O ARQUIVO MUNICIPAL DE VILA REAL E OS ARQUIVOS PRIVADOS: À PROCURA DOS ARQUIVOS 2.0

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OS ARQUIVOS DE FAMÍLIA HOJE O estado da questão Ponte de Lima|4 de julho de 2015 O ARQUIVO MUNICIPAL DE VILA REAL E OS ARQUIVOS PRIVADOS: À PROCURA DOS ARQUIVOS 2.0 Pedro Abreu Peixoto Arquivo Municipal de Vila Real

As sociedades organizadas têm necessidade de conservar a memória histórica. Uma memória de que o Arquivo é garante enquanto depositário de prova documental das atividades desenvolvidas pelo ser humano. O património documental é um dos mais importantes de toda a sociedade. O seu valor atinge todo o potencial através de programas de organização e difusão dos fundos documentais, aproximando a comunidade dos arquivos. Tal torna-se possível organizando atividades de conteúdo cultural, que levam a informação à sociedade, permitindo-lhe torná-la em conhecimento e despertando atitudes de reflexão crítica, perante as realidades passadas e presentes da comunidade. A experiência em países com grande tradição arquivística, sobre a ativa função cultural dos arquivos, remonta a algumas décadas atrás. Superado o debate sobre a oportunidade de incluir no trabalho arquivístico a faceta da difusão cultural e aceite esta como de importância similar aos trabalhos técnicos documentais, encontros teóricos e práticas arquivísticas neste sentido sucedemse a nível internacional desde os anos cinquenta do Séc. XX, momento a partir do qual o Conselho Internacional de Arquivos começa a tomar posições claras neste campo. Juntam-se uma série de atividades e publicações em países como França, Itália, Grã-Bretanha e nos antigos países socialistas, que permitirão avançar e refletir sobre as ações postas em marcha, procurando fórmulas mais de acordo com as novas teorias sobre a ação cultural nos arquivos. Veremos surgir junto das instituições de arquivo, também em Portugal, Serviços com denominações variadas como de “Educação”, de “Extensão”, de “Ação Cultural” ou outras, que pretendem ir para além da missão de base atribuída aos arquivos. Estes Serviços, - por vezes apenas simples ações conforme a dimensão das instituições -, são a concretização da inclusão da faceta da difusão cultural, enquanto parte da missão dos arquivos junto da comunidade onde se inserem. Município de Vila Real Avenida Carvalho Araújo, 5000-657 Vila Real Telefone: 259308100 - Fax: 259308161 | email: [email protected] | web: www.cm-vilareal.pt

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Esta dinâmica de ação e difusão cultural esteve desde cedo presente nos Arquivos Municipais. Os Arquivos dos municípios conheceram um desenvolvimento muito diferenciado ao longo do tempo, tendo um impulso decisivo através da implementação do PARAM, nos seus diversos eixos de apoio. Este Programa de Apoio aos Arquivos Municipais dotará o país de uma rede de Arquivos que, para além da sua modernidade em infraestruturas e equipamentos, revelar-se-á de enorme importância, não apenas no que respeita à normal missão destas unidades de informação, mas também em termos da sua proximidade aos cidadãos. Ao exigir a dotação dos serviços de arquivo de profissionais da área, o programa de apoio concorre para que, pouco a pouco, as atividades dos arquivos municipais passem a ser vistas numa perspetiva integradora. Se, por um lado, a sua principal missão é a gestão da informação documental do município, na qual assume uma ação técnica e administrativa, compete-lhe igualmente atuar enquanto agente cultural. A ação cultural dos arquivos municipais deve, assim, transmitir informação sobre o património documental comum, como parte fundamental da herança cultural do município, e converter-se num centro de ação cultural que possa oferecer aos cidadãos elementos úteis para produzirem conhecimento. Os projetos de salvaguarda do património documental produzido no espaço privado devem incluir-se nesta vertente de ação cultural, estrategicamente assumida no decorrer da missão dos arquivos municipais enquanto arquivos de proximidade. Partindo das premissas de apoio à salvaguarda e divulgação do património documental produzido no espaço privado e no apoio à investigação e divulgação da história local, continuamos a conviver com um grande número de fundos e coleções privadas que, por razões de vária índole, se encontram inacessíveis e/ou em risco. Considerando a existência de diálogo entre o interesse público e o interesse dos proprietários destes fundos documentais, os arquivos municipais podem desenvolver projetos cujas premissas se baseiem na importância vital da informação e da sua comunicação, libertando-se da parte patrimonial e dos aportes mais ou menos subjetivos que transportam, reservando aos proprietários a posse da documentação, sendo que os mesmos devem assegurar as condições físicas para a sua salvaguarda.

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Num encontro de interesse público/privado, os arquivos municipais disponibilizarão o tratamento técnico dos fundos documentais, enquanto os proprietários asseguram a cedência do direito ao acesso à informação e à sua comunicação. Com o desenvolvimento de projetos com estas premissas, os proprietários de fundos documentais privados podem assegurar a valorização da informação e, em parceria com os arquivos municipais, desenvolver uma estratégia de salvaguarda e divulgação do seu património documental. Subjacente a esta estratégia, sobre a qual o Arquivo Municipal de Vila Real tem vindo a trabalhar com os proprietários de Fundos de Família e Pessoais, encontra-se a mudança de atitude que está na base da Web 2.0, "...onde estão presentes a participação ativa e coletiva na criação, edição e publicação de conteúdos,1 considerando que "...importa ter acesso à informação independentemente do seu suporte, localização física e detentor.2 "As aplicações da Web 2.0 são aquelas que tiram partido das vantagens intrínsecas da Web, numa constante atualização de serviços, e que melhoram tanto mais quanto mais gente as utilizar, incluindo utilizadores individuais, que oferecem os seus próprios dados, que podem ser reutilizados por outros, numa «arquitetura de participação» em rede".3 Fica claro nas palavras de Samouelian: "O aumento da disponibilização de arquivos em formato digital resulta também da ideia de que a informação, que antes estava apenas disponível a um grupo restrito de investigadores, passa agora a estar acessível a um grupo mais vasto".4 A abertura do universo de utilizadores dos fundos de família e pessoais, possível no âmbito das aplicações da Web social, é particularmente útil para os arquivistas, no contexto da comunicação da informação e na forma como isso se pode refletir em todas as vertentes do seu trabalho, como igualmente para os utilizadores, tendo em conta as particularidades sociológicas, geográficas, históricas e outras, deste grupo de fundos. Encontra-se na base desta questão, não só a complementaridade da informação que os utilizadores externos podem trazer à instituição "Arquivo", como a complementaridade da informação inter-arquivos e inter-utilizadores, que pode 1

DIAS-DA-SILVA, Ana Margarida, 2014, Cadernos BAD, N. 1, Jan-Jun, pp. 104-105. Idem, p.105. 3 O´Reilly, Tim (2005) - What is Web 2.0: New Opportunities. Ariadne [Em linha]. 63 (April, 2010). [Consult. 13 dez.2012]. Cit. DIAS-DA-SILVA, Ana Margarida, 2014, p. 105. 4 SAMOUELIAN, Mary (2009) - Embracing Web 2.0: Archives and the Newest Generation of Web Applications. The Americam Archivist. 72 (Spring/Summer, 2009): 42-71. 2

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valorizar efetivamente estes fundos, na sua componente histórica e geográfica. Nas palavras de Moirez e em tradução livre: "É desde já possível por em prática uma verdadeira disseminação massiva dos fundos de arquivo, e iniciar um trabalho científico de colaboração sobre eles, à distância".5 Temos, no entanto, na preparação da entrada do Arquivo Municipal de Vila Real nas aplicações da Web Social, uma atitude mais precavida do que as palavras de Moirez nos podiam levar a entender. É fundamental ter em conta a realidade das experiências das instituições de arquivo no universo web 2.0, bem como o quadro das práticas de utilização da internet. Sabemos que o panorama não é particularmente animador, também em Portugal, mesmo tendo em conta as possibilidades dos instrumentos que descrevemos anteriormente, no que aos Arquivos Locais diz respeito. Assim, o Arquivo Municipal de Vila Real, para além de continuar a disponibilizar os Instrumentos de Descrição Documental dos fundos de família e pessoais que tem à sua guarda ou fazem parte dos seus fundos por doação, através da sua página Web, irá iniciar a sua presença na Web social de forma ponderada e orientada. Dos vários fundos pertencentes a este Grupo de Arquivos, selecionámos o Fundo Mello Júnior, pintor nascido em Vila Real e cuja documentação foi recentemente doada pelos seus herdeiros ao Arquivo Municipal de Vila Real, tendo uma importante parte da sua coleção particular de pintura sido oferecida ao Museu de Vila Real. Através de páginas institucionais em aplicações da Web social, o Arquivo Municipal de Vila Real irá publicando o trabalho de investigação que vai fazendo sobre o produtor da documentação e documentos sobre os quais existem dúvidas de conteúdo, que obstaculizem ou dificultem a sua descrição, pedindo que a comunidade internauta possa ajudar à sua caracterização. Ao mesmo tempo, orientaremos as nossas perguntas para instituições da especialidade, conforme as questões que se coloquem, de forma a não deixarmos de procurar respostas eficazes e eficientes através das mesmas aplicações. Finalmente, tal como para os outros fundos de família e pessoais, o objetivo é a sua disponibilização integral na página Web do Arquivo Municipal, com a divulgação e apropriada comunicação nas aplicações da Web social. 5

MOIREZ, Pauline (2012) - Archives participatives. Bibliothéques 2.0 à l´heure des médias sociaux. Editions du Cercle de la librairie:187-197. Município de Vila Real Avenida Carvalho Araújo, 5000-657 Vila Real Telefone: 259308100 - Fax: 259308161 | email: [email protected] | web: www.cm-vilareal.pt

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Disponibilizar informação ao mesmo tempo que procuramos informação. O Arquivo Municipal e os seus utilizadores enquanto produtores e consumidores de informação. "A Web passou de meio unidirecional...a multidirecional, é a base do novo conceito de trabalho".6

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CERDÁ DÍAZ, Julio (2008) - Archivos locales en la web: El futuro en la red: In compartir Archivos: Actas de las VIII Jornadas de Archivos Aragoneses. Huesca, 25-28 de noviembre de 2008. Huesca: Gobierno de Aragón; Diputación Provincial, t. II, pp. 151-172. Cit. DIAS-DA-SILVA, Ana Margarida, 2014, p. 103-114 Município de Vila Real Avenida Carvalho Araújo, 5000-657 Vila Real Telefone: 259308100 - Fax: 259308161 | email: [email protected] | web: www.cm-vilareal.pt

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