O Assassinato de Vítor Pinto

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Não que eu tivesse acreditado que seria diferente. A diferença, alguns sabem disso, exige um trabalho de Prometeu que muitos não estão dispostos. Mas, se Prometeu é coisa de grego, falemos então o mesmo em termos cristãos, afinal de contas o blá-blá-blá religioso está na moda. Deste modo, digamos que a diferença exige um trabalho cristão que muitos não estão dispostos. Enfim, é uma questão de nome. O que é um nome quando um nome não invoca nenhum ato? Que valor tem um nome quando um nome só é um nome? Vítor Pinto é um nome que não teve a chance de se dizer, pois o corpo marcado por esse nome foi degolado com um estilete quando era amamentado pela mãe na rodoviária de Imbituba. E se Vítor Pinto fosse o heterónimo de Prometeu ou de Jesus? O que teria mudado? Nada. Quantos Prometeus e quantos Jesus não são degolados por nada? Vítor Pinto não teve tempo de dizer: Eu sou Vítor Pinto. Ninguém ou quase ninguém ou quase nada teve o tempo para dizer "Eu sou Vítor Pinto". Talvez, se não tivesse nascido nem índio, nem pobre, talvez, se tivesse nascido francês, americano ou branco, ainda que brasileiro, talvez, nesse caso as coisas fossem diferentes. As coisas seriam diferentes. Certamente que toda a gente facebookiana, gente esquisita, e toda a imprensa, escrita, televisiva e interativa, espalhariam frases do tipo : "Eu sou Vítor Pinto", "Somos todos Vitor Pinto" e com essas frases todas viriam, certamente, um monte de bandeirinhas coloridinhas. Mas, não. Nada. Quase nenhuma comoção social. Nenhum bate panela nas ruas. Nenhum movimento patriótico. Nenhuma passeata contra a violência. Nenhuma marcha das Vadias. Nenhuma procissão. Nenhuma salvação. Ah...a salvação! Sim, essa mesma que tanta gente anseia, e se ela estivesse na boca de Vitor Pinto?
O assassinato de Vítor Pinto
Fernando Silveira Rosa
04 de janeiro de 2016








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