O AUTOCONHECIMENTO DO EDUCADOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL COMO IDENTIDADE PEDAGÓGICA

May 30, 2017 | Autor: Professora Ana Cruz | Categoria: Neurociências, Desenvolvimento socioemocional
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LINHA TEMÁTICA EDUCAÇÃO.

CONSCIÊNCIA,

AUTOCONHECIMENTO

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O AUTOCONHECIMENTO DO EDUCADOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL COMO IDENTIDADE PEDAGÓGICA 1

Ana Lúcia Oliveira da Cruz 2 Maribel Oliveira Barreto NEAC – Núcleo de Estudos Avançados sobre Autoconhecimento e Desenvolvimento Socioemocional – [email protected]

Pesquisas nas áreas das Neurociências, da Neurologia e da Psicologia do desenvolvimento comprovam que é na infância que as bases para a construção neural, sensorial, motora, emocional, cognitiva e moral do ser humano são estabelecidas. É na primeira infância que as experiências de referências são consolidadas. Experiências estas que ditarão o percurso destes indivíduos no mundo interferindo positiva e/ou negativamente no processo educativo, afetando o seu desenvolvimento socioemocional. Portanto, o profissional da educação responsável por lidar com a infância necessita de uma maior atenção, formação e comprometimento diante do seu verdadeiro papel. O presente trabalho tem como objetivo geral refletir sobre a importância do autoconhecimento do educador da Educação Infantil na formação da sua Identidade Pedagógica, e como a consciência desse papel pode influenciar no trabalho pedagógico de maneira circunstancial para as crianças. E como objetivos específicos: Conhecer os saberes e os fazeres que contribuem para a formação da identidade do educador da Educação Infantil; Estudar as competências e saberes que precisa desenvolver para encarar os desafios e apresentar soluções para os conflitos que possam aparecer ao longo da sua jornada, considerando que, “embora o aprendizado jamais tenha fim, as bases do saber futuro são lançados em grande parte já na infância” (FRIEDRICH; PREISS, 2008). Concluímos que o autoconhecimento do educador, principalmente desta fase tão essencial para o desenvolvimento físico, psíquico e moral do ser humano, a Educação Infantil, possibilita-o transcender os limites do cuidar e do brincar, perpassando pelo educar integralmente. PALAVRAS-CHAVE: Autoconhecimento. Educador. Identidade Pedagógica.

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Neuroeducadora, Pedagoga, Coordenadora do Centro de Neuroeducação da Ananda – Escola e Centro de Estudos, docente do Instituto de Pesquisas em Neuroeducação de São Paulo, Coordenadora do Centro de Investigações e Estudos Neofilosóficos de Ciências Avançadas e do Núcleo de Geniologia. Consultora Pedagógica na elaboração das Orientações Curriculares e Subsídios Didáticos para a Organização do Trabalho Pedagógico no Ensino Fundamental de Nove Anos da Secretaria de Educação do Estado da Bahia. Docente do Ensino básico e Superior. Membro do LABESCRI – Laboratório de Estudos da Criança (RJ) e do NEAC – Núcleo de Estudos Avançados sobre Autoconhecimento e Desenvolvimento Socioemocional - ISEO. 2 Líder do Núcleo de Estudos Avançados sobre Autoconhecimento e Desenvolvimento Socioambiental – NEAC. Pós-doutora em Consciência, Transdisciplinaridade e Educação pela Universidade Católica de Brasília, e em Criatividade e Educação pela Universidade de Brasília/UNB; Doutora em educação pela Universidade Federal da Bahia.

INTRODUÇÃO

Quem é o educador das escolas da Educação Infantil? Como chegaram até aqui? De que maneira povoaram o Planeta Educação? Quais os seus saberes e fazeres que contribuem para a formação da sua identidade profissional? Como a consciência desse papel pode influenciar no trabalho pedagógico de maneira circunstancial para as crianças? Estas e outras questões se tornaram recorrentes nas minhas esparsas reflexões diárias sobre o meu fazer pedagógico. Nos estudos de Teixeira (2012) é estabelecido que o educador da educação formal na primeira infância, além dos conhecimentos inerentes à sua formação, necessita de sensibilidade. As pesquisas de Nakano (2015) apontam a necessidade de o educador ter consciência do seu papel neste contexto. Sendo a autora a falta de identidade e comprometimento com a Educação Infantil por parte dos profissionais que nela atuam, tem sido um problema sério, que se agrava devido a baixa autoestima e desvalorização destes profissionais. Sabendo-se que as bases para o desenvolvimento do ser humano são lançadas e consolidadas na primeira infância, entre 0 e 6 anos, entende-se a grande preocupação com a formação do profissional deste segmento da educação formal, bem como da importância do autoconhecimento do educador na formação da sua Identidade Pedagógica. Segundo afirma Mustard (2007), “Os anos iniciais do desenvolvimento humano estabelecem a arquitetura básica e a função do cérebro”, o que corrobora com a proposta da presente pesquisa, no que indica que, as experiências de referências têm efeitos duradouros sobre a aprendizagem e apontam o tipo de mentalidade desenvolvido por ele.

DESENVOLVIMENTO

Ao nascer a criança tem aproximadamente duzentos e cinquenta bilhões de sinapses que servem como matéria-prima para as redes neurais futuras. A partir do uso o cérebro vai sendo moldado, eliminando tudo aquilo que não está sendo utilizado e fortalecendo as conexões do que está em uso. Portanto, existe um mundo de possibilidades e infinitas potencialidades a serem desenvolvidas. A aprendizagem começa na primeira infância, muito antes do início da educação formal, e continua pela vida afora. A aprendizagem inicial viabiliza a aprendizagem posterior e sucessos precoces criam sucessos posteriores, assim como insucessos iniciais resultam em insucessos futuros (HECKMAN, 2009).

No que se refere ao desenvolvimento humano não existe determinismo. Nem sempre um insucesso na infância gera, obrigatoriamente, um insucesso na vida adulta. Embora, pesquisas apontem a existência de uma maior probabilidade de haver insucesso ou dificuldades no processo da aprendizagem daqueles indivíduos que tiveram um desenvolvimento inicial “inadequado”, é preciso lembrar que o cérebro humano é plástico e maleável, e isto assegura a possibilidade de mudanças no percurso. O fator que desperta maior atenção dos estudiosos, é que quanto mais cuidadosa e favorável for a educação da criança e a qualidade dos estímulos neurais, sensoriais, motores, emocionais, cognitivos e morais na tenra idade, maiores serão as possibilidades de sucesso no futuro. Já é por nós sabido que a qualidade das relações da criança com os seus pares, na família e na escola, os primeiros grupos sociais dos quais ela faz parte, é de grande importância no seu desenvolvimento. Estudos demonstram que crianças que têm relacionamentos com vínculos afetivos mais seguros e confiáveis sofrem uma ativação pequena de hormônios que causam estresse, enquanto que crianças que têm relacionamentos mais inseguros e com um mínimo ou nenhum laço afetivo, ao contrário, acionam o sistema de resposta ao estresse como o cortisol, a adrenalina e a noradrenalina, que em pessoas saudáveis retorna rapidamente ao estado normal depois de um momento de tensão. Assim posto, trazemos a reflexão sobre a importância do autoconhecimento do educador da Educação Infantil na formação da sua Identidade Pedagógica, e

como a consciência desse papel pode influenciar no trabalho pedagógico de maneira circunstancial para as crianças. Precisamos pensar criativamente o cotidiano e desenvolver as habilidades para enfrentar as incertezas na educação, antes que ocorra o empobrecimento da espécie humana. A escola é o lugar ideal para crescer e aprender a conviver e, com isso, faz-se necessária uma Pedagogia mais afetiva e menos assistencialista [...] (RELVAS, 2009, p. 113).

Além dos saberes inerentes à profissão, a atuação do educador da Educação Infantil deve ser norteada pelo reconhecimento das suas potencialidades e dos seus limitadores com o intuito de despertar, desenvolver e expandir todas as suas faculdades e de saber até onde pode e deve ir. No entanto, sendo sempre impulsionado a ultrapassar tais limitadores. O autodesconhecimento embaça a visão de si mesmo, dificulta a percepção de perspectivas de mudanças. O ser humano nasce com um aparato biológico que o possibilita crescer e se desenvolver ao longo da vida. Além dos fatores genéticos, os fatores ambientais são decisivos nesse processo de desenvolvimento (CRUZ et al 2013, p. 60).

Usando o seu aparato biológico e os fatores adquiridos do ambiente, o educador autoconhece e aprende a reconhecer seus sentimentos e a lidar adequadamente com as suas emoções, fato que corrobora com a sua práxis pedagógica. O educador que conhece a si mesmo, seus limites e suas forças, que aprende sobre seus sentimentos e suas emoções torna-se um fomentador da transformação social. A falta de identidade e comprometimento com a Educação Infantil por parte dos profissionais que nela atuam, tem sido objeto de diversos estudos. As teorias, as pesquisas, os avanços políticos econômicos e sociais apontam para a importância do papel do professor da Educação Infantil (NAKANO, 2015).

A formação da identidade pedagógica pode e deve ser construída com a prática do Autoconhecimento, a partir do estudo da Consciência. Prática esta que será favorável ao educador possibilitando, também, o desenvolvimento das potencialidades inerentes a todo ser e que estão latentes, aguardando estímulos adequados para despertar, e assim, tomar Consciência do seu papel de cuidar, brincar e educar a criança na escola.

CONCLUSÃO A Educação Infantil é a fase de inserção da criança na educação formal. É a fase do despertar da criança para o mundo letrado que a espera e, a fase decisiva para a sua formação não só física, como psíquica e moral. Na tentativa de responder as inquietações trazidas no início da pesquisa sobre “Quem é o(a) educador(a) das escolas da Educação Infantil? Como chegaram até aqui? De que maneira povoaram o Planeta Educação? Quais os seus saberes e fazeres que contribuem para a formação da sua identidade profissional? Como a consciência desse papel pode influenciar no trabalho pedagógico de maneira circunstancial para as crianças?”, concluímos que, muito mais importante do que trazer tais respostas, é gerar reflexões constantes ao educador, instigando-o a repensar o seu fazer pedagógico. Diferentemente do que se apresenta na realidade de muitas escolas brasileiras, o educador da Educação Infantil precisa conhecer a si mesmo utilizando o estudo da Consciência como recurso para tal. Autoconhecendo ele compreenderá o seu papel de educador, no sentido mais genuíno, aquele que elabora estratégias de trabalho para o despertamento, desenvolvimento, expansão, socialização e moralização do potencial criativo da criança.

REFERÊNCIAS

BARRETO, Maribel Oliveira. O papel da consciência em face dos desafios atuais da educação. Salvador: Sathyarte, 2005. COSENZA R. M, GUERRA L. B. Neurociência e Educação: Como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011. CRUZ, Ana Lúcia Oliveira da et al. Educação não formal: a família na formação do caráter. In: LEIBIG, Susan. (Org.). Caráter se aprende na família e na escola. São Paulo: All Print Editora, 2013. p. 55-75. HANSON R, MENDIUS R. O cérebro de Buda: Neurociência prática para a felicidade. São Paulo: Alaúde Editorial, 2012. HECKMAN, James J. Giving Kids a Fair Chance. Boston: The MIT Press, 2009. LEIBIG, Susan. (Org.). Mentes que aprendem: um ensaio sobre a Prontidão para a Aprendizagem. São Paulo: All Print Editora, 2011. MAIA H. (Org.). Neurociências e desenvolvimento cognitivo. Rio de Janeiro: Wak, 2011. MUSTARD JF. McCain MN. Shanker S. Toronto. Early years study: science into action. Council for Early Child Development: 2007.

Putting

RELVAS, Marta Pires. (Org.). Que cérebro é esse que chegou à escola: Bases Neurocientíficas da aprendizagem. Rio de Janeiro: Wak, 2012. _______, Fundamentos Biológicos da Educação: Despertando Inteligências e Afetividade no processo de aprendizagem. 4. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2009. TEIXEIRA, Ana Paula. Ensinar e aprender como processo de Autoconhecimento na Educação Infantil. Salvador: EDUNEB, 2012.

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