falta de padronização dos móveis: há mesas diferentes de madeira e de ferro, gerando um sentido de improvisação, parecendo que os móveis “foram captados de vários lugares e postos

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para utilização na biblioteca, sem uma preocupação com a harmonia e agradabilidade” (BARBALHO, 2000b, p. 137)37.

A disposição dos móveis pode facilitar ou dificultar as relações interpessoais na biblioteca. Como já citamos no capítulo 2, Lunardelli e Queiroz (2005) exemplificam como a altura do balcão de empréstimo, item importante por ser o ponto de contato entre funcionários e usuários, pode causar desconforto e gerar constrangimento. As autoras afirmam que

o uso do espaço pelo homem, a proximidade que ele estabelece entre si e os outros, bem como a disposição que dá aos móveis ou outros objetos, desempenham papel fundamental nas relações interpessoais. (LUNARDELLI; QUEIROZ, 2005).

Gascuel (1987, p. 32), ao falar sobre o acolhimento e a orientação do público, menciona que é importante a escolha dos materiais, das cores, dos estilos dos elementos arquitetônicos e do mobiliário, tais itens podem “criar ambientes diferentes: conforto, calma e silêncio propícios ao estudo; alegria e diversidade que encorajam a atividade intelectual e a iniciativa, etc”. Tais ideias também são defendidas por Cohen e Cohen (1979 apud NODA, 1996, p. 12):

se um ambiente é definido para a socialização dos usuários, convém distribuir os móveis com isto em mente [...] Entretanto, se a intenção é estimular a concentração e o estudo, o ideal é a utilização de pequenas mesas quadradas, ou até mesmo de „cabines de estudo‟, pois estes móveis facilitam a demarcação de território.

3.5 Conforto ambiental

É preciso buscar, segundo Vanz (s. d.), criar um ambiente na biblioteca tranquilizante, uma atmosfera que favoreça a leitura e a pesquisa e que seja, ao mesmo tempo, instigador para a discussão de ideias entre seus frequentadores.

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Barbalho afirma ainda que a questão da mobília mostra que há descaso dos órgãos mantenedores com a biblioteca estudada porque, embora tal biblioteca esteja bem localizada na cidade e possua estrutura física em boas condições, os móveis, a atualização do acervo e os baixos salários dos funcionários são marcas do descaso das autoridades com essa instituição.

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Taralli (2004b, p. 37), em texto sobre espaços de leitura na escola, dedica um tópico às relações de conforto. A autora afirma que nessa categoria incluem-se “atributos técnicos e especializados que colaboram para facilitar as sensações de conforto e acolhimento essenciais para a leitura”. O conforto ambiental está associado, por exemplo, à iluminação, à ventilação e à acústica, elementos possíveis de serem controlados em ambientes fechados como os das bibliotecas.

Alguns cuidados que podem minimizar as condições desfavoráveis de conforto são, segundo Vanz (s. d.):

a) isolamento acústico ou utilização de mecanismos para redução de ruídos; b) utilização de quebra-sol para proteção de aberturas e evitar a incidência de raios solares sobre o acervo e usuários; c) manutenção de temperatura e umidade estáveis, agradáveis ao usuário; d) renovação natural ou mecânica do ar; e) controle do peso, altura e qualidade dos equipamentos e mobiliário, a fim de preservar a saúde e bem estar dos funcionários e usuários.

As condições de conforto ambiental também são uma preocupação do campo de estudos da ergonomia. A palavra, originada do grego, é formada por ergon (trabalho) e nomos (leis e regras), relaciona-se a máquinas, equipamentos e ambientes de trabalho (SILVA; SILVA, 2010). A Associação Brasileira de Ergonomia – ABERGO (apud RIBEIRO, 2006, p. 28) define o termo como

a disciplina científica que trata da compreensão das interações entre os seres humanos a outros elementos de um sistema, e a profissão que aplica teorias, princípios, dados e métodos a projetos que visam otimizar o bem estar humano e a performance global dos sistemas. A ergonomia visa adequar sistemas de trabalho às características das pessoas que nele operam.

A Ergonomia se preocupa em como adaptar o ambiente de trabalho às características e necessidades humanas porque as inadequações podem acarretar em danos tais como estresse, fadiga, falta de atenção, Lesão por Esforço Repetitivo (LER) ou Doença Ocupacional Relacionada ao Trabalho (DORT) e demais problemas relacionados à postura incorreta. A fim de evitar tais males, a intervenção ergonômica

tem como objetivos adaptar as exigências do trabalho às possibilidades do ser humano; conceber os equipamentos e as instalações tendo em vista a eficácia, precisão e segurança; estudar a configuração dos postos de trabalho para garantir ao trabalhador uma postura correta; adequar o ambiente às necessidades físicas do homem. (GRANDJEAN, 1998 apud RIBEIRO, 2006, p. 28, grifo nosso).

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Trataremos a seguir, em linhas gerais, das condições de conforto ambiental que se relacionam à temperatura, à umidade relativa do ar, à ventilação, à acústica e à iluminação e a relação de alguns desses fatores com a conservação dos materiais de acervo38.

3.5.1 Temperatura, Umidade e Ventilação

O controle dos fatores climáticos em uma biblioteca, como temperatura, umidade relativa do ar e ventilação, é importante tanto para o bem-estar das pessoas quanto para a preservação dos materiais do acervo. Sobre essas questões, Valci Augustinho (1987 apud MIRANDA, 1998) pesquisou para a sua dissertação de mestrado a construção de prédios de algumas bibliotecas universitárias39. Sua hipótese era de que haviam sido empregadas soluções de iluminação e/ou ventilação ineficazes e também haviam sido utilizados materiais de construção inadequados para o clima de cada região. Um dos problemas mais graves encontrados nas instituições estudadas foi o controle da umidade do ar, tendo como consequência: o desgaste rápido de alguns materiais empregados na construção, o desconforto ambiental, a incidência do cupim nas madeiras, o mofo ou fungo, o apodrecimento das madeiras, a deterioração de documentos, goteiras, traças e baratas. (MIRANDA, 1998).

Outro problema verificado nas bibliotecas estudadas por Augustinho (1987 apud MIRANDA, 1998) refere-se à ventilação. Muitos desses prédios não possuem condições para uma ventilação natural adequada porque foram projetados para ter ar-condicionado, mas não possuem tal equipamento.

Taralli (2004b, p. 38) afirma que o ideal é que haja aproveitamento de iluminação e ventilação naturais. Caso não haja condições para isso, existem dispositivos artificiais eficazes. Já outros equipamentos mais simples, como ventiladores e exaustores (desde que não produzam muito ruído), e aparelhos de iluminação adequados a cada função dentro do 38 39

Para maiores detalhes, consultar Cassares (2000); Vanz (s. d.); Costa (s. d.) e Sousa, Garcia, Tavares (2000). As bibliotecas estudadas foram: Fundação Universidade Federal do Acre, Universidade Federal do Pará, Universidade Federal de Santa Catarina, Fundação Universidade Federal de Pelotas, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal do Ceará, Universidade Federal de Minas Gerais, Fundação Universidade de Brasília, Fundação Universidade Federal de Mato Grosso e Universidade Federal do Espírito Santo.

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espaço podem proporcionar “condições facilitadoras e confortáveis para a leitura, colaborando para construir relações afetivas e simbólicas com o lugar” (TARALLI, 2004b, p. 38, grifo nosso).

Com relação à conservação do acervo, a importância dos fatores mencionados deve-se ao fato de o calor e a umidade colaborarem para a deterioração dos materiais, principalmente daqueles em suporte papel, o desequilíbrio de um desses elementos interfere no equilíbrio do outro já que facilitam o desenvolvimento de micro-organismos e insetos. Sabe-se que o papel libera e absorve umidade com muita facilidade, expandindo-se ou contraindo-se com as variações de temperatura e umidade relativa do ar. Essas variações aceleram o processo de deterioração, causando danos como craquelamento das tintas, ondulações nos papéis, entre outros (CASSARES, 2000, p. 14). O ideal, portanto, é tentar manter tais índices constantes porque “as flutuações de temperatura e umidade relativa do ar são muito mais nocivas do que os índices superiores aos considerados ideais, desde que estáveis e constantes” (CASSARES, 2000, p. 15).

Recomenda-se para uma biblioteca: manter a temperatura o mais próximo possível de 20ºC e a umidade relativa de 45% a 50%, evitando-se de todas as formas as oscilações de 3ºC de temperatura e 10% de umidade relativa. (CASSARES, 2000, p. 15).

A recomendação da NR 17: Ergonomia (apud RIBEIRO, 2006, p. 32) é parecida ao mencionado: “o índice de temperatura efetiva deve estar entre 20 e 23º C, a velocidade do ar não deve ser superior a 0,75 m/s e a umidade relativa do ar não deve ser inferior a 40%”.

Tal controle pode ser feito através de aparelhos específicos como ar-condicionado (que controla a temperatura), higrômetro (que mede a umidade relativa do ar), termo higrômetro (que mede a temperatura e a umidade) e desumidificador (que retira a umidade do ambiente). A renovação do ar também é muito importante, tanto para a higiene quanto para a dissipação do calor. Já a ventilação (natural ou forçada por ventiladores) controla a temperatura e a umidade e deve ser usada na falta de outros equipamentos recomendados (RIBEIRO, 2006, p. 32).

Segundo Mascaró e Mascaró (2004 apud RIBEIRO, 2006, p. 33), outro recurso que

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pode ser utilizado para melhorar as condições de conforto térmico é a colocação de isolantes térmicos na cobertura e nas fachadas do prédio, uso recomendado tanto para o ganho de calor no verão como para a perda no inverno.

A abertura de janelas, apesar de trazer alguns benefícios por manter o ar sempre renovado, traz também desvantagens como correntes de ar no inverno, ruído externo e entrada de impurezas do ar. Cabe avaliar a melhor alternativa em cada situação. Inclusive a vegetação local deve ser considerada ao projetar um edifício, pois existe para cada lugar uma vegetação adequada que pode aumentar, conservar ou diminuir a umidade do ar (AZEVEDO, 2010, p. 99).

Além da preocupação com o acervo, é preciso atentar-se aos fatores mencionados porque sua inadequação atinge também as pessoas. O ser humano responde às condições do ambiente de duas maneiras: fisiológica – através do suor e dos batimentos cardíacos e/ou comportamental – através do sono, cansaço e redução na capacidade de trabalho (MAMBRINI, 1997 apud VANZ, s. d.).

Para as pessoas, o desenvolvimento de atividades em ambientes com altas temperaturas pode gerar queda no rendimento, diminuição do grau de concentração, aumento de erros e fadiga. Segundo Grandjean (1998 apud RIBEIRO, 2006, p. 33), o “calor excessivo leva primeiro a um cansaço e sonolência, que reduz a prontidão de resposta e aumenta a tendência de falhas”. As temperaturas baixas, inferiores a 15º C, também diminuem a concentração, reduzindo a capacidade de raciocínio, prejudicando as habilidades motoras como força e destreza. A temperatura relaciona-se à umidade relativa do ar e esta, quando baixa, causa ressecamento das vias respiratórias e das mucosas dos olhos e quando altas provocam a sensação de abafamento (GRANDJEAN, 1998 apud RIBEIRO, 2006, p. 33).

Por último, pode-se dizer que a temperatura e a ventilação, como citado no capítulo 2, relacionam-se à percepção dos odores, por isso é importante que o ambiente seja bem ventilado. A questão do aroma relacionado ao espaço da biblioteca é tratada em outra perspectiva por Pinheiro et al (2008) em artigo que analisa o tema do “marketing olfativo”. Os autores consideram que as bibliotecas precisam estar atentas para a questão do cheiro, pois este pode ter um efeito de apelo emocional. O marketing olfativo poderia “ser responsável

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pela construção ou fortalecimento da imagem de uma unidade de informação” (PINHEIRO et al, 2008, p. 13).

3.5.2 Acústica

A acústica de um edifício de biblioteca também é um fator a ser considerado nas construções ou reformas. É preciso controlar os níveis de ruído tanto internos quanto externos porque, em excesso, o barulho “produz dispersão individual ou coletiva, condição que compromete não só a concentração, como também a sensação de conforto” (TARALLI, 2004b, p. 38).

Para as atividades que exigem pensamento e reflexão, o excesso de ruídos provoca muitos efeitos negativos, afeta as funções motoras e as psicológicas do ser humano, perturbando a execução das tarefas e causando desconforto (RIBEIRO, 2006, p. 23), também pode trazer danos à saúde das pessoas como “nervosismo; agressividade; transtornos de memória, atenção e reflexo; diminuição da capacidade intelectual e perda temporária ou permanente da audição” (SAMESHIMA, 2002 apud RIBEIRO, 2006, p. 34).

Segundo a NBR 10152: Níveis de Ruído para o Conforto Acústico (1987 apud RIBEIRO, 2006, p. 34) os limites de tolerância adotados em bibliotecas devem ser de 35 a 45 dB (decibéis).

Leite et al (1997), em estudo sobre os níveis de ruído praticados em oito bibliotecas da cidade de Natal-RN, afirma que há poucos estudos no Brasil sobre o conforto ambiental nas bibliotecas referente “aos níveis de ruídos, seu controle, avaliação dos projetos e das edificações, influência da localização da biblioteca e a satisfação do usuário”. As bibliotecas estudadas, tanto as projetadas para este fim como as adaptadas, não possuem isolamento acústico e as que possuem o utilizam de forma parcial. Os níveis de ruído encontrados ultrapassam o recomendado de 45 dB. O menor valor foi de em média 62 dB e o maior 74 dB. Na análise dos resultados, os autores avaliaram que tais índices

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estão associados a má localização das edificações, falta de educação dos usuários 40 ausência de equipamentos que inibam os ruídos externos (veículos, práticas esportivas, veículos de som fazendo propaganda, telhas de alumínio, equipamentos, dentre outros) e falta de gerência dos responsáveis pelos Estabelecimentos, no que diz respeito a disciplina dos usuários. (Leite et al, 1997).

Os autores de tal análise também supõem que “os altos índices de ruído devem estar provocando uma desmotivação e o baixo coeficiente de aprendizagem dos usuários” (LEITE, 1997). Seria interessante continuar as pesquisas para confirmar tal hipótese.

Para solucionar problemas relativos ao ruído é preciso primeiramente identificar as fontes externas como trânsito, indústrias e obras, e as fontes internas como conversas, campainha de telefone e impressoras (RIBEIRO, 2006, p. 35).

Na construção dos edifícios devem ser considerados os materiais utilizados. As superfícies construídas com concreto armado, por exemplo, não absorvem bem o som (TARALLI, 2004b, p. 38). Com relação ao exterior, é importante considerar inúmeros elementos. Uma sugestão é manter o local de leitura afastado da área de referência (por ser de maior concentração de ruído) e das áreas de circulação e trabalho.

Alguns exemplos de medidas que podem ser adotadas, segundo Ribeiro (2006, p. 35), são: emprego de pisos flutuantes41, manta de material elástico ou absorvente entre a laje e o contrapiso para diminuir ruídos de passos e arrastar de móveis; isolar janelas e portas, utilizando elementos elásticos entre o marco e a parede ou entre o marco e a folha móvel; colocar os locais mais barulhentos do edifício o mais afastado possível da biblioteca, e

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Não foi possível compreender pela leitura do artigo o que os autores entendem por “falta de educação”. Supomos que se referem principalmente ao ato de falar em voz alta. Acreditamos, entretanto, que os níveis de ruído a serem admitidos dependem das atividades desenvolvidas nos diferentes espaços da biblioteca. 41 Outra opção seria o uso do carpete por trazer benefícios acústicos, mas este traz dificuldades com relação à limpeza e à manutenção. Segundo Almeida (2005, p. 122), “os carpetes merecem atenção à parte, devido à quantidade de pontos negativos que apresentam. Em primeiro lugar, utilizam adesivos que emitem grande variedade de componentes orgânicos voláteis, além do formaldeído, e podem conter, em sua composição, alta concentração desse produto. Além disso, constituem excelente esconderijo para poeira e insetos, e apresentam dificuldade de limpeza”.

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evitar a localização de canos e outras instalações nas paredes que separam a biblioteca e, quando isso não for possível, fazer com que os canos estejam isolados com materiais elásticos.

Outras sugestões sobre medidas práticas para corrigir falhas existentes relativas à disseminação de ruídos são dadas por Costa, Ziegler e Rollo (1999 apud SILVA, 2008, p. 75):

adaptar cabines de estudo individual; criar áreas de silêncio com devido isolamento acústico; uso de carpete e/ou pisos sintéticos para abafar o barulho dos passos; colocação de telefones e máquinas de escrever em cabines; posicionamento das mesas/balcões de distantes das áreas de silêncio; evitar a interferência de barulhos, como casas de máquinas, subestações elétricas, elevadores, ar-condicionado, etc; colocar cartazes convidando ao silêncio.

A preocupação com a questão da necessidade de silêncio na biblioteca levou bibliotecárias da Biblioteca Tebyreçá de Oliveira do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão em parceria com o curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Maranhão a idealizarem a criação de um dispositivo microcontrolado que emitiria sinais sonoros e visuais sempre que o nível de ruído ultrapassasse o nível ideal. A intenção seria “estabelecer novos padrões de comportamento nos usuários através do condicionamento operante (aprendizagem) frente às contingências do ambiente” (SILVEIRA; SILVA, 2010). O projeto encontra-se em andamento.

3.5.3 Iluminação

Um item importante para uma biblioteca, que como vimos deve ter as condições ideais para a leitura, sem esquecer também de outras atividades que possam ser desenvolvidas em seu espaço, é a iluminação. O conforto visual é determinado por iluminação suficiente; boa distribuição de iluminação; ausência de ofuscamento; contraste adequado; bom padrão de direção de sombras. Ou seja: o que determina o conforto visual é a iluminação perfeita, que permita boa definição de cores, sem ofuscamentos, com direcionamento adequado e intensidade suficientes, pois o propósito de iluminar um ambiente, é permitir um bom desempenho nas tarefas da visão. (SOUSA; GARCIA; TAVARES, 2000, p. 76).

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Segundo Vanz (s. d.) não é possível definir um padrão absoluto para iluminação correta, o que se faz é indicar alguns níveis de intensidade aproximados e alguns critérios para um resultado satisfatório. Os níveis de luz são medidos por lux (lumens por metro quadrado), sua intensidade é medida através de um aparelho denominado luxímetro ou fotômetro. Segundo a NBR 5413: Iluminância de Interiores (apud RIBEIRO, 2006, p. 24), recomenda-se “para a sala de leitura de 300 a 750 lux com um valor médio de 500; para o espaço reservado ao acervo, indica de 200 a 500 lux, com um valor médio de 300”.

Apesar de ser prejudicial ao acervo, a iluminação natural, é avaliada por Mambrini (1997 apud VANZ, s. d.) como fundamental pois para as pessoas “a falta de luz do dia pode determinar efeitos fisiológicos e psicológicos prejudiciais aos usuários dos edifícios”. No entanto, é aconselhável que se limite a luz natural às áreas públicas e não às áreas de armazenamento de acervo.

As cores das paredes e móveis também se relacionam com a iluminação de um ambiente. Segundo Ribeiro (2006, p. 24), as cores mais claras, por refletirem melhor a luminosidade, passam a impressão de limpeza, clareza e estímulo. Já as escuras absorvem a luz, dificultam a limpeza e passam uma impressão de abafamento. Para escolher as cores de uma determinada sala, é preciso, portanto, considerar o tipo de atividade que será ali desenvolvida. Dessa maneira,

locais onde se desenvolvam atividades monótonas devem ser pintadas com cores claras, com alguns elementos coloridos estimulantes, mas sem exageros, pois pode-se causar distração e intranquilidade constante. Para ambientes que exijam grande concentração recomenda-se cores discretas e em tons pouco definidos. (RIBEIRO, 2006, p. 24).

Ribeiro (2006, p. 23) afirma que as cores exercem influência psicológica, afetando, inclusive, o desempenho nas atividades. Os principais efeitos psicológicos são: ilusão de distância, ilusão de temperatura e os efeitos sobre a disposição psíquica.

Com relação à preservação dos materiais, sabe-se que toda luz é prejudicial aos materiais do acervo. Geralmente as fontes usadas na iluminação interna são: a luz natural e as lâmpadas fluorescentes. O problema da luz natural é que esta apresenta um nível elevado de radiação ultravioleta (UV), considerado muito prejudicial aos materiais da biblioteca (ALMEIDA, 2005, p. 123). Segundo Cassares (2000, p. 15), o papel exposto à luz, com o

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passar do tempo “se torna frágil, quebradiço, amarelecido, escurecido”, já “as tintas desbotam ou mudam de cor, alterando a legibilidade dos documentos textuais, dos iconográficos e das encadernações”. O dano de qualquer exposição à luz, mesmo que por pouco tempo, é cumulativo e irreversível.

As lâmpadas fluorescentes, apesar de mais frias do que outros tipos também geram calor e emitem radiação UV. Segundo Almeida (2005, p. 124), é importante ressaltar que, nas áreas de armazenamento, há necessidade de luz apenas para encontrar o material, e não para lê-lo, o que pode reduzir significativamente os danos causados às coleções. Por isso, muitas bibliotecas de acesso fechado e, particularmente, aquelas com coleções de obras raras, ficam, normalmente, às escuras, acendendo-se as luzes apenas quando se pretende localizar algum item.

Algumas medidas que podem ser tomadas para proteção dos acervos são: •As janelas devem ser protegidas por cortinas ou persianas que bloqueiem totalmente o sol; essa medida também ajuda no controle de temperatura, minimizando a geração de calor durante o dia. •Filtros feitos de filmes especiais também ajudam no controle da radiação UV, tanto nos vidros de janelas quanto em lâmpadas fluorescentes (esses filmes têm prazo de vida limitado). •Cuidados especiais devem ser considerados em exposições de curto, médio e longo tempo: ♦ não expor um objeto valioso por muito tempo; ♦ manter o nível de luz o mais baixo possível; ♦ não colocar lâmpadas dentro de vitrines; ♦ proteger objetos com filtros especiais; ♦ certificar-se de que as vitrines sejam feitas de materiais que não danifiquem os documentos. (CASSARES, 2000, p. 16).

Além das sugestões anteriores, Costa (s. d.) fala-nos da importância dos pisos claros porque refletem melhor a luz e do uso do maior número possível de pontos elétricos no ambiente para facilitar a distribuição da iluminação.

Sobre a iluminação, é preciso também pensar na iluminação ao redor de uma biblioteca pública, por exemplo, para garantir a acessibilidade, “minimizando a insegurança do cidadão em seu translado, mantendo o equilíbrio entre iluminação artificial e natural” (AZEVEDO, 2010, p. 102).

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3.6 Conservação dos materiais do acervo

Algumas medidas para a conservação já foram mencionadas quando tratamos da temperatura, umidade relativa do ar, ventilação e iluminação. Há, entretanto, outros aspectos que devem ser considerados quando pensamos a relação entre o edifício da biblioteca e a conservação dos materiais do acervo. Ingrid Beck (2007 apud AZEVEDO, 2010, p. 85), ao estudar a conservação preventiva, destaca que a equipe para tratar dessa questão deve ser multidisciplinar porque

abrange uma série de conhecimentos bastante complexos, como a climatologia, a ciência e tecnologia dos materiais. É um estudo amplo que, busca melhora das condições de preservação e a ampliação da vida útil dos documentos.

Além disso, como considera Beck (apud AZEVEDO, 2010, p. 85), no Brasil, deve-se considerar a necessidade de conviver com problemas específicos do clima e orçamentos limitados. Azevedo relata-nos a dificuldade encontrada quando se instala uma UI em edifícios antigos, muitos deles tombados e não concebidos para esse fim, o que aumenta a complexidade das intervenções. É necessário conhecer como os materiais construtivos reagem ao tempo e a topologia do lugar para se pensar na conservação do acervo. Nota-se que

o edifício antigo é como um paciente que apresenta sintomas de degradação e/ou patologias que devem ser corretamente diagnosticadas para que soluções que evitem definitivamente, ou retardem bastante, a reincidência do problema possam ser encontradas. [...] Para tanto, a investigação deve considerar todo o universo que envolve o bem cultural, como os fatores climáticos; as características do solo; as edificações do entorno; as intervenções urbanísticas; os atos de vandalismo. (COELHO, 2003 apud AZEVEDO, 2010, p. 86).

Os problemas relativos à conservação não ocorrem somente quando se instala uma biblioteca em edifícios antigos. Almeida (2005, p. 119) relata-nos que nem sempre quando se projeta um edifício para abrigar uma biblioteca, arquivo ou centro de documentação se pensa na questão da conservação preventiva, o que acaba gerando “problemas intermináveis para o gerenciamento das coleções e para sua preservação”. Se houvesse preocupação com tais questões no planejamento do prédio, o tempo e os recursos investidos em soluções paliativas após a construção e instalação poderiam ser evitados. Gastos adicionais no momento da construção podem significar redução de custos com a conservação dos materiais. Como afirma Almeida (2005, p. 119-120),

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muitos dos problemas de infestação de insetos e fungos que têm ocorrido em bibliotecas e arquivos poderiam ter sido evitados ou minimizados, se tivessem sido previstos ao se projetar o edifício. Da mesma forma, o cuidado com os níveis de luz, com a localização das janelas e com a filtragem de raios ultravioleta pode evitar desgaste das coleções e do mobiliário. Por fim, soluções preventivas contra incêndios ou para melhorar a segurança podem reduzir custos de seguro e diminuir riscos de danos pessoais e materiais.

É preciso que o arquiteto, ao projetar o edifício, leve em consideração o uso de barreiras contra o que seja desfavorável (clima, topologia, luz, entre outros) e aproveite o que a região oferecer de favorável, já que os acervos documentais sofrem influência da edificação que os abriga. Entre os fatores que contribuem para a degradação dos materiais, destacam-se o clima regional em que se localiza a instituição e os microclimas que se formam no espaço interno dos edifícios, decorrentes das trocas climatológicas entre os dois ambientes: externo e interno. Por isso é importante pensar em soluções para melhorar a eficiência térmica, “contribuindo para um ambiente interno estável, com níveis aceitáveis de temperatura e umidade relativa do ar” (ALMEIDA, 2005, p. 120).

O ideal, segundo Almeida (2005, p. 120) é que a preservação seja um critério considerado desde o início do planejamento para a construção de um novo edifício, considerando a escolha do local, evitando-se zonas de risco como as sujeitas a inundações, áreas altamente sujeitas à poluição atmosférica, terrenos pantanosos ou excessivamente úmidos. Mas quando não se pode evitar a escolha de uma área inadequada, pode-se buscar soluções técnicas que atenuem o problema, como afirma a autora, “como promover a perfeita drenagem do terreno, evitar o armazenamento de coleções nas áreas subterrâneas ou no andar térreo, entre outras”. Há a necessidade de preparação do terreno e tratamentos termicidas para manter a área livre de resíduos de madeira e outros materiais orgânicos.

Por fim, há que se pensar no piso mais adequado para a biblioteca (tanto no que se refere à estética quanto à resistência), nas instalações hidráulicas e elétricas, nos materiais de construção em geral, pois infiltrações, por exemplo, são um dos grandes problemas enfrentados nos edifícios de bibliotecas (ALMEIDA, 2005, p. 123).

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3.7 Acessibilidade

A legislação brasileira, pelo Decreto nº 5.296/2004, define acessibilidade como:

condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida. (BRASIL, 2006 apud OLIVEIRA, 2010, p. 28).

Já segundo a NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos (apud FARIA; ALMEIDA; SILVA, 2010), entende-se acessibilidade como “possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos”.

O ideal, segundo Oliveira (2010, p. 29), é pensar na questão da acessibilidade no planejamento de qualquer projeto (produto ou espaço), pois as adaptações posteriores podem ser mais difíceis e custosas e nem sempre adequadas.

Faria, Almeida e Silva (2010), ao analisarem as condições de acessibilidade física na Biblioteca Central da UFMG, afirmam que no ambiente universitário deve-se “ter conhecimento das diferenças entre os indivíduos” e “atentar para seu direito ao tratamento igualitário”. Deve-se buscar construir um ambiente acessível, ou seja, um ambiente que possa ser flexível para atender a todos sem delimitar áreas exclusivas para pessoas com deficiência42. Tanto os banheiros, quanto a área de estudo, a entrada da biblioteca e os balcões de atendimento devem ser construídos para atender a todas as pessoas.

Nesse contexto surge o conceito de Desenho Universal / Design Universal (Universal Design) ou Design para Todos (Design for All) que diz “respeito ao desenvolvimento de produtos e de ambiente para serem usados por todas as pessoas, na maior extensão possível, sem a necessidade de adaptação ou design especializado” (MELO, 2008, p. 31). É preferível, portanto, ter um mesmo produto ou ambiente que possa ser utilizado por todas as pessoas a adotar produtos ou ambientes diferenciados. Como exemplifica Pérez Ferrés (2008, p. 36), 42

Pereira (2004 apud DE PAULA, 2009, p. 51) comenta que existem dúvidas sobre qual o termo correto a ser usado com relação à pessoa com deficiência. Segundo a autora, a legislação brasileira adota o termo “portador de deficiência”, mas segundo especialistas a expressão mais adequada seria “pessoa com deficiência”.

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é preferível optar por um banheiro capaz de receber qualquer pessoa, indiferente da sua capacidade física, motora ou sensorial a um banheiro exclusivo. O mesmo podese dizer sobre uma entrada ampla e acessível apta a todos, em contraste com uma entrada diferenciada para pessoas com deficiência.

Para Araújo (2002, p. 25), entretanto, é preciso não confundir Desenho Acessível e Desenho Universal. O primeiro relaciona-se a produtos e edifícios acessíveis às pessoas com deficiência, com a existência de áreas para uso exclusivo dessas pessoas, já no segundo caso, os produtos e edifícios “estão acessíveis a todos, incluindo os portadores de deficiência (permanentes ou temporárias)”.

Segundo Melo (2008, p. 31-32), os princípios que podem nortear o desenvolvimento e a avaliação de ambientes, produtos e serviços dentro do Desenho Universal são:

Uso equitativo. O design é útil e comercializável para pessoas com habilidades diversas. Flexibilidade no uso. O design acomoda uma ampla variedade de preferências e habilidades individuais. Simples e intuitivo. O uso do design é fácil de entender, independentemente da experiência, do conhecimento, das habilidades linguísticas ou do nível de concentração corrente do usuário. Informação perceptível. O design comunica a informação necessária efetivamente ao usuário, independentemente das condições do ambiente ou das habilidades sensoriais do usuário. Tolerância ao erro. O design minimiza perigos e consequências adversas de ações acidentais ou não intencionais. Baixo esforço físico. O design pode ser usado eficientemente, confortavelmente e com um mínimo de fadiga. Tamanho e espaço para aproximação e uso. Tamanho apropriado e espaço são oferecidos para aproximação, alcance, manipulação e uso independentemente do tamanho do corpo, postura ou mobilidade do usuário.

A acessibilidade física relaciona-se aos aspectos estruturais da área física no entorno e no interior dos edifícios e aos produtos disponibilizados aos indivíduos. Segundo Pérez Férres (2008, p. 36), o espaço de uma biblioteca acessível permite a presença e proveito de todos, estando preparada para acolher a maior variedade de público possível. Para ter tal ambiente, não basta, entretanto, mudar as instalações, é preciso também mudar barreiras atitudinais, “tornando as pessoas acessíveis e inclusivas, fazendo uma revisão de suas atitudes” (BAPTISTA, 2006 apud OLIVEIRA, 2010, p. 32). Entre as barreiras que fazem a limitação nos espaços, segundo De Paula (2009, p. 60), há a barreira “do comportamento estigmatizado e discriminatório, que deflagra uma atitude negativa para o alcance da oportunidade de pessoas com deficiência”. De Paula (2009, p. 63) considera que vivemos um momento de

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transição de uma cultura discriminatória para uma cultura de inclusão, em que o ideal é a aceitação das diferenças.

A acessibilidade física em bibliotecas, de acordo com Faria, Almeida e Silva (2010), possui três dimensões: urbana (relacionada à adequação do espaço no entorno do edifício); arquitetônica (relacionada à adequação do edifício e do mobiliário), e de produtos (relacionada à aquisição de produtos destinados a usuários específicos). Detalharemos a seguir cada uma delas, com base nos autores mencionados:

Dimensão urbana da acessibilidade física em bibliotecas: refere-se ao entorno do edifício. Este deve estar preparado para receber pessoas com limitação de mobilidade. As paradas de ônibus, por exemplo, devem estar próximas e ter sinalização para deficientes visuais, rebaixamento de calçadas e rampas para cadeirantes. As vagas de estacionamento também devem ser sinalizadas e próximas à entrada principal do prédio, com faixa para circulação de cadeiras. Também são necessárias rotas com sinalização tátil para deficientes visuais em toda a área circundante da biblioteca, das paradas de ônibus e das vagas de estacionamento.

Dimensão arquitetônica da acessibilidade física em bibliotecas: refere-se às condições dos edifícios e seus espaços internos para receber adequadamente as pessoas com limitações psicomotoras e sensoriais. Alguns itens como a entrada do edifício, as áreas de recepção e atendimento, os espaços internos, o mobiliário, o piso, os banheiros e o arranjo do acervo devem ser pensados para o uso dessas pessoas. Segundo a NBR 9050 (apud FARIA; ALMEIDA; SILVA, 2010), “os locais de pesquisa, fichários, salas de estudo e leitura, terminais de consulta, balcões de atendimento e áreas de convivência de uma biblioteca devem ser acessíveis”.

Outros pontos a serem observados, segundo Pérez Férres (2008) e Faria, Almeida e Silva (2010) são:

evitar desníveis na entrada da biblioteca. Caso existam é necessário haver rampas ou elevadores acoplados; a porta de entrada deve ter um vão livre de no mínimo 80 cm e altura mínima de 210 cm, faixa tátil de orientação e alerta e faixa de sinalização para portas de vidro. Já as portas internas devem ser de fácil manipulação e possuir maçanetas tipo alavanca;

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todas as entradas e rotas de interligação às principais funções do edifício devem ser acessíveis; a área de recepção e atendimento deve permitir o acesso rápido à informação buscada. Sugere-se que haja sinalização de prioridade no atendimento de pessoas com deficiência, como direito e não privilégio; balcões, armários, terminais de consulta e disposição do mobiliário precisam ser pensados em termos de acessibilidade, eliminando possíveis barreiras que dificultem a livre movimentação do usuário e o contato visual com o atendente. É preciso atentar-se às dimensões de móveis e estantes, bem como a distância entre eles. A altura das estantes, por exemplo, deve atender às faixas de alcance manual e parâmetros visuais e a distância entre as estantes deve ser de no mínimo 90 cm e a cada 15 m deve haver um espaço que permita a manobra de cadeiras de rodas; evitar becos, áreas sem uso ou qualquer configuração que possa causar confusão ou isolamento de pessoas com senso de orientação reduzido e sinalizar espaços não acessíveis para evitar acidentes; os pisos táteis devem projetar uma rota da entrada até os diferentes pontos de interesse no interior da biblioteca; os pisos precisam ter superfície regular, firme, estável e antiderrapante. Além de não provocarem reflexos excessivos, pois isto desorienta pessoas com baixa visão; os tapetes devem ser embutidos e nivelados com a superfície circundante; os banheiros devem ser acessíveis a todos os usuários com limitações, localizados em rotas acessíveis e sinalizadas, possuindo piso tátil da parte externa até sua entrada, porta com sinalização tátil e dimensões diferenciadas para os usuários cadeirantes; os sanitários deverão ser sinalizados com o símbolo internacional de sanitários acessíveis. Suas portas deverão ter puxador horizontal associado à maçaneta, e a iluminação da biblioteca deve ser avaliada cuidadosamente, observando as cores e o contraste entre paredes, pisos e portas, entre maçanetas e portas e entre portas e o batente para atender a usuários com baixa visão. Deve-se também evitar mudança brusca de luminosidade entre os ambientes.

Dimensão de produtos da acessibilidade física em bibliotecas: refere-se aos equipamentos existentes na biblioteca que permitam o atendimento igualitário aos usuários com limitações. Lira (2007 apud FARIA; ALMEIDA; SILVA, 2010) indica que as bibliotecas implantem

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equipamentos que possibilitem o acesso de pessoas com deficiência e idosos aos acervos físicos e digitais como, por exemplo, ampliadores de texto eletrônicos, leitores de livros autônomos, linhas Braille, folheadores de livros automáticos, teclados e mouses especiais, impressoras Braille, programas para leitura de textos e para reconhecimento de voz.

Para Pérez Férres (2008, p. 47), o mobiliário e os acessórios para uso do computador devem ser ajustáveis de forma simples, direta, segura e com tolerância ao erro. Deve ser observada a iluminação do local onde se usam os computadores, bem como o nível de ruído em ambientes próximos. A questão de possuir um catálogo acessível para a consulta ao acervo também é de grande relevância porque “se esse não for acessível constituirá uma barreira antes mesmo de se chegar à informação, presencial ou virtualmente” (OLIVEIRA, 2010, p. 35).

Com relação a essa temática, outra perspectiva é a de Araújo (2002), em dissertação sobre acessibilidade aos espaços urbanos por idosos na cidade de Natal-RN. A autora defende que é preciso ultrapassar os limites físicos normalmente abrangidos pelos conhecimentos técnicos, pois é necessário que tais pessoas saibam que podem chegar aos locais e usá-los. A acessibilidade não se esgotaria na dimensão física, podendo ser estendida a uma dimensão psico-sócio-ambiental (ARAÚJO, 2002, p. 29).

Considerar o aspecto psicológico da acessibilidade é uma tarefa complexa porque exige a identificação da imagem/percepção que as pessoas possuem do meio urbano. Existe, muitas vezes, como afirma Araújo (2002, p. 30), um descaso pelos lugares públicos e as “pessoas deixam de sair de casa por saberem que não podem se deslocar no ambiente”, preferindo o isolamento social. Preocupada com essas questões, a proposta da chamada “acessibilidade psicológica” tem por objetivo “trazer as pessoas para o convívio social real, para que não se percam os elos afetivos com os ambientes”. Está presente nessa perspectiva não só a questão física, mas também a “imaginável”, como denomina Araújo (2002, p. 32). Imaginabilidade é definida aqui como “a qualidade de um objeto físico evocar uma forte imagem em qualquer observador”.

A acessibilidade psicológica inclui, como já dito, as imagens que um indivíduo tem de determinado espaço. Pessoas com algum tipo de dificuldade de locomoção, por exemplo, de acordo com Cohen e Duarte (2000 apud ARAÚJO, 2002, p. 33),

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têm formas diferentes de apreensão da realidade: as pessoas que tendem a se deslocar olhando para baixo terão um tipo de imagem acerca do ambiente onde se inserem, os usuários de cadeira de rodas terão outra, e assim por diante. Embora reconhecidamente a visão represente o principal sentido na formação das imagens [...], pode-se acrescentar que, mesmo as pessoas desprovidas de visão, irão perceber a realidade à sua maneira, que também deve ser considerada.

A existência de barreiras, tanto visíveis (barreiras físicas) quanto as invisíveis (sociais, representadas pelo preconceito e pela discriminação), faz com que as pessoas sejam excluídas do processo de apropriação dos espaços urbanos e se sintam inibidas a ir a determinados lugares por saberem que não se adequam às suas necessidades. Essas questões evocam o conceito, descrito por nós no capítulo 2 desse trabalho, de “apego ao lugar”, em que uma pessoa sente-se ligada emocional e culturalmente a determinado ambiente, tal apego é construído ao longo do tempo, esse sentimento só será possível “através da garantida de acessibilidade às pessoas, independente de sua condição física” (ARAÚJO, 2002, p. 35).

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4 DOS ESPAÇOS DE CONSERVAÇÃO E DIFUSÃO A NOVAS PROPOSTAS

4.1 Bibliotecas de conservação e difusão

Antes de apresentar os novos modelos de bibliotecas e suas ideias com relação à configuração espacial, convém destacar dois paradigmas que podem ser diferenciados ao longo da história das bibliotecas: um modelo com ideal conservacionista e outro com ideal difusionista. As duas propostas se contrapõem já que para o primeiro grupo é preciso conservar os materiais do acervo o maior tempo possível, já para o segundo, o importante é possibilitar o acesso à informação contida nos documentos.

No primeiro grupo, com surgimento durante a Antiguidade e a Idade Média, estão instituições monumentais, “criadas com a finalidade de guardar a memória dita coletiva e de cuidar para que esta se conserve através dos séculos” (PERROTTI; PIERUCCINI, 2007, p. 61). Apesar de ser essencial a preservação dos materiais, o que se questiona é que tal perspectiva pode ser entendida, como defende Eco (1983 apud PERROTTI; PIERUCCINI, 2007, p. 62), “como forma de luta pela manutenção de posições consolidadas que não admitem variações”, a cultura que se preserva, portanto, é a das elites.

Da época medieval, pode ser citada uma imagem (Figura 4) de São Jerônimo de Antonello da Messina (1430-1479), nascido na Damácia no século IV e considerado o patrono das bibliotecas, dos bibliotecários e dos tradutores. Segundo Brawne (apud SILVA, 2006, p. 87), nessa imagem há um “retrato preciso e brilhante das características mais importantes para se conseguir uma comunicação eficiente entre o conhecimento acumulado e o leitor” porque há racionalidade na concepção e ocupação do espaço,

o estúdio de São Jerônimo está três degraus acima do piso, tem mesa adequada às proporções dos códices e estantes que dispõem livros sempre à mão. Móveis, espaço e iluminação devem ligar o leitor à biblioteca, assim como a escrita adere-se ao livro, ao mesmo tempo em que separa e livra o leitor de tudo o que seja inóspito. (SILVA, 2006, p. 87).

O estúdio de São Jerônimo seria um exemplo de biblioteca medieval que prima pela limpeza das formas e do espaço. Nesse período os livros permaneciam em armários ou

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amarrados às estantes, sob os olhos atentos do bibliothecarii (SILVA, 2006, p. 87). Umberto Eco explora no livro O nome da rosa o imaginário dessas bibliotecas. Amaro, em texto intitulado “No fim o bibliotecário morre...”, de 2006, analisa as linguagens encontradas na biblioteca mencionada e mostra como esta seria um perfeito exemplo de biblioteca de conservação. Por ter esse objetivo, configura-se como um labirinto, espaço difícil de ser penetrado e decifrado43.

Figura 4 - São Jerônimo de Antonello da Messina Imagem disponível em: . Acesso em: 22 out 2011.

Segundo Azevedo (2010, p. 49), as bibliotecas desse período são responsabilidade de algumas ordens religiosas, estando localizadas, por exemplo, no interior dos monastérios, fechadas ao público em geral. Martins (apud AZEVEDO, 2010, p. 50) afirma que todas as grandes abadias possuíam um scriptorium, um espaço adjacente à biblioteca, destinado a cópias de manuscritos,

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No capítulo 3, quando mencionamos a questão simbólica da localização, mostramos com Amaro (2006) analisa essa biblioteca.

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os mosteiros e conventos definiram-se, no período medieval como bibliotecas: até arquitetonicamente isso é verdade, sabendo-se, através de „Rouveyre‟, que, em muitos deles, os armários eram embutidos nas enormes paredes. As mais variadas formas de estantes de leitura existiam nesses conventos para permitir um manuseio cômodo dos grossos in-fólios medievais, inclusive os portáteis, mas nas quais se acorrentavam os livros. (MARTINS apud AZEVEDO, 2010, p. 49).

Pós Idade Média, temos o florescimento das cidades e a criação das universidades, que “produzem o deslocamento do eixo da produção e reprodução do conhecimento dos espaços religiosos para os lugares laicos” (SILVA, 2006, p. 87). Há uma mudança paulatina da biblioteca de espaço de conservação para espaço de difusão da informação e da cultura. Segundo Obata (1999, p. 92), têm origem na Revolução Francesa e na Revolução Industrial, fatos que determinam grandes transformações nos finais do século XVIII. O desenvolvimento da tecnologia e de equipamentos voltados para a produção industrial resulta no surgimento da classe média e da classe operária numa sociedade liberal. Esse segmento social em rápida ascensão precisa de capacitação técnica para as novas funções do mercado de trabalho e exige acesso à educação. Para responder a essas exigências, impõem-se a necessidade de se estabelecer políticas públicas para a educação e para a leitura, bem como para a própria biblioteca. [...] Passa a vigorar a ideia de que as bibliotecas existem para o público e a conservação só faz sentido em função da preservação para o uso.

Com o Iluminismo surge o ideal de difusão cultural, “princípio essencial, intrínseco à construção da nova ordem histórica que sucedia à ordem medieval” (PERROTTI; PIERUCCINI, 2007, p. 63). São criadas, por exemplo, bibliotecas públicas, as quais, apesar de possibilitarem o acesso a informações que até aquele momento haviam sido negadas a muitos segmentos da população, também funcionavam como ferramenta “visando à assimilação pelas massas dos valores e comportamentos das elites culturais” (PERROTTI; PIERUCCINI, 2007, p. 63). Dentro dos ideais difusionistas há a busca pela integração social, via assimilação cultural, não havendo possibilidade de questionar os paradigmas apresentados.

As bibliotecas pós Idade Média, segundo Silva (2006, p. 87), orientam-se por diferentes nortes. Apesar da produção e da reprodução do conhecimento terem passado dos espaços religiosos para os laicos, as novas bibliotecas (reais ou universitárias), criadas nesse momento, são espaços laicos que também almejam o sagrado, pode-se notar isso pela arquitetura de seus edifícios,

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observando os prédios destas bibliotecas, especialmente bibliotecas universitárias e bibliotecas reais (atualmente transformadas em bibliotecas nacionais), percebe-se em sua arquitetura, um movimento de demonstração de poder e de sacralização do espaço. (SILVA, 2006, p. 88).

Segundo Pélissier e Pouss (apud BARBALHO, 2000a; 2000b) existem quatro gerações de arquitetura de bibliotecas e nessa divisão podemos identificar as tendências anteriormente citadas. A primeira geração caracteriza-se por ter bibliotecas compostas de salas contínuas (como a Biblioteca do Vaticano, em Roma) ou por um amplo salão em que há estantes junto às paredes para armazenar os materiais do acervo, normalmente tabletes de argila ou rolos de papiro. Desse modo, o espaço central fica livre para circulação e permite uma boa distribuição de luz, conseguida também porque há pouca mobília. Essa técnica construtiva é chamada de “bibliotecas de box para livros ou cofres de livros pela semelhança com caixotes, pela simplicidade que destaca uma pobreza tanto funcional como estética” (BARBALHO, 2000b, p. 52), tem uma atmosfera reservada e sua forma arquitetônica privilegia a conservação do acervo e não o acesso a ele. Segundo Terezinha E. da Silva (2006, p. 87), esses espaços não serviam “à difusão do conhecimento, antes, à sua restrição”.

A segunda geração das edificações de bibliotecas é inaugurada pelo arquiteto francês Louis Boullée (1728-1799), em que se nota que há ainda o predomínio da conservação. O estilo boulleano caracteriza-se por apresentar um formato alongado, com um largo corredor no qual há intermináveis estantes. Para o projeto da Biblioteca do Rei (1785), como descreve Silva (2006, p. 89), Boullée “propõe um vão em semicírculo, linhas claras, clássicas e limpas”, essa biblioteca seria como “um espetacular anfiteatro de livros que observam o desempenho do leitor no centro do edifício”.

E segundo avalia Michel Melot (apud

BARBALHO, 2000b, p. 53, grifo nosso), Boullée

criou um estabelecimento cultural do gênero basílica ao deixar aparente as obras para que os usuários pudessem admirá-las e serem por elas seduzidos, o que tornava irresistível o contato visual mas mantinha os leitores fisicamente distantes do acervo, separados, inclusive, por uma mureta.

Com o arquiteto francês Pierre François Henri Labrouste (1801-1875), criador do projeto da biblioteca de Sainte Geneviève, em Paris (1840), inicia-se a terceira geração dos edifícios destinados a bibliotecas. Em tal projeto, o destaque não é mais dado à guarda dos livros e sim ao espaço para os usuários. O arquiteto inclui mobiliário “para que o usuário possa efetuar o mais agradavelmente possível sua leitura” (BARBALHO, 2000b, p. 54).

76

A última e atual fase descrita por Pélissier e Pouss (apud BARBALHO, 2000a; 2000b) caracteriza-se por projetos que dão destaque à divisão interna, com “zonas distribuídas de acordo com a racionalidade do espaço, preocupando-se com o desempenho da função”. Haveria um paradoxo funcional em que se contrapõem “preservar e oferecer, encerrar e franquear, conservar e comunicar” (BARBALHO, 2000b, p. 54).

Por fim, acredita-se hoje que os ideais conservacionistas e difusionistas não são suficientes. Pensar sobre a função e o lugar da biblioteca na Era da Informação44 se apresenta como um grande desafio. Apesar de estarem sendo derrubadas fronteiras geopolíticas tradicionais por, entre outros mecanismos, o uso cada vez mais disseminado da internet, acentua-se na contemporaneidade uma crise das relações sociais e interpessoais (AMARO, 2005, p. 305). O espaço da biblioteca não pode mais ser concebido como um “depósito” de livros, nem o bibliotecário como um guardião limitador do acesso. São necessários novos caminhos para se chegar ao conhecimento. A Biblioteca precisa ser repensada como um espaço de diálogo e convivência no qual se possa não só adquirir informação, mas também produzi-la.

4.2 CRAI – Centro de Recursos para el Aprendizaje y la Investigación

4.2.1 Apresentação de um novo modelo de biblioteca universitária – o CRAI

As universidades europeias encontram-se em um momento de mudança devido ao novo modelo educativo estabelecido pelo Espaço Europeu de Educação Superior 45. Tal modelo educativo, proposto pelo Processo de Bolonha, em 1999, tem “como finalidade interna a coesão entre os diversos sistemas universitários europeus” e baseia-se no pressuposto de que um aprendizado eficaz se dá quando o aluno “assume a responsabilidade 44

Segundo o Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia, a Era da Informação é a “época quando os usos intensivos da informática e das telecomunicações facilitam o processamento, armazenamento e distribuição da informação; era digital = sociedade da informação” (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 153). 45 Mais detalhes consultar: CASTRO FILHO, Claudio Marcondes de. O modelo europeu do Centro de Recursos para el Aprendizaje y la Investigación (CRAI) e as bibliotecas universitárias brasileiras: convergências e divergências. 2008. 238 f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Escola de Comunicações e Artes. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

77

na

organização

e

desenvolvimento

do

trabalho

acadêmico”

(CASTRO

FILHO;

VERGUEIRO, 2011, p. 32).

Martínez (2004, p. 98) apresenta, em texto da revista Educación y Biblioteca, um modelo para as bibliotecas universitárias espanholas que se adequa aos novos tempos. A biblioteca, que até então servia como suporte à universidade, sendo também depositária da produção científica, precisa, segundo o autor, transformar-se em um serviço estratégico chave que ajude estudantes e professores a terem acesso a novas formas pedagógicas de aprendizagem.

À noção de biblioteca são integrados serviços importantes para o desenvolvimento de projetos educativos. A biblioteca, nesse contexto, passa a ser denominada Centro de Recursos para el Aprendizaje y la Investigación (CRAI) e “se converte em um verdadeiro centro dos recursos educativos básicos para a comunidade46” (MARTÍNEZ, 2004, p. 98, tradução nossa). Em outras palavras, a biblioteca, vista antes como um serviço de apoio, torna-se um elemento estratégico da universidade, passa a ter em seu centro não mais o objeto livro e sim o usuário que aprende. Além disso, possui forte ligação com a tecnologia, sendo um lugar que abre portas de acesso à informação em qualquer lugar da rede.

Não se trata, portanto, apenas de uma mudança de denominação, segundo Castro Filho e Vergueiro (2010), há

uma mudança de paradigma de uma biblioteca convencional para o sistema CRAI, e não apenas uma mudança de nome: o importante é a filosofia, o conceito e o papel que atribui ao espaço físico e virtual com relação aos seus usuários.

Segundo Área Moreira (2005 apud CASTRO FILHO; VERGUEIRO, 2010), o CRAI é

um serviço de informação voltado ao público universitário que tem como objetivo auxiliar os professores e estudantes a facilitar as atividades de aprendizagem, de formação, de gestão e de resolução de problemas, sejam técnicos, metodológicos ou de conhecimento ao acesso e uso da informação.

Esse novo conceito de biblioteca se ajusta às mudanças pelas quais passa o ensino superior na atualidade. De um modelo em que o professor era a figura mais importante, passase a outro no qual o estudante é o centro do sistema de ensino. Isso se nota, por exemplo, na 46

“se convierte en el verdadero centro de los recursos educativos básicos para la comunidad”.

78

adoção de resolução de casos na prática pedagógica em substituição a disciplinas com temáticas rígidas. Passa-se, nesse contexto, a haver novas formas de ensino mais dinâmicas e abertas, inclusive com o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), e o docente tem seu papel alterado para “assessor, consultor, guia do processo educativo do estudante47” (MARTÍNEZ, 2004, p. 99, tradução nossa).

Para adaptar-se a esses novos conceitos, será necessário também que a universidade e a biblioteca mudem seus espaços físicos,

a sala de aula como espaço físico fechado, ligado a um horário e com equipamentos determinados, deixará de ter a função e as conotações que até o momento possuía. De fato, a sala de aula como tal irá desaparecer. O novo espaço emergente será o espaço virtual, a aula virtual, complementado por novos espaços como laboratórios, seminários, empresas externas, áreas de pesquisa, salas de encontro e discussão. É neste contexto em que o CRAI se converterá na nova sala de aula por excelência48. (MARTÍNEZ, 2004, p. 99, tradução nossa).

Tais mudanças e desafios trazem para a biblioteca ou CRAI a necessidade de um espaço diferenciado, não mais somente centrado nos documentos que possui e processa, nem só oferecendo espaços silenciosos para leitura. Ao ser um centro dinamizador de aprendizagem, precisa de “um novo design de espaços e serviços para integrar e criar outros serviços, alguns dos quais antes se localizavam fora da biblioteca49” (MARTÍNEZ, 2004, p. 99, tradução nossa).

A integração dos serviços permite aperfeiçoar os recursos e, em

consequência a isso, melhorar a qualidade do atendimento dos usuários (CASTRO FILHO; VERGUEIRO, 2011, p. 33).

Com base em Martínez (2004), destacamos os seguintes objetivos do CRAI e seus serviços:

o CRAI precisa proporcionar aos estudantes uma experiência de aprendizagem total mediante a interação de livros, pessoas e tecnologia;

47

“asesor, consultor, guía del proceso educativo del estudiante”. “el aula como espacio físico cerrado, ligado a un horario y con unos equipamientos determinados, dejará de tener la función y las connotaciones que hasta el momento tenía. De hecho, el aula como tal irá desapareciendo. El nuevo espacio emergente será el espacio virtual, el aula virtual, complementado por nuevos espacios como laboratorios, seminarios, empresas externas, áreas de investigación, salas de encuentro y discusión. Es en este contexto donde el CRAI se convertirá en la nueva aula por excelencia”. 49 “un nuevo diseño de espacios y servicios para integrar y crear otros servicios, algunos de los cuales antes se ubicaban fuera de la biblioteca”. 48

79

o CRAI deve disponibilizar espaço para estudo individual e em grupo para que professores e estudantes desenvolvam seus projetos; nos locais de leitura deve haver também acesso à internet; deve ser programado o crescimento das coleções bibliográficas e de outros materiais tanto em suporte papel como eletrônicos; devem ser organizadas atividades curriculares e extracurriculares; além dos serviços gerais, deve haver também serviços personalizados segundo a necessidade dos usuários; deve haver flexibilidade para abandonar serviços que não sejam mais significativos e implementar novos, e deve haver um espaço único que integre vários serviços.

Alguns serviços que podem ser localizados no CRAI são, segundo Martínez (2004):

Serviço de informação geral e boas vindas da Universidade: orientação aos alunos com relação aos procedimentos administrativos e acadêmicos, como informações sobre disciplinas e matrículas, bem como sobre a cidade e outros tipos de necessidades. A área destinada a esse serviço deve ser localizada perto da entrada do CRAI, deve estar bem sinalizada e seu mobiliário não pode impedir o fluxo de comunicação entre as pessoas; Serviço de biblioteca: trata-se de um serviço amplo e diversificado que pode ser dividido em algumas tipologias: a) serviços básicos para a aprendizagem destinados a professores e a estudantes iniciantes, b) serviços bibliotecários destinados a professores e estudantes ligados a projetos de pesquisa e c) serviços bibliotecários digitais destinados a todos os usuários virtuais; Serviço de informática para os estudantes: para o CRAI o suporte nessa área é fundamental, não só para o funcionamento básico dos equipamentos e serviços, mas também para o desenvolvimento de novos projetos tecnológicos; Serviço de laboratório de idiomas: espaço destinado a aprendizagem da língua inglesa e de outros idiomas, pois o conhecimento de línguas estrangeiras tem sido essencial tanto para a leitura de textos científicos quanto para a inserção no mercado de trabalho; Serviço de busca ativa de emprego: serviço destinado aos alunos que estão terminando seus estudos e querem ingressar no mercado de trabalho. Orienta estudantes a utilizarem

80

grandes bases de dados mundiais de empresas tanto nacionais como internacionais, entre outras orientações; Serviço de salas de estudo e reserva de salas: serviço disponível porque muitas vezes a necessidade do usuário é somente ter espaço disponível para trabalhar com seus próprios materiais e computador pessoal; Serviço de suporte à formação do professor: é importante que o professor conheça os diferentes recursos que o CRAI possui, pois ele será o guia dos projetos educativos. É, portanto, necessário que sejam oferecidos cursos de formação e reciclagem para os professores em técnicas e métodos pedagógicos, e Serviço de criação e elaboração de materiais pedagógicos e multimídia: o CRAI deve ajudar o professor a elaborar materiais multimídia. A biblioteca deve proporcionar não somente o acesso aos novos conteúdos, mas também facilitar sua distribuição, catalogação e preservação.

Outros serviços oferecidos pelo CRAI seriam:

serviços de publicação e edição de materiais publicados pela Universidade; serviço de livraria e papelaria; serviço e material informático; serviço de salas equipadas com Tecnologia de Informação e Comunicação; salas de aula com estações de trabalho com Tecnologia de Informação e Comunicação para apresentação de seminários e de trabalhos em grupo; salas de trabalho, de reuniões, exposições, debates e apresentações; serviço de restauração; espaços destinados à socialização da vida universitária e espaço disponível para descanso. (CASTRO FILHO; VERGUEIRO, 2010).

4.2.2 Diretrizes para a organização espacial do CRAI

Além de seguir os conceitos do decálogo de Faulkner-Brown (1999), descrito por nós no capítulo anterior, para o qual um edifício de biblioteca deve ser: flexível, compacto, acessível, suscetível de ampliação, variado, organizado, confortável, dotado de um ambiente constante, seguro e econômico, Martínez (2004) propõe as seguintes diretrizes iniciais em relação à área espacial do CRAI:

edifício para aprender: o edifício deve ser pensado para aprendizagens em grupo ou de forma autônoma, com livros ou outros tipos de materiais. Arquitetos e bibliotecários

81

devem projetar o edifício, portanto, considerando as diferentes formas de aprendizagem, tanto atuais como futuras. Além disso é preciso analisar as reais necessidades dos usuários para definir as principais características dos espaços;

edifício acessível e central: a localização do CRAI deve ser na parte central do campus universitário, de fácil acesso aos usuários, de forma a ser utilizado durante o maior tempo possível. Para tanto, deve estar aberto o “maior número de horas todos os dias da semana em todos os turnos” (CASTRO FILHO; VERGUEIRO, 2010). Além disso, o CRAI deve contemplar diferentes tipos de usuários, inclusive os que possuem restrições de mobilidade, por isso é preciso pensar em soluções para barreiras arquitetônicas. Por fim, é necessário que haja sistemas automatizados de vigilância por ser um local de grande trânsito de pessoas;

edifício tecnológico e digital: há no CRAI grande aposta nas TICs, especialmente disponibilidade de acesso à internet. É preciso que haja o sistema WI-FI em todos os ambientes. Com a informatização dos serviços, “é necessário que os espaços físicos sejam arquitetados, levando em consideração as necessidades do pessoal de apoio da área de informática” (CASTRO FILHO; VERGUEIRO, 2010); edifício aberto e flexível a outros serviços universitários: o conceito de “edifício aberto” refere-se à necessidade de futuras adaptações a novos serviços da universidade, por isso é preciso que os espaços sejam multifuncionais e fáceis de reorganizar, e

edifício emblemático, moderno e sustentável: o edifício do CRAI deve ser representativo no campus universitário. Deve ter uma arquitetura não só funcional, mas também atrativa em sua imagem e estética, “deve convidar a entrar e permanecer muito tempo. Deve ser um convite a aprender50” (MARTÍNEZ, 2004, p. 105, tradução nossa). Em seu espaço o usuário deve sentir-se confortável e a imagem do edifício deve refletir a modernidade da própria universidade.

Como se pode notar, o modelo do CRAI precisa integrar serviços incomuns nas bibliotecas universitárias atuais como, por exemplo, produção de materiais multimídia, apoio

50

“debe invitar a entrar y permanecer mucho tiempo. Debe ser una invitación a aprender”.

82

à formação docente, entre outros. Segundo Castro Filho e Vergueiro (2010), é aqui que “acontece a ruptura dos tradicionais modelos de distribuição espacial e onde se incorpora o trabalho em grupo, como seminários, salas de tutoriais, de conferências e de serviços complementares”. Também com relação às TICs,

entende-se que a área espacial deve exercer um papel mais significativo do [que] ocorre na biblioteca universitária tradicional, uma vez que os recursos tecnológicos são o elo entre a recuperação da informação e o usuário, como também o suporte para a organização, difusão e acesso a recursos digitais e de materiais interativos virtuais. (CASTRO FILHO; VERGUEIRO, 2010).

Em resumo, é preciso “adequar o espaço físico às novas demandas e proposições do fornecimento de informação como suporte para o ensino universitário no século XXI é mais um desafio a ser enfrentado pelos profissionais” (CASTRO FILHO; VERGUEIRO, 2010).

4.3 REBI - Rede Escolar de Bibliotecas Interativas

4.3.1 Breve histórico e conceitos fundamentais da REBI

A primeira experiência de criação de uma Biblioteca Interativa foi desenvolvida pelo professor Edmir Perrotti e o grupo do Programa Serviços de Informação em Educação51 (PROESI), do Departamento de Biblioteconomia e Documentação (CBD) da ECA/USP, no final da década de 1990, com professores e alunos da então EMEF “Prof. Roberto Mange”, localizada na zona oeste da cidade de São Paulo52. O sucesso dessa experiência foi inspirador do contato entre o grupo liderado por Perrotti e os agentes da Secretaria da Educação e Cultura (SEC) do município de São Bernardo do Campo, localizado na chamada região do ABC Paulista. Assim, em 1999 foi iniciada a REBI, com a assinatura do convênio de

51

Segundo Perrotti e Pieruccini (2007, p. 47), o PROESI transforma-se posteriormente em Núcleo de Infoeducação. 52 Segundo Obata (1999, p. 96), o projeto teve início em meados de 1996 e a Biblioteca Escolar Interativa foi inaugurada em 13 de maio de 1998. Para maiores detalhes consultar: OBATA, Regina Keiko. Biblioteca Interativa: concepção e construção de um serviço de informação em ambiente escolar. 1998. 129 f. Tese (Doutorado em Ciência da Comunicação) – Escola de Comunicações e Artes. Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.

83

cooperação técnico-acadêmico53. Foram inauguradas inicialmente seis Bibliotecas Interativas e hoje a rede conta com aproximadamente 90 unidades54. Tal projeto incorporou várias conquistas e propostas do projeto precedente e, ao mesmo tempo, lançou novas indagações e buscas (PERROTTI; PIERUCCINI, 2007, p. 69).

Diante do quadro atual brasileiro, no qual as bibliotecas escolares são desvalorizadas e reduzidas a depósito de livros, a proposta da Biblioteca Interativa foi de criar espaços de socialização, um ambiente “de interações/inter-relações não só informacionais, mas também culturais, comunicacionais, ambientais, pessoais e sociais” (AMARO, 2005, p. 305). Isto significa que não basta oferecer o acesso à informação e cultura, a biblioteca precisa ser apropriada pela criança e pelo jovem. Estes, por sua vez, precisam se apropriar do espaço da biblioteca tornando-se produtores e não somente receptores de informação. Dessa forma, a Biblioteca Escolar Interativa

deve dialogar também com a cultura da comunidade escolar e do seu entorno, constituindo-se como seu instrumento e, ao mesmo tempo, seu espaço de produção e expressão. É preciso possibilitar a permanência dessa produção, reconhecendo-a como informação e cultura. Assim textos, quadros, painéis, fotos, produções das mais variadas devem ser publicadas, exibidas pela biblioteca, além de fazer parte do seu acervo. (AMARO, 2005, p. 312).

É nesse contexto de pesquisas, na tentativa de compreender as relações históricas entre Informação e Educação e tentar abrir novas e necessárias perspectivas, contribuindo, se possível, para a superação das fragmentações herdadas da modernidade, que começaram a se desenvolver pesquisas sobre Infoeducação. A hipótese do grupo de pesquisa coordenado por Edmir Perrotti era que

53

Em 1997, “a Secretaria de Educação e Cultura ampliou significativamente o acervo das escolas, gerando a necessidade de criação de um sistema organizacional, bem como o desenvolvimento de práticas educacionais fundamentadas por uma concepção inovadora. Até então, o conceito de biblioteca predominante era o de biblioteca de conservação, no qual, o cuidado com o livro predominava em seu uso, ou ainda, uma concepção restrita à difusão do hábito de leitura” e em 23 de agosto de 1999, “foi iniciada a REBI – Rede Escolar de Bibliotecas Interativas, com a assinatura do convênio de cooperação técnico-acadêmico entre a Prefeitura do Município de São Bernardo do Campo e a USP, propondo um novo conceito de biblioteca. As características das Bibliotecas Escolares Interativas originaram-se do Projeto de Pesquisa criado pelo PROESI (Programa Serviços de Informação em Educação) do Departamento de Biblioteconomia da Escola de Comunicação e Artes (ECA), com apoio de órgãos ligados à USP, além de equipes de professores, alunos de pós-graduação da ECA-USP e pesquisadores franceses reunidos pela Académie de Créteil”. Dados disponíveis em: . Acesso em: 29 out. 2011. 54 A lista completa das unidades escolares que compõe a REBI pode ser consultada em: . Acesso em: 29 out. 2011.

84

existiria uma vinculação essencial, inextricável, dialética e complexa entre dispositivo de informação e cultura e os processos de apropriação simbólica, correlata à vinculação existente entre ordem cultural e educacional, demandando o desenvolvimento de novos dispositivos e de aprendizagens informacionais indispensáveis ao protagonismo cultural nas sociedades do conhecimento. (PERROTTI; PIERUCCINI, 2007, p. 71)

O campo de atuação da Infoeducação seria de natureza tanto teórica como prática e um dos seus objetos é o estudo das relações cada vez mais complexas entre os campos da Informação e da Educação. Para a compreensão desse novo campo de estudos, abordaremos sucintamente alguns conceitos essenciais como: apropriação cultural, protagonismo cultural, mediação cultural e Estações do Conhecimento55 por se relacionarem com o projeto da REBI, cujo espaço é o foco de nossas discussões: Apropriação cultural56: dentro da perspectiva estudada, não se trata de qualquer forma de apropriação e sim de apropriação simbólica. Apesar de estar vinculada a uma dimensão material e objetiva, não se restringe a ela, envolve processos imateriais e subjetivos. Apropriar-se seria uma ação afirmativa, invenção e criação e não uma simples recepção mecânica e automática de sinais ou de mensagens. A apropriação simbólica contempla “apropriação de informações, de conhecimento e cultura” (PERROTTI; PIERUCCINI, 2007, p. 56).

Protagonismo cultural: definido como fenômeno de participação ativa e afirmativa na vida cultural, na condição de produtor e criador de significados e sentidos, seja individualmente ou enquanto membro de um grupo ou uma coletividade. (PERROTTI; PIERUCCINI, 2007, p. 56).

Como protagonistas, os sujeitos passam a ter papel central e, em suas relações com o conhecimento e a cultura, criam e se recriam, são sujeitos e objetos dos processos em que se acham inseridos, não são meros usuários ou consumidores culturais.

Mediação cultural: conceito central, refere-se a um conjunto de elementos de diferentes ordens (material, relacional, semiológica) que se interpõem e atuam nos processos de significação. Mediar é intermediar, é aproximar seres “considerados como dados

55

O conceito de “dispositivo” também é importante para o campo de estudos e foi exposto por nós no capítulo 2. O conceito de “apropriação” já foi por nós apresentado no item 2.2 deste trabalho.

56

85

independentemente desta ação” (PERROTTI; PIERUCCINI, 2007, p. 84). A mediação cultural leva a considerar os elementos que constituem seus processos não como simples ferramentas, mas como signos, portadores de sentidos. A mediação cultural

é, pois, ação de produção de sentidos e não mera intermediação ou transmissão anódina de signos. Nesse sentido, os dispositivos informacionais são dispositivos de mediação e estão carregados de conceitos e significados. (PERROTTI; PIERUCCINI, 2007, p. 85).

Estação do conhecimento: são ambientes em que se busca, por meio de vivências culturais múltiplas (que podem estar relacionadas à oralidade ou às redes digitais), ações educativas e culturais, as Estações do Conhecimento “constituem-se em espaço de aprendizagem e conhecimento, de criação de condições e saberes indispensáveis ao protagonismo cultural” (PERROTTI; VERDINI, 2008, p. 16).

4.3.2 O espaço informacional da REBI57

Para Taralli (2006), os espaços apropriados para o desenvolvimento do aprendizado, capazes de estimular a imaginação e a participação ativa de todos os atores da comunidade escolar, devem ser apoiados em conceitos de flexibilidade espacial requerida pelos programas pedagógicos atuais. O ambiente construído para a REBI incorporaria tais princípios, essas instalações demandam uma concepção de projeto de arquitetura, de comunicação visual e de mobiliário própria e adequada à construção de um lugar propício ao desenvolvimento das relações entre educação, cultura e informação que priorize a inserção criativa e participativa da criança no meio sociocultural. (TARALLI, 2006, p. 7)

O espaço apesar de uno, integrado, tem a possibilidade de acolher múltiplas atividades, cada qual com características e necessidades próprias. Deve também possuir características físicas e simbólicas diferenciadas que possibilitem o desenvolvimento de relações que estimulem a investigação, a aquisição e a produção do conhecimento.

57

É importante lembrar que destacamos em nosso texto a configuração espacial da REBI, mas há outros elementos fundamentais em sua estrutura como: a composição do acervo, a linguagem informacional, as práticas informacionais e a atuação dos mediadores. Mais detalhes, consultar Pieruccini (2004; 2007).

86

O primeiro elemento a se pensar na criação da biblioteca escolar é sua localização, de forma a facilitar o acesso de seus usuários, tanto os da escola (alunos, professores e funcionários) quanto os da comunidade externa. A localização ideal deve facilitar o fluxo de usuários e também considerar questões de acessibilidade física e de segurança. Também é interessante que a biblioteca esteja próxima a outros ambientes da escola que tenham atividades complementares às atividades na biblioteca como laboratório de informática e sala de artes. Devem ser evitados locais próximos às áreas de recreação e jogos esportivos, pátios de brincadeiras porque podem gerar ruídos excessivos.

Com relação à parte externa da biblioteca, indica-se incluir elementos materiais e perceptivos que se relacionam com o prédio escolar e se identificam com a comunidade. Já o ambiente interno da REBI precisa ser composto por vários elementos que se articulam em uma mesma linguagem espacial, como afirma Taralli (2006, p. 5):

considera este ambiente construído como um sistema composto por vários elementos articulados numa mesma linguagem espacial: os de construção, os materiais de acabamento, os móveis, equipamentos e instalações específicas, os de comunicação visual e seus suportes, que interagem para constituir um espaço diferenciado, com identidade própria e adequado à concepção deste serviço.

Foi adotado no projeto arquitetônico o conceito de “sistema integrado composto por diversas partes”. Dessa maneira,

o ambiente físico, o mobiliário e os equipamentos, a linguagem e a comunicação visual do espaço e da informação; elementos que, articulados sob regras e conceitos comuns, compõem o espaço concreto de desenvolvimento e operação deste serviço. (TARALLI, 2006, p. 8).

As características construtivas essenciais das bibliotecas da REBI são: •Elementos construtivos estruturais e divisórios com garantia de estabilidade e segurança - vedações internas, componentes e apoios estruturais, coberturas, forros. •Ventilação: natural, cruzada, associada à ventilação ou à exaustão mecânica. •Iluminação: natural e artificial, com garantia do nível de aclaramento ideal para Bibliotecas na altura do plano de trabalho (mesas). •Acústica: uso de materiais construtivos e revestimentos com desempenho favorável à absorção de ruídos. •Materiais de acabamento: duráveis, impermeabilizados, adequados ao uso infantil e juvenil e a cada função, de fácil manutenção e limpeza. (TARALLI, 2006, p. 17-18).

Como já mencionado, o ambiente construído para a biblioteca pode ter múltiplos usos, acolhendo diferentes programações. Por isso, “os parâmetros de dimensionamento do espaço

87

e a localização das atividades internas não seguem padrões únicos, nem constituem um modelo imutável” (TARALLI, 2006, p. 10-11). Há flexibilidade de arranjos espaciais internos para atender à variabilidade das programações da biblioteca. Também é possível fazer usos diferentes dos tradicionais. Como exemplos, Taralli (2006, p. 13), nos traz os seguintes: a arquibancada pode ser utilizada para ler, ouvir músicas, ver filmes, entre outros. Já a área das mesas de estudo e consulta pode ser reorganizada para acolher outras atividades, como conferências e debates.

No projeto de arquitetura podem ser verificados os seguintes princípios:

Visibilidade (Figura 5): considerando o olhar como o primeiro elemento de apropriação visual e de identidade do espaço interno, bem como de ligação com o ambiente da escola (TARALLI, 2006, p. 20), a biblioteca deve ser projetada de forma a proporcionar o domínio visual do ambiente. Dessa maneira, logo ao entrarem nela, os usuários já terão conhecimento das regras de funcionamento e das propostas educacionais e relações socioculturais travadas no local. Para isso é preciso que haja linhas visuais livres; transparências ou partes vazadas nas alvenarias e elementos verticais para facilitar a visibilidade interna; alcance visual livre das áreas externas e dos outros ambientes da escola, e organização do mobiliário e dos equipamentos de forma a não bloquear a visibilidade.

Figura 5 - Visibilidade Disponível em: Taralli (2006, p. 21)

88

Flexibilidade: como já citado anteriormente, deve haver flexibilidade de arranjos espaciais e de montagem e desmontagem para organizar a biblioteca de maneira a adequar-se a diferentes programações. É preciso para isso prever o número de participantes por atividade e estabelecer as capacidades máxima e mínima. As figuras 6 e 7 ilustram este conceito para duas situações diferentes:

Figura 6 - Atividades concentradas na arquibancada, posto de trabalho, pesquisa informatizada Disponível em: Taralli (2006, p. 22)

Figura 7 - Atividades distribuídas na área de pesquisa e trabalho (em mesas, balcões) leitura na arquibancada, no posto de trabalho, nos computadores Disponível em: Taralli (2006, p. 23)

89

Autonomia (Figura 8): deve-se buscar que os estudantes sejam autônomos. Esse objetivo pode ser alcançado projetando os percursos internos de modo a serem livres e os materiais e produtos acessíveis à livre manipulação. Além disso, precisam ser conhecidos e assimilados os “elementos de comunicação visual da arquitetura, da programação, da organização, do sistema documentário e da informação” (TARALLI, 2006, p. 23).

Figura 8 - Autonomia Disponível em: Taralli (2006, p. 24)

Com relação à imagem e à comunicação do espaço das bibliotecas da REBI, representados nos elementos estéticos e sensoriais, Taralli (2006, p. 25) relaciona as seguintes características: uso de referências lúdicas na configuração do ambiente; associação de elementos estéticos e construtivos ao repertório, símbolos e referências culturais, sociais e pedagógicas do universo dos usuários daquela comunidade; uso de linguagem espacial simples, integrada, una e presente em todos os elementos espaciais de forma a ser compreensível por todos os usuários; uso de elementos construtivos e estéticos de identidade e de ligação com os demais elementos do prédio escolar, e construção de identidade própria que caracterize cada biblioteca.

Com relação à estrutura de funcionamento do ambiente, caracterizado pela multiplicidade de usos, deve haver: eliminação de barreiras físicas e visuais na arquitetura e no mobiliário, livre acesso aos materiais e produtos, valorização de todas as possibilidades de tipologias espaciais para as atividades da biblioteca, dimensionamentos e metragem adequados para atender à flexibilidade de uso do espaço, e “democratização do uso: um lugar

90

acessível a todos; „um lugar bom de se ficar‟ facilitando a apropriação do espaço e do programa” (TARALLI, 2006, p. 25).

Entre as características do mobiliário escolhido, destacam-se: por ser composto por várias peças, organizadas a partir de módulos dimensionais que possibilitam combinações diferentes, podem ser organizados de forma a atender a diversas atividades que se darão no local e, junto com o ambiente construído, deve constituir uma mesma linguagem espacial. Além disso, o mobiliário deve atender a um público heterogêneo e acomodar também diferentes tipos de materiais e produtos do acervo, além dos equipamentos multimídias.

Por fim, os elementos de sinalização são importantes porque contribuem para a compreensão das regras de organização do local,

como a orientação dos percursos e acessos; a organização das mensagens e informações de exposição e divulgação de trabalhos e produtos; a localização do acervo no ambiente; e os códigos definidos no sistema documentário da REBI. (TARALLI, 2006, p. 34).

As características descritas anteriormente são sintetizadas no seguinte quadro, elaborado por Taralli (2004a): Biblioteca Escolar Interativa Quadro síntese dos parâmetros espaciais Concepção

Espaço qualificado e organizado pelas relações de interação entre os indivíduos, os recursos tecnológicos – as mídias, acervo, materiais de informação e comunicação – e os processos pedagógicos, sociais e culturais.

Características

Espaço de múltiplos usos, com possibilidade de arranjos físicos dinâmicos e

funcionais

mutáveis para cada atividade pedagógica, social e cultural.

Características

Ambiente uno, integrado, sem fragmentação por barreiras espaciais e visuais

específicas

Flexibilidade nos arranjos espaciais internos Montagem/desmontagem – possibilidade de construção de cenários diversificados Integração visual com demais ambientes escolares internos e externos Autonomia no uso por todos os atores Elementos formais, estéticos e cromáticos integrados numa mesma linguagem espacial. Mobiliário e equipamentos espaciais

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Pieruccini (2004), em sua tese de doutorado sobre “a ordem informacional dialógica”, sistematiza as referências teóricas e metodológicas a partir de sua experiência na implantação e acompanhamento de uma biblioteca escolar, Biblioteca Escolar Colégio Termomecanica (BECT), na cidade de São Bernardo do Campo - SP58, a qual foi projetada seguindo os mesmos princípios da REBI.

Na tese mencionada, Pieruccini (2004, p. 58) diferencia os dispositivos informacionais em duas ordens: uma monológica e outra dialógica. A primeira caracteriza-se pelo “seu caráter fechado e ininteligível a não-agraciados”. Já a segunda, tenta romper com essa ordem discursiva monológica. O modelo da REBI e da BECT se encaixaria nessa segunda ordem.

Quando trata do espaço informacional, a autora elenca as seguintes características: estética, conforto, dimensão/formato/localização, setorização, contiguidade informacional, livre acesso e multiplicidade de usos. Ao descrever cada uma delas, Pieruccini (2004) combina tal descrição com as falas de alunos e professores daquela instituição. Em resumo, os itens são assim avaliados:

Estética: os depoimentos dos alunos e professores revelaram um forte e positivo impacto produzido pelos elementos estéticos do espaço, sendo estes considerados determinantes na produção de interesse e disposição para o uso da biblioteca. Pieruccini (2004, p. 66) considera que

a beleza do dispositivo não é, pois, mero adereço, elemento decorativo; ao contrário, agrega-se ao processo informacional, atuando no jogo entre a percepção, o processamento e a reelaboração de informações, estimulando o gosto de ficar na biblioteca.

Conforto: a avaliação por parte da comunidade de usuários foi unânime em considerar o ambiente da biblioteca confortável. O mobiliário, os materiais de construção e de acabamento, bem como a luminosidade, a temperatura e a ventilação foram “baseados em concepções estéticas e técnicas para interagir, permitindo que o uso seja confortável e seguro” (PIERUCCINI, 2004, p. 68). O conforto é visto como uma categoria não só de ordem física, corporal, mas também significa “comodidade e facilidade para a realização de tarefas, segurança no uso dos recursos, acolhida e aconchego” (PIERUCCINI, 2004, p. 72). 58

Imagens e mais informações sobre a BECT disponíveis cefsa/infraestrutura/bibliotecas/>. Acesso em 29 out. 2011.

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